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DA GEOPOLÍTICA DA DÍVIDA À GEOPOLÍTICA DA FOME:

Os programas s de ajustamento estrutural e a crise alimentar global

Domingos Bihale1

Introdução

Os programas de ajustamento estrutural foram vistos como uma forma de


resolver a crise da dívida que assolou o Terceiro Mundo nos anos 80. De 1980
até aos nossos dias, os programas de ajustamento estrutural continuam a
vigorar, tomando sempre novas realidades para se adaptarem a mudanças
de varia ordem que se vão operando no sistema internacional.

Aparentemente definidos para promover o crescimento económico, os


programas de ajustamento estrutural não serviram mais do que veículos
para a implantação, a nível global, do neo-liberalismo económico e
galvanização do sistema capitalista, num mundo em confrontação entre o
Ocidente e Leste, na esteira da Guerra Fria. Efectivamente, o capitalismo
“triunfou” (usando a expressão de Francis Fukuyama) e o comunismo
sucumbiu.

Um outro objectivo de fundo que ultrapassa o objectivo virtual de expor o


mundo subdesenvolvido nas telas do desenvolvimento económico, foi o de
amarrar o Terceiro Mundo à economia do mercado, perpetuando-o sempre
como maior destino dos produtos manufacturados e como fornecedor de

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Licenciado em Relações Internacionais e Diplomacia

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matérias-primas necessárias para o endinheiramento dos seus profetas. – os
países do Primeiro Mundo.

Primeiro a dívida, segundo a fome

Se da crise da dívida surgiram os programas de ajustamento estrutural, da


fome não há nenhum programa integrado que vise aniquilá-la. Isto acontece
porque se está perante um problema que pouco interessa aos mentores dos
programas de ajustamento estrutural. Na década 80 tratava-se de recuperar,
a todo o custo, os investimentos e empréstimos feitos ou concedidos aos
países subdesenvolvidos. Hoje, não se trata de recuperar os empréstimos,
mas de escassear cada vez mais os alimentos, com vista a abrir mais
mercados e lograr mais lucros. Enquanto isso, os pacatos cidadãos do
Terceiro Mundo vão pagando a factura do mercado com a fome que já foi
declarada como crise global.

Um facto curioso é que os países desenvolvidos e, inclusivamente os


Governos dos países empobrecidos e pobres nada fazem ou pouco fazem
para responder adequadamente ao problema. O Banco Mundial, o Fundo
Monetário Internacional, Os Estados Unidos da América, a Grã – Bretanha, as
Nações Unidas, a Organização Mundial do Comércio e muitos Governos já
tomaram consciência da gravidade do problema da escassez de alimentos
no mundo e da consequente subida extravagante de preços de alimentos,
mas nenhuma política ou programa foi proposto que ultrapasse os discursos
repetitivos dos seus líderes. O importante a registar nesse cenário é que os
países que mais sofreram com a crise da dívida dos anos 80 e que, portanto,
foram beneficiários ou vítimas dos programas de ajustamento estrutural são
os mais abalados pela crise alimentar mundial, traduzida em fome crónica
global.

Os programas de ajustamento estrutural: solução a curto prazo e


problema a longo prazo? A crise alimentar global
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A geopolítica da fome de hoje (crise alimentar global) não é mais do que
uma consequência dos programas de ajustamento estrutural. Recordemos
que são objectivos genéricos do ajustamento estrutural os seguintes:
viabilizar reformas institucionais e políticas da estrutura de uma economia
para eliminar o défice da balança de pagamentos, travar a inflação e
procurar a elevação do PIB. Os programas de ajustamento estrutural incluem
medidas como: desvalorização da moeda, liberalização das importações, e
dos preços no consumidor, taxa de juro positiva, privatização da banca e das
empresas que não consigam sujeitar-se à racionalidade do sector privado,
liberalização da legislação do trabalho, racionalização e diminuição das
despesas de funcionamento do aparelho central do Estado, limitação do
crédito em especial para sectores não exportadores e a particulares,
intervenção do Estado no que respeita a infra-estruturas de apoio à
exportação e investimento em capital humano. O aparecimento destes
programas tem a sua origem na impossibilidade de os países com dívida
externa pagarem essa dívida e necessitarem de mais empréstimos (ESF
2008 - Dicionário de Economia - http://www.esfgabinete.com/dicionario, 05.
05.08).

Essas medidas abriram caminho para o triunfalismo do liberalismo


económico em países visados, colocando o mercado na vanguarda da
política e da sociedade e a economia impôs-se como, usando a expressão de
Karl Max, “ superstrutura”. Como consequência, os Estados visados pelos
programas de ajustamento estrutural viram o seu papel social e
intervencionista reduzido –“Estado mínimo” – e suas acções começaram a
depender de forças externas.
O mais caricato nesse jogo económico é que os Estados terceiro – mundistas
deixaram de intervir até na economia agrícola. As subvenções agrícolas
foram proibidas e/ou consideras inimigas da liberalização económica e,
portanto, ilegais, no quadro jurídico da Organização Mundial do Comércio

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(OMC). Como resultado, a produção agrícola baixou e foi lhe dada um papel
secundário, privilegiando assim o sector industrial.

Ao contrário do que aconteceu no terceiro mundo, o Primeiro Mundo (a União


Europeia e os Estados Unidos são os exemplos mais gritantes) continuou e
continua a subsidiar a agricultura. A União Europeia canaliza mais de US$ 50
biliões por ano para seus produtores, no contexto da chamada Política
Agrícola Comum (PAC), quantia equivalente a 45% do orçamento da
Comissão Europeia, o órgão executivo do bloco. A PAC garante um preço
mínimo aos agricultores, impõe tarifas às importações e cotas para
determinados alimentos, além de proporcionar um pagamento directo de
subsídios para terra cultivada. Após um acordo assinado em 2005, esta
política será paulatinamente eliminada até 2013. Mas, outros países
industrializados,
especialmente os Estados Unidos, também pagam substanciais subsídios aos
seus agricultores e protegem seus mercados locais com tarifas sobre
importações e cotas2.

Como consequência, estes passaram a deter o monopólio do mercado


agrícola, impondo arbitrariamente os preços. Com efeito, os países
desenvolvidos assumiram o papel de exportadores de alimentos,
principalmente cereais e ditadores de preços, enquanto que os
subdesenvolvidos transformaram-se em grandes importadores dos mesmos
e, logicamente, tomadores de preços. Os países em desenvolvimento, como
é o caso do Brasil, em vários fóruns denunciariam esta hipocrisia agrícola,
mas sem sucesso. Assim, a prática continua nas relações económicas
internacionais contemporâneas.

A crise alimentar global que assistimos hoje pode mergulhar profundamente


as suas raízes nas políticas dos programas de ajustamento estrutural, que

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dispensaram ou desencorajaram a economia agrícola dos países
subdesenvolvidos.

Os Estados Unidos e a União Europeia vêm-se incapazes de continuarem a


dominar o mercado agrícola mundial. Dois factores explicam esse fenómeno.
Primeiro, a demanda de alimentos aumentou a nível global devido ao
desmedido e rápido crescimento população no mundo. A população mundial
não pára de crescer. O ritmo do crescimento demográfico acelerou-se no
século XX: com 2 biliões no princípio do século XX, a população mundial
atingiu 3 biliões em 1960, 4 biliões em 1975, 5 biliões em 1987, 6 biliões em
2000 e perspectiva-se o mundo terá 10 mil milhões de habitantes em 20503 .

Segundo, a crise não apenas se cinge em regiões que até ao ano 2000 eram
considerados corredores da fome (çfrica, América Latina e a çsia), como
também já ameaça o próprio “Centro” da economia mundial (América do
Norte e a Europa dos Vinte e Cinco). A esses factores se juntam outros
igualmente associados ao rápido crescimento populacional e ao consequente
aumento de consumo, tais como a subida galopante e imparável do petróleo
e o aquecimento global que resulta no aumento de desastres naturais (secas
e cheias cíclicas, ciclones. Como se pode depreender, os programas de
ajustamento vistos como solução de curto prazo da crise da dívida dos
países subdesenvolvidos nos anos oitenta degenerou uma crise alimentar
global cuja solução será de longo prazo, se houver, nos mesmos países.

A revolução verde, solução ou uma retórica contingencial?

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2 Gody, Júlio, ALIMENTAÇÃO-EUROPA: Subsídios à agricultura fomentam escassez, posto em
29/04/2008( IPS) e tira do em 7 de Maio de 2008, in
http://www.mwglobal.org/ipsbrasil.net/nota.php?idnews=3757.

Bihale, Domingos (2007), O Impacto da Globalização sobre os Estados e o Papel das Forças Armdas, Tese de
Licenciatura em relações Internacionais e Diplomacia, ISRI, Maputo, p24.

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Face a crise alimentar mundial a comunidade internacional está “refugiar –
se ” opcionalmente à Revolução Verde. A massificação da produção de
cereais e a produção de bio- combustível é de facto boa opção, mas não
parece ser uma medida correctiva do problema da crise alimentar.
Recorde-se a Revolução Verde surgiu na longínqua década 70 no México,
igualmente em consequência da crise alimentar. De facto a Revolução Verde
“inundou” o mundo de cereais, mas não foi capaz de reduzir o custo de vida
das populações. O gráfico da fome continuou a subir em flecha em muitos
países, com destaque para os países de çfrica. Porquê?

O Mexico, e muitos outros países Latino Americanos têm uma estrutura


Agrícola bem montada e funcional, baseada em latifúndios e plantações,
fortemente mecanizada e suportada por grandes agricultores. Estes factores
ditaram o sucesso desta política naquele lado do mundo.
Na çsia, outro caso de sucesso, encontramos uma estrutura económica
completamente oposta a da América Latina, mas graças ao uso intensivo da
mão – de – obra e a políticas promocionais (subsídios aos camponeses)
conseguiram lograr resultados invejáveis. Este é o exemplo do Bangladesh,
Camboja, China, Coreia do Sul, Filipinas, Índia, Indonésia, Japão, Malásia,
Nepal, Paquistão, Sri Lanka e Tailândia e o Vietname.

Em çfrica o quadro é nebuloso. Fora do Zimbabwe e da çfrica do Sul, países


que conseguiram alguns sucessos de referência, os restantes não tiveram
uma boa experiência. A çfrica, no quadro dos programas/políticas de
(re)ajustamento estrutural/reabilitação económica foi ‘’proibida” de subsidiar
os camponeses aos agricultores. Em adição, muitos países africanos não
possuíam e nem possuem uma estrutura agrícola favorável à
implementação da Revolução Verde.

A çfrica pratica agricultura familiar, usando instrumentos tradicionais como a


enxada, a foice, o machado, o ancinho, e alguns recorrem a tracção animal
(casos muito raros). Estes factores tornaram poderão tornar a Revolução
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Verde mais retórica política e ideologia utópica, do que uma realidade.
Repare-se por exemplo que a çfrica do Sul e o Zimbabwe só tiveram um bom
tento porque tinham uma boa estrutura agrícola, por sinal semelhante a da
América Latina (agricultura Latifundiária).

Por isso, o quadro acima descrito mostra que a Revolução verde não é
solução para resolver a crise alimentar mundial. A revolução se apregoada e
implementada de uma forma eufórica contribuirá para o encarecimento cada
vez preocupante do custo de vida e, em países pobres como os africanos,
aprofundará o endividamento, agravando os níveis de pobreza e da fome. A
saída talvez fosse a redução dos custos de produção e das tecnologias e o
cancelamento de todas dívidas e não concessão de mais créditos como
defendem as instituições financeiras INTERNACIONAIS e os países
industrializados.

Para terminar, partilhamos a opinião de Peter Rosset4 segundo a qual

O único modelo com o potencial para acabar com a pobreza rural e


para proteger o meio ambiente e a produtividade da terra para as
futuras gerações é uma agricultura baseada na exploração de
pequenas fazendas que sigam os princípios da Agroecologia” (….),
[pois] “se a história da Revolução Verde nos ensina algo, é que o
incremento da produção de alimentos pode, e frequentemente é
assim, seguir de mãos dadas com o aumento da fome.

Portanto devemos ser cépticos quando as “companhias


químicobiotecnológicas nos dizem que a engenharia genética estimulará o
rendimento das colheitas e alimentará os famintos. Tudo leva a pensar que a
Revolução Verde II, do mesmo modo que a primeira, não acabará com a
fome”.

4
Ph.D., Co-Director Food Firts/The Institute for Food and Development Policy, Califórnia, e
co-autor do
livro "World Hunger". Este artigo foi extraído do site da Envolverde,
http://www.envolverde.com.br, dia 6
de Outubro de 2000.
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