Вы находитесь на странице: 1из 58

I

LugubruS TenebrouS LuciferiuN

© A.L. Bandina 1999


descristianator@gmail.com

A.L. Bandina
II
Índice:

I – O Início
II – Uma Luz Para Kassandra
III – Pálido Encantamento
IV – Opus Nocturnus
V – Memento Mori
VI – Sonho Contristante
VII – Mortis Memento
VIII – Reencontro Ancestral
IX – Revelação
X – Capela Dos Aflitos
XI – Chamas Ao Entardecer
XII – Seres Amaldiçoados
XIII – Aliados Na Noite
XIV – A Luta Vampírica

III
Prefácio
Malditas e obscuras saudações, meu estimado leitor.
Começarei minha história pelo que me lembro desde meu
nascimento como um simples e mero mortal, não ficarei enrolando com
introduções cheias de palavras bonitas que não dizem nada, basta saberem
que meu nome a longos séculos tem sido Lugubrous Tenebrous Luciferiun,
Mas ainda hoje muitos insistem em me chamar de Lugubrus, ao invés de
Lugubrous, mas não me importo.
Também vale lembrar a todos que sou um vampiro, vivo durante a
noite pelos vales da morte e da vida, eternamente fadado ao saborear do
escarlate vinho chamado sangue que percorre por todo vosso corpo
delicado e mortal, embora eu não necessite mais me alimentar todas as
noites, muitas vezes me sacio em banquetes de sangue apenas para meu
prazer e para observar a frágil vida sendo implorada, pelo sofrimento, pela
dor, e por muitos outros motivos que levariam páginas para descreve-los,
enfim, pela minha diversão em vê-los, mortais em sofrimento diante a mim,
o predador de humanos.
Bem, sei que ninguém vai estar realmente crendo no que escreverei a
partir de agora, pensarão que foi apenas mais um louco viajando por sua
mente insana e inventando uma estória, por isso não me preocupo em estar
me revelando a vocês, mortais, pois minha história aqui contada na verdade
é para outros imortais, para que saibam que não os temo ao me revelar. E
assim prossigo.

IV
I – O Início

Eu era um recém nascido que fora exposto para a morte, próximo a


uma praça na antiga Roma, isso por volta de 50 a.c.
Um casal de velhos sem filhos e que muito desejava um, me
encontrou e por compaixão, levou-me para o humilde lar em que viviam.
Não citarei os nomes deles também por diversas razões que me
impedem, quem sabe em um futuro próximo eu não vos conte, assim como
meu primeiro nome dado por eles antes de me tornar em Lugubrous.
Aos cinco anos de idade, fui iniciado aos segredos da magia por este
casal, que na verdade eram conhecidos como feiticeiros, mas vale lembrar
que, apenas se utilizavam de seus conhecimentos para ajudar pessoas
carentes ou destruir os possíveis inimigos.
Quando completei vinte e cinco anos de idade, meus pais de criação,
estes feiticeiros, foram mortos por saqueadores que invadiram o pequeno
vilarejo onde vivíamos, e para minha sorte, eu não estava lá, nem mesmo
para poder ajuda-los, embora isto provavelmente não ocorreria, mas sim eu
apenas seria morto naquela destruição feita pelo médio exército que passou
por lá, e eu assim não teria me tornado no que hoje sou.
Naquela época eu estava viajando em busca de algumas ervas que
não existiam em nossa região, e fiquei sabendo do massacre quando estava
voltando, ao me encontrar com alguns viajantes fugitivos da morte que
dominava aquele local onde vivíamos.
Levei mais dois dias de viajem incessante até terminar a longa
travessia pela planície. Cheguei então a minha velha casa toda em ruínas e
com o corpo dos dois velhos já em avançado estado de putrefação.
Dei-lhes um enterro digno e sai pelo mundo afora, atrás de
informações e conhecimentos mágicos a fim de me tornar um dos maiores
magos já conhecidos.
Em minhas andanças em procura pelo poder mágico, fui iniciado em
um velho templo ao caminho da terra. Em três anos eu já havia alcançado o
terceiro focus (ou nível se preferir), onde o máximo atingível era o quinto.
Haviam pessoas lá com mais idade que eu e nem haviam passado do
segundo e outros tantos nem mesmo do primeiro. Devo isso aos anos de
treino que tive antes com meus pais adotivos.
Diziam os anciões daquele templo que logo eu encontraria a luz para
minha sábia iluminação. Mas logo eu descobriria que isso nunca ocorreria,
mas sim o oposto, as trevas logo me alcançariam para nossa eterna
comunhão.
Numa tarde chuvosa, sai do templo para ficar um pouco só, sem
ninguém ao meu lado. Eu não estava me sentindo feliz naquele lugar, eu
V
desejava me tornar poderoso e destruir os assassinos dos velhos, ao mesmo
tempo em que desejava morrer.
Não percebi as horas passando, quando dei por mim, já era noite.
Resolvi retornar ao templo para juntar minhas coisas e partir, mas ao
levantar-me e virar-me, um vulto negro passou rapidamente diante meus
olhos.
Era um jovem aparentando minha idade aproximadamente, assim
como seus cabelos eram tão longos quanto os meus, porém eu não
conseguia distinguir sua face dentre as sombras da noite que caia
rapidamente. Ele sorriu, e neste sorriso eu pude perceber seus caninos
pontiagudos como de uma besta predadora.
Comecei a correr para o lado oposto de onde ele se encontrava, mas
novamente ele surgiu em minha frente.
Por mais que eu corresse, para qualquer lado que eu fosse, ele
sempre surgia a minha frente com seu sorriso como se estivesse se
divertindo com meu desespero, até que meu cansaço me dominou e eu cai
no chão frio e úmido.
Ele parecia um lobo me rondando, e me observando, assim como ele
me perseguiu fazendo-me ir de um lado ao outro até me cansar, como os
lobos fazem com as lebres ou outra presa, cansando-as para então ataca-las
definitivamente.
_ Porque foges de mim?
Perguntou ele em uma voz tão calma, quase sussurrante em meus
ouvidos, que escutavam minha respiração ofegante e meu coração
acelerado.
_ Foi você quem chamou a morte, estou aqui para atender vosso
chamado.
_ Perdoe-me mas descobri que não quero morrer. Falei com minha
voz ofegante e trêmula para aquela estranha criatura que me observava, eu
sabia que não era um ser humano comum, eu pressentia algo em sua
atmosfera sombria, e ele insistia em me observar como um predador que
observa sua presa antes de seu ataque certeiro e decisivo.
Ele andava em minha volta, sempre com aquele olhar fixo e
brilhante, noturnos olhos penetrantes que eu não conseguia desviar, por
mais que lutasse e tentasse.
_ Sim, meu amigo, por isso vou lhe conceder um presente divino.
Antes que eu pudesse fazer qualquer comentário ou gesto, senti meu
pescoço ser perfurado e meu sangue drenado em um confortável prazer
indizível, aliviando todas minhas tensões.
Eu não sentia vontade alguma de reagir, nem mesmo forças eu tinha
para isso, apenas sentia minha vida indo embora como se fosse meu maior
momento de êxtase. Meu coração estava quase parando quando ele parou
de sugar minha fonte de vida.
_ Agora é sua vez de decidir, uma vida eterna ou uma morte rápida
VI
sem dores como desejavas a alguns instantes atrás.
Minha visão estava ainda mais turvada e eu não via nada, então falei
em leve sussurro, que foi suficiente para seus ouvidos preternaturais:
_ Vida eterna!
Ele agachou-se e curvou-se diante de meu corpo caído sem forças e
falou em meus ouvidos:
_ Que assim seja!
Ele fez um corte com sua unha afiada de seu dedo indicador da mão
direita em seu pescoço ebúrneo e deixou algumas gotas redentoras de
sangue caírem em minha boca moribunda e sedenta. Isso me deu ânimo
para que eu me levantasse e atacasse direto a fonte por onde escorria o
néctar vermelho e suculento.
Fui afastado por suas esguias mãos brancas e meu corpo começou a
sentir estranhos sintomas, uma forte dor corrente por todo meu corpo me
fez tremer e cair ao chão novamente, parecia que todo meu corpo estava
morrendo naquele momento sublime, cada célula ia morrendo e renascendo
sob um novo poder que ia se criando dentro de mim.
Abri meus olhos e sob um novo olhar, eu contemplei, apreciei tudo
ao meu redor, era noite, mas meus olhos me serviam muito melhor agora
do que já fizeram antes em vida, minha visão era agora uma visão noturna,
um predador noturno, olhei para minhas mãos, elas estavam pálidas, assim
como senti minha face gelada ao tocá-la com as mãos, a temperatura e a cor
de um cadáver.
Procurei ao meu redor pelo ser que havia feito isto comigo, mas tudo
em vão, pois não consegui encontrar nada, nenhum vestígio de sua
provável presença, eu ouvia estalos muito distante pela mata e eu sabia até
qual era o animal que caminhava pelo bosque, minha visão alcançava uma
distancia surpreendente, mas nada, nem um indício de onde ele poderia
estar.
_ És um vampiro, cuide-se, não retorne ao templo, ou sabes muito
bem que tentarão destrui-lo.
Ouvi sua voz em minha mente.
_ Onde estais, miserável?
Sua gargalhada se fez presente e sumiu em minha mente, ele
realmente havia me abandonado ali.
Corri pela mata, descobri minha velocidade descomunal e silenciosa.
Cheguei a uma cidadela maior do que aquela em que vivi em minha
infância.
Caminhei por várias ruas e quando passavam algumas pessoas, eu
me disfarçava com meu manto de capuz que usava desde que sai do templo
para minha caminhada reflexiva. Eu ouvia estas pessoas falando, mas não
via movimentos em suas bocas, elas não se moviam, estranhei muito, mas
logo me dei conta que o que eu ouvia eram os pensamentos delas, foi a
partir daí que comecei a treinar para ler ou não as mentes quando eu
VII
quisesse, assim como a bloquear meus pensamentos para outros ou emiti-
los se assim eu quisesse.
Encontrei um cemitério naquela cidade, e lá passei meu primeiro dia,
dormindo um sono que jamais dormi antes, profundo e tão amedrontador, o
sono dos mortos.
Na noite seguinte, me levantei da tumba e sai com uma dor muito
forte me consumindo, era minha primeira fome vampírica a fome de viver.
Até então eu não sabia que era a fome que me fazia sentir aquelas
dores terríveis, apenas descobri ao chegar próximo a um coveiro que estava
bêbado ao lado de uma cova, sentado e se apoiando em uma pedra que
servia de lápide enquanto examinava um corte em seu braço feito por um
pedaço de jarro lascado que estava no chão ao que caiu em sua embriagues.
Eu senti aquele cheiro do sangue me atraindo cada vez mais, fui me
aproximando sorrateiramente e quando dei por mim, já estava segurando
aquele homem com meus braços fortes e sugando-lhe o sangue do
ferimento. Ele tentou gritar. Tapei-lhe a boca com minhas mãos e drenei
todo o líqüidos em frações de segundos.
Deixei o corpo ali mesmo, nem me preocupei em enterra-lo ou sumir
com ele de alguma forma, era minha primeira refeição após mina morte e
vida, minha ressurreição.
Desde então, passou-se meio século. Vi o famoso cristo sendo
crucificado, e lhes garanto que ele era totalmente diferente do que se
pregam por ai, assim como sua história, ele era uma bicha que vivia em
sodomias com seus doze apóstolos, pregando dogmatismos fúteis, mas isto
agora não vem ao caso, pois para mim não tem importância alguma.
Estudei mais meus poderes vampíricos e fui assimilando-os a minha
magia, assim como estudei a magia das trevas, e quando digo magia das
trevas, quero dizer magia da escuridão, da noite, da obscuridade, não de
demônios bíblicos que vocês tolos acreditam existir.
Conheci uma jovem de vinte e sete anos na Escócia, ela tinha os
cabelos loiros como ouro, lisos até a cintura, os olhos azuis tão claros
quanto o céu num amanhecer ensolarado.
Nos apaixonamos, eu por sua fragilidade, pureza e beleza, ela por
meu pálido encantamento, por minha tristeza e solidão. Seu nome era
Kassandra.
Contei a ela o que realmente eu era.
A princípio ela ficou muito assustada, temendo-me, com receios e
seu medo humano que foi desaparecendo após meu beijo e a confiança que
transmiti a ela.
Ela em pouco tempo decidiu que queria se tornar em uma vampira,
mesmo que eu tentasse lhe mostrar que isso não seria uma boa idéia.
Mas antes do findar do outono, por sua insistência em querer me
acompanhar pela eternidade sombria, beijei sua boca macia e amada,
mordendo-lhe a língua e chupando-a sem deixar escorrer uma gota para
VIII
fora, deleitando-nos em nosso mútuo prazer.
Suguei-a até o limite de sua vida em um êxtase mórbido que apenas
nós podemos sentir, não existe prazer mortal comparado a este.
Afastei-a e concedi meu pulso cortado, onde ela se serviu de meu
nobre sangue imortal enquanto eu me aninhava em seus deliciosos seios.
Nos tornamos inseparáveis, uma peste sangrenta devastando os
campos da humanidade.
Fazíamos nossas “refeições” juntos e nos amávamos em nosso amor
vampírico, bebendo o sangue um do outro, em lascivos atos sexuais
selvagens.
Após alguns anos, ou seja, alguns séculos, estávamos em Londres,
quando encontramos um outro vampiro, que ao passar por nós em uma
avenida muito movimentada, pressentiu o que nós éramos e se apresentou
pelo nome de Dórius.
Ele estava muito agitado, porém era um ser muito carismático.
Logo após se apresentar, disse que deveríamos tomar cuidado pois,
ele estava sendo perseguido e, que nós, como sendo vampiros também,
seríamos perseguidos assim que descobertos.
_ Quem vai fazer isto? Quem são estes perseguidores? Eu quis saber
meio receoso por alguém deixar um vampiro assim em alerta.
_ Eles, os que pregam à noite!
Antes que eu pudesse Ter a chance de fazer outras perguntas a
Dórius, só pude ver seu vulto vampírico virando a esquina mais próxima e
desaparecer.
Fiquei muito curioso em saber quem eram estes tais pregadores
noturnos, porém o raiar do sol estava se anunciando.
Tivemos que nos abrigar em um hotel onde havíamos alugado um
quatro por tempo indeterminado, claro que tivemos as providencias que nos
assegurariam que ninguém entrasse lá durante o dia e nem que os raios
solares adentrassem em nosso abrigo suntuoso.
A noite seguinte logo se fez presente.
Fiz algumas ligações para vários personagens noturnos que venho
sempre conhecendo desde minha transformação para logo descobrir onde
encontrar Dórius.
Fomos ao seu encontro então para constatar que apenas restara um
punhado de poeira, os restos de Dórius que havia sido exposto a uma
tormentosa tarde ensolarada, provavelmente pelas mesmas pessoas que
havia entitulado como os que pregam a noite, pensei de imediato.
Nas noites seguinte eu e Kassandra nos empenhamos em pesquisar e
descobrir quem eram estes “pregadores noturnos”, o que queriam e faziam,
assim descobrir porque deram cabo à vida de Dórius.
Não demorou muito para que descobríssemos estes tais
“pregadores”.
Eram na verdade um grupo de magos esquizofrênicos que
IX
“pregavam” seus conhecimentos mágicos em encontros secretos durante as
noites de lua cheia.
Logo descobriram que estávamos pesquisando sobre eles, não
demorando muito para que se pusessem à nossa procura, não só pelo fato
de que poderíamos por em risco aquela seita. Mas também por poderem
utilizar nosso sangue em seus rituais, da mesma forma que fizeram com o
sangue de Dórius antes de deixa-lo exposto ao sol para se tornar em pó.
Eles haviam retirado o sangue dele e levaram para ser utilizado no
ritual da noite seguinte.
Pobres coitados, mal sabiam eles com quem estavam querendo se
meter, pois vale lembrar que, antes mesmo de me tornar em um vampiro,
eu já era um profundo conhecedor de magia.
As estações foram se passando e mais uma vez esperávamos a última
folha de outono cair.
Estávamos em uma praça antiga que margeava um lindo lado em
suas águas que não eram azuis, mas sim negras, as águas da noite, em que
refletia a magnífica e pálida lua rodeada por sua pancárpia de estrelas que
ali estavam como nós, solitárias naquele imenso espaço sombrio.
Fomos repentinamente atacados por um seguido desta seita que ainda
insistia em nos procurar e, de alguma maneira ficaram sabendo o quão
poderoso eu sou e, com esta descoberta viram a grande valia que meu
sangue teria em seus mesquinhos rituais medíocres.
O pobre infeliz me atacou com uma de suas magias de principiante
onde que com minha secular experiência, criei uma ilusão em sua mente
com meus telepáticos poderes fazendo com que visualizasse tentáculos de
sombras emergindo de sua própria sombra e das árvores já sem folha em
função a estação do ano que nos encontrávamos, sombras refletidas por
nossa irmã no alto céu, a lua.
Ele não sabia o que fazer quando se viu cercado pelos tentáculos que
iam cercando-o, envolvendo-o por todos os lados em uma dança sinistra e
mortal.
Aos poucos iam subindo e envolvendo-lhe as pernas, os braços,
enfim, todo seu corpo em um lascivo abraço de amor e morte.
Em seu vacilo, atravessei-lhe o peito com minhas mãos esmagando-
lhe o fraco coração, deixando-o jazendo lá no meio das gramas cinzas
noturnas. Corpo que em minutos antes radiava a vida, embora uma vida
suja, regada de falsos pensamentos implantados por uma mente de um ser
que tinha poder sobre seus anos de existência, seu mestre, seu líder, cujo
qual através de informações obtidas antes através de meus contato levava o
nome de Memento.
Memento era uma pessoa comum como outra qualquer até começar a
se integrar ao mundo da magia onde, com seus eficazes esforços, foi se
tornando cada vez mais poderoso e conhecedor dos ritos mágicos
ancestrais, com isso, alcançando um grau de sabedoria maior.
X
O problema é que a sabedoria lentamente foi cobrando seu preço,
tornando-se em uma sabedoria insana e destruidora, envolvida por
paranóias e ilusões, o destino de quem adquire muitos poderes sem antes
Ter uma boa base, um bom preparamento mental e psicológico para obter
tal conhecimento, tornando-se assim em um louco, e pior, um louco com
grandes poderes de destruição em suas mãos.
Nossos destinos estavam prestes a se cruzarem, e só hoje eu sei que
não haveria meios para evitar este encontro fatal.
É noite agora, estou no alto de uma colina.
Vejo a cidade lá embaixo com sua prole destrutiva se acabando aos
pouco.
Drogas consumindo a mente e o corpo de jovens, assassinos matando
por prazer, a corrupção comprando altos cargos e pagando com a vida de
inocentes.
Eu não sou um inocente, mas também não pertenço a esta escória.
Sou um amaldiçoado que vela o sono dos infelizes, um condenado à
trevas eterna.
Sugo o sangue das pessoas que julgo culpadas, elas me alimentam e
eu as entrego a uma paz que jamais terei.
Aqui em cima é o único lugar onde me sinto bem, pois é aqui onde
costumo me lembrar dos olhos azuis de Kassandra que, me faziam-me
recordar de um céu claro, esquecido em memórias de minha vã infância, e
de seus longos cabelos onde eu costumava perder horas acariciando-os.
Seus olhos se fecharam e eu a velei em sua última noite antes dela
tornar-se cinzas. Então, meu demônio interior libertou toda sua fúria e ódio
draconiano, deixando escorrer tempestuosas lágrimas frias em uma face
que já não lembrava do prato há séculos.
Cada vez que olho para as luzes da cidade, lembro-me do brilho em
seu sorriso, tão inocentes, puros e sinceros, coisa que jamais conseguirei
expressar.
Um trem acaba de passar e, seu apito abafa o grito de uma nova
vítima em algum beco, mas aqui do alto, eu ouço tudo e sinto os últimos
lamentos em agonias de alguém que não teve uma chance de vida melhor.
Volto aos meus vagos pensamentos e, somente eles me confortam
nestas noites frias em que me lembro de Kassandra e de nosso amor.
E se um ser como eu pode amar, mesmo que seja uma vez em
séculos, me pergunto porque vocês mortais, que sempre falam de amor e
paixão estão a se destruir cada vez mais, destruindo as plantas e animais em
suas inocentes vidas e desproteção?
Como podem Ter percebido, Kassandra já não trilha mais ao meu
lado, mas como a tragédia ocorreu para nossa separação, eu detalharei logo
mais adiante, por enquanto vou ao meu refúgio descansar um pouco
enquanto dia vem se aproximando.

XI
II – Uma Luz Para Kassandra

Já havíamos entrado no inverno.


Kassandra e eu, com um cálice que transbordava sangue,
brindávamos à nossa saúde e a das almas esquecidas que gritam no silêncio
da noite entre a penumbra por onde vejo toda cor natural deste mundo, um
vasto campo negro onde os lamentos uivam ao vento.
Ela estava sorrindo quando que repentinamente sua mão tremeu
derramando um pouco do líqüido escarlate de seu cálice dourado e
adornado com algumas pedras preciosas vermelhas, rubis no caso.
Seu sorriso desapareceu-lhe por completo em sua face delicada que
eu amava só em poder contemplar sua imensurável beleza.
_ O que foi? Quis saber assustado ao mesmo tempo em que segurava
aquelas mãos leves.
_ Eles voltaram!... Eles voltaram para me assombrar pelos meus
pecados.
Escorria um filete de lágrima rosada pelo seu rosto e eu quis saber
quem era ou, o que era.
Olhei para todos os lados daquela sala toda decorada com antigos
quadros pintados por diversos artistas famosos que ainda sobrevivem em
suas artes com o passa das eras, mas eu não enxergava nada além do
normal que pudesse responder as palavras que ela dizia.
_ O que você está vendo? Quem são eles que voltaram para seu
assombro?
_ Os espíritos, você não os vê?
Compreendi então que ela tinha recebido das trevas o dom de ver
espíritos. O dom das trevas as vezes é diferente para cada ser que recebe o
abraço noturno em seus fraterno e impiedosos braços.
_ Eu os via no começo, na época em que me tornei vampira, mas
depois eles não mais apareceram para mim, mas hoje eu pude vê-los por
toda esta sala, eram espíritos dos que eu tirei a vida enquanto me
alimentava, e pude ver muita dor em seus olhos vazios, estavam todos
vestidos com mantos negros e aspecto cadavérico e, corvos espectrais
onipotentes voavam por todos os lados, será que estarei condenada por
eles?
_ Creio que não minha amada. Disse-lhe fazendo com que ela
repousasse sua cabeça em meus ombros e continuei a lhe falar enquanto
afagava seus macios cabelos soltos. Eles, os humanos, matam muitos
animais para se alimentarem de sua carne e, nós não somos diferentes pois,
matamos para nos alimentar, é tudo uma cadeia alimentar, eles dizem matar
os animais por estes pobres seres terem inteligência inferior ou serem
irracionais, sendo assim, estes humanos tem uma inteligência totalmente
XII
inferior a nossa, logo podemos nos alimentar neles de acordo com a própria
maneira deles pensarem, que ironia do destino, não acha?
_ Acho que sim, mas estas visões me incomodam muito, e agora
parecem terem voltado para sempre.
Ficamos abraçados por um tempo que não pude contar e, logo
percebemos que já haviam se passado horas, percebemos que estava quase
na hora do sol aparecer.
Fomos para nossa cripta, para nosso descanso apaziguador.
As noites seguintes foram tensas, Kassandra era atormentada pelas
visões dos espíritos freqüentemente e, isso ia deixando-a cada vez mais
aflita e melancólica.
Eu tentava ajuda-la, mas não podia fazer praticamente nada, eu não
tinha nenhum poder sobre espíritos, muito menos os via e sabia que não
adiantaria falar-lhe sobre o que eu achava pois, palavras não fariam com
que aquele mal sumisse de sua frente.
Foi em um dia daquela mesma semana, eu jamais esquecerei aquela
semana de terrores indizíveis, como sempre, fomos até nossos caixões,
deitamos para nosso repouso, nossos caixões eram postos um do lado do
outro, embora dormíssemos muito juntos em meu féretro, tínhamos nossos
esquifes separados, ela deitou-se sozinha no ataúde dela dizendo que queria
meditar sobre o que lhe vinha ocorrendo nestas noites de tormento.
Eu não consegui dormir logo, algo dizia-me que alguma coisa iria
acontecer.
Levantei-me na noite seguinte e vi o caixão ao lado aberto e vazio.
Dentro dele havia uma carta com meu nome escrito com sangue e uma rosa
depositada sobre a mesma.
Antes de ler a carta, eu corri atrás de Kassandra.
Procurei por toda aquela enorme mansão em que vivíamos e, quando
desci a escada que dava para uma enorme sala de festas, reparei que as
cortinas estavam abertas.
Pude ver lá fora uma grande lua cheia com um lindo tom
avermelhado e estranhei por ver as cortinas abertas, já que sempre as
mantivemos fechadas para evitar a luz solar durante o dia.
Continuei a descer os degraus e, a dor ia aumentando até que vi que
o que eu pensava havia realmente se concretizado. Em frente ao nosso
piano de cauda, eu vi um punhado de pó, cujo qual havia sido uma pessoa
que eu mais amei em toda minha existência.
_ Por que Kassandra?...
Ela havia se entregado a claridade que nos destrói, a luz que nos
reduz à cinzas.
Eu li sua carta então e nela continha os seguintes versos:

XIII
Estou triste, abandonada e só.
Me sinto esquecida por mim mesma
E sei que mereço este castigo.
Eu fiz minha escolha: - As sombras!

No céu o vasto bulcão negro


E eu sigo escrevendo meu carme
Neste velho e empoeirado calepino;
Se algum dia o ler, não chores por mim.

Tornei-me taciturna
Envolta por um trevor
Confortando todos meus mórbidos pensamentos
Que dançam na lubrina de minha mente.

Esqueça suas condolências.


Cesse esta delacrimação.
Apenas deixe-me lembrar mais uma vez
De seu inocente sorriso.

*P.S. Perdoe-me por deixar-te, amado Lugubrous, entrego-me a luz


da destruição pois, não quero mais as visões que me seguem e, se houver
outra vida para nós, do outro lado, eu te esperarei, mesmo que seja por toda
eternidade.
Eternamente sua...
... Kassandra.
Eu deixei a carta sobre o piano assim como a rosa, que estava com
seus espinhos enfiados dentro da carne de minha mão que deixava-a úmida
com meu sangue que escorria, para então iniciar as notas da famosa
“moonlight” de Beethoven.
Uma brisa entrou pela sala enquanto eu tocava e começou a levar as
cinzas de Kassandra que pareciam dançar no centro da sala como uma
despedida de minha inesquecível Kassandra, meu único e verdadeiro amor
nesta insana eternidade.

XIV
III – Pálido Encantamento

Passei anos vagando como um zumbi pelas cidade, estados e países.


Eu apenas saia para me alimentar quando a fome começava a dar
sinais de insanidade em minha mente.
Ficava durante todas as noites indo de um lado para o outro, sem
destino, para que quando o amanhecer se aproximasse, eu me retirar ao
conforto escuro e acolhedor das casa que eu ia alugando nessas minhas
vagas passagens pelos lugares esquecidos por todos neste grande planeta,
em uma busca por algo que eu nunca soube exatamente o que era, talvez
tenha sido apenas um artefato criado em minha mente para tentar esquecer
a dor da perda de Kassandra, o que sempre será em vão pois, eu sempre me
lembrarei dela, desde meu despertar até o horário de meu repouso, mas
mesmo assim em meus sonhos ela aparece.
Nestas viagens, eu conheci alguns tipos, ou melhor, espécimes de
vampiros estranhos, e muitos outros bem próximos aos conhecidos em
antigas lendas, como as que você acaba assistindo em sua casa pela t.v. a
cabo, ou em filmes nos cinemas, na maioria patéticos.
Certa vez cheguei a um país, mais exato em Paris, na França, onde
acabei encontrando uma vampira chamada Liene.
Confesso-lhes que ela era linda, com seus olhos verdes claros e
cabelos longos abaixo da cintura, negros e lisos, contrastando com sua bela
palidez.
Conversamos sobre diversos assuntos e nos divertimos muito juntos
nas semanas em que fiquei por aquele país, de uma forma que há muito
tempo eu não me divertia, indo a museus, teatros, concertos, zoológicos e
até mesmo em um parque de diversões.
Quando parti, senti algo estranho, como que se no avião em que eu
estava também houvesse algum outro imortal, mas eu não podia ficar
procurando por este ser sem despertar a curiosidade das pessoas em certo
ponto que até pudessem descobrir meu caixão e o abrirem, e até o pior,
abri-lo durante o dia.
Acabou a viagem e eu estava de volta a minha mansão, toda
empoeirada pelo tempo que ficou fechada, junto as teias de aranha que
predominavam o lugar, os móveis cobertos por lençóis brancos.
Entrei na sala onde Kassandra suicidou-se e descobri o piano.
Deslizei meu dedo sobre a tampa deixando uma marca sobre o pó, então
abri a tampa do teclado e arrisquei um acorde diminuto, foi ai que
novamente pressenti que aquela presença imortal, e eu me perguntava o
porque estava ao meu encalço e porque não se revelava logo quem quer que
fosse.
XV
Procurei por esta alma condenada durante noites, e o mais próximo
que consegui chegar foi quando vi um vulto sumir em um beco enquanto eu
corria atrás do mesmo e o perdi de vista.
Começaram a chegar correspondências, com cartas em branco no
início, depois com manchas de sangue de algum mortal do sexo feminino, o
sangue que mais aprecio.
As outras que vieram depois continham frases escritas também com
sangue, frases como por exemplo:
“Você me pertencerá”, ou, “De seu sangue eu beberei”, entre outras
coisas mais estranhas e absurdas, porém, me deixavam em alerta para um
possível perigo eminente.
Certo final de noite ao chegar em meu requintado refúgio, encontrei
uma rosa próxima a porta de entrada. Peguei-a e pelo perfumado odor,
percebi que havia sido colhida a pouco tempo, em menos de meia hora.
Este jogo estava cada vez mais me irritando, cartas cada vez mais
estranhas, rosas colhidas recentes e, até mesmo um grande gato preto
exangue me foi deixado na soleira de minha porta.
Reforcei as medidas de segurança por toda a casa, principalmente no
acesso secreto ao esconderijo subterrâneo de minha cripta, para que nada
pudesse me acontecer de surpresa, coisas que logicamente eu odiaria.
Em uma de minhas noturnas saídas em busca de alimento, eu
pressenti um ser me vigiar.
Segui meus instintos e cheguei a um parque, lugar taciturno e
sombrio durante as noites onde, praticamente nenhum mortal gostaria de
atravessá-lo.
Quando cheguei próximo a uma ponte, eu parei e vi novamente
aquele vulto que eu havia seguido no beco noites atrás. Estava trajando um
manto parecido com os usados por magos antigos, todo negro e com um
capuz escondendo seu rosto.
Pude ver suas pálidas mãos acenando ‘num gesto para que eu parasse
onde eu estava e, pelas mãos femininas, eu soube imediatamente quem era.
_ Liene! O que fazes aqui? Porque tudo isto?
Na pouca claridade refletida pela meia lua no alto céu, pude ver
metade de seu belo rosto fitar-me em um sorriso sem som que ao mesmo
tempo que me deixava assustado, também me excitava, ela sabia disto.
Então ergueu os braços segurando as pontas do manto e deixou cair
uma garota aproximadamente de uns quinze anos de idade morta. Ela havia
acabado de se alimentar em uma criança inocente, coisa que eu não
costumo fazer.
_ Porque estais fazendo isso Liene? Eu quis saber enquanto ela me
olhava fixamente e eu percebia os traços de seu corpo semi nu debaixo
daquele manto negro.
Tentei me aproximar mais um pouco, mas seu rosto tornou a sumir
nas sombras do capuz. Corri para tentar agarra-la, mas em vão pois, sua
XVI
agilidade foi mais hábil que imaginei e ela desapareceu apenas deixando o
som de seu mórbido sorriso me fazendo companhia.
Olhei para baixo e contemplei o rosto da menina caída sem vida ao
chão gelado, um rosto de traços finos e delicados que se tornaria em uma
bela mulher. Foi neste momento que senti como se uma faca de dois gumes
atravessasse meu coração pois, vi que haviam traços naquele rosto que
faziam-me lembrar de Kassandra, Liene sabia disto e por este motivo a
escolheu.
_ Maldita seja, Liene!
Seria um jogo que eu não entendia as regras, me perguntava. Se fosse
eu não queria participar.
Passaram-se em torno de dois meses sem que Liene desse qualquer
sinal de vida.
Bem que ela podia Ter sido torrada pelos raios dourados que há
séculos não vejo do iluminado sol, pensei muitas vezes me flagrando em
um malicioso sorriso enquanto eu tocava piano em meu salão.
Em uma dessas noites em que meus acordes ressoavam nas teclas
gastas pelos dedos no decorrer dos séculos, ouvi novamente aquele sorriso
mórbido de Liene.
Foi tão forte que confesso Ter levado um grande susto que me fez
tocar um acorde com grande força e totalmente dissonante a qualquer
ouvido, por menos tato musical que alguém possa Ter.
_ Eu ainda lhe encontrarei sua...
Cessei minhas palavras antes que saísse as palavras de baixo calão
que poderiam deixar qualquer fiel de alguma crença cegadora em nome de
um deus que segundo eles pune os fanáticos, porém eles mesmos não se
percebem no fanatismo em que vivem, se condenando dentro das próprias
crenças que criaram, hilário, não acham?
Naquela noite fiz uma caçada a Liene, mas infelizmente não a
encontrei, onde estaria esta maldita pensei.
Voltei para meu refúgio uma vez que o amanhecer estava chegando
e, ao deitar em meu caixão, tive a recordação de um sorriso de Kassandra
quando ela acabara de me beijar após Ter recitado um de seus poemas
nocturnos que aqui eu os reproduzo na íntegra enquanto lembro-me de seus
lábios recitando-os para mim.

XVII
Pálido Encantamento
Retornei de minha tragédia
Vendo as folhas de outono caírem
E voarem ao som de um violino
que ecoa em meus ouvidos.

Mesmo com lágrimas criminosas,


Sou acolhido pelos braços fraternos das sombras
Que sempre beijam meus medos
E ama-me com toda sua obscuridade.

Olhe para meu pálido encantamento


E beije os lábios do moribundo
Em sua clemência silenciosa
‘num ato de compaixão pelo nosso umbror.

Não lamente sua recusa.


Não fuja daquilo que não podes compreender
Pois, no meio de tantas sombras,
De tanta dor e ódio, ainda existe o amor.

A cada recordação que tenho de Kassandra, sinto como se estivesse


ao meu lado, e agora eu sei que está, embora em um outro plano de vida,
não acredito nem sei nada sobre deus ou diabo, anjos ou demônios, vida
após a morte ou coisas do gênero, mas creio que exista algo além deste
corpo que usamos como veículo neste planeta, mas creio também que
provavelmente eu não vá conhecer este “outro lado”, e se for, bem, que seja
daqui muitos milênios.
Faltavam ainda alguns minutos para o amanhecer, em torno de uns
trinta, mais ou menos, resolvi então ir ao piano e tocar a triste música que
Kassandra adorava, não só ela, mas como eu também.
Certifiquei-me de que as cortinas estavam bem fechadas para não
correr nenhum risco de algum raio solar atravessar o salão até mim, o que
seria impossível, pois antes do sol nascer eu já estaria me deitando em meu
aconchegante féretro que me aguardava em minha adorada cripta, mas
como diz o famoso velho ditado: “Todo cuidado é pouco.”
Toquei tranqüilamente aquela música que sempre me deixa triste,
mas trás agradáveis lembranças de minha amada, quer ela esteja onde
estiver (se estiver em algum lugar do “além”).
Retornei então ao meu ataúde e deitei-me pensando de como seria
bom poder sonhar com Kassandra, mas desde minha transformação em
vampiro eu não havia tido nenhum tipo de sonho ou pesadelos.

XVIII
IV – Opus Nocturnus

Chegou uma nova noite.


No céu uma enorme e pálida lua de outono refletia seu brilho para
meus olhos que a contemplavam.
Me alimentei em uma mulher que aparentava Ter em torno de uns
trinta e seis anos, ela estava perdendo toda sua vitalidade em um câncer
incurável, e como devem saber, a nós vampiros, nenhuma doença pode
fazer mal, pois nosso poderoso sangue destrói qualquer tipo de infecção
que possa vir a nos incomodar, sendo assim, resolvi adiantar o destino
daquela sofredora alma retirando o sofrimento que lhe consumia aos
poucos em sua dor solitária.
Após minha refeição, fui ao Opus Nocturnus, um bar noturno restrito
onde bandas de black, death doom, dark, gothic, etc. se apresentavam e, só
freqüentado por vampiros e bruxas, porém, quando surge algum mortal
desatento, já sabem o que acontece, sua vida é consumida por nós, e era
exatamente isto que estava acontecendo quando cheguei, um casal estava
tendo todo o sangue consumido por alguns “vampyrs”.
Fui calmamente até o balcão e fiz sinal com a mão para que
Denegahr viesse até mim.
Denegahr era o proprietário do recinto.
Tinha mais ou menos um metro e meio de altura, cabelos raspados, a
típica “careca” dos nosferatus dos cinemas, um piercing no nariz e trajando
uma calça preta de couro e um colete também de couro.
_ E ai Lugubrous, quanto tempo não aparece por aqui heim, uns três
anos mais ou menos?
_ É meu velho, eu andei viajando um pouco na tentativa de amenizar
minha dor.
_ Esta falando sobre Kassandra não é? Nós ficamos sabendo, mas
pelo menos foi por opção dela mesmo não é?.
_ Sim, pelo menos isso. Suspirei profundamente e engoli a dose de
vodka pura que Denegahr havia deixado em um copo para mim de um gole
só.
_ Denegahr, você está sabendo algo sobre uma tal de Liene estar
rondando por ai?
_ Putz, até o momento não estou sabendo de nada meu amigo.
Denegahr pediu licença e foi atender um pessoal que havia acabado
de chegar e eu senti uns “tapinhas” em meu ombro direito.
Me virei e vi algo muito estranho ao meu lado, tudo bem que era
“um” vampiro, isso é normal, ainda mais naquele lugar, mas o estranho
eram suas vestimentas berrantes, era um vampiro drag-queen, conhecido
como “Vampdreg” como se apresentou.
XIX
Eu tentei segurar meu riso mas não contive e gargalhei pedindo
desculpas pois, nunca havia me deparado com coisa tão hilariante ainda.
“Ela” pois, me pediu que usasse o “feminino” quando se referisse a
“ela”.
Me disse que conhecia Liene, fazendo minha expressão facial mudar.
Ela me disse onde Liene estava naquele momento. Eu agradeci e sai do bar
a fim de ir ao local citado por Vampdreg.
Na saída, um dos vampiros de uma gang de motoqueiros me desafiou
para um “pega”. Eu recusei o “racha”, mas fui obrigado a montar em minha
Harley e sair em perseguição ao vampiro que acelerou dizendo que me
levaria até Liene e que sabia o que ela queria comigo.
Foi uma corrida de tirar o fôlego de qualquer mortal. Atravessamos
várias avenidas ziguezagueando por entre carros, escombros de edifícios,
árvores em praças públicas, em pistas na contramão, nós corremos até que
nos emparelhamos.
Ele começou a desferir golpes de chutes e correntadas em mim mas,
no final, quem tombou foi ele após meus golpes.
Seus amigos desapareceram com as motos. Eu parei a minha e olhei
para o corpo que se levantava todo arrebentado do chão, fui em sua direção
mas ele conseguiu escapar de mim desaparecendo entre uma mata densa ao
lado da pista onde se quedara, apenas pude ouvir um “elogio” vindo de sua
parte entre as folhas do mato alto:
_ Filho da puta! Então sua voz também se calou fundindo seu sorriso
sinistro entre o som da brisa que balançava o mato.
Fui então ao local onde Vampdreg havia me informado que eu
encontraria Liene, um velho e putrefo casarão abandonado em uma antiga
colina, onde muitos mortais diziam ser mal assombrada.
Subi pela trilha cheia de cascalhos e matos até a porta principal do
casarão e fui entrando sem fazer “cerão”.
Comecei a subir as escadas cheias de teias de aranha quando um
vulto negro saltou lá de cima, do final da escada ao chão. Era Liene
assustada por eu Ter a encontrado.
_ Como me encontrou aqui?
Vampdreg, pensei mas não disse nada, percebendo então a besteira
que fiz, pois ela também tinha o dom de ler os pensamentos alheios
_ É, ela deve ser calada. Liene falou meio pensativa e com um certo
sarcasmo em sua face descorada que não entendi bem, mas continuei meu
interrogatório para saber porque me perseguia.
_ Tudo tem seu momento certo amado Lugubrous, mas no momento
não posso conversar, devo calar uma pessoa, entregar uma traidora ao sono
eterno.
Novamente ela escapou enquanto eu fiquei me perguntando:
_entregar alguém ao sono eterno? Por que e quem? Até que me
toquei encontrando a resposta: _Vampdreg!
XX
Desci voando até minha moto ao pé da colina para constatar que
Liene havia a destruído.
_ Bom trabalho sua lazarenta! Blasfemei em um grito de raiva.
Fui correndo até a estrada com minha velocidade vampírica e
consegui uma carona com um casal de velhos que carregava porco em seu
pequeno caminhão. Garanto se eu tivesse corrido a pé, com certeza teria
chego ao bar antes, mas eu já nem me importava mais.
Já no bar, falei com Denegahr e ele me disse que Vampdreg saíra em
torno de uns quinze minutos antes de minha chegada com uma amiga dela
que havia aparecido por lá.
Sai na procura das duas, pois sabia que a outra era Liene.
Encontrei apenas cinzas em um cruzamento longínquo onde mal se
passava alguém e reconheci no meio das cinzas um colar de Vampdreg,
Liene a destruiu com fogo naquele local perdido.
O amanhecer estava próximo. Eu não podia continuar em minha
caçada sem por em risco minha vida, então retornei ao meu refúgio para
poder descansar em paz e pensar no que faria na noite seguinte.
Despertei em um pensamento vago que me fez lembrar uma pessoa;
Marceniuns, sim, se alguém pudesse dar alguma informação no submundo
vampírico seria ele.
Marceniuns era conhecido como padre morcego por viver no
subterrâneo secreto de uma velha catedral abandonada. Seu comportamento
era meio estranho e paranóico, ele tinha muitas paranóias em sua
conturbada mente insana, sempre dizendo que estava ocorrendo uma
conspiração vampírica entre determinadas facções, sempre achava que
estava sendo seguido e que olhos nas sombras o observavam, porém,
mesmo assim suas informações eram preciosas e valiosas, por isso resolvi
procurá-lo.
Ventava muito naquela noite.
Vesti meu sobretudo preto, prendi meus longos cabelos e fui a
procura de Marceniuns na capela das almas sofredoras, como ele
costumava chamar a catedral.
Chegando lá, parei em frente e olhei para a enorme entrada com
alguns pombos voando após minha aproximação.
Cheguei ao meio daquele enorme recinto que cheirava a mofo e
imaginei como era aquele lugar em épocas remotas, onde ainda se
realizavam as missas. Vi as pessoas sentadas de mãos juntas orando suas
ladainhas, o padre abençoando suas hóstias e bebendo seu vinho sagrado,
uma velha entrando através da enorme porta de mãos dadas à uma pequena
criança com um chapéu rosado em sua cabeça e uma vela branca acesa em
outra mão. A menina continuava a segurar firme a mão da velha, porém
virou-se para mim lentamente abrindo seus olhos para fitar-me, seus olhos
eram órbitas vazias, dois buracos negros, que após me olhar de baixo para
cima, ela começou a abrir a boca pequena e angelical deixando aparecer
XXI
dois caninos desenvolvidos e brilhantes, refletindo as luzes das velas,
brilho que me trouxe de volta a mim mesmo e na catedral com seu cheiro
bolorento e vazia com os ratos caminhando livremente sobre as madeiras
podres próximo ao que deveria ter sido o altar principal.
Nele havia uma enorme cruz feita de pedra e toda entalhada a mão.
Detrás desta cruz foi surgindo aos poucos um vulto que lentamente ia
mostrando suas formas e feições, por fim, na penumbra pude ver o rosto
com os poucos reflexos da luz lunar que entrava por um grande arco de
vidros quebrados em uma das laterais da catedral.
Era Marceniuns, que quando ameacei dar um passo em sua direção,
ele fez sinal para que eu parasse. Ele se aproximou meio desconfiado como
sempre em suas paranóias até que deu um sorriso me reconhecendo e
perguntando o que eu fazia ali.
Perguntei-lhe sobre Liene. Ele pensou por um instante e então fez um
gesto como quem vai dizer algo mas, voltou aos seus pensamentos e por
final começou a falar:
_ Liene... Liene, sim, eu a vi ontem após ela ter posto um fim em
Vampdreg, mas depois não soube mais nada, quem sabe mais tarde eu não
receba mais algumas informações sobre este assunto.
Antes que eu pudesse dizer algo ele voltou a falar:
_ Hei, eles estão por perto, cuidado!
_ Eles quem?
_ Os conspiradores, os olhos escondidos na noite que observam a
tudo, tenha cuidado meu amigo.
Eu sabia que eram suas paranóias mas, fingi acreditar e estar
preocupado saindo de mansinho dizendo que eu iria me espreitando nas
sombras enquanto ele corria como um louco e pulado feito um louco pelos
cantos escuros da catedral procurando os “olhos nas sombras” que o
vigiavam.
Aproveitei para dar uma breve busca por informações sobre Liene
pela cidade, mas o vento estava muito forte que resolvi voltar para meu lar
e tocar um pouco de piano até o início do amanhecer.

XXII
V – Memento Mori

Não sei por que, mas fiquei varias noites sem tentar procurar Liene,
já estava até pensando que tudo poderia voltar ao normal, que ela poderia
Ter voltado ao seu país natal e me deixado em paz, mesmo que eu não
soubesse o porquê dela ter vindo até aqui e agido desta forma, totalmente
diferente da Liene que eu conheci em Paris.
Infelizmente logo descobri que esta maravilha não havia ocorrido,
pois quando cheguei a minha mansão após ter feito um jantar em uma bela
noite, encontrei uma carta na soleira da porta.
Nela estava escrito o seguinte:
“Precisamos conversar, me encontre no antigo e fétido cemitério
abandonado próximo ao casarão que pertenceu a família Crivers”.
O casarão da família Crivers era famoso por ter ocorrido nele o
episódio de um assassinato meio estranho para os moradores daquela
região.
O filho de dezenove anos de idade havia envenenado e picado seus
pais com uma serra, depois estuprou e canibalizou seu irmão recém nascido
e logo em seguida saiu correndo nu pelo campo e se atirou de um penhasco
a alguns metros do casarão.
Ninguém até hoje sabe explicar os motivos que levaram ao jovem
Barey Crivers a cometer este ato, comentam da possibilidade de fantasmas
ancestrais que perseguiam a família por séculos a fio atormentavam tanto o
jovem desde seu nascimento que conseguiram seus objetivos
enlouquecendo-o. Muitos ainda acreditam que as almas dos que morreram
naquele entardecer, inclusive a de Barey continua residindo naquele local.
Eu particularmente creio que seja pura bobagem, pois já estive por lá e
nunca encontrei com nenhum fantasma rondando o casarão.
Na noite seguinte eu fui até o local determinado na carta e esperei em
torno de uns dez minutos até que Liene chegasse e, antes que eu pudesse
dizer algo, ela iniciou nosso diálogo.
_ As coisas são estranhas neste mundo...
Eu ia fazer meu comentário, mas ela continuou:
_ ... Este lugar, por exemplo, veja estas estátuas antigas e tristes,
entre anjos em lágrimas eternas, estas lápides cinza e esquecidas no tempo,
ah, o tempo que a tudo destrói, menos a nós em nossos sofrimentos...
_ Mas quando menos percebemos, este tempo nos é cobrado em seu
atraso, tornando-nos pó. Acrescentei interrompendo seu monólogo
dramático.
_ Como eu estava dizendo, um simples lugar, um simples cemitério,
local apreciado por nós e temido por muitos mortais.
XXIII
_ Oras Liene, não viemos aqui para debater ou filosofar, mas sim
para termos alguns propósitos a serem resolvidos por ambos. Interferi em
suas palavras a fim de terminar logo com este jogo de futilidades e loucuras
que me perseguiam por semanas, meses.
_ Tudo bem, vamos direto ao ponto em questão, nós!
Senti seus olhos fitarem os meus em um forma constrangedora mas,
persisti com meu olhar ainda mais penetrante e amedrontador, fazendo-a
recuar com certo temor.
_ Não precisamos tentar intimidar um ao outro. Acrescentei
estendendo meus braços em um sinal para que ela saísse de trás da coluna
em que se escondera.
É difícil encontrar alguém, mesmo que sendo vampiro que não se
intimide com meu olhar frio e penetrador quando assim quero.
_ E então, vai me contar o porquê de todo este teatro de vampiros
que você tem feito e onde resolveu me incluir como um de seus atores
principais?
_ Tudo bem, acho que é melhor lhe contar desde o começo.
Então Liene começou a relatar sua trama:
_ Eu havia acabado de me tornar uma vampira, mesmo sem desejar
ter me tornado neste ser que hoje sou. Meu criador cedeu seu sangue para
que eu bebesse em um ato erótico que nem sei como descrever. Enquanto
eu ia sofrendo os tormentos da transformação prazerosa, ele desapareceu na
escuridão daquela noite violácea, nem mesmo seu rosto eu pude ver, pois
seu enorme manto negro cobria seu corpo e sua face escondida dentro do
capuz. Foi muito difícil para mim se acostumar e me adaptar, aprendendo a
sobreviver nesta nova forma de vida. Sabia no que eu havia me tornado,
uma vampira, e que deveria beber o sangue dos infelizes mortais.
A princípio foi hilário e constrangedor, pois eu vivia fugindo de
objetos sagrados como a bíblia, a cruz, também temia o alho e coisas que as
pessoas costumam relacionar com os vampiros em obras literárias, mas
com o tempo fui aprendendo que tudo não passava de crendices populares,
lendas e nada mais.
Então conheci Antonini, um italiano que estava em férias turísticas
pela França.
Promovi um encontro casual, nos conhecemos e, eu sempre fingindo
ser apenas uma mulher mortal como qualquer outra.
Estávamos apaixonados quando ele descobriu o que eu realmente era
e me pediu para torná-lo igual a mim, para vivermos nossa eternidade
juntos.
Decidi então concordar com esta idéia e comecei a sugar seu sangue
em um ritual voluptuosamente já conhecido por você, só que eu fiz tudo
errado, pois deixei seu coração fraco parar de bater, me desesperando
enquanto tentava ressucita-lo, e nem mesmo meu sangue com todo seu
poder que deixei escorrer em sua boca bonita pode traze-lo de volta.
XXIV
Fiquei dias em depressão profunda, queria me matar, mas algo dentro
de mim me impedia deste ato.
Depois de algumas semanas resolvi sair pelas ruas tentando
recuperar minha vida perdida, e foi quando eu encontrei alguém que havia
perdido um grande amor também, eu me identifiquei com esta pessoa e
passei a amá-lo, era você Lugubrous!
Sim, você, e as poucas noites que saímos juntos para nos divertir me
fez ama-lo, e depois passei a odia-lo, pois descobri que seu amor por
Kassandra resistiria até mesmo após sua morte.
Segui você pensando em um método para fazer com que você me
amasse como a amou, alias como a ama, que a esquecesse para sempre, foi
então que conheci Memento.
_ Memento! Este nome me dá enjôo, pensei que nunca mais fosse
ouvir falar neste traste!
Liene me olhou com uma interrogação nos olhos. Eu falei para ela
então:
_ Você não sabe com quem esta se metendo Liene, não sabe nada
sobre este Memento, muito menos sobre mim.
Neste momento, por detrás dela um vulto tomou a forma de um
homem cujo qual fez meu ódio aflorar.
_ Memento, seu maldito imundo!
_ Hê he he, olha quem está aqui. Disse ele em tom arrogante olhando
em minha direção.
_ O que ele lhe prometeu Liene?
Ela olhou para Memento e depois se virou para mim dizendo:
_ Ele disse que podia fazer com que você me amasse, que ele tem
poderes mágicos para isso, e em troca só queria um pouco de seu sangue,
coisa que logo você recupera.
_ Liene, Liene, e você acreditou neste mentiroso? Sim te digo uma
coisa, ele tem poderes mágicas, mas não para isto, ele usa sua magia para
fins horrendos e hipócritas, e sim claro que ele quer meu sangue, mas não
um pouco, e sim todo, sabia Liene que eu também tenho conhecimentos em
magia?
Ela me olhou com os olhos arregalados e perguntou a Memento se
isso era verdade.
_ É claro sua tola apaixonada, acha que eu iria ajudar uma menininha
com fantasias de amor em seu coração apaixonado, saiba que apenas uso
seres fracos como você para conseguir atingir meus objetivos, e você
cumpriu bem o seu papel me trazendo até este ser que eu procurava a muito
tempo, Lugubrous Tenebrous Luciferiun.
Ele pronunciou meu nome lenta e pausadamente num tom profundo
enquanto Liene em um acesso de fúria e lágrimas o atacou, porém em vão.
Memento usou de seus poderes e fez com que ela levitasse até
determinada altura superior a dois metros sobre um cercado de ferro
XXV
enferrujado e contorcido pelo passar do tempo liberando-a da suspensão
logo em seguida.
Liene despencou do ar tendo todo seu corpo delicado traspassado
pelos vários ferros e uma cruz que ainda estavam eretos.
Ela olhou para mim com seus olhos em pranto carmesim enquanto de
sua boca escorria o sangue escuro.
_ Perdoe-me por ser tão tola e cometer mais este erro, Lugubrous...
Então ela fechou os olhos na funesta impressão da morte.
Memento me observava com um sorriso estampado em sua maléfica
face.
Fitei seus olhos com os meus em fúria e ódio, que o fez recuar e
cessar aquele sorriso boçal.
_ Se você quer meu sangue para seu ritual, então venha busca-lo
agora seu covarde!
Gritei para ele que começava a dizer algumas palavras em uma
invocação de suas pobres magias no intento de me atacar.
Enquanto ele orava sua ladainha estúpida e hedionda, eu ria alto, o
que fez com que ele me olhasse ainda mais assustado.
_ Se isso é o melhor que você pode fazer, vou destrui-lo em átimos
de segundos seu merda!
Falei enquanto ele me lançava uma grande rocha envolta por fogo
que havia se materializado com seu poder, e eu apenas tornei-me uma
sombra com meus poderes das trevas, desaparecendo naquele imenso
paraíso de sombras deixando-o desesperado enquanto a rocha explodiu se
se desmaterializando e voltando tudo no mais sinistro breu de antes.
Por entre a escuridão eu via seus olhos me procurando.
Silenciosamente surgi por detrás dele com uma voz grave e
fantasmagórica próximo ao seu ouvido fazendo um som próximo ao dos
filmes de terror, coisa que o fez a dar um enorme salto para frente, e eu
ouvia seu coração disparado batendo aceleradamente.
_ Isto é interessante, vou gostar de fazer este truque quando estiver
em posse de teus poderes. Comentou ele tentando mostrar-se ainda forte e
sem medo, coisa que eu sabia que na verdade ele nunca seria páreo para
mim.
Tente safar-se desta agora!
Ele dizia como se fosse fazer algo muito poderoso.
Saíram do chão mãos de pedras que prenderam meus pés. Em
seguida, enormes cipós com espinhos que também brotaram do chão e de
alguns túmulos me envolvendo em um forte abraço, perfurando alguns
pontos de meu corpo, além disso, ossos começaram a se desenterrarem das
covas e começaram a me envolver com o intento de me manter preso,
cercado por fogo mágico.
Eu caí e fiquei cabisbaixo.
Memento se aproximou rindo e falou:
XXVI
_ Estais vendo, eu sou o mais poderoso dos magos!
Meus olhos se ergueram olhando para ele e comecei a rir novamente
dizendo-lhe:
_ Isto é truque para ser usado em circo, seu palhaço!
Com um simples gesto de minhas mãos, ao mesmo tempo em que as
mãos de pedras se tornaram em pó, o cipó tornou-se delicados fios de papel
e os ossos tornaram-se morcegos que voaram, assim como o fogo caiu ao
chão em forma de sangue.
Ele arregalou os olhos comentando:
_ Impossível!
Eu então mudei minha expressão facial para um rosto sério e falei:
_ Pensas que isso é como nos filmes onde o herói apanha, apanha e
depois, todo ferrado, se ergue e destrói o bandido; comigo não tem dessa,
não sou o mocinho nem o vilão, apenas sou o terror dos que ainda são
mortais, a morte de quem me ameaça, o pavor da inocência, o juiz de meus
próprios atos insanos e, agora, tu sentiras minha ira!
A cada passo que eu dava e a cada palavra que saia de meus lábios,
eram seguidas pela minha transformação.
Meus dentes caninos iam crescendo assim como minhas unhas
tornavam-se maiores, meus olhos ganhavam a cor do sangue e em minha
face ia se estampando a expressão de ódio fazendo com que Memento
gesticula-se suas mãos para que quatro de seus aliados que estavam
escondidos detrás dos velhos túmulos decadentes saírem de seus lugares e
me atacassem.
Eu destrui a todos eles em poucos minutos em minha forma que era
meio lobo, meio homem.
Arranquei os membros de um, e com a perna deste mesmo eu
espanquei um outro até a morte. Com as mãos nuas eu arranquei o coração
ainda pulsante e me deleitei com o sangue que eu chupava lentamente,
enquanto que com a outra mão eu esmaguei o crânio do quarto e último
oponente.
Foi tudo muito rápido, mas foi tempo suficiente para que Memento
fugisse.
Fui até Liene, ela ainda estava viva.
Retirei-a dos ferros e levei-a até meu refúgio.
_ Lugubrous, eu não sabia que...
Interrompi sua fala encostando meu dedo indicador em seus
suculentos lábios e comentei:
_ O amor tem duas faces, uma que nos fascina e apaixona enquanto a
outra que ao mesmo tempo nos cega deixando-nos vulneráveis a muitas
coisas perigosas, como seu exemplo, deixar um ser como Memento se
aproximar e usufruir desde momento e sentimento nobre, ainda mais em
seres como nós, que quando o amor se faz presente em nossos corações
mortos, nos arrebata de uma forma desumana, capaz de nos deixar se
XXVII
perder e até mesmo sermos destruídos, pegos de surpresa pelo amanhecer, e
sabemos que isso já aconteceu com muitos de nossa espécie, talvez o amos
seja o caminho mais fácil senão o único capaz de nos destruir.
Ela me abraçou e eu senti sua energia triste fluindo, seu amor correr
por todo meu corpo, e por mais que eu pudesse vir a gostar dela, eu não
poderia jamais retribuir o que ela sentia, pois para mim, apenas Kassandra.
Ia amanhecer, fui até meu caixão que deixei Liene se deitasse no
antigo esquife de Kassandra para podermos descansar até a próxima noite,
embora eu soubesse que não existiria uma próxima noite para Liene.
Fingi dormir e, neste momento ouvi ela se levantar e caminhar até o
local onde Kassandra se entregara a luz solar.
Levantei-me e fui atrás dela.
No alto da escada fiquei a observar enquanto ela abria as pesadas
cortinas.
Ela se virou para ir ao local exato onde Kassandra ficou em seu
momento crucial e me viu, então questionei-a:
_ É realmente isto que você quer?
_ Nada mais me importa ou me resta, e lembre-se eu nunca quis ser
uma vampira.
_ Eu te amo, mas de uma forma diferente, um amor entre amigos,
entre irmão, perdoe-me, mas não posso oferecer-te mais do que isto.
_ Eu lhe entendo Lugubrous, queria poder alguma noite ser amado
como ela, mas agora é hora de dizer adeus, gostaria apenas de ver teu rosto
até meu último sopro de vida, meu último suspiro, poderia fazer isto por
mim?
Fiz um sinal de afirmativo com a cabeça, ambos sabíamos que eu
teria de ficar onde eu estava para que o sol não me consumisse também.
Ficamos olhando um para o outro com nossas lágrimas escorrendo
enquanto o sol ia lentamente se aproximando até atingi-la em sua plenitude.
Ela não se mexeu em instante algum, por mais cruel que fosse a dor,
na claridade seu rosto resplandeceu em enorme tranqüilidade serena e em
beleza, onde seu último gesto foi lançar-me um beijo e tornar-se cinzas.
Fiquei parado por mais alguns minutos na solidão, no silêncio e na
dor por ter perdido mais uma pessoa querida.
Voltei para meu ataúde com o som da música de Kassandra entoando
em meus ouvidos, em minhas recordações.
Dei uma última olhada para o salão e, pude ver até de relance
Kassandra e Liene dividindo o piano, tocando a música juntas.

XXVIII
VI – Sonho Contristante

Passei semanas abatido com o ocorrido e, ao mesmo tempo o ódio


por Memento ia aumentando. Comecei uma busca doentia por este ser que
só pensava em roubar a vida dos outros, incapaz de realizar algo por si
próprio. Eu o destruiria lentamente apenas para seu maior sofrimento.
Procurei em todos os cantos putrefos daquela cidade. Não sei porque mas,
algo dizia-me que ele estava planejando alguma coisa contra mim e naquela
cidade.
Denegahr não tinha informações sobre o paradeiro de Memento e,
também me dissera que havia outros vampiros procurando-o com o intuito
de matá-lo.
Eu intensifiquei minhas buscas pois, queria eu mesmo destruir aquele
filho da puta.
Nem mesmo marceniuns tinha informações sobre Memento.
Pobre Marceniuns, já estava mais paranóico e exentrico do que
nunca. Suas informações já não eram mais eficientes, isso quando as tinha.
Sai logo de sua catedral muito triste, pois sabia que logo ele também
deixaria de existir, ou seria morto por alguém ou seria capaz de sair
correndo debaixo de um sol infernal sem perceber que o fizera, uma vez
que sua loucura estava em certo grau de avançamento, sem ninguém saber
o por que.
Depois de uma semana fiquei sabendo que ele em um momento de
lucidez decidiu se expor ao sol, sabia ele que estava em um ponto sem
retorno. Creio que tenha sido melhor, pois ele sabia o que fazia naquele
momento.
Voltei para meu refúgio e pela primeira vez desde que me tornei no
que sou, tive um sonho, o mais lindo e triste que pude Ter até o momento.
Nele eu estava abraçado a Kassandra no topo de uma montanha, atrás
de nós lá embaixo, uma floresta. Uma mulher tocava piano sobre uma
pedra próximo a nos enquanto um vento leve soprava suas longas vestes e
cabelo escondendo-lhe a face e, ao longe só as névoas. Então atrás de nós
sentou-se uma alcatéia de lobos cinzentos, muitos deles. Eu abracei um
deles, o que parecia ser o líder, o maior de todos. Ele lentamente se
metamorfoseou e tornou-se um velho ancião de longos cabelos e barba,
ambos em tonalidades entre o cinza e o branco, era o rei dos lobos e das
florestas por onde percorriam.
Ele colocou sob minha cabeça uma coroa de flores e espinhos e uma
outra sobre a cabeça de Kassandra.
Em nossos dedos ele colocou uma aliança, então eu o abracei com
amor e, ele voltou em sua forma de lobo voltando para sua alcatéia que o
XXIX
aguardava.
Correram para a floresta sumindo entre as árvores.
Depois surgiram grandes águias que pousaram sobre o piano e a
pedra. A maior delas metamorfoseou-se em uma bela senhora, a rainha das
águias e do céu onde voavam.
Ela colocou sobre nossas coroas, um círculo de cristal, uma nova
coroa e, em nossos dedos, uma nova aliança de cristal sobre as outras.
Kassandra então abraçou-a com seu amor.
Ela voltou a sua forma de águia e voou acompanhada por suas
companheiras desaparecendo nas névoas.
Logo bateu um forte vento e um lenço transparente que Kassandra
usava em torno de sue pescoço voou montanha abaixo. Não sei por que,
mas senti que era um sinal para que eu fosse atrás deste lenço e assim o fiz.
Beijei Kassandra e desci até um lago. Dele surgiu uma mulher com
uma espada que me foi entregue, então falei:
_ Que é isso? Eu não sou nenhum rei Arthur. E ela me respondeu:
_ Eu sei, mas tens uma missão a cumprir agora.
Passei a mão pela espada e ela tornou-se dourada como em conto de
fadas, assim como minha roupa ficou em mesmo tom.
Montei em um cavalo negro enorme de longos pêlos pelas patas e
crina tão grande que pareciam longas madeixas.
Corri pela floresta cortando a cabeça de seres monstruosos que
tentavam me derrubar e, ia vendo os membros decepados voando e
jorrando o sangue negro manchando as folhas pelo caminho.
Meu cavalo então começou a cuspir fogo em nossos inimigos e abriu
duas asas para seu vôo, mas o fogo que nossos oponentes atearam pela
floresta já havia nos cercado e, foi ai que eu descobri o porquê de nossa
luta; haviam lobos aprisionados em muitas jaulas de madeira.
Desferi golpes violentos nestas jaulas com o intuito de destruí-las e
assim o fiz.
Os lobos fugiram todos pulando o enorme círculo de fogo, menos um
deles, o que estava muito fraco e ferido.
Peguei-o em meus braços cansados e carreguei-o meus braços doíam
com seu peso, mas mesmo assim pulei as chamas enquanto o cavalo alado
rasgava um oponente com seus fortes dentes.
O fogo foi se apagando com a chuva que iniciou-se.
Os lobos nos rodearam e eu deitei aquele que eu carregava em meus
braços nos chão.
Era o mesmo que havia me presenteado no alto da montanha e,
naquele momento ele acabava de falecer nos meus braços cansados.
Finquei a espada na terra e abracei o corpo deixando minhas
lágrimas escorrerem sem nenhuma vergonha por estar sendo observado
pelos seus companheiros lupinos que começavam a chorar em uivos
lamentosos.
XXX
Cavei uma cova e depositei o corpo lá dentro daquela terra molhada.
Cada lobo trouxe uma pedra em suas bocas, cobrindo assim toda a
sepultura.
A grande águia voltou a aparecer e colocou com suas garras uma
coroa igual a que havia sido dada a mim e a Kassandra, sobre uma cruz
invertida que eu fizera com dois galhos das árvores ali presentes.
Os lobos assim como o cavalo e as águias voltaram para a floresta
enevoada, havia parado a chuva neste meio tempo.
Do brilho de uma luz repentina e brilhante surgiu Liene. Eu sabia
que era para ela que eu deveria entregar a espada e assim o fiz. Ela recebeu
a arma em suas mãos e beijou minha face, desaparecendo por completo
assim como a luz.
Subi de volta até o local onde Kassandra estava.
Ela viu minhas lágrimas e sem que eu dissesse algo, ela já sabia do
ocorrido.
Abraçamos-nos e nos beijamos.
Neste beijo eu acordei em meu solitário caixão com lágrimas
verdadeiras escorrendo por meus olhos.
Sentia uma sensação estranha dentro de mim, tristeza, solidão,
lembrança, saudade, etc., algo muito diferente que eu nunca havia sentido
antes, um enorme vazio consumindo minha alma condenada.
Desci até o piano e, ao olhar para fora através dos grandes vitrais, eu
vi dois olhos brilharem vermelhos e se apagarem por entre alguns arbustos
que balançavam conforme soprava o fraco vento lá fora.
Sai para verificar se podia ser algo em que me preocupar ou se era
apenas alguma imaginação que minha mente criara baseada no estranho
sonho que tive.
Olhei para ambos os lados e não avistei nada, mas quando olhei
novamente para frente, havia um enorme lobo cinza sentado no chão com
seus olhos fixos em mim.
Ele moveu a cabeça e fez certo ruído parecido com um uivo muito
baixo que, apenas meus ouvidos sobrenaturais poderiam ouvir. Senti que
ele queria que eu o seguisse para algum lugar e foi o que fiz.
Fechei a porta de meu lar e comecei a segui-lo.
Ele corria, porém suas patas não faziam o menor ruído, nem mesmo
quando atravessou uma rua cheia de folhas secas caídas.
Havia uma forte névoa esbranquiçada por toda parte que, quando
soprava o leve vento, elas se moviam em uma dança com formas de seres
fantasmagóricos num verdadeiro balé clássico.
Chegamos a um podre cemitério que, envolto pelas névoas,
lembrava-me dos antigos cemitérios que eu entrava nas caladas das noites
em minha infância ainda mortal para assustar pobres viajantes que
pudessem passar ao redor daqueles lugares.
Um feixe de luz começou a se formar em minha frente. Não uma luz
XXXI
que a tudo ilumina, mas sim uma luz mística que apenas ia iluminando as
formas que aos poucos deram forma a alguém que já me era conhecido e
amado.
Tentei tocar Kassandra, mas minhas mãos atravessavam seu
iluminado ser.
_ Lugubrous, você não pode tocar-me, eu já não pertenço a este
mundo.
_É bom poder ver-te novamente e falar com você Kassandra.
_ Infelizmente não temos tempo para conversar-mos sobre nós meu
amor.
_ O que desejas então? Porque enviaste este guardião a minha
procura? Isto é algum sonho ou ilusão?
O lobo sentou-se ao lado dela.
_ Eu preciso alertar-te de algo, Memento pretende invadir vosso
palácio dentro de alguns dias, pois como sabes, ele não é um vampiro e
movimenta-se durante o dia também, e pior, agora ele sabe onde você se
abriga, é arriscado continuar ali enquanto ele ainda viver.
_ Agradeço por vosso aviso minha amada, ele mal perde por esperar
pela surpresa que o estará aguardando.
Eu não tive tempo de dizer mais palavra alguma, apenas ouvi as
palavras de Kassandra:
_ Sempre que correr algum risco que eu puder lhe ajudar, este
guardião irá buscá-lo para trazer-te até o local onde poderei falar-te.
Ela apontou para o lobo e continuou:
_ Lembre-se, sempre estarei de seu lado.
Ela fez um gesto de um beijo que eu senti o calor de sua energia
tocar em meus lábios como se os mesmo tivessem recebido o beijo de
verdade.
Kassandra então desapareceu enquanto o lobo correu e sumiu entre
as névoas e lápides do cemitério.

XXXII
VII – Mortis Memento

Nove horas da manhã; Memento saía de seu banheiro após Ter feito
a barba. Vestiu seu traje de mago e saiu do quarto.
Atravessou os grandes corredores cheios de portas, desceu algumas
escadas e por final, chegou ao centro de uma enorme biblioteca.
Em uma mesa localizada também ao centro da biblioteca, repousava
um antigo livro negro com um pentagrama dourado em auto relevo
adornando sua capa.
Memento abriu-o, pegou um atame prateado que se encontrava ao
lado do livro e vestiu-o em uma bainha de couro situada em sua cintura.
_ Hoje pegaremos Lugubrous, assim como seu poder!
Dos cantos ensombrados da pouca iluminada sala saíram seis
homens com vestimentas iguais as que os monges usam, com seus rostos
encobertos por capuzes.
Meio-dia; Minha mansão foi cercada e silenciosamente invadida
pelos seis homens e Memento.
Eles vasculharam por horas a fim de me encontrar e nada.
Cinco e meia da tarde; Memento começou a ficar nervoso por não
conseguir encontra o local secreto onde se encontrava meu caixão.
Passou-se ainda mais meia hora e, o sol havia desaparecido naquela
época do ano, ainda mais com o céu fechado por espessas nuvens negras
daquele dia nublado.
Levantei-me em uma velha casa abandonada à alguns quarteirões
dali, pois, com o aviso de Kassandra me precavi dormindo em outro local.
Fui cautelosamente até meu estimado refúgio assombrado já
pressentindo a invasão.
Na porta principal, um dos homens que acompanhavam Memento
montava guarda.
Com minha prática, agarrei-o de surpresa e aproveitei para saciar
minha fome, minha sede.
Deixei o corpo já sem vida tombar e cair nos arbustos que
margeavam o caminho até a porta.
Subi no telhado da casa e entrei silenciosamente por uma velha
janela de sótão que, estava cheio de pó e teias de aranhas por toda parte,
fazia muito tempo que eu não entrava lá.
Descendo as escadas, eu surpreendi mais dois homens que,
facilmente destrui-os com minhas habilidades sobrenaturais, como se eles
fossem feitos de papel, tamanha a fragilidade do corpo mortal em relação
ao meu.
O que se encontrava a esquerda, próximo a parede, eu atravessei seu
XXXIII
peito com minhas mãos que saíram pelas costas segurando seu coração,
cujo qual eu esmaguei.
O segundo, que estava a direita, pensou em correr pelo grande
corredor a suas costas, mas não teve o tempo para isto, eu varei-lhe a
cabeça com uma lança que o primeiro segurava em suas mãos, tudo em
frações de segundos.
Continuei a descer por outra escada que levava até a biblioteca.
Lá dentro estavam os outros três homens de Memento preparando a
sala para um ritual.
Escondi-me entre as sombras existentes na sala e me aproximei
vagarosamente.
Projetei uma ilusão no formato de um demônio cheio de chifres e
dentes aguçados que fez com que corressem para constatarem que as portas
estavam fechadas e trancada a chave.
_ Se querem as chaves, venham pegar. Falei a eles quando surgi no
centro da biblioteca balançando as chaves em minha mão.
Um deles correu até mim, subestimando-me.
Peguei-o com uma única mão pelo pescoço, ergui-o até meu braço
ficar totalmente esticado para cima e, em uma simples torção, quebrei-lhe o
pescoço e, em um nove e simples gesto ágil, retirei um machado de uma
armadura que enfeitava a sala e, com o mesmo, parti ao meio com um
único e certeiro golpe fatal o outro adversário que se encontrava mais
próximo à porta onde se encontrava a armadura.
O último pegou o mesmo machado que partira seu amigo ao meio
que eu deixei caído no chão, para tentar em vão me acertar um golpe.
Comecei a rir do jeito estúpido que ele manejava a arma e, em um
rápido vacilo que ele deu, eu desapareci aos seus olhos nas sombras,
reaparecendo novamente em suas costas.
Ele percebeu um tempo depois e virou-se, tarde demais, cortei-lhe o
pescoço com minhas unhas afiadas e fiquei observando sua vida se esvair
junto ao sangue que jorrava infestando o ar com seu agradável olor.
Faltava apenas Memento então.
Caminhei pela passagem secreta que estava aberta e, logo pude
encontrar Memento próximo ao meu caixão que acabara de encontrar
vazio.
Assustado com minha aparição repentina, ele deu um salto para o
outro lado do féretro sacando seu atame da bainha proferindo versos
mágicos.
_ Não seja tolo Memento, sabes bem que tua magia não é nada para
mim.
_ O que fez com meus súditos?
_ Quais súditos? Aqueles seis cadáveres que partiram para o céu ou
infernos em que vocês acreditam existir?
_ Maldito!
XXXIV
_ Ah! Agora o maldito sou eu? Vocês me perseguem, invadem meu
lar, tentam em matar e, eu sou o culpado por tua baixas? Oras, vá à merda!
Ele atirou o atame em minha direção e eu desviei, porém, sua arma
retornou para me seguir como que controlada telepaticamente pela mente
de Memento.
Desviei novamente e comentei:
_ Belo truque de principiante.
Fiz um gesto com minhas mãos no ar vazio para que o atame parasse
e caísse no chão.
Memento tentou correr, mas eu lhe segurei pelo ombro esquerdo
dizendo que desta vez ele não me fugiria e, atirei-lhe em direção a parede.
Ele se chocou violentamente com a mesma e caiu no chão.
Levantou-se sangrando e cambaleando se apoiando em uma lança
que estava encostada na parede e, com a mesma, invocou outra magia
tornando a ponta afiada em uma ponta de chamas. Desviei de suas
investidas frustradas por minha velocidade, peguei o atame caído no chão e
cravei-o por entre os olhos de Memento.
Ele ainda ergueu suas mãos para retirar o objeto fincado em seu
crânio mas, caiu morto antes de tocar no cabo do atame, deixando cair ao
seu lado a lança já em sua forma normal.
Demorei um pouco mas limpei toda bagunça feita pelos invasores,
cremei os corpo, limpei as poças de sangue e voltei cada objeto em seus
devidos lugares.
Ao sair para jogar o último saco de lixo, senti a presença de um
vampiro muito forte por perto, provavelmente um ancião.
Tentei busca-lo com minha visão aguçada mas, repentinamente sua
presença deixou de ser percebida.
Voltei para dentro, tranquei todas as portas e janelas existentes na
mansão e fui para meu caixão, pois estava quase amanhecendo e eu não
corria mais nenhum risco de vida em meu lar.
Fechei a passagem secreta e tranquei-a por dentro.
Entrei e fechei meu féretro para meu merecido descanso.

XXXV
VIII – Reencontro Ancestral

Duas semanas se passaram sem ter nada a se preocupar, até que em


certa noite ao me levantar e ir até a sala onde se encontrava meu piano
secular, senti algo estranho no ar, algo relacionado a magia.
Desci as escadas olhando para o piano a esquerda e, então apareceu
Memento saindo por detrás das cortinas.
Ele olhava para mim rindo e, eu lhe dirigi minhas palavras:
_ Impossível eu lhe destrui!
Ele ria.
_ Mas eu estou morto, e não sou um espírito que veio puxar tuas
pernas.
_ Quem é você e o que quer?
_ Calma, tudo tem sua hora certa, e o que quero é o de sempre; teu
sangue!
A imagem sumiu diante de meus olhos, eu sabia que era apenas uma
ilusão, porém, quem a criara eu me perguntava. Era alguém tão poderoso
quanto eu, então novamente senti a sensação de ter um vampiro por perto e,
novamente senti sua fuga.
Sai nas noites seguintes na busca de informações para saber se tinha
algum vampiro recém chegado, mas ninguém sabia de nada.
Em uma dessas buscas, eu entrei na velha catedral onde Marceniuns
vivia e, nos escombros, vi algo que comoveu-me.
Uma garrota com um vestido igual a uma boneca sentada toda suja
de sangue que pingava de sua boca.
Ao seu lado esquerdo ela segurava uma boneca de pano, vestida
como ela. Ao seu lado direito havia um padre morto com dois furos em seu
pescoço.
Aproximei-me.
Ela não se movia, apenas acompanhava meus movimentos com seus
olhos.
_ Você é amigo daquele que matou meu criador e veio para me
buscar? Perguntou ela em um tom melancólico e sem medo.
Empurrei o padre para o lado e me sentei junto a ela me
apresentando e dizendo que nada faria a ela.
Pedi para que me contasse o que aconteceu.
Seu nome era Carminalla Pale.
Melancólica, me contou que não tinha para onde ir e que Memento
havia assassinado seu criador para utilizar seu sangue em rituais. Ela
começou a chorar inocentemente e disse que mataria Memento como
vingança.
XXXVI
Acalmei-a e disse que Memento já não pertencia mais a este plano de
existência.
Um brilho radiante então emanou de seus lindos olhos ao receber
esta notícia e me abraçou fortemente.
Levei-a até um velho conhecido para que tomasse conta dela pois,
era frágil demais. Fora transformada quando tinha acho que uns dezenove
ou vinte anos, e com estes acontecimentos traumatizantes todos, seria
melhor alguém que já convivesse com pessoas necessitadas.
Fomos então para o local que eu me lembrava e bati na porta que
prontamente foi atendida.
_ Ora, ora, mas que devo a honra de receber a visita de Lugubrous,
meu velho e sumido amigo? E quem é esta linda boneca de porcelana ao
teu lado?
Era o pastor Desdomus, um vampiro que fingia ser um pastor em
uma igreja onde se satisfazia bebendo o sangue e se deleitando com seus
fiéis que nada desconfiavam de sua real e brutal identidade, porém, mesmo
assim, era de total confiança e bom coração para com os de nossa espécie e
seria uma ótima pessoa para cuidar de Carminalla até que ela pudesse agir
na noite por si própria.
Contei-lhe onde havia a encontrado e todo o ocorrido.
Ele prometeu que cuidaria dela com carinho e ensinaria a ela os
segredos vampíricos.
Voltei para minha mansão e, antes de entrar, a sensação de o vampiro
estar rondando voltou.
_ Que és tu? Perguntei sem ouvir resposta.
A sensação logo desapareceu, ele havia fugido novamente.
Instintivamente corri na direção a uma pequena floresta que se
encontrava em torno de uns dois ou três quilômetros de meu lar.
Algo dizia em minha mente que poderia ser obtida alguma resposta
por lá.
Hesitei um pouco antes de entrar na mata fechada, mas finalmente o
fiz.
No alto de uma velha árvore seca, a lua refletia alguns raios seus que
traspassavam por entre algumas brechas nas nuvens que corriam pelo céu,
enquanto uma grande coruja de olhos arregalados me observava torcendo
seu flexível pescoço.
Vaguei de um lado para o outro até que por fim cheguei a uma
clareira em meio aquela floresta.
Senti o cheiro de morte, morte muito antiga, coisa que nenhum
mortal poderia sentir o cheiro.
Farejei como um lobo faminto que sente o cheiro de sua presa até
chegar a uma capela.
Era miúda como as encontradas em vários cemitérios. Ela tinha a
aparência de muito velha e esquecida, decadente. Se encontrava
XXXVII
praticamente escondida entre galhos secos caídos, árvores que a cercavam
com seus galhos longos e cheios de folhas, o mato a sua volta também
estavam a certa altura comentável, e musgos tomavam conta de quase todas
as paredes úmidas e pelas telhas que ainda estavam espalhadas pelo
telhado.
Entrei cautelosamente e, lá dentro, o mau cheiro exalava por todos os
lados. As janelas estavam tampadas por madeiras já apodrecidas, teias de
aranhas por todos os lados e os ratos corriam livremente a procura de
alimento.
No centro descansava sob uma plataforma de ferros enferrujados, um
caixão, que por sua vez, era a única coisa que estava em ótimo estado de
conservação.
Abri-o e vi que estava vazio, porém, pude notar que fora utilizado no
dia anterior e que provavelmente seria utilizado no dia que dentro de
algumas horas nasceria.
Comecei a baixar a tampa do ataúde para fechá-lo quando do outro
lado do mesmo, vi a face do vampiro que estava me seguindo.
_ Você! Falei ao encará-lo.
Recuei para trás ao vê-lo sacar uma espada e cai em um buraco
coberto por tábuas podres.
O local onde me encontrei levantando coberto por ossos e crânios,
era uma continuação da capela que eu não havia percebido antes.
No alto do buraco por onde eu caí, estava aquele ser com um rosto
inexpressível fitando-me até que lhe perguntei:
_ Qual seu nome? Que quer de mim?
_ Não se lembra de mim Tenebroso?
Com estas palavras recordei de minha infância com meus pais
adotivos, e de uma criança um pouco mais velha do que eu, por volta de
uns três anos a mais.
Seu nome era Memoriant Somberus, um aprendiz de magia que
sempre visitava os velhos que cuidavam de mim a procura de
conhecimentos mágicos novos. Sempre que me via por lá me chamava de
Tenebroso e, depois do dia fatal em que encontrei os velhos mortos, nunca
mais ouvi sequer falar dele e, agora ele estava me perseguindo e o pior,
também era um vampiro. Pude perceber que ele havia sido transformado
um bom tempo depois de mim, pois em seu rosto já haviam alguma rugas e
os cabelos brancos mostravam que ele foi transformado em uma idade
avançada para os mortais, algo em torno dos Quarenta e nove, cinqüenta
anos.
_ Memoriant!
_ Isso mesmo, e eu preciso de teu sangue Tenebroso.
Eu estava em desvantagem, ele era tão poderoso quanto eu, segurava
uma espada em suas mãos e eu estava longe de meu refúgio e o dia estava
prestes a nascer.
XXXVIII
Levantei-me e comecei a correr cambaleando pelos ossos que
provavelmente teriam sido vítimas de Memoriant e outros mais velhos que
deveriam estar por ali décadas esquecidas.
Cheguei a uma portinha trancada, e quebrei-a com um simples chute
que daria inveja a qualquer jogador de futebol e corri pela mata até a
entrada que dava para a rua.
Corri em uma velocidade preternatural até meu lutuoso palácio,
tranquei tudo e entrei em meu caixão na certeza de não Ter sido seguido
pois, o sol já brilhava lá fora e Memoriant com certeza já estava em
repouso.

XXXIX
IX - Revelação

Durante meu sono tive um pesadelo. Eu começava vendo um


enorme lago de sangue do alto de um vale verde muito vivo, o céu com um
forte azul onde pássaros faziam seu magnífico bale em contemplação a
natureza e a vida. O sol inundava todos os lados com sua luminosidade
intensa, mas o que ao mesmo tempo não me cegava nem me destruía.
Olhei para o lado e vi Memoriant sentado em uma cadeira de
balanço, um cálice de sangue em suas mãos, óculos escuros no rosto e sem
camisa, tomando um banho de sol. Olhei aos seus pés e vi Carminalla
jazendo ao solo com dois furos em seu macio e suculento pescoço, e seu
corpo despido refletindo toda sua beleza.
Memoriant ria deixando aparecer seus caninos pontiagudos pingando
sangue enquanto eu gritava em fúria sem que o som travado em minha
garganta conseguisse sair.
Acordei pensando em Carminalla. Fui até a igreja do pastor
Desdomus, e antes de entrar para falar com ele, aproveitei para me
alimentar em uma de suas fiéis seguidoras, que não escondeu seu prazer em
ser possuída pelo demônio, como ela dizia em meus ouvidos com seus
sussurros e gemidos, e enquanto eu ia sugando toda sua vida, ela ia se
contorcendo em êxtase e se masturbando com a cruz de seu terço que
carregava em suas mãos.
Deixei-a sem vida em uma praça próxima a igreja. Seu rosto bonito
colado ao chão com os lábios entreabertos, e os olhos azuis também abertos
em uma expressão de prazer, enquanto sua bíblia tinha as páginas viradas
pelo vento em frente aos seus olhos. Lembro-me desta morte, pois me
trouxe grande prazer também.
Entrei na igreja e não havia ninguém, apenas o vento que soprava em
seu interior levantando as muitas folhas secas que circulavam por todo
altar.
A cena me preocupou, pois aquela sujeira lá dentro demonstrava que
algo de errado havia ocorrido naquele local.
Corri para os fundos da igreja onde Desdomus dormia e encontrei
um amontoado de pó também voando ao vento. Logo imaginei ser os restos
de Desdomus ao encontrar a cruz que ele carregava em seu pescoço, junto
ao monte de cinzas.
Senti a presença de Memoriant se aproximar atrás de mim.
- Onde está Carminalla? Perguntei já com o ódio em meu olhar.
- Ela está bem, e continuará se fizer o que quero.
- E o que você quer?
Ele caminhava observando as velas que bruxuleavam por aquele
XL
lugar agora sombrio, pegou um crucifixo e acariciou-lhe por um instante e
falou:
- Como a fé cega as pessoas. Fazem até as pessoas seguirem um
vampiro para que ele se alimente nelas sem que saibam que algo do gênero
está acontecendo.
Eu quase ri por ser verdade o que ele dizia, então ele fez um gesto
que levaria qualquer fiel ao desespero, ele pegou aquele crucifixo e colocou
dentro de sua calça esfregando-o em seu traseiro que eu adoraria chutar
com toda força, e finalmente me olhou rindo e falou:
- Esta é minha fé; a descrença em tudo, a não ser no poder.
Jogou a cruz que atravessou o vitraux ao seu lado e voltou a falar:
- Como já sabe, quero seu sangue, e com certeza não sabe o porque.
Foi nesse momento que me perguntei porque estariam atrás de meu
sangue, primeiro Memento, e agora Memoriant.
- Sim, Memento. Pensou ele em voz alta, então percebi que ele
estava lendo meus pensamentos.
- Conheceu Memento? Perguntei.
- É claro, ele estava tentando conseguir seu sangue para mim, mas
ele falhou, por isso estou aqui, par resolver pessoalmente este caso.
Só naquele momento tudo começou a se ligar, Memento era apenas
um fantoche que Memoriant usava, e sabe-se lá quantos trunfos na manga
ele poderia ter.
- E para que finalidade vocês querem meu sangue?
- Simples. Respondeu ele pausadamente. Com seu poder unido ao
meu, terei força suficiente para andar durante o dia, fora meu poder
nocturno que seria praticamente imbatível.
Então era isso, o poder de caminhar durante o dia entre a luz do sol,
como já não bastasse à noite para seus crimes e conquistas.
- E Carminalla, o que quer com ela?
- Nada, ela é apenas uma garantia de que você ira me encontrar daqui
duas noites no velho cemitério esquecido por todos.
- Que assim seja, mas se fizer algo a ela...
Antes que eu terminasse minha frase, ele completou:
- Ela é a garantia, não farei mal algum a ela.
Ele correu para fora e desapareceu pela madrugada.
Eu sabia que não podia confiar nele, então voltei para minha mansão
para poder pensar em alguma coisa em que agir antes de ser tarde demais.
Eu estava perto de meu caixão, quando vi o lobo, aquele mesmo que
me levou ao encontro de Kassandra.
Ele fez o gesto que eu já conhecia como sendo um sinal para segui-
lo.
Cheguei até a sala do piano e vi Kassandra olhando para mim. Seu
sorriso era lindo, e ela se pôs a falar:
- Amanhã, vá até a capela onde encontrou Memoriant pela primeira
XLI
vez.
Não tive tempo de dizer nada a ela, pois ela desapareceu quando
comecei a abrir minha boca para que alguma palavra pudesse ser dita.

XLII
X – Capela dos Aflitos
Na noite seguinte fiz o que Kassandra havia dito, fui até a capela
onde eu havia me encontrado com Memoriant Pela primeira vez. Antes de
entrar certifiquei-me de que não havia ninguém por perto.
Entrei pela mesma porta que entrei na outra vez. Estava tudo
diferente lá dentro. Desta vez estava limpo. Passei pelo caixão, e quando ia
descer pelo buraco onde cai naquela noite, olhei novamente para o ataúde,
voltei até ele e destrui-o, pois se Memoriant estivesse utilizando-o para seu
repouso diurno e não tivesse outro lugar para seu descanso, o que era pouco
provável, ele ficaria "puto da vida" ao ver sua "cama" destruída.
Só então adentrei pelo escuro buraco no chão para cair sobre os
ossos que ainda continuavam naquele local mal cheiroso e infestado por
ratos.
Ouvi alguns murmúrios que vinham por detrás de uma porta que eu
não havia visto na primeira vez que estive por ali.
Cuidadosamente abri a porta e empurrei-a lentamente para que
nenhum rangido fosse ouvido.
Lá dentro havia um castiçal sob uma mesa com sete velas acesas ao
lado de um crânio e um tinteiro.
Próximo a parede ao lado direito de onde eu estava, pude ver a fonte
de onde emanava os murmúrios, era Carminalla amordaçada que tentava
dizer algo ou gritar. Estava amarrada por correntes com os braços abetos
em uma cruz de madeira com sua camisa toda rasgada onde seus rígidos e
roliços seios estavam a mostra. Um rato faminto começava a subir pela
cruz e ia se aproximando sorrateiramente pelos seus pés nus.
Quebrei as correntes que a prendia-me retirei sua mordaça. Ela
tombou em meus braços com suas frágeis lágrimas de sangue nos olhos,
soluçando próximo ao meu ouvido.
Abracei-a com força sentindo seus seios se comprimirem ao meu
peito, e isso fez com que eu me exitasse.
_ Não se preocupe, agora esta tudo bem, vamos sair daqui. Disse-lhe
sussurrando em seus ouvidos.
Saímos pela mesma porta que eu havia derrubado da outra vez, mas
agora havia um carniçal mantendo guarda, e eu fui surpreendido sendo
varado no peito por uma lança.
soltei um grito de dor e Carminalla caiu no chão desesperada.
Quebrei a parte da lança próximo ao meu peito e puxei-a para fora. E
o astuto carniçal se aproveitou do momento para desferir um golpe com sua
espada em minha direção. Eu pulei para trás, e mesmo assim recebi um
corte profundo em meu braço esquerdo.
Eu estava furioso, pois como um simples carniçal fizera este estrago
XLIII
em meu corpo?!
Virei-me para ele e finquei a parte que restara da lança em seu peito
e com a ponta que varou pelas suas costas, cravei-a em uma árvore
deixando-o pendurado.
Enquanto ele se debatia para livrar-se daquela situação incomoda, eu
peguei a espada que ele derrubara ao chão, encontrei um galho meio grosso
de uma outra árvore, cortei-o, afiei uma ponta, cravei a outra extremidade
no solo, deixando a aguçada ponta para cima. Fui até o carniçal, puxei-o
arrancando-o da árvore, deixando apenas a lança fincada nela, e ergui o
corpo daquele infeliz empalando-o naquele galho que eu havia preparado.
Observei-o até ver sua vida desaparecer, voltei-me para Carminalla
que vira tudo aquilo assustada e pude ver o quanto ela tremia, muito
assustada, então peguei-a e carreguei-a até meu lar.
Banhamos-nos e cuidamos dos ferimentos que já estavam se
cicatrizando.
O dia logo surgiria, então fui até meu caixão e disse a Carminalla
que teríamos que dormir juntos por não ter outro caixão disponível no
momento.
Ela concordou então eu entrei primeiro. Ela ficou me fitando com
seus preternaturais olhos sedutores, tirou sua roupa entrou no ataúde,
começou a me despir, e quando ambos estávamos nus, ela introduziu meu
membro em sua vagina . Começamos a transar como mortais, então cravei
meus dentes em seu seio do lado direito e comecei a sugar o precioso
líquido escarlate que escorria pelo seu lindo corpo. Ela por sua vez, mordeu
meu pescoço e drenou um pouco de meu ancestral sangue maldito; foi um
êxtase indescritível, melhor que qualquer sexo que algum ser mortal
comum poderia ter provado.
O dia já estava nascendo, nos abraçamos mergulhados em sangue e
prazer, puxei a tampado féretro e dormimos até a noite seguinte se fazer
presente.

XLIV
XI – Chamas Ao Entardecer

Um cheiro forte de fumaça fez com que eu acordasse assustado.


Carminalla abriu os olhos se dando conta do perigo que estávamos
correndo.
A cripta onde nos encontrávamos estava inundada por fumaça que
iam entrando pelas frestas da passagem secreta.
Coloquei minha calça preta de couro rapidamente e Carminalla se
vestiu com um vestido de Kassandra que por tempos havia sido esquecido
em um canto naquele lugar.
Cautelosamente abri a passagem e pude ver o fogo consumindo
minha mansão.
Voltei até Carminalla que estava imóvel próximo ao ataúde sem
saber o que fazer, puxei-a pelo ombro e chutei meu caixão que repousava
sobre uma enorme pedra retangular, onde nem trinta homens conseguiriam
remove-la com sua força mortal. Empurrei-a até que uma tampa de madeira
aparecesse a nossa vista. Soltei as trancas, puxei-a para cima revelando
uma passagem que descia para uma imensurável escuridão por estreitos
degraus escorregadios.
Descemos até chegar-mos em outra sub-sala, que eu havia preparado
para uma eventual ocasião como esta, no caso de algo por em risco minha
existência. Lá havia algumas roupas e sapatos meus e de Kassandra.
Trocamos-nos rapidamente e então pedi para que Carminalla me seguisse
em silêncio absoluto a partir daquele momento.
Retirei outra enorme pedra que escondia uma porta na parede em
frente às escadas, abri a porta e saímos a alguns metros da casa, embora
ainda dentro de minha propriedade.
Circulei a mansão Lentamente vendo que não poderia salvar nada
que ali estivesse, até que cheguei próximo à frente da casa.
Uma multidão corria para ver o inferno que se instalara naquele lugar
enquanto outros tentavam apagar o fogo como podiam atrapalhando o
serviço dos bombeiros.
Era início de noite, não havia mais sol, e ao olhar para a multidão de
curiosos que não podiam nos ver, pois, estávamos escondidos por entre
alguns altos arbustos que adornavam os, pude ver Memoriant entre estas
pessoas.
Ele percebeu nossa presença e correu para a rua e desapareceu
sabendo que sua tentativa fora em vão.
Fomos até o outro lado da cidade, onde eu tinha uma outra casa, pois
um vampiro sempre tem mais que um refúgio para sua fuga quando esta
correndo perigo. Ela estava toda mobiliada e haviam roupas novas
XLV
guardadas para esse tipo de eventualidade. os móveis estavam cobertos por
tecidos com a finalidade de reterem a poeira, que era muita e misturasse as
teias das pequenas aranhas.
Não era uma casa tão grande quanto a outra, mas era muito boa e
acolhedora, e como sempre, nela havia outra cripta com alguns caixões
extras para que eu pudesse escolher sem ter uma única opção, sendo
assim, Carminalla também podia escolher um para ela.
Deixei Carminalla na casa sozinha sabendo que não haveria risco
algum, enquanto sai para tentar descobrir alguma coisa que me levasse até
Memoriant.
Eu estava passando por um bosque taciturno quando ouvi um canto
lúgubre em vozes femininas vindo do meio do bosque. Era um som
encantador e hipnótico como o canto das sereias que levam os homens a se
atirarem ao mar e morrerem afogados encantados por suas vozes.
Eu estava praticamente sendo chamado em um encantamento, e
mesmo relutando contra este encanto, eu não conseguia para de caminhar
cada vez mais para dentro daquele bosque que ia se tornando cada vez mais
sombrio e funesto. Névoas levantavam do úmido solo, meus passos por
mais pesados que fossem, não faziam qualquer barulho, alias, não havia
som algum, apenas o lamuriante canto que se tornava cada vez mais triste e
hipnotizante.
Cheguei ao coração daquele bosque, instintivamente parei, enquanto
o canto se tornava mais presente, eu tentava se livrar de seu domínio. Pude
ver então movimentos de sombras, mas quando eu fixava meus olhos para
observá-las melhor, elas não mais se encontravam onde eu imaginava as ter
visto.
Do chão, começaram a emergir alguns corpos, assim como por detrás
de sombrias árvores, surgiam outros. Eram mulheres encantadoras, no total
de cinco, e todas vinham em minha direção. Eu não conseguia me mover,
enquanto elas dançavam em minha volta, embora tudo se mantivesse no
mais sublime silêncio, que me entristecia cada vez mais ainda mais com
aquele canto em minha mente cada vez mais forte, até que comecei a
chorar.
As mulheres me envolveram com seus braços e carícias, começaram
a beijar todo meu corpo, e quando retomei o controle de meus
pensamentos, os dentes aguçados delas estavam a mostra, e me atacaram
mordendo-me em diversas regiões e começaram a sugar meu sangue.
Com muita dificuldade, me debati muito, até conseguir me livrar daquela
vampiras sedutoras. Corri com toda minha velocidade vampírica debilitada
pelo cansaço até me sentir seguro, então observei as mordidas que havia
levado, o que aumentou ainda mais a minha sede.
Caminhei mais um pouco e encontrei uma casa onde morava um
jovem casal. Bati na porta e fui atendido pelo rapaz, cujo qual eu cravei
meus caninos pontiagudos e drenei seu sangue. Então entrei na casa e
XLVI
cheguei vagarosamente por trás de uma poltrona onde a garota assistia a
um filme de terror, coloquei minhas frias mãos em seu ombro e ela me
perguntou sem perceber que eu não era seu noivo:
_ Quem era querido?
_ É a morte minha amada... Respondi repetindo a ação que eu havia
feito com seu noivo.
Minha refeição havia terminado, eu já me sentia forte novamente.
Fui até a garagem daquele lugar e encontrei um machado, alguns galões de
gasolina e um protetor auricular, que logo coloquei.
Voltei onde as Vampiras haviam me seduzido, fui encontrando uma à uma
em seus covis, e com o machado fui decepando-lhes as cabeças, até chegar
na mais bonita, a rainha de todas elas. Desta eu me aproveitei muito antes
de destrui-la, só após me satisfazer tanto sexualmente quanto
sanguineamente eu separei sua cabeça de seu corpo suculento, então fiz um
monte com todas elas e atei fogo para ter a certeza que não sobraria nada
daquelas bruxas do bosque.
Tudo isso apenas serviu para atrasar minha busca. Tive que voltar
para a casa onde deixei Carminalla, pois o sol já estava mostrando seus
primeiros raios dourados, então eu me pus a correr...

XLVII
XII – Seres Amaldiçoados

Acordei na noite seguinte em um estado emocional que por muito


tempo não preenchia meu coração. eu estava radiante e feliz, e não foi pelo
motivo de novamente ter dormido no caixão de Carminalla e termos
passado outra noite de orgias escarlates, eu não sabia e confesso não saber
ao certo até hoje qual o motivo daquela estranha alegria.
Coloquei um Cd de uma banda chamada Uther Evil e ergui o som
quase no máximo, ouvindo uma de minhas músicas favoritas, que se
Chama Anthem Of Anathema, que nas linhas abaixo traduzirei um pequeno
trecho da letra;

Cântico da Excomunhão

Abutres sobrevoando por mim.


Algo podre exala no ar.
Não serei misericordioso.
Não há mais um inferno abaixo de nós.
Tudo escuro, tudo sinistro e misterioso
em minha mente contorcida.
Louvor, riqueza, infâmia,
eu sinto um velho presságio...

Enquanto eu ia ouvindo este som (a letra continua, mas outra hora eu


a escrevo por completo), comecei a preparar minha velha Harley que a
muito tempo eu não andava, e que por sorte eu havia deixado nesta casa e
não na outra. Vesti meu tradicional traje negro, coloquei meu sobretudo de
couro preto, montei em minha máquina e sai para saciar minha sede nesta
nova e esplendorosa noite que se fazia presente.
O vento fazia com que meus cabelos voassem atras de mim, e em
meus ouvidos ainda ecoavam os acordes da música que eu estava ouvindo.
Na estrada, encontrei uma garota caminhando no mesmo sentido em
que eu estava indo. Parei ao seu lado e ofereci uma carona. No início ela
iria recusar, mas com meus poderes telepáticos, suavizei seus pensamentos
e ela cedeu sentando na traseira de minha moto.
Alguns quilômetros já percorridos, cruzei um cemitério que eu ainda
não conhecia, alias, nem sabia da existência dele até então. Parei a moto e
fiz com que a garota, agora sob meu domínio, me seguisse fascinada
através dos portões enferrujados daquele vetusto lugar.
Entramos em uma pequena capela onde jazia um caixão que
lentamente abri e virei-o jogando os ossos que estavam dentro, espalhando-
XLVIII
os no chão empoeirado.
Algumas velas bruxuleantes eu ascendi. Então rasguei o vestido
gótico que aquela beldade vestia deixando-a nua, e ela com suas delicadas e
esguias mãos começaram a acariciar seus próprios seios macios,
percorrendo por todo seu corpo com gemidos extasiáticos.
Eu me aproximei sedento e comecei a beijar seus lábios, fui
descendo beijando seu pescoço, seus lindos seios, seu umbigo, até chegar
próximo ao seu sexo, onde cravei meus caninos e comecei a drenar o seu
vital líquido vermelho que escorria, enquanto ela agarrava meus cabelos
com suas mãos tremendo em prazer.
Parei de sugar o sangue por um momento, me levantei e fitei seus
esverdeados olhos, e ela com sua voz trêmula e orgástica disse-me:
_ Mais...
Então cravei meus dentes em seu pescoço e suguei o resto de vida
que fluía daquele suculento corpo que amei junto a sua alma. Seu último
suspiro em meus braços foi um gemido prazeroso que até mesmo eu acabei
gemendo junto a sua morte prematura.
Beijei mais uma vez seus lábios mortos e depositei seu corpo nu
dentro do velho caixão. Beijei sua fronte que começava a se gelar,
despedindo-me de sua alma e fechei o ataúde com sua arcaica tampa.
Voltei a minha Harley, Liguei-a e voltei para a estrada, agora
sentindo meu corpo aquecido pelo sangue que corria por todos os vasos
sangüíneos.
Vaguei por diversas ruas quando voltei para a cidade, eu não me
preocupava com mais nada, apenas estava apreciando aquele momento de
estranha alegria.
Parei em um posto de gasolina para encher o tanque, e o jovem que
abasteceu minha moto várias vezes me perguntou:
_ Mas sua Harley não havia sido destruída?
_ Sim, mas eu tinha duas, espero que esta não tenha o mesmo destino
da outra.
_ Tomara mesmo. Completou o rapaz enquanto guardava o dinheiro
que eu lhe dera em um de seus encardidos bolsos naquele macacão cinza.
Ele virou seu boné preto ao contrário em sua cabeça e voltou para dentro da
pequena loja para atender um senhor de cabelos grisalhos que acabava de
entrar, quando senti a presença de Memoriant vigiando pela redondeza.
Ao contrário que sempre fazia, que era correr atrás daquele idiota,
que simplesmente liguei minha máquina olhei na direção de onde emanava
seu poder, dei um pequeno riso de desprezo e com uma das mãos fechadas
e com o dedo médio em riste, apontei em um gesto obsceno que o deixou
furioso por eu o ter ignorado como se ele fosse um monte de lixo que não
merecesse atenção alguma, naquele momento era isso mesmo que eu
pensava dele; _ Memoriant você é um saco de lixo fedorento que não
merece minha atenção. E eu senti sua raiva fluir no ar enquanto eu emitia
XLIX
este pensamento para ele e acelerava saindo em disparada gargalhando,
voltando para a rua, livre e selvagem, esquecendo-o lá atrás remoendo em
ódio.
Voltando para casa, peguei uma estradinha de terra que passava entre
várias fazendas, pois eu queria contemplar um pouco as vastas plantações
que nelas existiam.
Passando próximo a um milharal, senti uma presença estranha, não a
de um vampiro próximo, mas uma presença que por anos eu tento
compreender e conhecer melhor; a presença de uma entidade.
Olhei para o grande milharal e parei minha moto, então pude ver
onde esta entidade estava, um assombroso espantalho que abriu seus olhos
irradiando uma estranha luz avermelhada. Ele fitou meus olhos, deu um
salto em minha direção com um grito cortante saindo de sua boca fechada.
Antes de qualquer movimento meu, o espantalho explodiu enquanto
começava a flutuar no ar, deixando seus pedaços voando por todos os
lados.
Eu ainda pressentia a entidade por perto, mas logo sua presença
desapareceu.
Sempre tentei entender estes seres, sua existência, suas vontades,
mas tudo que aprendi até este momento, é que eles tentam de toda forma
adquirirem algum corpo físico para poderem sentir coisas como nós, os
prazeres, as dores, etc.
Lembro-me que meu pai adotivo quando me iniciou à magia, me
falou sobre demônios, almas perdidas, entre outras coisas mais. Ele dizia
que devia tomar muito cuidado com estas entidades enquanto praticava
nossos experimentos mágicos, pois se houvessem erros, poderíamos perder
nossos corpos. Nossa alma, nosso espírito iria vagar como um deles até
nossas energias se esgotarem e deixarmos de existir por todo o sempre,
enquanto que a entidade que possuísse nosso corpo se tornaria um novo ser
vivente.
Sempre procurei lugares que diziam serem assombrados e
amaldiçoados para tentar encontrar estes seres, mas foram raras as vezes
que pude encontrar algum, e sempre da mesma forma que acontecera agora
com este espantalho, exceto uma vez quando senti a presença de um deles,
que eu entrei em uma velha choupana de madeira, e encontrei uma senhora
possuída por um suposto "Demônio". Ela gritava e rasgava seu vestido já
velho e esfarrapado. Quando o ser percebeu minha presença, ela parou
respirando aceleradamente, com as mãos soltas paralelas ao corpo.
_ Por favor, não fuja, quero conhecer melhor os de sua espécie. Falei
suavemente olhando no fundo dos olhos vazios daquela velha que girava
sua cabeça para todos os lados como se fosse uma louca.
_ Sobre os de nossa espécie?! Ela me fitou os olhos. O que somos
nós? Porque não podemos receber um corpo? Porque não podemos sentir?
Amar? Diga-me você, e porque os de sua espécie, os sugadores de sangue
L
foram criados? Por que são tão belos e atraentes?
A velha quedou ao chão e eu corri em sua direção para ajudá-la a se
levantar, mas ao tocá-la eu percebi que o ser havia partido. A senhora me
olhou assustada com seus olhos já quase sem visão, destruídos pela
catarata.
Observei que ela apenas tinha um corte pouco profundo no braço e
pelo sangue que estava começando a coagular em volta do ferimento
deduzi que fora feito antes de minha chegada, olhei ao redor e vi a faca
que ela se cortara estava sob uma mesa feita com velhas madeiras da
floresta, e ao lado da faca, uma galinha cortada em pedaços, provavelmente
o seu jantar.
Vendo que ela estava se sentindo bem embora com medo, eu corri e
desapareci de sua visão não me importando com o que ela fosse pensar.
As palavras daquela entidade sempre me batem à cabeça, será que
elas são como a maioria de nós vampiros, que não sabem suas origens,
porque foram criados, qual sua verdadeira função na existência, e a velha
com seu corte, será que estas entidades entram pelo sangue?
Ainda não encontrei as respostas, mas quem sabe um dia tudo se
explique, pois eu não vou perder meu tempo atrás de respostas para coisa
inexplicáveis enquanto posso fazer tantas coisas por ai.
Engatei a primeira marcha de minha Harley e voltei para a estrada. O
sono se aproximava com o amanhecer cinza e Carminalla me aguardava
para nosso repouso cadavérico.

LI
XIII – Aliados Na Noite

Acordei com uma decisão tomada em minha cabeça. Fiquei mais


uma hora e meia aguardando o despertar de Carminalla.
_ Finalmente chegou a hora. Falei fitando seus olhos enquanto ela
saía de seu ataúde.
Sem dizer uma palavra ela consentiu com a cabeça esboçando um
sorriso melancólico. Sabia que não podia continuar ao meu lado, e as coisas
estavam tomando um rumo muito perigoso em relação a Memoriant.
Saímos juntos para saciar nossa sede, e depois a levei até a estação
para que partisse de trem para sua nova vida em algum lugar que não
sabíamos onde poderia ser, isto só o destino a levaria como sempre fez
conosco.
Chegando à estação pressenti outros vampiros por perto. Eles
estavam nos cantos mais escuros da estação.
Eu ainda não os tinha visto naquela cidade, não sabia se eram
vampiros perambulando em busca de novas aventuras ou se eram novos
"soldados" de Memoriant.
Certifiquei-me que Carminalla partira só, sem riscos de ser pega,
então voltei ao meio da estação e me sentei em um banco esperando
contato com algum deles.
Sentou-se ao meu lado o que se dizia ser "líder" daquele grupo, que
contava com quatro jovens vampiros, contando com o suposto líder.
Todos os quatro tinham um visual Dark de cabelos longos, roupas
pretas, coleiras com rebites, e ai por diante.
O líder deu um sorriso cínico e falou:
_ Ah... Os vampiros. Deu uma pausa e continuou. São
melancólicos... Sensuais e poderoso...
_ Acrescentaria amaldiçoados, perigosos e violentos. Acrescentei
estas "Qualidades" rindo.
O líder também sorriu e se apresentou:
_ Sou Dark Krishnevil e os outros três diríamos que são minhas
"crias", pois eu os trouxe para o mundo vampírico com meu abraço de
sangue.
_ E quem foi seu progenitor? Perguntei.
_ A-há, Chegamos ao nosso ponto crucial deste encontro, o porquê
de nossa chegada a esta cidade. Meu criador, não era ninguém mais do que
Desdomus, e por isso estou aqui, para ajudá-lo contra Memoriant.
Comecei a rir então falei com meus olhos fixos nele:
_ Me ajudar?! Eu não preciso de ajudas, e você não pode fazer nada
contra Memoriant.
LII
Levantei-me, dei alguns passos e acrescentei: _ Seja bem vindo nesta
humilde cidade, vocês quatro, mas lhes advirto, Memoriant é muito
perigoso, se cuidem.
_ E como podemos encontrar você?
_ Não encontram. Sai andando, parei próximo aos trilhos do trem
que se aproximava e falei por final: _ Eu encontro vocês...
Nisso o trem passou e 'num piscar de olhos desapareci deixando os
jovens vampiros assustados com meu poder e velocidade completamente
superior aos deles.
Duas noites após, eu os encontrei em um velho parque de diversões
abandonado. Eles estavam torturando um servo de Memoriant para
descobrirem onde o mesmo se escondia.
_ Isso não nos levará a nada. Comentei agachado sobre a cabeça de
uma estátua velha e trincada, de uma provável morte que enfeitava a
entrada do trem fantasma.
Os quatro me olharam surpresos por não terem percebido minha
presença ali, então voltei a falar:
_ Se vocês nem conseguem sentir minha presença, o que faz
pensarem que irão conseguir vencer Memoriant?
_ Nós daremos um jeito, não se preocupe. Respondeu Krishnevil
com um pouco de raiva fluindo de seus olhos.
_ Cuidado! Comentei continuando. Às vezes o que se deseja se torna
real, e quando isso acontece, muitas vezes o desejo que se tornou real, não
é bem o que você realmente quer.
Sem que eles pudessem dizer mais alguma coisa, eu dei um salto
para o alto e quando eles viram meus pés tocarem o solo, eu esbocei um
sorriso, e com minha velocidade os surpreendi novamente desaparecendo,
deixando-os "com a pulga atrás da orelha”.
Aproveitei para dar umas voltas e contemplar um pouco a noite, pois
por muito tempo eu não fazia isso, e esta é uma coisa que eu gosto muito de
fazer, contemplar a noite.
Estava uma noite perfeita, silenciosa, com uma temperatura dos sete
ou oito graus, um pouco de névoa dando um toque especial pelo caminho
cheio de árvores. No céu, as poucas estrelas e a lua eram vistas através das
finas camadas de nuvens que dançavam em sua dança noturna, e o ar
totalmente puro e leve.
Sem que eu percebesse, eu estava sorrindo e feliz.
Repentinamente ouvi um sussurro dizer:
_ Noite eterna... E uma suave brisa soprou em minha face
movimentando meus cabelos como um toque de carinho. Suspirei mais
contente ainda, pois eu sabia que naquele momento Kassandra caminhava
ao meu lado.
Continuei vagando horas e horas a fio, apenas sentindo tudo a minha
volta até que o sol começou a mostrar seus primeiros raios dourados. Eu já
LIII
estava próximo ao meu refúgio e nele eu entrei calmamente, sem pressa
alguma, queria sentir ao máximo aquela satisfação e principalmente a
presença de Kassandra que já estava sumindo à minha volta.

LIV
XIV – A Luta Vampírica

Acordei com um péssimo pressentimento na noite seguinte, e a


primeira imagem que me veio em mente foi a de Krishnevil. Neste
momento eu já sabia que suas “crias” estavam em perigo.
Sai a sua procura e me alimentei na primeira vítima desatenta que
cruzou meu caminho.
Cheguei até a velha catedral de Marceniuns e ao entrar, acabei
batendo de frente Com Krishnevil que vinha correndo com muito sangue
em suas roupas, espalhado pelo rosto e cabelo.
_ O que houve? Perguntei
_ Fomos pegos de surpresa por alguns carniçais de Memoriant.
_ Eu avisei que seria perigoso demais para vocês.
_ Sim, eu sei, mas os carniçais não foram o problema, nós os
destruímos, mas ai chegou Memoriant e rapidamente destruiu meus
companheiros como se fossem feitos de papel, e o mais estranho é que ele
me bateu como se eu fosse um cachorro e depois sumiu, sabe-se lá para
onde ele foi.
_ Ele não se foi, está bem aqui. Falei olhando para cima e em volta.
_ Como aqui? Eu não o sinto!
_ Assim como você não sente a minha presença. Continuei Você
ainda é muito jovem, tem muito que aprender.
_ Então ele sentiu sua chegada e se escondeu.
_ É por ai, Memoriant e seus joguinhos de terror.
Nisso ecoaram risos sinistros por toda a Catedral com vozes de
crianças sussurrando e chorando, mulheres rezando e mantras de monges
tornando tudo mais sinistro.
Krishnevil estava assustado, enquanto eu começava a rir, e com
algumas palavras e um leve gesto, fiz com que tudo voltasse ao normal, no
mais sepulcral silêncio.
_ O que está fazendo? Perguntou Krishnevil.
_ Relaxe, é só uma brincadeira patética, não é Memoriant?!...
Terminei minha fala olhando para um canto escuro, de onde brilharam dois
olhos vermelhos e saindo das trevas com seus dois caninos a mostra.
_ Enfim vamos por um fim nesta paranóia toda, e tudo se finalizara
aqui, neste lugar, digno de um filme de terror.
Ele saltou sobre mim com sua boca escancarada, rugindo como uma
besta apocalíptica. A única coisa que fiz foi dar um passo para o lado
esquerdo e acertar um soco de direita bem no centro daquela cara feia.
Memoriant caiu no chão e rapidamente se levantou com as mãos no
rosto blasfemando contra deus e me disse:
LV
_ Maldito, você quebrou meu nariz e meu canino. Cuspindo o dente e
muito sangue junto. Porras!!! Vai levar o resto desta noite e o dia todo para
que ambos se regenerem.
Comecei a rir e disse: _ Que dia? Se desta noite você não passará,
seu monte de bosta!
Krishnevil esboçou um leve sorriso e ameaçou entrar na nossa luta,
mas eu intervi dizendo que era uma guerra particular nossa, enquanto
Memoriant fitava-me com sua boca escorrendo sangue e com um só
canino. Ele virou-se para Krishnevil e comentou: - Esta guerra terminará
hoje, pequena criança, sente-se em uma poltrona nesta nossa arena e seja
testemunha ocular.
_ Que assim seja! Completei.
Começamos então a desferir golpes de artes marciais, mas o pobre
Krishnevil apenas conseguia ver alguns vultos passarem de um lado para o
outro e urros bestiais de feras que se atacavam ferozmente. As vezes os
golpes cessavam e parávamos como animais, agachados e com as mãos e
unhas feito garras apoiadas no chão, e com os dentes cerrados, apenas
olhos nos olhos para então recomeçar a luta.
Chegou um determinado momento em que peguei Memoriant pelos
dois braços, em com um forte “Puxão”, fiz com que ele passasse por sobre
minha cabeça e afundasse sobre uma enorme mesa de pedra, onde eram
feitas algumas orações. A mesa se partiu ao meio, e eu apliquei novamente
o mesmo golpe, mas desta vez fiz com que ele se chocasse contra o chão.
Neste momento pude ouvir seus ossos se partirem, e muitos saindo para
fora de sua carne em fraturas expostas.
_ Mas já desistiu? Satirizei-o.
Memoriant ainda movia uma de suas mãos em movimentos
circulares e pronunciava palavras em uma linguagem muito antiga. Eu
sabia o que ele estava fazendo, então argumentei:
_ Apelando para a magia heim, tudo bem vou esperar você se
recuperar.
Seus ossos aos poucos voltaram para dentro do corpo que foi
voltando ao normal, enquanto uma névoa negra ia o envolvendo.
Ele levantou-se com uma fúria imensa transpirando em seus poros e
começou a fazer invocações mágicas, lançando em mim uma espécie de
bola de fogo, mas um fogo negro e frio.
Fiz um simples gesto e uma palavra para que esta mesma bola
explodisse ao me tocar, sem causar dano algum a minha pessoa, para que
pudesse dizer uma frase que gosto muito:
_ Se este é o melhor que pode fazer, vou destrui-lo.
Tanto Memoriant quanto Krishnevil me olharam com os olhos
esbugalhados enquanto eu apenas sorria malévolosamente.
Memoriant voltou a me atacar com suas mãos, mas eu desviei e com
minha mão direita, desferi um soco e varei-lhe o peito, arrancando seu
LVI
coração ainda pulsando.
Memoriant ficou com seus olhos fixos nos meus. Proferi algumas
palavras em latim arcaico e empurrei-o para trás com o corpo encoberto por
chamas, até o centro daquele lugar.
Ele ainda conseguiu resistir às chamas para me dizer que o
verdadeiro mestre iria vingá-lo.
_ Você não sabe nada meu velho inimigo. Disse ele. Memento e eu
somos apenas fantoches, pequenas peças neste grande xadrez que o mestre
tem armado, onde você é o prêmio...
Não pode dizer mais nada, pois seu corpo explodiu com as chamas
infernais que o cobriam.
_ Mestre? Quem é este mestre? Perguntou Krishnevil.
_ Estou tão curioso quanto você... Mestre?...
Fiquei pensando por alguns momentos em que jogo seria este, e
quem seria esse tal de mestre. Seria algum antigo inimigo que eu não
estava me lembrando?
Passou-se algum tempo em silêncio, então Krishnevil disse que iria
embora, pois o que o trouxera até ali estava destruído.
Fui com ele até a estação ferroviária onde nos despedimos com a
certeza de que algum dia nos encontraríamos em qualquer lugar deste
planeta, pois nós, vampiros sempre acabamos nos reencontrando algum dia,
a não ser que tenhamos sidos destruídos de alguma forma, é claro.
Voltei até a Catedral e encontrei próximo aos restos de Memoriant
um papel com um velho endereço na capital do país.
Voltei para meu refúgio e preparei minha bagagem para viagem.
Havia me decidido ir à busca do início de toda esta história de mestre neste
tal de “jogo” que Memoriant citou antes de sua morte.
Fiquei na janela observando o sol chegando lentamente, voltei para meu
féretro e vagarosamente fui fechando a tampa e adormecendo.
Logo eu despertaria para uma nova noite, então eu partiria rumo a
uma nova busca que me revelaria coisas do passado que eu ainda nem
mesmo imaginava, mas isso ficara para uma nova oportunidade que eu
possa ter de escrever para você, por enquanto vou ficando nestas linhas
desejando seu mais puro e casto líquido escarlate que corre por tuas
suculentas artérias e veias, um lascivo abraço... de sangue...

L. T. L.
Lugubrus Tenebrous Luciferium

LVII
Postludiun

Este é o primeiro livro de uma série de contos vampirescos que


rondam em torno de Lugubrous Tenebrous Luciferiun e seus conhecidos
que vivem pelas noites eternas desta humanidade.
O próximo será contado por Carminalla, onde nos dirá coisas de seu
passado antes de se tornar uma vampira, como foi transformada, seu rápido
encontro com Lugubrous, e seu amor por Izabel, uma vampira sedenta e
sensual.
E que a noite e seus mistérios soturnos lhe abrace a alma em um frio
beijo escarlate, envolvendo-te pelos obscuros caminhos daqueles que
andam nas trevas como se fosse o mais ensolarado dia, aniquilando os
falsos dogmas e crenças, sorvendo a vida daqueles que se opõem ao reino
da eterna noite...

U
... m nocturno enlace em tua alma...

E
... nvolto pelas trevas...

- A. L. Bandina -
1999

LVIII

Вам также может понравиться