Вы находитесь на странице: 1из 139

Enfrentando o desafio muçulmano

Um manual de apologética cristã-muçulmana

John Gilchrist
Introdução

A questão cristã-muçulmana atual

Grandes conflitos vão e vêm, mas um em especial, que tem se


prolongado por quase quatorze séculos, parece ser destinado a durar para
sempre. É a clássica batalha universal, que sobrevive a todas as gerações: a
luta entre islamismo e cristianismo pelas almas dos que vivem na terra. Apesar
de passar desapercebida, esta é provavelmente a luta suprema, que se
debate com as questões vitais, isto é, o verdadeiro propósito da existência
humana e seu destino final. Cada religião tem seu próprio personagem central,
que é aclamado como o mensageiro definitivo de Deus para toda a
humanidade — Jesus Cristo, o Salvador do mundo, ou Maomé, o Profeta
universal das nações. Cada um deles tem a sua própria missão — espalhar o
Evangelho até os confins da terra ou estabelecer uma unmah (comunidade)
que cubra o globo. Da mesma maneira, cada um possui a convicção de que
triunfará no final sobre todas as filosofias, religiões e poderes que desafiaram
a fidelidade humana.

Este livro trata da relação atual entre islamismo e cristianismo,


particularmente dos argumentos que os muçulmanos empregam na discussão
ou debate com cristãos a fim de estabelecer uma "superioridade" do islamismo
pela refutação da autenticidade das escrituras cristãs e de suas doutrinas
fundamentais. Qualquer cristão que tenha uma conversa com muçulmanos
logo descobrirá que eles estão armados com um arsenal de objeções que são
inseridas na discussão para minar a mensagem do Evangelho e colocam o
cristão na defensiva.

A investida muçulmana contra o cristianismo

O desafio remonta à época de Maomé. O Qur'an (ou Corão), livro


sagrado dos muçulmanos, tem várias passagens polêmicas que confrontam
as crenças cristãs, não só opondo-se a elas mas também propondo
argumentos racionais para combatê-las. Nos primeiros séculos do islamismo,
estudiosos muçulmanos escreveram várias teses desafiando a integridade da
Bíblia (Ibn Hazm), a doutrina da Trindade (Abu Isa al-Warraq), a estrutura da
sociedade cristã (Al-Jahiz), ao mesmo tempo em que Maomé é cumprimento
de profecia tanto do Velho quanto do Novo Testamento (Ali Tabari). Os tempos
modernos presenciaram a produção em massa de material polêmico para
distribuição ao redor do mundo, particularmente dos livretos de Ahmed
Deedat, um propagandista muçulmano do meu país natal, a África do Sul.

Os cristãos, em algumas ocasiões, têm procurado igualmente o


confronto, questionando veementemente as credenciais de Maomé como
profeta e produzindo numerosas evidências contra a assertiva de que o Qur'an
é a Palavra de Deus. Em ambos os casos, as estocadas têm sido
extremamente parciais e destemperadas. Os ideais mais sublimes da religião
do seguidor são freqüentemente contrastadas com os piores excessos da fé
do adversário, sem que sequer os debatedores se dêem conta da injustiça
deste método. Por exemplo, um cristão poderia argumentar que as mulheres
recebem um péssimo tratamento em algumas partes do mundo muçulmano,
enquanto que, segundo o ensinamento bíblico, elas deveriam estar em
posição de igualdade no casamento monogâmico (Efésios 5:28 a 33), não
levando em conta, no entanto, a prevalência de divórcio e imoralidade nas
sociedades tradicionais cristãs no mundo ocidental. Da mesma maneira, um
muçulmano ensinaria que o islamismo é a religião da paz perfeita, ignorando
os numerosos conflitos no mundo muçulmano e os atentados com bombas em
embaixadas, aviões, centros comerciais e outros em nome do Islã.
Muçulmanos também afirmariam que a unidade universal do mundo
muçulmano é um ponto favorável ao islamismo quando comparado com as
muitas divisões eclesiásticas cristãs, sem contudo considerar o grande
número de secções conflitantes no Islã e o fato de que a unidade islâmica é,
na realidade, uma uniformidade de culto baseada apenas na natureza rígida
da prescrição das orações, jejuns, abluções e a peregrinação Haji dos
muçulmanos.

Neste livro, meu objetivo é discutir sobretudo os argumentos


muçulmanos contra os cristãos, dando aos cristãos respostas efetivas às suas
altercações. Tenho o privilégio de ter, durante mais de vinte e cinco anos,
participado de debates com milhares de muçulmanos na África do Sul, e
provavelmente ouvi quase todas as objeções que eles são capazes de
levantar contra a fé cristã e suas Escrituras. Também examinei todos os
livretos muçulmanos citados na bibliografia no final deste livro. Com genuína
convicção, posso dizer que nunca ouvi um argumento muçulmano que não
pudesse ser legítima e adequadamente respondido. Os argumentos listados
nos capítulos a seguir são aqueles de que os muçulmanos mais
freqüentemente se utilizam em conversas pessoais, apresentados na forma
argumento/resposta a fim de dar as cristãos exemplos de como rebatê-los.

Atitudes dos muçulmanos que frustram os cristãos

Percebi muitas vezes em debates acalorados com muçulmanos que


certas atitudes da parte deles são calculadas para evitar uma discussão
produtiva. O ideal seria que cristãos e muçulmanos debatessem suas
posições com o objetivo comum de descobrir as verdades definitivas de Deus.
Contudo, o que freqüentemente acontece é que os muçulmanos tentam
somente frustrar o testemunho cristão, lançando seus argumentos de forma a
produzir uma cortina de fumaça ao invés de estabelecer uma plataforma para
possibilitar uma interação saudável. São feitos protestos regularmente, sem
que se dê nenhuma oportunidade de resposta por parte do cristão. Por
exemplo: ouvi muitas vezes questões como "como Deus pode ter um filho se
ele não tem uma mulher?", ou "se Cristo morreu pelos seus pecados, isso
significa que você pode pecar o quanto quiser?", etc. Como se a questão
levantada por si só fosse a prova definitiva, a última palavra a respeito do
assunto. Os muçulmanos quase nunca querem ouvir a resposta, mas apenas
refutar algum ponto.

Poucos muçulmanos têm uma compreensão real do cristianismo, fato


abundantemente evidenciável pelos livretos produzidos que tentam se opor ao
cristianismo. Os cristãos são acusados de crerem em três deuses, presume-se
que o Novo Testamento seja uma versão modificada do Velho Testamento
(que é assumido como sendo as escrituras originais), enquanto que a
divindade de Cristo é desconsiderada por causa do plano físico. Alega-se que
Deus não poderia ter um Filho sem uma mulher, ainda que o próprio Qur'an,
na Surata 19:20-21, ensine que pelo poder e decreto de Deus Maria poderia
ter um filho, ainda que ela não tivesse marido.

Os cristãos precisam demonstrar paciência quando discutem questões


como essas com os muçulmanos. Outra fonte de frustração é a inclinação de
parte dos muçulmanos de questionar livremente a autenticidade da Bíblia ou
de crenças básicas do cristianismo, ao mesmo tempo em que se mostra
bastante ofendido quando se vira a mesa contra o Qur'an e o islamismo. Mais
uma vez, os cristãos precisam ser tolerantes e permanecer equilibrados em
casos assim, sem tentar rebater com uma abordagem semelhante. Outros
muçulmanos debatem simplesmente a fim de encontrar incoerências, sem se
interessarem em ouvir respostas razoáveis. Em vários encontros dos quais
participei, muçulmanos proclamaram enfaticamente uma objeção a algum dos
pilares da nossa fé, e foi preciso tempo para responder adequadamente.
Muitas vezes a resposta não pode ser dada de maneira tão sucinta ou enfática
quanto a objeção que a tornou necessária. Contudo, ainda que o muçulmano
não tenha feito nenhum esforço para rebater o contra-argumento, ele irá
depois triunfantemente repetir o seu mesmo argumento, como se ele já não
tivesse sido refutado antes. Paciência e perseverança são essencialmente
necessários nesses casos!

Argumentos muçulmanos devem ser respondidos

Alguém poderia dizer: "por que discutir?". Por que não apenas
compartilhar nossas crenças diferentes num espírito de compreensão mútua e
deixar os pontos conflitantes da nossa fé de lado? Há inúmeras razões pelas
quais os cristãos, se quiserem ser verdadeiros na sua fé e consigo mesmos,
devem estar preparados para responder às objeções dos muçulmanos e
rebater seus argumentos.

Primeiramente, se você não é capaz de defender sua fé, os


muçulmanos concluirão que você pode ser um crente fervoroso, mas que não
é capaz de justificar o que crê. A sua indisposição para enfrentar esse desafio
irá dar aos muçulmanos a impressão de que a sua religião é indefensável.
Depois, se você puder não só afirmar aquilo que você crê, mas também
explicar porque acredita de forma coerente, os muçulmanos terão uma
tendência maior a ouvi-lo, sabendo que você mesmo já testou a credibilidade
da sua crença e é capaz de defendê-la de modo convincente. Finalmente, em
terceiro lugar, quando um muçulmano converte-se ao cristianismo, ele
invariavelmente vai querer saber, assim que possível, quais as evidências que
sustentam a fé que ele agora professa, especialmente porque ele também
poderá ser questionado por outros muçulmanos, tentando trazê-lo de volta ao
islamismo. Ele precisa, portanto, ser muito bem treinado para resistir a essas
pressões. O apóstolo Pedro afirmou claramente que os cristãos precisam
estar preparados para enfrentar os desafios que lhe são colocados, e também
o espírito com o qual devemos responder:

"... estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos
pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e
temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós
outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em
Cristo." (1 Pedro 3:15 a 16)

O apóstolo Paulo nunca se esquivou do dever de fundamentar aquilo


que cria com provas adequadas. Quando estava na companhia de judeus que
procuravam discutir com ele, Paulo "arrazoou com eles acerca das Escrituras,
expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e
ressurgisse dentre os mortos" (Atos 17:2 e 3). Ele não estava interessado
numa mera troca de visões religiosas, esperando que a mensagem do
Evangelho prove-se atrativa o bastante apenas pela sua simples
apresentação. Ele sabia que precisava fazer com que tudo o que ele dissesse
merecesse crédito, se quisesse que os seus adversários o levassem a sério.
Em outra ocasião, ele disse: "anulando nós, sofismas e toda altivez que se
levante contra o conhecimento de Deus" (2 Coríntios 10:4 e 5), provando ele
mesmo ser alguém que dominava o assunto e tinha plena confiança na sua
capacidade de endossar a verdade na qual cria.

Na evangelização de muçulmanos, é essencial que os cristãos sejam


capazes de refutar as objeções e os argumentos que o muçulmanos
produzem de pronto. Na próxima seção, iremos considerar o espírito com o
qual o cristão deve responder.

A resposta cristã: métodos e abordagens corretos

Os capítulos deste livro exemplificam meios eficientes de se responder


aos argumentos mais comuns dos muçulmanos contra a Bíblia e os seus
ensinamentos. É essencial que o conteúdo desses exemplos seja claro e
convincente. Assim, este livro estaria bastante incompleto se não fosse dada
atenção ao modo de conduta do cristão quando estiver discutindo com
muçulmanos. O espírito da nossa abordagem é tão importante para produzir
um impacto genuíno nos muçulmanos quanto a fundamentação dos nossos
argumentos.

Exemplos de abordagens e atitudes erradas

Há muitas maneiras pelas quais os cristãos podem arruinar seu


testemunho aos muçulmanos. Serão consideradas três delas aqui:

1. O espírito de triunfalismo

Há muitos anos atrás, participei de encontro em Durban, África do Sul,


onde quase dois mil cristãos e muçulmanos estavam aguardando que o
auditório da prefeitura abrisse suas portas. Houve um atraso e a multidão
simplesmente ficou aguardando, do lado de fora, em silêncio. Dr. Anis
Shorrosh, um cristão palestino, havia anunciado que naquele encontro iria
rebater as críticas de Ashmed Deedat, o campeão local muçulmano da
polêmica anti-cristã, tendo inclusive desafiado-o a ter a coragem de dividir a
tribuna com ele. A atmosfera do lado de fora da prefeitura,
compreensivelmente, era tenso. De repente, um dos pastores cristãos locais
gritou a um de seus amigos: "vamos cantar em louvor ao Senhor". Eles
começaram, então, animadamente a cantar o coro: "Deus seja exaltado e
seus inimigos dispersados", e a seguir vinham triunfantemente os versos "No
nome de Jesus temos a vitória, no nome de Jesus os demônios serão
expulsos".

Infelizmente, os "demônios" ficaram — e deram o troco. E venceram!


Um muçulmano logo interrompeu a cantoria com gritos de "Allahu Akbar!". Em
pouco tempo, cerca de mil muçulmanos urravam incessantemente "Allahu
Akbar!" (Alá é maior), e depois "La ilaha illullah!" (Não há outro Deus senão
Alá), num imenso uníssono até que o coro dos cristãos fosse minguando até
silenciar. Um cristão ao meu lado me perguntou, nervoso: "O que eles estão
dizendo?" (ainda era a época do auge do reacionarismo islâmico e
fundamentalismo eufórico), a quem eu respondi: "Calma, eles estão apenas
gritando que só Deus é grande".

É fácil cantar entusiasmados refrões como aqueles no conforto da


comunhão com outros cristãos, quando ninguém mais está ouvindo.
Triunfalismo é uma característica muito comum em várias formas
contemporâneas do culto cristão. Somos chamados a sermos pessoas
humildes falando em espírito de amor a todos que encontrarmos. Já foi muito
bem dito que nosso alvo é ganhar os muçulmanos para cristo, e não vencer
uma batalha para o cristianismo.

Os cristãos devem resistir à tentação de tentar impor sua fé aos


muçulmanos. Da mesma maneira, precisamos resistir à tendência de tentar
provar alguns pontos somente para vencer o debate. O próprio ouvinte é o
alvo principal. Tudo o que dissermos, e o espírito com que fazemos isso, deve
ser na tentativa de se ganhar a confiança, a atenção e a boa vontade do outro.
Nossa abordagem deve ser a que está descrita nesta passagem:
"A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para
saberdes como deveis responder a cada um." (Colossenses 4:6)

Em vários seminários, eu incitei repetidamente os cristãos a


memorizarem a seguinte frase, na verdade um acrônimo da palavra "Islã" em
inglês:

I-S-L-A-M stands for I Shall Love All Muslims!

(Islã quer dizer: Eu devo amar todos os muçulmanos!)

Ouvi dizer que os cristãos devem odiar o Islã mas amar os


muçulmanos. Eu sugeriria que o mais apropriado é amar todos os
muçulmanos e se esforçar para compreender o que é o islamismo. Quanto
mais você aprende sobre a fé muçulmana, mais irá aprender a respeitá-la (falo
por experiência própria), e mais os muçulmanos irão respeitá-lo e estar
dispostos a ouvi-lo. Quando os cristãos demonstram que se importaram o
bastante para descobrir o que os muçulmanos acreditam de verdade, e se
familiarizar com o Qur'an e a herança islâmica, os muçulmanos
invariavelmente respondem tornando-se mais inclinados a participar de uma
discussão sério ao invés de mero confronto e argumentação. Precisamos
conquistar o direito de sermos ouvidos.

2. A tendência a demonizar e interpretar mal o islamismo

Muitos escritores e palestrantes cristãos têm deturpado o islamismo por


ignorar sua história verdadeira e ensinamentos básicos, projetando
suposições falsas que são muito mais fáceis de ser condenadas e associadas
a vilões. Há alguns anos, no meu país, a África do Sul, uma campanha pública
foi lançada por alguns líderes cristãos contra o símbolo muçulmano hallal, que
aparecia em embalagens de margarina, carnes de aves e outros produtos nos
supermercados locais. Alegavam que era um sinal que indicava que aquele
produto havia sido oferecido ao ídolo muçulmano, Alá, e que os cristãos não
deveriam comer esses produtos porque Paulo proibia que se comesse
alimentos consagrados a ídolos em 1 Coríntios 10:19 a 22.

Outras publicações cristãs recentes insistiam que Alá era o "deus lua"
do paganismo árabe anterior ao islamismo, e que o deus muçulmano era, na
verdade, somente um deus de traços animistas. Uma vez tendo classificado
Alá, do islamismo, como um deus falso ou como ídolo, fica muito mais fácil de
atacar as crenças muçulmanas. Ao se discutir com muçulmanos, essas
falsidades devem ser evitadas. Alá é o nome universal árabe para o único Ser
Supremo de todo o universo, e é usado com a mesma liberdade por cristãos e
judeus de fala árabe, bem como pelos muçulmanos. Do mesmo modo, o
símbolo hallal é nada mais que um indicativo de que foi retirado daquele
produto tudo o que significasse restrição segundo as leis islâmicas, e que o
torna, portanto, apto para ser consumido. De certa forma, é exatamente
contrário do que alegaram aqueles cristãos sul-africanos (o antônimo haraam
é usada, no islamismo, para descrever os alimentos separados, que não
devem ser consumidos, como carne de porco), porque certamente nunca
indicaria que aquele alimento foi oferecido como sacrifício de qualquer tipo.

Outra falácia cristã muito popular que está sendo largamente difundida
ultimamente (e, infelizmente, as pessoas acreditam nela) é que o islamismo
era, originalmente, uma conspiração do catolicismo para eliminar os judeus e
cristãos que se recusavam a se submeter à autoridade do Vaticano. Maomé
teria sido iludido numa história ingênua, onde sua mulher Khatija, que seria
uma espiã católica, motivava-o a se tornar um grande líder para executar os
desígnios e planos do Vaticano. No entanto, fortificado pelo apoio financeiro
do Vaticano, o islamismo teria se rebelado e tomado seus próprios rumos na
História. Além de fantasiosa ao extremo, por desafiar todos os extensos
registros históricos a respeito da vida de Maomé e do início do islamismo, ela
foi espalhada pelo Dr. Alberto Riviera, partindo de um boato segundo o qual
um cardeal jesuíta, conhecido por Augustine Bea, tomou conhecimento da
trama em instruções secretas que teriam circulado no Vaticano. Apesar de ser
baseada numa lorota, muitos cristãos (que freqüentemente não sabem muito
mais que isso a respeito do islamismo) acreditam fervorosamente nela e criam
confusões com os muçulmanos.

Pela divulgação de informações falsas, os muçulmanos apenas são


afastados ainda mais da verdade. Os cristãos precisam buscar, sempre, ser
verdadeiros em seu testemunho e objetivos nas suas perspectivas — ser
coerente com a Palavra de Deus, com os registros históricos confiáveis, e
tentar evitar conquistar uma "vantagem" sobre o islamismo usando-se de
acusações falsas.

3. Atitudes negativas e de milícia contra os muçulmanos

Há alguns milhares de anos atrás, o mundo viu o começo de uma nova


estratégia do cristianismo frente ao islamismo, que foi a dominação do Oriente
Médio por três séculos. As Cruzadas, quatorze no total, partiram da Europa
Ocidental contra o mundo muçulmano, na tentativa de arrancar grande parte
dele para a cristandade católica, particularmente os locais santos em
Jerusalém para que as peregrinações cristãs pudessem acontecer sem
maiores transtornos, bem como para estabelecer uma presença dominante e
poder cristãos na região. Muitas obras de arte resistiram às batalhas entre
cristãos e muçulmanos, retratando os soldados cristãos sempre segurando
numa mão a espada, e, na outra, um escudo com o desenho de uma cruz.

Os cristãos foram, indubitavelmente, os agressores, e o mundo


muçulmano sofreu uma série de guerras, conflitos e campanhas que só
podem ser descritas como um exercício cristão de jihad1. A Primeira Cruzada,
promovida pelo papa Urbano II, foi surpreendentemente bem-sucedida, pois,
apesar de pequeno, o exército cristão apanhou os muçulmanos

1 Guerra santa (N.T.)


despreparados. Sob o comando de líderes como Godfrey de Bouillon,
conquistaram muitas cidades, incluindo Jerusalém, passando impiedosamente
judeus e muçulmanos sob o fio da espada até que seu sangue corresse pelas
ruas. As cruzadas que se seguiram não foram tiveram tanto sucesso nem
foram tão brutais, mas deixaram o legado da hostilidade entre cristãos e
muçulmanos, que perdura até hoje.

A militância moderna cristã contra o islamismo assume uma forma


menos violenta, mas ainda presente. "Estamos em guerra com o Islã" é grito
de convocação que eu, pessoalmente, já ouvi sendo proferido por cristãos,
criando um sentimento negativo contra os muçulmanos, que são capaz de
percebê-los facilmente. Com um Salvador descrito como "príncipe da Paz"
(Isaías 9:6), fica difícil acreditar que esta seja uma abordagem apropriada.
Não seria melhor que a nossa missão fosse uma campanha de paz? Ao invés
de se martelar os últimos atentados a bomba em embaixadas, seqüestros,
incidentes como o avião de uma empresa aérea norte-americana que foi
derrubado em Lockerbie2, Escócia, e outros que cultivam um sentimento
negativo em relação aos muçulmanos, deveríamos, ao invés disso,
desenvolver uma atitude de boa vontade e amor para com eles. Também,
precisamos estar dispostos a entregar nossas vidas sacrificialmente em
testemunho e serviço, assim como Jesus Cristo fez por nós — Ele não
considerou as nossas faltas e as usou contra nós, mas prontamente entregou-
Se para nos trazer de volta a Deus. Só quando estivermos prontos para amar
os muçulmanos, a despeito do que eles fazem ou teriam feito, seremos
verdadeiramente capazes de manifestar o amor de Jesus por eles, e cumprir
o propósito fundamental do nosso testemunho — levá-los à Sua graça e
salvação.

Princípios importantes na nossa abordagem aos muçulmanos

Vamos olhar alguns princípios do testemunho que devemos nos


esforçar para ter quando estivermos compartilhando com muçulmanos ou
debatendo com eles, num nível mais prático.

1. Justiça, paciência e amabilidade

Talvez você conheça o ditado: "mantenha sua cabeça, mesmo quando


todos em volta estiverem perdendo as suas". Os muçulmanos, quando
argumentando com cristãos, costumam importunar e provocar deliberadamente
com o único objetivo de irritar, até que o cristão perca a paciência ou fique nervoso
e ofendido. Para eles, isso é um sinal de que eles venceram, e que a resposta
comportamental do cristão é uma prova de que ele não é capaz de refutar às
objeções. É essencial manter a compostura o tempo todo e, mesmo que você

2 O livro foi escrito em 1999, antes do atentado simultâneo às torres do World Trade Center, em Nova York, e
ao Pentágono, em Washington, EUA.
ache os muçulmanos chatos e irritantes, deve-se manter um espírito de mansa
boa vontade e conversação razoável.

Igualmente, não se surpreenda ou desanime quando eles atacarem o


ponto central da sua mensagem. Os muçulmanos são treinados para rebater
argumentos cristãos. Imagine um evangelista fervoroso, batendo na porta de um
muçulmano pela primeira vez. Quando o muçulmano abrir, ele informa:

— Vim para contar a você sobre as gloriosas boas novas de Jesus


Cristo, o Filho de Deus, que morreu por você para que você fosse perdoado e
pudesse ir para o céu".

Ele poderia esperar que o ouvinte respondesse: "Puxa, isso é a coisa


mais maravilhosa que eu já ouvi em toda a minha vida! Onde posso ser
batisado?". Se for essa a sua expectativa, ele ficará bastante desapontado. É
muito mais provável que ele seja confrontado com este tipo do de resposta:

— Deus não tem parceiros! Onde ele arranjou um Filho? Quem foi a
mulher de Deus? Como ele poderia deixar que o Seu Filho morresse? Você tem
filhos? Você ficaria lá parado, olhando, enquanto criminosos assassinam os seus
filhos? Que Pai é esse? De qualquer modo, ninguém pode morrer pelos seus
pecados — cada alma deve carregar seu próprio fardo. Se Cristo morreu por você,
isso não lhe dá o direito agora de pecar o quando quiser, uma vez que você já
está perdoado?

Os muçulmanos prontamente reduzem o testemunho cristão para o


debate, conflito e argumentação. Isso não pode ser evitado. Os cristãos, às vezes,
precisarão discutir de maneira razoável com eles, esforçando-se para apresentar
respostas com argumentos sólidos aos seus argumentos, e fazer isso num espírito
amável e paciente.

2. Evite brigas e disputas

Quando se aceita que é essencial responder aos argumentos dos


muçulmanos, também é preciso se dizer que não se deve nunca deixar que aquilo
que começou como um debate saudável se degenere, transformando-se em reles
briga e controvérsia. O apóstolo Paulo disse:

"E repele as questões insensatas e absurdas, pois sabes que só


engendram contendas. Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a
contender e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente;
disciplinando com mansidão os que se opõe" (2 Timóteo 2:23 a 25)

Conceitos errados devem ser removidos de maneira gentil, mas efetiva,


sempre que possível. Uma resposta paciente e ao mesmo tempo ponderada pode
não surtir um efeito imediato sobre o muçulmano que ou está promovendo seu
próprio triunfalismo, ou agitado e agressivo e não muito disposto a ouvi-lo, mas no
longo prazo o impacto será inevitavelmente mais profundo. Quando o clima
amenizar e a poeira não estiver mais no ar, sua resposta confiante e segura será
lembrada. O que quer que você faça, não seja aquele que provoca primeiro
argumentos rudes e disputas.

3. Seja sério a respeito de sua fé

Testemunhar a graça de Deus em Jesus Cristo é uma das coisas mais


importantes e sérias que você pode fazer na sua vida. Quando conversar com
muçulmanos, evite gracinhas e irreverência. Faça com que o muçulmano perceba,
especialmente se ele discutir com você tentando ridicularizá-lo ou sendo
displicente, que você leva sua fé bastante a sério e quer discutir quaisquer pontos
que ele esteja disposto a esclarecer.

Mesmo no testemunho cristão normal, é importante manter uma atitude


compatível e de seriedade no que se refere à sua mensagem. Afinal, você quer
que o seu interlocutor leve-a a sério também. Há pouco tempo atrás, depois de
testemunhar a um muçulmano a respeito dos mais maravilhosos aspectos da
nossa fé cristã, descobri, quase quando ia saindo de sua casa, que ele torcia para
o mesmo time de futebol que eu, o Manchester United da Inglaterra. Como todo
bom muçulmano sul-africano torce para o Manchester (os outros preferem o
Liverpool e o Arsenal), eu imediatamente mudei o rumo da conversa para o
Manchester, porque, por experiência própria, sabia que um interesse comum é
muitas vezes uma porta para o coração de um muçulmano e para que ele se
interesse por você. Desta vez, no entanto, descobri que havia deixado um impacto
maior do que pensava ter deixado, pois ele rapidamente voltou ao assunto da
minha mensagem: "Minha mãe é cristã, se converteu do islamismo há alguns
anos. Ela tem uma paz que eu quero de verdade. Eu fiquei realmente tocado pela
sua mensagem, e vou ler as coisas que você me deu com atenção." Soube
imediatamente que era hora de deixá-lo ali, prometendo vê-lo novamente em
breve. Em momentos como esse, a seriedade do nosso ministério de fazer com
que as pessoas conheçam a Jesus deve prevalecer. Não podemos nunca perder
isso de vista.

4. Seja bíblico em suas respostas

Acho que não conseguirei dar a ênfase necessária a este tópico.


Quando discutindo a Trindade, por exemplo, é sempre tentador raciocinar
teológica e doutrinariamente, tentando explicar como Deus pode ser três pessoas
numa só. Muitas vezes, percebi que, depois de um tempo, eu estava tão confuso
quanto o muçulmano a respeito desse assunto tão profundo! Há tantas coisas que
eu não compreendo e, francamente, acho que não é para entendermos. Às vezes,
os cristãos usam ilustrações para explicar a doutrina, como dizer que H 2O, que,
sendo uma só substância, pode ser vapor, água ou gelo. Ou então a ilustração do
ovo (gema, clara e casca, mas o ovo é uma coisa só). Os muçulmanos dificilmente
conseguem entender a Trindade através destes raciocínios. Na seção deste livro
chamada O Pai, o Filho e o Espírito Santo, mostro como uma apresentação
bíblica do papel das três pessoas divinas é, sem dúvida, o meio mais poderoso
para se explicar o assunto, ao mesmo tempo que lhe permite continuar a iniciativa
e voltar ao testemunho genuíno. É a própria Bíblia que diz:

"Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que


qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito,
juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do
coração" (Hebreus 4:12)

Conheça a sua Bíblia. Quanto mais você dominar a Palavra de Deus,


mais eficiente você será no debate com os muçulmanos. É o nosso melhor
manual, e é o principal meio usado pelo Espírito Santo para mover o ouvinte a fim
de que ele responda à mensagem cristã. Há um poder na Palavra e, muitas vezes,
em situações em que me encontrava na defensiva quando precisava explicar
algumas coisas em termos humanos, descobri aquela autoridade que surge
quando a Bíblia é citada e retorna à posição de fonte do meu testemunho. Em
geral, nada precisa ser provado — a Bíblia só precisa ser citada adequadamente,
e a Palavra de Deus irá produzir seu impacto no interlocutor. Naturalmente,
quando o ataque é contra seus próprios ensinamentos e convicções, a razão
humana é necessária, mas mantendo-se bíblicas as respostas, é mais provável
que seja alcançado um resultado melhor.

Tente evitar ser racional ou teológico com os muçulmanos. Você não


pode colocar as pessoas no Reino de Deus através da razão — é preciso que elas
respondam à mensagem da graça e do perdão de Deus com seus corações, e
isso demanda não só assentimento à verdade, como também que se gere
arrependimento e convicção profundos. E a Bíblia é a melhor ferramenta para
isso. Faça o possível para conseguir que os muçulmanos a leiam!

5. Use as objeções como uma oportunidade para testemunhar

Este é o meu último tópico, mas com certeza não é o menos


importante. Ele irá retornar constantemente neste livro. Faça o possível para usar
os argumentos dos muçulmanos para fortalecer o seu testemunho entre eles. Isso
lhe ajudará a voltar ao seu foco real, que é desafiar os muçulmanos a responder à
sua mensagem e clamar por Cristo em suas almas. Vamos voltar a uma discussão
já mencionada, expandi-la um pouco, e ver como se pode usar o debate como
oportunidade para enfatizar a mensagem do Evangelho.

Os muçulmanos retrucam: "Como Deus pode deixar seu Filho morrer?


Para nós, Jesus Cristo é um profeta, e mesmo assim honramos a Ele e a Deus,
acreditando que Deus o livrou da cruz. No entanto vocês sustentam que ele era o
Filho de Deus, e que Deus não fez enquanto O crucificavam. E você quer que
acreditemos nisso?" O argumento é, em geral, sincero — eles acreditam na sua
lógica, especialmente porque os filhos são muito valorizados nas famílias
muçulmanas em todo o mundo.

Um muçulmano foi mais longe comigo:


— Quantos filhos você tem? — ele me perguntou.

— Dois — respondi.

— Bem, se você visse um grupo de fascínoras atacando um deles, e se


você percebesse que eles iriam matá-lo, você não tentaria salvá-lo? Você não
ama seu filho?

Assim que você cai na armadilha e responde com um simples "sim", os


muçulmanos encerram o debate — é precisamente o que um bom Pai celeste faria
pelo seu filho. Respondi:

— Vou fortalecer ainda mais seu argumento antes de lhe responder: e


se você me visse andando numa estrada com uma faca numa das minhas mãos e
com o meu filho na outra, pronto para matá-lo? Isso não seria pior?

Ele concordou (havia caído na minha armadilha!).

— Então — continuei —, como você consegue acreditar que Abraão foi


um grande profeta e pai, se foi isso que ele fez? Ele preparou um dia para matar
seu próprio filho, de acordo com o Qur'an (Surata 37:102-103). Deus disse a
Moisés: "não matarás" (Êxodo 20:13). Você consegue ter uma imagem positiva de
Abraão quando ele se preparava para fazer isso com seu próprio filho?

Ele respondeu, e eu cito literalmente o que ele disse:

— Você não entende. Aquilo foi diferente! (ênfase minha). Foi um teste
do seu amor por Deus. Se um homem entregar seu filho para Deus, ele será
capaz de dar qualquer coisa a Ele!"

A porta estava aberta para um testemunho mais profundo, com


melhores resutados do que uma apresentação comum da mensagem do
Evangelho alcançaria.

— Exatamente! — respondi — E é precisamente o que eu estou


tentando explicar a respeito de Deus. Ele não agüentou ficar só olhando, e deu
prontamente seu Filho por nós para salvar-nos de nossos pecados. Foi a maior
prova de Seu amor que Ele poderia ter dado. João 3:!6!

Continuei:

— Deus poupou o filho de Abraão, mas não poupou o Seu próprio Filho.
Deus mostrou, ao ordenar que Abraão desse a melhor prova de amor do seu amor
por Deus possível, que era o sacrifício do seu filho, aquilo que ele iria fazer ao nos
dar a maior manifestação de Seu amor . Os cristãos sabem que, na cruz, Deus fez
a melhor coisa possível por nós. O islamismo tem algo comparável? Alá alguma
vez igualou o exemplo supremo de amor sacrificial de Abraão?
O que começou como uma ofensiva muçulmana contra o Evangelho
terminou com um testemunho muito mais impactante do que eu seria capaz de dar
se ele nunca tivesse levantado aquela questão. Use os argumentos dos
muçulmanos para fortalecer seu testemunho. Leve a conversas o mais longe
possível de discussões ríspidas e disputas, e traga o debate para onde ele deve
estar: testemunho evangelístico.

Concluindo, só posso enfatizar novamente que o conteúdo é tão


importante quando a forma da abordagem aos muçulmanos. Certifique-se de tudo
o que você faz e diz está sendo feito em espírito de amor genuíno por eles.

John Gilchrist

Benoni, África do Sul.

20 de março de 1999
Capítulo Um

A integridade da Bíblia
A autenticidade textual do Qur'an e da Bíblia

1.1 Os manuscritos bíblicos antigos

Muçulmano: Sua Bíblia não contém as escrituras originais que foram


reveladas a Moisés, Jesus e outros profetas. Ela foi modificada várias vezes.
Os nossos maulanas, pessoas estudadas, nos ensinaram isso. Que provas
vocês têm de que a sua Bíblia é totalmente autêntica e confiável?

Há muitos anos atrás, uma jovem muçulmana me perguntou se a Bíblia


já havia sido alterada. Respondi que era quase certeza que não, e ela
perguntou outra vez:

— Mas ela não ensina que Jesus Cristo é o Filho de Deus?

Eu confirmei que ela ensinava isso, e ela retrucou:

— Então ela foi alterada!

Qualquer cristão que consultar a bibliografia das publicações


muçulmanas citadas no final deste livro, ficará surpreso em descobrir que os
argumentos utilizados para questionar a integridade da Bíblia são, com
freqüência, extremamente fracos e não convincentes. Há apenas uma
explicação para isso: os muçulmanos não acreditam que a Bíblia tenha sido
modificada porque descobriram evidências plausíveis disso, mas sim porque é
necessário que rejeitar a autenticidade da Bíblia para manter sua convicção de
que o Qur'an é a Palavra de Deus. Dois livros conflitantes não podem ser
ambos a Palavra de Deus. Uma vez que eles descobriram, nos primeiros
séculos do islamismo, que a Bíblia ensinava enfaticamente doutrinas
fundamentais do cristianismo como a divindade e a ação redentora de Jesus
Cristo, eles não podiam mais abordar o tema objetivamente. Desde então,
eles procuram provar que isso não é mais do que uma suposição. A Bíblia tem
que ter sido alterada! A maior razão para os muçulmanos não acreditarem na
integridade bíblica é que eles não têm escolha se quiserem sustentar sua fé
no Qur'an.

É importante conhecermos quais as evidências a favor da autenticidade


textual da Bíblia, especialmente o fato de que nós temos manuscritos
verdadeiros, datados de séculos antes do islamismo, mostrando que a Bíblia
que temos em nossas mãos hoje é precisamente a que os judeus e cristãos
primitivos reconheciam como suas escrituras sagradas.

Os três grandes códices antigos

Há três grandes manuscritos da Bíblia em grego que chegaram até nós


(contendo a Septuaginta do Velho Testamento e o original em grego do Novo
Testamento), os quais datam de séculos antes de Maomé. São eles:

1. Codex Alexandrinus

Este volume, escrito no século V d.C., contém toda a Bíblia, exceto por
algumas páginas do Novo Testamento, que foram perdidas (Mateus 1:1 a 25,
João 6:50 e 5:52 e 2 Coríntios 4:13 a 12:6). Tudo que este manuscrito contém
faz parte da nossa Bíblia hoje. O manuscrito está no Museu Britânico, em
Londres.

2. Codex Sinaiticus

Este texto antiquíssimo, datado do final do século IV d.C., contém todo


o Novo Testamento e grande parte do Velho. Preservado por séculos na
Biblioteca Imperial em São Petesburgo, na Rússia, foi vendido por cem mil
libras ao governo britânico, e agora também faz parte do acervo do Museu
Britânico.

3. Codex Vaticanus

Provavelmente, é o mais velho manuscrito bíblico existente. Escrito no


século IV d.C., hoje faz parte da Biblioteca do Vaticano, em Roma. A parte final
do Novo Testamento, de Hebreus 9:14 até o fim do Apocalipse, está escrita
em letra diferente do restante (o escriba original provavelmente não conseguiu
completar o texto porque morreu, ou alguma outra razão).

Estes manuscritos provam conclusivamente que as únicas escrituras


nas mãos da Igreja, pelo menos duzentos anos de Maomé, eram o Velho e o
Novo Testamentos que conhecemos.

Outras evidências mais recentes da integridade da Bíblia

Há outras numerosas evidências que falam a favor da integridade da


Bíblia que datam de muitos séculos antes do islamismo. Quando discutindo
com muçulmanos, enfatize o seguinte:

1. Os textos massoréticos hebreus


Não são só os cristãos que têm manuscritos bíblicos. Os judeus
também possuem originais do Velho Testamento, que é a porção das escrituras
reconhecida por eles, no texto original em hebraico, com pelo menos mil anos de
idade. São conhecidos como textos massoréticos.

2. Os pergaminhos do mar Morto

Descobertos inicialmente em cavernas na região erma de Qumran, ao


redor do mar Morto em Israel, estes pergaminhos contém muitas porções do Velho
Testamento no hebraico original, e datam século II a.C.! Não mais que duas cópias
do livro de Isaías estavam nesta coleção, contendo profecias a respeito da morte e
ressurreição de Cristo (Isaías 53:1 a 12), seu nascimento de uma virgem (Isaías
7:14) e afirmação da sua divindade (Isaías 9:6 e 7).

3. A Septuaginta

Este é o nome da primeira tradução do Velho Testamento em grego. Foi


transcrita também no século II a.C., contendo todas as maravilhosas profecias a
respeito da vinda do Messias, o Filho de Deus (Salmos 2:7, 1 Crônicas 17:11 a
14), bem como os detalhes de seu sofrimento e morte (Salmos 22 e 69). A Igreja
primitiva usava a Septuaginta.

4. Vulgata Latina

A Igreja Católica Romana traduziu toda a Bíblia para o latim no século


IV d.C., usando a Septuaginta e manuscritos gregos antigos do Novo Testamento.
A Vulgata, assim como a Septuaginta, contém as mesmas escrituras do Velho e do
Novo Testamento que conhecemos hoje. Ela se estabeleceu como o texto padrão
da Igreja Católica Romana.

5. Porções do Novo Testamento em grego

Existem várias páginas, fragmentos e porções do Novo Testamento


original em grego, do século II d.C., que sobreviveram. Todos, reunidos, formam o
Novo Testamento que temos hoje. É muito interessante comparar essa riqueza de
evidências com as dos textos clássicos gregos e romanos, muitos dos quais são,
pelo menos, de mil anos depois de Cristo. De fato, nenhum outro texto antigo do
mesmo período tem hoje tantos manuscritos que lhe conferem autenticidade como
o Novo Testamento em grego.

O que é mais importante e deve ser enfatizado para os muçulmanos é


que não há fontes alternativas de evidências que sugiram que a vida e os
ensinamentos de Jesus Cristo foram muito diferentes daquilo que está registrado
na Bíblia. Todas as escrituras apócrifas rejeitadas pela Igreja seguiam, ao menos
em linhas gerais, os tópicos presentes nos manuscritos do Novo Testamento.
Certamente, não há nenhuma evidência histórica desse período que sustente que
Ele foi o profeta do islamismo que o Qur'an diz ter sido.
Concluindo, é proveitoso desafiar os muçulmanos a produzir evidências
históricas que fundamentem seus argumentos de que a Bíblia, como a
conhecemos hoje, tenha sido alterada. Como ela era originalmente? O que,
precisamente, foi alterado para transformá-la no livro que é hoje? Quem fez essas
mudanças? Quando elas foram feitas? Nenhum muçulmano, se desafiado a
identificar quem teria corrompido a Bíblia, em que momento da História isso teria
sido feito e, precisamente, quais as mudanças textuais foram feitas frente aos
manuscritos originais, será capaz de provar a acusação. Tais evidências
simplesmente não existem. Lembre-se sempre que os ataques dos muçulmanos
provêm não de um exame crítico das evidências, mas de uma hipótese
necessária. A Bíblia, em sua lógica, deve obrigatoriamente ter sido modificada se
ela contradiz o Qur'an — infelizmente, quando os muçulmanos abrem uma Bíblia
para ler, o fazem apenas para encontrar algo que justifique seu preconceito.

1.2 Os diferentes códices antigos do Qur'an

Muçulmano: Felizmente, o nosso Qur'an foi preservado intacto, sem


que uma única letra tenha saído do lugar. Nunca foi mudado, como a Bíblia, o que
prova indubitavelmente que o Qur'an é a infalível Palavra de Deus.

Desde a infância, os muçulmanos aprendem uma das maiores falácias


existentes: a de que a Bíblia foi modificada, enquanto que o Qur'an foi
miraculosamente protegido contra alterações. A verdade é que as evidências a
favor da autenticidade textual da Bíblia são muito mais eloqüentes do que as do
Qur'an. Considerando também o fato de que a Bíblia contém sessenta e seis
livros, compilados num período de mais de dois mil anos, e que o Qur'an, um livro
muito mais recente, surgiu a partiu de um único homem, durante um curto tempo
de vinte e três anos, há todas as razões do mundo para se acreditar que a Bíblia
tenha um respaldo maior para ser a Palavra de Deus preservada. Iremos, contudo,
contrastar as evidências que existem dos manuscritos bíblicos com o que
acontecem aos códices antigos do Qur'an.

A compilação original do texto do Qur'an

Durante a vida de Maomé, o textos do Qur'an não foram escrito nem


reunidos num único volume. Num dos mais confiáveis relatos da vida e
ensinamentos de Maomé, é afirmado que o Qur'an veio ao profeta de maneira
mais abundante pouco antes de sua morte, e que neste período se deu a maior
parte da sua revelação (Sahih al-Bukhari, Vol. 6, p. 474). Assim, não havia razão
para se produzir um livro único, especialmente porque mais porções podiam ser
esperadas enquanto Maomé vivesse.

Foi só depois da morte de Maomé que foram feitas as primeiras


tentativas de se compilar os manuscritos de todo o texto do Qur'an. A mesma fonte
diz que Abu Bakr, sucessor imediato de Maomé, encorajou um conhecido recitador
do Qur'an, Zaid ibn-Thabit, a coletá-los. Esse jovem relatou que foi obrigado a
obtê-los de várias fontes, desde caules de folhas de palmeira, pedras brancas
finas e outros materiais nos quais partes foram registradas, bem como da memória
daqueles que conheciam os ensinamentos de cor. Pelo menos um verso veio de
apenas uma pessoa, Abi Khuzaima al-Ansari (Sahih al-Bukhari, vol. 6, p. 478).
Reunidas, essas fontes não eram nem de longe as ideais para uma compilação
perfeita e livre de erros.

Na época, esse manuscrito tinha pouca significância além de ter sido


comissionado pelo próprio Califa. Cai no esquecimento, depois de ter ficado sob a
custódia privada de Hafsah, uma das viúvas de Maomé (Sahih al-Bukhari, vol. 6,
p. 478). Outros códices logo foram feitos, compilados por companheiros próximos
de Maomé; é importante se familiarizar com os mais bem conhecidos.

1. Abdullah ibn Mas'ud

Um dos primeiros a se converter ao islamismo. Está registrado que,


quando Maomé mencionou as quatro maiores autoridades do Qur'an, que eram os
capacitados para ensiná-lo, ele deliberadamente mencionou Abdullah em primeiro
lugar (Sahih al-Bukhari, vol. 5, p. 96). É sabido que ele compilou seu próprio
manuscrito do Qur'an, que se tornou o texto oficial em Kufa. Ele próprio disse que
ninguém conhecia o livro melhor do que ele (Sahih al-Bukari, vol. 6, p. 488).

2. Salim, o ex-escravo de Abu Hudhaifa

Foi o segundo, na lista das quatro autoridades, a ser mencionado por


Maomé. Apesar de ter sido morto na batalha de Yamama não muito depois da
morte de Maomé, ele é citado como o primeiro a reunir os textos do Qur'an numa
mushaf — manuscrito ou códice escrito (As Suyuti, Al-Itqan fii 'Ulum al-Qur'an, vol.
1, p. 135).

3. Ubayy ibn Ka'b

Também citado entre os quatro, diz-se que Alá teria ordenado que
Maomé o ouvisse recitar porções do Qur'an. Ele era conhecido como o sayid al-
qurra (mestre da récita), e também compilou seu próprio texto do Qur'an, o qual se
tornou o texto preferido dos muçulmanos na Síria.

Muitos outros códices foram transcritos ao mesmo tempo. Desses, os


manuscritos de Ali, Ibn Abbas, Abu Musa, Anas ibn Malik e Ibn az-Zubair estão
bem documentados.
A ordem de Uthman de destruir os outros códices

Durante o reinado de Uthman, o terceiro sucessor (califa) de Maomé,


chegou até ele a notícia de que os muçulmanos em várias províncias estavam
divergindo consideravelmente na leitura do Qur'an. Uthman decidiu unir o povo
com um musaf wahid (texto único) e, depois de solicitar o códice de Zaid (que,
convenientemente, estava em Medina, cidade sob possessão de Hafsah e sede
do governo do califado), ordenou a este que, com três outros, transcrevesse seu
manuscrito para sete outras réplicas exatas e enviasse uma cópia para cada
província, com a ordem de que todos os outros manuscritos do Qur'an existentes
fossem queimadas (Sahih al Bukhari, vol. 6, p. 479). Os códices de Abdullah ibn
Mas'ud e Ubayy ibn Ka'b foram particularmente execrados e destruídos.

Abdullah ibn Mas'ud, de início, resistiu à ordem. A cópia de Zaid nunca


havia sido padronizada como texto oficial, e fora escolhida puramente pela
conveniência de estar à mão em Medina e de não ser identificada com nenhum
grupo muçulmano. Abdullah reclamou que ele obteve as setenta suratas
diretamente de Maomé, quando Zaid era apenas uma criança — porque agora ele
deveria abandonar o que conseguira? (Ibn Abi Dawud, Kitab al-Masahif, p. 15). Ele
também declarou claramente que preferia a o Qur'an que provinha da récita do
próprio Maomé do que o de Zaid, sugerindo que não via o códice de Zaid como
totalmente autêntico e acrescentando que "o povo foi culpado de embuste na
leitura do Qur'an" (Ibn Sa'd, Kitab al-Tabaqat al-Kabir, vol. 2, p. 444).

Apesar das abundantes evidências de que o códice de Zaid era apenas


mais um entre muitos outros manuscritos antigos, sem motivos para se crer que
fosse o melhor disponível, ou pelo menos uma cópia autêntica, ele foi padronizado
por Uthman como texto oficial do Qur'an, e assim permanece até hoje. Ainda
nesse capítulo, será feita uma comparação entre as centenas de leituras textuais
discrepantes em todos os códices antigos do Qur’an e as poucas da Bíblia. Neste
ponto, entretanto, precisamos somente considerar a ação de Uthman de condenar
à fogueira muitos manuscritos do Qur'an compilados por alguns dos companheiros
mais chegados de Maomé, incluindo dois dos quatro que ele nomeou como as
maiores autoridades no Qur'an, de quem os outros deviam aprendê-lo.

A Bíblia foi queimada apenas pelos seus inimigos. Uthman queimou


todos os outros manuscritos do Qur'an que não aquele que estava
convenientemente à sua mão. Os códices que haviam sido considerados como
textos com autoridade nas várias províncias foram queimados em favor de um
manuscrito que Hafsah mantinha debaixo da sua cama! Essa ação desfavorece o
Qur'an, e contrasta com as evicências que consideramos a respeito dos textos
bíblicos.

As passagens de Marcos 16 e João 8

Muçulmano: Há duas passagens nos evangelhos que aparecem em


alguns manuscritos antigos, mas não em outros. Algumas edições da Bíblia RSV
trazem esses trechos, mas outras o omitem. Isso não prova de uma vez por todas
que a Bíblia foi modificada?

Apesar da grande extensão da Bíblia (é quase cinco vezes a do


Qur'an), há somente duas passagens sobre as quais pode haver dúvidas quanto à
autenticidade. Elas preenchem menos do que uma página de um livro que tem
mais de mil. Vamos analisá-las:

Marcos 18:9 a 20: As aparições de Jesus após a ressurreição

Essa passagem descreve várias aparições pós-ressurreição de Jesus,


e a sua ascensão ao céu. Ela não aparece em manuscritos muito antigos do
evangelho de Marcos, mas é a conclusão do livro em muitos dos textos em grego
um pouco mais recentes que aqueles manuscritos. Alguém teria adicionado essa
breve passagem ao evangelho de Marcos? Como não se conhece nenhum outro
caso em que é possível que tenha havido adição ao texto original no Novo
Testamento (exceto João 8:1 a 11), é altamente improvável que essa seção tenha
sido feita alguns séculos depois que o livro foi escrito, e que tenha ganho
aceitação como parte integrante do texto. É muito mais provável que ela seja
autêntica, e tenha sido omitida dos textos mais antigos por circunstâncias
desconhecidas.

Cada um dos quatro evangelhos possui a sua conclusão. Sem essa


passagem, o evangelho de Marcos terminaria abruptamente. Ela registra a
aparição de um anjo a três mulheres, que as envia para a Galiléia, onde elas
poderiam ver a Jesus. É muito improvável que o evangelho terminasse sem relatar
o que aconteceu com ele. Outro ponto é se a passagem ensina algo que contrarie
o resto do Novo Testamento. Estes pontos são relevantes:

1. A aparição de Jesus a Maria Madalena

Os versículos de 9 a 11 registram que ele apareceu no primeiro dia


depois da sua ressurreição a Maria Madalena. Esse incidente é relatado com mais
detalhes em João 20:11 a 18.

2. Outra aparição a dois seguidores

Mais uma breve referência, que delineia a interação de Jesus com dois
dos seus discípulos, mais tarde naquele dia. Esse incidente, da mesma forma, é
contado com detalhes mais específicos em Lucas 24:13 a 35.

3. Sua comissão aos seus onze discípulos

A seguir, Ele aparece aos seus onze discípulos remanescentes (depois


da morte de Judas); Ele os encontra quando estavam reunidos à mesa. O
mandamento de pregar o Evangelho a toda criatura se segue a outras falas, que
explicam a comissão. A aparição, outra vez, tem paralelos em Mateus 28:19 e
Lucas 24:36 a 43.
4. A ascensão de Jesus ao céu

A passagem em questão conclui com uma breve narrativa da ascensão


de Jesus, logo depois, ao céu, e da saída dos discípulos para pregar a mensagem
em todo lugar. Isso também é confirmado pelo primeiro capítulo de Atos.

Não há nada nessa passagem que não seja repetido em algum outro
ponto do Novo Testamento. Os muçulmanos precisam provar que os
ensinamentos da Bíblia cristã não são os que haviam sido originalmente
registrados, e que o livro inteiro teria sido alterado do que alegadamente era, ou
seja, um texto consistente com o islamismo. Argumentos a respeito dessa
passagem em particular não chega nem perto de discutir a questão real. Nada
aqui conflita com o conteúdo geral do Novo Testamento e, como foi visto, todos os
acontecimentos relatados tem paralelos nos outros livros.

João 8:1 a 11: a mulher pega em adultério

A única outra passagem sobre a qual pode haver alguma dúvida no


Novo Testamento é a história de Jesus e da mulher que havia sido pega em
adultério, cujo relato está em João 8:1 a 11. Alguns manuscritos antigos o incluem
exatamente nessa porção do livro; outros o omitem completamente e, ainda,
outros o trazem como um apêndice ao evangelho de Lucas. Parece que havia um
consenso entre os primeiros cristãos de que a passagem era legítima, embora sua
localização dentro dos textos fosse discutida. Há, de fato, várias razões que levam
a crer que ela era originalmente parte do evangelho de João exatamente onde
está hoje, no início do oitavo capítulo.

1. Os ministérios contrastantes de Moisés e Jesus

Por todo o evangelho de João, desenha-se um contraste entre o


ministério limitado de Moisés, e o cumprimento de todos os propósitos de Deus
em Jesus Cristo. "Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a
verdade vieram por meio de Jesus Cristo." (João 1:17). Este versículo resume a
afirmação inicial. Por exemplo: apesar de Moisés ter alimentado o povo com pão
durante quarenta anos, todos eles morreram. Mas aquele que se alimenta do pão
da vida eterna oferecido por Jesus irá viver eternamente (João 6:31 a 35). Da
mesma maneira os que foram circuncidados no sábado apenas para cumprir a lei
de Moisés — quanto mais poderia ser feito com todo o corpo no sábado por Jesus
(João 7:23). Portanto, nessa passagem em que a lei de Moisés condenava a
mulher envolvida em adultério, à luz da presença e do ensinamento de Jesus,
todos os presentes deixaram a cena acusados pelo seu pecado (João 8:7 a 9). A
mulher, contudo, ficou para experimentar a graça salvadora trazida por Jesus
(João 8:10 a 11).

2. O uso do termo "mulher" por Jesus

Depois que todos os líderes judeus haviam deixado o cenário, Jesus se


dirigiu à mulher adúltera: "Mulher, onde estão aqueles teus acusadores?
Ninguém te condenou?" (João 8:10). Este uso incomum do vocativo "mulher"
por Jesus, como se fosse um pronome de tratamento respeitoso (como
"senhor"), aparece mais vezes no evangelho de João em muitas ocasiões
(João 2:4, 4:21, 20:15), mas não é encontrado nos outros evangelhos.

3. A seqüência lógica dos eventos

Os fariseus, que não haviam sido mencionados no evangelho até esta


passagem, surgem repentinamente, sem que tenham sido apresentados, na
discussão com Jesus em João 8:13. São introduzidos claramente na história
em João 8:3. Igualmente, o debate acalorado entre eles e Jesus, que continua
durante o resto do capítulo, é obviamente conseqüência dos fatos narrados
em João 8:1 a 11. Ao longo de todo o seu evangelho, João registra incidentes
na vida de Jesus que geraram desavenças e debates com os líderes judeus
(cf joão 6:1 a 59). Sem a história da mulher pega em adultério, e a interação
subseqüente de Jesus com os líderes judeus, essa tendência ficaria
descaracterizada.

4. 4. Jesus e Moisés: a condenação do pecado

No debate com esses líderes, Jesus indagou: "Quem dentre vós me


convence de pecado?" (João 8:46). A pergunta seria isolada, se não fosse o
episódio com a mulher. É nesta passagem que Jesus, ousado, lhes desafia:
"Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a
pedra." (João 8:7). Um por um, face ao desafio, deixou o local, começando
pelo mais velho, até que Jesus ficasse só com a mulher. A estocada é clara:
Ele os condenou todos pelos seus pecados, mas qual deles seria capaz de
fazer o mesmo com Ele?

Há evidências consideráveis, se não plenamente convincentes, de que


o trecho de João 8:1 a 11 pertence exatamente ao lugar em que está.
Novamente, não há nada que seja conflitante com tudo o que ensina o Novo
Testamento. Não há, portanto, nenhuma evidência relevante ou significante
que sustente a tese de que passagens teriam sido omitidas ou adicionadas à
Bíblia, cujo conteúdo teria sido alterado transformando um texto originalmente
fiel ao islamismo num livro cristão. Argumentos sobre as duas porções que
analisamos aqui não provam a hipótese muçulmana. Conforme já foi dito, as
duas juntas não preenchem uma página — uma prova insuficiente de que a
Bíblia teria sido modificada.

Ao contrário, demonstraremos a seguir que há muito mais evidências


que sugerem que partes do Qur'an teriam sido omitidas do texto original.
Ainda, veremos mais uma vez que a integridade textual do Qur'an original é,
de longe, muito mais questionável do que a da Bíblia, mesmo sendo o livro
cristão cinco vezes mais extenso e compilado durante um período de séculos
a mais que o Qur'an.
Passagens que foram removidas do Qur'an

Muçulmano: O Qur'an é um livro completo, exatamente como foi


revelado ao nosso santo Profeta. Nada nunca foi adicionado ou retirado dele.
Isso também prova que ele é a infalível Palavra de Alá.

Ao contrário da crença popular muçulmana, há numerosas evidências


que provam que o Qur'an, da maneira como se apresenta hoje, está
incompleto. Abdullah ibn Umar disse, logo nos primórdios do islamismo:

"Que nenhum de vocês diga: 'adquiri todo o Qur'an'. Como alguém


pode saber que todo é esse, quando muito do Qur'an desapareceu? Ao invés
disso, diga: 'adquiri o que sobreviveu até nós'. " (As-Suyuti, Al Itqan fii Ulum al-
Qur'an, p. 524)

Há muitos registros de versículos, passagens e até mesmo de seções


inteiras que teriam sido parte do Qur'an original, e que não pertencem mais a
ele. A seguir, alguns exemplos importantes:

Suratas inteiras que foram removidas do Qur'an

Abu Musa al-Ashari, um amigo próximo de Maomé e uma das primeiras


autoridades no Qur'an, disse, quando ensinava as récitas do Qur'an em Basra:

"Costumávamos recitar a surata que lembrava em tamanho e rigor à


[surata] Bara'at. No entanto, eu a esqueci, exceto esse pedaço que sei de cor:
'Se houvesse dois vales cheios de riquezas, para o filho de Adão, este
buscaria um terceiro vale; e nada encheria o estômago do filho de Adão senão
pó.' " (Sahih Muslim, vol. 2, p. 50)

A tradição está preservada num dos dois mais reconhecidos


compêndios de provérbios de Maomé. Ao lado da Sahih al-Bukhari, a Sahih
Muslim é vista como o registro mais autêntico da vida do profeta. Outros dos
seus companheiros, como Anas ibn Malik e Ibn Abbas, também relataram que
Maomé costumava recitar o verso citado acima, mas não estavam certos se
ele fazia parte do Qur'an ou não.

Abu Musa também menciona outra surata, que foi recitada nos
primórdios do islamismo pelos companheiros de Maomé:

"E ele costumava recitar uma surata que lembrava uma das suratas de
Musabbihat, da qual não me lembro mais senão este trecho: 'Ó povo que
acredita, por que não praticais aquilo que dizeis ' (61:2) e 'que está registrado
em seus pescoços e como testemunha (contra vós) e sereis interrogados a
respeito disso no Dia da Ressurreição.' (17:13) (Sahih Muslim, vol. 2, p. 50)

A Musabbihat é um grupo de cinco suratas (57, 59, 61, 62 e 64) que


começam com a expressão "Que tudo o que está nos céus e na Terra louve
(sabbahu ou yusabbihu) a Allá". Esses registros de pelo menos duas suratas
que foram perdidas provam que o Qur'an não é perfeito e completo como os
muçulmanos afirmam ser. Quando eles levantarem argumentos contra as
passagens que analisamos nos evangelhos de Marcos e João, será útil
mencionar essas suratas na réplica.

Verscíulos omitidos no Qur'an

Além dos versículos mencionados nas duas tradições no Sahih Muslim,


há evidências de outros que hoje não estão mais no Qur'an. Alguns deles são:

1. A religião de Alá é al-Hanifiyyah

Há uma tradição da Jami as-Sahih de at-Tirmidhi de que o verso a


seguir já foi parte da Suratul-Bayyinah (Surata 98) do Qur’an:

“A religião com Alá é al-Hanifiyyah (o Caminho Correto), e não a dos


judeus ou cristãos; e aqueles que a seguirem não ficarão sem
recompensa.” (As-Suyuti, Al Itqan fii Ulum al-Qur’an, p. 525)

A passagem poderia muito bem ser parte dessa surata, pois se encaixa
perfeitamente no seu contexto e contém palavras que são encontradas no
resto do texto como din (religião, v. 5), aml (fazer, v. 7) e humafa (correto, v. 4).
A surata também contrasta o caminho de Alá com o dos judeus e cristãos em
outras partes do texto, e é um bom exemplo de verso que foi retirado do
Qur’an.

2. Apedrejamento de adúlteros até a morte

Umar ibn al-Khattab, um dos companheiros mais próximos de Maomé e


seu segundo sucessor, ensinou claramente de púlpito, em Medina enquanto
foi Califa, que, apesar de ser ensinado na Surata 24:2 que os adúlteros
deveriam ser chicoteados cem vezes, um verso do Qur’an estipulava
originalmente que homens e mulheres casados que cometessem adultério
deveriam ser apedrejados até a morte.

“Veja que não esqueças o verso sobre apedrejamento e digas: ‘Não o


encontramos no Livro de Alá’; o Apóstolo de Alá (que a paz seja sobre
ele) ordenou o apedrejamento, e assim nós temos feito após ele. Pelo
Senhor que tem domínio sobre a minha vida, se o povo não fosse me
acusar de acrescentar algo ao Livro de Alá, eu mesmo teria transcrito
para o Livro: ‘O homem e a mulher que cometerem adultério, apedrejai-
os.’ Temos lido este verso.“ (Muwatta Imam Malik, p. 352)

Várias outras fontes confirmam que esse verso era originalmente parte
do Qur’an, e hoje não consta mais dele. Pode-se citar Umar dizendo que
parte da escritura revelada a Maomé foi o ayatur-raja (verso do
apedrejamento), que foi memorizado, entendido e recitado por eles. Ele
acrescentou que temia que o povo, no futuro, ao descobrir que não havia mais
o verso no Qur’an, esquecesse a ordenança (Sahih al-Bukhari, Vol. 8, p. 539).

3. A descendência exclusivamente paterna

Outro verso que, segundo Umar, seria originalmente parte do kitabullah


(livro de Alá, ou seja, o Qur’an) mas que, na época seu califado, teria se
perdido é o seguinte:

“Ó povo! Não te consideres descendência de ninguém senão de teus


pais, pois é incredudilidade de tua parte afirmar que és descendente de
outro que não o teu pai verdadeiro.” (Sahih al-bukhari, Vol. 8, p. 540)

4. A satisfação de Alá

Anas ibn Malik, outro companheiro de Maomé, ensinou o seguinte


verso que teria sido parte do Qur’an e mais tarde revogado e retirado do texto:

“Dá ao nosso povo de nossa parte a notícia que encontramos nosso


Senhor, e Ele está satisfeito conosco, e tem nos satisfeito também.”
(Sahih al-bukhari, Vol. 5, p. 288)

Também está registrado que este texto estava “escrito num verso do
Qur’an antes de ser retirado” (As-Suyuti, Al Itqan fii Ulum al-Qur’an, p. 527). É
outra prova de que o Qur’an não foi preservado sem nenhuma alteração,
modificação ou omissão, como acreditam os muçulmanos. Ao contrário, as
evidências de que algumas passagens tenham sido retiradas do Qur’an são,
como podemos ver, muito mais eloqüentes do que as que dizem respeito à
Bíblia.

5. Casamento entre pessoas amamentadas pela mesma mãe

Outra tradição relatada por Ayishah, uma das viúvas de Maomé, diz que havia
uma passagem no Qur’an que ensinava que, se duas pessoas tivessem sido
amamentadas pela mesma mãe por mais de dez vezes, elas não podiam se casar.
Mais tarde, segundo ela, o número foi reduzido a cinco:
“A’isha (Alá se alegre com ela) relatou que foi revelado no Santo Qur’an que dez
mamadas tornavam o casamento proibido; mais tarde foi modificado para cinco
mamadas e o Apóstolo de Alá (viu) morreu, e isso foi antes desse tempo no Santo
Qur’an.” (Sahih Muslim, Vol. 2, p. 740)

Estas são apenas algumas evidências selecionadas de que o Qur’an é um livro


incompleto. Os cristãos deveriam usar essas provas com os muçulmanos, para
mostrar-lhes que seus desafios a respeito da integridade do texto bíblico pode ser
facilmente — e com muito mais propriedade — serem utilizados contra o Qur’an.
Como diz o ditado, quem tem telhado de vidro não deve atirar pedras.

1.5. Variações das leituras do Novo Testamento

Muçulmano: Há muitos exemplos na Bíblia de versículos que aparecem apenas


em alguns manuscritos, e não em outros. Outros tipos de variações do texto
também podem ser encontradas. Como a sua Bíblia pode ser a verdadeira
Palavra de Deus se o seu texto não pode ser completamente verificado?

Os muçulmanos acreditam com grande convicção que o Qur’an é um livro perfeito,


no qual nenhuma vírgula foi alterada ou omitida, e que esse miraculoso estado de
preservação prova que o livro é a Palavra de Deus. Ao mesmo o tempo, qualquer
prova basta para demonstrar que a Bíblia foi modificada e portanto não é
confiável. Nós não acreditamos que, para ser a autêntica Palavra de Deus, um
livro tenha que estar totalmente intacto. Ao contrário, se ele tiver sido protegido e
preservado com apenas alguns erros de cópia do original, variações
negligenciáveis e uma ou duas passagens incertas, sua integridade global não
pode ser questionada. Como já vimos, e iremos ver novamente na próxima seção,
o Qur’an não foi todo transcrito corretamente, e sofre com mais variações e
passagens perdidas do que a Bíblia.

As poucas variações no Novo Testamento

É notável que o texto bíblico tenha sido preservado com não mais do que algumas
poucas variações no texto. Todas elas, ao redor de vinte, estão no Novo
Testamento. Como foi ressaltado por Kenneth Cragg, apenas um milésimo do livro
foi afetado, o que não basta para os muçulmanos provarem que a Bíblia, como um
todo, tenha sido dramaticamente alterada a ponto de não conter mais a
mensagem original.

Mais do que isso, nenhuma das variações encontradas no texto do Novo


Testamento afeta, mesmo que levemente, o conteúdo de um livro como um todo,
ainda que algumas delas não tenham nenhum tipo de paralelo nos outros
evangelhos, que virtualmente se repetem. Vamos considerar algumas destas
variações para exemplificar:
1. Marcos 15:28: uma citação de Isaías 53:12

Um versículo encontrado em vários originais do evangelho de Marcos, mas não


em todos, diz: “E cumpriu-se a Escritura que diz: ‘Com malfeitores foi
contado’.” (Marcos 15:28). A passagem é uma referência ao texto do sofrimento
messiânico em Isaías 53:12. Ele é encontrado, no entanto, também como uma
citação, em todas as cópias conhecidas do evangelho de Lucas: “Pois vos digo
que importa que se cumpra em mim o que está escrito: ‘Ele foi contado com
os malfeitores’ (...)” (Lucas 22:27).

A “variação” nessa passagem do evangelho de Marcos, como todas as outras do


Novo Testamento, não afeta o contexto geral. Um arranhão num Rolls Royce
pode ofuscar um pouco da sua perfeição, mas não faz com que o carro deixe de
ser um Rolls Royce.

2. Mateus 21:44: sendo destruído por uma pedra que cai

Na parábola dos lavradores na vinha, registrada no evangelho de Mateus, a


seguinte frase de Jesus é encontrada somente em alguns poucos manuscritos do
livro: “Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre
quem ela cair ficará reduzido a pó.” (Mateus 21:44)

Por outro lado, o texto se repete quase que com as mesmas palavras em Lucas
20:18. Portanto, a variação não afeta a mensagem geral do texto. O mesmo se
aplica a Mateus 23:14, que contém outra frase de Jesus, desta vez uma
advertência aos fariseus que devoravam a casa das viúvas. O versículo só faz
parte de alguns textos mais antigos do evangelho de Mateus, mas se repete em
Marcos 12:40.

3. I João 5:7: O Pai, a Palavra e o Espírito Santo

Neste caso, estamos diante de um versículo que aparece em nenhum dos


manuscritos em Grego, a língua em que se escreveu os originais do Novo
Testamento, mas que pode ser rastreado até a tradução da Bíblia para o latim,
conhecida como Vulgata Latina. A partir dali o versículo é encontrado nos textos
do Novo Testamento transcritos em grego mais recentes, nos quais foi baseada a
versão do rei James3.

O versículo diz: “Pois há três que dão testemunho no céu: o Pai, a Palavra e o
Espírito Santo; e estes três são um.” (1 João 5:7). Como não aparece em
nenhum dos textos mais antigos do evangelho de João, é provável que este
versículo fosse uma nota de rodapé de algum escriba, um complemento ao
versículo seguinte, que diz: “E três são os que testificam na terra: o Espírito, a
água e o sangue, e os três são unânimes num só propósito.”

Os muçulmanos esforçaram-se para desacreditar a integridade do texto bíblico


3 N.T. A versão do rei James (King James Version) é a tradução da Bíblia mais popular entre os cristãos de
fala inglesa.
usando esse versículo, defendendo que ele seria a única passagem que
fundamentaria a doutrina da Trindade em toda Bíblia. Convenientemente,
desprezaram outra afirmação igualmente defensora da Trindade: “... batisando-
os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:18), bem como
ensinamentos similares em 2 Coríntios 13:14 e Efésios 2:18.

Há muitos outros casos no Novo Testamento, sobretudo nos quatro evangelhos,


onde há pequenas variações nos originais que afetam palavras, expressões ou
orações curtas. Novamente, nenhum dessas diferenças afetam os ensinamentos
do livro como um todo, ou sua autenticidade geral.

As variações na Bíblia podem ser tão facilmente explicadas e têm tão pouca
importância que não afeta de maneira alguma a integridade geral do livro. As
escrituras, na sua totalidade, foram preservadas até nós virtualmente inalteradas,
ao contrário do Qur’an, onde cada manuscrito que foi produzido pelos
companheiros de Maomé, com excessão de um deles, foi jogado na fogueira para
ser destruído.

1.6 Evidências das variações no Qur’an

Muçulmano: Não há variantes que afetem o texto atual do Qur’an. Nos primeiros
dias, o Qur’an foi recitado em diferentes dialetos, que só afetaram a pronúncia dos
seus versos. Por isso, os primeiros manuscritos foram queiados: para eliminar
essas pequenas diferenças de pronúncia.

Essa afirmação, que auto-evidencia sua falta de lógica, é típica da maioria das
explicações dos muçulmanos para a queima de todos os outros códices escritos
pelos companheiros de Maomé, que continham variações, por Uthman. A
pronúncia não tem nada a ver com textos escritos. Não se pode “queimar” as
diferenças dos dialetos com uma língua comum! Devem ter existido diferenças
textuais significantes entre os vários manuscritos para que uma decisão tão
drástica tenha sido tomada.

Na época de Uthman, o Qur’an ainda era melhor conhecido de memória por


grande parte dos muçulmanos, e a ordem de queimar os manuscritos não eliminou
o conhecimento das variações. Durante algum tempo, historiadores do Qur’an
como Ibn Abi Dawud, que compilou um registro dessas variações chamado Kitab
al-Masahif (Livro dos Manuscritos), e Muhammad Abu Jafar at-Tabari, autor do
monumental trabalho sobre o Qur’an chamado Jami al-Bayan fii Tafsir al-Qur’an
(Uma compilação completa para um comentário do Qur’an), preservaram um
registro de todas as variações conhecidas entre os diferentes textos antigos.

As diferenças entre os primeiros textos

As evidências, sobretudo dos relatos de at-Tabari, mostram que havia,


literalmente, centenas de variações entre os primeiros manuscritos. Arthur Jeffery,
que compilou um catálogo das diferenças entre os textos baseando-se nos
trabalhos de Ibn Abi Dawud e at-Tabari, listou-as nas trezentas e sessenta e duas
páginas do seu livro Materials for the history of the text of the Qur’an (Materiais
para a história do texto do Qur’an). Seu livro também inclui a íntegra de Kitabe al-
Masahif, de Ibn Bai Dawud. Perto dessas diferenças, as encontradas no texto
bíblico parecem insignificantes e, mais uma vez, é importante lembrar que a Bíblia
é séculos mais antiga que o Qur’an, é cinco vezes maior e foi escrita por vários
autores durante um período de dois mil anos.

Quando os muçulmanos argumentarem que a Bíblia foi modificada, será bastante


útil mencionar algumas das variações encontradas entre os primeiros manuscritos
do Qur’an. Alguns exemplos interessantes:

1. O dia da ressurreição

A Surata 2:275 começa com as palavras: “Os que praticam a usura só serão
ressuscitados como aquele que foi perturbado por Satanás” (Allathiina
yaakuluunar-ribaa laa yaquumuuna). No texto de Ibn Mas’ud, encontram-se as
mesmas palavras, porém no final foi acrescentado yawmal qiyaamati (“no Dia da
Ressurreição). Essa diferença foi mencionada por Abu Ubaid’s, no seu Kitab
Fadhail al-Qur’an, e também relatado no códice de Talha ibn Musarrif.

2. Jejuando por três dias consecutivos

A Surata 5:89, no texto do Qur’an atual, contém uma exortação ao “jejum de três
dias” (fasiyaamu thalaathatiu ayyaamin). O texto de Ibn Mas’ud inclui o adjetivo
mutataabi’aatin, mudando a expressão para “jejuar por três dias consecutivos”.
At-Tabari registra a variação (7.19.11), bem como Abu Ubaid. Ubayy ibn Ka’b, Ibn
Abbas e Ar-Rabi ibn Khuthaim também a relataram.

3. O caminho de Alá

A Surata 6:153 do Qur’an começa assim: “Esta é a Minha senda reta” (wa anna
haathaa siraati). No manuscrito de Ibn Mas’ud lê-se: “Este é a senda do seu
Senhor” (wa haathaa siraatu rabbakum). At-Tabari, mais uma vez, é quem registra
a variação (8.60.16). Ubayy ibn Ka’b, o outro grande especialista no texto do
Qur’an, e companheiro próximo de Maomé, escreveu como at-Tabari, exceto a
palavra rabbika ao invés de rabbakum. Outras diferenças neste texto também
foram encontradas.

4. As mães dos crentes

A Surata 33:6 fala a respeito de “mulheres e mães” de Maomé e dos crentes


muçulmanos (azwaajuhuu ummahaatuhuu). At-Tabari registra a maior diferença —
Ibn Mas’ud e Ubayy ibn Ka’b incluem as palavras que hoje, aparentemente, faltam
no texto do Qur’an: “e ele é o pai deles” (wa huwa abuu laahum). Ibn Abbas,
Ikrima e Mujahid ibn Jabir também as registram. O número de testemunhas
textuais sugerem que o texto de Zaid (que é o Qur’an atual) deixou essa parte que
fazia parte do texto original de fora.

Estas são apenas quatro da vasta coleção de variações que existem. Há tantas
delas (mais de duas mil) que é de se admirar a convicção com que os
muçulmanos atacam a integridade bíblica. Muitas vezes, eles simplesmente
ignoram a maneira pela qual o Qur’an foi padronizado, eliminando a riqueza de
variações em prol do texto único atual.

Modificações feitas no Qur’an por Al-Hajjaj

Há evidências claras em Kitab al-Masahif, de Ibn, Abi Dawud, que pelo menos
onze palavras foram, individualmente, modificadas pelo escriba al-Hajjaj, sob as
ordens do seu califa, Abd al-Malik. O livro possui um capítulo chamado Bab: Ma
Ghaira al-Hajjaj fii Mushaf Uthman (Capítulo: O que foi modificado por Al-Hajjaj no
texto de uthmânico). O capítulo começa assim:

“Ao todo, Al-Hajjaj ibn Yusuf fez onze modificações no texto de Uthman. Em al-
Baqarah (Surata 2:259), lia-se originalmente Lam yatassana waandhur, que foi
alterado para Lam yatassanah.” (Ibn Abi Dawud, Kitab al-Masahif, p. 117)

Algumas das mudanças feitas no Qur’an nessa ocasião, segundo relatado no


capítulo citado de Ibn Abi, são:

1. Sharity’ah foi trocado para shir’ah (lei) na Surata 5:48;

2. Uthasharukum foi trocado para yusayyirukum (viagem) na Surata 10:22;

3. Ma’a’ishahum foi substituído por ma’ishatahum (modo de subsistência) na


Surata 43:32;

4. Yasin foi mudado para Aasin (água salobra) na Surata 47:15.

Em todos estes casos, bem como nos outros sete relatados, as diferenças
geralmente são de uma letra ou duas. Não são, contudo, restritas à pronúncia, e
refletem uma modificação real no texto consonantal, minando, assim, o argumento
muçulmano de que nem uma letra sequer do Qur’an foi mexida. A palavra que Ibn
Abi Dawud sempre usa para ligar as duas alternativas distintas é faghyirah, que
significa “mudada, alterada, trocada por” — palavra que os muçulmanos não
gostariam de ver, há tanto tempo atrás, sendo usada para explicar alterações no
Qur’an!

Dialetos e o texto do Qur’an


É muito importante saber que não há vogais nos primeiros manuscritos do
Qur’an. O árabe escrito não possui vogais — só séculos depois é que foram
adicionadas vogais ao Qur’an. Os manuscritos mais velhos do Qur’an que
chegaram aos nossos dias não têm mais do que cem ou cinqüenta anos mais do
que a morte de Maomé, e foi escrito na escrita al-ma’il de Medina. A maioria dos
outros manuscritos restantes estão na escrita kufic, uma espécie de escrita mais
legível originária de Kufa, no Iraque.

Afirma-se hoje que os manuscritos uthmânicos sobreviveram, e teriam até


manchas de sangue na página que Uthman lia quando foi assassinado. Um
desses manuscritos está no Museu Topkapi, em Istambul, e outro é o famoso
Códice Smarqand de Tashkent. Ambos estão na escrita kufic, e datam de mais de
um século depois da época em que Uthman viveu.

Como já foi dito, o argumento predileto dos muçulmanos para sustentar a


hipótese de que o texto atual do Qur’an é uma réplica exata e fiel aos originais é
que as únicas variações existentes no início eram na pronúncia dos dialetos. As
evidências provam conclusivamente o contrário. Essas diferenças não
apareceriam num texto escrito e, de fato, incontáveis formas de escrita
sobreviveram por pelo menos três séculos até que Ibn Mujahid, uma conhecida
autoridade no Qur’an na corte de Abbasid em Bagdá, ordenasse que só sete
poderiam delas continuar. Ele baseava-se numa tradição vinda do próprio Maomé,
a de que o Qur’an teria sido revelado em “sete maneiras diferentes”, e que cada
muçulmano podia escolher qual achasse mais fácil para ler. (Sahih al-Bukhari, Vol.
6, p. 510)

Todas as variações relatadas no Jami de at-Tabari e no Kitab al-Masahif de Ibn Abi


Dawud, bem como outros registros similares, implicam em modificações
substanciais no texto escrito atual, sejam elas alterações nas expressões,
palavras, consoantes ou orações. Havia tantas delas que Uthman não tinha outra
alternativa a não ser destruir todas as versões exceto uma, que convenientemente
foi padronizada como texto oficial do Qur’an. Essa seqüência de eventos nos
primórdios do islamismo torna a posição do Qur’an muito mais desfavorável do
que a do texto bíblico quanto à autenticidade.

Conteúdo e ensinamento bíblicos

1.7 Erros aparentes nos números na Bíblia

Muçulmano: Há ocasiões na Bíblia em que há contradições óbvias entre


passagens paralelas, nas quais os números apresentados não batem. Essas
discrepâncias e erros fatuais provam que a Bíblia não é confiável e portanto não
pode ser a Palavra de Deus.

Escritores muçulmanos muitas vezes se atém a uns poucos textos paralelos do


Velho Testamento onde há contradições aparentes dos números e anos
apresentados nas narrativas de eventos específicos. Além de conhecê-los, e
importante estarmos atentos, como das outras vezes, à ocorrência desse
fenômeno no Qur’an.

Erros de copistas no Velho Testamento

Há quatro exemplos, em todo o texto bíblico, que iremos considerar como típicos
do problema. Em cada caso, apesar dos argumentos muçulmanos de que existem
evidências de contradições generalizadas que seriam erros dos autores originais,
ficará claro que os problemas advém somente de erros de cópia feitos durante a
transcrição dos textos.

1. Os reinos de Jeoaquim e Acazias, reis de Judá

Numa passagem, a Bíblia afirma que “tinha Jeoaquim dezoito anos de idade
quando começou a reinar” (2 Reis 24:80, enquanto que em outra diz que
“Jeoaquim tinha oito anos de idade quando começou a reinar” (2 Crônicas 36:9).
Tudo porque uma única letra, que em hebraico designa a dezena, foi omitida
durante a cópia do texto de Crônicas por um escriba há mais de dois mil anos.

Uma divergência do gênero ocorre entre uma passagem que diz que “era Acazias
de vinte e dois anos quando começou a reinar” (2 Reis 8:26), e outra que registra
que “era Acazias de quarenta e dois anos quando começou a reinar” (2 Crônicas
22:2). Fora a idade, os textos concordam entre si no que diz respeito à duração do
reinado de Acazias (um ano) e que sua mãe foi Atalia , filha de Omri. Novamente,
o original em hebraico, a diferença entre as duas idades é resultado da troca de
uma única letra. Portanto, o erro teria ocorrido apenas na cópia do texto. É óbvio
que a segunda idade é a incorreta, já que, se Acazias tivesse 42 anos quando
subiu ao trono, ele seria dois anos mais velho que seu pai!

2. Os carros de Davi e os cavalos de Salomão

Um texto do Velho Testamento diz que “Davi matou dentre o sírios os homens de
setecentos carros” (2 Samuel 10:18). Mas, em outro trecho, diz que “Davi matou
dentre os sírios os homens de sete mil carros” (1 Crônicas 19:18). Há muitas
semelhanças entre as letras dos numerais hebraicos, e aqui, como nos exemplos
anteriores, a diferença entre os textos é de somente uma letra. Estamos diante,
obviamente, de outro caso de erro do copista, que não afeta de maneira alguma o
texto da Bíblia, ou seus ensinamentos, significantemente. O mesmo se aplica ao
versículo que diz que Salomão possuía quarenta mil cavalos em estrebarias (1
Reis 4:26), comparado ao outro que afirma que eram quatro mil cavalos (2
Crônicas 9:25)

Em todos estes e outros casos que podem ser levantados pelos muçulmanos, a
questão é quase sempre uma diferença mínima na transcrição de uma letra do
original em hebraico. Este tipo de argumento não chega a tratar do problema
central que é a integridade global da Bíblia, especialmente no seu conteúdo e
ênfase cristãos (e não islâmicos).
Contradições nos números no Qur’an

Há muito mais discrepâncias óbvias em excertos numéricos do Qur’an similares.


Aqui, não encontramos explicação do problema na troca de uma única letra por
outra muito similar, mas sim de palavras inteiras, o que cria contradições óbvias.
Dois exemplos devem ser aprendidos pelos cristãos, e citados sempre que os
muçulmanos atacarem as diferenças entre números na Bíblia que citamos há
pouco.

1. A duração do dia do julgamento

Segundo um texto, o Grande Dia de Deus será de “mil anos, de vosso cômputo”
(Surata 32:5), enquanto que outro diz que o mesmo dia durará “cinqüenta mil
anos” (Surata 70:4). Neste caso, a diferença é muito mais óbvia, já que não está
restrita a apenas uma letra, mas a uma palavra inteira que é khamsiina
(cinqüenta), presente no segundo texto junto com as palavras alfa sanatin (mil
anos). Os muçulmanos se esquivam, explicando a contradição como sendo fruto
de uma linguagem “mística”, “cósmica” ou “alegórica”. Porém, como primeiro texto
diz claramente que a duração desse dia será de mil anos da nossa “medida” (o
que quer dizer precisamente que o tempo foi medido exatamente como o fazemos
na Terra), há uma contradição concreta, impossível de ser explicada com
facilidade, entre os textos. Como podem mil e cinqüenta mil revoluções da Terra
em torno do sol serem a mesma coisa?

2. A criação original dos céus e da terra

Numa passagem, o Qur’an diz que os céus, a terra e tudo que há entre eles foi
feito em seis dias (Surata 50:38), enquanto que em outra ensina que a terra foi
feita em dois dias, os céus em outros dois, e a sustentação da terra entre eles em
quatro dias (Surata 41:9 a 12), totalizando oito dias, conforme a mais simples
matemática. Novamente, é difícil reconciliar os dois textos, pois a contradição é
resultado de um cálculo de diferente períodos de tempo.

Outro problema que os cristãos enfrentam quando testemunhando aos


muçulmanos é a tendência que eles têm de criar padrões irracionais para a
autenticidade da Bíblia que não podem ser aplicados da mesma forma contra o
Qur’an. Começam com a premissa de que, para que seja a Palavra de Deus, um
livro não pode ter erros nos seus números, variações entre os textos, etc. Certos
de que o Qur’an está livre de tais defeitos, eles atacam a integridade do texto
bíblico.

Os cristãos precisam conhecer as evidências que questionam a integridade do


Qur’an, e mais precisamente aquelas que tem o mesmo ponto de partida das
usadas pelos muçulmanos para justificar a sua ilusão — alimentada desde a
infância pelos líderes e maulanas — de que o Qur’an é um livro perfeito, sem
contradições, variações e afins. O objetivo não deve ser desacreditar o Qur’an
nem vencer a discussão, mas sim rebater os ataques injustificados contra a Bíblia.

1.8 A autoria do evangelho de Mateus

Muçulmano: Mateus não foi o autor do evangelho que lhe é atribuído. Há provas
de que ele foi escrito muito depois da época em que ele viveu por outro autor
desconhecido.

Às vezes, parece que os muçulmanos usarão quaisquer argumentos disponíveis


para desacreditar a Bíblia. Mais de uma vez ouvi muçulmanos questionando a
autoridade do evangelho de Mateus. O argumento é geralmente baseado num
texto do próprio evangelho:

“Partindo Jesus dali, viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria e


disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu.” (Mateus 9:9)

Apesar de todas as fontes cristãs mais antigas atribuírem esse evangelho ao


apóstolo Mateus, os muçulmanos afirmam que ele não poderia ser o autor porque
descreve seu próprio diálogo na terceira pessoa nesse versículo. Mais de um
autor muçulmanos afirmou que uma narrativa na primeira pessoa deveria ter sido
obrigatoriamente usada, se Mateus fosse mesmo o autor desse evangelho.

É de se admirar a maneira como os muçulmanos se fazem aptos a julgar o texto


bíblico a ponto de prescreverem o que deveria ter sido feito. Ao analisar um livro
como a Bíblia ou o Qur’an, seria muito mais apropriado deixar o livro falar por si
mesmo e então aplicar uma abordagem acadêmica ao seu conteúdo. Com muita
freqüência, eles fazem o contrário para conseguirem encontrar erros onde for
possível.

Em resposta a um muçulmano que uma vez me desafiou com esse argumento


durante uma conversa pessoal, repliquei: “Quem é o autor do Qur’an?”. Ele
respondeu imediatamente que era Alá, ao que respondi: “Então porque Alá
constantemente se refere a si próprio na terceira pessoa?”. Usei o seguinte verso
como exemplo:

“Ele é Deus; não há mais divindade além d’Ele” (Surata 59:22)4

No árabe, o verso começa com Huwallaah (Ele é Alá), na terceira pessoa; e


termina com o mesmo pronome, huwa (Ele é). Em ambos os casos, usou-se o
pronome na terceira pessoa. Alá também é chamado pelo nome, na terceira
pessoa, quase três mil outras vezes no livro. Se Mateus não é o autor do
evangelho que lhe atribuem porque fala de si mesmo na terceira pessoa, então
Alá, pela mesma lógica dos muçulmanos, não pode ser o autor do Qur’an. Não há
4 N.T. As citações do Qur’an utilizam a tradução para o português de Samir El-Hayek (1994).
nenhuma diferença entre o uso da terceira pessoa na Bíblia e no Qur’an.

Os cristãos tendem a se frustrar com o esforço que os muçulmanos fazem para


desacreditar a Bíblia. Geralmente, seus argumentos são extremamente frágeis, e
muitas vezes podem ser aplicados contra o Quran. É difícil evitar a conclusão de
que eles tentam provar seu ponto de vista utilizando todos os meios possíveis, e
que fundamentam sua argumentação em suposições convenientes ao invés de
evidências sólidas. O cristianismo se baseia nos seus próprios e históricos
registros da vida de Jesus, conforme o Evangelho. Não precisa tentar desacreditar
uma religião que surgiu só seiscentos anos depois para se manter. O islamismo,
por outro lado, por reconhecer a existência de Jesus e não ter relatos alternativos
da Sua vida, precisa combater o cristianismo para se estabelecer. Eis porque o
próprio Qur’an tenta minar as crenças e práticas cristãs, e porque os muçulmanos
tentam com tanta dedicação desacreditar a Bíblia. Se os cristãos lembrarem disso,
terão mais paciência para lidar com os muçulmanos, especialmente aqueles que
lançam mão de qualquer argumento disponível para tentar afirmar a sua religião.

Outros argumentos contra o evangelho de Mateus

É comum que os muçulmanos adquiram argumentos contra a integridade da Bíblia


de artigos de acadêmicos ocidentais da ala liberal moderna, que baseiam suas
conclusões no que se tornou conhecido como “criticismo superior” do texto bíblico.
Essa fonte, quase que invariavelmente, é bastante questionável, já que esses
autores não trabalham com evidências mas sim com toda sorte de suposições.

Um exemplo típico é a hipótese, presente em muitos desses artigos, de que os


evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) tiveram como fonte tradições
sobre a vida de Jesus. Presume-se que essas tradições tenham sido compiladas
como se fossem uma colagem escrita dos ensinamentos e eventos derivados dos
discípulos de Jesus, algum tempo antes que os quatro evangelhos fossem
escritos. Essa compilação que foi chamada de “Q” por falta de um nome ou fonte
apropriados que se aplicassem a esse texto que, convenientemente, se assume
que existiram. Conclui-se, necessariamente, que Mateus não poderia ter escrito o
evangelho que lhe é atribuído. Há três razões excelentes que desafiam não só
essa conclusão, mas também os meios dos quais esses acadêmicos se valeram
para escolherem seus próprios argumentos subjetivos em detrimento às
evidências fatuais contrárias.

1. As evidências dos primeiros manuscritos cristãos

Todas as mais antigas fontes cristãs, conforme já dissemos, atribuem esse


evangelho a Mateus. As hipóteses subjetivas dos acadêmicos modernos, que
preferem as especulações do século XX às evidências fatuais da época, não
podem ter valor maior do que o testemunho daqueles que viverem na época em
que esse evangelho foi copiado e distribuído pela primeira vez. Esses mesmos
acadêmicos questionam a história da criação, rejeitam o dilúvio de Noé,
classificando-o como mito, riem da estada de três dias dentro de um peixe de
Jonas, e duvidam do nascimento de Jesus através de uma virgem, tudo pelo
mesmo motivo: especulação pura, dessa vez feita em termos racionais. Os
acadêmicos muçulmanos, que sabem que o Qur’an confirma todos esses eventos,
não poderiam, se fossem coerentes, basear-se nessas fontes que, pelas mesmas
razões, desacreditam também o islamismo.

2. Falta de um autor alternativo para o evangelho de Mateus

J. B. Phillips, na sua introdução a esse evangelho, ao mesmo tempo em que


confirma que alguns acadêmicos modernos desconsideram as fontes tradicionais
que atribuem o livro a Mateus, afirma que, ainda assim, ele pode ser chamado de
evangelho de Mateus. Isso porque não há um outro autor que fosse uma
alternativa razoável, e nem há na história da Igreja primitiva qualquer sugestão de
um outro autor possível.

3. As supostas tradições orais por trás desse evangelho

Phillips também afirma, sem qualquer prova, de que o autor baseou-se, quase que
exclusivamente, na misteriosa compilação “Q”. Não há evidência em lugar algum
da História do cristianismo primitivo de que essas tradições orais tenham sido
reunidas numa coleção escrita. Sua existência não é apenas um mistério, mas
também um mito. O próprio nome “Q” testifica a natureza especulativa dessa
suposta fonte dos evangelhos sinópticos.

Nesse ponto, não estamos mais nos deparando com evidências verdadeiras, mas
com mera especulação. Esses acadêmicos modernos geralmente não levam em
conta as evidências textuais da Bíblia como são, mas apoiam-se nas suas
próprias e convenientes hipóteses. Os cristãos, quando discutirem com
muçulmanos, precisam encorajá-los a manterem-se presos aos fatos, evitando
que se utilizem de conjeturas que não podem ser provadas.

1.9. A multiplicidade de traduções

Muçulmano: Por que existem tantas versões diferentes da Bíblia? Há a versão do


rei James, a Revista e Atualizada, a Nova Versão Internacional, entre outras.
Felizmente, nós temos apenas uma versão do Qur’an, que nunca foi revisada.

Esse argumento é comum apenas nos países cuja língua é o inglês, onde
normalmente os muçulmanos são minoria. Quando os muçulmanos tomam
conhecimento de que há várias traduções da Bíblia para o inglês, especialmente
quando são denominadas “versões”, eles imediatamente assumem que cada uma
delas é uma edição na qual houve modificações em relação à anterior — uma
prova óbvia de que a Bíblia foi e ainda está alterada pelos sacerdotes e líderes
cristãos, a fim de que ela se adapte aos seus interesses.

As traduções não são revisões da Bíblia em si

Por alguma razão, os muçulmanos que usam este tipo de argumento citado aqui
não conseguem perceber sua irrelevância imediata. Eles comparam meras
traduções diferentes da Bíblia com o original em árabe do Qur’an. È preciso que
os cristãos, pacientemente, expliquem que as tradições são baseadas nos mais
antigos manuscritos em hebraico e grego, respectivamente do Velho e do Novo
Testamento. Estes nunca foram modificados ou substituídos por outros, e cada
“versão” não é nada mais do que uma tradução para uma outra língua. Houve
várias traduções do Qur’an para o inglês nas últimas décadas, mas ninguém
sugere que sejam “versões” diferentes do livro. Cada uma possuiu uma
característica própria.

Durante um debate a respeito da integridade da Bíblia com Yusuf Buckas, um


propagandista muçulmano de Durban, na África do Sul, em 1985, ele citou
seguinte o prefácio da versão Revista e Atualizada da Bíblia para o inglês: “Ainda,
a versão do rei James tenha graves defeitos, (...) esses defeitos eram tantos e tão
sérios que demandavam uma revisão”. Aqui, ele concluiu com um “fecha aspas”.
Ele usou o prefácio como um argumento para provar que a Bíblia sofreu várias
alterações para remediar seus defeitos. Respondi que ele havia fechado as aspas
no lugar errado, pois a frase terminava assim: “demandavam uma revisão da
tradução para o inglês” (ênfase minha). Tive de usar alguns minutos para mostrar
aos muçulmanos presentes que a Bíblia em si não estava sendo revisada, mas
sim uma tradução para o inglês, não com o propósito de corromper o texto
original, mas sim de fazer com que a tradução se aproxime o máximo possível
dele.

Algumas diferenças na tradução

Os muçulmanos, no entanto, esforçam-se para criar argumentos a partir de certas


diferenças entre a versão do rei James e a Revista e Atualizada. Duas passagens
serão mencionadas e discutidas, conforme os argumentos típicos com que os
cristãos se deparam, com indicações de como respondê-los.

1. Isaías 7:14: uma jovem ou uma virgem?

Na versão do rei James, o texto diz que uma virgem daria a luz, enquanto que no
mesmo texto, na versão Revista e Atualizada, aparece que uma jovem conceberia
e teria um filho. Não passam de pequenas diferenças de tradução da palavra
hebraica almah, mas os muçulmanos tentam a todo custo fazerem dessa
diferença na escolha de uma palavra uma prova de que a Bíblia foi mudada.

O argumento se desdobra na afirmação de que a Bíblia, originalmente, ensinava


que Jesus nasceria de uma virgem, mas que, numa edição posterior, o texto teria
sido alterado, eliminando uma verdade fundamental presente no Qur’an (Surata
3:47, 19:20 e 21). A resposta apropriada dos cristãos a esse argumento é bastante
simples. Primeiramente, a palavra hebraica do texto original é almah, e ela nunca
foi tocada. Portanto, a questão aqui é exclusivamente um problema da tradução.

Em segundo lugar, a palavra almah, na sua tradução literal, quer dizer mulher
jovem, e portanto a tradução da versão Revista e Atualizada está perfeita. A
palavra mais comum em hebraico para virgem é bethulah. Por outro lado, pelo
contexto, é bastante óbvio que a concepção por uma jovem seria única, e um sinal
dramático ao povo de Israel. A versão do rei James interpreta corretamente essa
particularidade, dizendo o que era claramente a intenção do original, ou seja, que
uma virgem conceberia um filho. O versão do Novo Testamento em grego, a
Septuaginta, que tem quase dois mil anos a mais que a do rei James, também
traduz almah como virgem. Ambas as palavras são bastante aceitáveis. Assim,
não há como se afirmar que a Bíblia foi modificada através desse argumento.

2. João 3:16: o Filho unigênito de Deus

Um argumento semelhante baseia-se na tradução desse versículo nas duas


versões já citadas. Na mais antiga, que é a do rei James e data do ano 1611 d.C.,
o versículo diz que Deus amou tanto o mundo que enviou seu filho unigênito5. Na
versão Revista e Atualizada, de 1952, lê-se que Deus enviou seu filho único.

Os muçulmanos alegam, mais uma vez, que a Bíblia foi modificada, retirando-se a
idéia para eles questionável de que Deus teria “gerado” um Filho, conceito este
que é enfaticamente rejeitado pelo Qur’an:

“Dize: Ele é Deus, o Único! Deus! O Absoluto! Jamais gerou ou foi gerado! E
ninguém é comparável a Ele.” (Surata 112:1 a 4)

Novamente, aqui, os muçulmanos fazem tempestade em copo d’água. A palavra


que aparece no original em grego é monogenae¸ que significa “um” (mono) “que
vem” (genae) do Pai. É, portanto, correto traduzi-la tanto por “único” quanto por
“unigênito”. Ambas as expressões significam a mesma coisa: o único filho que
vem do Pai.

A palavra que, em inglês, corresponde a unigênito era de uso corrente no século


XVII, quando a versão do rei James foi escrita. Contudo, ela não faz parte do
vocabulário do inglês do século XX — eis porque a versão Revista e Atualizada a
substituiu. Novamente, a questão não é a “alteração” do texto original, mas sim de
interpretação dos tradutores.

Ao longo dos anos, ouvi uma série de ataques dos muçulmanos contra a Bíblia
que desafiaram a minha paciência. “Por que há quatro Bíblias no seu Novo
Testamento?” é uma. Outra é “por que seus papas mudam a Bíblia todos os anos?
5 N.T. A palavra unigênito foi utilizada aqui para traduzir “only-begotten” por ser a que aparece em algumas
das traduções mais populares da Bíblia em português, e porque, assim como “only-begotten”, guarda a idéia
de filho único gerado pelos pais, explicando assim a objeção dos muçulmanos.
Não é só o papa da igreja Católica Romana, o da igreja Batista faz a mesma
coisa.” Outra pergunta clássica: “De acordo com o Qur’an, só existe um Injil, o
“Evangelho”, que foi revelado a Jesus. Mas a sua Bíblia tem vários evangelhos:
Mateus escreveu um, Marcos, Lucas, João e Atos também. Romanos escreveu
um Evangelho, e Coríntios escreveu dois!”

Mesmo que você deseje se concentrar somente no verdadeiro Evangelho e o


efeito do amor de Deus revelado em Jesus Cristo, é importante responder às
investidas dos muçulmanos contra a Bíblia, mesmo quando os argumentos são
pobres e irrelevantes para nós. Minha experiência pessoal é que uma resposta
positiva e eficiente a cada questão levantada é capaz de, no longo prazo,
convencer o muçulmano de que a verdadeira mensagem que você quer expor
merece ser seriamente considerada.

1.9 A genealogia de Jesus nos evangelhos

Muçulmanos: As genealogias de Jesus nos evangelhos citam diferentes


linhagens de descendência. Como você explica essa contradição? Além disso,
algumas das mulheres mencionadas entre os ancestrais eram grandes pecadoras.
Como o perfeito filho de Deus pode descender de uma linhagem tão impura?

É comum que os argumentos dos muçulmanos contra a Bíblia revelem um pouco


mais do que um grave desconhecimento do que o cristianismo realmente significa.
Ao responder essas duas objeções, os cristãos não só esclareceram um mal-
entendido, mas também testemunharão aos muçulmanos que as fizerem da
salvadora graça de Jesus. É necessário enfatizar seguidamente que toda
argumentação dos muçulmanos contra a Bíblia deve ser encarada como uma
porta aberta para o testemunho da essência da sua mensagem.

As duas genealogias diferentes

A linhagem, segundo os hebreus, da qual Jesus descendeu está registrada em


Mateus 1:2 a 16 e Lucas 3:23 a 28. Não há diferença entre os dois registros de
Abraão até Davi, mas depois desse ponto elas divergem consideravelmente.
Mateus traça a linhagem de Jesus através de Salomão, filho de Davi; Lucas,
entretanto, o faz através de seu irmão Natã. Os dois relatos continuam, a partir
daí, com muitas diferenças. Os estudiosos muçulmanos concluíram sumariamente
que existe aí uma contradição irreconciliável. Os seguintes pontos devem ser
levantados em resposta aos muçulmanos que tocarem nesse assunto:

1. Todas as crianças têm duas genealogias

Não é preciso grande esforço para se demonstrar que todos os homens do mundo
têm duas linhagens de ancestrais diferentes, uma por parte paterna, e a outra pelo
lado materno. A primeira coisa óbvia a respeito das duas genealogias nos
evangelhos é que ambas a descrevem a partir de um ancestral comum, Davi, indo
até Abraão. O que as duas revelam, a partir de um estudo acurado do seu
contexto no respectivo evangelho, é que José¸ o guardião legal como pai
registrado de Jesus (ainda que não fosse o pai natural), era descendente de Davi
através de Salomão, enquanto que Sua mãe Maria era descendente do mesmo
ancestral, mas através de Natã. Portanto, não há contradição entre as
genealogias.

2. Mateus e Lucas claramente definem a partir de quem acompanham a


genealogia

Não é apenas uma mera suposição dizer que cada um dos dois escritores
acompanham, respectivamente, a ascendência paterna e materna de Jesus.
Mateus deixa bem claro que acompanhou a genealogia a partir do ramo de José
(Mateus 1:16), e, durante os dois primeiros capítulos do seu evangelho, José é o
personagem central. Todas as aparições do anjo Gabriel registradas envolvem
José. Entretanto, no evangelho de Lucas, Maria é sempre a personagem central, e
só é mencionada a aparição de Gabriel a Maria.

3. Lucas deliberadamente qualifica sua genealogia

Lucas também diz que Jesus, “como se cuidava”, era filho de José (Lucas 3:23).
Nessa pequena expressão está a chave para a genealogia de Jesus apresentada
em seu evangelho. Diferente de Mateus, ele não menciona mulheres na
genealogia e, para manter o costume geral de se registrar somente os parentes
homens, Lucas cita José como o “possível” pai de Jesus. De maneira muito
cuidadosa é que ele define o papel de José, a fim de deixar claro que não
registrava a genealogia de Jesus a partir do seu pai “legal”, mas sim a verdadeira
genealogia a partir de Sua mãe real, Maria.

As quatro mulheres citadas na genealogia de Mateus

Por várias vezes autores muçulmanos tentaram desacreditar a perfeição de Jesus,


como Filho de Deus, por causa das quatro mulheres que Mateus cita entre a
ascendência de Jesus. São elas: Tamar¸ que cometeu incesto com seu pai Judá,
do qual nasceu Perez, ancestral de Jesus; Raabe, prostituta e gentil que ajudou
Josué e os israelitas na conquista de Jericó; Rute, a esposa de Boaz, também
gentil; e Bate-Seba, a mulher de Urias com quem Davi adulterou e gerou a
Salomão.

É evidente que Mateus deliberadamente colocou as quatro mulheres que


perturbam a genealogia de Jesus, por causa de seus defeitos morais ou étnicos.
Claramente, o autor não pensava que a presença delas afetava a dignidade de
Jesus. Se houvesse algum estigma ligado à essas ancestrais, com toda certeza
ele teria citado algumas das mais famosas mulheres hebréias da qual Cristo
descendia, como Sara e Rebeca. Por que, então, ele cita especificamente quatro
mulheres que “maculam” a linhagem de Jesus? O próprio Mateus responde, ao
contar o que o anjo Gabriel disse, quando apareceu a José, sobre a criança que
estava por nascer:

“... lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”
(Mateus 1:21)

Foi exatamente para pessoas como a incestuosa Tamar, a prostituta Raabe, a


adúltera Bate-Seba ou Rute dos gentios, que Jesus veio ao mundo. Ele desceu
dos santos portais celestes, tomando a forma humana, a esse mundo pecador e
decadente, a fim de salvar seu povo das suas iniqüidades, salvação esta
disponível para todos os homens e mulheres, tanto para os judeus quanto para os
gentios. Numa outra passagem do mesmo evangelho, vemos Jesus esclarecendo
o povo sobre o seu propósito:

“Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Ide, porém, e aprendei o que
significa: ‘Misericórdia quero e não holocaustos; pois não vim chamar justos, e sim
pecadores.’ ” (Mateus 9:12 e 13)

Jesus não veio para ser um exemplo a ser seguido de piedade e religiosidade. Ele
veio, em primeiro lugar, para salvar aqueles que deixassem os seus pecados para
segui-lO, e para fazer com que estes pudessem receber o Espírito Santo, dando a
eles poder para viver suas vidas de maneira genuinamente santa. Assim, fica
óbvio como qualquer argumento contra a Bíblia pode ser efetivamente usado
como oportunidade de testemunho. Sempre que um muçulmano questionar a
Bíblia num ponto como este, é importante buscar não só meios para refutar sua
objeção, mas também aberturas para compartilhar a verdadeira essência da nossa
fé.

1.10“Pornografia” e obscenidades bíblicas

Muçulmano: Como um livro que presume ser a Palavra de Deus pode conter
histórias como o incesto de Judá, o adultério de Davi e o casamento de Oséias
com uma prostituta, bem como passagens onde Deus fala usando termos
claramente obscenos e pornográficos?

Essa linha de argumentação tem se tornado cada vez mais comum ultimamente.
Ela deriva de uma suposição dos muçulmanos de que todos os profetas eram
livres de pecado, e de que Deus nunca usaria linguagem vulgar para descrever a
infidelidade do seu povo ou, para dizer de um outro modo, para “chamar um
espada de espada”. Começaremos com a primeira parte do argumento.
A suposta pureza dos profetas

A Bíblia registra muitas histórias de falhas morais dos profetas e dos patriarcas.
Judá cometeu incesto com sua irmã Tamar (Gênesis 38:12 a 26), assim como Ló
fizera com suas duas irmãs algum tempo antes (Gênesis 19:30 a 38). Davi
adulterou com Bate-Seba, a mulher de Urias, o Hitita (2 Samuel 11:2 a 5), e em
seguida fez com que seu marido fosse morto na linha de frente da batalha (2
Samuel 11:14 a 21). Outros profetas pecaram, de maneiras diferentes — Moisés
assassinou um egípcio, Jacó mentiu ao seu pai Isaque, e Salomão tomou
concubinas e casou-se com egípcias e outras nações dos gentios. Os
muçulmanos recuam diante dessas histórias, pois foram ensinados que todos os
profetas, de Adão a Maomé, nunca pecaram. Este ensinamento, conhecido como
a doutrina do isma (pureza, sem pecado), não está no Qur’an, mas deriva dos
credos muçulmanos ortodoxos como o Fiqh Akbar II dos séculos seguintes. Foi
estabelecido para combater o ensinamento cristão de que só Jesus não tinha
pecado.

Quando os muçulmanos utilizam-se desse argumento, os cristãos precisam


mostrar que o Qur’an também ensina que os profetas pecaram. Muitos aparecem
no Qur’an pedindo perdão a Deus, ou sendo desafiados por Ele a fazê-lo. Por
exemplo:

1. Abraão — Ele disse que esperava que Deus, o Rabb’al-Alamin (“Senhor dos
mundos”), perdoasse suas faltas no Dia do Juízo. (Surata 26:81).

Autores muçulmanos tentam enfraquecer passagens como essa, dizendo que


Abraão orava por proteção contra erros e falhas, mas foram usadas as palavras
yaghfira, que é a palavra árabe comum para “perdoar”, e khati’ati, uma palavra
forte que significa claramente “pecado”, e nunca erros ou falhas menores. Ela é
usada na passagem que narra que o povo, no dilúvio do tempo de Noé, afogou-se
“pelos seus pecados” (Surata 71:25).

2. Moisés — O Qur’an confirma que Moisés matou um de seus inimigos, e diz


que, imediatamente depois, ele orou: “Ó Senhor meu, certamente me
condenei! Perdoa-me, pois!” (Surata 28:15 a 16). Com certeza Alá o perdoou,
pois Ele é o Al-Ghafur, “Aquele que perdoa”.

3. Davi — A história do seu adultério não está no Qur’an, mas a repreensão de


Natã (2 Samuel 12:1 a 15) sim, de forma um pouco diferente. A parábola do
homem com gado e ovelhas que toma de um pobre sua única cordeirinha,
usada por Natã para expor o pecado de Davi, mesmo tendo muitas esposas,
ao tomar a única esposa de Urias é repetida numa pequena passagem do
Qur’an (Surata 38:21 a 25). Ela conclui dizendo que Davi “pediu perdão”
(fastaghfara) e que Alá o perdoou (faghafar, a palavra mais usada para perdão
de pecados). Autores muçulmanos usaram vários argumentos para evitar as
implicações de passagens como esta, negando que a parábola se refira ao
adultério de Davi. Não conseguiram, no entando, apresentar uma explicação
alternativa para ela (no Qur’an, ela não num contexto como na Bíblia). É
significante, porém, que Alá ordene a Davi que este não “siga a sua
luxúria”como os outros fazem, os quais iram enfrentar uma punição pesada
(Surata 38:26) no Dia Final (Yawma’l-Hisab).

4. Maomé — O próprio Profeta do Islã recebeu a ordem de “pedir perdão pelos


seus pecados”, bem como pelos de todos os homens e mulheres crentes
(Surata 47:19). As palavras usadas neste trecho foram wastaghfir lithanbik¸
exatamente as mesmas que foram utilizadas para dizer que Zulaykah (o nome
muçulmano para a mulher de Potifar) deveria se arrepender do seu desejo de
seduzir José (Surata 12:29).

A Bíblia simplesmente não esconde as falhas dos profetas, e sua opinião


fundamental a respeito de todos os homens é que nenhum deles é justo — todos
cometeram transgressões, pecaram contra Deus e se desviaram para os seus
próprios caminhos (Romanos 3:9 a 18). Por esta razão é que Jesus Cristo, o único
homem sem pecado que já veio ao mundo, a fim de proporcionar a salvação a
todos. Mais umas vez, há uma oportunidade óbvia aqui para o testemunho. É
importante ressaltar aos muçulmanos que o Qur’an é muito mais próximo à Bíblia
do que eles ao conceber que os profetas também pecaram.

A alegação de passagens pornográficas na Bíblia

A segunda parte do argumento que estamos discutindo é baseado em trechos


bíblicos como este abaixo, que, segundo autores muçulmanos, contém linguagem
obscena e pornográfica:

“As suas impudicícias, que trouxe do Egito, não as deixou; porque com ela se
deitaram na sua mocidade, e eles apalparam os seios da sua virgindade e
derramaram sobre ela a sua impudicícia. Por isso, a entreguei nas mãos dos seus
amantes, nas mãos dos filhos da Assíria, pelos quais se inflamara. Estes
descobriram as vergonhas dela, levaram seus filhos e suas filhas; porém a ela
mataram à espada; e ela se tornou falada entre as mulheres, e sobre ela
executaram juízos.” (Ezequiel 23:8 a 10)

O capítulo inteiro é citado como um exemplo de linguagem impura que, para esses
autores muçulmanos, seria incompatível com um Deus santo. Outra passagem
típica que também é mencionada é a seguinte:

“Repreendei vossa mãe, repreendei-a, porque ela não é minha mulher, e eu não
sou seu marido, para que ela afaste as suas prostituições de sua presença e os
adultérios de entre os seus seios; para que eu não a deixe despida, e a ponha
como no dia em que nasceu, e a torne semelhante a um deserto, e a faça como
terra seca, ea mate à sede, e não me compadeça de seus filhos, porque são filhos
de prostituições.” (Oséias 2:2 a 4)

Ambas as passagens são uma ilustração da extrema ira de Deus, resultante de


infidelidade de Seu povo, Israel, a Ele. Por isso é que Ele determinou a Oséias
que tomasse uma prostituta como esposa, no intuito de que isso simbolizasse
como Deus se sentia em relação ao Seu próprio povo. Eles, constantemente,
viravam-se contra Ele, buscando deuses falsos e ídolos, adotando as práticas
lascivas dos países vizinhos ao invés de se submeterem à Sua santidade.

A linguagem utilizada nestas passagens foi concebida exatamente para chocar o


povo e devolver-lhes a consciência de que estavam em perigo, por causa da sua
cegueira. Seu comportamento era como o da mulher adúltera, que se entrega a
outros amantes. Era necessária uma linguagem forte e enfática para que eles
percebessem a impureza dos seus caminhos tolos. No Dia do Julgamento, Deus
denunciará como práticas imundas exatamente aquelas que o são: sodomia,
perversão sexual, prostituição, lascívia, e similares. Ele não usará palavras bonitas
para descrever um comportamento imoral, como parece ser a idéia de alguns
muçulmanos. Ele toma conhecimento de todas as paixões perversas da raça
humana, e nada pode surpreendê-lo. Ele irá tratar delas pelo que são.

Os muçulmanos devem ser encorajados a permitir que Deus seja aquilo que Ele é,
e a falar do modo que desejar. Ninguém é capaz de prescrever a Deus como Ele
deve falar da infidelidade e da falta de fé. Quando um muçulmano diz que
determinada linguagem presente na Bíblia encoraja os jovens a terem
pensamentos impuros e cria toda sorte de desejos lascivos, só é necessária a
menção de um versículo como resposta:

“Todas as cousas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes,
nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas.”
(Tito 1:15)

Novamente, esta á uma oportunidade para compartilhar com os muçulmanos a


nossa fé. Se eles falarem algo sobre passagens como as que analisamos,
pergunte a eles se eles já leram a Bíblia toda, de capa a capa. Desafie-os a fazê-
lo, e a desconsiderar passagens que foram arrancadas do seu contexto apenas
para parecerem “obscenas” ou “pornográficas”.

O Qur’an em relação à Bíblia

4.8 Os judeus e as escrituras cristãs

Muçulmano: O próprio Qu’an confirma que a Bíblia foi alterada. O Velho e o Novo
Testamento não são os livros que foram originalmente revelados a Moisés e a
Jesus. Onde estão esses livros hoje? O que você tem em mãos não é mais a
Palavra de Deus.
Em todo o mundo, os muçulmanos aprendem que o Qur’an acusa os judeus e os
cristãos de terem modificado seus textos sagrados. A acusação de que a Bíblia
sofreu modificações é uma das maiores lendas já criadas em nome da verdade.
No entanto, é interessante descobrir que o Qur’an, em contraste com a atitude
geral dos muçulmanos, na verdade enaltece os textos das escrituras judias e
cristãs, e confirmam sua autenticidade.

Torá: as escrituras dos judeus

O título mais freqüente das escrituras dos judeus no Qur’an é at-Tawraat, ou “a


Lei”. Diz-se especificamente do kitab (“livro”) que teria sido dado a Moisés (Surata
11:110). Sua integridade e existência nas mãos dos judeus nos tempos de Maomé
é confirmada por este verso:

“Por que recorrem a ti por juiz, quando têm a Torá que encerra o Juízo de Deus? E
mesmo depois disso, eles logo viram as costas. Estes em nada são fiéis.” (Surata
5:43)

Esta passagem, claramente, ensina que os judeus (especificados como o povo à


quem se refere na Surata 5:41) são os detentores da Torá. As palavras usadas no
original em árabe confirmam isso. Diz que o livro está inda hum — “com eles”.
Portanto, o Qur’an ensina, neste verso, que o livro estava com os judeus no tempo
de Maomé. Como o verso fala de judeus que, na verdade, vinham até ele para
obter decisões jurídicas, é óbvio que é uma referência os judeus da região de
Medina. A passagem continua, descrevendo a Torá como sendo “orientação e luz”,
a mesma descrição que os antigos profetas aplicavam à lei de Deus para os
judeus, seus rabinos e juízes (Surata 5:44). A seguir, são feitos mais apelos para
que se julgue segundo o que havia sido revelado na Torá.

Durante toda sua História, os judeus tiveram apenas um texto sagrado — os livros
do Velho Testamento que conhecemos hoje. Já vimos que, desde o século II antes
de Cristo (oito séculos antes de Maomé), o Velho Testamento em hebraico já havia
sido traduzido para o grego — versão conhecida hoje como a Septuaginta.
Aparecem citações do Velho Testamento, muito tempo depois, nos textos do Novo
Testamento, e os mais recentes manuscritos conhecidos também são séculos
mais antigos que o Islã. Não há dúvida de que o livro a que o Qur’an se refere só
pode ser o Velho Testamento.

O Qur’an sempre fala das antigas escrituras com grande reverência. Dificilmente
exortaria os judeus a julgar a partir delas se estivessem corrompidas ou não
fossem confiáveis. É significante o fato de que se usa a palavra Torá (Torá), a
mesma que os próprios judeus utilizam para descrever os cinco primeiros livros de
Moisés na Bíblia.
Injil: as escrituras cristãs

O Qur’an, quando se refere às escrituras cristãs, usa uma palavra muito familiar
aos cristãos, que é al-Injil — “o Evangelho”, e diz que elas foram reveladas a
Jesus:

“E depois deles (profetas), enviamos Jesus, filho de Maria, corroborando a Torá


que o precedeu; e lhe concedemos o Evangelho, que encerra orientação e luz,
corroborante do que foi revelado na Torá e exortação para os tementes.” (Surata
5:49)

A partir deste texto e outras passagens semelhantes (Surata 3:3), fica bem claro
que o Qur’an considera a Torá e o Injil como a soma total dos textos sagrados dos
judeus e dos cristãos, respectivamente. Outra vez, vemos o Qur’an confirmando a
existência de um segundo texto sagrado, em posse dos cristãos, na época em que
viveu Maomé:

“Que os adeptos do Evangelho julguem segundo o que Deus nele revelou” (Surata
5:47)

Se o livro não ficou intacto, como o Qur’an pode exorta os cristãos a julgarem pela
direção e luz das suas escrituras? É significante que este texto chame os cristãos
de ahlul-Injil, ou “povo do Evangelho” — mais uma confirmação da existência do
Novo Testamento com os cristãos no tempo de Maomé. Ainda, assim como os
judeus, os cristãos tiveram apenas os livros do Novo Testamento como suas
escrituras durante sua história. Numa outra passagem, o Qur’an confirma
novamente que as duas escrituras estavam com os judeus e os cristãos no
período em que Maomé viveu:

“São aqueles que seguem o Mensageiro, o Profeta iletrado, o qual encontram


mencionado em sua Tora e no Evangelho.” (Surata 7:157)

Novamente, o Qur’an afirma que essas escrituras estão inda hum, palavras do
árabe que significam, de maneira bastante específica, “com eles”. É óbvio que
Maomé nunca duvidou da integridade dos livros que os judeus e cristãos dos seus
dias consideravam como seus textos sagrados. Ele não tinha nenhuma reserva
em confirmar essa integridade. Mais uma passagem do Qur’an que enfatiza este
fato de maneira muito clara:

“Dize: Ó adeptos do Livro, em nada vos fundamentareis, enquanto não


observardes os ensinamentos da Tora, do Evangelho e do que foi revelado por
vosso Senhor!” (Surata 5:71)

Como eles seguiriam diligentemente essas escrituras se, em primeiro lugar, elas
não estivessem em seu poder e, depois, se elas não fossem completamente
autêntica? É inegável que o Qur’an ensina que tanto as escrituras dos judeus
quanto a dos cristãos estavam intactas no tempo de Maomé. Em outro verso,
Maomé é encorajado, se tivesse dúvida sobre algo que lhe fosse revelado, a
consultar aqueles que haviam lido as escrituras antes dele, ou seja, os judeus e os
cristãos.

É importante, no debate com muçulmanos, conhecer estas passagens do Qur’an


que testemunham a respeito da integridade da Bíblia. O Qur’an testefica, de
maneira quase que inequívoca, sua autoridade como revelação da Palavra de
Deus, quer os muçulmanos queiram ou não. Sob a luz da reverência e do respeito
que o livro sagrado deles mostra quando se refere ao nosso, não devemos hesitar
em pedir que os muçulmanos mostrem a mesma estima quanto à Bíblia e a leiam,
para a sua própria hudan e nur — “direção e luz”.

4.9 Tahrif — as alegaões de corrupção

Muçulmano: Há várias passagens no Qur’an que ensinam claramente que as


escrituras mais antigas foram alteradas e corrompidas. Como então você diz que
o Qur’an confirma a integridade da Bíblia cristã?

Há várias passagens no Qur’an em que, à primeira vista, parecem mesmo dizer


que aconteceram algumas manipulações no texto das escrituras mais antigas.
Quando se investiga melhor, porém, é óbvio que se tratam de situações em que o
Ahl al-Kitab (o “povo do Livro”, ou seja, os judeus e os cristãos) são acusados de
interpretar erroneamente os ensinamentos dos seus livros sagrados. Nenhuma
dessas passagens sequer sugerem que os textos da Twaraat ou do Injil em si
tenham sido corrompidos.

Torcendo as palavras com suas línguas

Muitos textos, que são invariavelmente citados pelos muçulmanos para provar que
a Bíblia, de acordo com o Qur’an, teria sido alterada. Esses textos, se analisados
com cuidado, tratam somente de citações verbais erradas dos textos sagrados, e
nunca da palavra escrita em si. Um exemplo típico é este verso:

“Entre os judeus, há aqueles que deturpam as palavras, quanto ao seu significado.


Dizem: ‘Ouvimos e nos rebelamos’. Dizem ainda: ‘Issmah ghaira mussmaen, wa
ráina’, distorcendo-lhes, assim, os sentidos, difamando a religião..” (Surata 4:46)

Os muçulmanos alegam que esta passagem ensina que os judeus teriam


removido partes do texto original das suas escrituras, e substituído-os com outros
inventados. Os pontos a seguir provam exatamente o contrário:

1. Distorções puramente verbais

A acusação neste verso refere-se somente a uma mudança verbal do verdadeiro


sentido das palavras. “Eles distorcem com suas línguas”, diz o texto. Não há
alegação de mudanças ou substituições reais do texto escrito. Uma outra
acusação similar contra os judeus, a de que eles “deturpam as palavras”, aparece
novamente na Surata 5:41 onde, assim como na Surata 4:56, são mencionados
frases de judeus para ilustrar o seu “crime”.

2. A acusação é contra o discurso dos judeus contemporâneos a Maomé

A palavra ra’ina na Surata 4:46 significa “por favor, nos atenda”. Mas, com uma
modificação sutil, torna-se um insulto. Como as escrituras originais dos judeus
estavam em hebraico, é óbvio que o Qur’an refere-se aos judeus do tempo de
Maomé que conversavam com os árabes em sua língua. Novamente, é óbvio que
é esse diálogo dos judeus, no qual faziam um jogo de palavras bastante sutil, a
verdadeira questão aqui, e não uma alteração das escrituras deles.

Uma interpretação verbal errada

Outro verso que sempre é levantado como uma suposta prova de que judeus e
cristãos modificaram os textos originais das suas escrituras é o seguinte:

“Aspirais, acaso, a que os judeus creiam em vós, sendo que alguns deles
escutavam as palavras de Deus e, depois de as terem compreendido, alteravam-
nas conscientemente?” (Surata 2:75)

Aqui, mais uma vez, há vários pontos que demonstram que este verso se refere
apenas às interpretações verbais incorretas, e não à mudanças no texto dos
manuscritos antigos.

1. A opinião dos grandes acadêmicos muçulmanos

Os dois primeiros grandes acadêmicos muçulmanos Razi e Baidawi ensinavam


que este trecho trata apenas do que eles chamaram de tahrifi-manawi, ou a
corrupção do sentido da Palavra de Deus, e não tahrifi-lafzi, uma alteração real
no próprio texto. Em nenhum lugar o Qur’an ensina que judeus e muçulmanos
tenham se engajado na tahrif (corrupção) dos seus livros sagrados — essa
acusação nunca foi feita nos primeiros séculos do Islã.

2. A Palavra falada de Alá

Neste verso, o Qur’an expressamente afirma que foi a kalam de Alá que estava
sendo pervertida. Essa é a palavra falada, que foi “ouvida” por eles, conforme o
texto. Não foi o kitab, o livro escrito, que foi modificado. Quando se refere às
escrituras dos judeus e dos cristãos, o Qur’an usa a palavra kitab. Aqui, está em
questão apenas a mensagem que foi pregada.

3. A Palavra é a palavra pregada por Maomé

É óbvio que foi a pregação do Qur’an que estava sendo mal interpretada. Um
grupo de pessoas que ouviu a pregação de Maomé teria depois pervertido o seu
discurso — como, então, poderia ele esperar que cressem nele? É preciso uma
imaginação bastante fértil para transformar isso numa prova de corrupção do texto
escrito original da Bíblia.

4. Só um grupo dos seus ouvintes a perverteu

Inquestionavelmente, a acusação de deturpar a mensagem de Maomé recai


apenas sobre um grupo de judeus do seu tempo6. O verso seguinte os acusa de
afirmar que acreditavam na pregação quando encontravam com muçulmanos
apenas para, quando estivessem sozinhos depois, distorcerem a mensagem.
Outra vez, é claro que esse verso não se aplica nem remotamente a uma suposta
corrupção dos textos sagrados dos judeus e cristãos.

Distorcendo verbalmente a Palavra de Deus

Outro trecho semelhante, mas que trata apenas de distorções verbais, do Qur’an
utilizado por autores muçulmanos como prova de que a Bíblia passou por
modificações é este:

“E também há aqueles que, com suas línguas, deturpam os versículos do Livro,


para que penseis que ao Livro pertencem, quando isso não é verdade. E dizem:
'Estes (versículos) emanam de Deus', quando não emanam de Deus. Dizem
mentiras a respeito de Deus, conscientemente.” (Surata 3:78)

É um tanto quanto óbvio, mais uma vez, que a acusação aqui não é a respeito de
corrupção do texto bíblico original. A expressão usada para descrever o que
estava acontecendo é yaluwnal-sinatahum, que quer dizer “torcer a língua”. O uso
da palavra árabe para língüa, lisan, mostra que é uma questão de distorção
verbal. É puramente uma questão de citar passagens que não fazem parte da
Bíblia como se fossem parte do texto bíblico.

Outras passagens relacionadas à acusação de tahrif

Existem alguns outros textos que os muçulmanos utilizam para fortalecer seus
argumentos contra a integridade da Bíblia. Um dos que eles consideram ser o que
mais auxilia sua causa é este:

“Ai daqueles que copiam o Livro, (alterando-o) com as suas mãos, e então dizem:
Isto emana de Deus, para negociá-lo a vil preço. Ai deles, pelo que as suas mãos
escreveram! E ai deles, pelo que lucraram!” (Surata 2:79)

Desta vez, trata-se de um recado claro aos que escrevem algo que fingem ser um
texto sagrado, e o vendem para obter lucro. No entanto, isso se refere somente à
pequenos trechos compilados por um grupo anônimo, e, novamente, não existe
aqui nenhuma acusação direta à integridade bíblica. A Torá e o Injil originais
sempre são tratados com muita referência, e não existe aqui nenhuma pista de
6 N.T. Nas citações do Qur’an no texto original em inglês, aparece a expressão “party of them” (um grupo
deles), explicitando que a acusação referia-se a apenas um grupo de judeus, e não a todo o povo.
que esses originais tenham sido modificados. A menção do Qur’an é a outros
textos. Além do mais, o verso é vago demais, assim como muitos dos outros, para
determinar exatamente sobre o que ele trata. Não há nenhuma indicação do quê
foi escrito, de quem o escreveu ou precisamente quando isso aconteceu.

O último verso que precisamos analisar é um que é freqüentemente utilizado pelos


muçulmanos para demonstrar que o Qur’an considera que a Bíblia foi alterada:

“Ó adeptos do Livro, por que disfarçais a verdade com a falsidade, e ocultais a


verdade com pleno conhecimento?” (Surata 3:71)

Mais uma vez, no entanto, trata-se de uma acusação de interpretar de maneira


errada a verdade das escrituras. De forma alguma pode-se dizer que o verso
ensina que a Bíblia em si tenha sofrido mudanças. As escrituras dos judeus e dos
cristãos não são sequer mencionadas. Não é de se admirar que os primeiros
acadêmicos muçulmanos defendiam que o Qur’an ensinava que existia uma tahrif,
mas somente do sentido e do que se ensinava sobre as escrituras, nunca do texto
em si. Os muçulmanos que argumentam o contrário é que estão,
conscientemente, “encobrindo a verdade com falsidade”. Talvez sejam eles os que
“ocultam a verdade”, mesmo a conhecendo!

4.10Torá, Injil e Qur’an

Muçulmano: A Bíblia que vocês têm hoje não é formada pela Torá e pelo Injil
originais que foram revelados a Moisés e a Jesus, respectivamente. Vocês tês os
livros de Paulo e outros escritores, mas não a Palavra de Deus. Onde estão a
Torá e o Injil originais?

Não há quaisquer evidências históricas de que livros supostamente revelados a


Moisés e a Jesus, no formato do Qur’an, existiram um dia. Não há uma página
sequer que fale em favor dessa hipótese dos muçulmanos a respeito das
escrituras originais. Tudo isso fica ainda mais estranho à luz da crença muçulmana
de que o Qur’an original foi totalmente preservado, ponto por ponto e letra por
letra. Se Alá preservou um livro, porque ele não preservaria, mesmo que um
pedaço de evidência, dos outros dois que teriam existido? Este ensinamento do
Qur’an não tem sustentação em nenhum dos registros fatuais da história humana.

A natureza da Torá e do Injil

O Qur’an, além de afirmar que estes dois livros foram na verdade revelados a
Moisés e a Jesus, também ensina que eles eram muito similares ao Qur’an.

“Ele te revelou (ó Mohammad) o Livro (al-Kitab) (paulatinamente) com a verdade


corroborante dos anteriores, assim como havia revelado a Tora (at-Tawraat) e
Evangelho (al-Injil).” (Surata 3:3)

Como já expomos, o Qur’an divide corretamente o livro dos judeus e cristãos em


duas seções, ainda que se refira a ambos os livros coletivamente como al-Kitab (o
Livro), e os seguidores das duas religiões como Ahl al-Kitab (povo do Livro).
Também observamos que, sem sombra de dúvidas, o Qur’an reconhece as
escrituras que estavam em poder dos judeus e cristãos nos dias de Maomé como
os verdadeiros e intactos Torá e Injil, respectivamente.

O problema, para os muçulmanos, é que os únicos dois livros que judeus e


cristãos tomaram como sagrados são o Velho e o Novo Testamentos,
respectivamente. Eles guardam muitas semelhanças quanto à sua forma e estilo,
e o último faz muitas referências consistentes ao primeiro. Cada um contém obras
narrativas, material profético, citações de profetas e apóstolos — as verdadeiras
palavras e ensino de Deus. Nenhum deles, no entanto, tem qualquer semelhança
com o Qur’an.

Os muçulmanos gastam muito tempo tentando desacreditar a Bíblia ou provar que


ela foi modificada sem, talvez, chegarem ao ponto chave. Como os nossos dois
livros são tão diferentes do formato que o Qur’an pressupões que tinha a Torá e o
Injil, o verdadeiro desafio deles é encontrar os livros “originais”, ou pelo menos
alguma evidência do seu estado anterior. Até que eles consigam isto, não se pode
fazer mais do que presumir que os tais “originais” nunca existiram.

Por seu lado, os muçulmanos dirão que, por ser a Palavra de Deus, as afirmações
Qur’an são a única evidência necessária para provar a existência dos livros
“originais”. Ao contrário, o absoluto silêncio da História sobre quais seriam os livros
mais importante já distribuído milita contra a suposta origem divina do Qur’an. A
conclusão lógica é de que Maomé sabia que existiram outras duas escrituras mais
antigas, em poder dos judeus e cristãos, que as liam diariamente. Ele não tinha
razões para duvidar da sua autenticidade, mas errou ao assumir que elas tinham o
mesmo formato do seu Qur’an.

Mais de uma vez, muçulmanos me interpelaram perguntando onde estavam a


Torá e o Injil originais: “Produza os originais para que nós vejamos!”. Minha
resposta a eles sempre foi muito enfática: “Não, vocês é que devem produzi-los! É
o seu livro que alega a existência deles, e não o nosso. Essas escrituras de que
vocês falam não nos interessa, e não cremos que elas foram reveladas. A
obrigação é de vocês de nos mostrá-los, para que possamos examinar as
evidências.”

A Lei e o Evangelho

Outra vez, no entanto, a questão aqui não dá nenhum ponto no placar para os
muçulmanos. Nosso objetivo último é testemunhar a graça de Deus, revelada a
nós em Jesus Cristo e, sempre que os muçulmanos levantarem a discussão das
escrituras “originais”, é uma oportunidade para perguntar-lhes o que na verdade
significam os títulos Torá e Injil. Todas as traduções muçulmanas do Qur’an
traduzem estas palavras como “Lei” e “Evangelho”, respectivamente. Poderíamos,
então, perguntar o quê são essas duas coisas. Por que a Lei revelada a Moisése,
e o que é esse Evangelho que foi trazido por Jesus? Eis uma oportunidade para
mostrar como ninguém pode ser salvo somente pela Lei, e porque a salvação
advém puramente da graça de Deus em Jesus Cristo. Este verso resume o
contraste:

“Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por
meio de Jesus Cristo.” (João 1:17)

Nas suas cartas aos romanos e aos gálatas, Paulo concentra-se no fato de que o
pecado causou tamanha devastação entre Deus e o homem que a Lei, da maneira
que foi revelada a Moisés, não podia salvar ninguém. Os israelitas no deserto já a
haviam rejeitado inteiramente, fazendo um bezerro de ouro e quebrando
virtualmente cada um dos dez mandamentos — dizendo a Deus, muito claramente
na sua festa de idolatria: “não vamos obedecer as suas leis”.

Sempre esteve arraigada no coração humano uma resistência instintiva às santas


leis de Deus. Já perguntei muitas vezes aos muçulmanos, de maneira simples, se
o pecado era aceitável ou não para Deus, e se ele podia ser justificado de alguma
maneira. A resposta deles sempre foi negativa, ao que eu respondia: “Então
porque vocês, quando acordarem amanhã de manhã, não prometem a Deus que
nunca mais irão pecar enquanto viverem?”. Nem sempre eles davam uma
resposta muito enfática à minha segunda pergunta. Os muçulmanos sabem que o
pecado habita dentro deles, não importa o esforço do islamismo para ensinar-lhes
que é uma mera escolha praticar o que é certo ou o que é errado. Pode-se
conseguir bons resultados mostrando a eles que, apesar do homem pecador não
conseguir alcançar a Deus, Ele, na Sua bondade e misericórdia, nos alcançou
através do seu Filho Jesus Cristo.

“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16)

Este é o Evangelho, o significado da palavra Injil. Da mesma maneira, o próprio


nome “Jesus” quer dizer “Deus é a nossa salvação” (cf. Mateus 1:15). Que os
muçulmanos saibam o que as Boas Novas (outra expressão para “Evangelho”) da
salvação de Deus são. Responda, quando surgirem os questionamentos dos
muçulmanos a respeito do Injil “original”, que ele está em todo lugar! Quando lhe
pedirem para que lhes mostre os “originais”, compartilhe com ele as boas novas
do verdadeiro Evangelho. Pergunte a eles o quê a palavra injil significa, e porque
ela sempre aparece do islamismo em conjunção com a pessoa de Jesus. Mais
uma vez, fique sempre atento às maneiras de transformar os argumentos dos
muçulmanos em maravilhosas oportunidades para testemunhar a eles.

4.11O Velho e o Novo Testamentos na Bíblia

Muçulmano: Não importa o que você diz, nós sabemos que o Velho e o Novo
Testamentos não são a verdadeira Palavra de Deus. Em algum período nos
séculos que antecederam o Islã, eles foram corrompidos. Os muçulmanos sempre
foram unânimes quanto a essa visão.

Concluindo, há ainda mais alguns pontos que os cristãos devem conhecer a fim de
desmontar os argumentos dos muçulmanos contra a integridade da Bíblia.

Profecias a respeito de Jesus no Velho Testamento

Apesar do Velho Testamento constituir as escrituras dos judeus e ter sido


terminado alguns séculos antes de Jesus Cristo vir ao mundo, ele contém muitas
profecias sobre Jesus, especialmente as duas características fundamentais da fé
cristã e do ensino do Novo Testamento a seguir:

1. A divindade de Jesus Cristo

Foi antecipado em 1 Crônicas 17:13, Salmos 2:7 e 89:26 e 27, Isaías 9:6, e muitas
outras passagens do Velho Testamento. Os judeus nunca permitiriam que os
cristãos inserissem algo assim no seu texto sagrado.

2. A crucificação e o sofrimento

O próprio evento da crucificação de Cristo é claramente previsto em Salmos 22:1


a 21 e 69:1 a 29, enquanto que o Seu sofrimento aparece em Isaías 52:13 até
53:12, bem como em outras passagens do Velho Testamento. Aqui, novamente,
temos um forte testemunho da integridade bíblica, já que esses seriam os
primeiros textos que os judeus modificariam se tivessem corrompido suas
escrituras alguma vez.

Quem corrompeu as escrituras “originais”?

Os muçulmanos nunca foram capazes de produzir nenhuma evidência histórica


que apontasse um responsável pelas modificações das escrituras, ou quando isso
aconteceu. É preciso lembrar que o mundo cristão aceitou o Velho Testamento dos
judeus como a Palavra de Deus intacta, junto com o Novo Testamento. Não
cremos que Deus jamais tenha permitido que qualquer parte da sua Palavra fosse
modificada. Toda ela foi preservada sem alterações, e não parte dela, como
querem acreditar os muçulmanos.

Como já expomos, a tradução do Velho Testamento para o grego, a Septuaginta,


foi feita dois séculos antes de Cristo. É extremamente consistente com os
manuscritos mais antigos dos textos hebraicos, e não há dúvidas que o Velho
Testamento que temos hoje é o texto sagrado dos judeus, anterior à Jesus e a
Maomé. Ainda assim, essas escrituras trazem as profecias a respeito da divindade
e da crucificação de Jesus Cristo, dois ensinamentos do Novo Testamento que o
Qur’an renega veementemente.

O judaísmo e o cristianismo são religiões muito diferentes, e por vezes até mesmo
opostas. As duas têm as suas próprias divisões internas. Como poderíamos
considerar seriamente a hipótese que, num ponto desconhecido qualquer da
história, as duas se uniram para modificar suas escrituras em comum acordo?
Algo assim dificilmente poderia acontecer sem que fosse documentado, ainda que
considerássemos possível uma conspiração improvável dessas. Mesmo que os
líderes de uma dessas duas grandes religiões decidissem por unanimidade
perverter o Velho Testamento, eles nunca conseguiriam convencer os da religião
rival a fazê-lo. Simplesmente não há lógica, evidências ou razão alguma na
hipótese dos muçulmanos de que a Bíblia tenha sido modificada. É uma das
maiores ilusões já criadas.

Os primeiros acadêmicos muçulmanos e a Bíblia

É bastante significativo que, nos primeiros séculos do Islã, a autenticidade do


Velho e do Novo Testamentos fosse amplamente reconhecida, e que sua
identidade como a Torá e o Injil que o Qur’an cita nunca fosse objeto de
discussão. Mesmo sem ter o mesmo formato do Qur’an, os estudiosos
muçulmanos aceitavam a Bíblia, em parte porque sabiam que os judeus e cristãos
nunca tiveram outro texto sagrado, e também porque o livro é um extraordinário
registro da interação de Deus com o seu povo, de Adão até Jesus Cristo. Além
disso, se a Bíblia não contém os textos originais, de onde ela veio? Por que judeus
e cristãos, durante séculos, iriam forjar um livro com ensinamentos sagrados em
detrimento dos verdadeiros livros de Deus, se eles já possuíam esses últimos?

As atitudes de alguns dos grandes estudiosos muçulmanos dos primeiros séculos


do Islã podem ser contrastados com os argumentos preconceituosos das
publicações muçulmanas modernas.

1. Ali Tabari

Foi um médico famoso da corte do Califa Abbasid Mutawakkil, cerca de duzentos


e cinqüenta anos depois da morte de Maomé. Escreveu uma defesa do Profeta do
Islã, incluindo um estudo de muitas profecias bíblicas, que acreditava serem uma
referência a Maomé. Ali Tabari ensinava com liberdade que o primeiro livro a
existir foi a Torá dos judeus, e que esta ainda estava com eles. Ensinou o mesmo
a respeito do Injil, que, por sua vez, estava sob a guarda dos cristãos. Quando
falava sobre os seus conteúdos, no entanto, ele destacava os conteúdos do Velho
e do Novo Testamento, respectivamente.

2. Abu Hamid al-Ghazzali

Ele foi um dos maiores pensadores que o mundo muçulmano já conheceu, e é


geralmente visto como um dos seus maiores teólogos. Escreveu uma longa
exposição sobre a Trindade e, mesmo tendo vivido cerca de cinco séculos depois
de Maomé, quando outros acadêmicos radicais, como Ibn Hazm, atacaram a
integridade do texto bíblico, ele defendia sua autenticidade. Afirmava apenas que
os cristãos não interpretavam de maneira correta as suas escrituras. Morreu no
ano 1111 d.C.
3. Fakhruddin Razi

Outro grande e famoso teólogo, que viveu cem anos depois de al-Ghazzali e
morreu em 1209 d.C. Ele foi bastante enfático quanto ao texto bíblico: ele não
havia sido modificado, e os ensinamentos e narrativas do Qur’an eram
perfeitamente consistentes em relação aos da Bíblia.

Todos esses acadêmicos somente perpetuaram a posição do Qur’an frente aos


outros textos mais antigos: todos eles seriam a autêntica Palavra de Deus, sem
nenhuma modificação. É importante que os cristãos saibam desses fatos para
responder aos incansáveis ataques dos autores muçulmanos atuais, que fazem
tudo o que podem para minar a autenticidade da Bíblia.
Capítulo Dois

A Doutrina da Trindade
A doutrina de Deus cristã

2.1 Origens bíblicas da Doutrina da Trindade

Muçulmano: A Bíblia não ensina em lugar nenhum que Deus seja uma Trindade.
A palavra “trindade” não aparece no livro. Os judeus crêem em um Deus,
enquanto que gregos e romanos acreditam em vários deuses. A Igreja inventou
três deuses numa única teoria para agradar a todos.

A doutrina da Trindade é uma das mais importantes questões que fazem a divisão
entre cristãos e muçulmanos. Os últimos acreditam ela atinge diretamente o
coração de um dos temas fundamentais do Qur’an, que é o de Deus ser
absolutamente único. Os muçulmanos crêem que qualquer tentativa de atribuir
parceiros a Alá é shirk (“o ato de atribuir parceiros”), o maior de todos os pecados
e o único que não pode ser perdoado:

“Deus jamais perdoará a quem Lhe atribuir parceiros; porém, fora disso, perdoa a
quem Lhe apraz. Quem atribuir parceiros (shirk) a Deus cometerá um pecado
ignominioso.” (Surata 4:48)

A doutrina cristã é vista precisamente como uma associação de Jesus a Deus,


assim como o Espírito Santo. Alá gerando um Filho é, para os muçulmanos, a
expressão última da descrença. Desde a infância, os muçulmanos aprendem essa
surata em especial, já citada neste livro, memorizando-a, e a consideram como
uma das mais importantes do Qur’an — chegam a dizer que ela equivale a um
terço de todo o livro:

“Dize: Ele é Deus, o Único! Deus! O Absoluto! Jamais gerou ou foi


gerado! E ninguém é comparável a Ele!” (Surata 112:1 a 4)

Quando estiver testemunhando aos muçulmanos, você logo descobrirá que os


muçulmanos negarão enfaticamente qualquer possibilidade de Deus ser Triuno,
enquanto que, por outro lado, atacarão ferozmente a doutrina que dizem ser o
ponto mais fraco da fé cristã. Afinal, como três pessoas podem subsistir num só
Deus? Quando Cristo morreu, Deus morreu também? As três pessoas morreram
na cruz? Devem ter morrido, se de fato são uma só pessoa, dirão os muçulmanos.
Eles irão afirmar também, conforme o argumento citado acima, que a Trindade
não aparece na Bíblia. Vamos examinar as provas de que a doutrina têm uma
firme base bíblica.
A divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo

Com os muçulmanos, é necessário enfatizar a natureza do Deus Triuno como é


revelada na Bíblia: Pai, Filho e Espírito Santo.

1. Deus Pai

Este é o título mais comum de Deus no Novo Testamento — Pai —, apesar de ser
raramente encontrado como descrição de Deus nas outras religiões, e nunca
aparecer no islamismo. Jesus sempre falou do Deus no céu como “meu Pai”
(Mateus 18:11), “seu Pai” (Lucas 12:32), “o Pai” (João 14:12) e, quando orando,
simplesmente dirigia-se a Ele como “Pai” (João 11:4). O importante aqui é que se
fala de Deus usando-se termos próprios do relacionamento familiar. Ele não é só
o soberano dominador do universo, mas também possuiu um relacionamento
definido dentro do Seu ser divino e além da Sua própria personalidade individual.

2. Deus Filho

É com a segunda pessoa — o Filho — que Ele goza, em primeiro lugar, desse
relacionamento. Essa segunda pessoa tornou-se o homem Jesus Cristo, que
sempre falou de si mesmo como o Filho do Pai, em termos absolutos e exclusivos.
Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho
(Mateus 11:27). Todo aquele que não honrar ao Filho, também não honra o Pai
que O enviou (João 4:23). Ele veio do Pai ao mundo; deveria deixá-lo e retornar
ao Pai (João 16:28). Quando se discute a Trindade com os muçulmanos, é
importante enfatizar textos como esses, que mostrar o relacionamento divino entre
o Pai e o Filho, do qual, dessa maneira tão exclusiva, nenhum ser humano goza.

3. Deus Espírito Santo

Em todo o Novo Testamento, aparece constantemente uma terceira pessoa — o


Espírito Santo —, que também goza de uma óbvia intimidade tanto com o Pai
quanto com o Filho, no plano divino. Enviado através do Filho pelo Pai, o Espírito
provém do Pai, dando testemunho do Filho (João 15:26). O Espírito foi enviado
pelo Pai no nome do Filho, traz a lembrança do Filho a todos aqueles que são
Seus discípulos (João 14:26).

Todas essas citações são do próprio Cristo, o grande Verbo de Deus que era
desde o princípio, estava com Deus, e era Deus (João 1:1). Ele é constantemente
chamado de Filho de Deus na Bíblia, inclusive pelo próprio Pai, que em duas
ocasiões declarou : “Este é o meu filho amado” (Mateus 4:17, 17:5).

Afirmações bíblicas sobre a Trindade

Há vários trechos da Bíblia que falam sobre as três pessoas da Trindade juntas,
num só espírito. Vamos discutir três deles, que podem ser utilizados em debates
sobre o assunto com os muçulmanos.

1. Mateus 28:19 – O Pai, o Filho e o Espírito Santo

Nessa passagem, Jesus ordena aos seus discípulos que façam mais discípulos
em todo o mundo, “batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”.
É significante notar que Jesus fala em nome dos três, usando o singular para
demonstrar uma unidade absoluta entre eles. Do mesmo modo, o “nome”, na
Bíblia, é freqüentemente utilizado para definir de algum modo aquele que o recebe
— Mosheh (Moisés), por exemplo, assim chamado porque foi tirado (mashah) da
água. Em Mateus 28:19, Jesus usa a palavra “nome” para expressar a natureza
comum das três pessoas, querendo dizer aos discípulos que batizassem na
essência única do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

2. 2 Coríntios 13:14 – A bênção triuna

Paulo conclui a sua segunda carta à igreja em Corinto desejando que a graça do
Filho, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo fosse com eles.
Novamente, cada pessoa da Trindade é citada em união com as outras duas, e é
a bênção e a comunhão das três pessoas divinas juntas que lhes é dada.

3. Efésios 2:18 — Acesso ao Pai Eterno

Outra vez Paulo é quem menciona as três pessoas da Trindade juntas, numa
afirmação de objetivo comum e união divina. Em Jesus Cristo, tanto os crentes
judeus quanto gentios têm acesso, através do mesmo Espírito Santo, ao Pai.
Novamente, é a unidade dessas três pessoas que deve ser ressaltada, e é no
âmbito espiritual que se dá o relacionamento entre elas. Em Mateus 28:19,
aparece a natureza divina comum das três pessoas; em 2 Coríntios 13:14, uma
bênção divina comum; e aqui, a acessibilidade divina comum é apresentada ao
leitor.

Há muitas outras passagens que sustentam a Trindade na Bíblia. Mesmo no


Velho Testamento há menções às outras pessoas, tanto o Filho em relação ao
Pai, como vimos no último capítulo, quanto o Espírito Santo, a quem
freqüentemente os escritores se referem como o agente direto de Deus, e como
seu próprio espírito (Gênesis 1:2, Salmos 51:11). É essencial, no testemunho aos
muçulmanos, mostrar que a Igreja não inventou a Trindade ou adaptou sua fé em
Deus para favorecer crenças monoteístas ou politeístas, mas que a encontrou
diretamente nos ensinamentos bíblicos.

É útil também demonstrar que foi a vinda de Jesus Cristo ao mundo que permitiu
a revelação de Deus como ser trino. Antes dEle, o Velho Testamento referia-se a
Deus como Yahweh, o Senhor Deus de Israel. Mas quando Jesus começou a
ensinar, chamando Deus de Pai, a si próprio de Filho e anunciando a vinda do
Espírito Santo, não deixou dúvida que os três compartilhavam o mesmo plano de
glória divina, a mesma natureza, essência e propósito, e que havia neles uma
unidade absoluta. Como conseqüência, o Novo Testamento foca consisten-
temente cada uma das três pessoas da Trindade divina como esferas nas quais os
cristãos podem conhecer a Deus (o Pai), serem perdoados por Ele (através do
Filho, Jesus Cristo) e gozar da sua presença divina (no Espírito Santo). Todas as
referências a Yaweh desaparecem à luz da unidade íntima que todos os crentes
gozam com Deus, agora mais plenamente revelado em Sua verdadeira natureza e
personalidade trina.

2.2 A incompreensível natureza de Deus

Muçulmano: O conceito de Deus do islamismo é muito fácil de entender, mas a


sua doutrina cristã da Trindade é um desafio à razão. Mesmo com mil livros, é
impossível explicá-la totalmente. Por outro lado, nossa doutrina é tão simples que
pode ser colocada num selo postal: “Huwallaahu ahad” — Ele é Alá, o Único.

Os muçulmanos têm uma dificuldade sincera em entender como Deus pode ser
três. Quando explicam a doutrina, é comum que os próprios cristãos se
confundam tanto quanto os muçulmanos! Não é, realmente, um conceito simples.
Contudo, a sua complexidade não é um argumento razoável contra a sua validade
— ao contrário, é um dos pontos fortes ao seu favor. Afinal, estamos lidando com
a natureza do eterno Deus do Universo. Ele é maior que os céus e a terra — seria
alguma surpresa se nós, meros mortais, criaturas limitadas, descobríssemos que a
sua característica básica é incompreensível? A própria Bíblia diz:

“Porventura, desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do


Todo-poderoso? Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás fazer?
Mais profunda é ela do que o abismo; que poderás saber?” (Jó 11:7 a 9)

Os muçulmanos sustentam que o conceito islâmico de Deus pode ser


compreendido facilmente, e, portanto, seria mais aceitável do que a doutrina que
os próprios cristãos admitem ser incompreensível. É impossível não perguntar se
um conceito de Deus mais compreensível à mente humana não é na verdade uma
criação dessa mesma mente limitada. Como disse Kenneth Cragg, a doutrina de
Deus não se afirma pela capacidade de ser reduzida a uma frase num selo. Não
estamos lidando com algo simples. O escritor muçulmano Afif Tabbarah é mais
razoável quando diz que o Deus Todo-poderoso é muito diferente de suas
criaturas, e mais sublime do que nossas mentes conseguem imaginar.

Buscando o conhecimento de Deus

A doutrina da Trindade não é contrária à razão, apenas está acima dos domínios
da razão limitada do homem. É necessária uma abordagem diferente para se
aceitar isso. Um estudo racional e analítico dos seus princípios não trará muitos
resultados palpáveis. O apóstolo Paulo disse certa vez:

“Por que se julga incrível enter vós que Deus ressuscite os mortos?” (Atos 26:8)

Paulo, dirigindo-se ao rei Agripa e outros membros da corte, não tentou explicar
racionalmente como os mortos eram trazidos de volta à vida. Todos os estudos
científicos da natureza do mundo nunca poderão explicar racionalmente como isso
pode ser possível. A questão aqui é de fé. Todos os muçulmanos, somente pela fé,
conceberão a ressurreição de mortos. Por que então — poderíamos perguntar —
é tão inacreditável para eles que o Deus Todo-poderoso, que domina o universo,
tenha uma incompreensível natureza infinita e eterna?

O Novo Testamento está muito mais preocupado com nosso relacionamento com
Deus do que com a nossa compreensão da Sua natureza. O que sabemos a
respeito de Deus não é nem de longe mais importante do que a necessidade de
conhecer verdadeiramente a Deus. A busca pela Sua santidade, o perdão dos
nossos pecados e a segurança da vida eterna são as reais preocupações das
escrituras cristãs. Como Paulo disse, conhecemos a Deus ou, antes, somos
conhecidos por Deus (Gálatas 4:9). Através da revelação de Deus na sua
natureza trina, especialmente com o que foi revelado a nós em Jesus Cristo, que é
a imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15), em quem habita corporalmente a
plenitude de Deus (Colossenses 2:9), é que iremos conhecer a Deus e sermos
conhecidos por Ele. Alguém precisa dizer aos muçulmanos que o mais
importante é sermos aprovados por Deus, justificados por Ele, amados e
perdoados, do que sermos capazes entender ou compreender Sua natureza. Deus
quer ser amado e obedecido, e não estudado ou analisado.

A Trindade: a revelação divina

É importante também destacar que, apesar das linhas adotadas pelas igrejas
Católica Romana, Protestante ou Ortodoxa serem divergentes em muitos
aspectos, elas nunca questionaram a doutrina da Trindade, nem mesmo os seus
menores detalhes. A razão é simples: não foi a Igreja quem criou essa doutrina. A
Igreja apenas discerniu a Trindade a partir do estudo da revelação de Deus nas
escrituras sagradas. É a única doutrina de Deus que pode ser formulada a partir
de um estudo objetivo dos livros do Novo Testamento.

O Concílio de Nicéia em 325 d.C. finalmente definiu a doutrina Trinitariana. O


termo “Trindade” foi proposto pela primeira vez por Tertuliano, o grande estudioso
cristão africano da antigüidade. Os muçulmanos, com freqüência, atém-se a este
fato para provar que a doutrina foi uma invenção da igreja, alguns séculos depois
de Cristo. Em linhas gerais, alguns muçulmanos argumentam que Deus sempre foi
uma entidade única, até o século três, quando a Igreja transformou Deus numa
Trindade. Posso sugerir uma linha de argumentação bastante eficiente, que
descobri ser efetiva para rebater esta objeção.

Durante séculos, os homens acreditaram que a Terra era redonda e que o sol, os
planetas e as estrelas giravam ao seu redor. Há apenas alguns séculos atrás,
Galileu, Copérnico e outros astrônomos começaram a dizer que, na verdade, a
Terra era redonda, estava suspensa no espaço e girava em torno do Sol. A nova
teoria foi atacada (principalmente pela Igreja!) pela simples razão de que,
historicamente, estava estabelecido como senso comum que a Terra era chata e
que, em qualquer acontecimento, o mesmo senso comum diria que o nosso
planeta não se movimentava, e sim o céu é que girava ao nosso redor. A idéia de
que estamos girando a quase dois mil quilômetros por hora ao redor do nosso
próprio eixo todos os dias, em torno do Sol a dezenas de milhares de quilômetros
por hora e através do Universo a velocidades ainda maiores, era simplesmente
inteiramente racional para a mente do homem daquele tempo. Só aceitamos a
teoria hoje porque temos comprovações científicas de que ela é verdadeira, mas
ainda assim é difícil de compreendê-la. A natureza de Deus, no entanto, não é
passível de ser determinada cientificamente. Ainda assim, Ele pode ser
exatamente o contrário do que as pessoas esperariam, de modo semelhante ao
que ocorreu com o sistema planetário. A Igreja, contudo, discerniu a natureza trina
de Deus quatorze séculos antes de ser descoberta a verdade sobre como
funciona o nosso universo. Por quê? Simplesmente porque Deus revelou-nos sua
verdadeira natureza nas escrituras. A Igreja não transformou Deus numa Trindade
— Ele o era desde a eternidade.

Alguns muçulmanos argumentam que a Trindade não pode ser provada


matematicamente, pois 1 + 1 + 1 = 3. Não há como transformar isso em 1
novamente. Mas mesmo a Matemática usa um símbolo independente, ∞, para
definir o infinito, simplesmente porque ele não pode ser multiplicado, dividido,
adicionado ou subtraído de numerais comuns. Da mesma forma, também o Deus
infinito não pode ser compreendido por meios finitos, e a nossa Matemática é um
padrão um tanto quanto inadequado para determinar realidades eternas!

O cristianismo não faz nenhum esforço para apresentar um Deus que o mundo
possa compreender. O objetivo é revelar um Deus que pode ser conhecido — o
Pai que ama seus filhos, o Filho que morreu para resgatá-los, e o Espírito Santo
que os renova e os santifica. A meta humana é chegar ao céu para estar com
Deus, e não ser capaz de desenhar um mapa celeste ou de produzir um conceito
fácil de Deus, analisado ou reduzido a apenas uma frase que cabe num selo
postal.

2.3 A unidade de Deus: o fundamento da Trindade

Muçulmano: A verdade é que os cristãos adoram três deuses e são culpados de


“shirk”. A Bíblia enfatiza que Deus é único. Sua doutrina é inconsistente com as
suas próprias escrituras. Não há como colocar três personalidades num só Deus.

É intrigante ver os muçulmanos dizendo que a Bíblia ensina, de maneira enfática,


que Deus é um só, como se com isso a doutrina da Trindade caísse por terra. O
Velho Testamento declara que “o Senhor é Deus em cima no céu e embaixo na
terra; nenhum outro há” (Deuteronômio 4:39), enquanto que o Novo Testamento
diz que “o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor!” (Marcos 12:29) e que “Deus é
um só” (Romanos 3:30, Gálatas 3:20). Estes textos, quando citados em debates
acerca da Trindade com muçulmanos, demonstram que a unidade de Deus é uma
mensagem fundamental de toda a Bíblia, assim como no Qur’an. O ponto a ser
considerado é a natureza complexa dessa unidade na doutrina bíblica do Deus
trino.
Deus: uma tri-unidade, não um triteísmo

Como podem três ser um? — esta é a grande pergunta dos muçulmanos. Todos
os seres humanos são criaturas distintas, com personalidades distintas. Não há
como fazer com que três seres tenham uma mesma única natureza. Nossa
resposta a isso deve ser encontrada na Bíblia, observando como ela projeta o Pai,
o Filho e o Espírito Santo.

1. 1 João 1:5 — Deus é luz

A Bíblia aborda esse tema várias vezes. Deus é chamado de “Pai das luzes, em
quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1:17). O Filho de
Deus, Jesus Cristo, também declarou que ele era “a luz do mundo; quem me
segue não andará nas trevas; pelo contrário, terás a luz da vida” (João 8:12),
enquanto que o Novo Testamento diz também que Ele nunca mudará, sendo o
mesmo ontem, hoje e sempre (Hebreus 13:8). Através do Espírito Santo, Deus
também brilha em nossos corações para dar a luz “para iluminação do
conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (2 Coríntios 4:6). Há,
claramente, uma absoluta unidade de essência e propósito entre as três pessoas.

2. João 3:33 — Deus é verdadeiro

Assim como este texto declara que a verdade é uma característica essencial de
Deus, o Pai, também o Filho de Deus diz que Ele é a verdade (João 4:6).
Semelhantemente, o Espírito Santo é chamado de “Espírito da Verdade” (João
15:26). Não há falsidade em nenhum dos três. Outra vez, descobrimos que, ainda
que os seres humanos tenham personalidades e características diferentes, essas
diferenças não existem entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Os três são a
verdade.

3. 1 João 4:8 — Deus é amor

O Novo Testamento fala com freqüência do amor do Pai (João 16:27), mas vai
além dizendo que o amor de Deus foi manifesto no fato de que Ele enviou o Seu
Filho para nos redimir dos nossos pecados (Romanos 5:8, 1 João 4:10). Também
afirma que o amor de Deus foi “derramado em nosso coração pelo Espírito Santo,
que nos foi outorgado” (Romanos 5:5). Mais uma vez, uma demonstração de
unidade absoluta na essência e no propósito entre as três pessoas da Trindade.

O mesmo pode ser dito a respeito da vida de Deus. Assim como o Pai é a fonte de
toda a vida, o Filho também diz ser “a Vida” (João 11:25, 15:6) e é chamado de
Autor da Vida (Atos 3:15). O Espírito Santo também é aquele por meio de quem
Deus dá a vida eterna aos nossos corpos mortais (Romanos 8:11). Em todos estes
textos, podemos ver uma tri-unidade divina, e não três personalidades
independentes. Nossa doutrina somente se sustenta dentro de uma definição da
unidade de Deus. Sem isso, a natureza fundamental da Trindade se esvai. Não é
possível estabelecer a doutrina fora da singularidade essencial de Deus. Como
disse Jesus, “eu e o Pai somos um” (João 10:30), unidade esta que é
compartilhada com o Espírito.

Primeiras reações muçulmanas contra a Trindade

É interessante deter-se no momento em que os primeiros autores muçulmanos


começaram a responder à doutrina da Trindade. O mais importante e completo
trabalho foi uma dissertação do século IX d.C., escrita por Abu Isa al-Warraq,
chamada Ar-Radd ala al-Tathlith (“A refutação da Trindade”).

Abu Isa escreveu como resposta aos teóricos cristãos do seu tempo. Eles
ensinavam o caráter trino de Deus de maneira bastante técnica, e enfocavam o
Filho como o Verbo e o Espírito como a Vida — uma distinção muito pobre, uma
vez que Jesus Cristo, como já vimos, muitas vezes disse que Ele era “a Vida”.
Assim como os cristãos modernos usam, com freqüência, ilustrações para explicar
a Trindade (como o ovo, que tem três partes: a casca, a clara e a gema), os
cristãos daquela época também se utilizaram de abordagens que, na minha
opinião, eram inadequadas e muitas vezes enganadoras. Tentaram, usando a
razão, provar que três hipóstases pudessem ser um único ser.

Abu Isa respondeu da mesma forma, seguindo os princípios deixados pelo


acadêmico muçulmano Al-Kindi — Deus era um ser que não podia ser
multiplicado ou dividido de forma alguma, nem pela Sua essência e nem por outra
coisa qualquer; e que a Sua substância também não era passível de divisão ou de
multiplicação. Enquanto a maioria dos autores muçulmanos geralmente atacavam
a doutrina cristã a partir do Qur’an — usando o argumento que Alá não podia ter
filhos e nem ter parceiros, e que Jesus era um mero mensageiro —, Abu Isa
rebateu a doutrina superficialmente, e se familiarizou bastante com ela.

Ele argumentava que, se as hipóstases eram a substância, e se a substância é


única e indiferenciada mas as hipóstases são três, então os cristãos estavam
transformando algo diferenciado em indiferenciado. Ele dizia, portanto, que se a
substância é idêntica às hipóstases, a recíproca tem de ser verdadeira. Não
podem existir três de algo único, e vice-versa. Se são distintos, a substância deve
ser uma quarta pessoa.

Abu Isa baseou seus argumentos nas teorias racionais populares do seu tempo.
Uma delas era que a razão humana é sempre o único critério para julgamento, e
que os profetas deveriam falar de acordo com os seus princípios. É fácil perceber
o que acontece quando os cristãos tentam provar a Trindade com a razão analítica
e princípios finitos. Novamente, eu enfatizo o que disse na introdução do livro: seja
bíblico nas suas respostas, e não doutrinário, racional ou ilustrativo. Nossa maior
resposta aos muçulmanos é que a nossa doutrina é fruto de revelação divina, e
não pode ser julgada pela razão humana e suas limitações. Respondemos àquilo
que Deus revelou a respeito de Si mesmo porque, como disse Carl Pfander, a
razão humana é incapaz de entender o Ser eterno. A tênue luz da razão deve dar
lugar à aurora radiante da verdade.

2.4 A doutrina da Trindade tem origens pagãs?

Muçulmano: Sua doutrina tem fundamentos de religiões pagãs, que também


tinham deuses que formavam trindades muito antes do cristianismo existir. Os
egípcios, hindus, romanos e gregos também tinham tríades de divindades, nas
quais acreditavam.

A tendência dos muçulmanos de desprezar a essência da unidade do Deus trino, e


de considerar a fé cristã triteísta, dá margem a acusações de que a doutrina tem
paralelos em religiões pagãs antigas, nas quais havia uma pluraridade de deuses
que eram adorados. Todos os tipos de exemplos já foram levantados por autores
muçulmanos que discutiram o assunto.

Exemplos específicos de supostos paralelos

Muitos tipos de tríades foram citadas por autores muçulmanos, como por exemplo
a dos deuses gregos Zeus, Demétrio e Apolo, apesar de nunca ter sido
considerado que existisse uma unidade absoluta entre eles, ou qualquer
semelhança à verdadeira Trindade bíblica do Pai, Filho e Espírito Santo.
Analisaremos dois dos exemplos mais usados pelos muçulmanos como prova de
sua tese:

1. Os deuses egípcios Osíris, Ísis e Hórus

Em publicações muçulmanas, é comum encontrarmos o argumento de que os


egípcios também tinham sua trindade, formada pelos deuses Osíris, Ísis e Hórus,
que seriam o equivalente egípcio da Trindade. Destaco outra vez a importância de
se enfatizar a unidade que é a essência de Deus, e que é o fundamento
monoteísta da fé cristã. A própria palavra Trindade traz a idéia de uma unidade
divina — só os muçulmanos sabem o que eles querem dizer com “trindade de
deuses”. A própria expressão é contraditória.

A família mitológica dos deuses conhecidos como Osíris, Ísis e Hórus constitui
uma família composta por pai, mãe e filho — a diferença entre a doutrina cristã do
Pai, Filho e Espírito Santo é a maior que você puder imaginar. Além disso, são só
três da multidão de divindades egípcias, que incluem Num, Atum, Ra, Khefri, Shu,
Tefnut, Anhur, Geb, Nut e Set.

Havia, também, mais de um Hórus: o Hórus ancião, o Hórus de Edfu, o Hórus filho
de Ísis, etc. A religião egípcia não era trinitariana, não tinha um Ser Supremo cuja
personalidade era trina. Eles adoravam a vários deuses, entre quais Osíris, Ísis e
Hórus. Não se acreditava que os três compartilhavam uma unidade absoluta.
Como veremos, essas tríades pagãs estão mais próximas do conceito equivocado
do Qur’an a respeito da doutrina bíblica do que da doutrina verdadeira, conforme
fundamentada na Bíblia.

2. A “Trimurti” hindu: Brahma, Visnu e Siva

Os hindus acreditam na “Trimutri” — uma tríade formada pelos deuses Brahma,


Visnu e Siva. Os muçulmanos argumentam que a Trindade cristã é inspirada no
conceito hindu. Uma análise histórica do conceito hindu mostrará, no entanto, que
não existe, nem remotamente, um paralelo entre as duas religiões.

Braham é uma divindade impessoal do hinduísmo, que não possuiu


personalidade e representa tudo aquilo que existe num estado de perfeito nirvana
(o ato de se absorver num estado universal). Vishnu é casado com uma divindade
feminia, e Siva é o maior deus dos savitas hindus. Eles não tem nenhum
relacionamento em particular uns com os outros. O hinduísmo tem várias outras
divindides, como Krishna, Rama, Sita, Ganesh, Hanuman, Kali, enter outras. O
Upanishads, as Vedas e outros textos sagrados hindus ensinar que não há uma
relação três-em-um entre Brahma, Vishnu e Siva. As Vedas falam em, pelo
menos, trinta e três divindades diferentes, que são deuses individuais, às vezes
até opostos aos outros. Muitos são casados com deusas hindus.

O conceito da Trimurti só vai ser encontrado em sânscrito mais modernao, e não


pode ser anterior ao século V d.C. — muito depois da doutrina da Trindade ter sido
completamente estabelecida. Os muçulmanos, simplesmente, usam qualquer
artifício que encontrem para relacionar a crença cristã da Trindade às divindades
pagãs, mesmo que não haja nenhuma semelhança entre eles.

A singularidade da Trindade bíblica

Os muçulmanos que argumentam que nossa doutrina tem origens pagãs terão
que apresentar provas muito melhores e correntes de evidências verdadeiras para
provar sua dependência de credos pagãos. A doutrina da Trindade é
absolutamente única, sem paralelos em nenhuma outra religião ou filosofia.
Ninguém poderia inventá-la, ou descobri-la, senão pela revelação nas páginas do
Novo Testamento. Ela se originou no ambiente predominantemente monoteísta do
judaísmo, e representa uma divindade totalmente consistente com o Deus de
Israel do Velho Testamento.

Quando os muçulmanos falam da origem pagã da Trindade, os cristãos têm uma


oportunidade excepcional para testemunhar efetivamente a glória de Deus e Seu
maravilhoso plano para a nossa salvação. A característica distintiva da nossa
doutrina é a tripla personalidade dada pelo Pai, Filho e Espírito Santo. Os
próprios autores do Novo Testamento não tentaram definir a doutrina cristã sobre
Deus, nem codificá-la ou explicá-la. Eles simplesmente a proclamaram! Restou
aos estudiosos cristãos das gerações que se seguiram a interpretação desses
ensinamentos, a fim de definir claramente uma doutrina.
Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo e todos os outros autores do Novo
Testamento estavam mais preocupados principalmente em projetar a relação entre
o Pai, o Filho e o Espírito Santo para os crentes. O objetivo era evocar uma
resposta de fé dos corações, e fortalecê-la. Como já foi dito aqui, Deus não quer
ser definido, analisado ou conceitualizado, mas sim reconhecido, obedecido e,
implicitamente, que se confie nEle. Ele não pode ser visto, materializado,
computadorizado ou reduzido a algo que possa ser determinado com métodos
finitos. No entanto, Ele pode ser conhecido, e a questão entre os muçulmanos e
os cristãos não é tanto sobre a Sua identidade, mas sim o quê precisamos
assegurar com urgência, que é receber dEle o perdão, o Seu Espírito, conhecê-lO
pessoalmente e tornar-se filho dEle para, assim, herdar o Seu reino.

Na próxima seção, vamos ver a melhor maneira para se apresentar a Trindade


aos muçulmanos, bem como porque é melhor usar o assunto como oportunidade
de testemunho ao invés de debatê-lo e provar a validade da sua opinião.

2.5 O Pai, o Filho e o Espírito Santo

Muçulmano: O Qur’an ensina que a maior honra para um homem é servir a Alá,
que é nosso Senhor e Mestre. O que nos é pedido é que obedeçamos as suas leis
e acreditemos no Dia Final, onde esperamos que ele perdoe os nossos pecados

Para um muçulmano, o favor de Deus não pode ser garantido, Seu perdão não
pode ser assegurado nesta vida, e é impossível conhecê-lo ou ter um
relacionamento pessoal com ele. O Qur’an diz:

“Sabei que tudo quanto existe nos céus e na terra comparecerá, como servo, ante
o Clemente.” (Surata 19:93)

A palavra usada com o sentido de servo é abd. Um pouco antes, na mesma


surata, é registrada uma declaração de Jesus contendo a mesma palavra: “Sou o
servo de Deus” (Surata 19:30). Segundo o islamismo, este é o maior nível que um
homem pode atingir perante Alá — não mais do que um servo do sue Mestre e
Juiz divino. Portanto, os muçulmanos acreditam que eles só devem viver como
servos de Deus, trabalhando para conquistar o Seu favor e esperando que Ele se
alegre com as suas vidas quando chegar o Dia da Ressurreição. Aqui está um
glorioso campo para proclamar a Trindade, de maneira a apresentar um Deus
muito mais glorioso, em quem é possível ter uma esperança muito maior.

O Pai: Deus para nós

Segundo os registros de Hadith a respeito do islamismo, Alá tem noventa e nove


“lindos nomes” (al-asma’ul husna), que são os seus atributos. Quem os pronuncia
ganha a perspectiva de entrar no Paraíso (Sahih Muslim, vol. 4, p. 1410). Os treze
primeiros nomes aparecem, na ordem, na Surata 59:22 a 24, e começam assim:
Ar-Rahman (o Clemente), Ar-Rahim (o Misericordioso), Al-Malik (o Soberano), Al-
Quddus (o Santo), etc. Para os muçulmanos sufi, Alá tem um centésimo nome,
que foi revelado apenas aos grandes mestres sufi da História.

Já sugeri diversas vezes aos muçulmanos que, se falta um nome para Alá, não é o
centésimo, mas sim o primeiro que é o título mais comum de Deus no Novo
Testamento: Pai. É significativo que Deus não seja chamado de Pai em lugar
algum do Qur’an, ou mesmo em qualquer outro texto da literatura islâmica mais
antiga. O ponto é, logicamente, que, se o maior posto que um homem pode ter
perante Deus é o de ser um mero servo, como ensina o Qur’an, então Alá só pode
ser seu Mestre (Al-Malik). O Qur’an simplesmente não permite a possibilidade de
nos tornarmos filhos de Deus — de fato, ele afirma justamente o contrário, com
todas as letras (Surata 6:100).

Quando começou a pregar, no entanto, Jesus ensinou claramente que Deus é o


Pai de todos aqueles que crêem. Este título, dado à primeira pessoa da Trindade,
nos revela o Deus para nós. Ele se tornou nosso Pai, e assim não somos mais
meros escravos ou servos de Deus, mas Seus filhos. É bastante útil comparar os
privilégios de um servo e de um filho, quando estiver conversando com um
muçulmano. Um servo tem que merecer a sua sobrevivência todos os dias. O seu
senhor não tem necessariamente algum tipo de afeto pelo servo, e só espera que
ele faça a sua tarefa. O servo pode ser dispensado se não fizer seu trabalho
corretamente. Ele viverá fora da casa do seu senhor, mas nos domínios dele. Um
filho, por outro lado, sabe que é amado pelo seu pai, e que não será nunca
colocado para fora da sua casa. Ele não precisa fazer nada para merecer a sua
posição, porque ela é dele por direito. Ele mora na casa do seu pai, e tem o seu
próprio espaço. O filho experimenta uma liberdade que o servo nunca teve, porque
ele sabe que o seu pai é por ele. O mesmo acontece com os verdadeiros cristãos,
que conhecem o amor de Deus pessoalmente.

“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados
filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus.” (1 João 3:1)

“Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o


seu reino.” (Lucas 12:32)

É só pelo conhecimento de Deus, o Pai, que a plenitude do Seu amor poderá ser
verdadeiramente experimentado; e que os crentes, como Seus filhos, terão
certeza da Sua boa vontade em relação a eles e do seu lugar no reino que está
por vir.

Deus Filho: Deus conosco

Cristo não só se apresentou como o Filho de Deus, mas também assegurou aos
seus discípulos que, através da fé nEle, eles também poderiam tornar-se filhos de
Deus. Estava dentro da vontade de Jesus entregar a sua vida por nós, para que
víssemos o amor de Deus verdadeiramente revelado a nós. Aqui, também, temos
um Deus conosco. Ao assumir a forma humana, o Filho, a segunda pessoa da
Trindade, também aproximou o homem a Deus de maneira inédita. Já perguntei
muitas vezes aos muçulmanos qual tinha sido o maior ato de amor de Alá para
com eles, e recebi várias respostas diferentes. No entanto, será que Ele teria dado
de si mesmo a fim de revelar seu amor por eles, da mesma forma que Abraão fez,
quando estava pronto para sacrificar seu próprio filho como teste supremo de seu
amor por Deus? O islamismo não aponta para uma resposta positiva à essa
questão. Somente a revelação de um Deus trino pode nos dar um retrato tão
perfeito do Seu amor, resumido nestas palavras:

“Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele
nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados.” (1 João
4:10)

“Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido
por nós, sendo nós ainda pecadores.” (Romanos 5:8)

Em Jesus, temos a segurança do perdão dos nossos pecados, e estamos aptos a


perceber a grandeza do amor de Deus por nós. Os muçulmanos não conhecem
amor como este. Quando o Qur’an fala do amor de Deus e O chama de al-Wadud
(o Amabilíssimo — Surata 85:14), significa (de acordo com estudiosos
muçulmanos) simplesmente que Ele expressa aprovação aos que O seguem. Não
significa que Ele tenha um sentimento pessoal por eles, ou que Ele seja capaz de
algum sacrifício para demonstrar o Seu amor pela humanidade.

Com minha experiência, já vi muitos muçulmanos acolheram a revelação cristã de


um Deus amoroso em Cristo. Os seres humanos são capazes de expressar os
mais belos atos de amor sacrificial em prol daqueles que amam, e muitos
muçulmanos querem conhecer um Deus que seja assim, e assegurar-se do Seu
favor eterno e amor pessoal por eles. Somente em Jesus Cristo é que eles podem
encontrar esse Deus, o único que demonstrou a verdade do que disse — que não
poderia haver amor maior de um homem pelos seus amigos do que entregar a sua
vida por eles (João 15:13). Este é o nosso melhor testemunho.

Deus Espírito Santo: Deus em nós

É na terceira pessoa da Trindade que o amor de Deus pode não apenas ser
conhecido e percebido, mas também experimentado de maneira pessoal. Jesus
falou muitas vezes a respeito da necessidade de recebê-lO — o Espírito Santo.
Não se trata apenas de uma força especial ou de um poder divino, mas do próprio
Espírito de Deus que, quando habita alguém, de uma maneira especial (para
aqueles que crêem), é como se Deus realmente vivesse naquela pessoa. Temos
aqui o terceiro efeito da revelação do Deus trino: Deus em nós. Não é de se
admirar que os autores do Novo Testamento não tenham se esforçado para definir
ou explicar a Trindade. Conhecer a Deus, ter a certeza de que Ele é por nós, em
nós e conosco, é tudo o que precisamos saber para desfrutarmos de um
relacionamento completo com ele. O Espírito dá aos crentes o poder de viver
segundo as santas leis de Deus, mas, além disso, proporciona a experiência de
viver com a presença de Deus em nós. Deus enviou o Seu filho para que nos
tornássemos ser Seus filhos; e, porque somos Seus filhos, Ele também nos enviou
o Seu Espírito aos nossos corações, para que pudéssemos dizer: “Abba! Pai!”
(Gálatas 4:4 a 6).

“... mas recebestes o espírito de adoração, baseados no qual clamamos: ‘Abba,


Pai.’ O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.”
(Romanos 8:15 e 16)

“ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso


coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.” (Romanos 5:5)

Descobri uma ilustração que pode ser útil nesta altura: um casal decidiu adotar
uma criança órfã, e irá enfrentar todo o processo legal para oficializar a adoção. A
criança continuará não conhecendo os seus pais biológicos, mas quando os seus
novos pais o levarem para a sua casa nova, mostrarem-lhe o seu quarto e lhe
disserem que a casa também é dele, aceitando-o com amor, ele saberá que não é
mais órfão, e irá experimentar o amor dos seus novos pais por ele. É o que
acontece quando o Espírito Santo adentra o nosso coração.

Não há maneira melhor de explicar a Trindade a um muçulmano do que mostrar a


ele essa revelação em três faces do amor de Deus por nós — uma revelação que
pára na perfeição. Somente um Deus trino é que poderia mostrar, integralmente,
aquilo que esse amor poderia ser, ou tem sido. Na introdução deste livro, foi dito
que os cristãos precisavam ser bíblicos no seu testemunho, e em nenhum lugar
é mais importante aplicar isso do que no tema da Trindade. Não deixe que os
muçulmanos vençam pelo cansaço com os argumentos de que a doutrina não tem
uma lógica racional, nem tente provar a sua validade com ilustrações “três-em-um”
incompletas. Use a oportunidade para mostrar-lhes que a personalidade trina de
Deus só foi revelada quando Jesus veio ao mundo e falou com liberdade a
respeito do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Foi só quando era tempo do amor de
Deus ser totalmente expressado em Cristo, que a verdadeira e integral natureza
de Deus tornou-se acessível a nós. Por isso, os autores do Novo Testamento
mantiveram exclusivamente esse foco quando tratavam da Trindade. O melhor
que podemos fazer, quando estivermos testemunhando aos muçulmanos, é agir
da mesma forma.

2.6 O Qur’an e a doutrina cristã

Muçulmano: O Qur’an nega expressamente a Trindade. Deus é um só, e não


três, como vocês acreditam. É uma grande blasfêmia dizer que Alá tem parceiros
ou colaboradores. Tudo o que há no céu e na terra dá glória somente a Ele.

O maior motivo da confusão que os muçulmanos fazem sobre a Trindade são as


informações falsas contidas no Qur’an. A palavra “Trindade” também não aparece
no livro deles, mas é claro que o Qur’an tinha a intenção de se opor à crença da
existência divina subdividida em três, não importa qual a forma que tomasse.
Contudo, ele não chega sequer a mencionar a crença básica cristã no Pai, Filho e
Espírito Santo, mas reage a uma doutrina pervertida, possivelmente derivada de
crenças sectaristas da Península Arábica e arredores.

O trio corânico: Jesus, Maria e Alá

O Qur’an rejeita enfaticamente a crença dos cristãos numa tríade de deuses,


nomeados, nessa ordem, como Jesus, sua mãe Maria, e Alá! Em três passagens,
esse conceito é condenado como politeísta e blasfemo. A primeira diz:

“Crede, pois, em Deus e em Seus mensageiros e digais: Trindade! Abstende-vos


disso, que será melhor para vós; sabei que Deus é Uno. Glorificado seja! Longe
está a hipótese de ter tido um filho.” (Surata 4:171)

A palavra usada para “Trindade” é thalathah, que aparece dezenove vezes no


Qur’an. Significa sempre “três, mas não poderia nunca ser traduzida ou entendida
como “Trindade”. A ordem de não se falar de Alá como se Ele fosse formado por
três pessoas está dentro de uma passagem exortando os cristãos em geral a não
exagerar na sua religião. Atrevés do contraste da singularidade de Deus com a
divindade trina cristã, fica claro de que o Qur’an desconhece a unidade, que é a
essência da doutrina cristã sobre Deus.

Num outro trecho, o Qur’an chega a identificar três divindades diferentes, que
seriam as adoradas pelos cristãos. Não muito surpreendente é o fato das três
passagens que lidam com esse assunto fazerem parte dos últimos trechos do
Qur’an revelados a Maomé, e parece que foi só no fim da vida que o Profeta
ouviu, pela primeira vez, a respeito da Trindade, sem, no entanto, ter descoberto
precisamente o que ela representava. O segundo verso que fala do assunto diz:

“São blasfemos aqueles que dizem: Deus é um da Trindade!, portanto não existe
divindade alguma além do Deus Único. Se não desistirem de tudo quanto afirmam,
um doloroso castigo açoitará os incrédulos entre eles.” (Surata 5:73)

As palavras usadas na primeira frase para dizer “um da Trindade” são thalithu
thalathah. Outra vez, não deveria haver nenhuma referência específica à Trindade
pois, como já vimos, a palavra thalathah significa apenas “três”, e não diz que o
Deus cristão é um ser trino. A distinção, novamente, é puramente entre um e três,
e não engloba uma entidade trina. Alguns versos depois, o Qur’an identifica as
outras duas divindades da que, supostamente, seriam adoradas na tríade cristã:

“O Messias, filho de Maria, não é mais do que um mensageiro, do nível dos


mensageiro que o precederam; e sua mãe era sinceríssima. Ambos se
sustentavam de alimentos terrenos, como todos. Observa como lhes elucidamos
os versículos e observa como se desviam.” (Surata 5:75)

O argumento é bastante claro: Jesus e sua mãe Maria são meros seres
humanos. Apesar de ter sido um mensageiro de Alá, outros iguais a ele o
precederam. E sua mãe não foi mais do que uma serva fiel de Alá. Afinal, ambos
precisavam comer para se sustentar. Portanto, como eles poderiam ser divindades
no mesmo nível de Alá? O Qur’an, obviamente, confundiu a doutrina cristã e
representou-a como uma tríade formada por Jesus, Maria e Alá. É ainda mais
significativo descobrir que Alá é descrito somente como o terceiro da tríade. Na
doutrina cristã do Deus trino, o Pai, ao menos, ocupa o primeiro lugar!

Muitas seitas, como a dos nestorianos, monofisitas e outros das vicinidades da


Arábia, tinham crenças confusas a respeito de Deus, Jesus e Maria, mas
nenhuma deles representava a Trindade formada pelos três. Pode-se perceber
porque os muçulmanos acreditavam que as crenças cristãs eram baseadas na
família composta por pai, mãe e filho dos deuses egípcios Osíris, Ísis e Hórus. O
mais provável é que Maomé desconhecia totalmente a verdadeira doutrina da
Trindade da fé cristã, e acabou se confundindo com as crenças pagãs, nas quais
existem tríades formadas por pai, mãe e filho. Se foi Deus mesmo o autor do
Qur’an, é difícil conceber que Ele fizesse um erro tão crasso, que não representa
nem de longe a doutrina cristã defendida pelas maiores divisões do cristianismo —
as tradições Católica Romana, Protestante e Ortodoxa —, que dizem que o Pai, o
Filho e o Espírito Santo são um só Ser Supremo.

O último versículo que retrata a suposta crença cristã de três divindades


independentes é este:

“E recordar-te de quando Deus disse: Ó Jesus, filho de Maria! Foste tu quem


disseste aos homens: Tomai a mim e a minha mãe por duas divindades, em vez
de Deus? Respondeu: Glorificado sejas! É inconcebível que eu tenha dito o que
por direito não me corresponde. Se tivesse dito, tê-lo-ias sabido, porque Tu
conheces a natureza da minha mente, ao passo que ignoro o que encerra a Tua.
Somente Tu és Conhecedor do incognoscível.” (Surata 5:116)

Mais uma vez, as duas outras divindades são identificadas como sendo Jesus e
Maria. A veneração a Maria tem sido uma característica da tradição Católica
Romana, e a Igreja Etíope, em particular, historicamente a reverencia como mãe
de Deus. Parece, no entanto, que esses excessos e confusões só resultaram no
aumento da confusão por parte do Qur’an! Nenhuma igreja cristã, não importa
quanta reverência ou glória dê a Maria, como, por exemplo, a Rainha dos Céus,
jamais a inseriu na Trindade, ou fez dela o que aparece no Qur’an.

Quando os muçulmanos atacam a doutrina da Trindade, e não aceitam que ela


seja uma expressão diferente do conceito unitário do Qur’an da unidade divina, é
importante citar esses textos, em primeiro lugar, como evidência de que as
informações do Qur’an a respeito da doutrina são totalmente falsas e, depois, que
ele é a fonte da convicção errônea dos muçulmanos de que nós acreditamos em
três deuses distintos.

Também é importante saber que a verdadeira doutrina cristã já era conhecida na


Arábia antes dos dias de Maomé. Edward Glasser, um explorador no Yemen,
descobriu uma inscrição em 1888, contendo uma narrativa sobre a revolta contra a
dominação etíope no país na era pré-islâmica. A inscrição data de 542 d.C. —
vinte anos antes do nascimento de Maomé —, e está escrita em árabe (sem as
vogais, que não eram utilizadas no árabe escrito da época): Rhmn w mshh w rh
qds, ou “(no poder do) Compassivo, do Messias e do Espírito Santo.” Assim, a
natureza real da Trindade cristã era conhecida na Península Arábica muitos anos
antes do Qur’an ser escrito, e as informações completamente falsas a respeito
dessa doutrina no livro só pode ser atribuída à ignorância pessoal de Maomé
quanto à teologia cristã.
Capítulo Três

Jesus, o Filho do Deus vivo

A divindade de Jesus Cristo na Bíblia

3.1 A rejeição da divindade de Jesus no Qur’an

Muçulmano: O Qur’an é enfático ao negar que Jesus seja o Filho de Deus. Ele foi
apenas um profeta, assim como os outros que vieram antes dele. Se Jesus é o
Filho de Deus, quem foi a esposa de Deus? O que você diz é uma grande
blasfêmia contra Alá.

O que, para os cristãos, é o fundamento da sua fé — que Jesus é o Filho de Deus


e o único que poderia nos redimir dos nossos pecados, abrindo-nos as portas do
céu —, para os muçulmanos é uma das maiores heresias, que, mais do que
qualquer outra, pode fechar as portas do paraíso. É crucial reconhecer isso. Na
verdade, a distância entre cristãos e muçulmanos no que se refere à pessoa de
Cristo é o fator principal que separa cristianismo e islamismo. O maior obstáculo
para trazer os muçulmanos a Cristo é a rejeição incondicional da Sua divindade no
Qur’an.

Alá nunca teve esposa nem filho

No último capítulo, vimos que o Qur’an traz informações falsas sobre a Trindade,
retratando-a como uma família formada por Alá, Maria e Jesus. Sobre Jesus ser o
Filho de Deus, o Qur’an diz que Alá nunca teve uma esposa, e portanto nunca
poderia ter um filho. Parece que Maomé não conseguia conceber nada que não
coubesse nas condições limitadas humanas. O Qur’an diz:

“Originador dos céus e da terra! Como poderia Ter prole, quando nunca teve
esposa, e foi Ele Que criou tudo o que existe, e é Onisciente?” (Surata 6:101)

“Cremos em que — exaltada seja a Majestade do nosso Senhor — Ele jamais teve
cônjuge ou prole” (Surata 73:3)

A impressão que fica é que Maomé entendeu essa doutrina no sentido puramente
carnal, e não conseguiu ver o que os muçulmanos precisavam saber, ou seja, o
relacionamento espiritual entre o Pai e Jesus é o mesmo que o relacionamento
entre pai e filho. Três princípios importantes estão envolvidos aqui:

1. A mesma essência do Ser

Assim como tanto os pais quanto os filhos são humanos, e têm a mesma
essência, também o Pai e o Filho dos céus são ambos divinos. O Filho tomou a
forma humana num certo ponto da História, e se tornou o homem Jesus Cristo. O
Pai nunca adotou um Filho, porque Eles eram desde a eternidade, e serão para
sempre.

2. A autoridade do Pai

Apesar de serem iguais na essência, o Pai tem autoridade sobre o Filho, assim
como na terra os filhos, apesar de serem tão humanos quanto seus pais,
submetem suas vidas ao controle de seus pais. Por isso, quando na terra, Jesus
assumiu um relacionamento de servo e senhor, igual aos filhos que trabalham nos
negócios dos seus pais submetem-se às suas ordens e senhorio.

3. Sua afeição para com o Seu Filho

Ainda que um pai tenha autoridade sobre o seu filho, ele terá uma afinidade muito
maior com o filho do que com um empregado qualquer, e tudo que ele tem será,
eventualmente, do filho. Apesar do Filho não fazer nada por si mesmo, mas
somente aquilo que viu o Pai fazer (João 5:19), ainda assim o Pai tinha um amor
especial pelo Filho (João 5:20) e revela a este Filho todos os Seus propósitos, na
intenção de um dia delegar a Ele a Sua autoridade. Então, toda a terra dará honra
ao Filho, da mesma forma que honra ao Pai (João 5:22 a 23).

É isso que a Bíblia quer dizer quando Jesus é o Filho de Deus. A questão é
relacional, num contexto eterno e espiritual. Não é carnal ou terreno, como supõe
o Qur’an.

O grande pecado imperdoável no islamismo

Para Maomé, crer que Jesus é o Filho de Deus parecia ser um paralelo à crença
do paganismo árabe, que possuía vários ídolos como Al-Lat, al-Uzza e Manat, que
eram “filhas de Alá”. A idolatria per se era, para o Profeta do Islã, um ato de
blasfêmia, ainda mais, como era o caso, atribuir parceiros a Alá, algo impensável e
que afrontava a Sua própria glória. O problema, ao que tudo indica, provinha do
ambiente em que Maomé se encontrava. Lidando com a concepção árabe, ele
atacou a natureza contraditória das suas convicções. Eles acreditavam que o
nascimento de uma menina era conseqüência de cobiça ou vergonha (Surata
16:58 e 59)! Quanto aos cristãos, ele contentou-se em simplesmente negar
qualquer possibilidade de Jesus ser o Filho de Deus em versos como este:

“...os cristãos dizem: O Messias é filho de Deus. Tais são as palavras de suas
bocas; repetem, com isso, as de seus antepassados incrédulos.
Qaatalahumullaah — Que Deus os combata! Como se desviam!” (Surata 9:30)

“Dizem: Deus teve um filho! Glorificado seja Deus; Ele é Opulento; Seu é tudo
quanto há nos céus e na terra! Que autoridade tendes, referente a isso? Direis
acerca de Deus o que ignorais?” (Surata 10:68)
São denúncias bastante fortes. Maomé achava que comprometia a glória de Deus
dizer que Ele tinha um Filho. Na Bíblia, porém, a revelação da Sua graça,
misericórdia e bondade ao entregar Seu Filho para morrer por nós foi a maior
prova da Sua glória! Os cristãos precisam enfatizar esta grande verdade quando
estiverem testemunhando aos muçulmanos, pois eles têm uma consciência muito
viva da necessidade de honrar a Sua glória acima de tudo.

A grande tragédia da negação da divindade de Cristo pelo Qur’an é o fato dela ser
identificada como pecado capital no islamismo, por atribuir a Alá um parceiro.
Como vimos no capítulo anterior, esse pecado é, segundo o islamismo,
imperdoável. De fato, conforme o Qur’an, é o único pecado que não pode ser
perdoado (Suarta 4:48), deixando aquele que o comete fora de Jannat al-Firdaus
(Jardins do Paraíso) para sempre. O apóstolo João escreveu aos cristãos dos
seus dias, encorajando-os no conhecimento de que tinham vida eterna por crerem
no nome do Filho de Deus (1 João 5:13). No seu evangelho, ele ensinou
claramente que todos aqueles que não acreditassem no nome de Jesus já
estavam condenados, e que apenas os que cressem nEle como Filho de Deus
seriam salvos (João 3:18). O que, para os cristãos, é a única porta de entrada no
céu, para os muçulmanos é um passo certo em direção ao abismo.

O Qur’an defende que, como Alá não tem parceiros, Ele não poderia ter um filho.
Numa passagem, não parece que a mensagem é que seria absolutamente
impossível Deus ter um filho, mas sim que “isso não Lhe é apropriado“7 (Surata
19:35). O problema, parece, é o que glorifica a Deus, e é justamente aqui que se
abre a oportunidade para que o cristão testemunhe. Jesus Cristo revelou a glória
de Deus de uma maneira especial. Talvez, usando os únicos meios de demonstrar
a glória dEle:

1. O maior símbolo do amor de Deus pelo mundo

Já analisamos este assunto no último capítulo. O islamismo não conhece nada


parecido com o amor sacrificial que Deus teve ao entregar quem Lhe era mais
querido, seu próprio Filho, para morrer pela nossa salvação. Se Ele está
preparado para dar tanto por nós, podemos ter a certeza que Ele nos dará,
eventualmente, todas as coisas com ele (Romanos 8:32).

2. Um exemplo perfeito do espírito humilde do próprio Deus

Todos os muçulmanos reconhecem que orgulho é um sentimento ruim, um defeito


de caráter. Quem pode afirmar, se Deus está tão preocupado em manter Sua
glória acima de toda a Sua criação o tempo todo (como o Qur’an parece ensinar),
que Ele não criou todas as coisas somente para mostrar o Seu domínio sobre

7 Segundo o texto original em inglês deste livro. A tradução do Qur’an de Samir El-Hayek para o português
deste verso é: “É inadmissível que Deus tenha tido um filho. Glorificado seja! quando decide uma coisa,
basta-lhe dizer: Seja!, e é.”, com a seguinte nota: “Gerar um filho é um ato fisiológico que depende das
necessidades da natureza animal do homem. Deus, o Altíssimo, é independente de todas as necessidades, e é
derrogatório atribuir-Lhe tal ato. Isso constitui meramente uma relíquia das superstições pagãs,
antropomórficas e materialistas.”
elas? Quando o Filho de Deus veio à terra, pudemos testemunhar a maravilhosa
humildade de Deus. Apesar de ter, por direito, a forma divina, o Filho não se
agarrou orgulhosamente à Sua igualdade perante o Pai, mas se esvaziou,
tomando a forma de servo e transformando-se num ser humano. Mais: Ele foi
além, humilhando-se ainda mais, obedecendo até a morte, mesmo que a morte
fosse tão vergonhosa quanto morrer numa cruz (Filipenses 2:6 a 8). A Bíblia
declara com firmeza que Deus tem um dia contra todos os soberbos e altivos,
contra aqueles que se exaltam (Isaías 2:12), e que Ele habita naqueles que têm
espírito humilde e contrito (Isaías 57:15). Somente através do Filho de Deus é que
este aspecto da glória de Deus pôde ser completamente conhecido e
experimentado.

Jesus Cristo é o Filho de Deus. Não temos nada para fazer apologia ao mundo
muçulmano desta crença além da mensagem de gloriosas boas novas para
proclamar. Quando os muçulmanos disserem algo a respeito da Sua divindade,
tente a todo custo fazer dos argumentos deles uma oportunidade para testificar do
grande amor de Deus por Eles que foi revelado em Cristo.

3.2 Filho de Deus num sentido metafórico?

Muçulmano: Mesmo que Jesus tenha se auto-proclamado Filho de Deus, foi


apenas no sentido metafórico. Todos nós somos filhos de Deus, e a sua Bíblia
chama, mais de uma vez, todos os crentes de “filhos de Deus”. Você foi longe
demais quando fez dEle o eterno Filho de Deus.

Este é um argumento bastante comum entre os muçulmanos. Como disse Ulfat


Aziz-us-Samad, Jesus pode ser chamado de filho de Deus, no sentido de que
todos os seres humanos justos podem ser também chamados de filhos de Deus
— mas não no sentido literal ou peculiar. Com freqüência, eles também exibem
algumas passagens para embasarem seus argumentos.

Uso bíblico do termo “filhos de Deus”

Os muçulmanos, geralmente, baseiam seus argumentos na passagem abaixo


(outras também são citadas com freqüência):

“Replicou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: ‘Eu disse: sois deuses?’ Se
ele chamou deuses àqueles a quem foi dirigida a palavra de Deus, e a Escritura
não pode falhar, então, daquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo,
dizeis: ‘Tu blasfemas’; porque declarei: sou filho de Deus?” (João 10:34 a 36)

Argumentam os muçulmanos que, ao citar o Salmo 82:6, onde todos os crentes


são chamados de “filhos do Altíssimo”, Jesus estava dizendo apenas que também
Ele era um dos filhos de Deus. O ponto importante aqui é o fato dos muçulmanos
admitirem implicitamente que Jesus realmente disse que era o Filho de Deus,
qualquer que seja o sentido. Ao ouvir um muçulmano dizendo que Jesus assumiu
o título de Filho de Deus de forma simbólica ou metafórica, os cristãos devem
imediatamente pressioná-lo, de forma que ele admita que Jesus usou o título de
algum modo. O argumento deles perde o sentido se não admitirem isso e, caso
admitam, a discussão pode, a partir daí, concentrar-se no sentido verdadeiro das
palavras de Jesus.

A Bíblia diz que Deus, quando falou a respeito de Salomão, declarou: “Eu lhe serei
por pai, e ele me será por filho” (1 Crônicas 17:13); também chama Adão de “filho
de Deus” (Lucas 3:38). Todos os cristãos crentes, os guiados pelo Espírito de
Deus, também são chamados de “filhos de Deus” (Romanos 8:14). Em outras
passagens, são usadas expressões similares. Como disse Ahmed Deedat: “De
acordo com a Bíblia, Deus tem filhos às pencas!”. Realmente, trata-se de um
questionamento justo e válido por parte dos muçulmanos perguntar por que Jesus
Cristo deve ser considerado como Filho de Deus apenas num sentido eterno e
absoluto.

Antes de responder à essa questão, no entanto, é preciso esclarecer algo aqui.


Quando os muçulmanos dizem que “somos todos filhos de Deus”, estão indo
contra o próprio Qur’an, que afirma expressamente que Alá não tem “nem filhos
nem filhas” (Surata 6:100). Só na Bíblia dos cristãos é que a possibilidade de
alguém se tornar filho de Deus e conhecê-lO como Pai aparece, e isso somente
porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, tornou isso possível ao entregar sua vida
pela nossa redenção.

Jesus: o Eterno Filho de Deus

Um cristão, ao testemunhar a um muçulmano, deve conhecer ao menos algumas


das principais evidências ensinadas por Jesus de que Ele era o único Filho de
Deus, no sentido absoluto. Por exemplo, quando Ele foi levado ao Sinédrio na
noite da Sua prisão, o sumo sacerdote Caifás perguntou-Lhe sem rodeios: “És tu o
Cristo, o Filho do Deus Bendito?. Ele respondeu, de maneira igualmente clara: “Eu
sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo com
as nuvens do céu.” (Marcos 15:61 e 62). O sumo sacerdote rasgou suas vestes,
acusando-O de blasfêmia. Ele não perguntara se Cristo era um dos filhos de
Deus. Se a pergunta fosse esta, a resposta nunca poderia ensejar uma acusação
de blasfêmia. Todos sabiam exatamente qual era o ponto: afirmava Jesus ser o
Filho de Deus, o Filho Eterno do Bendito? A resposta de Jesus não dava chance à
uma segunda interpretação — Ele realmente se dizia Filho de Deus.

Há muitas passagens que demonstram com clareza porque o sumo sacerdote


acreditava que Jesus se dizia ser o único e eterno Filho de Deus. Os textos abaixo
fazem parte do arsenal de provas:

“Ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e
aquele a quem o Filho o quiser revelar.” (Mateus 11:27)

Da mesma maneira, quando Jesus disse que o Pai havia dado todo julgamento ao
Filho, para que todos honrassem também o Filho mesmo quando honravam ao Pai
(João 5:22), é impossível ver como Jesus poderia reclamar a posição de Filho de
Deus usando um sentido menos enfático ou metafórico. Também é útil citar as
duas ocasiões em que o próprio Deus, falando dos céus a Jesus, declarou: “Este é
o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3:17; 17:4). Contudo, é
numa parábola de Jesus que encontramos a mais eloqüente prova de que Ele não
era apenas um profeta como os que O precederam, mas sim o único Filho de
Deus: a parábola dos lavradores maus (Mateus 21:33 a 43, Marcos 12:1 a 12,
Lucas 20:9 a 18). Alguns servos foram enviados pelo dono da vinha para receber
os frutos que eram seus por direito. Os lavradores, no entanto, agarraram os
servos, e espancaram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro. O dono da
vinha mandou mais servos, que receberam o mesmo tratamento. O clímax da
história acontece no trecho abaixo:

“Restava-lhe ainda um, seu filho amado; a este lhes enviou, por fim, dizendo:
‘Respeitarão a meu filho’. Mas os tais lavradores disseram entre si: ‘Este é o
herdeiro; ora, vamos, matemo-lo, e a herança será nossa’. E, agarrando-o,
mataram0no e o atiraram para fora da vinha. Que fará, pois, o dono da vinha?
Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros.” (Marcos 12:6 a
8)

A interpretação da parábola é bastante óbvia: Deus enviou vários servos ao seu


povo, na Sua terra prometida, chamados de profetas; estes foram maltratados e
rejeitados pelo povo de maneiras diversas. Como disse Pedro em outra ocasião:
“Qual dos profetas vossos pais não perseguiram?” (Atos 7:52). Finalmente, Ele
enviou seu Filho amado, Jesus Cristo, a quem Ele sabia que eles matariam —
uma profecia clara a respeito da Sua crucificação que estava por vir. O contraste
entre os grandes profetas, que eram simples servos de Deus, e o último
mensageiro que era o Filho, não pode ser mal interpretado, pois é a verdade
central desta parábola.

Há muitas outras passagens que podem ser usadas para mostrar que Jesus se
apresentou como o único Filho de Deus, mas nunca usou o título de forma
metafórica ou simbólica.

3.3 Limitações bíblicas sobre o Filho de Deus

Muçulmano: Se Jesus é o Filho de Deus, porque Ele com tanta freqüência fala do
Pai como sendo maior do que Ele em poder, autoridade e entendimento? Se Ele
era divino como vocês dizem, com toda certeza ele deveria ser igualmente
onipotente e onisciente.

Poucos cristãos fora do contexto do evangelismo aos muçulmanos já se


depararam com um dos argumentos mais convincentes usados pelos
muçulmanos: que Jesus não poderia ser o Filho de Deus se Ele era limitado em
poder e entendimento, como muitas das Suas palavras sugerem.
O entendimento e o poder de Jesus

Três passagens são bastante citadas pelos muçulmanos para provar essa tese.
Todas parecem limitar a autoridade e a condição divina de Cristo — todas serão
analisadas, uma por vez. Em cada caso, veremos como a situação pode ser
revertida a fim de produzir um testemunho efetivo da glória de Jesus em resposta
aos argumentos.

1. Fatos divinos desconhecidos sobre Jesus

Os muçulmanos chegam à conclusão que se Jesus, como Filho de Deus, é a


segunda pessoa da Trindade divina, deveria conhecer todas as coisas. Se Deus é
onisciente, também Cristo deveria ter um conhecimento universal. O versículo a
seguir destrói essa suposição:

“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o
Filho, senão o Pai.” (Mateus 24:36)

Como Jesus pode ser onisciente, se Ele mesmo negou saber o tempo exato do
julgamento? O importante aqui é ver onde Jesus se coloca nas categorias que Ele
menciona: nenhum homem sabe a hora; nem mesmo os anjos dos céus, nem o
Filho, mas apenas o Pai. Há uma escala crescente. Jesus posiciona-se
exclusivamente acima de todos os homens e anjos, relacionando-se somente num
contexto divino com o Senhor de toda a terra, definindo a Si mesmo como o Filho
do Pai. O que se pode concluir é que, apesar dessa condição privilegiada, é
prerrogativa do Pai, a fonte eterna de todas as coisas, a quem estão sujeitos tanto
o Filho quanto o Espírito, decretar quando será o Dia final, sem revelar a hora
exata a ninguém. A limitação do Filho de Deus não depõe contra sua divindade,
mas apenas indica uma definição especial dela.

2. Uma incapacidade de fazer qualquer coisa sem o Pai

Assim como Jesus não parece ser onisciente, também Sua onipotência é
desafiada no versículo abaixo:

“(...) Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo,
senão somente aquilo que vir fazer o Pai (...) Eu nada posso fazer de mim mesmo”
(João 5:19 e 30)

Novamente, assim que olhamos para o contexto destas afirmações (que parecem
indicar que Jesus não tinha poder intrínseco), fica claro que trata-se de uma
explicação do Seu relacionamento com o Pai, e não a negação da Sua divindade.
Jesus continua a primeira frase dizendo que “tudo o que este [o Pai] fizer, o Filho
também semelhantemente o faz.” É uma mera questão de sujeição à autoridade
do Pai. A respeito do poder em si para fazer aquilo que o Pai faz, Jesus afirma ter
poder igual para fazer tudo o que o Pai faz — uma prova da Sua divindade — e
diz que Ele somente faz aquilo que o Pai faz, uma ação natural de duas pessoas
que formam um único Ser divino.
3. Uma declaração da grandeza superior do Pai

O terceiro versículo que é usado para provar, a partir das Suas próprias
declarações, que o Filho de Deus é limitado, é este:

“Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai, pois o Pai é maior do


que eu.” (João 14:28)

Os muçulmanos se agarram a esta frase, que seria uma prova da humildade de


Jesus, reconhecendo a grandeza superior de Deus em relação ao homem — uma
declaração que se esperaria de qualquer profeta de verdade. O fato é que nenhum
outro profeta jamais fez uma declaração semelhante. Na verdade, se qualquer
homem comum o fizesse, seria quase uma blasfêmia. Ao mesmo tempo que é um
reconhecimento de limitação, a fala de Jesus também é uma estrondosa
declaração da grandeza do próprio Cristo! Se foi preciso informar Seus discípulos
que o Pai, em última análise, é ainda maior que Ele é um sinal claro que Ele tinha
conhecimento da Sua própria grandeza! Mais uma vez, fica demonstrado que Ele
se auto-avalia apenas no nível divino, comparando-se apenas ao Pai. A limitação
está somente no seu papel como Filho de Deus.

É importante reconhecer que realmente há uma limitação no Filho de Deus,


conforme verificado nas próprias palavras de Jesus. É freqüente vermos cristãos
caírem na armadilha de proclamar dogmas extremamente simplistas como
“cremos que Jesus é Deus”. Os muçulmanos irão responder: “se Jesus é Deus,
Ele irá abandonar você algum dia?”, ao que, com certeza, os cristãos responderão
com muita convicção: “Nunca! Ele prometei nunca deixar ou abandonar você!
(Hebreus 13:5)”. Nesse momento, o muçulmano tirará seu ás da manga: “Bem,
que bom que o seu Deus Jesus não vai abandoná-lo. Infelizmente, o Deus dEle O
abandonou: ‘Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?’ (Mateus 27:46).
Você ora ao seu Deus Jesus, mas Ele orou ao Deus dEle e não teve muito
sucesso. Como você quer que acreditemos nEle?”

É isto o que acontece quando os cristãos não testemunham de maneira cuidadosa


aos muçulmanos, ou quando se valem de afirmações que soam convincentes
apenas porque podem ser ditas enfaticamente, mas que não são totalmente
verdadeiras. Jesus é o Filho de Deus, um título que automaticamente Lhe impõe
uma limitação. O cerne da mensagem bíblica a respeito de Jesus é que, ao
mesmo tempo que o Filho é uma das pessoas divinas da Trindade, Ele também
está sujeito à autoridade do Pai e, portanto, no tempo em que esteve na terra,
pôde assumir tranqüilamente a forma humana e estabelecer um relacionamento
entre servo e senhor. O relacionamento entre Filho e Pai simplesmente
transformou-se para ser expresso entre homem e Deus. Nessa pessoa ímpar, os
homens vieram a conhecer a Deus face a face, porque quem vê ao Filho também
vê o Pai (João 14:9). Ainda, da mesma forma vemos em Jesus um homam como
nós, apto a assumir nosso lugar e eventualmente levar-nos à glória eterna como
filhos e filhas de Deus, assim como Ele , que é por natureza o eterno Filho de
Deus. Quanto mais entendermos isso, maior será a revelação da glória de Deus
em Cristo. Precisamos nos lembrar desta verdade gloriosa quando estivermos
testemunhando aos muçulmanos: “... Deus estava em Cristo reconciliando consigo
o mundo” (2 Coríntios 5:19).

3.4 A singular natureza sem pecado do Filho

Muçulmano: Em que Jesus difere de todos os outros mensageiros de Alá? Todos


eles foram fiéis à sua tarefa, e ensinaram ao povo apenas aquilo que Alá ordenou
que dissessem. O Qur’an não faz distinção entre Jesus e os outros profetas.

Um dos ensinamentos centrais da fé cristã é a natureza única sem pecado de


Jesus Cristo. Sendo o eterno Filho de Deus, Ele não tem culpa ou cometeu
qualquer pecado, mantendo-se no perfeito padrão de justiça divina em tudo o que
disse e fez. Se Ele tivesse sido um pecador como todos os outros homens
(incluindo os profetas), não poderia ter nos redimido das nossas iniqüidades. É
interessante, e talvez não intencional, que as fontes originais do islamismo
confirmem esta singularidade. Este é um ponto crucial no nosso testemunho de
Jesus como Filho de Deus.

A pureza de Jesus no Qur’an e no Hadith

O nascimento de Jesus através de uma virgem é confirmado pelo Qur’an em duas


narrativas (Suratas 3:41 a 48; 19:16 a 34). De acordo com a segunda passagem,
quando Maria soube pela primeira vez que estava grávida, através do anjo que
Deus lhe enviara, ela expressou sua surpresa pela visão. O anjo a respondeu:

“(...) Sou tão-somente o mensageiro do teu Senhor, para agraciar-te com um filho
imaculado.” (Surata 19:19)

O correspondente da palavra “imaculado” em árabe, é zakiyya, cuja raiz significa


“pureza” (como em zak’at, a caridade “pura” praticada pelos muçulmanos).
Particularmente, o contexto em que a palavra foi utilizada é o mesmo da outra
única passagem em que ela aparece no Qur’an. O livro registra uma história sobre
Moisés e uma viagem que ele fez com um jovem companheiro que, segundo a
tradição islâmica, era Al-Khidr — “aquele que é verde”, uma misteriosa figura que
se acredita ter aparecido a profetas e mestres Sufi em vários momentos. Quando
Al-Khidr repentinamente mata um homem sem nenhuma razão aparente, Moisés
exclama:

“Acabas de matar um inocente, sem que tenha causado morte a ninguém!” (Surata
18:74)

O companheiro, então, disse-lhe que não deveria comentar sobre coisas que ele
não conhecia. A palavra árabe utilizada para “inocente” é zahiyyah. Nesta
passagem, significa que alguém que não era culpado por crime nenhum foi
castigado com a morte, mas no caso de Jesus é uma descrição de Sua
personalidade e caráter. Portanto, pode ser traduzida também por sem pecado, o
que faz de Cristo o único mensageiro de Deus que o Qur’an descreve
expressamente como “sem pecado”. Como vimos anteriormente neste livro, o
Qur’an confirma o ensinamento bíblico de que todos os outros profetas eram
pecadores e tinham falhas.

O ensinamento do Qur’an a respeito da natureza sem pecado de Jesus é


corroborada por uma respeitável tradição, que é registrada numa das maiores
obras da literatura da tradição islâmica. Diz o seguinte:

“Disse o Profeta: ‘Nenhuma criança é nascida senão a que é tocada por Satanás
quando vem ao mundo, quando começa a chorar alto por ter sido tocada por
Satanás, exceto Maria e seu filho’. “ (Sahih al-Bukhari, Vol. 6, p. 54)

Nesta declaração, Maomé faz uma clara distinção entre Jesus e todos os outros
seres humanos, incluindo os profetas, todos afetados pelo toque de Satanás no
momento em que nascem. É importante conhecer essas passagens do Qur’an e
do Hadith, pois elas auxiliam os cristãos a testemunhar de maneira efetiva aos
muçulmanos acerca da perfeição sem par do caráter do Salvador.

A imaculada perfeição de Jesus na Bíblia

Existem muitas passagens na Bíblia que testificam a respeito da natureza perfeita


e sem pecado de Jesus, mas é suficiente conhecer apenas as afirmações mais
enfáticas sobre isso. A primeira é:

“Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele,
fôssemos feitos justiça de Deus.” (2 Coríntios 5:21)

O Novo Testamento, com freqüência, contrasta a santidade perfeita de Jesus com


o nosso pecado, acrescentando a isso a maravilhosa verdade de que Ele sofreu
as conseqüências pelos nossos erros para que pudéssemos experimentar a Sua
perfeição. Esta é a essência e o cerne do Evangelho cristão, diferente da
pregação islâmica de que o pecado não necessariamente aliena o homem de
Deus, exigindo a intervenção de um Salvador. Outro texto que traz o mesmo
princípio, de maneira muito clara, é este:

“... carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados,
para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça (...) “ (1 Pedro 2:24)

Há outras duas passagens no Novo Testamento que dizem com todas as letras
que Jesus não tinha pecado. Cada uma delas confirma a singularidade da Sua
santa personalidade, em contraste com o resto da humanidade, sem exceções:
“Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas
fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as cousas, à nossa semelhança, mas
sem pecado. “ (Hebreus 4:15)

“Sabeis também que ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não existe
pecado. “ (1 João 3:5)

O Islã tentou, por várias vezes, desacreditar a singularidade de Cristo, em


particular com ensinamentos de que Maomé também teria sido um profeta sem
pecado, e que realizou vários milagres. Nenhuma destas afirmações têm
fundamento no Qur’an (na verdade, são totalmente contrárias: ver Surata 47:19 e
17:80 a 93), mas tornaram-se bastante populares devido ao desejo dos
muçulmanos de provar que Maomé era, no mínimo, igual a Cristo.

De fato, a anunciação a Maria de que ela teria um filho imaculado deve ser
considerada dentro do seu contexto. Ela conceberia uma criança sem a
participação de um homem. Por quê? A resposta que o anjo lhe dá é esta: “Você
experimentou uma concepção singular, porque há algo muito singular nesta
criança. Ele é o santo Filho de Deus e, sendo eterno e sem pecado, não é
possível que ele tenha sido gerado da maneira comum.” A fé cristã dá uma
explicação bastante clara, tanto sobre o nascimento de uma virgem quanto para a
natureza sem pecado. O Islã, com sua determinação de reduzir Jesus ao mesmo
nível dos profetas comuns, não pode oferecer explicação, limitando-se a afirmar
que foi simplesmente uma manifestação da vontade e do poder de Alá.

3.5 Profecias do Velho Testamento sobre a divindade de Jesus

Muçulmano: Abraão, Moisés e Davi foram grandes profetas, em nada diferentes


de Jesus. Até hoje os judeus, assim como nós, não conseguem aceitar a idéia de
que Deus tem um Filho ou que um homem possa também ser Deus. Que prova
você tem de que Jesus é Deus?

Ao contrário do que os muçulmanos supõe, há muitas evidências de que os


profetas que antecederam Jesus sabiam que um grande Messias estava por vir, e
que Ele seria maior do que todos os mensageiros de Deus antes dele.

Jesus e os profetas que O antecederam

Nos seus próprios discursos, Jesus Cristo falou sobre muitos dos patriarcas e
profetas que O antecederam, e confirmou que todos eles previram a vinda daquele
que seria maior que eles.

1. Abraão, que previu o Dia de Jesus

Quando Jesus debatia com os líderes dos judeus e com os fariseus, estes se
gabavam de descender do grande patriarca Abraão, a quem consideravam seu pai
(João 8:33 a 39). Quando Jesus afirmou que todo o que guardasse a Sua palavra
não conheceria morte, eles responderam:

“És maior do que Abraão, o nosso pai, que morreu? Também os profetas
morreram. Quem, pois, te fazes ser? “ (João 8:53)

Essa passagem é muito importante no contexto da evangelização dos


muçulmanos. Assim como os judeus, os muçulmanos crêem que Jesus não era
maior do que os outros profetas. Os judeus, no entanto, através das próprias
palavras de Cristo, ficaram com a impressão de que Ele se considerava superior a
todos os profetas. Como Jesus respondeu a isso? Ele disse:

“Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se. (...) Em
verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU. “ (João
8:56 e 58)

Jesus deixou claro que Ele era muito maior que Abraão. O patriarca morreu
porque era um homem como qualquer outro, mas, por ser o eterno Filho de Deus,
Jesus existia antes de Abraão, num estado onde o presente é eterno que, em
última análise, desconhece passado ou futuro: “Antes que Abraão existisse, EU
SOU“ (cf. Mateus 22:32, onde Jesus diz o mesmo sobre Deus e Abraão).

2. Jacó e a Água da Vida Eterna

Jacó foi outro profeta muito estimado, especialmente pelos samaritanos, que o
consideravam seu grande patriarca. O poço de Jacó ficava bem na saída da
cidade de Sicar, na Samaria, e esta fonte permanente de água no meio do deserto
era encarada como o grande legado que Jacó lhes deixara. Quando Jesus disse à
mulher samaritana que Ele poderia dar-lhe água viva, ela perguntou:

“És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual
ele mesmo bebeu e, bem assim, seus filhos e seu gado?“ (João 4:12)

Da mesma maneira que os judeus questionaram se Cristo era maior do que


Abraão, também os samaritanos perguntavam: “És tu maior que nosso pai Jacó?”
Em ambos os casos, o foco é o grande patriarca do povo em questão. Novamente
Jesus confirma que Sua superioridade, simplesmente porque, sendo o eterno
Filho de Deus, Ele poderia dar água viva, uma fonte de vida eterna que jorraria
dentro daquela mulher (João 4:14).

3. Moisés escreveu sobre Jesus

Em outra ocasião, lemos que os judeus queriam matar Jesus porque Ele chamava
Deus de Seu Pai, igualando-se a Deus (João 5:18). Os judeus confiavam Moisés,
o grande jurista, com quem acreditavam que Deus havia falado. Sobre aquele
homem chamado Jesus, no entanto, eles declaravam não ter idéia de onde vinha
(João 9:29). Eis as palavras finais de um discurso em que, mais uma vez, Jesus
se dizia ser o Filho de Deus e que ninguém poderia honrar o Pai sem honrar o
Filho:

“... quem vos acusa é Moisés, em quem tendes firmado a vossa confiança.
Porque, se de fato crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele
escreveu a meu respeito.“ (João 5:46 e 47)

Outra vez, Jesus confirma ser superior a Moisés, num contexto onde Ele contrasta
Seu poder e caráter divinos com o poder limitado do profeta que o precedeu.
Assim como Abraão previu Seu dia, Moisés também havia escrito a Seu respeito.
Novamente, surge a grande figura do Messias que estava por vir.

4. Davi chamou Jesus de seu Senhor

Um último profeta deve ser mencionado aqui. Em outra discussão com os judeus,
Jesus, tendo respondido a todas as suas perguntas, desafiou-os a identificar o
Messias que eles aguardavam — de quem ele seria filho? Eles responderam que
seria “filho de Davi”, ao que Jesus disse:

“Como, pois, Davi, pelo Espírito, chama-lhe Senhor, dizendo: ‘Disse o Senhor ao
meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos
debaixo dos teus pés’? Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu filho?“
(Mateus 22:43 a 45)

Jesus, na Sua revelação a João na Ilha de Patmos, respondeu: “Eu sou a raiz e a
Geração de Davi“ (Apocalipse 22:16). Ele era mesmo filho de Davi por
descendência direta mas, por ser também Filho de Deus, era da raiz de Davi e
também seu Senhor. Portanto, Ele era maior que Davi.

Todas essas passagens ajudam a mostrar como, desde os maiores profeta do


Velho Testamento, a divindade de Jesus foi anunciada. Abraão ficou feliz por
saber que O conheceria no dia final; Moisés escreveu sobre Ele, e Davi chamou-
Lhe Senhor. Todos eles apontaram Jesus como sendo o grande Messias que
aguardavam, que existiu antes deles e o único que poderia dar a água da vida
eterna; aquele que era seu Senhor e Salvador. Mencione estes temas ao
responder qualquer argumento de que Jesus não passava de um profeta como os
que O precederam.

3.6 “Nem carne nem sangue o revelaram”

Muçulmano: Mostre-me onde Jesus diz “Eu sou Deus”, e eu acredito em você.
Prove-me que Jesus era o Filho de Deus e eu aceitarei. Todos os seus
argumentos até aqui não me convenceram. Por que você não consegue provar o
que diz?

Estou citando um trecho de um diálogo real com um muçulmano em Durban,


África do Sul, de muitos anos atrás. Os cristãos que já trabalharam com
evangelismo de muçulmanos muitas vezes frustram-se, ou até ficam bastante
confusos, com a incapacidade dos muçulmanos de ver a luz, mesmo quando ela
lhes ofusca os olhos. Lembro-me de outro incidente em que dois de nós estavam
numa casa com sete muçulmanos, e ficamos conversando por duas horas sobre
se Jesus era mesmo o Filho de Deus ou não. Eu lhes dei todas as provas que
conhecia e, quando estávamos abrindo a porta do nosso carro para irmos embora,
um dos jovens muçulmanos me disse: “Você sabe, eu tenho que concordar com
você. Parece que Jesus acreditava mesmo e pregava aos outros que Ele era o
Filho de Deus.” Eu fiquei bastante animado com esse testemunho até que ele
continuasse: “Mas se Jesus pensava mesmo que era o Filho de Deus, acho que
Ele estava errado.” Não se pode ganhar todas!

Percebendo que Jesus é o Filho de Deus

Muitos cristãos, criados na fé cristã à base de classes de Escola Dominical e


outros métodos de treinamento bíblico, acreditam prontamente que Jesus é o Filho
de Deus sem grandes problemas — e, freqüentemente, sem nem saber por que
acreditam. Parece que as crianças aceitam mais facilmente o que lhes é ensinado.
Por outro lado, tente convencer um muçulmano, que é capaz de apresentar alguns
dos argumentos bastante difíceis de serem rebatidos já considerados contra a
divindade de Jesus, e pode ser que você irá descobrir que ele não sabe como
justificar ou explicar no quê ele realmente acredita e por quê.

Para os muçulmanos, que cresceram ouvindo que Deus não tem parceiros, que
Jesus não poderia ser Filho de Deus por ser homem e que a Trindade não faz o
menor sentido, dar as costas para tudo e acreditar que Jesus é a segunda pessoa
da Trindade tem um custo muito alto. Aprendi, há anos atrás, que simplesmente
não se pode esperar que um muçulmano seja persuadido a crer no Evangelho
apenas com argumentos racionais humanos. É necessária um entendimento que é
inspirado por Deus, e é isso que eu digo aos muçulmanos que me questionam
como citei acima. Eu lhes devolvo a seguinte pergunta que Jesus fez aos Seus
discípulos:

“Quem diz o povo ser o Filho do Homem?” (Mateus 16:13)

Já havia algum tempo que Jesus estava com seus discípulos, ensinando às
multidões, curando doenças e enfermidades e fazendo muitas demonstrações de
poder no meio deles. Eles responderam que o povo acreditava que Ele era João
Batista, Elias, Jeremias ou algum dos outros profetas. A impressão comum era de
que Ele era um profeta — eles não sabiam ao certo qual deles, mas, de qualquer
forma, era um profeta. Afinal, ele não era muito diferente dos outros: um homem
que não possuía nada e proclamava a palavra de Deus, provando ser enviado
divino por sinais, da mesma maneira que Moisés, Elias e Eliseu fizeram antes
dEle.

No entanto, quando Jesus lhes perguntou: “Mas vós, quem dizeis que eu sou?”,
Simão Pedro exclamou: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (Mateus 16:16). O
que, na verdade, Pedro estava dizendo era que “o povo acha que você é um
profeta, mas eu sei que você é mais do que isso, você é o Filho de Deus”. Por
que ele disse isso? Teria ele, por causa da sua maior proximidade com Jesus,
visto ou ouvido coisas que o levassem a perceber a verdade? A resposta de Jesus
a Pedro é muito significativa:

“Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to
revelaram, mas meu pai, que está nos céus.” (Mateus 16:17)

Pedro não fez essa grande descoberta por si mesmo. Deus, o Pai, havia lhe
revelado quem Jesus realmente era. Não podemos nunca esquecer que, quando
estamos evangelizando muçulmanos, somos apenas meras testemunhas da
verdade de Deus, e que o trabalho de esclarecimento e conversão é exclusivo do
Espírito Santo. Portanto, o que eu respondi ao muçulmano que me fez a pergunta
que abriu este tópico foi que eu não tinha como provar que Jesus era o Filho de
Deus se ele estava determinado a não acreditar, não importa o que eu fizesse.
Deus somente poderia inspirá-lo a ver a verdade se ele estivesse com a mente
aberta para receber a verdade.

O Evangelho — A revelação de Deus a respeito dEle mesmo

Concluindo, nós, como cristãos, devemos fazer a tarefa que nos cabe e testificar
da verdade. A Bíblia afirma categoricamente que a fé só vem pelo ouvir da Palavra
de Deus (Romanos 10:17), e nós precisamos proclamá-la e defendê-la quando
chamados a isso. A este respeito, a questão não é como Deus pode se
transformar em homem, ou como Ele pode habitar um corpo de carne e osso.
Uma vez que admitimos que todas as coisas são possíveis para Deus, o
verdadeiro mistério é o que Deus revelou a Seu respeito. A questão, novamente,
não é se Deus pode ficar confinado à forma humana, mas sim apenas se a
humanidade pode suportar a imagem divina. Quando estava neste mundo, Jesus
Cristo manifestou todos os atributos perfeitos de Deus de maneira plena. Foi por
isso que Ele disse que “quem vê a mim vê aquele que me enviou” (João 12:45). O
caráter divino de Deus não foi distorcido de forma alguma enquanto Jesus andou
entre os homens. Ao contrário: a plenitude do amor de Deus, Sua bondade, graça
e misericórdia só foram enfim reveladas quando Seu filho entregou sua vida para
que pudéssemos ser perdoados e alcançar a vida eterna.

O Qur’an, quando narra a aparição do anjo Gabriel a Maria para anunciar-lhe a


concepção do seu filho sem a participação de um homem, diz:

“E colocou uma cortina para ocultar-se dela (da família), e lhe enviamos o Nosso
Espírito, que lhe apareceu personificado, como um homem perfeito.” (Surata
19:17)

O próprio Qur’an admite, sem reserva alguma, que Deus envia Seus anjos, que
são espírito (ruh), na forma exata da aparência humana. Por que então o Filho de
Deus, que também é espírito, não poderia assumir a forma humana? Não existem
argumentos que possam justificar a impossibilidade de fazê-lo. Em outro trecho, o
Qur’an diz:

“Responde-lhes: Se na terra houvesse anjos, que caminhassem tranqüilos, Ter-


lhes-íamos enviado do céu um anjo por mensageiro.” (Surata 17:95)

Se, então, Deus manda um mensageiro angélico aos anjos na Terra, por que Ele,
se quisesse viver pessoalmente entre sua criação e redimi-la por seus pecados,
não poderia escolher assumir a forma de um mensageiro humano? Afinal, se a
Bíblia diz que Deus criou-nos, disse “Façamos o homem à nossa imagem e
semelhança” (Gênesis 1:26). Assim, parece razoável que essa mesma forma
humana comportasse a imagem de Deus.

Jesus é, sem dúvida, o Filho de Deus. Não precisamos esconder esta verdade. Ao
invés disso, devemos proclamá-la ao mundo muçulmano da melhor forma que
pudermos, e orar para que o Santo Espírito de Deus aja em suas vidas, para que
vejam a verdade.
Capítulo Quatro

A crucificação e a redenção
As questões históricas e espirituais

4.1 As conseqüências da natureza pecaminosa do homem

Muçulmano: Ninguém pode pagar pelos pecados do outro. Cada homem é


responsável pela sua própria vida. É preciso se esforçar ao máximo para
obedecer às leis de Alá, e confiar na Sua misericórdia para perdoar nossas falhas.
Pecados são más ações, que devem ser compensadas por boas ações.

Uma das grandes diferenças entre o islamismo e o cristianismo é o conceito que


cada uma destas religiões do que é pecado, e o efeito dele no relacionamento do
homem com Deus. De acordo com o Novo Testamento, o pecado de Adão não foi
apenas uma ofensa contra as santas leis de Deus, mas um ato de insurreição que
colocou toda a raça humana contra Deus (Romanos 2:9 a 18), deixando todos os
homens, por natureza, mortos espiritualmente em virtude das suas transgressões
e iniqüidades, presos ao destino de seguir o diabo como filhos da desobediência
(Efésios 2:1 e 2). O islamismo, por outro lado, ensina que todos os homens são
seres neutros, capazes de fazer tanto o bem quanto o mal, de acordo com as
escolhes que fizerem. Mesmo que o Qur’an lamente com freqüência a instintiva
tendência humana de se voltar contra Deus, de demonstrar ingratidão a Ele e de
seguir suas paixões, pelas quais o homem é dominado (Surata 100:6 a 8), ele não
vê a incapacidade do homem de obedecer em todo o tempo a Deus como um
cisma devastador, que separa Deus do homem a não ser e até que Deus
intervenha e propicie a redenção, conforme narra a Bíblia, através da crucificação,
morte e ressurreição de Seu Filho Jesus Cristo.

Por que a redenção é necessária

A questão central não é se o homem tem uma natureza intrinsecamente má, como
afirma a Bíblia, e cujo coração é “desesperadamente corrupto” (Jeremias 17:9),
mas sim se Deus é tão bom como a Bíblia diz que é. Segundo o islamismo, Alá é
o Senhor do Universo, e Seus atributos, como justiça, misericórdia e retidão, são
apenas atributos, e nada mais. A Bíblia, contudo, ensina que Deus é, por sua
própria natureza, santo e justo, e que o homem, ao quebrar Suas santas leis, é
desligado do Seu caráter absolutamente santo (Romanos 3:23). Como explicar
isso a um muçulmano que acusa o cristianismo de ter uma visão excessivamente
pessimista da natureza humana, e que portanto Deus não teria porque salvar
alguém, perdoando somente aqueles a quem Ele quisesse e escolhesse? Uma
das maneiras mais eficientes de fazê-lo é não tentar provar a doutrina da
redenção, mas apresentar uma comparação entre dois homens, Adão e Jesus,
começando por esta passagem:

“Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a
ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim
também todos serão vivificados em Cristo.” (1 Coríntios 15:21 e 22)

Todos os muçulmanos aceitam que Adão e Eva foram expulsos do Jardim do Éden
porque pecaram. A conseqüência do seu ato de desobediência não podia ser
cancelada por uma boa ação, e nem era questão de simplesmente ser perdoado
por Deus. Eles nunca mais puderam voltar ao Jardim, e nem nenhum outro ser
humano, descendente deles. Os muçulmanos crêem que o Jardim era o céu,
porque, no Qur’an, recebe o mesmo nome que o céu: Jannatu’l’Adn (Surata 9:72).
Discutindo com muçulmanos, aprendi que eles aceitam facilmente a idéia de que
Adão e Eva não morreriam se tivessem permanecido no Jardim, e que apenas
neste mundo decadente para o qual eles foram mandados é que a morte surge
como destino inevitável.

Logo, é de se esperar que os muçulmanos sejam capazes de reconhecer que o


pecado original de Adão e Eva teve conseqüências desastrosas e arrasadoras. A
pergunta que já fiz a eles muitas vezes é: se Deus perdoou Adão e Eva, porque
eles não puderam voltar ao jardim? Por que eles e seus descendentes foram
expulsos para morrer nesta terra? Não há resposta para essas perguntas no
islamismo. Ainda assim, os muçulmanos preferem acreditar que Jesus foi elevado
aos céus, sendo o único homem que para lá foi levado sem nunca conhecer a
morte. Como teria Ele conseguido isso, enquanto que todos os outros homens que
nasceram na terra, desde Adão a Maomé e depois dele, morreram?

É fácil, a partir desse ponto, demonstrar que Jesus ensinou que Ele subiria aos
céus porque foi de lá que Ele veio. Ele não era outro homem comum, e seu
nascimento cercado de particularidades provam isto. Como disse Jesus:

“Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do
homem que está no céu” (João 3:13)

“Vim do Pai e entrei no mundo; todavia, deixo o mundo e vou para o Pai.” (João
16:28)

Os muçulmanos alardeiam que eles privilegiam a lógica; portanto, use-a quando


estiver falando com eles. Se retornamos ao pó porque dele viemos, não é lógico
acreditar que Jesus subiu aos céus porque, analogamente, foi de lá que Ele veio?
Aprendi que é bastante útil insistir em mostrar que Jesus veio entre nós pela
primeira vez, se fazendo homem como nós, seres humanos ordinários, “em
semelhança de carne pecaminosa” (Romanos 8:3) para morrer como nós
morremos, e para redimir-nos dos nossos pecados. Ele virá dos céus pela
segunda vez para nos fazer como Ele, em toda Sua glória resplandecente, para
que possamos viver no reino dos céus, onde Ele vive. Assim como Jesus, quando
visto como Ele é verdadeiramente, brilha com toda a glória da perfeição, com sua
face resplandecendo como o sol (Mateus 17:2), nós também “resplandeceremos
como o sol” no reino do nosso Pai por causa da nossa fé no Filho e do
relacionamento com Deus através dEle (Mateus 13:43). Se o cristianismo tem a
visão mais pessimista da natureza humana — que o homem não pode se redimir
ou salvar a si mesmo com boas obras —, ao mesmo tempo também oferece a
visão mais otimista sobre aquilo que o homem pode se tornar! O único caminho de
volta para o Jardim do qual Adão e seus descendentes foram banidos é através
de Jesus, que retornará dos céus para levar seus seguidores de volta com ele.
Sem a redenção propiciada por Ele, não há como retornar ao Jardim.

A queda de Adão no Qur’an

É importante enfatizar, nesta altura, a respeito do que foi exposto acima, que o
Qur’an corrobora o ensinamento bíblico de que a transgressão de Adão não foi um
mero erro ou falha, ou um esquecimento da ordem de Deus de não comer do fruto
proibido (tese que os muçulmanos costumam defender), mas sim que ele saiu do
seu estado superior e foi expulso do Jardim:

“Todavia, Satã os seduziu, fazendo com que saíssem do estado (de felicidade) em
que se encontravam. Então dissemos: Descei! Sereis inimigos uns dos outros, e,
na terra, tereis residência e gozo transitórios.” (Surata 2:36)

A palavra chave deste versículo é ahbituu, cuja raiz é habt e que significa “descer
uma encosta”, ou “descer de um lugar alto para um mais baixo”. O imperativo
“Descei!” que aparece no texto pode ser traduzido, em outras palavras, por “Saiam
já daqui!”. As conseqüências também seriam profundas: ódio entre os homens, e
banimento do homem para a terra. É extremamente importante ressaltar o fato de
que Adão e Eva nunca mais foram aceitos no Jardim. A Morte foi a conseqüência
final do pecado deles, e dela é que surgiu a necessidade de um Salvador, Jesus
Cristo, que ressurgiu dos mortos para nos trazer a esperança da vida eterna.

Ao mencionar este fato, é também importante lembrar aos muçulmanos que


tentam minimizar a ofensa de Adão dizendo que ele só “esqueceu” da ordem dada
por Deus que, além de ser altamente improvável que Adão tenha esquecido a
única proibição estabelecida por Deus (Surata 7:19), Shaitaan, o Demônio,
recordou a ordem de Deus quando foi tentar a Adão:

“Então, Satã lhe cochichou, para revelar-lhes o que, até então, lhes havia sido
ocultado das suas vergonhas, dizendo-lhes: Vosso Senhor vos proibiu esta árvore
para que não vos convertêsseis em dois anjos ou não estivésseis entre os
imortais.” (Surata 7:20)

O pecado de Adão foi um ato deliberado de desafio a Deus. A árvore, localizada


no meio do Jardim, era símbolo da autoridade de Deus sobre o homem e, ao
comer do seu fruto, Adão desafiou essa autoridade e condenou a raça humana a
um estado de rebelião eterna contra Deus. Somente Cristo pode resgatar-nos
dessa nossa condição.
Às vezes os muçulmanos falam de uma tumba que teriam preparado na Masjid
an-Nabi (a Mesquita do Profeta) em Medina, Arábia, onde dizem que Jesus será
enterrado depois de quarenta anos de sua volta à Terra. Já mencionei que eu
também visitei duas tumbas de Jesus em Jerusalém, uma na Igreja do Santo
Sepulcro na cidade velha, e outra no jardim logo ao pé do Gólgata, onde Cristo foi
crucificado. Conclui que é algo notável que um homem tenha três tumbas, mas
que seu corpo não esteja em nenhuma delas e nunca estará! Elas estão
totalmente vazias! Ele agora habita nas alturas dos céus, e nunca morrerá
novamente.

A vida de Jesus começou de modo único, nascendo de uma virgem porque Ele
vinha dos céus, e terminou de maneira igualmente singular, sendo levado aos
céus após sua ressurreição dentre os mortos. Outro ponto que merece ser
enfatizado aqui e que eu descobri ser bastante eficaz com os muçulmanos é que
Jesus estava vivo em glória celestial antes mesmo que Maomé nascesse, e
permaneceu assim durante toda a vida do Profeta, e continua vivo na mesma
glória depois de quatorze séculos da morte de Maomé, que está enterrado em
solo árabe.

4.2 Os cristãos tem uma licença para pecar?

Muçulmano: Se Cristo morreu por todos os seus pecados, sejam eles passados,
presentes e futuros, então você pode pecar o quanto quiser. Não é por isso que o
mundo ocidental de hoje é tão corrupto? Basta pedir perdão, e você está
perdoado! Nós, muçulmanos, nunca acreditaremos em algo que é tão fácil.

Este é o argumento mais comum com que os cristãos se deparam quando vão
testemunhar aos muçulmanos. Para eles, o favor de Deus deve ser conquistado
através de uma sucessão de boas obras e devoções religiosas. Eles não
conseguem entender como a salvação pode ser um presente, ou como o perdão
de todos os pecados pode ser obtido simplesmente através da fé em Jesus.

O ensinamento de Paulo em Romanos 6

Este problema é resolvido conclusivamente pelo apóstolo Paulo no sexto capítulo


da sua epístola aos Romanos. O argumento que ele antecipa e responde na
primeira parte do capítulo é ligeiramente diferente do argumento dos muçulmanos:
“Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante?” (v. 1). A
segunda parte, no entanto, inclui a objeção clássica dos muçulmanos: “Havemos
de pecar porque não estamos debaixo da lei e sim da graça?” (Romanos 6:14).
Suas respostas vão direto ao cerne do que é o evangelho cristão, dando aos
cristãos uma oportunidade real de testemunhar aos muçulmanos sobre os efeitos
da graça salvadora de Deus em Cristo sempre que eles utilizarem o argumento
citado acima.

1. Mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo


A primeira resposta do apóstolo é, na verdade, perguntar como os crentes podem
sequer contemplar a possibilidade de viver em pecado com a consciência tranqüila
quando o efeito da sua fé em Jesus é compartilhar da Sua morte e vitória sobre
todas as forças das trevas:

“Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (Romanos
6:2)

A grande verdade no argumento de Paulo é que os que colocam sua fé em Cristo


unem-se a Ele na Sua morte e ressurreição. Ele morreu para conquistar a culpa e
o poder do pecado, e ressurgiu para dar perspectiva de vida para todos os que
escolheram segui-lO. Em troca, eles identificam-se com Sua morte para o pecado,
tornando-se vivos para Deus e a plenitude da Sua justiça. Ninguém pode receber
o perdão de Deus em Cristo, a não ser que tenha desejo sincero de se arrepender
dos seus pecados e abandoná-los, para ser transformado à imagem de Deus em
verdadeira justiça e santidade.

“Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas
quanto a viver, vive para Deus” (Romanos 6:10)

2. A graça de Deus liberta os crentes do poder do pecado

Talvez o mais importante a ser destacado seja o fato de que Jesus Cristo morreu
não apenas para livrar-nos da culpa do pecado, mas também do seu poder. Jesus
disse que quem peca torna-se escravo do pecado (João 8:34). Muitas vezes já
perguntei a um muçulmano que, se o pecado era uma simples escolha feita pelo
homem, porque eles não diziam a Deus: “Sei que queres que sigamos o caminho
certo (Siratal-Mustaquim). Por isso, deste dia em diante eu escolho nunca mais
pecar”. Invariavelmente, eles devolveram um sorriso amarelo à minha sugestão,
admitindo que ninguém pode fazer uma decisão dessas para o resto da vida, e
talvez nem por um dia. Geralmente eles dizem que, muitas vezes, eles não
sabem nem que estão pecando, porque o que às vezes parece certo aos olhos
humanos é errado perante Deus.

Muitos muçulmanos lutam contra a dolorosa percepção de que a tendência a


pecar é uma força que nos compele, uma triste realidade da natureza humana. É
nesse momento que o efeito da redenção adentra a vida cristã:

“Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a


obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez
libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.” (Romanos 6:17 e 18)

A fé em Jesus não só nos traz o perdão dos nossos pecados, mas também nos dá
o poder de vencer o pecado em nossas vidas. Como disse Paulo em outra carta,
Jesus veio para “redimir-nos de toda iniqüidade” e também para “purificar, para si
mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tito 2:14). Para
muitos muçulmanos, a perspectiva de um poder alheio capaz de conquistar o
pecado é muito atrativo.
3. Enchendo-se do Espírito Santo

Todo aquele que compromete sua vida com Cristo recebe, simultaneamente, o
Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade. Ele não controla nossas vidas
(Deus é gracioso demais para fazer isso), mas nos enche de amor pelos
mandamentos de Deus que estão enraizados em nós e, a medida que nos
submetemos a Ele, liberta-nos das tendências poderosas nas nossas almas de
buscar os nossos próprios e pecaminosos desejos. O trecho abaixo impressiona
bastante os muçulmanos a este respeito:

“... chegando-se, porém a Jesus, como vissem que já estava morto, não lhe
quebraram as pernas. Mas um dos soldados lhe abriu o lado com uma lança, e
logo saiu sangue e água.” (João 19:33 e 34)

João procura dar o máximo de ênfase possível a esta passagem, dizendo, no


verso seguinte, que ele foi testemunha ocular desses acontecimentos, e os
reconta para que os leitores creiam. Mas acreditar o quê? Somente nos eventos
que aconteceram? Não é provável, especialmente porque o verbo “crer” é sempre
carregado de um significado profundo em todo o evangelho que ele escreveu. Na
verdade, João conta essas coisas para que o leitor viva pela fé em Jesus. O que o
impressionou foram os dois líquidos que saíram do Jesus quando o soldado Lhe
feriu com a lança.

O sangue simbolizava o perdão dos pecados, assim como o derramamento do


sangue de bois, cordeiros e bodes no templo foi, no passado, o meio pelo qual
Deus expiava os pecados do povo. A água, por outro lado, simbolizava o
derramamento do Espírito Santo e os rios de nova vida que os que cressem
receberiam. A água é um símbolo comum do poder divino na alma neste
evangelho (João 4:14, 7:38). Deve-se perceber que esta é uma ilustração muito
útil para fundamentar os ensinamentos de Paulo em Romanos 6.

Concluindo, também é apropriado desafiar qualquer muçulmano que tente


defender que “se Jesus morreu por você, pode pecar à vontade” a citar trechos da
Bíblia que mostrem onde ele retirou embasamento para sua tese. Uma alternativa
é sugerir, sem demonstrar agressividade, que, dizendo uma falácia dessas, o
muçulmano demonstra uma clamorosa ignorância a respeito daquilo que a Bíblia
ensina, e que portanto ele precisa de uma breve explicação do que a salvação
realmente significa.

4.3 O jovem rico e os mandamentos

Muçulmano: É estranho que vocês digam que a salvação vem através da fé em


Jesus. Afinal, o próprio Jesus ensinou que, para receber a vida eterna, é preciso
guardar os mandamentos de Deus. É isso que o islamismo (e toda verdadeira
religião) ensina.
Muitos muçulmanos conhecem a história do jovem rico que se aproximou de
Jesus para perguntar-Lhe o que ele precisava fazer para ganhar a vida eterna.
Jesus respondeu-lhe: “Se queres, porém, entrar na vida, guarda os
mandamentos.” (Mateus 19:17). Eles sustentam que Jesus nunca pregou o
arrependimento mas, como está escrito neste versículo, conclamou os homens a
observarem os mandamentos de Deus se quisessem entrar no Seu reino. Como
responder a isto?

Ninguém é bom senão Deus

Em certas ocasiões, os muçulmanos irão afirmar que Jesus também negou, no


seu diálogo com o jovem rico, que Ele tivesse qualquer bondade em Si mesmo
por ser apenas um homem comum como os outros. Quando o jovem rico se dirigiu
a Ele chamando-O de “bom mestre”, Jesus respondeu:

“Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus.” (Marcos
10:18)

Aqui, surge outra excelente oportunidade para se transformar um problema em


oportunidade de testemunho, desta vez da divindade de Cristo. Jesus nunca
negou ser Deus; ao contrário, referia-se a Si mesmo como o Bom Pastor, que dá
sua vida pelas suas ovelhas (João 10:11), fazendo eco com a afirmação do próprio
Deus no passado: “Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas” (Ezequiel 34:15).
Não há muito espaço para duvidar que Jesus tinha esta passagem em mente
quando assumiu o título de Bom Pastor.

Na verdade, o que Ele estava dizendo ao jovem rico era: “Por que me chamas
bom?”. Ele não estava negando Sua divindade. O jovem rico, no hebraico,
chamado-O de bom rabi (como aparece em João 1:38). Havia muitos rabbis e
mestres da lei em Israel naquela época, e, se o jovem rico pensou que ele era
apenas mais um deles, poderia muito bem ser questionado sobre por que havia
chamado Jesus de “bom”, quando só Deus é bom, no sentido eterno. A resposta
de Jesus era um desafio ao jovem rico, para que ele declarasse se via Jesus
apenas como mais um dos muitos mestres da lei, que davam sua interpretação
segundo o que aprenderam nos seus estudos, ou se via em Jesus uma
singularidade divina, pela qual Ele seria capaz, com autoridade divina, de
desvendar o segredo da vida eterna. Isto salta aos olhos ainda mais quando se lê
o resto do diálogo entre os dois.

Se queres ser perfeito, vem e segue-me

Quando Jesus disse ao jovem rico que poderia obter a vida eterna cumprindo os
mandamentos, ele perguntou: “Quais?”. Jesus, então, mencionou cinco deles,
todos a respeito da relação do homem com o seu próximo, mas excluindo o
décimo mandamento: “Não cobiçarás”. O jovem rico respondeu que havia
guardado todos aqueles mandamentos desde a juventude — o que ainda faltava?
Jesus, conhecendo seu amor pelos bens materiais e seu espírito dado à cobiça,
lançou-lhe outro desafio:

“Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro
no céu; depois, vem e segue-me.” (Mateus 10:21)

O jovem rico partiu triste, incapaz de dividir suas muitas posses. Vemos, nesta
história, não que qualquer um pode ganhar a vida eterna simplesmente guardando
os dez mandamentos, mas que ninguém pode fazê-lo de maneira tão perfeita
quanto a necessária para receber a vida eterna através da obediência a esses
mandamentos. Deus é perfeito, e, se alguém guarda Suas leis, no sentido
verdadeiro do termo, deve segui-las igualmente à perfeição. Outro versículo diz:

“Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna
culpado de todos.” (Tiago 2:10)

Jesus estava tentando dizer ao jovem rico, que pensava que havia guardado todas
as leis de Deus desde a infância, que era preciso guardar todas as leis de Deus
sempre, continuamente, sem nenhum deslize. Por isso, Jesus disse que, se ele
quisesse ser perfeito, precisava vender todos os seus bens e renunciar ao seu
espírito materialista. Piedade relativa é inaceitável a um Deus que é Santo e
santificado em justiça (Isaías 5:16). Ao invés, portanto, de encontrar a vida eterna
pela obediência aos mandamentos de Deus, o jovem rico descobriu que essas leis
apenas o condenavam pelo pecado. Como disse o apóstolo Paulo:

“”(Romanos 7:10)

Jesus deu àquele jovem uma dica bem clara de onde está realmente a salvação
quando disse: “Se queres ser perfeito, (...) vem e segue-me.” É só pelo trabalho de
arrependimento feito por Cristo que podemos finalmente encontrar a perfeição e a
salvação. Longe de ser a negação da divindade de Jesus e da redenção, essa
passagem reafirma essas coisas.

Outras provas da redenção

A acusação de que Jesus nunca teria ensinado sobre a redenção pode ser
confrontada por outros meios. Em vários momentos, Ele deixou claro que veio à
terra somente para salvar-nos dos nossos pecados, e sempre é bom citar as
passagens nas quais Jesus afirma isso quando conversar com muçulmanos sobre
este assunto:

“... tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e
dar sua vida em resgate por muitos.” (Mateus 20:28)
“Eu sou o pão vivo que desce do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente;
e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.” (João 6:51)

“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.” (João 10:11)

Talvez o episódio mais óbvio da vida de Jesus que aponta claramente a Sua morte
como o plano de Deus para a nossa salvação é a Última Ceia, na qual Ele estava
com Seus discípulos pela última vez antes de ser preso, julgado e crucificado.
Jesus tomou o pão, partiu e o distribuiu entre os discípulos dizendo: “Tomai,
comei; isto é o meu corpo.” A seguir ele pegou um cálice de vinho e lhes deu para
beber, dizendo: “Bebei dele todos, porque isto é o meu sangue, o sangue da nova
aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.” (Mateus
26:26 a 28).

É virtualmente impossível entender como alguém pode sugerir que Jesus nunca
ensinou que daria Sua vida para nos redimir em face de um evento como o que
narramos acima. Tudo o que Ele fez na última noite com seus discípulos antes de
morrer foi chamar a atenção para sua morte para nos salvar. Os cristãos têm,
frente às objeções dos muçulmanos como a levantada na história do jovem rico,
enormes oportunidades de compartilhar a mensagem completa do Evangelho com
eles, ao mesmo tempo em que combate seus argumentos.

4.4 A Teoria da Substituição no Qur’an

Muçulmano: Deus não teria se limitado a assistir aos Seus inimigos crucificarem
Seu Filho. Para nós, Jesus foi apenas um grande profeta, e mesmo assim Alá
livrou-o dos judeus que queriam matá-lo. Ele foi salvo da cruz, enquanto outro foi
crucificado no lugar dele.

Só um versículo, em todo o Qur’an, trata da crucificação de Jesus. O evento é


negado enfaticamente como uma calúnia dos judeus contra Ele. Sua intenção de
matá-lo não é ocultada, mas Alá teria honrado Seu profeta salvando-o das mãos
dos judeus, enquanto uma outra pessoa, cuja aparência teria sido modificada por
Alá para que ela se parecesse com Jesus, foi crucificada. Não há nenhuma
menção quanto à relevância do episódio para a fé cristã, um lapso surpreendente
se considerarmos que a Bíblia ensina que Jesus entregou sua vida por vontade
própria para a salvação de todos os homens, e que este foi o propósito expresso
da encarnação do Filho de Deus. Sem a morte e a ressurreição de Cristo, não
haveria cristianismo, e o fato de que isto é o centro da nossa fé torna a omissão
de qualquer referência a respeito do contexto cristão nesse trecho do Qur’an ainda
mais notável. O versículo é este:

“E por dizerem: 'Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de


Deus', embora não sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o crucificaram,
senão que isso lhes foi simulado. E aqueles que discordam, quanto a isso, estão
na dúvida, porque não possuem conhecimento algum, abstraindo-se tão-somente
em conjecturas; porém, o fato é que não o mataram.” (Surata 4:157)

Implicações da Teoria da Substituição

A pequena e interessante expressão “wa laakin shubbiha lahum” — traduzido por


“senão que isso lhes foi simulado” — levou o mundo muçulmano a acreditar que
as características físicas de outra pessoa foram modificadas para que sua
aparência fosse igual à de Jesus, o qual Deus teria sido substituído por essa
outra pessoa. Jesus, no entanto, teria sido levado aos céus, onde vive até o dia
em que retornará à terra, pouco antes do fim dos tempos. O Qur’an chega
tentadoramente perto de admitir a posição cristã — aceita que os judeus
prenderam Jesus e que pretendiam crucificá-lO, que alguém foi mesmo crucificado
e que, para todos os efeitos, era idêntico a Jesus, e que todos os que
permaneceram ao pé da cruz acreditaram que era Ele quem estava ali. Na
verdade, a expressão “que isso lhes foi simulado” é um tanto imprecisa, e deu
origem a algumas disputas entre os muçulmanos a respeito do que realmente
aconteceu com Jesus. No entanto, há um consenso geral de que alguém foi
transfigurado para ter a aparência física de Jesus, que foi crucificado no lugar
dEle.

Além disso, o Qur’an oferece outra inusitada coincidência: o dia em que a vida de
Jesus na terra chega ao fim coincide com o dia que é narrado na Bíblia. Isso,
ironicamente, dá à Teoria da Substituição o seu único crédito possível, pois ela
termina a vida natural de Jesus no mesmo dia em que a História afirma que ela
teve fim. Ainda, como veremos, essa teoria tem poucos fundamentos e pode ser
contestada em vários níveis. O importante é responder à negação dos
muçulmanos ao episódio da crucificação, inicialmente, pelo estabelecimento de
fatos em comum entre o que a Bíblia e o Qur’an narram. O único objeto de disputa
é se Jesus foi realmente crucificado (como ensina a Bíblia) ou se alguém foi morto
em seu lugar (como sustenta o Qur’an). Uma vez montado o tabuleiro, fica muito
mais fácil atingir o objetivo.

Uma análise crítica da Teoria da Substituição

Não só o ensinamento do Qur’an sobre o que aconteceu naquele dia é


contrangedoramente vago, como também a interpretação que os muçulmanos
fazem dele, a Teoria da Substituição, é extremamente vulnerável em aspectos
morais, e não sobrevive ao duro teste da análise crítica. Os seguintes pontos
podem ser levantados no diálogo com os muçulmanos:

1. Por que Deus vitimaria um inocente?

Se a intenção de Deus era salvar Jesus da morte, levando-O aos céus, porque
alguém precisava ser crucificado? Não faz sentido! O próprio ato de substituir um
homem por outro é uma forma de disfarce para enganar os que estavam
presentes, e não podemos aceitar que Deus tenha jamais feito tal coisa. Alguns
muçulmanos dizem que Judas Iscariotes teria sido crucificado (para retirar a
acusação de que um inocente teria sido crucificado), mas não há identificação de
quem teria sido a vítima no lugar de Jesus no Qur’an. O fato é que, quem quer
que tenha sido o substituto de Cristo, um inocente, que não devia responder pelos
crimes dos quais Jesus supostamente seria culpado, sofreu o castigo. A escolha
de Judas é um mero expediente para justificar o que Deus teria feito naquele dia.
A Bíblia, no entanto, registra claramente o que aconteceu com Judas: quando viu
que Jesus seria crucificado, enforcou-se por causa de seu remorso (Matue 27:5.
Ver também Atos 1:18).

2. Deus não tinha consideração pela família de Jesus e Seus discípulos?

A segunda objeção óbvia a essa teoria é o efeito que a crucificação teria nos que
estavam reunidos ao pé da cruz. Maria, sua mãe; sua irmã Maria, mulher de
Cléopas, e dois de Seus discípulos mais próximos, Maria Madalena e João, filho
de Zebedeu, estavam “junto à cruz” (João 19:25). Se a pessoa crucificada
assumiu as características físicas de Jesus, essas pessoas que estava ao pé da
cruz presumiam que era realmente Ele quem estava ali pregado? Por que Deus
fez essas pessoas mais próximas de Jesus passarem pela agonia de vê-lO
morrer? Teria Deus permitido que a mãe de Jesus, reverenciada no islamismo
como Bibi Maryam, a única mulher cujo nome é mencionado no Qur’an (Surata
3:36, 19:16), passasse por tanto sofrimento por causa de uma ilusão criada por
Ele? É válido, neste ponto, dizer que Jesus dirigiu-se diretamente a Maria e a João
enquanto estava na cruz:

“Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: ‘Mulher, eis aí teu
filho’. Depois, disse ao discípulo: ‘Eis aí tua mãe’. Dessa hora em diante, o
discípulo a tomou para casa.” (João 19:26 e 27)

Este é apenas uma das sete falas de Cristo na cruz, mostrando que a pessoa
crucificada não apenas se parecia fisicamente com Jesus, mas também falava
como Ele. Só o próprio Jesus poderia mostrar tamanha compaixão pela sua mãe.
Qualquer outra pessoa ficaria apenas gritando da cruz que era inocente, e que era
vítima de um erro. Para chegarem à verdade, os muçulmanos precisam apenas
reconhecer uma coisa: que foi o próprio Jesus quem foi crucificado naquele dia!

3. O cristianismo foi fundado com base num trote de Deus?

A terceira objeção à teoria muçulmana é que, se o homem crucificado foi


transfigurado para ser igual a Jesus, pode-se culpar Seus discípulos por pensarem
que era Ele quem estava naquela cruz? Eles foram e pregaram o Cristo que havia
sido crucificado, dispostos a entregar suas vidas à mensagem do Evangelho de
que Jesus morrera para salvar o mundo do pecado. Eles encontraram essa fé num
trote, numa ilusão criada deliberadamente pelo próprio Deus? A Teoria da
Substituição faz de Deus a maior fonte de decepção da História da religião. A
ironia é que a própria teoria é que talvez seja a maior de todas as desilusões da
História, uma desilusão que aprisionou centenas de milhões de muçulmanos por
quatorze séculos. Sob uma análise mais cuidadosa, percebe-se que essa teoria
está cheia de improbabilidades.

É importante, quando se testemunha aos muçulmanos, enfatizar que a Bíblia


ensina explicitamente que Jesus foi crucificado, que Ele morreu na cruz, e que
ressuscitou dos mortos no terceiro dia. Estas declarações, feitas por um anjo a
algumas das seguidoras de Jesus no dia da Sua ressurreição e pelo apóstolo
Pedro a milhares de judeus, resumem estas grandes verdades:

“... sei que buscais Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; ressuscitou, como
tinha dito. Vinde ver onde ele jazia. Ide, pois, depressa e dizei aos seus discípulos
que ele ressuscitou dos mortos” (Mateus 28:5 a 7)

“[Este Jesus,] sendo entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus,


vós o mataste, crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus
ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele
retido por ela.” 8 (Atos 2:23 e 24)

Deus é glorificado no Evangelho cristão. A crucificação, morte e ressurreição de


Jesus Cristo, Seu único Filho, é a maior evidência do Seu amor por nós. É a porta
para a vida eterna, a fonte do nosso perdão completo e redenção final. A teoria
dos muçulmanos de que alguém teria sido crucificado no lugar de Jesus, ao
contrário, não faz sentido, por fazer com que o evento da crucificação não tenha
nenhum outro propósito aparente senão transformar em vítima um inocente,
traumatizar os seguidores de Jesus, além de resultar numa religião que se baseia
numa falácia — tudo arquitetado por Alá. É mesmo muito improvável!

4.5 A Teoria do Desmaio dos apologistas muçulmanos

Muçulmano: Pode ser demonstrado através da Bíblia que, mesmo se foi Jesus
quem estava naquele cruz, ele não morreu nela, mas foi retirado vivo, desmaiado.
Mais tarde, ele se recuperou e apareceu a muitas pessoas — daí a ilusão de que
ele teria ressuscitado dos mortos.

A natureza indefensável da Teoria da Substituição e sua óbvia fragilidade levaram


alguns autores muçulmanos a atacar os registros bíblicos da crucificação de
Cristo, tentando provar aquilo que se conhece hoje como a Teoria Alternativa do
Desmaio. É uma heresia antiga, adotada inicialmente pelo ramo islâmico
Ahmadiyya através dos ensinamentos do seu profeta, Mirza Ghulam Ahmad, que
viveu na Índia no século XIX. É importante saber que, em 1974, seguidores do
Movimento Ahmamdiyya foram declarados não-muçulmanos no Paquistão. Sua
teoria, no entanto, foi ocasionalmente adotada por importantes autores

8 N.T.: ênfases do autor.


muçulmanos como um meio conveniente de combater o Evangelho cristão.

Evidências típicas usadas pela Teoria Ahmadiyya

Ignorando convenientemente todas as afirmações nos evangelhos de que Jesus


realmente morreu na cruz, esses autores atêm-se a certas passagens,
distorcendo-as do seu contexto e reinterpretando-as de modo a sugerir que Jesus
sobreviveu à cruz. Vamos considerar alguns exemplos proeminentes:

1. Jesus orou para que Deus o salvasse da morte

No Jardim do Getsêmani, logo após ter sido preso, Jesus orou: “Pai, se queres,
passa de mim este cálice; contudo não se faça a minha vontade, mas sim a tua.”
(Lucas 22:42), e, como resposta à Sua oração um anjo foi enviado para confortá-
lO (Lucas 22:43). Argumentam que Jesus estava relutante em morrer, e que o anjo
foi enviado para confortá-lO porque Ele seria salvo da morte.

É difícil ver como Jesus poderia ser confortado pela idéia de que, depois de sofrer
os horrores da crucificação até chegar à beira da morte, seria salvo porque, para
todos os efeitos, ele pareceria estar morto quando O tirassem da cruz. Aqui, até a
Teoria da Substituição faz mais sentido! Não é mais lógico imaginar que, se Deus
quisesse salvá-lO da morte, teria livrado-O completamente do sofrimento? Por que
salvá-lO somente depois de um atraso desnecessário e trágico? A qualquer
momento, Jesus poderia ter fugido de Jerusalém naquela noite, evitando ser
preso, uma vez que sabia exatamente o que Judas Iscariotes estava tramando
contra Ele (João 18:4). Jesus recuou ante a perspectiva de ser separado de Seu
Pai ao tomar a ira de Deus contra os nossos pecados sobre Si, um medo santo
que o fez suar sangue (Lucas 22:44). A própria perspectiva de ser abandonado
pelo Pai, e de ser deixado no mundo do pecado e suas conseqüências, fez com
que Jesus, momentaneamente, hesitasse em pânico, ainda que Ele tivesse se
submetido à vontade de Seu Pai. A força que o anjo Lhe deu era para que Ele
tivesse condições de suportar o martírio sem paralelo que se seguiria. A gloriosa
ressurreição de Jesus, três dias depois, foi um livramento ainda maior.

2. O centurião não se certificou de que Jesus estava morto

Os muçulmanos fazem muito barulho porque, quando os soldados romanos


vieram quebrar as pernas dos três homens que haviam sido crucificados naquele
dia, não tocaram em Jesus, pois viram que ele já estava morto (João 19:33).
Argumenta-se que eles basearam-se apenas na sua percepção, e que não
procuraram ter certeza de que Jesus havia realmente morrido. Contudo, os
soldados nunca deixariam passar algo desse tipo, seja por descuido ou por se
deixarem levar pelas impressões. Veja a passagem a seguir:

“Mas Pilatos admirou-se de que ele já tivesse morrido. E, tendo chamado o


centurião, perguntou-lhe se havia muito que morrera. Após certificar-se, pela
informação do comandante, deu o corpo a José.” (Marcos 14:44 e 45)

O governante romano ficou bem satisfeito em aceitar a confirmação dada pelo


centurião, porque seria fatal para qualquer soldado romano cometer um erro numa
situação como essa. Quando o apóstolo Pedro escapou da prisão, pouco tempo
depois, na mesma cidade, os soldados que haviam recebido a incumbência de
guardá-lo foram sumariamente executados (Atos 12:19). Quando um carcereiro
supôs que Paulo e Silas haviam escapado, “puxando da espada, ia suicidar-se”
(Atos 16:27). Permitir que um prisioneiro escapasse era punido com a morte — o
que esperaria um centurião que permitisse que um condenado escapasse porque
não haviam se certificado de que ele estava morto? Ninguém era uma testemunha
mais confiável do que ele no que se refere à morte de Cristo na cruz! De fato, um
dos soldados abriu o flanco do corpo de Jesus com uma espada (João 19:34),
para ter certeza de que Ele havia morrido. Só esse ferimento já seria suficiente
para matá-lO.

3. Os judeus duvidaram que Jesus estava morto

Outro argumento típico é de que os líderes judeus estavam preocupados porque


Jesus ainda estava vivo depois de ter sido retirado da cruz, e foram pedir a Pilatos
que a tumba fosse selada, a fim de impedir que ele escapasse. O argumento é
baseado na fala dos líderes ao governador:

“Senhor, lembramo-nos de que aquele embusteiro, enquanto vivia, disse: ‘Depois


de três dias ressuscitarei’.” (Mateus 27:63)

Outra vez, o argumento ignora, convenientemente, afirmações claras presentes no


contexto que mostram que, longe de acreditar que Jesus pudesse recobrar sua
saúde, os judeus estavam preocupados com a possibilidade de que os discípulos
de Jesus viessem roubar seu corpo, para, depois, proclamarem que Ele havia
ressuscitado dos mortos (Mateus 27:64).

Há dois pontos que tornam óbvio o que eles realmente queriam. O primeiro é que
eles citam o que Jesus havia dito “enquanto vivia”, implicando no fato de que eles
reconheciam que Ele estava agora morto. Em segundo lugar, eles agiam de modo
a impedir uma profecia dita por Jesus, mais precisamente a de que, depois de
morto, Ele ressuscitaria após três dias (Lucas 9:22).

A Teoria do Desmaio não tem nenhum fundamento. Baseia-se no que está nas
entrelinhas (o que alguns proponentes muçulmanos até admitem) ao invés de um
exame cuidadoso do que as linhas em si dizem. A teoria serve apenas para um
propósito, que é mostrar o quanto a Teoria da Substituição é embaraçosa para
muitos muçulmanos, e até que ponto eles chegam para atacar os relatos bíblicos
para não precisarem dela.

4.6 O que era realmente o sinal de Jonas?


Muçulmano: Jesus falou sobre o sinal de Jonas, o único sinal que Ele estava
preparado para dar aos judeus. No entanto, é óbvio que Jonas não morreu no
estômago do peixe, e que Jesus não ficou três dias e três noites no túmulo, como
disse que faria.

Os muçulmanos agarram-se ao sinal de Jonas para prolongar a sobrevida da


Teoria do Desmaio, e ao mesmo tempo para desafiar o paralelo que Jesus fez
entre o tempo que Jonas havia passado nas profundezas do oceano e o tempo
que Ele ficaria nas profundezas da terra. Vamos considerar os dois argumentos
que eles produzem, especialmente por serem bastante comuns no mundo
muçulmano.

Jesus estava vivo ou morto na sepultura

Ninguém duvida que Jonas estava vivo durante o seu martírio, e nem foi sugerido
que ele ressuscitou dos mortos quando foi lançado em terra seca. Assim, dizem os
muçulmanos, Jesus também deveria estar na sepultura, mas vivo, até que a pedra
fosse removida. Senão, como Jesus poderia usar a experiência de Jonas como
um sinal da sua própria ressurreição dentre os mortos? Quando se lê a frase
completa de Jesus, no entanto, fica óbvio que a semelhança era restrita ao fator
tempo:

“Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande
peixe, assim o Filho do homem estará três dias e três noites no coração da terra.”
(Mateus 12:40)

É muito claro que a semelhança era devida apenas pelo tempo que ambos
passaram longe dos olhos do povo, depois do qual era muito improvável uma
reaparição — Jonas passou os três dias num peixe, e Jesus na sepultura. O
importante é apenas o período de tempo de três dias e três noites. Não se pode
querer expandir a declaração de Jesus para que ela inclua também o estado em
que cada um permaneceu, ou seja, para dizer que “se Jonas permaneceu vivo,
então Jesus também devia estar vivo durante esse tempo”.

Tudo fica ainda mais evidente se observarmos outra declaração semelhante de


Jesus, onde, novamente, no contexto da Sua crucificação próxima, Ele traça uma
comparação entre Sua morte iminente e um episódio narrado no Velho
Testamento:

“E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o
Filho do homem seja levantado.” (João 3:14)

Aqui, a semelhança está restrita apenas ao estado de ser levantado, a serpente


numa haste e Jesus na cruz. A primeira havia sido levantada entre o povo, para
curar os judeus mordidos por serpentes; o segundo, para curar as nações
escravas do pecado. Neste caso, no entanto, a serpente era um objeto de metal.
Nunca esteve viva. Estava morta quando foi pregada à haste, bem como quando
foi retirada dela. Se aplicarmos a mesma lógica muçulmana aqui, significa que
Jesus deveria obrigatoriamente estar morto antes mesmo de ser pregado na cruz!

Fica patente que, em cada caso, o estado do que é comparado a Cristo não é
relevante ao ponto que Jesus queria ressaltar. A semelhança era confinada
somente ao ponto de similaridade que era mencionado — no caso de Jonas, o
período de tempo de três dias e três noites, e no caso da serpente de bronze, a
ação de levantá-la.

Os três dias e as três noites

É consenso universal entre os cristãos, com raras exceções, que Jesus foi
crucificado numa sexta-feira, e que ressurgiu na manhã do domingo seguinte. Os
muçulmanos alegam que, se assim tivesse ocorrido, o sinal de Jonas não teria
sentido, porque Jonas passou três dias e três noites no ventre do peixe. Jesus
ficou apenas duas noites (de sexta-feira para sábado, e sábado até o domingo),
como atesta a matemática mais elementar, na sepultura, e também mal chega a
três dias. O período de tempo de três dias e noites compreende 72 horas, mas
Jesus não teria ficado mais de 33 horas no túmulo (das 15h da sexta-feira até as
6h da manhã do domingo).

O que escapa a esses muçulmanos é uma grande diferença entre a linguagem


oral hebraica do primeiro século, e a do nosso português do século XX. Naquela
época, os judeus contavam cada parte do dia como um dia completo quando
calculavam períodos consecutivos de tempo. Jesus foi colocado no seu túmulo na
sexta, permaneceu lá durante todo o sábado, e só saiu pouco antes da alvorada
do domingo. Como o domingo começava no pôr-do-sol do fim de tarde anterior no
calendário judeu, Jesus esteve na sepultura por três dias, de acordo com o cálculo
dos judeus da época. A questão é por que existem apenas duas noites entre os
três dias.

É preciso entender os coloquialismos do hebraico antigo. A expressão três dias e


três noites não teria lugar no português moderno. Seu sentido, portanto, deve ser
procurado no contexto em que era utilizado no hebraico do século I d.C. Hoje,
diríamos: “Ficarei fora da cidade por duas semanas”, ou “por quinze dias”, mas
sem a intenção de que isso seja uma medida precisa de quinze dias e quinze
noites. Nesse sentido, a Bíblia utiliza-se desta expressão em vários momentos:
Moisés jejuou por quarenta dias e quarenta noites no deserto (Êxodo 24:18),
enquanto que os amigos de Jó sentaram-se com ele por “sete dias e sete noites”
durante sua doença (Jó 2:13). Nenhum judeu diria “três dias e duas noites”, ou
“sete dias e seis noites”, mesmo se este fosse o período de tempo exato ao qual
ele estivesse se referindo. Foi uma medida geral e imprecisa de três dias de que
Jesus estava falando e, por acaso, o mesmo tempo que Jonas passou debaixo do
mar.
Um ótimo exemplo disso é encontrado no Velho Testamento, quando a rainha
Ester ordena que ninguém coma por “três dias, nem de noite e nem de dia” (Ester
4:16), mas, no terceiro dia, depois de apenas duas noites, ela vai até a residência
do rei e o jejum termina. A expressão três noites e três dias era um
coloquialismo judeu, que significava qualquer período de tempo que
compreendesse três dias. Isso fica bastante óbvio a partir da maneira como os
judeus reagiram à declaração de Jesus, assim que Ele havia sido sepultado.
Quando falaram com Pilatos, lembraram que Jesus havia dito que ressuscitaria
depois de três dias, e pediram que ele desse segurança à sepultura até o terceiro
dia (Mateus 27:64). Isso aconteceu uma noite depois, no dia seguinte à
crucificação (sábado); por isso, insistiram para que o governador agisse
imediatamente. Hoje, nós entenderíamos a declaração de Jesus de que Ele
ressurgiria depois de três dias como se a ressurreição fosse ocorrer no quarto dia.

Os judeus, no entanto, conhecendo seus próprios coloquialismo, entenderam que


Jesus ressuscitaria no terceiro dia, ou seja, no domingo, depois de transcorridas
somente duas noites. Por isso é que eles mostravam preocupação quanto a
segurança da sepultura até o terceiro dia. Sabiam que Ele não quis dizer que
ficaria sepultado por 72 horas, mas sim por parte de um período de três dias. O
importante é interpretar o que foi dito no contexto dos termos do século I d.C., e
não segundo a nossa linguagem oral contemporânea.

Quando os discípulos de Jesus anunciavam que Jesus havia ressuscitado dos


mortos ao terceiro dia (Atos 10:40), ninguém colocou em dúvida o testemunho
dizendo que havia contradição entre o tempo realmente transcorrido e a afirmação
de Jesus.

Concluindo, é preciso dizer que, quando os muçulmanos enveredam por este


assunto do sinal de Jonas, cria-se uma maravilhosa oportunidade de testemunho
do que ele na verdade significa: um símbolo da crucificação, morte e
ressurreição de Jesus dos mortos no terceiro dia.
Capítulo Cinco

Maomé na Bíblia?
Argumentos dos muçulmanos a partir de textos bíblicos

5.1 O profeta como Moisés de Deuteronômio 18

Muçulmano: Na Tawraat original, havia várias profecias a respeito da vinda do


nosso santo Profeta. Uma delas sobreviveu, e pode ser encontrada em
Deuteronômio 18, onde Moisés indubitavelmente fala da vinda de outro profeta
que seria como ele.

Um dos mais eloqüentes argumentos levantados pelos muçulmanos em debates


com cristãos é a alegação de que Maomé é objeto de profecia na Bíblia. A questão
deriva de uma passagem do Qur’an, que levou acadêmicos muçulmanos, desde
os primórdios do islamismo, a procurar por passagens, tanto no Velho quanto no
Novo Testamento, que provassem que a vinda do seu Profeta foi de fato predita
por profetas mais antigos. Alguns dos livros muçulmanos escritos a este respeito
citam várias passagens de todo o Velho Testamento, bem como uma ou duas do
Novo, mas, no diálogo do dia-a-dia com os muçulmanos, só são encontrados dois
exemplos mais proeminentes, e são estes que serão considerados neste capítulo.
O versículo do Qur’an é:

“São aqueles que seguem o Mensageiro, o Profeta iletrado, o qual encontram


mencionado em sua Tora e no Evangelho” (Surata 7:157)

Em ambos os casos, os cristãos irão descobrir que não há como duvidar de que
as passagens referem-se, respectivamente, a Jesus e ao Espírito Santo.

Os argumentos muçulmanos pelo Profeta “semelhante” a Moisés

A primeira das profecias que eles dizem ser sobre o Profeta deles é encontrada no
trecho a seguir, no qual Deus dirige-se a Moisés:

“Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja


boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar”
(Deuteronômio 18:18)

O primeiro argumento é que Maomé seria o profeta que é prometido, porque ele
era semelhante a Moisés de uma maneira que nenhum dos outros profetas foi.
Como os cristãos, por outro lado, afirmam que a profecia refere-se a Jesus, os
muçulmanos rebatem dizendo que não se deve considerar quaisquer outros
possíveis profetas candidatos, mas apenas traçar uma comparação entre Moisés,
Jesus e Maomé. As alegações são, geralmente, as seguintes:

1. Moisés e Maomé tiveram vidas normais em todos os aspectos

Suas vidas seguiram perfeitamente o curso normal, o que não se pode dizer de
Jesus, cuja vida, a cada momento, apresentava características únicas ou
inusitada. Ambos tiveram pai e mãe, enquanto que Jesus nasceu de uma virgem e
não tem um pai humano. Ambos morreram de causas naturais em idade
avançada. Jesus, porém, de acordo com a Bíblia, morreu tragicamente com
apenas trinta e três anos. Moisés e Maomé casaram-se; Jesus permaneceu
solteiro durante toda a vida. Portanto, Maomé seria o profeta prometido que era
semelhante a Moisés.

2. Moisés e Maomé foram líderes dos seus povos

Nos últimos anos de suas vidas, depois de inicialmente serem rejeitados,


respectivamente, por judeus e árabes, Moisés e Maomé tornaram-se os líderes
políticos e religiosos das suas nações. Quando morreram, ocupavam o cargo de
chefe sem oposição, enquanto que Jesus tinha apenas um punhado de
seguidores no fim da vida, tendo sido rejeitado pelo chefe dos sacerdotes e pelo
povo.

3. Ambos os seus sucessores conquistaram a terra da Palestina

Logo após morrerem, os sucessores de Moisés e de Maomé comandaram


exércitos que invadiram a Palestina e a conquistaram. Josué conquistou a terra de
Canaã, como era então chamada, onde os judeus se estabeleceram no que iria
mais tarde se tornar no território de Israel, enquanto que Umar, o segundo Califa
depois de Maomé, conquistou a mesma terra para o Islã e estabeleceu os
muçulmanos árabes nas terras onde vivem até hoje. Jesus, no entanto, foi expulso
de Jerusalém e morto pelos romanos, que continuaram a dominar aquela terra por
séculos.

Argumentos semelhantes também são usados para provar que era a vinda de
Maomé que estava sendo prevista, e não a de Jesus.

Características principais do profeta especial que estava por vir

As provas apresentadas pelos muçulmanos não chegam nem perto da questão


principal. Moisés foi um profeta especial, comissionado para introduzir uma
aliança entre Deus e o povo de Israel. O profeta anunciado por Deus a Moisés, a
quem ele seria semelhante, teria, obviamente, que possuir algumas
características distintivas e que o tornasse mais parecido com Moisés do que
qualquer outro profeta. Os cristãos podem argumentar, de modo análogo aos
muçulmanos, que tanto Moisés quanto Jesus saíram do Egito para cumprir seus
ministérios, o que Maomé nunca fez. “Pela fé, ele abandonou o Egito”, diz a Bíblia
a respeito de Moisés (Hebreus 11:27), e sobre Jesus, Deus diz: “Do Egito chamei
o meu Filho.” (Mateus 2:15). Contudo, quais eram as características distintas de
Moisés como profeta? Vamos analisá-las.

1. Moisés era o mediador de uma aliança

No mesmo trecho em que está a profecia que estamos discutindo, Deus diz ao
povo de Israel que Ele iria levantar em favor deles um profeta semelhante a
Moisés, “segundo tudo o que pediste ao Senhor, teu Deus, em Horebe, quando
reunido o povo: ‘Não ouvirei mais a voz do Senhor, meu Deus, nem mais verei
este grande fogo, para que não morra’” — nessa ocasião, o povo rogou a Deus
que somente lhes falasse através de um mediador (Deuteronômio 18:16). Moisés
mediou uma aliança entre Deus e o povo, quando, depois dos dez mandamentos
e outras leis lhes terem sido enviadas, o Livro da Lei e o povo foram aspergidos
com sangue de bezerros e bodes, bem como o tabernáculo e os utensílios usadas
no culto, dizendo: “Este é o sangue da aliança, a qual Deus prescreveu para vós
outros.” (Hebreus 9:20).

2. Moisés viu a Deus face a face

Moisés tinha um relacionamento peculiar com Deus. Durante quarenta anos, o


Deus imutável falou com ele diretamente, diferente de tudo que todos os outros
profetas que o precederam ou sucederam experimentaram. A Bíblia diz:

“Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo” (Êxodo
33:11)

O Qur’an confirma esse relacionamento especial, dizendo: “...e Deus falou a


Moisés diretamente” (Surata 4:164), contrastando com um outro verso que diz: “É
inconcebível que Deus fale diretamente ao homem, a não ser por revelações, ou
veladamente, ou por meio de um mensageiro” (Surata 42:51). Precisamos,
portanto, procurar por um profeta que tinha um relacionamento tão particular com
Deus quanto Moisés.

3. Moisés fez grandes sinais e maravilhas

Por muitos anos, Moisés fez vários milagres, como as pragas no Egito, a abertura
do Mar Vermelho e o maná, que todos os dias caía do céu. Não se pode dizer de
nenhum profeta que seja semelhante a Moisés se ele não for capaz de fazer
milagres similares. Já vimos antes que Maomé não fez nenhum milagre durante
sua vida, de acordo com o Qur’an e com a acusação que lhe faziam os árabes
pagãos durante o tempo da sua missão:

“Por que não lhe foi concedido o mesmo que foi concedido a Moisés?” (Surata
28:48)
Simplificando, o argumento é que, se Maomé fosse mesmo o grande profeta que
ele se dizia ser, por que então ele não era igual a Moisés no que se refere às suas
características mais importantes como profeta? Maomé não mediou nenhuma
aliança, não viu Deus face a face (o Qur’an, segundo os registros da Hadith e a
Surata 2:97, foi transmitida a Maomé apenas através do anjo Jibril) e nem realizou
milagres. Portanto, ele não tem o perfil do profeta prometido em Deuteronômio
18:18. Este versículo, descrevendo o ministério de Moisés no fim da sua vida,
destaca algumas particularidades do seu ministério profético:

“Nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, com quem o
Senhor houvesse tratado face a face, no tocante a todos os sinais e maravilhas
que, por mando do Senhor, fez na terra do Egito, a Faraó, a todos os seus oficiais
e a toda a sua terra” (Deuteronômio 34:10 e 11)

Não é difícil perceber, a partir desta passagem, que o profeta que estava por vir e
que seria semelhante a Moisés poderia ser identificado, ao menos, pela seu
relacionamento próximo e direto com Deus, bem como pelos sinais e maravilhas
que acompanhariam seu ministério. Esse profeta só pode ser Jesus, como
veremos no próximo item.

5.2 Jesus, o profeta prometido de Moisés

Muçulmano: Que evidências vocês apresentam para defender que Jesus era o
profeta que foi prometido por Deus quando falava a Moisés? Ele foi um grande
profeta, mas sua missão parece ter se encerrado, sem cumprir seus objetivos,
depois de poucos anos. Ele não tem a mesma grandeza que Moisés e Maomé.

É importante, logo de início, salientar que a Bíblia aplica expressamente a profecia


contida em Deuteronômio 18:18 a Jesus em duas ocasiões. O apóstolo Pedro,
proclamando que Deus havia predito a vinda de Jesus através de todos os
profetas, cita o texto em questão como prova de Moisés, como profeta, teria falado
sobre Jesus (Atos 3:22). Estevão, o primeiro mártir do cristianismo, também
apelou para o mesmo texto para provar que Moisés havia anunciado “a vinda do
Justo” (Atos 7:52), Jesus, a quem os líderes dos judeus tinham traído e crucificado
(Atos 7:37). A seguir, veremos como Jesus se enquadra nas três principais
características de Moisés que analisamos anteriormente.

O mediador da nova aliança

Às vezes, os muçulmanos tentam mostrar que Jesus, por ser, de acordo com a
crença cristã, o Filho de Deus, não poderia ser considerado um profeta como os
outros. Contudo, há muitas passagens em que Jesus chama a si mesmo de
profeta (por exemplo, Matues 13:57), e também de Filho de Deus (João 10:36).
Assumir a forma humana para proclamar a Palavra de Deus, como fizeram os
outros profetas, faz dele um profeta na acepção verdadeira da palavra. Vamos
olhar por que Ele era o profeta semelhante a Moisés.

1. Jesus também foi mediador de uma aliança

Nos tempos do profeta Jeremias, muitos séculos depois de Moisés, mas muito
antes do nascimento de Jesus, Deus prometeu que uma nova aliança entre Ele e
o Seu povo. Como a nação de Israel havia rejeitado sistematicamente as Suas
leis, Deus considerou que a aliança original feita com Moisés havia se tornado
obsoleta, mas prometeu que Ele começaria um relacionamento especial com o
Seu próprio povo, perdoando seus pecados e escrevendo as Suas nos corações
(Jeremias 31: 31 a 34). O Novo Testamento atesta que Jesus é o mediador desta
aliança (Hebreus 9:15). Sobre a ratificação da primeira aliança, lemos:

“Então, tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo, e disse: ‘Eis aqui
o sangue da aliança que o Senhor fez convosco a respeito de todas estas
palavras’.” (Êxodo 24:8)

Como a primeira aliança havia sido mediada por Moisés, e ratificada com sangue,
era de se esperar que o profeta que fosse o verdadeiro sucessor de Moisés
fizesse a mesma coisa. Assim, logo após Sua morte na cruz, Jesus disse:

“Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o
beberdes, em memória de mim.” (1 Coríntios 11:25)

2. Jesus também viu a Deus face a face

Do mesmo modo que Moisés conhecia a Deus diretamente, e se comunicava


pessoalmente com Ele durante seu ministério, também Jesus podia dizer: “ Eu o
conheço, porque venho da parte dele e fui por ele enviado” (João 7:29). Em muitas
outras ocasiões, Ele explicitou que havia visto Deus face a face, conforme diz
nestas palavras: “Não que alguém tenha visto o Pai, salvo aquele que vem de
Deus; este o tem visto” (João 6:46). A comparação mais eloqüente a respeito disso
é encontrada em dois trechos que falam do efeito desse relacionamento próximo
que Moisés e Jesus mantinham com Deus. O primeiro conta o que aconteceu
quando Moisés falou diretamente com Deus:

“... quando desceu do monte, não sabia Moisés que a pele do seu rosto
resplandecia, depois de haver Deus falado com Ele.” (Êxodo 34: 29)

Do momento em que a imagem invisível de Deus foi revelada através de Jesus, a


quem Deus se referiu como sendo Seu Filho amado, lemos:

“E foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas
vestes tornaram-se brancas como a luz.” (Mateus 17:2)

Nenhum outro profeta teve tamanha distinção. Ninguém mais viu Deus face a
face, de maneira que seu rosto brilhasse pela comunhão com Ele. Certamente,
não existem evidências em lugar algum do Qur’an, ou em qualquer outro registro
muçulmano, de que Maomé tenha sequer tido um fiapo de experiência
semelhante. Mesmo a história de al-Mir’aj, a sua suposta ascensão aos céus, não
traz nada a respeito de um brilho no seu rosto.

3. Jesus também fez grandes milagres

Existem muitas histórias dos grandes relatos que Jesus fez durante a sua vida,
mas, outra vez, estabelecer um paralelo direto com Moisés ajudará a enfatizar a
semelhança entre eles. Ambos demonstraram que tinham poder para controlar o
mar, um feito inédito entre os outros profetas.

“Então, Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o Senhor, por um forte vento
oriental que soprou toda aquela noite, fez retirar-se o mar, que se tornou terra
seca, e as águas foram divididas.” (Êxodo 14:21)

Outros profetas depois de Moisés controlaram rios (Josué 3:13, 2 Reis 2:14), mas
nenhum se aproximou do grande milagre de Moisés no Mar Vermelho, até Jesus,
que se levantou uma noite no Mar da Galiléia e acalmou uma tempestade com
apenas duas palavras: “Acalma-te, emudece!” (Marcos 4:39). Seus discípulos
exclamaram:

“Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mateus 8:27)

Um dos maiores milagres de Moisés foi alimentar o povo de Israel no deserto com
um pão conhecido como maná, que chegava dos céus todos os dias. Quando os
judeus viram Jesus alimentar cinco mil pessoas, sem contar mulheres e crianças,
tendo em mãos apenas cinco pães e dois peixes, multiplicando-os para que todos
comessem e ainda sobrasse o suficiente para encher doze cesto, lembraram-se
imediatamente da profecia de Moisés.

“Vendo, pois, os homens o sinal que Jesus fizera, disseram: ‘Este é,


verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo’.” (João 6:14)

Quando viram o sinal, eles declararam que Jesus era o profeta, o semelhante a
Moisés que havia sido prometido em Deuteronômio 18:18. Não há dúvidas, diante
destas evidências, de que Jesus é o profeta cuja vinda foi predita por Moisés, e
não Maomé. As características singulares da Sua vida, em particular as
especificadas em Deuteronômio 34:10 e 11 que O identificam como o profeta que
estava por vir, provam conclusivamente que aquele que Deus havia prometido ao
povo de Israel era Jesus.

5.3 O profeta do meio de seus irmãos

Muçulmano: Foi prometido um profeta que viria dos “irmãos” dos israelitas.
Abraão teve dois filhos, Isaque e Ismael, cuja descendência deu origem aos
ismaelitas. Maomé descendia de Ismael, e portanto ele é o profeta prometido.
Este é um dos argumentos favoritos dos muçulmanos para provar que o profeta
prometido em Deuteronômio 18:18 era Maomé. Eles enfatizam a expressão “de
teus irmãos”, assumindo os “irmãos” dos israelitas da profecia como nação. Uma
breve pesquisa no contexto da passagem mostra, de maneira bastante conclusiva,
que o termo não se refere aos ismaelitas.

A linhagem dos levitas

A profecia de Deuteronômio 18:18 está inserida num contexto maior de um


discurso de Deus, em que Ele dá a Moisés algumas diretrizes sobre a condução
do povo de Israel no futuro, quando alcançassem a terra prometida,
especialmente no que diz respeito as levitas, a tribo dos sacerdotes. Uma rápida
consulta aos dois primeiros versos do capítulo dezoito revelará sobre quem Deus
estava falando quando disse que lhes daria um profeta do meio deles:

“Os sacerdotes levitas e toda a tribo de Levi não terão parte nem herança em
Israel (... ) Pelo que [eles] não terão herança no meio de seus irmãos.”
(Deuteronômio 18:12)

É absolutamente nítido que o pronome eles refere-se a levitas, e que seus


irmãos, em outras palavras, são as outras tribos de Israel. Nenhuma
interpretação honesta pode chegar a outra conclusão. Logo, a interpretação de
Deuteronômio 18:18 deve ser: “Suscitar-lhes-ei [aos levitas] um profeta do meio
de seus irmãos [as outras onze tribos de Israel]”. Portanto, a passagem não faz
nenhuma referência aos ismaelitas, e a profecia, inequivocamente, não se aplica a
Maomé, o Profeta do Islã.

É interessante notar que, dentro do Velho Testamento, a expressão “seus irmãos”


ocorre com freqüência, e sempre significando as outras tribos de Israel que não
aquela que foi mencionada. Um exemplo típico encontra-se no seguinte versículo,
onde não há nenhuma dúvida sobre de quem são os irmãos:

“... porém Benjamim não quis ouvir a voz de seus irmãos, os filhos de Israel.”
(Juízes 20:13)

Aqui, “seus irmãos” foi usado especificamente para designar os outros membros
da nação de Israel que não pertenciam à tribo de Benjamim. Do mesmo modo,
Deuteronômio 18:18 usa a mesma expressão para se referir às outras tribos que
não a de Levi. Em outro trecho, lemos o que Moisés disse ao povo de Israel:

“... estabelecerás, com efeito, sobre ti como rei aquele que o Senhor, teu Deus,
escolher; homem estranho, que não seja dentre os teus irmãos, não estabelecerás
sobre ti e sim um dentre eles.” (Deuteronômio 17:5)

Só um entre os doze irmãos israelitas podia ser apontado como rei sobre a nação.
Não lhes era permitido coroar um estrangeiro, como um ismaelita, para que
reinasse sobre eles. Em Deuteronômio 18:18, o princípio é reforçado: o grande
profeta viria do meio dos “seus irmãos”, e portanto seria um israelita, mas não da
tribo de Levi. Na Europa, durante muitos séculos, foi costume ter monarcas
vindos de várias nações, a fim de manter um relacionamento mais próximos entre
vários países. Príncipes alemães, ingleses, franceses e gregos casaram-se com
princesas ou mulheres da realeza de países diferentes. Em Israel, no entanto,
havia um mandamento expresso ao povo para que não coroassem ninguém de
outra nação sobre eles, pois haviam sido separados como povo de Deus,
diferentes das nações pagãs vizinhas.

Jesus, o profeta do meio dos seus irmãos

Temos alguma evidência, contudo, para provar que Jesus se encaixa na


descrição do profeta prometido neste contexto particular? O Novo Testamento
registra que Jesus pertencia à tribo de Judá pela linhagem de Davi. Está escrito
que ele descenda de “Judá, filho de Jacó” (Luca 3:34) e, em outra passagem, lê-
se que “(...) é evidente que nosso Senhor procedeu de Judá” (Hebreus 7:14).
Jesus, portanto, é inquestionavelmente aquele que viria de uma das onze tribos de
Israel que não a de Levi. Junto com as outras evidências que apresentamos, não
há como duvidar que Ele é o profeta prometido em Deuteronômio 18:18. Maomé
não atende a nenhum dos critérios vitais para a posição.

Outros argumentos dos muçulmanos em favor de Maomé também não sobrevivem


a um exame mais minucioso. Deus disse que colocaria as Suas palavras na boca
daquele que seria o profeta, e os muçulmanos dizem que a profecia se cumpriu
quando o Qur’an foi revelado a Maomé, que o transmitiu aos seus seguidores. De
acordo com o islamismo, no entanto, foram reveladas de maneira semelhante a
Tawraat, a Moisés; o Zabur, a Davi; e o Injil, a Jesus. Portanto, todos eles teriam
recebido as palavra de Deus em suas bocas. Deus também disse a Jeremias: “Eis
que ponho na tua boca as minhas palavras.” (Jeremias 1:9).

Igualmente, Deus disse a Moisés que o profeta falaria ao povo tudo o que ele
ordenasse. Jesus disse certa vez aos seus discípulos:

“Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me
tem prescrito o que dizer o que anunciar.” (João 12:49)

Os muçulmanos não têm como provar, pelo contexto da profecia, que Maomé era
o profeta que foi prometido em Deuteronômio 18:18.

Outro argumento concentra-se na questão que os judeus fizeram certa vez a João
Batista, depois que ele negara ser o Cristo (na verdade, perguntaram-lhe se ele
era Elias ou o profeta prometido — ver João 1:21). Os muçulmanos defendem-se
dizendo que os judeus fizeram uma distinção entre Elias, o Cristo e o profeta, os
quais eram, na ordem, João Batista, Jesus e Maomé.
No entanto, não se pode fazer nenhuma conclusão a partir das especulações dos
judeus. Em outra ocasião, eles disseram a Jesus: “Este é verdadeiramente o
profeta” (João 7:40). Numa outra oportunidade, concluíram que Ele era “algum dos
profetas” (Mateus 16:14); ou que era “um dos profetas” (Marcos 6:15), sem contar
que pensaram que Jesus podia ser Elias (Marcos 6:15) ou ainda o próprio João
Batista (Mateus 16:14). Não há como concluir nada destes palpites.

Contudo, não há como hesitar, frente às considerações feitas, em dizer que Jesus
Cristo, e não Maomé, era o profeta prometido na profecia de Moisés em
Deuteronômio 18:18.

5.4 A promessa de Jesus de mandar o Consolador

Muçulmano: De acordo com a sua Bíblia, Jesus não falou de outro profeta que
viria depois dele, a quem chamou de Consolador? Esta é uma profecia óbvia a
respeito da vinda do nosso santo profeta Maomé. O próprio Qur’an confirma a
profecia.

A maior de todas as apostas dos muçulmanos é a de que a vinda de Maomé foi


prevista na Bíblia quando Jesus prometeu aos Seus discípulos que Ele seria
sucedido por outra pessoa enviada por Deus, o Consolador, que os guiaria em
toda a verdade — promessa que foi registrada quatro vezes no evangelho de
João. Desde os primeiros séculos do islamismo, os acadêmicos muçulmanos
esforçam-se para conseguir provar que o Consolador era Maomé, o Profeta do
Islã. De todos os desafios com que os cristãos se deparam no testemunho aos
muçulmanos, este é, sem dúvida, o mais freqüente. Ainda assim, os cristãos
encontram aqui oportunidades tremendas para compartilhar a respeito do
verdadeiro Consolador, o Espírito Santo, que completa a obra redentora de Jesus,
ao mesmo tempo em que rebatem os seus argumentos.

Os argumentos muçulmanos sobre o Consolador

Os muçulmanos acreditam ter, nos textos abaixo, provas de que Maomé foi
claramente mencionado por Jesus, instigados pelo texto do Qur’an que afirma que
a vinda de Maomé foi profetizada tanto no Injil quanto na Tawraat (Surata 4:157):

“... mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse
vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.”
(João 14:26)

“Mas eu vos digo a verdade: comvém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o
Consolador não virá para vós outros; se porém, eu for, eu vo-lo enviarei.” (João
16:7)
Ambos os versículos são parte de um imenso discurso de Jesus, na última noite
que passou com seus discípulos antes da Sua crucificação. Em duas outras
ocasiões no mesmo discurso, Ele fala novamente do Consolador que viria (João
14:16; 15:26). Os muçulmanos afirmam que Cristo falava de Maomé pelas
seguintes razões:

1. Maomé guiou o mundo em toda a verdade

Os muçulmanos garantem que a promessa de Jesus d que o Consolador nos


ensinaria “todas as coisas” foi cumprida quando o Profeta deles, ao receber a
revelação do Qur’an, ensinou ao mundo tudo o que era preciso saber sobre Deus,
suas leis e a vida que Ele esperava que Seus servos tivessem. Da mesma forma,
quando Jesus falou que o Espírito “dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as
coisas que hão de vir” (João 16:13) — segundo eles Maomé teria feito exatamente
isso, ao discorrer no Qur’an sobre o Dia Final (Yawma’l Akhir), a Ressurreição, o
Julgamento Final e o destino da raça humana, que é o céu (Jannat) ou o inferno
(Jahannam).

2. O uso do gênero masculino

Os muçulmanos, muitas vezes, garantem que o Consolador é Maomé porque,


quando fala dele, Jesus usa o gênero masculino não menos do que oito vezes.
Eles sustentam que quando Jesus diz: “ele dará testemunho de mim”, “ele vos
ensinará todas as cousas”, etc., estaria falando de um homem, um profeta, e não
do Espírito Santo. Uma vez que é espírito, que não é nem masculino nem
feminino, só se poderia referir a ele usando um pronome neutro. No entanto, como
Jesus usa a terceira pessoa no masculino para o Consolador, isto seria um
indicativo de que ele é um profeta, ou seja, Maomé.9

3. O Consolador deveria vir depois de Jesus

O terceiro argumento mais comum é que, como Jesus disse que o Consolador não
viria até que Ele fosse, o Consolador seria Maomé. Novamente, eles raciocinam
que Jesus não está se referindo ao Espírito Santo porque, de acordo com a Bíblia,
o Espírito sempre esteve entre nós. Davi pediu a Deus que não lhe retirasse Seu
Espírito (Salmo 51:11), e João Batista seria cheio do Espírito Santo desde que
estava no ventre da sua mãe (Lucas 1:15).

A resposta cristã a estes argumentos

As respostas para estes três argumentos são simples. Um estudo cuidadoso do


contexto dos versículos relevantes mostram que Jesus falava do Espírito Santo,
que realmente foi enviado dez dias depois da ascensão de Jesus, conforme Ele
tinha prometido (Atos 2:1 a 21).
9 Na verdade, este argumento não faz sentido para nós que falamos português, porque não temos um pronome
neutro como o “it” do inglês.
De início, podemos dizer que o Espírito Santo realmente fez os discípulos
lembrarem de tudo que Jesus havia lhes dito. João só escreveu o seu evangelho
mais ou menos sessenta anos depois da crucificação e ressurreição de Cristo, e
ainda assim foi capaz de se lembrar das últimas palavras de Jesus aos seus
discípulos, que ocupam quatro capítulos, com precisão (João 13:1 a 16:33). As
coisas que seriam ensinadas estão nos vinte e sete livros do Novo Testamento, e
não no Qur’an. Toda a escritura é inspirada por Deus através do Espírito Santo (2
Timóteo 3:16), e nenhuma foi objeto de interpretação humana, porque elas não
surgiram por vontade humano, uma vez que “homens falaram da parte de Deus,
movidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:21).

Em segundo lugar, em toda a Bíblia tanto Deus e quanto o Espírito Santo são
substituídos por pronomes masculinos: “Ele é o teu louvor e o teu Deus”
(Deuteronômio 10:21) é um exemplo típico desse uso constante do gênero
masculino para designar Deus, ainda que Deus não seja homem, mas espírito
(João 4:24). Pode-se virar a mesa contra este argumento dos muçulmanos
simplesmente citando uma passagem no Qur’an onde se usa o gênero masculino
sete vezes seguidas para Alá (Surata 59:22 a 24): “Ele é Deus; não há mais
divindade além d’Ele”, diz o meio do texto (v. 23), que começa e termina no árabe
com o masculino huwa (“ele é”), e não com o neutro hiya. Se Alá, que é espírito e
não homem, pode ser designado pelo gênero masculino no Qur’an, então por que
o Espírito Santo não pode receber tratamento igual? Não há nenhum indicativo
nas palavras de Jesus acerca do Consolador de que ele seria um homem ou um
profeta — ao contrário, ele é identificado explicitamente como o Espírito Santo
(João 14:26).

Finalmente, Jesus não só disse que teria de partir para que o Consolador viesse,
mas também prometeu que Ele próprio o enviaria aos seus discípulos, ou seja, a
Pedro, Tiago, João e os demais. “... eu vo-lo enviarei”, disse Jesus (João 16:7), e
não aos árabes em Meca ou Medina de seis séculos mais tarde. Não haveria
benefício nenhum para os discípulos se o Confortador não viesse logo depois que
Jesus deixasse este mundo. Quando subiu aos céus, Jesus lhes disse claramente
que esperassem por um pouco em Jerusalém, até que recebessem o Espírito
Santo, antes de saírem para proclamar o Evangelho (Atos 1:4 e 5). O Consolador
realmente estava presente no mundo muito antes disso, mas, a partir dali, Ele
seria derramado de maneira diferente, direto nos corações daqueles que cressem
em Jesus. Os discípulos haviam experimentado o ministério e a presença de
Jesus com eles durante três anos, mas depois a Sua presença era reconhecida de
maneira muito mais íntima, pois o Espírito Santo habitava deles.

5.5 “O Mensageiro cujo nome será Ahmad”

Muçulmano: De acordo com o Qur’an, Jesus predisse a vinda de Maomé, como


“aquele que será louvado”. Esta é a profecia verdadeira. Vocês, cristãos,
mudaram a palavra grega ‘periklutos’ (louvado) do original para ‘paracletos’
(consolador).

Os muçulmanos concentram-se especialmente na promessa de Jesus de enviar o


Consolador porque ela parece confirmar um texto semelhante do Qur’an, onde
Jesus teria previsto a vinda de Maomé:

“E de quando Jesus, filho de Maria, disse: 'Ó israelitas, em verdade, sou o


mensageiro de Deus, enviado a vós, corroborante de tudo quanto a Tora antecipou
no tocante às predições, e alvissareiro de um Mensageiro que virá depois de mim,
cujo nome será Ahmad!' “ (Surata 61:6)

Apesar da profecia não citar explicitamente o nome de Maomé, os acadêmicos


muçulmanos asseguram que “Ahmad” vem da mesma raiz de três letras do seu
nome, hmd, que significam “louvor”. Parece que Maomé sabia, de alguma forma,
que Jesus havia falado algo sobre alguém que o sucederia, embora sem citar o
nome. Por esta razão, evitou mencionar a si mesmo na adaptação da profecia
para o Qur’an, usando um título o mais próximo possível do seu nome para obter
poder induzir o leitor a acreditar que ele era o objeto da profecia.

Pariklutos ou parakletos?

A palavra no original do evangelho de João que foi traduzida como “Consolador” é


paracletos, de onde se origina a palavra paráclito em português, que significa
aquele conselheiro ou mentor que está sempre próximo de nós. Nunca significa
“aquele que é louvado”. É intuitivo que, nas palavras de Jesus, a palavra original
correta é mesmo paracletos, pois tudo o que Ele diz a respeito do Consolador
encaixa-se precisamente no conceito de um mentor ou conselheiro mais próximo.

“Ele há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar” (João 16:14) é uma típica
descrição feita por Jesus do Espírito Santo. Ele deveria habitar o coração dos
discípulos, lembrá-los das palavras de Jesus e guiá-los nos caminhos de Deus,
além de dar-lhes o poder de se encherem da graça de Cristo. Ele viria para
convencer o mundo do seu pecado, como agente da justiça e do julgamento de
Deus, falando através dos testemunhos e proclamações dos discípulos de Jesus.

Contudo, os muçulmanos insistem em pregar, nos seus livros, que o mundo


cristão corrompeu as palavras originais de Jesus, nas quais apareceria o termo
periklutos, que significa “aquele que é louvado”. Inexplicavelmente, coincide com
o título Ahmad de Maomé mencionado no Qur’an, que tem o mesmo sentido
básico. Há fundamentos nessa tese dos muçulmanos? Existem evidências que a
sustentem?

1. Periklutos não é uma palavra bíblica

Não há nenhum indicativo nos manuscritos de que a palavra original pudesse ter
sido periklutos. De fato, esta palavra não aparece em nenhum lugar do Novo
Testamento em grego, e portanto não faz parte do vocabulário bíblico. A tese dos
muçulmanos baseia-se não em testemunhos fatuais ou concretos, mas em meras
especulações que os beneficiam.

2. A palavra não se encaixa no contexto

Como já dissemos, a definição daquele cuja vinda foi prometida por Jesus era de
um conselheiro e advogado. Não há nada nas quatro declarações de Jesus sobre
o Consolador que dê subsídios à especulação de que fosse “aquele que é
louvado”, Maomé. Ao contrário: quando Jesus disse: “... porque não falará por si
mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as cousas que hão de
vir” (João 16:13), fica nítido que o Consolador não chamaria a atenção para si
mesmo. “Ele me glorificará”, continuou Jesus no versículo 14. Em outras palavras:
o Consolador concederia o louvor a Jesus através do testemunho dos Seus
seguidores, ao invés de reivindicar qualquer glória para Si mesmo.

3. Os muçulmanos é que estão modificando a Bíblia

A ironia desta discussão é que existem evidências muito pronunciadas de que há


uma tentativa dos muçulmanos de fazer algo do que os cristãos sempre foram
acusados de fazer, ou seja, de tentar modificar a Bíblia para que o texto se
prestasse para as suas pretensões! Eles tiveram que apelar para uma distorção
esquisita para que Maomé pudesse se encaixar na profecia de Jesus,
simplesmente tentando criar alguma conecção entre o nome (ou título) Ahmad do
Qur’an. É muito claro que eles não têm como provar sua tese a partir dos textos
bíblicos íntegros.

Não há nenhuma justificativa para a suposição de que a palavra que teria sido
originalmente usada por Jesus fosse periklutos, ou qualquer outra equivalente no
hebraico. Mais importante, como já vimos, é que ela não se encaixa no contexto
das frases de Jesus.

O título Ahmad no Qur’an

Durante muito tempo, existiram inúmeras disputas sobre o uso da palavra Ahmad
no Qur’an. Hoje, transformou-se num nome próprio comum entre os muçulmanos
de todo o mundo, mas há indícios, em registros árabes do período em que Maomé
viveu, que ela nunca tenha sido usada como nome próprio nos primeiros séculos
do islamismo. Ela só se tornou popular, certamente, como resultado da utilização
deste texto do Qur’an contra a crença cristã.

É mais provável que a verdadeira forma da palavra que aparece na Surata 61:6,
seja ahmadu, que é um mero adjetivo no árabe da época. Esta afirmação é
corroborada pelo fato de que, nas palavras de Jesus que consideramos, o nome
próprio do consolador que estava por vir foi totalmente omitido.
É também interessante notar que num dos primeiros códices do Qur’an, o do
recitador Ubayy ibn Ka’b, que foi queimado por ordem de Uthman, a Surata 61:6
apresentava algumas diferenças. Ele omitia a conclusão “cujo nome será Ahmad”
(ismuhu ahamad), e no seu lugar registra Jesus dizendo que Ele anunciava um
profeta que exibiria o selo de Alá dos Seus profetas e mensageiros
(khatumullaahu bihil-anbiyaa’ wal-rusuli).

Partindo de uma perspectiva cristã, a Surata 61:6 é uma tentativa de modificar a


profecia de Jesus a respeito do envio do Espírito Santo, a fim de que ela se
aplique ao Profeta do Islã. Alguns séculos antes de Maomé, um auto-proclamado
messias chamado Mani também tentou fazer com que a profecia se aplicasse a
ele, e parece que este fato era bem conhecido nas vizinhanças da Arábia durante
os séculos que se seguiram aos tempos de Jesus. Seria natural, portanto, para
alguém como Maomé, que acreditava ser o último dos mensageiros de Alá, tentar
apropriar-se da profecia em benefício próprio — daí a adaptação do título para o
nome Ahmad, que aparece no Qur’an.

5.6 O Espírito Santo: o Consolador prometido

Muçulmano: Você não tem como negar que Jesus falou especificamente de um
outro mensageiro de Deus, que o sucederia. Como ele foi apenas um de uma
longa linhagem de profetas e apóstolos enviados por Deus, não é bastante lógico
considerar que o Consolador seja Maomé?

Quando discutir sobre este assunto com muçulmanos, é mais eficaz utilizar
apenas uma das quatro declarações de Jesus a respeito do Consolador
prometido, e, com base nela, demonstrar que Ele só podia estar falando do
Espírito Santo. Ao mesmo tempo, cabe um testemunho sobre como o Espírito
Santo leva aqueles que realmente crêem a um relacionamento pessoal com o
próprio Deus. O texto ideal para esse propósito é o seguinte:

“E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para
sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque
não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará
em vós.” (João 14:16 e 17)

Há muitas razões que justificam entender que só o Espírito Santo pode ser o
Consolador a quem Cristo se refere, e não Maomé, o Profeta do islamismo.

Outro Consolador: o Espírito da verdade

1. Ele vos dará outro Consolador

Jesus disse com clareza aos seus discípulos que lhes enviaria o Consolador
prometido. Ele repetiu a promessa mais tarde, dizendo : “eu vo-lo enviarei ” (João
16:7). Portanto, a vinda do Espírito da verdade, que também foi especificado como
sendo o Espírito Santo (João 14:26), era esperado pelos discípulos de Jesus para
o seu tempo e espaço. Maomé só surgiu seis séculos depois.

2. Ele vos dará um outro Consolador

Se o termo original, como querem crer os muçulmanos, era periklutos, a frase


ficaria assim: “ele vos dará outro daquele que é louvado”. Além de perder o
sentido, a frase fica também completamente fora do contexto. O que Jesus está
dizendo aqui é simplesmente isto: “Eu tenho sido o consolador, o conselheiro e o
mentor de vocês. No entanto, ainda há muitas coisas que vocês precisam
aprender, e por isso eu enviarei outro conselheiro e guia como eu.” Jesus veio de
Deus como espírito celeste, que encarnou durante sua curta vida entre nós. Ele
enviaria outro espírito do céu, para continuar o Seu ministério entre os Seus
seguidores.

3. Ele estará convosco para sempre

Maomé apareceu como o Profeta do islamismo na Árabia do século VII d.C., e não
ficou para sempre com os seus companheiros: ele morreu quando tinha 62 anos.
Foi enterrado em Medina, onde seu corpo ficou por quase quatorze séculos. Jesus
afirmou que o Consolador prometido, contudo, estaria para sempre com os Seus
discípulos, e é o que o Espírito Santo tem feito, habitando os corações de todos os
verdadeiros seguidores de Cristo até o dia de hoje.

4. O Espírito da verdade que o mundo não pode receber

O Qur’an diz que Maomé foi enviado para ser o mensageiro universal para toda a
humanidade (Surata 34:28). Os muçulmanos acreditam que, algum dia, todo o
mundo irá se submeter ao islamismo e se tornar seguidor do seu Profeta. Se isto é
verdade, Jesus não poderia estar se referindo a Maomé, pois declarou que o
mundo não poderia receber o Espírito da verdade. Somente os verdadeiros
seguidores de Jesus, que O reconhecessem como seu Salvador e Senhor,
poderiam nascer de novo no Espírito Santo e herdar a vida eterna.

5. Vós o conheceis

É fácil, partindo das declarações de Jesus, concluir que os discípulos de Jesus já


conheciam o Espírito da verdade. Maomé, por ter nascido só depois de mais de
quinhentos anos mais tarde, não poderia ser o Espírito da verdade. O Consolador
era um Espírito, com quem os discípulos já tinham uma certa familiaridade. O
próximo item explicará como Ele já era conhecido deles.

6. Ele habita convosco

Quando Jesus encontrou João Batista pela primeira vez e foi batisado, logo no
início do Seu ministério, os céus se abriram, e o que se seguiu foi relatado pelo
próprio João:
“Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele. Eu não o conhecia;
aquele, proém, que me enviou a batizar com água me disse: ‘Aquele sobre quem
vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo’.” (João
1:32 e 33)

O Espírito da verdade estava, desde o princípio, presente na própria pessoa de


Jesus, e assim tornou-se conhecido pelos discípulos. Não há como tentar dizer
que Maomé esteve com os discípulos de Cristo.

7. Ele estará em vós

Assim como o Espírito já estava em Jesus, Ele também entraria e estaria presente
para sempre dentro dos corações dos discípulos de Jesus depois que Ele voltasse
aos céus. Isto aconteceu no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo foi
derramado naqueles que haviam sido os primeiros a ouvir a Palavra de Deus e o
Espírito de Jesus. O amor de Deus continua a ser derramado nos corações
daqueles que têm fé em Cristo através do mesmo Espírito Santo, que lhes é
outorgado (Romanos 5:5). O original em grego traz o sufixo en, que significa
“dentro de”. A promessa não é, indubitavelmente, uma referência a Maomé, que
nunca entrou pessoalmente dentro dos corações de todos os verdadeiros crentes
em Jesus.

Portanto, os cristãos podem não só refutar com relativa facilidade todos esses
argumentos dos muçulmanos em favor da tese de que o Consolador prometido
seria Maomé, mas também, como vimos, podem, a partir daí, dar um excelente
testemunho aos muçulmanos.
Capítulo Seis

O Evangelho de Barnabé
O evangelho apócrifo na apologética islâmica

6.1 O interesse muçulmano no Evangelho de Barnabé

Muçulmano: Por que o mundo cristão esconde o Evangelho de Barnabé? Esse


livro iluminado prova que Jesus foi um verdadeiro profeta do islamismo, que ele
nunca se considerou o filho de Deus e que ele predisse a vinda do nosso Profeta,
citando inclusive o seu nome.

São grandes as chances de um cristão se deparar com a questão do Evangelho


de Barnabé quando estiver evangelizando muçulmanos. Demonstrando muita
confiança no que dizem, eles afirmaram que esse evangelho é o único registro
confiável da vida de Jesus Cristo, e que nós, cristãos, o ocultamos
deliberadamente porque ele mostraria que Jesus foi o profeta que o Qur’an diz
que Ele teria sido. Se você parecer surpreso ao tomar conhecimento que tal livro
existe, eles irão intensificar ainda mais os seus argumentos, apontando que a sua
ignorância a respeito do livro é um sinal claro de que a Igreja proibiu que seu
conteúdo fosse revelado e ensinado aos fiéis.

A história do Evangelho de Barnabé

No seu Discurso Preliminar que abre a sua tradução para o Qur’an, publicada pela
primeira vez em 1734 d.C., George Sale, antes de qualquer coisa, alertou o
mundo cristão para a existência de um evangelho atribuído a São Barnabé, que,
segundo ele, narraria a vida de Jesus de maneira bastante diversa da que é
encontrada nos quatro evangelhos canônicos, mas correspondendo às tradições
de Maomé no Qur’an. Ele mencionou uma tradução em espanhol, em poder dos
Moriscoes na África (que não exite mais; restaram apenas uns poucos trechos), e
uma outra tradução em italiano na biblioteca do príncipe Eugênio de Savóia. A
partir desta edição, Londsdale e Laura Ragg publicaram uma versão inglesa em
1907, com várias notas, provando que as afirmações de Sale eram falsas.

Desde o início do século XX, quando uma tradução para o árabe tornou-se
bastante popular no mundo islâmico, acadêmicos e autores muçulmanos
dissecaram o luvro. Em 1973, a versão inglesa de Ragg do Evangelho de Barnabé
foi publicada pela primeira vez no mundo muçulmano. Desde então, já foram
impressas aproximadamente 100 mil cópias no Paquistão. Esta versão causou
uma inquietação considerável, por parecer que ela seria a prova definitiva,
originada no meio cristão, de que Jesus era o ‘Isa do islamismo, e que Maomé era
mesmo o mensageiro final de Deus para a humanidade.

Os muçulmanos supõem que esse Evangelho foi denunciado ao mundo


muçulmano somente por causa do seu viés islâmico. No entanto, é mais correto
dizer que essa única razão pela qual ele atraiu tanta atenção no mundo
muçulmano. As evidências externas e internas sobre o livro fornecem motivos
muito mais fortes para a sua rejeição. Elas provam, conclusivamente, que ele foi
organizado apenas há alguns séculos, sendo, portanto, uma falsificação
deliberada a fim de inserir o Qur’an e os dogmas tradicionais muçulmanos na vida
de Jesus como é descrita nos quatro verdadeiros evangelhos de Mateus, Marcos,
Lucas e João. Enquanto cada um destes quatro livros tem entre vinte e quarenta
páginas, o Evangelho de Barnabé estende-se por inacreditáveis 273 páginas.

Muito do seu conteúdo é uma repetição dos ensinamentos bíblicos, ainda que
adaptados para atender às expectativas islâmicas. Por exemplo, no episódo da
cura de dez leprosos em que só um, que era samaritano, voltou para agradecer a
Jesus, prostrando-se aos Seus pés (Lucas 17:16). Já o Evangelho de Barnabé
registra, convenientemente, que o leproso curado que voltou para agradecer era
um ismaelita! O resto do livro, no entanto, é recheado de lendas e histórias
fantasiosas, inventando ensinamentos de Jesus que não têm nenhum valor
histórico. Em seguida, consideraremos alguns dos ensinamentos islâmicos típicos:

Ensinamentos islâmicos do Evangelho de Barnabé

1. Jesus negou que fosse o Filho de Deus

O Evangelho de Barnabé repete o incidente em que Jesus perguntou aos


discípulos quem a multidão pensava que Ele era e, depois, quem eles pensavam
que Ele era (Mateus 16:13 a 20). Quando Pedro respondeu que Cristo era o Filho
de Deus, Jesus disse que ele era abençoado porque fora o próprio Pai do céu que
havia lhe dado esta revelação. No Evangelho de Barnabé, no entanto, Pedro
aparece corretamente declarando que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus, mas a
resposta que Jesus dá a Pedro é completamente diferente.

2. Judas foi crucificado no lugar de Jesus

A doutrina muçulmana de que Jesus foi levado aos ceús vivo pouco antes de ser
preso, e que outra pessoa que foi transfigurada para se parecer com Ele foi
crucificada, aparece no Evangelho de Barnabé, inclusive especificando que o
crucificado foi Judas Iscariotes. Foi só alguns séculos depois de Maomé que o
mundo muçulmano criou essa teoria, inventada para justificar a crucificação de
uma pessoa qualquer. Sendo Judas o crucificado, não se podia dizer que ele era
um inocente que foi sacrificado no lugar de Jesus.
O Evangelho de Barnabé ensina que, quando Judas chegou com os soldados
para prender Jesus, Deus teria enviado quatro anjos para levar Jesus deste
mundo para o terceiro céu, enquanto Judas era “transformado em fala e
aparência, para ser igual a Jesus”, fazendo com que Barnabé e os outros
discípulos acreditassem que era mesmo Jesus que estava sendo preso
(Evangelho de Barnabé, para 216).

3. Jesus predisse a vinda de Maomé, citando-o nominalmente

Em muitas passagens Jesus aparece falando sobre a vinda de Maomé, citando


inclusive o seu nome. Um exemplo é o trecho em que Jesus fala sobre a infâmia
da crucificação, que Ele teria de suportar: “Porém, quando vier Maomé, o
mensageiro sagrado de Deus, a infâmia será retirada” (Evangelho de Barnabé,
para 112).

Estas são algumas das principais características islâmicas que estão presentes no
Evangelho de Barnabé, e que contradizem os quatro evangelhos bíblicos. Podem
ser encontradas, ainda, muitas outras influências islâmicas em todo o livro, como a
afirmação de que a promessa da aliança com Abraão foi feita em Ismael e não
Isaque (oara 191), explicando a convicção dos muçulmanos de que o livro de
Barnabé é o único evangelho verdadeiro.

6.2 Origens medievais provam a farsa

Muçulmano: O Evangelho de Barnabé estava entre os livros desacreditados pelo


Decreto Gelasiano do século VI d.C. Isso prova que ele já existia na época. Ele só
foi rejeitado porque contava a verdade a respeito da vida e dos ensinamentos de
Jesus.

Existem muitos evangelhos e cartas apócrifas, além de outras falsificações que


imitam o estilo das verdadeiras escrituras do Novo Testamento, que foram
rejeitadas pelo Concílio de Nicéia em 325 e pelo subseqüente Decretum
Gelasianum. Entre os livros rejeitados havia um chamado Evangelho de
Barnabé. Não há nenhum tipo de registro histório que mostre que livro era esse,
ou qual era o seu conteúdo. Contudo, um estudo baseado nos conteúdos desse
evangelho islâmico, intensamente propagandeado em todo o mundo muçulmano,
logo deixa bem claro que o Evangelho de Barnabé dos muçulmanos é um livro
distinto do que foi rejeitado pelo Decreto Gelasiano. Várias provas evidênciam que
o livro dos muçulmanos é uma farsa, produzida depois do século XVI.

Fontes medievais do Evangelho de Barnabé

Não é difícil provar para qualquer muçulmano que esse evangelho foi compilado
muitos séculos depois da vida de Jesus e de Maomé. Eis alguns exemplos das
influências medievais reconhecíveis no livro:
1. O centésimo ano do jubileu

Uma dais leis de Moisés estabelecia que o ano do jubileu deveria ser observado
duas vezes a cada cem anos pelo povo de Israel, quando os escravos seriam
libertados e as dívidas, canceladas. Deus ordenou o ano do jubileu:

“O ano q6uinquagésimo vos será jubileu” (Levíticos 25:11)

Por volta de 1300 d.C., o papa Bonifácio VIII decretou que o ano do jubileu
deveria ser reintroduzido nas sociedades cristãs, mas que seria comemorado
apenas uma vez por século, ou seja, uma vez a cada cem anos. No entanto,
depois da morte de Bonifácio VIII, o papa Clemente VI decretou que o jubileu
voltaria a ser observado a cada cinqüenta anos, conforme a ordenança bíblica.
Mais tarde, falou-se até em comemorá-lo com freqüência ainda maior. No
Evangelho de Barnabé, aparecem as seguintes palavras, atribuídas a Jesus:

“E então, Deus será cultuado em todo o mundo, e misericórdia será dada,


sobreturo no ano do jubileu, que hoje chega a cada cem anos; seja ele reduzido
pelo Messias a todos os anos, em toda parte.” (Evangelho de Barnabé, para 82).

O anacronismo é patente: o autor do Evangelho de Barnabé só poderia falar de


um ano do jubileu que acontece a cada cem anos se conhecesse o decreto do
papa Bonifácio VIII. Quem quer que seja que tenha escrito o evangelho faz Jesus
repetir um decreto que só seria promulgado pelo menos treze séculos depois! Isto
prova que esse evangelho é uma farsa posterior ao século XIV d.C.

2. Citações do “Inferno” de Dante

Dante foi um escritor italiano contemporâneo do papa Bonifácio VIII. Sua obra
mais conhecida é o clássico chamado “A divina comédia” (Divina comedia).
Trata-se de uma fantasia sobre o inferno, o purgatório e o céu, conforme as
crenças da época. Muitas passagens do Evangelho de Barnabé têm uma grande
correlação com essa obra. Pode-se até perceber um plágio numa fala de Jesus a
respeito dos profetas antigos:

“Pronta e alegremente caminharam para a sua morte, para que não ofendessem a
lei de Deus dada a Moisés, seu servo, indo e servindo a deuses falsos e mortos.”
(Evangelho de Barnabé, para 23)

A expressão dei falsi e lugiardi (deuses falsos e mortos) está em vários trechos do
Evangelho de Barnabé. Jesus aparece dizendo-a novamente (para 78), e o autor
diz que Herodes havia “adorado os deuses falsos e mortos” (para 217). O clichê
não está nem na Bíblia e nem no Qur’an, mas é uma citação direta da obra de
Dante! (Inferno de A Divina Comédia, 1.72).

Nas próprias descrições do céu e do inferno, o Evangelho de Barnabé segue


fialmente a Dante, contradizendo até o próprio Qur’an. Jesus aparece dizendo a
Simão Pedro:
“Sabei que o inferno é um só, mas há sete círculos concêntricos. Há, assim, sete
tipos de pecado, pois há sete portõs postos por Satã no céu; portanto, há sete
punições, uma para cada tipo de pecado.” (Evangelho de Barnabé, para 135)

Dante faz a mesma descrição dos quinto e sexto círculos do seu Inferno. Quando
fala do céu, o Evangelho de Barnabé descreve nove céus, e diz que o Paraíso em
si é maior que todos eles juntos (para 178). Novamente, há um paralelo com
Dante, que também fala de nove céus, e mais o Empyrean, o décimo céu, que
está acima de todos os outros. No entanto, essas descrições do céu contradizem
diretamente o Qur’an, que ensina que Alá, depois de ter criado a terra, fez o
paraíso, composto por sete céus (Surata 2:29).

3. A atmosfera medieval do Evangelho de Barnabé

Outras passagens do livro mostra que o autor sentia-se mais confortável falando
sobre o clima e as estações do sul da Europa do que da Palestina. Ele faz Jesus
dizer como era belo o mundo durante o verão, quando a colheita e as frutas eram
abundantes (para 169). Essa é uma descrição apropriada da Itália durante o
verão, mas não da Palestina, onde chove durante o inverno e os campos ficam
secos no verão.

Do mesmo modo, o Evangelho de Barnabé fala sobre vinho sendo armazenado


em tonéis de madeira (para 152), uma prática comum na Europa medieval, mas
não na Palestina do século I d.C., onde o vinho era estocado em peles de animais
(Mateus 9:17). Mais uma prova da ignorância do autor em Geografia da Palestina
está no seguinte trecho:

“Tendo chegado à cidade de Nazaré, os pescadores espalharam por toda a cidade


as coisas que Jesus havia ensinado.” (Evangelho de Barnabé, para 20)

Nessa passagem, Nazaré é descrita como cidade portuária, à margem do Lago da


Galiléia. Mais tarde, é dito que Jesus “subiria para Cafarnaum”. Todos os
discípulos de Jesus sabiam que Cafarnaum era a cidade à beira do Mar da
Galiléia, enquanto que Nazaré ficava nas montanhas. Jesus subiria de Cafarnaum
para Nazaré, mas nunca o contrário, como traz o Evangelho de Barnabé.

Todas estas evidências demosntram que o Evangelho de Barnabé é uma farsa,


compilada no sul da Europa ao redor do século XVI d.C. Iremos continuar o exame
de outras evidências que descredenciam o livro como um evangelho autêntico.

6.3 Outras evidências contra a sua autenticidade

Muçulmano: O Evangelho de Barnabé tem que ser o evangelho verdadeiro, pois


ensina que Jesus não foi o mensageiro final de Deus para a humanidade. Esta
honra estava reservada para o nosso santo Profeta Maomé, que sucederia a
Jesus.
Há muitas outras provas contra a autenticidade do Evangelho de Maomé, muitas
delas referentes às próprias passagens em que Jesus profetizaria sobre a vinda
de Maomé. É interessante notar que esse evangelho não faz nenhuma menção ao
nome de João Batista — uma omissão marcante, considerando-se a atenção que
lhe é dada, nos evangelhos bíblicos, como profeta contemporâneo a Jesus. Ao
invés disso, frases de João Batista são atribuídas a Jesus, como “Eu sou a voz
que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’.” (João 1:23), bem como
todo o diálogo da qual ela faz parte (para 42). O autor desse envangelho, de modo
conveniente mas incorreto, faz Jesus dizer de Maomé o que na verdade João
disse a respeito de Cristo.

O Messias: Jesus ou Maomé?

João Batista negou ser o Messias quando questionado pelos líderes judeus (João
1:20). O Evangelho de Barnabé traz Jesus fazendo o mesmo, e usando quase as
mesmas palavras:

“Jesus confessou e disse a verdade: ‘Não sou o Messias... Fui enviado para a
casa de Israel como profeta para a salvação; mas o Messias virá após mim’.”
(Evangelho de Barnabé, paras 42 e 82).

Quem seria então este Messias que estava por vir? Em outro trecho desse
evangelho, Jesus diz: “O nome do Messias é Admirável... Deus disse: ‘Esperai por
Maomé’; pois por causa dele é que eu criarei o paraíso... O nome de Maomé é
sagrado.” (para 97). Aqui, o autor do Evangelho de Barnabé se excede
absurdamente, pois o próprio Qur’an afirma, com todas as letras e por dezoito
vezes, que só Jesus é o Messias. A Bíblia também confirma isto em várias
ocasiões (João 4:26, Mateus 16:20). Apenas uma citação é o suficiente para
atingirmos o objetivo:

“E quando os anjos disseram: Ó Maria, por certo que Deus te anuncia o Seu
Verbo, cujo nome será o Messias, Jesus, filho de Maria, nobre neste mundo e no
outro, e que se contará entre os diletos de Deus.” (Surata 3:45)

O título aqui é Al-Masih, “o Messias”, e Jesus chama a si mesmo de Al-Masihu


Isa, “o Messias Jesus”, no decorrer do Qur’an (Surata 4:171). Logo, o Evangelho
de Barnabé contradiz o Qur’an ao afirmar que Maomé era o Messias. Nenhum
muçulmano pode ser fiel ao seu livro santo tentando, ao mesmo tempo, defender a
autenticidade do Evangelho de Barnabé.

É muito interessante, aqui, descobrir que esse “evangelho” contradiz não só o


Qur’an, mas também a si mesmo. No prólogo do livro, o autor fala de “Jesus o
Nazareno, chamado Cristo”. O autor parece desconhecer que Messias e Cristo
são sinômimos, sendo que o último dervida da palavra grega Christos, que é uma
tradução da palavra hebraica Mashiah.
Contradições entre o Evangelho de Barnabé e o Qur’an

Há ainda outras contradições entre o Qur’an e o Evangelho de Barnabé que não


têm uma explicação satisfatória. Uma delas é o relato do nascimento de Jesus
trazido por cada um dos dois livros. O Evangelho de Barnabé narra assim
omomento em que Cristo vem ao mundo:

“Havia uma luz extremamente brilhante ao redor da virgem, que trouxe seu filho à
luz sem dor.” (Evangelho de Barnabé, para 3)

Não há equivalente bíblico para essa afirmação, mas existem paralelos nas
crenças do catolicismo da Idade Média. É mais uma evidência de que o Evangelho
de Barnabé seja falso, e que tenha sido escrito até quinze séculos depois de
Cristo. O que é significativo para os muçulmanos, no entanto, é que essa
passagem conflita totalmente com o que está escrito no Qur’an a respeito de
Maria e do nascimento de Jesus:

“As dores do parto a constrangeram a refugiar-se junto a uma tamareira. Disse:


'Oxalá eu tivesse morrido antes disto, ficando completamente esquecida'.” (Surata
19:23)

São muito escassas as possibilidades para que os muçulmanos defendam sua


crença de que o Evangelho de Barnabé seja o autêntico evangelho, consistente
com o Qur’an e com as tradições islâmicas. Não é de se surpreender o fato de
que muitos acadêmicos muçulmanos tenham passado, recentemente, a rejeitar o
Evangelho de Barnabé, considerando-o falso. Ainda assim, muitos autores
muçulmanos, mesmo conhecendo a avalanche de evidências contra esse livro,
continuam a propagandeá-lo como se ele fosse verdadeiro.

Outra contradição típica entre os dois livros está no trecho do Evangelho de


Abranabé que fala dos anjos de Deus durante os últimos dias antes do grande
Julgamento: “Os santos anjos morrerão no décimo quinto dia; somente Deus
permanecerá vivo” (para 53). O Qur’an não traz nada a respeito da morte de
anjos, mas afirma que oito deles carregarão o trono de Alá no Dia Final (Surata
69:17).

Em outro conflito, o Evangelho de Barnabé diz que, no décimo terceiro dia do


período que antecerá o fim, toda a humanidade morrerá, e que todos os seres
vivos sobre a terra perecerão (para 53), enquanto que o Qur’an afirma que uma
trombeta soará, e que “Nesse dia, a cada qual bastará a preocupação consigo
mesmo” (Surata 80:37).

Deve ser relativamente fácil livrar-se do Evangelho de Maomé quando estiver


testemunhando a um muçulmano, uma vez apresentadas estas evidências. O livro
não tem nenhum valor além da promoção absurda feita pelos muçulmanos para
que desviar-nos da genuína apologética cristã-muçulmana.
6.4 A autoria original do Evangelho de Barnabé

Muçulmano: Barnabé foi conhecido por ser um dos grandes discípulos de Jesus.
Como vocês se atrevem a tentar desacreditar um evangelho escrito por ele? Se
ele era um dos doze, por que então vocês tentam rejeitar tudo o que ele
escreveu?

Uma das grandes dúvidas a respeito desse evangelho é quem é o seu autor
verdadeiro. Quem o escreveu? Apesar de ser óbvio que o livro é falso e
relativamente recente, é importante, assim mesmo, provar para os muçulmanos
que o seu autor nunca poderia ter sido Barnabé. Durante todo o livro, o seu autor
diz ter sido um dos doze discípulos de Jesus, apesar de ser de conhecimento de
todos que o verdadeiro Barnabé somente aparece na cena depois da morte e
ressurreição de Jesus. Além disso, ele só recebe este nome por causa de um
episódio ocorrido muito depois. Eis a passagem:

“José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho
de exortação, levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o,
trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos.” (Atos 4:36 e 37).

Foi só a partir, quando esse homem chamado José encorajou a Igreja primitiva
doando o lucro da venda de sua propriedade, que os discípulos de Jesus lhe
deram o nome de bar-nabas. Logo, ele é uma das grandes personagens no
registro do desenvolvimento inicial da Igreja, sendo mencionado em outros lugares
do Novo Testamento (Gálatas 2:9). Ele, certamente, não era um dos doze
discípulos originais, cujos nomes estão registrados em dois dos evangelhos
(Mateus 10:2 a 4, Lucas 6:14 a 16): seu nome não é mencionado em nenhum dos
quatro evangelhos. O autor da farsa, ao tentar criar elementos para conferir
autenticidade ao seu texto, deixou as suas impressões digitais, incluindo também
um anacronismo gritante. Jesus aparece chamando-o pelo nome em várias
ocasiões, das quais o trecho abaixo é um exemplo:

“Jesus respondeu: ‘Não te entristeças, Barnabé, pois aqueles a quem Deus


escolheu antes da criação do mundo não perecerão’.” (Evangelho de Barnabé,
para 19)

É impossível que Jesus tivesse se dirigido a este homem como Barnabé antes de
ter subido aos céus, já que ele só recebeu este seu segundo nome depois que
Cristo deixou o mundo.

A provável autoria do Evangelho de Barnabé

Existem algumas evidências que nos permitem especular a respeito do provável


autor do livro. Na introdução da versão espanhola do “evangelho”, há uma
indicação de que ela tenha sido traduzida a partir da versão italiana, tendo sido o
tradutor um muçulmano aragoniano chamado Mostafa de Aranda. Sale também
coloca uma nota dizendo que, no prefácio da versão italiana, um certo Frei
Marino, monge da Igreja Católica Romana, teria ouvido falar da existência de um
Evangelho de Barnabé, e que havia encontrado-o quando vasculhava a biblioteca
do Papa Sixtus V enquanto este, convenientemente, dormia. A conclusão da
história diz que o monge retirou sorrateiramente o livro da biblioteca, e se
converteu ao islamismo depois de lê-lo.

Quem quer que seja o autor, é patente a familiaridade que ele tinha com o
território da Espanha e do seu clima. Ele poderia muito bem ser um muçulmano
espanhol que fora forçado a se converter ao cristianismo por causa da Inquisição
espanhola, cuja vingança foi escrever esse “evangelho” islâmico. Ele o teria
escrito primeiro em italiano, para dar uma aparência mais autêntica, antes de
traduzi-lo para sua própria língua. Há uma evidência muito marcante da influência
espanhola nessa frase atribuída a Jesus:

“pois o que ele receberia em troca era uma peça de ouro, que deve ter sessenta
mitas.” (Evangelho de Barnabé, para 54)

A versão italiana divide o denário de ouro em sessenta minuti. Essas moedas


eram de origem espanhola, datadas do período visigótico pré-islâmico, e revelam
a influência espanhola do texto.

É muito provável que o autor fosse o próprio Frei Marino, já que existem também
evidências de que o livro foi escrito por alguém que também tinha certa
familiaridade com a Itália e a sua língua, o italiano. De outras obras, sabe-se que o
verdadeiro Frei Marino tinha um relacionamento próximo com Frei Peretti, uma
das figuras-chave da Inquisição e mais tarde eleito papa — Papa Sixtus V.
Devido a trapalhadas na sua administração como inquisidor, Frei Marino perdeu a
simpatia de Frei Peretti por ele, e não foi mais promovido. Peretti, no entanto, fez
uma carreira brilhante, recebendo uma distinção após a outra, até chegar ao
papado.

A sina de Marino, depois que Peretti chegou ao papado, pode tê-lo levado a
escrever o “evangelho”, num ato de vingança pessoal contra o agora papa,
especialmente se relamente ele se converteu ao islamismo. Há muitas provas
sustentando esta teoria na história que se conta, na qual, numa audiência com o
Papa, Marino teria encontrado o manuscrito original, enquanto o sumo pontífice
ressonava. Conveniente também foi o fato de que o “evangelho” foi o primeiro livro
que lhe caiu às mãos.. Os muçulmanos hoje afirmam, continuando com toda esse
delírio, que os papas de Roma sempre esconderam deliberadamente o Evangelho
de Barnabé dos fiéis num ato de conspiração calculada contra o seu conteúdo. É
muito mais provável que o próprio Frei Marino, ou alguém que lhe fosse próximo,
tenha produzido o manuscrito e depois inventado a história da sua “descoberta”.

Nós nunca saberemos ao certo quem escreveu esse “evangelho”. O que sabemos
é que ele não poderia ter sido escrito pelo apóstolo Barnabé, que nunca esteve
entre os doze discípulos imediatos de Jesus. Se o Evangelho de Barnabé serve
para alguma coisa é, talvez, para provar que é impossível inventar um relato sobre
a vida de Jesus que seja consistente com as evidências factuas da Sua vida e os
eninamentos contindos nos quatro verdadeiros evangelhos, e que, ao mesmo
tempo, afirme que Ele seja um profeta do islamismo. Esse livro falha
clamorosamente na sua tentativa de fazer exatamente isto.

É importante se livrar o mais rápido possível desse livro quando estiver


conversando com os muçulmanos. Ele não oferece nenhuma contribuição válida
para o campo da apoloegética cristã-muçulmana.

6.5 Paulo e Barnabé no livro de Atos

Muçulmano: No seu evangelho, Barabé repudia expressamente o ensinamento


de Paulo de que Jesus é o Filho de Deus, De fato, mesmo o Novo Testamento
registra que Paulo e Barnabé não se entendiam. Era porque Barnabé ensinava a
verdade sobre Jesus.

O Evangelho de Barnabé começa com a frase: “muitos, iludidos por Satã, sob
pretensa piedade, pregam a mais ímpia doutrina, chamando Jesus de Filho de
Deus... dentre eles está Paulo, que também foi enganado” (para 1). No final do
livro, Paulo é acusado novamente de estar iludido, pela mesma razão. Os
muçulmanos atêm-se a esta passagem da Bíblia, onde está escrito que “houve
entre eles tal desavença, que vieram a separar-se” (Atos 15:39), para provar que
Paulo e Barnabé não concordavam um com o outro, como se isso fosse prova de
que Barnabé diferia do principal apóstolo do cristianismo quanto aos pontos mais
importantes da fé cristã. O objetivo deles é provar que Barnabé rejeitava essas
crenças, e que escreveu esse “evangelho” para corrigi-las.

Barnabé e Paulo: dois companheiros bastante ligados

Quem ler o capítulo 15 de Atos descobrirá que a única desavença entre esses dois
homens era se João Marcos deveria acompanhá-los numa próxima viagem.
Paulo não queria que ele fosse, pois ele havia desapontado-o na sua primeira
viagem missionária (Atos 13:!3). Foi só por esta razão que eles se separaram.
Barnabé levou Marcos com ele, rumando para Chipre, enquanto Paulo escolhia
Silas como seu futuro companheiro de viagem (Atos 15:39 e 40).

Todas as outras evidências no livro de Atos provam que, longe de ser um


oponente de Paulo, Barnabé sempre o apoiava e o amparava. Quando Paulo se
converteu, depois de ter uma visão dramática de Jesus no caminho de Damasco,
ele permaneceu alguns dias na cidade com outros discípulos do Senhor, até que
eles finalmente foram à sinagoga local para proclamar o nome de Jesus e declarar
que Ele era o Filho de Deus (Atos 9:20). Não há dúvidas, portanto, que desde que
se tornou seguidor de Jesus Cristo, Paulo proclamou a essência da doutrina cristã.
A partir deste ponto, é importante saber qual era o papel de Barnabé quando o
acompanhava nas suas viagens.

1. Barnabé foi quem apresentou Paulo aos outros apóstolos

Quando Paulo regressou pela primeira vez a Jerusalém depois da sua conversão,
os outros discípulos o temiam, por saberem da sua fama de perseguidor
incansável da Igreja primitiva. Eles não acreditavam que ele tivesse se
tranformado num autêntico seguidor de Cristo. É revelador descobrir, tendo em
mente os duros ataques feitos a Paulo no Evangelho de Barnabé, quem o
defendeu perante os discípulos:

“Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos; e contou-lhes como ele
vira o Senhor no caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara
ousadamente em nome de Jesus.” (Atos 9:27)

Desde então, até a desavença por motivos pessoais, Paulo e Barnabé estiveram
sempre juntos. De fato, como veremos, o verdadeiro autor do Evangelho de
Barnabé não poderia ter escolhido mais inapropriadamente aquele a quem sua
farsa seria atribuída.

2. Barnabé procurou Paulo para que o ajudasse a pregar na Antioquia

Tão logo a igreja em Jerusalém soube que a Igreja em Antioquia crescia, os


apóstolos enviaram Barnabé para lá, a fim de que ele instruísse os novos
discípulos na fé em Jesus. Barnabé, contudo, resolveu que não cumprir a tarefa
sozinho. Quem enviaram para ajudá-lo? Ninguém menos do que Paulo! Ele foi até
Tarso para procurá-lo, e, quando o encontrou, trouxe-o com ele para Antioquia
(Atos 11:25 e 26). É especialmente significante o versículo abaixo:

“... tendo-o encontrado, levou-o para Antioquia. E, por todo um ano, se reuniram
naquela igreja e ensinaram numerosa multidão. Em Antioquia, foram os discípulos,
pela primeira vez, chamados cristãos.” (Atos 11:26)

Foi no ministério desses dois homens que os seguidores foram chamados, pela
primeira vez, cristãos, porque Paulo e Barnabé os ensinavam as verdades
básicas do que faz do cristianismo aquilo que ele é até hoje: que Jesus é o Filho
de Deus, que morreu pelos nossos pecados. É isso o que o Evangelho de
“Barnabé” luta tanto para negar. Nas viagens em que faziam juntos, Paulo tomava
a iniciativa de pregar o evangelho cristão, enquanto Barnabé o apoiava,
confirmando tudo aquilo que ele dizia. Não podem existir dúvidas sobre se
Barnabé era ou não o autor do evangelho contra Paulo que lhe atribuem.

3. Barnabé e Paulo rejeitaram a circuncisão

Segundo o Evangelho de Barnabé, Jesus ensinou que a circuncisão é um dos


atos mais importantes da piedade religiosa. Tanto o judaismo quanto o islamismo,
até hoje, observam essa ordenança fielmente. Jesus teria dito:
“Deixai o medo para aquele que não circuncidou a sua carne, pois este não
entrará no paraíso.” (Evangelho de Barnabé, para 23)

É no mínimo irônico ver que o verdadeiro Barnabé ajuntou-se a Paulo para fazer
uma dura oposição à necessidade do ritual circuncisão para a salvação:

“Alguns indivíduos que desceram da Judéia ensinavam aos irmãos: ‘Se não vos
cincuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos.’ Tendo
havido, da parte de Paulo e Barnabé, contenda e não pequena discussão com
eles, resolveram que esses dois e alguns outros dentre eles subissem a
Jerusalém, aos apóstolos e presbíteros, com respeito a esta questão.” (Atos 15:1
a 2)

Numa de suas cartas, Paulo afirma que, quando ele e Barnabé foram a Jerusalém,
levaram Tito, um grego crente em Jesus que não havia sido circuncidado, como
caso a ser considerado. Paulo expôs aos apóstolos o evangelho cristão que ele
estava pregando — um evangelho livre de rituais legalistas que caracterizam o
judaismo e o islamismo — para ver se eles disconrdavam dele em algum ponto.
Eles não só concordaram que Tito não deveria ser circuncidado (Gálatas 2:1 a 3),
mas também “estenderam, a mim [Paulo] e a Barnabé, a destra de comunhão” (v.
9). Parece que ninguém estava mais afinado à pregação da fé cristã de Paulo do
que Barnabé. Não há como ele ter sido o autor do evangelho que, erroneamente,
lhe atribuem.

O Evangelho de Barnabé é um livro sem valor histórico real. Os muçulmanos


devem ser cuidadosamente persuadidos a esquecê-lo, e usar o seu tempo lendo
os quatro genuínos evangelhos, onde a verdade acerca de Jesus está registrada.
Bibliografia

1. Literaturas cristã e diversas sobre os muçulmanos — apologética cristã

ADANG, Camilla. Muslim writers on Judaism and the Hebrew Bible. E.J. Brill,
Leiden. Holanda, 1996.
BEVAN JONES, L. Christianity explained to muslims. Y.M.C.A. Publishing House.
Calcutá, Índia. 1952.
BROWN, David. Jesus and God in the Christian Scriptures — Christianity and
Islam 1. Sheldom Press. Londres, Reino Unido, 1967.
BROWN, David. The Christian Scriptures — Christianity and Islam 2. Sheldom
Press. Londres, Reino Unido, 1967.
BROWN, David. The cross of the Messiah — Christianity and Islam 3. Sheldom
Press. Londres, Reino Unido, 1967.
BROWN, David. The divine trinity — Christianity and Islam 4. Sheldom Press.
Londres, Reino Unido, 1967.
BURMAN, Thomas E. Religious polemic and the intellectual history of the
Mozarabs, c. 1050-1200. E.J. Brill. Leiden, Holanda, 1994.
GEISLER, N.L. e SALEEB, A. Answering Islam: the Crescent in the light of the
cross. Baker Books. Michigan, EUA, 1993.
GODDARD, Hugh. Muslim perceptions of Christianity. Grey Seal Books. Londres,
Reino Unido, 1996.
JEFFERY, Arthur. Materials for the History of the text of the Qur’an. AMS Press.
Nova York, EUA, 1975.
MUIR, Sir W. The Coran: its composition and teaching. S.P.C.K. Londres, Reino
Unido, 1903.
MUIR, Sir W. The beacon of truth. The Religious Tract Society. Londres, Reino
Unido, 1894.
MUIR, Sir W. The mohammedan controversy. Edinburgo. Escócia, Reino Unido,
1897.
NEHLS, Gerhard. Christians ask muslims. Life Challenge. Cidade do Cabo, África
do Sul, 1980.
NEHLS, Gerhard. Christians answer muslims. Life Challenge. Cidade do Cabo,
África do Sul, 1980.
PARRINDER, Geoffrey. Jesus in the Qur’an. Sheldon Press. Londres, Reino
Unido, 1976.
PFANDER, C.G. Miftahu’l Asrar: the key of mysteries. The Christian Literature
Society. Madras, Índia, 1912.
PFANDER, C.G. The Mizan ul Haqq; or balance or truth. Church Missionary
House. Londres, Reino Unido, 1867.
PFANDER, C.G. The Mizanu’l Haqq (Balance or truth). The Religious Tract
Society; Londres, Reino Unido, 1910.
RICE, W.A. Crusaders of the twentieth century: the Christian missionary and the
Muslim. Church Missionary Society. Londres, Reino Unido, 1910.
SEALE, M.S. Qur’an and the Bible: studies in interpretation and dialogue. Croom
Helm. Londres, Reino Unido, 1978.
SAMIR, K.A. e NIELSEN, J.S. Christian Arabic apologetics during the Abbasid
period. E.J. Brill. Leiden, Holanda, 1994.
THOMAS, David. Anti-Christian polemic in early Islam. Cambridge University
Press. Cambridge, Reino Unido, 1992.
TISDALL, W. St.Clair. A manual of the leading Muhammadam objections to
Christianity. S.P.C.K. Londres, Reino Unido, 1912.
WHERRY, E.M. The Muslim controversy. The Christian Literature Society. Madras,
Índia, 1905.
ZWEMER, S.M. Mohammed or Christ. Seeley, Service & Co. Ltd. Londres, Reino
Unido, 1915.

2. Livros muçulmanos sobre o islamismo e o cristianismo

AJIJOLA, AlHaj A.D. The myth of the cross. Islamic Publications Limited. Lahore,
Paquistão, 1975.
ALWI, Sumali. Divinity of Jesus: A dialogue between B. Mudhary and A. Widuri.
Pustaka Aphiya. Kuala Lumpur, Malásia, 1987.
ANSARI, Muhammad F.R. Islam and Christianity in the modern world. World
Federation of Islamic Missions. Karachi, Paquistão, 1965.
ASSFY, Zaid H. Islam and Christianity. William Sessions Limited, York, Reino
Unido. 1977.
ATA-UR-SAMAD, Ulft. A comparative study of Christianity and Islam. Sh.
Muhammad Ashraf. Lahore, Paquistão, 1983.
ATA-UR-SAMAD, Ulft. Islam and Christianity. International Islamic Federation.
Peshawar, Paquistão, 1982.
DEEDAT, Ahmed. The coice: the Qur’an or the Bible. Thinkers Library. Selangor,
Cingapura.
DURRANI, M.H. The Qur’anic facts about Jesus. International Islamic Publishers.
Karachi, Paquistão, 1983.
HAMID, Abdul. Islam and Christianity. A Hearthstone Book. Nova York, EUA, 1967.
IMRAN, Maulana Muhammad. The cross and the Crescent. Malik Sirajuddin &
Sons. Lahore, Paquistão, 1979.
JAMEELAH, Maryam. Islam versus Ahl al Kitab, past and present. Mohammed
Yusuf Khan. Lahore, Paquistão, 1968.
JOOMMAL, A.S.K. The Bible: Word of God or word of man? I.M.S. Publications.
Johannesburgo, África do Sul, 1976.
KAMAL-UD-DIN, Khwaja. The sources of Christianity. Woking Muslim Mission &
Literary Trust. Lahore, Paquistão, 1973.
MANJOO, Muhammad E. The cross and the Crescent. Foto-Saracen. Durban,
África do Sul, 1966.
MUHAMMAD ALI, Moulvi. Muhammad and Christ. Ahmadiah Anjman-i-Ishaet-i-
Islam. Lahore, Índia, 1921.
NIAZI, Kausar. The mirror of Trinity. Sh. Muhammad Ashraf. Lahore, Paquistão,
1975.
OBARAY, A.H. Miraculous conception, death, ressurrection and ascension of Jesus
(Nabi Isa) as taugth in the Kuran. Edição do autor. Kimberly, África do Sul,
1962.
RAHMATULLAH, Maulana M. The Ijaharu’l Hakk; or truth revealed. Editora não
mencionada. Ìndia, 1860.
SADR-UD-DIN. Fundamentals of the Christian faith in the ligth of the Gospels.
Ahmadiyya Anjuman Isha’at-i-Islam. Lahore, Paquiestão.
SHAFAAT, Ahmad. The question of the authenticity and authority of the Bible. Nur
Media Services. Montreal, Canadá, 1982.
TABARI, Ali. The book of religion and empire. Law Publishing Company. Lahore,
Paquistão.
ZIDAN, Ahamd. Christianity: myth or message? A.S. Noordeen. Kuala Lumpur,
Malásia, 1995.

3. Livretos cristãos sobre o islamismo e o cristianismo

ADELPHI, G. e HAHN, E. The integrity of the Bible according to the Qur’an and
Hadith. Hyderabad, Índia, 1977.
ABD AL FADI. Sin and atonement in Islam and Christianity. Markaz-ash-Shabiba.
Beirute, Líbano.
ANDERSON, M. The Trinity: for christians and muslims. Pioneer Book Company.
Caney, EUA, 1994.
BRUTUS, Zachariah. God is one in the Holy Trinity. Markaz-ash-Shabiba. Basel,
Suíça.
ERIC, Walter. Let the Bible speak for itself. Life Challenge Africa. Nairóbi, Quênia,
1996.
JADID, Iskandar. The cross in the Gospel and Quran. Markaz-ash-Shabiba.
Beirute, Líbano.
JADID, Iskandar. The infallibility of the Torah and the Gospel. Centre for Young
Adults. Basel, Suíça.
KHALIL, Victor. The truth of the Quran in the light of the Bible. Edição do autor.
Detroit, EUA, 1981.

4. Livretos muçulmanos sobre o islamismo e o cristianismo

ABIDI, Syed Azmat Ali. Discovery of the Bible. Defence Housing Society. Karachi,
Paquistão, 1973.
AL-HILALI, M.T. Jesus and Muhammad in Bible and Qur’an. Kazi Publications.
Chicago, EUA.
AL-JOHANI, M.H. The truth about Jesus. World Assembly of Muslim Youth. Riyadh,
Arábia Saudita, 1987.
BHULA, Ismail. A reply to Mr. A.H. Obaray! Young Men’s Muslims Association.
Johannesburgo, África do Sul, 1963.
DEEDAT, Ahmed. Combat kit against Bible thumpers. Islamic Propagation Centre.
Durban, África do Sul, 1992.
DEEDAT, Ahmed. Crucifixion or cruci-fiction? Islamic Propagation Centre. Durban,
África do Sul, 1984.
DEEDAT, Ahmed. Is the Bible God’s Word? Islamic Propagation Centre. Durban,
África do Sul, 198.
DEEDAT, Ahmed. Resurrection or resuscitation? Islamic Propagation Centre.
Durban, África do Sul, 1978.
DEEDAT, Ahmed. Was Christ crucified? Islamic Propagation Centre. Durban, África
do Sul, 1965.
DEEDAT, Ahmed. What was the sign of Jonah? Islamic Propagation Centre.
Durban, África do Sul, 1976.
JOOMMAL, A.S.K. The riddle of Trinity and the Sonship of Christ. Islamic
Missionary Society. Johannesburgo, África do Sul, 1966.
MUHSIN, Ali. Let the Bible speak. Edição do autor. Dubai, Emirados Árabes.
NAJAAR, A. Muslim judicial council chariman’s comments on Obaray’s booklet.
Islamic Publications Bureau. Cidade do Cabo, África do Sul.
SHABAZZ, Al’uddin. The plain truth about the birth of Jesus according to the Holy
Bible. New Mind Productions. Nova Jersey, EUA,1981.

5. Profecias a respeito de Maomé na Bíblia

(anônimo). Do you know? The Prophet Muhammad is prophesied in the Holy Bible!
Y.M.M.A. Johannesburgo, África do Sul, 1960.
(anônimo). The Prophet Muhammad in the Bible. Jamiat Ulema Natal. Wasbank,
África do Sul.
BADAWI, J. Muhammad in the Bible. Islamic Information Fundation. Halifax,
Canadá, 1982.
DAWUD, A. Muhammad in the Bible. Angkatan Nadhatul-Islam. Bersatu,
Cingapura, 1978.
DEEDAT, Ahmed. Muhammad in the Old and New Testaments. Islamics
Publications Bureau. Cidade do Cabo, África do Sul.
DEEDAT, Ahmed. Muhammad sucessor to Jesus Christ as portrayed in the Old
and New Testaments. Muslim Brotherhood Aid Services. Johannesburgo,
África do Sul.
DEEDAT, Ahmed. What the Bible says about Muhammed. Islamic Propagation
Centre. Durban, África do Sul, 1976.
DURRANI, M.H. Muhammad, the biblical Prophet. International Islamic Publishers.
Karachi, Paquistão, 1980.
HAMID, S.M.A. Evidence of the Bible about Mohammad. Edição do autor. Karachi,
Paquistão, 1973.
KALDANI, D.B. Mohammad in the Bible. Abbas Manzil Library. Allahabad,
Paquistão, 1973.
KASSIM, Hajee Mahboob. Muhammad in world scriptures. Chishtiyya Publications.
Calcutá, Índia, 1990.
MUFASSIR, Sulayman Shahid. The Bible’s preview of Muhammad. Al-Balag
Foundation. Teeirã, Irã, 1986.
AL-QAYRAWANI, Faris. Is Muhammad the promised Parakletos? Al-Nour.
Colorado Springs, EUA, 1992.
SHAFAAT, A. Islam and its Prophet: a fulfilment of biblical prophecies. Nur al-Islam
Foundation. Laurent, Canadá, 1984.
VIDYARTHY, A.H. Muhammad in world scriptures. (3 volumes). Ahmadiyya
Anjuman Ishaat-i-Islam. Karachi, Paquistão, 1974.

6. O evangelho de Barnabé

(anônimo). The Gospel of truth: the Barnabas Bible. Islamic Dawah Centre.
Pretória, África do Sul.
BEGUN AISHA BAWANY WAKF. The Gospel of Barnabas. 3ª edição. Karachi,
Paquistão, 1974.
CAMPBELL, William F. The Gospel of Barnabas: its true value. Christian Study
Centre. Rawalpindi, Índia, 1989.
DURRANI, M.H. Forgotten Gospel of St. Barnabas. International Islamic
Publishers. Karachi, Paquistão, 1982.
GAIRDNER, W.H.T & ABDUL-AHAD, S. The Gospel of Barnabas: an essay and
enquiry. Hyderabad, Índia, 1975.
JADEED, I. The Gospel of Barnabas: a false testimony. The Good Way. Rikon,
Suíça, 1980.
NIAZI, Shaheer. Is the Gospel of Barnabas a forgery? Siddiqi Trust. Karachi,
Paquistão.
PEERBHAI, Adam. Missing documents from Gospel of Barnabas. Islamic Institute.
Durban, África do Sul, 1967.
RAGG, L. & L. The Gospel of Barnabas. Clarendon Press. Oxford, Reino Unido,
1907.
RAHIM, M.A. The Gospel of Barnabas. Quran Council of Pakistan. Karachi,
Paquistão, 1973.
SLOMP, J. Pseudo-Barnabas in the context of Christian-Muslim apologetics.
Christian Study Centre. Paquistão, 1974.
SLOMP, J. The Gospel in dispute. Pontificio Instituto di Studi Arabi. Roma, Itália,
1978.
SLOMP, J. The pseudo-Gospel of Barnabas. Bulletin, Secretariatis pro non
Christianis. Cidade do Vaticano, Itália, 1976.
SOX, David. The Gospel of Barnabas. George Allen & Unwin Limited. Londres,
Reino Unido, 1984.
WADOOD, A.C.A. The holy Prophet foretold by Jesus Christ in the Gospel of St.
Barnabas. Ceylon Muslim Missionary Society. Colombo, Sri Lanka. 1973.
YUSEFF, M.A. The Dead Sea scrolls, The Gospel of Barnabas, and The New
Testament. American Trust Publications. Indianápolis, EUA, 1994.

Вам также может понравиться