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Gurdjieff
(P.D.Ouspensky - Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido)
. . . Mas , se olharmos as coisas mais a fundo, se lançarmos um olhar sobre o seu mundo
interior, sobre os seus pensamentos, sobre as causas da suas ações, compreenderemos
que está quase no mesmo estado que quando dormia. É até pior, porque no sono é
passivo, o que quer dizer que não pode fazer nada.
No estado de vigília, ao contrário, pode agir o tempo todo e os resultados de suas ações
repercutirão sobre ele e sobre os que o rodeiam. E, no entanto, ele não se lembra de si
mesmo. É uma máquina e tudo lhe acontece.
Não pode deter o fluxo de seus pensamentos, não pode controlar sua imaginação, suas
emoções, sua atenção. Vive num mundo subjetivo de "eu gosto", "eu não gosto", "isto me
agrada" , "tenho vontade de", "não tenho vontade de", isto é num mundo constituído do
ele crê gostar ou não gostar, desejar ou não desejar.
O mundo real está escondido pelo muro da sua imaginação. Ele vive no sono. Dorme. E o
que chama de sua "consciência lúcida", nada mais é que sono , e um sono muito mais
perigoso que o seu sono, durante a noite, em sua cama.
Significa que vários milhões de adormecidos esforçam-se por destruir vários milhões de
outros adormecidos. Eles se recusariam a isso, naturalmente, se despertassem. Tudo o
que se passa atualmente é devido a esse sono.
Esses dois estados de consciência, sono e vigília, são tão subjetivos um quanto outro. Só
quando começa a lembrar-se de si mesmo, é que o homem pode, realmente, despertar.
A seu redor, toda a vida toma então aspecto e sentido diferentes. Ele a vê como a vida de
pessoas adormecidas, uma vida de sono. Tudo o que as pessoas dizem, tudo o que as
pessoas fazem, dizem e fazem no sono.
Nada disso, pois, pode ter o mínimo valor. Só o despertar e o que leva a despertar tem
valor real
. . . como já disse, o homem tal como é, tal como a natureza o criou, pode tornar-se
consciente de si. Criado para este fim, nasce para este fim.
Mas nasce entre adormecidos e, naturalmente, cai, por sua vez, num sono profundo,
exatamente no momento em que deveria começar a tomar consciência de si mesmo
É por isso que nunca pode utilizar todos os poderes que possui e sempre vive uma
pequena parte de si mesmo.
Já foi dito que o estudo de si e a observação de si, bem conduzidos, levam o homem a se
dar conta de que algo está errado em sua máquina e em sua funções, em seu estado
habitual. Compreende que é precisamente porque está adormecido que só vive e trabalha
numa pequena parte de si mesmo
. . . em vez do homem que acreditava ser, verá um inteiramente diferente, Esse outro é
ele mesmo e , ao mesmo tempo não é ele mesmo. É ele tal como os outros o conhecem,
tal como se imagina e tal como aparece em sua ações, palavras , etc
. . . mas não é exatamente ele, tal como é na realidade. Porque sabe que há uma grande
parte de irrealidade, de invenção e de artifício nesse homem que os outros conhecem e
que ele próprio conhece. Vocês deve aprender a separar o real do imaginário.