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A CANTORA CARECA - Moral da história: não existe moral, só o abstrato, surreal, absurdo e ETC.

Eugène Ionesco Obrigada, bom espetáculo.


Adaptação: João V Borges
Músicas: Fernanda, Nataly Rodrigues, Alex All. (com as cortinas ainda fechadas, começa-se a ouvir uma capela e ao fundo vozes.)

Elenco: Os minutos, nunca dura para sempre, passado e o futuro-presente estão mais
SR. SMITH --------------- Pedro conscientes.
SRA. SMITH-------------- Rafaela Tudo muda Tudo muda o pra sempre, minutos não medem parentes, o pato, o furto
SR. MARTIN-------------- João e o pente Duran um bocado Pra gente. Duran um bocado Pra gente.
SRA. MARTIN------------ Andréia Duran um bocado Pra gente. Duran um bocado Pra gente.
MARY, A EMPREGADA------ Juliana
O CAPITÃO DOS BOMBEIROS----- Eduardo ( As cortinas se abrem, entram os narradores)
NARRADOR1--------------- Fernanda NARADOR 2: Interior burguês de uma casa inglesa, com poltronas inglesas.
NARRADOR2---------------- Alan NARADOR 3: Numa tarde inglesa. O Sr. Smith inglês, sentado na poltrona com
NARRADOR3---------------- Nathaly chinelos ingleses, fuma seu cachimbo inglês, lendo um jornal inglês, perto da
NARRADOR$---------------- Ana Carolina lareira inglesa. Usa óculos ingleses e um pequeno bigode esbranquiçado inglês.
CANTORA CARECA---------- Alex NARADOR 2: Ao seu lado, numa outra poltrona inglesa, a Sra. Smith, inglesa,
remenda meias inglesas. Um longo momento de silencio inglês.
CENA I TODOS JUNTOS: O relógio inglês dá 5 badaladas inglesas.
(Aparece uma mulher rabugenta na porta de trás da platéia e vai andando em
direção ao palco ainda com as cortinas fechadas ) SRA. SMITH: Veja, são nove horas. Tomamos sopa, comemos peixe, batatas com
toucinho e salada inglesa. As crianças beberam água inglesa. Comemos bem esta
Narradora 1: COM LICENÇA. (pedindo silencio e batendo palmas)Vou lhes noite. É porque moramos nos arredores de Londres e o nosso nome é Smith.
contar uma fábula que transparece o modo de vida inglês de nossos personagens SR. SMITH (continua a ler, estala a língua.)
ingleses. Começando pelo título, ‘A careca e o sapo’: SRA. SMITH: As batatas vão muito bem com toucinho e o azeite da salada não
estava rançoso. O azeite do vendeiro da esquina é de melhor qualidade que o
“O sapo picou a cabeça lisa da careca. Tentando abatê-lo, ela desferiu nele uma azeite do vendeiro da frente; é até melhor que o azeite do vendeiro da esquina de
palmada. Então aquele escarnecendo diz: baixo. Mas isso não quer dizer que para eles o azeite seja ruim.
NARRADOR 1-Quisestes vingar com a morte, a picada do minúsculo anfíbio. SR. SMITH (continua a ler, estala a língua.)
Que farás a ti que a injuria acrescentas um dano? SRA. SMITH: Mas, mesmo assim, o azeite do vendeiro da esquina é sempre
Ele replicou: melhor.
SR. SMITH (continua a ler e estala a língua.)
NARRADOR 2- Reconcilio-me de bom grado comigo mesmo, sei eu não ter tido SRA. SMITH: Sra. Parker conhece um vendedor romeno por nome Popesco
intenção de lesar-me, todavia desejaria matar-te, anfíbio perverso, de raça Rosenfeld, que acaba de chegar da Constantinopla. Ele é um grande especialista
desprezível que sente prazer em sugar sangue humano.” em iogurte. Ele tem um diploma da escola de iogurteiros em Adrianopla. Amanhã
irei comprar um grande pote de iogurte romeno dele. Não é com freqüência que
encontramos essas coisas aqui nos subúrbios de Londres.
SR. SMITH (continua a ler e estala a língua.) SR. SMITH: Todo o Bobby Watson é caixeiros viajantes.
SR. SMITH: Aqui está uma coisa que eu não entendo. No jornal eles sempre SRA. SMITH: Mas que profissão horrível! No entanto, dá dinheiro a eles.
colocam o falecimento de uma pessoa, mas nunca um novo nascimento. Isto não SR. SMITH: Sim, quando não há concorrência.
faz sentido. SRA. SMITH: E quando há concorrência?
SRA. SMITH: Eu não tinha pensado nisso! (Outro momento de silêncio. O SR. SMITH: Nas terças-feiras, quintas-feiras e terças-feiras.
relógio bate sete vezes. Silêncio. O relógio bate três vezes. Silêncio. O relógio não SRA. SMITH: Ah! Três dias por semana? E o que é que Bobby Watson faz nesses
bate.) dias?
SR. SMITH (Ainda lendo o jornal): Ora veja, aqui diz que Bobby Watson morreu. SR. SMITH: Ele descansa e dorme.
SRA. SMITH: Meu Deus, o pobrezinho! Quando foi que ele morreu? SRA. SMITH: Mas por que ele não trabalhar nesses três dias, se não há
SR. SMITH: Para que esse espanto? Você sabe perfeitamente. Ele morreu há dois concorrência?
anos. Então não estivemos no enterro dele há um ano e meio? SR. SMITH: Não sei tudo. Não posso responder todas essas suas perguntas
SRA. SMITH: Ah sim, é claro que eu me lembro. Eu lembrei logo. Mas o que não idiotas!
compreendo é por que você ficou tão espantado ao ver isso no jornal. SRA. SMITH (ofendida): Oh! Você está tentando me humilhar?
SR. SMITH: Isso não estava no jornal. Há três anos que se fala de sua morte. SR. SMITH (sorrindo): Você sabe muito bem que eu não estou.
Recordei-me por associação de idéias. SRA. SMITH: Homens são todos iguais! Passam o dia todo sentado, com um
SRA. SMITH: Uma pena! Ele estava tão conservado. cigarro na boca, ou passando pó-de-arroz na cara e ruge nos lábios, cinqüenta
SR. SMITH: Ele foi o mais bonito cadáver da Inglaterra. Não aparentava a idade vezes por dia, ou ainda bebendo sem parar.
que tinha. Pobre Bobby estava morto há quatro anos e ainda estava quente. Um SR. SMITH: Mas o que você diria se vise homens fazendo o que mulheres fazem:
verdadeiro cadáver vivo. E como ele era alegre! fumando o dia todo, colocando pó-de-arroz, pondo ruge nos lábios, bebendo
SRA. SMITH: Coitada da Bobby. uísque?
SR. SMITH: Você quer dizer coitado do Bobby SRA. SMITH: Cá pra mim, eu não ligo! Mas se você diz isso é apenas pra me
SRA. SMITH: Não. Penso na mulher dele. Chamava-se Bobby como ele, Bobby irritar... Não gosto desse tipo de brincadeira, você sabe muito bem disso!
Watson. Como ele tinha o mesmo nome, não era possível distinguir um do outro (Ela arremessa as meias por todo palco e mostra os dentes. Ela levanta.)
quando estavam juntos. Só depois da morte dele é que se puderam saber de SR. SMITH (Também se levanta e vai até sua esposa, ternamente): Oh, minha
verdade quem era um e quem era outro. franguinha assada, pra que todo esse fogo! Você sabe muito bem que estava
SRA. SMITH: É triste ficar viúva tão nova. brincando! (Ele a toma pela cintura e a beija.) Que par de amantes bobos somos
SR. SMITH: Ainda bem que eles não têm filhos. nós! Vem, vamos desligar e dormir.
SRA. SMITH: Era o que faltava! Filhos! Coitada, como é que ela havia de se
arranjar! (CAPELA 2)
SR. SMITH: Ela ainda é nova. Pode casar-se novamente. Fica muito bem de luto.
SRA. SMITH: Mas quem tomará conta das crianças? Você bem sabe que eles têm Baby me diga como você é?
um menino e uma menina. Como é que se chamam mesmo? Eu sou assim um caso meio complicado
SRA. SMITH: Bobby e Bobby, como os pais. O tio de Bobby Watson, o velho Em uma atmosfera do lado errado
Bobby Watson, é um homem muito rico e adora o garoto, e poderia muito bem Tudo começa sem nenhuma explicação
encarregar-se da educação de Bobby. Basta um pouquinho de interpretação
SRA. SMITH: Você está se referindo a Bobby Watson o caixeiro viajante? Eu sou assim diferente de tudo diferente do mundo diferente de mim
Eu sou assim diferente de tudo diferente do mundo diferente de mim (O Sr. e a Sra. Martin sentam-se frente a frente, sem se falarem. Sorriem um para
E eu vou vivendo um caso surreal fora de um contexto teatral o outro, timidamente. O diálogo que se segue deve ser dito com voz arrastada,
E eu vou vivendo fora da lei monótona, meio cantante, sem nuances)
Dentro de um teatro que eu não sei
SR. MARTIN: Desculpe minha senhora, mas me parece, se não estou enganado,
Eu sou assim diferente de tudo diferente do mundo diferente de mim
que a conheço de algum lugar.
Eu sou assim diferente de tudo diferente do mundo diferente de mim
SRA. MARTIN: Eu também, meu senhor, parece que o conheço de algum lugar.
SR. MARTIN: Por acaso, minha senhora, eu não a teria visto em Manchester?
CENA II
SRA. MARTIN: É bem possível. Eu sou da cidade de Manchester! Mas não me
MARY (entra): Eu sou a empregada. Passei uma tarde muito agradável. Fui ao
lembro muito bem, meu senhor, eu não poderia dizer se o vi ou não!
cinema com um homem e assisti a um filme com mulheres. Quando acabou a
SR. MARTIN: Meu Deus, que curioso! Eu também sou da cidade de Manchester,
sessão. Fomos beber leite com aguardente. Depois ficamos lendo o jornal.
minha senhora!
SRA. SMITH: Espero que você tenha passado uma tarde muito agradável, que
SRA. MARTIN: Que curioso!
tenha ido ao cinema com um homem e bebido leite com aguardente.
SR. MARTIN: Que curioso! … Só que eu, minha senhora, saí de Manchester há
SR. SMITH: E que tenha lido o jornal!
mais ou menos cinco semanas!
MARY: O Sr. e a Sra. Martin, seus convidados, estão aí na porta. Eles estavam à
SRA. MARTIN: Que curioso! Que estranha coincidência! Eu também, meu
minha espera. Não se atreveram a vir por si sós. Eles supõem que irão jantar com
senhor, saí da cidade de Manchester há mais ou menos cinco semanas.
vocês esta noite.
SR. MARTIN: Peguei o trem das oito e meia da manhã, que chega em Londres às
SRA. SMITH: Ah, sim. Nós os estávamos esperando. E estamos famintos. Que
quinze para as cinco, minha senhora.
não se perceba que íamos começar a jantar sem eles. Não comemos nada o dia
SRA. MARTIN: Que curioso! Que estranho! E que coincidência! Eu também
todo. Você não devia ter saído!
peguei o mesmo trem, meu senhor.
MARY: Mas foram vocês me deram permissão
SR. MARTIN: Meu Deus, que curioso! Então, minha senhora, talvez eu a tenha
SR. SMITH: Nós não fizemos isso de propósito.
visto no trem? Meu lugar era no vagão número oito, sexto compartimento, minha
MARY (Acesso de risos e, em seguida, acesso de lágrimas. Então sorri): Eu
senhora!
comprei um penico.
SRA. MARTIN: Que curioso! Meu lugar também era no vagão número oito,
SRA. SMITH: Por favor, querida Mary, faça os Martin entrar. Nós vamos trocar
sexto compartimento, meu caro senhor!
de roupa.
SR. MARTIN: Que curioso e que estranha coincidência! Talvez nós tenhamos nos
CENA III
encontrado no sexto compartimento, minha cara senhora?
(Sr. e Sra. Smith saem pela direita. Mary abre a porta pela esquerda para que Sr.
SRA. MARTIN: É bem possível, afinal! Mas eu não me lembro, meu caro
e Sra. Martin entrem.) senhor!
MARY: Porque chegaram tão tarde! Vocês não têm educação. Têm que chegar (Um momento de silêncio. O relógio bate)
cedo. Entenderam? Mas sentem-se ali, em todo o caso, agora é esperar uma vez SR. MARTIN: Desde que cheguei a Londres, moro na Rua Bromfield, minha cara
que já estão aqui. (Ela sai.) senhora.
CENA IV SRA. MARTIN: Que curioso, que estranho! Eu também, desde a minha chegada a
Londres, moro na Rua Bromfield, meu caro senhor.
SR. MARTIN: Que curioso, mas então, talvez nós tenhamos nos encontrado na
Rua Bromfield, minha cara senhora.
SRA. MARTIN: Que curioso, que estranho! É bem possível, afinal! Mas eu não SR. MARTIN: (após refletir longamente, levanta-se lentamente e, sem se
me lembro meu caro senhor. apressar, dirige-se até a Sra. Martin que, surpresa com o ar solene do Sr. Martin,
SR. MARTIN: Eu moro no número dezenove, minha cara senhora. também se levantou, muito suavemente; o Sr. Martin fala com a mesma voz
SRA. MARTIN: Que curioso, eu também moro no número dezenove, meu caro singular, monótona, vagamente cantante) Então, minha cara senhora, creio que
senhor. não há duvida, nós já nos vimos e a senhora é minha própria esposa… Elisabeth,
SR. MARTIN: Mas então, mas então, mas então, mas então, mas então, talvez nós eu reencontrei você!
tenhamos nos visto naquela casa, minha cara senhora? (CAPELA 3)
SRA. MARTIN: É bem possível, mas eu não me lembro meu caro senhor.
SR. MARTIN: Meu apartamento fica no quinto andar, é o número oito, minha SR. MARTIN I've got sunshine on a cloudy day.
cara senhora. When it's cold outside I've got the month of May.
SRA. MARTIN: Que curioso, meu Deus, que estranho! E que coincidência! Eu I guess you'd say
também moro no quinto andar, no apartamento número oito, meu caro senhor. What can make me feel this way?
SR. MARTIN: Que curioso, que curioso, que curioso e que coincidência! Sabe, My girl (my girl, my girl)
no meu quarto, eu tenho uma cama. Minha cama fica coberta com um edredom Talkin' 'bout my girl (my girl).
verde, encontra-se no fim do corredor, entre o lavabo e a biblioteca, minha cara
senhora! SRA. MARTIN I've got so much honey, the bees envy me.
SRA. MARTIN: Que coincidência, ah meu Deus, que coincidência! Meu quarto I've got a sweeter song than the birds in the trees.
também tem uma cama com um edredom verde e se encontra no fim do corredor, I guess you'd say
entre o lavabo, meu caro senhor, e a biblioteca! What can make me feel this way?
SR. MARTIN: Que estranho, que curioso! Então, minha senhora, moramos no My girl (my girl, my girl)
mesmo quarto e dormimos na mesma cama, minha cara senhora. Talvez seja lá que Talkin' 'bout my girl (my girl).
nós tenhamos nos encontrado! SRA. MARTIN: Donald it’s you, Darling!
SRA. MARTIN: Que curioso e que coincidência! É bem possível que tenhamos (Eles se sentam na mesma poltrona, permanecem abraçados e adormecem. O
nos encontrado lá, e talvez até mesmo na noite passada. Mas eu não me lembro relógio bate ainda várias vezes. narradores na ponta dos pés, um dedo nos lábios,
meu caro senhor. entra suavemente em cena e dirige-se ao público)
SR. MARTIN: Eu tenho uma filhinha, minha filhinha, ela mora comigo, minha
cara senhora. Ela tem dois anos, é loira, tem um olho branco e um olho vermelho, CENA V
é muito bonita e se chama Alice, minha cara senhora. 2 narradores: Elizabeth e Donald estão agora muito felizes. Não poderão ouvir-
SRA. MARTIN: Que estranha coincidência! Eu também tenho uma filhinha, ela me, portanto. Posso então revelar-lhes um pequeno segredinho. Elizabeth não é
tem dois anos, um olho branco e um olho vermelho, é muito bonita e também se Elizabeth; Donald não é Donald. E aqui está a prova: a filha de que fala Donald,
chama Alice, meu caro senhor. não é filha de Elizabeth; as duas não são a mesma criança. A filhinha de Donald
SR. MARTIN: (com a mesma voz arrastada, monótona) Que curioso e que tem um olho branco e outro vermelho exatamente como a filhinha de Elizabeth.
coincidência! E estranho! Talvez seja a mesma, minha cara senhora! Mas acontece que a filhinha de Donald tem um olho branco à direita e um olho
SRA. MARTIN: Que curioso! É bem possível, meu caro senhor. vermelho à esquerda e a filhinha de Elisabeth tem um olho vermelho à direita e
(Um momento de silêncio bem longo. O relógio bate nove vezes) um olho branco à esquerda!
3 narrador: Assim, todo sistema de dedução do Donald desmorona quando vai de SR. SMITH & SRA. SMITH : MARY!!!
contra a este obstáculo que destrói sua teoria. Apesar da extraordinária (mary chega entusiasmada)
coincidência que parecem ser provas definitivas, Donald e Elizabeth, que não são Mary: Madame… senhor
pais da mesma criança, não são também Donald e nem Elizabeth. É em vão ele SRA. SMITH: Ligue a vitrola
pensar que é o Donald, é em vão ela pensar que é a Elizabeth. Ele acredita em vão (mary anda em direção a vitrola, e a liga)
que ela é a Elizabeth. Ela acredita em vão que ele é o Donald - eles estão Mary: Madame, me parece que existe algo muito estranho dentro da tuba.
tristemente enganados. SRA. SMITH: Não seria a minha falecida avó?
Os 3 narradores juntos: Mas quem é o verdadeiro Donald? Quem é a verdadeira MARY: Não, é algo junto ao corpo. Como um bônus.
Elizabeth? Quem tem qualquer interesse em prolongar esta confusão? Eu não sei. SR. SMITH: deixe-me ver. (levanta e vai em direção a tuba.)
Não vamos tentar saber. Vamos deixar as coisas como são. (Mary toma vários (os outros, curiosos fazem o mesmo)
passos em direção a porta e, em seguida, volta e diz para a platéia:) Meu SR. MARTIN: Oh, mas me parece que é uma mensagem.
verdadeiro nome é Sherlock Holmes. (sai.) SRA. MARTIN: Oh uma carta.
CENA VI SRA. SMITH: Mas de quem será a mensagem.
(O relógio bate. Depois de alguns segundos, Senhor e Sra. Martin separados, (entra narrador 1, enquanto personagens ao fundo congelam)
sentam-nos mesmos assentos do início.) Narrador 1: Como os nossos personagens estão abaixo da linha de QI de 34, não
CENA VII perceberam que a carta junto ao corpo da falecida avó de SRA. SMITH, era uma
(Sr. e Sra. Smith entram pela direita, sem haver mudado absolutamente a roupa.) mensagem de suicídio destinada ao seu amante SR. SMITH, que também não
SRA. SMITH: Boa noite, caros amigos! saberá do suicídio repentino da avó de SRA. SMITH que tragicamente se entregou
SR. SMITH (furioso): Nós não comemos o dia todo. E ficamos por quatro horas a música e se jogou dentro da vitrola.
esperando vocês. Por que chegaram tão tarde? Narrador 2: A avó de SRA. SMITH sofria de esquizofrenia, semiológica,
NARRADOR - Sr. e Sra. Smith sentam em frente aos convidados. O relógio bate patológica, homeopática, bipolar, vulcânica, aguda, o que a levou a loucura, o que
subliminar à conversação da platéia, mais ou menos forte, de acordo com o caso. a levou a se jogar dentro da vitrola.
Os Martin, particularmente Sra. Martin, parece envergonhada e tímida. Por este JUNTOS: o que a levou a morte.
motivo, a conversa começa com dificuldade e as palavras são ditas, no início, (sai narrador)
embaraçadamente. Em primeiro um longo silêncio constrangedor, depois mais Mary: Oh, só lendo para saber.
silêncio seguido de hesitações. (SR. MARTINS pega a carta dentro da vitrola e a entrega para a esposa)
SR. SMITH: Hm. (Silencio.) SR. MARTINS: Vamos Darling, leia a carta.
SRA. SMITH: Hm, hm. (Silencio.) SRA. MARTIN: (começando a leitura com vontade)
SRA. MARTIN: Hm, hm, hm. (Silencio.) “Enfunando os papos
SR. MARTIN: Hm, hm, hm, hm. (Silencio.) Saem da penumbra,
SRA. MARTIN: Ah, decididamente. (Silencio.) Aos pulos, os sapos,
SR. MARTIN: Estamos todos gripados. (Silencio.) A luz os deslumbra.
SR. SMITH: Não está fazendo frio, porém. (Silencio.) Mary: (toma a carta da mão de SRA. MARTIN e continua a leitura muito
SRA. SMITH: Não há corrente de ar. (Silencio.) confusa)
SR. MARTIN: Ah não, felizmente. (Silencio.) Em ronco que aterra,
SR. SMITH: (interrompendo) Não seria, bom um pouco de música? Berra o sapo-boi:
‘- Meu pai foi à guerra SR. SMITH: Ah, la, la, la, la. (Como se cantasse)
- Não foi – Foi – Não foi!’ O sapo-tanoeiro SRA. SMITH: Oh, falecida avó, que deus a tenha.
Parnasiano aguado SR. SMITH: Ou os sapos do brejo. (arranca a carta da mão de SRA. SMITH e a
Diz: - ‘Meu cancioneiro joga ao ar.)
É bem martelado*’ SRA. SMITH (para os Martin): Vocês que viajam bastante, devem, portanto ter
MARY: hã? coisas bem interessantes para nos contar.
(os outros olhando por cima do ombro de Mary, curiosos, começam a ler a carta SR. MARTIN (à esposa): Diga querida, o que foi que você viu hoje?
em voz alta, então entra a capela, e todos juntos cantando.) SRA. MARTIN: Não vale a pena, vocês não iriam acreditar
(CAPELA) SR. SMITH: Não poremos em dúvida a sua boa fé!
SRA. SMITH: Ficaríamos ofendidos se pensassem tal coisa.
Vede como primo SR. MARTIN (à esposa): Você os ofenderia querida se pensasse...
Em comer os hiatos! SRA. MARTIN (graciosa): Bem, eu vi hoje, uma coisa extraordinária, uma coisa
Que arte! E nunca rimo incrível.
Os termos cognatos. SR. MARTIN: Diga depressa querida.
O meu verso é bom SR. SMITH: Ótimo! Vamos nos divertir um pouco.
SRA. SMITH: Finalmente!
Frumento* sem joio.
SRA. MARTIN: Muito bem, hoje eu saio para comprar legumes no mercado, que,
Faço rimas com aliás, estão cada vez mais caros.
versos de apoio. SRA. SMITH: Onde é que nós vamos parar!
Longe dessa grita, SR. SMITH: Querida não interrompa, isso é muito grosseiro.
Lá onde mais densa SRA. MARTIN: Eu vi na rua, ao lado de um bar, um senhor bem vestido, de uns
A noite infinita cinqüenta anos mais ou menos...
Verte a sombra imensa; SR. SMITH: O quê, quem?
Lá fugido ao mundo, SRA. SMITH: O quê, quem?
Sem glória, sem fé. SR. SMITH (à esposa): Não interrompa querida. Você é desagradável!
No perau profundo SRA. SMITH: Querido, foi você que interrompeu primeiro, grosseirão.
E solitário, é SR. SMITH (à esposa): Psiu! (a Sra. Martin:) E o que é que esse senhor estava
Que soluças tu, fazendo?
Transido de frio, SRA. MARTIN: Bom, vocês vão dizer que eu estou inventando; ele estava
Sapo-cururu ajoelhado e estava curvado...
Da beira do rio ... Sapo cururu, da beira do rio, quando o sapo canta o poema SR. MARTIN, SR. SMITH, SRA. SMITH: Oh!
Transido de frio 2X SRA. MARTIN: Sim, curvado
SR. SMITH: Não é possível
(Mary vai saindo junto com a capella, e todos vão tomando os seus lugares) SRA. MARTIN: Sim, curvado. Eu me aproximei dele para ver o que estava
fazendo...
SR. SMITH: E?
SRA. MARTIN: E ele estava amarrando os cadarços. SRA. SMITH: A teoria é correta. Mas, na realidade, as coisas acontecem de forma
SR. MARTIN, SR. SMITH, SRA. SMITH e toda a capella: Fantástico! diferente. Você acabou de ver o contrário.
SR. SMITH: Se outra pessoa me contasse, eu não acreditaria. SRA. MARTIN: Sua esposa está certa.
SR. MARTIN: Por que não? Andando pela rua vêem-se coisas mais SR. MARTIN: Oh! Vocês mulheres! Sempre defendendo umas as outras.
extraordinárias ainda. Hoje, por exemplo, eu mesmo vi, no metrô, sentado num SRA. SMITH: Bem, eu vou atender. Você pode dizer que sou teimosa, mas você
banco, um senhor que lia tranqüilamente o jornal. viu que não havia ninguém! (Ela vai olhar, abre a porta e fecha.) Viu, não há
SRA. SMITH: Que coisa incrível! ninguém.
SR. SMITH: Talvez seja o mesmo homem do sapato! (Ela retorna ao seu lugar.)
(A campainha toca.) SRA. SMITH: Ah, esses homens que sempre pensam que estão certos e quem
SR. SMITH: Meu Deus, alguém está tocando a campainha. sempre estão errados!
SRA. SMITH: Deve haver alguém na porta. Eu vou atender. (A campainha toca novamente.)
(Ela vai ver, abre a porta e fecha, e volta.) Ninguém. (senta.) SR. SMITH: Meu Deus, alguém está tocando a campainha. Deve haver alguém na
SR. MARTIN: Eu vou lhes dar outro exemplo... porta.
(Campainha toca novamente.) SRA. SMITH (Num acesso de raiva): Não me mande mais abrir à porta. Você
SR. SMITH: Meu Deus, alguém está tocando a campainha. bem viu que é inútil, porque a experiência nos ensina que quando tocam a
SRA. SMITH: Deve haver alguém na porta. Eu vou atender. (Ela vai, abre a campainha não tem ninguém.
porta, e volta.) Não era ninguém. (senta-se.) SRA. MARTIN: Jamais tem gente.
SR. MARTIN (esquece o que estava falando): Uh... SR. MARTIN: Isso não é certo.
SRA. MARTIN: Você estava nos dizendo que ia dar outro exemplo. SR. SMITH: De fato não é certo. Quando se escuta a campainha tocar, é porque
SR. MARTIN: Ah, sim... quem tem alguém tocando.
(Campainha toca novamente.) SRA. SMITH: Ele nunca dá o braço a torcer.
SR. SMITH: Meu Deus, alguém está tocando a campainha. SRA. MARTIN: O meu marido nunca dá o braço a torcer também.
SRA. SMITH: Eu não vou abrir a porta novamente. SR. SMITH: Há alguém na porta.
SR. SMITH: Sim, deve haver alguém lá! SR. MARTIN: Não é impossível.
SRA. SMITH: Da primeira vez não havia ninguém. Na segunda, ninguém. O que SRA. SMITH (ao marido): Não.
lhe faz pensar que agora na terceira vez há alguém? SR. SMITH: Sim.
SR. SMITH: Porque há alguém tocando! SRA. SMITH: Eu vos digo que não. Em todo caso, você não vai me fazer ir lá
SRA. MARTIN: Tem razão. novamente. Se você deseja saber, vá você mesmo olhar!
SR. MARTIN: O que? Quando se escuta a campainha, significa que alguém está SR. SMITH: Eu vou.
tocando e que a porta deve ser aberta. (Sra. Smith dá de ombros. Sra. Martin levanta a cabeça.)
SRA. MARTIN: Nem sempre. Você acabou de ver o contrário! SR. SMITH (abrindo a porta): Oh! Olá como vai? (Ele espia pelo canto de olho
SR. MARTIN: Na maioria dos casos, sim. Sra. Smith e os Martin, quem estão surpresos.) É o capitão dos bombeiros!
SR. SMITH: Cá pra mim, quando vou visitar alguém, eu toco a campainha para
ser atendido. E creio que todos fazem a mesma coisa, então toda vez que ela toca CENA VIII
deve haver alguém na porta. CAPITÃO (ele está naturalmente de uniforme e usando um enorme capacete
brilhante): Boa noite, senhoras e senhores. (Os Smith e os Martin ainda estão um
pouco espantados. Sra. Smith mexe a cabeça, com raiva, e não responde ao SR. SMITH (à esposa, triunfante): Vê? Eu estava certo. Quando você ouvir a
cumprimento do capitão.) campainha, é porque que tem alguém tocando. É você certamente não pode dizer
que o capitão não é ninguém.
CAPITÃO: Boa noite, Sra. Smith. A senhora parece zangada. SRA. SMITH: Certamente que não. E repito a você que eu estava falando
SRA. SMITH: Oh! somente das três primeiras vezes, pois a quarta vez não conta.
SR. SMITH: Isso é porque está um pouco contrariada por ter sido provado que SRA. MARTIN: E quando a campainha tocou pela primeira vez, era você?
estava errada. CAPITÃO: Não, não era eu.
CAPITÃO: Não se exaltem. Conte-me Sra. Smith. SRA. MARTIN: Vê? A campainha tocou e não havia ninguém.
SRA. SMITH: Bem, era isso mesmo. É difícil falar abertamente com você, mas SR. MARTIN: Não terá sido talvez outra pessoa?
um bombeiro também é confessor. SR. SMITH: Você estava em frente à porta há muito tempo?
CAPITÃO: Bem, então? CAPITÃO: Há quarenta e cinco minutos.
SRA. SMITH: Nós estávamos discutindo porque meu marido disse que cada vez SR. SMITH: E não viu ninguém?
que a campainha toca, é porque deve haver alguém na porta. CAPITÃO: Ninguém. Tenho certeza.
SR. MARTIN: É plausível. SRA. MARTIN: E escutou quando a campainha tocou pela segunda vez?
SRA. SMITH: E eu estava dizendo que toda vez que a campainha toca não tem CAPITÃO: Sim, e não fui eu. E não havia ninguém lá.
ninguém. SRA. SMITH: Vitória! Eu estava certa.
SRA. MARTIN: Pode parecer estranho. SR. SMITH (à esposa): Não tão rápido. (ao capitão:) E o que estava fazendo na
SRA. SMITH: Mas isso ficou provado, não pelas demonstrações teóricas, mas porta?
pelos fatos. CAPITÃO: Nada. Estava apenas parado lá. Estava pensando em um monte de
SR. SMITH: É falso, uma vez que o capitão está aqui. Ele tocou a campainha, eu coisas.
abri a porta, ele está aqui. SR. MARTIN (ao capitão): Mas na terceira vez – não foi você quem tocou?
SRA. MARTIN: Quando? CAPITÃO: Sim, fui eu.
SR. MARTIN: Agora. SR. SMITH: Mas quando a porta foi aberta não havia ninguém.
SRA. SMITH: Sim, mas foi somente na quarta vez que a campainha tocou que CAPITÃO: Porque eu estava escondido – rindo.
havia alguém na porta. E a quarta vez não conta. SRA. SMITH: Não faça brincadeiras, capitão. Isso é muito feio.
SRA. MARTIN: Nunca. Somente as três primeiras vezes que contam. SR. MARTIN: Em suma, ainda não sabemos se quando a campainha toca, tem
SR. SMITH: Capitão permita-me a vez de lhe fazer algumas perguntas. alguém ou não!
CAPITÃO: Vá em frente. SRA. SMITH: Nunca tem alguém.
SR. SMITH: Quando abri a porta e o vi, foi você quem realmente tocou a SR. SMITH: Sempre tem alguém.
campainha? CAPITÃO: Vou reconciliar-los. Vocês estão em partes certos. Quando a
CAPITÃO: Sim, fui eu. campainha toca, ás vezes tem alguém, às vezes não tem ninguém.
SR. MARTIN: Você estava na porta? E você tocou a campainha para ser SR. MARTIN: Faz sentido pra mim.
recebido? SRA. MARTIN: Creio que sim.
CAPITÃO: Não nego isso. CAPITÃO: As coisas são simples, de verdade. (aos Smith:) Vamos, beijem-se.
SRA. SMITH: Nós nos beijamos ainda há pouco atrás.
SR. MARTIN: Eles se beijarão amanhã. Eles têm tempo suficiente.
SRA. SMITH: Capitão, uma vez que nos ajudou a resolver isso, por favor, sinta- CAPITÃO: Nem inundações.
se à vontade, tire seu capacete e sente-se um pouco. SRA. SMITH: Mas tem açúcar.
CAPITÃO: Desculpe-me, mas não posso ficar muito tempo. Eu gostaria de tirar SR. SMITH: Isso porque é importado.
meu capacete, mas não tenho tempo pra sentar. Eu vim aqui por outro motivo. SRA. MARTIN: É mais difícil no caso dos incêndios. As tarifas são altas demais!
Estou em missão oficial. SRA. SMITH: Capitão, uma vez que não está com presa, fique um pouco mais.
SRA. SMITH: E o que podemos fazer por você, Capitão? Estaria nos fazendo um favor.
CAPITÃO: Peço-lhe minhas desculpas pela indiscrição (terrivelmente CAPITÃO: Posso lhes contar uma história?
envergonhado)... Hum SRA. SMITH: Ah, sem dúvidas, você é amável. (Ela o beija.)
(Ele aponta para os Martin)... Vocês não sem importam... Na frente deles... SR. SMITH, SRA. MARTIN, SR. MARTIN: Sim, sim, histórias, viva!
SRA. MARTIN: Diga o que quiser. (Eles aplaudem.)
SR. MARTIN: Somos velhos amigos. Eles nós contam tudo. SR. SMITH: E o que é ainda mais interessante é o fato de as histórias dos
SR. SMITH: Fale. bombeiros serem todas verdadeiras, e são baseadas na experiência.
CAPITÃO: Er, bem – há algum incêndio aqui? CAPITÃO: Falo de minha própria experiência. A verdade, nada mais que a
SRA. SMITH: Porque está nos perguntando isso? verdade. Nenhuma ficção.
CAPITÃO: É porque – perdoem-me – eu tenho ordens para apagar todos os SR. MARTIN: Isso mesmo. A verdade nunca é encontrada em livros, somente na
incêndios ocorridos na cidade. vida.
SRA. MARTIN: Todos? SRA. SMITH: Comece!
CAPITÃO: Sim, todos. SR. MARTIN: Comece!
SRA. SMITH (confusa): Não sei... Acho que não. Você quer que eu vá olhar? SRA. MARTIN: Quietos, ele está começando.
SR. SMITH (fungando): Não têm incêndio aqui. Não há nem cheiro de fumaça. CAPITÃO: (tosse discretamente várias vezes) Desculpe-me, não olhem pra mim
CAPITÃO (magoado): Nenhum? Nem um foguinho na chaminé, algo queimando dessa maneira. Vocês me deixam acanhado. Sabem muito bem que sou tímido.
no sótão ou no porão? Nem um principiozinho de incêndio, pelo menos? SRA. SMITH: Ele não é amável! (Ela o beija.)
SRA. SMITH: Costumava ser confusa, mas agora eu não sei. Lamento ter que CAPITÃO: De qualquer forma vou começar. Mas prometam-me que não irão
desapontá-lo, mas eu não acredito que haja qualquer coisa aqui no momento. prestar atenção.
Prometo que vou notificá-lo quando tivermos algo. SRA. MARTIN: Mas se nós não prestarmos atenção não vamos ouvir-lo.
CAPITÃO: Por favor, não esqueça, seria de grande ajuda. CAPITÃO: Eu não acho isso!
SRA. SMITH: Isto é uma promessa. SRA. SMITH: Eu disse, ele é apenas um garoto.
CAPITÃO (aos Martin): E na casa de vocês não há nada queimando? SR. MARTIN, SR. SMITH: Ah, que garoto amável! (Eles o beijam.)
SRA. MARTIN: Não, infelizmente. SRA. MARTIN: Não desanime!
SR. MARTIN (ao capitão): As coisas não estão indo bem. CAPITÃO: Bem, então! (Ele tosse novamente com a voz emocionada:) "O cão e
CAPITÃO: Muito mal. Quase nada, uma mixaria – uma chaminé, um celeiro. a vaca", uma fábula experimental. Era uma vez outra vaca que perguntou a outro
Nada importante. E não rende muito. E uma vez que não há retorno, os lucros na cão: "Porque você não engoliu sua tromba?" "Perdoe-me," respondeu o cão, "É
produção são muito escassos. porque eu pensei que era um elefante."
SR. SMITH: Tempos ruins. Essa é a verdade. Para os negócios, para agricultura, SRA. MARTIN: Qual é a moral?
para os incêndios, nada está prosperando. CAPITÃO: Isso você deve descobri.
SR. MARTIN: Sem trigo, sem fogo. SR. SMITH: Ele está certo.
SRA. SMITH (furioso): Conte-nos outro. SR. SMITH: É verdade. A minha mulher é a inteligência personificada. É mesmo
CAPITÃO: Vou-lhes contar outra: "O Galo". Era uma vez, um galo que queria mais inteligente Do que eu. Em todo o caso é muito mais feminina. Dizem.
brincar com o cão. Mas ele não teve sorte porque todos o reconheciam
imediatamente. CENA IX
SRA. SMITH: Por outro lado, o cão que queria brincar com o galo nunca fora (Mary entra.)
reconhecido. MARY:Madame... Senhor...
SR. SMITH: Vou contar-lhes uma: "A serpente e a raposa". Certa vez, uma SRA. SMITH: O que você quer?
serpente, aproximando-se de uma raposa disse-lhe: "Parece-me que já a conheço". SR. SMITH: O que a traz aqui até nós?
A raposa respondeu: "A mim também". "Então", disse a serpente, ”me dá MARY: Espero que a madame e senhor me desculpem... E também as senhoras e
dinheiro". "Raposa não dá dinheiro". Respondeu o ousado animal, que para os senhores... Eu gostaria... Eu gostaria... De contar-lhes uma anedota.
escapar, saltou num vale profundo, cheio de pés de framboesa e de mel de galinha. SRA. MARTIN: O que ela está dizendo?
A serpente já estava esperando, rindo com um sorriso mefistofélico. A raposa SR. MARTIN: Eu acredito que a empregada, nossa amiga, está ficando louca...
puxou a faca urrando: "Eu vou te ensinar a viver". Depois fugiu, virando as costas. Ela também quer nos contar uma anedota.
Não conseguiu, a serpente foi mais esperta. Com um soco bem dado bateu na CAPITÃO: Quem ela pensa que é? (Ele olha pra ela.) Oh!
raposa, no meio da testa que se quebrou em mil pedaços, gritando: “Não, não! SRA. SMITH: Por que você está se intrometendo?
Quatro vezes não! Eu não sou sua filha!” SR. SMITH: Isto é realmente desnecessário, Mary...
SRA. MARTIN: É bem interessante. CAPITÃO: Ah! Mas é ela! Não é possível!
SRA. SMITH: Não é má. SR. SMITH: E você?
SR. MARTIN (apertando a mão do Sr. Smith): Meus parabéns. MARY: Não é possível! Aqui?
CAPITÃO (com inveja): Não foi tão bom. E de qualquer forma, eu já tinha SRA. SMITH: O que significa tudo isso?
escutado essa antes. SR. SMITH: Você conhece se conhecem?
SR. SMITH: É terrível. CAPITÃO: E como!
SRA. SMITH: Mas era mesmo verdade. (Mary joga-se sobre o colo Capitão.)
SRA. MARTIN: Sim, infelizmente. MARY: Estou tão contente de vê-lo novamente... Finalmente!
SR. MARTIN (a Sra. Smith): É sua vez, madame. SR. E SRA. SMITH: Ah!
SRA. SMITH: Eu só conheço uma. E vou contar-lhes agora. Chama-se "O SR. SMITH: Isso é demais, aqui, em nossa casa, no subúrbio de Londres.
Bouquet". SRA. SMITH: Não é apropriado!...
SR. SMITH: Minha esposa sempre foi romântica. CAPITÃO: Foi ela quem apagou meus primeiros focos.
SR. MARTIN: É uma verdadeira inglesa. MARY: Sou seu pequeno jato d’água.
SRA. SMITH: Aqui está: Era uma vez, um noivo que tinha dado um bouquet de SR. MARTIN: Se esse é o caso... Caros amigos... São sentimentos
flores para sua noiva, que disse "Obrigada", mas antes, ela tinha dito "Obrigada," compreensíveis, humanos, honrados...
ele, sem dizer uma única palavra, pegou todas as flores que tinha dado a ela a fim SRA. MARTIN: Todo humano é honrado.
de lhe ensinar uma boa lição, e ainda disse: "Vou pega-las de volta." E completou SRA. SMITH: Mesmo assim, não gosto de vê-la... Aqui entre nós...
dizendo, "Adeus," e tomou-as de volta em seguida. SR. SMITH: Ela não foi educada apropriadamente...
SR. MARTIN: Oh, encantador! (Ele quer e não quer beijar a Sra. Smith.) CAPITÃO: Ah, vocês têm muitos preconceitos.
SRA. MARTIN: Você tem uma esposa, Sr. Smith, de nos dar inveja.
SRA. MARTIN: Eu acho que é uma empregada, afinal, embora não seja da minha CAPITÃO: Espere um pouco... Admito... Tudo isso é muito subjetivo... Mas na
conta, não é nada mais que uma empregada... minha concepção de mundo. Meu mundo. Meu sonho. Meu ideal... E agora, isto
CAPITÃO: Solte-me. me lembra que preciso ir.
MARY: Não se preocupe!... Eles não são tão perversos como parece. SR. SMITH: Bem, estamos tristes com sua partida.
SR. SMITH: Hm... Hm... Vocês são muito comoventes, mas ao mesmo tempo, um SRA. SMITH: Você foi muito divertido.
pouco... Um pouco... SRA. MARTIN: Obrigada, nós passamos verdadeiros cinqüenta minutos
SR. MARTIN: Sim, esta é exatamente a palavra. cartesianos.
SR. SMITH:... Um pouco exibidos também... CAPITÃO (indo para a porta, e parando): A propósito… e a cantora careca?
SR. MARTIN: É uma modéstia peculiar britânica, perdoe-me, mais uma vez, por (Silêncio geral, embaraço.)
tentar explicar meus pensamentos, não compreendido por estrangeiros, mesmo por SRA. SMITH: Continua a usar o mesmo penteado.
especialistas, graças a qual, posso me expressar assim... Enfim, eu não estava CAPITÃO: Ah! Adeus senhoras e senhores.
dizendo isso a vocês... SR. MARTIN: Boa sorte, e bom incêndio!
MARY: Eu estava contando... CAPITÃO: Vamos esperar por eles, todos nós.
SR. SMITH: Você não vai contar nada... (O Capitão sai. Todos o acompanham até a porta e retornam aos seus assentos.)
MARY: Ainda sim, eu poderia recitar-lhes um pequeno poema
SRA. SMITH: Querida Mary você é terrivelmente teimosa. CENA XI
MARY: Então, vou recitar-lhes um poema, está bem? Intitula-se "O Fogo" em
homenagem ao capitão: SRA. MARTIN: Eu posso comprar um canivete para meu irmão, mas você não
O Fogo (capela ao fundo) * pode comprar a Irlanda para o seu avô.
Os vaga-lumes brilham na floresta. Uma pedra pega fogo. O castelo pega fogo. A SR. SMITH: A gente anda com os pés, mas a gente se esquenta com eletricidade
floresta pega fogo. Os homens pegam fogo. As mulheres pegam fogo. Os ou carvão.
passarinhos pegam fogo. Os peixinhos pegam fogo. A água pega fogo. O céu pega SR. MARTIN: Aquele que hoje vende um boi, amanhã terá um ovo
fogo. As cinzas pegam fogo. A fumaça pega fogo. O fogo pega fogo. Tudo pega SRA. SMITH: Na vida é preciso olhar pela janela.
fogo. Pega fogo, pega fogo. SRA. MARTIN: Pode-se sentar numa cadeira, embora não haja cadeira.
(capitão corre para pegar um extintor e apaga o “fogo” de Mary) SR. SMITH: É necessário sempre pensar em tudo.
(Ela continua recitando as palavras finais enquanto os narradores a tiram do SR. MARTIN: O teto fica em cima, o chão fica em baixo.
palco a) SRA. SMITH: Quando eu digo sim é uma maneira de falar.
CENA X SRA. MARTIN: Cada qual com seu destino.
SR. SMITH: Pegue um circulo, faça uma carícia e ele ficará vicioso.
SRA. MARTIN: Isso meu deu um arrepio na espinha... SRA. SMITH: Um professor ensina seus alunos a ler, mas as gatas amamentam
SR. MARTIN: Há um certo calor nesses versos... seus filhotes quando são pequenos.
CAPITÃO: Eu achei maravilhoso. SRA. MARTIN: Enquanto a vaca nos dá a sua cauda.
SRA. SMITH: Ainda assim... SR. SMITH: Quando eu estou no campo, adoro solidão e sossego.
SR. SMITH: Você está exagerando... SR. MARTIN: Você ainda não está velho o suficiente para isso.
SRA. SMITH: Benjamin Franklin tinha razão: você é menos tranqüilo que ele.
SRA. MARTIN: Quais são os sete dias da semana?
SR. SMITH: Monday, Tuesday, Wednesday, Thursday, Friday, Saturday, Sunday. SRA. SMITH: Que cagada, que cagada, que cagada, que cagada, que cagada, que
SR. MARTIN: Edward is a clerk his sister Nancy is a typist, and his brother cagada, que cagada, que cagada, que cagada.
William a shop-assistant. SR. MARTIN: Que cascata de cagadas, que cascata de cagadas, que cascata de
SRA. SMITH: The book is on the table?(confusa) cagadas, que cascata de cagadas, que cascata de cagadas, ...
SRA. MARTIN: Eu prefiro um pássaro voando do que uma meia no carrinho de SR. SMITH: Cães têm pulgas, cães têm pulgas.
mão. SRA. SMITH: Caçador, nos caça.
SR. SMITH: Prefiro filé em um chalé do que leite em um palácio. SR. MARTIN: Eu prefiro pôr um ovo em uma caixa do que ir e roubar um boi.
SR. MARTIN: A casa de um Inglês é um verdadeiro palácio. SR. MARTIN: Vamos esbofetear Ulisses.
SRA. SMITH: Eu não sei espanhol o suficiente para minha própria compreensão. SR. SMITH: Concatenarei casa com coco de conga.
SRA. MARTIN: Eu vou te dar os chinelos da minha sogra se você me der o SRA. MARTIN: Dos cacaueiros nos cacauais não caem cocos, cai cacau! Dos
caixão do seu marido. cacaueiros nos cacauais não caem cocos, cai cacau! Dos cacaueiros nos cacauais
SR. SMITH: Eu estou à procura de um padre monofisita pra casar nossa não caem cocos, cai cacau!
empregada. SRA. SMITH: Ratos têm piolhos, piolhos não têm ratos.
SR. MARTIN: Pão é uma árvore, apesar de que o pão também é uma árvore, um SRA. MARTIN: Não estufo meu pantufo!
orvalho é um orvalho que brota todas as manhãs ao alvorecer. SR. SMITH: Não entroche a brocha, não embroche a toca.
SRA. SMITH: Meu tio vive no campo, mas isso não é da conta da parteira. SRA. MARTIN: A brocha chocha.
SR. MARTIN: Papel é para ser escrito, do gato para o rato. O queijo é para ser SRA. SMITH: Escache uma brocha.
raspado SR. MARTIN: Murche a sarja bruxa, Murche a sarja bruxa.
SRA. SMITH: O carro é muito rápido, mas o cozinheiro prepara os melhores SR. SMITH: Escaramuche a escaramucha!
pratos. SRA. MARTIN: Escaramucha!
SR. SMITH: Não sejam fracassados, abrace em lugar de conspirar. SRA. SMITH: Bruxa murcha!
SR. MARTIN: Charity begins at home. SR. MARTIN: Tu bruxa é trouxa.
SRA. SMITH: Estou esperando o aqueduto chegar e me ver no meu moinho. SR. SMITH: Você me entrouxa.
SR. MARTIN: Pode-se provar que o progresso social fica bem melhor com SRA. MARTIN: Bruxa murcha não entrouxa a trouxa.
açúcar. SRA. SMITH: "Vou-me embora pra Pasárgada."
SR. SMITH: Abaixo o engraxamento! SR. MARTIN: Sully!
2 NARRADORES: (gritando em meio a confusão) Após a última frase do Sr. SR. SMITH: Prudhomme!
Smith, os outros ficam calados por um momento, estupefatos. Deve-se sentir uma SRA. MARTIN, SR. SMITH: François!
certa irritação. As batidas do relógio devem ser mais nervosas ainda. Os SRA. SMITH, SR. MARTIN: Coppée!
discursos que se seguem devem ser ditos, em tom frio e hostil. A hostilidade e SRA. MARTIN: Espécie de gargarejos, espécie de gargarejadores.
nervosismo aumentam. (narradores saem) SR. MARTIN: Mariette, bunda de marmita!
SR. MARTIN: Não podemos polir esses óculos com graxa preta! SRA. SMITH: Krishnamurti, Krishnamurti, Krishnamurti!
SRA. SMITH: Sim, mas com dinheiro podemos comprar tudo o que quisermos. SR. SMITH: O Papo derrapa. O papa não papa o sopapo. O papo despapa por
SR. MARTIN: Eu prefiro matar um coelho do que cantar no jardim. sopapos!
SR. SMITH: Cacatuas, cacatuas, cacatuas, cacatuas, cacatuas... SRA. MARTIN: Bazar, Balzac, Bazaine!
SR. MARTIN: Bisar, bisou, bisonho!
SR. SMITH: A, e, i, o, u, a, e, i, o, u, a, e, i, o, u, i! Você me trata como um ser qualquer
SRA. MARTIN: B, c, d, f, g, h, l, m, n, p, q, r, s, t, v, w, x, z! Ah! Não me quer bem! Não me tem amor! Não me faz carinho! Não me da uma
SR. MARTIN: Do alho ao óleo, do óleo ao alho! flor!
(campanhinha toca)
SRA. SMITH (imitando um trem): Tchu, tchu, tchu, tchu, tchu, tchu, tchu, tchu, Por isso eu sou vingativa, vingativa, vingativa
tchu, tchu, tchu! Por isso eu sou vingativa, tenho até asco de você
SR. SMITH: Não!
SRA. MARTIN: é! Você fez de mim uma hipócrita
SR. MARTIN: Por! Você fez de mim uma cínica
SRA. SMITH: Lá! Você fez de mim uma mulher sem lar, uma malvada!
SR. SMITH: É!
SRA. MARTIN: Por! Por isso eu sou vingativa, vingativa, vingativa
SR. MARTIN: A! Por isso eu sou vingativa, tenho até asco de você... (aos poucos as luzes vão se
SRA. SMITH: Qui! acendendo, e todo o elenco está de costas colocando toucas brancas, então todos se
SR. SMITH: Não! viram ao som da cantora, se direcionam a frente do palco e começam a cantar
SRA. MARTIN: é! juntos.)
SR. MARTIN: Por!
SRA. SMITH: Lá! (as luzes se apagam)
SR. SMITH: É!
SRA. MARTIN: Por! SRA. MARTIN: Veja, são nove horas. Tomamos sopa, comemos peixe, batatas
SR. MARTIN: A! com toucinho e salada inglesa. As crianças beberam água inglesa. Comemos bem
SRA. SMITH: Qui! esta noite. É porque moramos nos arredores de Londres e o nosso nome é Smith.
TODOS: Não é por lá, é por aqui, não é por lá, é por aqui, não é por lá, é por aqui, SR. MARTIN: (continua a ler, estala a língua.)
não é por lá, é por aqui!
Narrador 1: Todos juntos, no máximo da fúria, berrando uns nos ouvidos dos ##############################FIM################################
outros. A luz diminui. Na escuridão, ouve-se num ritmo cada vez mais rápido:)
(as luzes se apagam, e uma luz focada ilumina uma cantora careca, que começa a
cantar)

CANTORA - Você fez de mim uma hipócrita


Você fez de mim uma cínica
Você fez de mim uma mulher sem lar, uma malvada!

Por isso eu sou vingativa, vingativa, vingativa


Por isso eu sou vingativa, tenho até asco de você

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