Central Ep01

Central
Série de
Evana Ribeiro
Episódio 1:01
(Piloto)
“E então nasceu o C.A.D!”
Personagens Participações especiais

Alfredo Amigos de Fred
Dominique Marião (dono da Caribe)
Frederico Marinho (filho de Marião)
Lolita Crianças brincando na rua
Neide
TV DESTINO ® - CENTRAL – Ep. 1:01 2
CENA 01
Tomada aérea da Avenida Recife no fim de uma tarde de sábado.
Acaba de chover. Muitos carros e ônibus passam tanto no sentido
subúrbio-cidade quanto cidade-subúrbio, mas o trânsito não está lento.
A tomada vai aproximando até fechar no ponto de ônibus na
frente do hipermercado Hiper Bompreço. Há apenas uma pessoa lá, cujo
rosto está coberto por um guarda-chuva cor-de-rosa que a protege dos
jatos de água lançados por carros e ônibus, que vão passando pelas
poças d’água sem diminuir a velocidade. Depois de um minuto sem
nenhum lançamento de água, o guarda-chuva é fechado, revelando
nossa primeira personagem: DOMINIQUE. Neste exato momento, passa
um ônibus em alta velocidade, lançando uma grande quantidade de
água em cima dela.
DOMI – Era só o que faltava... (grita, na direção para onde o ônibus vai)
Aproveita e joga o sabão amarelo!
Dominique abraça a própria bolsa e fica andando de um lado para

o outro. Um ônibus da linha CDU/Caxangá/Boa Viagem. Domi começa a
acenar desesperadamente, pedindo parada, e o ônibus pára bem na
frente dela. Freeze no momento em que ela está subindo no veículo.
Surge o letreiro com os seguintes dizeres:
Dominique. Heroína brega. Mal paga. Mal vestida. Recém desempregada.
A cena continua. Domi entra no ônibus, que segue o trajeto.
CORTA PARA
Escrito por Evana Ribeiro – em 02/09/2007 – exibido em 05/10/2007 –

todos os direitos reservados.
CENA 02 – ÔNIBUS – INT – TARDE

Domi está sentada na janela, fazendo desenhos com o dedo no
vidro embaçado. No vidro, lê-se a palavra “LOSER”. Começa a tocar a
música Tô P da Vida – Dominó.
CORTA PARA
CENA 03
Tomada aérea acompanhando o trajeto do ônibus da linha
CDU/Caxangá/Boa Viagem, que passa pela Vila do Ipsep e Imbiribeira,
até o Aeroporto Internacional Gilberto Freyre. Ao chegar nessa parte,
não se acompanha mais o trajeto do ônibus, mas passa direto, seguindo
a BR-101 até chegar ao Cabo de Santo Agostinho. Toda esta seqüência
segue com a mesma música da cena anterior.
CORTA PARA
CENA 04 - CASA DE DOMINIQUE/SALA – INT – NOITE

Todas as luzes estão apagadas. Ouve-se o latido de um cachorro.
DOMI (acende a luz e se desvencilha do animal, um vira lata) – Ei, sou

eu! Tá me estranhando, é? (joga a bolsa em cima do sofá) Cadê aquele
demente do teu outro dono? Fred, cê tá aí?
Domi entra pelo corredor.
DOMI (off) – Ô Fred! Iuhuu!
Segue-se um minuto em silêncio. Em seguida, Domi volta,

segurando um papel amassado.
DOMI (lendo) – “A galera me chamou prum show do Los Hermanos

Cover. Eu fui.” (faz uma bolinha de papel e a joga no chão) Assim é
muito bonito! O mundo desabando na minha cabeça e ele me vai pra
showzinho de banda cover encher a cara como se a gente tivesse
dinheiro pra gastar! (t) Ah, mas quando ele chegar vai me ouvir... Ah,
vai!
O cachorro se aproxima, cheirando a dona. Depois se afasta.
DOMI – Que foi, Mancha? Eu tô fedendo, é?
Close no cachorro. Em seguida, corta para Domi.
DOMI – Tá bom, eu vou tomar banho.
Domi sai.
CORTA PARA
CENA 05 – CASA DE DOMI/SALA – INT – NOITE

As luzes estão apagadas. Domi está deitada encolhida em um sofá
dois lugares, vestindo um pijama bege com desenho de ursinho e
calçando havaianas. O rádio está ligado, tocando a música Total
Eclipse of the Heart – Bonnie Tyler [no começo da cena, a música já
está na metade]. A música acaba.
LOLITA (off, com voz sensual) – Você acabou de ouvir “Total eclipse of
the heart”, by Bonnie Tyler. E agora você, amado ouvinte, amada
ouvinte, pode ligar pra cá e mandar aquele recadinho praquela pessoa
que você ama. Aquela pessoa que você queria ao seu lado nessa noite
fria...
DOMI (levantando) – Pelo amor de Deus! Esse discurso pornô-romântico

da Lolita tá me dando náuseas. Irc!
Domi pega o telefone e o recoloca no gancho logo depois.
DOMI – Droga! Esqueci que não paguei a conta do telefone.
Ela procura o celular sobre o sofá, o encontra e começa a procurar

um número na agenda. Corta para o visor do celular, que mostra o
nome “Lolita”. Corta para Domi, que leva o aparelho ao ouvido.
CORTA PARA
CENA 06 – RÁDIO CARIBE/ESTÚDIO – INT – NOITE

Lolita está sentada em uma cadeira rolante, fumando um cigarro
de cereja. Na mesinha na frente dela, tem uma tigela de biscoitos
recheados quase vazia e o telefone celular. O telefone toca.
LOLITA (com voz sensual, soltando fumaça) – Alô...
Efeito freeze. Surge o letreiro com os seguintes dizeres:
Lolita Love. Musa do rádio. Musa da rua.
A cena prossegue.

DOMI (off) – Tá, pode parar que sou eu!
LOLITA (com voz normal) – Ah, é tu, é? Que foi?
DOMI – É que essa tua vozinha de quenga tá me deixando enjoada.
LOLITA – Ah, é? Não gostou? Então muda de estação.
DOMI – Pra levar a rádio à falência? Se não for eu e mais quatro

vizinhos, quem vai ouvir essa joça?
LOLITA – Tá, mas vai dedicar música pra alguém?
DOMI – Dedica uma bem podre pro Frederico, que eu tô revoltada com
aquele vaco.
LOLITA – Ah, não. Não, não, não, não, não! Isso é um programa
romântico, recadinhos desaforados não estão incluídos no propósito
desta atração radiofônica. Pra xingar pessoas, tem outros programas.
DOMI – Então tá, então. Mas vê se maneira um pouco aí nessa fala

gemida, falou?
LOLITA – Sim, senhora.
Lolita desliga o telefone.
LOLITA (no microfone, novamente com voz sensual) – Agora nós vamos
para o intervalo comercial. No próximo bloco vamos ter os recadinhos do

coração e mais um monte de canções românticas, só pra você, amado

ouvinte, amada ouvinte...
Começa o intervalo comercial do programa. Lolita apaga o cigarro

e come um biscoito.
MARINHO (off) – E aí, Lô? Qual é a boa?
Lolita se vira e vê Marinho parado na porta do estúdio.
LOLITA – Tá fazendo o que aí a essa hora? Teu programa só começa às

cinco da madruga!
MARINHO – É. Mas hoje o velho me mandou mais cedo pra cá, pra ver
se eu descolo alguma notícia totalmente inédita, que não tenha saído
em nenhuma outra rádio.
LOLITA (comendo) – É mais fácil desenrolar isso na rua que aqui dentro,
não acha?
MARINHO – É. Mas pense no furo de reportagem: “apresentadora do

‘Toque de Amor’ espera herdeiro do filho do dono da Rádio Caribe.” Já
pensou?
LOLITA (fazendo careta) – Filho teu? Mário Pereira Barreto Neto? Não,
brigada, já jantei.
MARINHO – Ah, que peninha... Ia ser legal. Principalmente a parte de

fabricação da criança.

LOLITA – Na boa, vaza. Já, já acaba o comercial. Vai arrumar uma

notícia que preste pro teu programa, vai.
MARINHO – Sim, senhorita.
Marinho sai. Logo depois volta e joga um beijo para Lolita. Ela está
de costas para ele e não o vê. Depois ele sai definitivamente. Começa a
tocar I started a joke – Bee Gees. A música continua nas cenas 07 e
08
FUNDE PARA
Mostra o relógio do rádio, que indica o horário “1:30”. A imagem
vai se afastando até mostrar todo o cenário. Dominique dorme, mas
está inquieta.
DOMI – Ele vai ver quando chegar... Eu pego ele, eu pego ele!
Domi continua dormindo e falando, fora de áudio.
CORTA PARA
CENA 08
Videoclipe mostrando vários locais da cidade durante a
madrugada. Quase todos os lugares, com exceção dos bares, estão
desertos. Marinho passa discretamente por todos eles, observando
atenciosamente o que acontece.
FUNDE PARA


Lolita está apresentando seu programa.
LOLITA – Bem, amado ouvinte, amada ouvinte, tá chegando a hora da

Lô se despedir. Mas antes de ir embora, fica um versinho só pra você:
“saudade, palavra triste/a distância nos separa/mas o pensamento nos
une.” (t) Beijinhos doces da Lô, e até amanhã com mais um “Toque de
Amor”.
Começa a tocar Sedona Sunrise - Aerosmith, em volume baixo.

Marinho entra correndo e dá um selinho em Lolita.
LOLITA (se afastando) – Aff, sai daí!
MARINHO – Consegui! Papai vai ter orgulho de mim depois dessa.
LOLITA – Ah, toda essa alegria é porque tu conseguiu uma carnificina

inédita pra noticiar, é?
MARINHO – Com certeza. O que seria do “Ronda Geral” se não fossem

as carnificinas?
LOLITA – Eu, hein... Eu fico aqui semeando os bons sentimentos, aí vem

você e... Carnificina! (t) É em momentos assim que eu me pergunto se
esse mundo tem jeito.
MARINHO – Fica aqui um pouquinho, só pra me ver dando a notícia, tá?

LOLITA – Eu mesma não! Eu vou dormir agora e não quero ficar com
esses negócios feios na cabeça. Além disso, se eu demorar mais, Alfredo
vai ficar preocupado. Fui!
Lolita sai correndo. Marião entra em seguida.
MARIÃO – Então, meu herdeiro? Encontrou a notícia inédita?
MARINHO – Claro, né? Já viu Mário Pereira Barreto Júnior dormir em

serviço?
MARIÃO – Já! Naquele dia que você cochilou no meio do programa. Se

eu não tivesse aqui os ouvintes iam notar.
MARINHO – Fica aí pra ouvir que eu vou começar o programa agora.
Marião senta em um banquinho junto da porta. Marinho volta-se

para o microfone.
MARINHO (engrossando a voz) – Ronda geral! Começa agora a ronda

geral, trazendo pra você todos os fatos mais importantes da madrugada.
E começamos a ronda com uma bomba!
CORTA PARA

Domi continua dormindo no sofá. O rádio ainda está ligado.

MARINHO (off) – Show do Los Hermanos Cover no Mercadão termina

em confusão! Até esse momento foram contabilizados dois mortos e
sete feridos!
Imediatamente no fim da frase, Domi acorda, gritando e olhando

para os lados.
MARINHO (off) – Os nomes das vítimas ainda não foram divulgados.
DOMI – Los Hermanos Cover? No Mercadão? Dois mortos e sete feridos?

(t) Misericórdia!
CORTA PARA
CENA 11 – CASA DE ALFREDO/SALA – INT – DIA

Lolita, descalça, vestindo camisola e uma touca de meia na
cabeça, conversa com Domi, que chora copiosamente.
LOLITA – Calma, Domi! Calminha... O fato de Fred não ter chegado em

casa ainda não quer dizer necessariamente que tenha empacotado
nesse show. Ele pode ter ficado bem breaco e dormido no chão de um
boteco qualquer...
DOMI (chorando) – Mas eu sinto! Ele tá no meio das vítimas!
LOLITA – Eu não digo? Esse Marinho só faz lascar meu trabalho. O

programa dele bem que podia ser em outro horário...
DOMI – Como é que eu vou dizer isso pra mamãe?

LOLITA – Se quiser, Alfredo fala com ela.
DOMI – Mas o problema não é dizer que o Fred morreu. (t) É que a
gente não tem Plano SAFPE! E agora pra cobrir as despesas do enterro?
Eu tô desempregada desde ontem!
LOLITA – Meu Deus. E haja negativismo!
Entra ALFREDO, vindo da cozinha. Efeito freeze. Surge o letreiro

com os seguintes dizeres:
Alfredo. Policial. Defensor da lei e da ordem. Três anos pra se aposentar.
A cena prossegue.
ALFREDO– Meninas, eu ouvi o papo aí. Frederico tava nesse show?
DOMI – Tava...
ALFREDO – E vocês acreditam em notícia daquela rádio de última

categoria?
LOLITA – Mas é que o Marinho foi...
Lolita se cala.
ALFREDO – Que tem o Mário Júnior?

LOLITA – Nada! Mas eu conheço ele, acho que ele não ia fazer uma
fuleiragem dessas, de ficar dando notícia falsa.
ALFREDO – De todo jeito, eu vou dar um pulinho lá na Restauração e no

IML. Se realmente tiver acontecido alguma coisa, ligo pra vocês.
LOLITA – Vamos lá pra sua casa, Domi? Vai que o Fred aparece de
repente...
Elas se levantam e vão saindo.
ALFREDO – Vai de camisola, é, dona Lolita?
LOLITA (olha para baixo, reparando nas próprias roupas) – Ops... Volto
num minuto.
Lolita corre para seu quarto.
CORTA PARA
CENA 12 – CASA DE DOMI/SALA – INT – DIA

Domi e Lolita conversam no sofá.
DOMI – Eu não vou sair do lado desse telefone enquanto não chegar
qualquer notícia.
LOLITA – Nossa, Domi. Já vi pessoas pessimistas, mas você já é demais,

viu? Aposto dez centavos que não aconteceu nada com ele.

O telefone toca.
DOMI – É a notícia! É a notícia!
LOLITA – Atende logo...
DOMI (atende) – Alô? (t) Hã? (t) Não, é engano.
Domi desliga o telefone.
LOLITA – O que era?
DOMI – Um cara querendo falar com um tal de Josinaldo. E eu sei lá

quem é Josinaldo?
LOLITA – Eu conheço um.
DOMI – Tá. E daí?
LOLITA – Esquece...
Corta para a porta, que se abre. FRED entra, com a camisa

amarrada na cabeça. As garotas não o vêem. Começa a tocar Azedume
– Los Hermanos.
FRED – E aí, qual é a boa?
Domi e Lolita viram-se lentamente na direção da porta e vêem

Fred. Efeito freeze. Surge o letreiro com os dizeres:

Fred. Trabalhador amador. Vadio profissional.
A cena prossegue. Domi dá um pulo do sofá, assustada.
DOMI – Fantasma!
FRED (olha em volta) – Onde? Cadê?
LOLITA (aponta para ele) – Você é o fantasma, baby.
FRED – Vocês andaram tomando?
LOLITA – A gente não, mas você...
DOMI (indo na direção dele) – Mas tu não tava morto, ô criatura?
FRED – Morto de cansaço, só se for. E de fome. Vou tomar um banhinho,

com licença.
Fred vai saindo. Domi o segura.
DOMI – Banho coisa nenhuma! Como sua irmã mais velha, eu exijo
explicações.
FRED – Me recuso a falar antes de um banho.
LOLITA (levanta) – E eu me recuso a permanecer nesse recinto com

esse pudim de pinga. Mancha é da mesma opinião que eu.

Corta para Mancha, que sai da sala.
FRED – Esse cachorro tem um nariz sensível...
DOMI – Vai falar ou não vai?
FRED – Sem banho, sem comida e sem um advogado, nada feito.
DOMI – Vai te lascar!
LOLITA – Deixa ele tomar o banho pelo menos, vai...
DOMI – Tá, vai logo.
Fred segue corredor adentro, com pressa.
DOMI – E não esquece de lavar as orelhas!
Lolita e Domi sentam no sofá. O cachorro entra na sala de novo e

se encolhe num canto.
CORTA PARA
CENA 13 – CASA DE DOMI/SALA – INT – DIA/1/2 HORA DEPOIS

Lolita, Domi estão sentadas em um sofá três lugares. Fred está do
outro lado, em um sofá dois lugares. Os três estão sérios, como em um
interrogatório policial.
DOMI – Muito bem. (t) Agora eu quero que você me conte exatamente o
que aconteceu nesse show do Los Hermanos Cover.
FRED – Tá bom. (t) Foi assim...
O telefone toca.
DOMI – Deixa. Eu atendo. (atende) Alô. (t) Não, é a Dominique. (t) Eu

disse Dominique!
Domi desliga o telefone, irritada.
LOLITA – Outro engano?
DOMI – Dessa vez pensaram que esse era o telefone da igreja. Mas
voltando ao assunto: vai contando tudo, Fred.
FRED – Sim senhora. (t) Eu tava lá no Mercadão com o Deyvison, o

Pedro, o Mateus, o Bergão, a Bel, a Thatá, Aline, Jéssica e Renata. Todo
mundo junto.
FUNDE PARA
CENA 14 – MERCADÃO/SHOW – EXT – NOITE

O pátio está lotado, mal dando para se locomover. POV de Fred:
muitas pessoas à frente dele, conversando, bebendo, fumando e
dançando; e a banda no palco, muito longe. Eles tocam Anna Júlia.
FRED (off) – Tava todo mundo se divertindo, numa boa. Deyvison e

Thatá tavam até ficando e tal. Aí a música acabou.
A banda termina de tocar Anna Júlia. Reação do público, com

gritos, palmas, assovios. Depois de um breve instante de silêncio,
começa Azedume.
FRED (off) – Só que aqueles covers filhos de uma mãe inventaram de

tocar Azedume, e o povo começou a pular de um lado para o outro, se
trombando uns com os outros.
Corte rápido para o público, pulando sem parar ao som da música.
RENATA – Vamos sair daqui! Já levei uns dez pisões no pé em menos de

dez segundos!
BERGÃO – Não dá! Tô apertado!
Fred e os amigos continuam sem se mexer, sendo levados de um

lado para o outro pela multidão que continua pulando até o fim da
música.
CORTE RÁPIDO PARA

Continuação da cena 13.
FRED – Ainda bem que essa música tem menos de dois minutos.
DOMI – E quando é que começa a confusão?
FRED – Agora mesmo.

DISSOLVE PARA
CENA 16 – MERCADÃO/SHOW – EXT – NOITE

O público já está mais quieto. Agora a banda toca Sentimental.
Fred e seus amigos, exceto Thatá, se afastam do resto da platéia, indo
para um canto mais vazio. Sentam-se em uma calçada.
BEL – Irmãozinhos... Depois dessa eu só quero ir pra casa e botar uma

bolsa de gelo nas minhas perninhas! Ai, ai...
MATEUS – Ir agora? Deixa o show acabar, pelo menos.
FRED – Acho que acaba daqui a pouco.
JÉSSICA (olha para os lados) – Pessoal... Cadê a Thatá?
PEDRO – Agora lascou. Ela sempre se perde nessas coisas!
Todos levantam da calçada e saem procurando por Thatá. A

encontram a poucos metros dali, sendo agarrada por um homem alto e
forte. Deyvison, furioso, sai na frente de todo mundo e cutuca o
homem, que vira-se para ver quem o chama. Os dois começam a
discutir, fora de áudio, e a se empurrarem. Logo estão trocando socos e
rolando no chão. Thatá se afasta correndo e gritando. As pessoas que
estavam prestando atenção no show voltam-se para a briga.
CORTE RÁPIDO PARA

Continuação da cena 15.
FRED – E foi assim que começou a confusão.
LOLITA – Quer dizer que por causa de uma menina morreram dois e se
feriram sete?
FRED – Foi. Acho que o Marinho precisa saber disso.
Fred vai pegar o telefone.
DOMI – Esqueceu que ele tá bloqueado?
FRED – Ih, é mesmo. Tu também, né? Recebe o salário certinho todo

mês e nem pra pagar a conta do telefone! É assim que tu sustenta essa
casa, é?
DOMI – Primeiro, eu recebo um salário de fome; segundo, antes do

telefone tem a feira, a água e a luz; terceiro, pára de reclamar porque
só eu trabalho aqui e você só faz farrear por aí; e quarto, eu fui
demitida ontem.
Fred começa a rir escandalosamente.
LOLITA – Qual é a graça? Ela acabou de ser demitida!
FRED (sem conseguir parar de rir, quase perdendo o fôlego) – Estamos

ferrados!

Close em Domi, muito séria. Alterna para Fred, ainda dando

risada.
DOMI (avança sobre ele, furiosa) – Vou te dar uns petelecos só pra você
aprender a não rir de coisa séria! (começa a bater em Fred)
FRED (tentando desviar dos tapas) – Pára, pára!
O telefone começa a tocar de novo. Domi pára imediatamente de

bater em Fred e atende a ligação.
FRED – Salvo pelo gongo!
LOLITA – Isso é que é telefonista, viu...
MULHER DESCONHECIDA (gritando, em off) – Ah, agora te peguei, sua

vadia! Sua ladra de maridos! Já tô sabendo de tudo, viu? Eu já sei onde
você mora e vou aí pra pegar você e lhe arrastar pelos cabelos ladeira
abaixo, sua cachorra! Passa aí pra ele, eu quero falar com ele, passa!
Domi desliga o telefone, impaciente.
DOMI – Era só o que faltava...
FRED – Ah, tá saindo com o homem das outras, né, dona Dominique
Nique-nique?
Domi pega o telefone e joga contra Fred, que desvia. O aparelho

bate no sofá.

FRED – Que violência...
DOMI – Eu perco o meu emprego, recebo um monte de ligação inútil e

tu ainda quer que eu fique calminha, é? Mas é muita graça!
LOLITA – Calma, amiga. Eu vou lá na cozinha preparar um chazinho de

camomila pra você, tá? (levanta) Isso é só uma nuvem negra na sua
cabeça, vai passar! (vai saindo)
FRED – Aproveita e faz um sanduíche de mortadela pra mim.
LOLITA (off) – Vai te lascar, Fred!
O telefone toca de novo.
DOMI – Ah, não. Me recuso. Atende aí, Fred.
FRED – Eu não, a telefonista aqui é você. Não pode perder a prática pro
próximo trampo.
DOMI – Palhaço.
Fred joga de volta o telefone para Domi, que atende, contrariada.
DOMI – Alô...
HOMEM (off, sussurrando) – Oi, princesa. Você está sozinha?
DOMI – Tô com a senhora sua mãe.

Domi desliga o telefone, com violência.
FRED – Lô, se adianta aí com o chá!
DOMI (olha para cima) – A nuvem negra tá tendo filhinhos!
CORTA PARA
CENA 18
Tomada da casa de Domi. Sonoplastia: Dança do desempregado
– Gabriel, o pensador. [a música continua na cena seguinte]
CORTA PARA
CENA 19 – CASA DE DOMI – INT – TARDE

Montagem com as seguintes cenas:
a) Na sala: Domi desliga o telefone de novo, bufando de raiva.
b) Na cozinha: Lolita serve uma xícara de chá e vai saindo para a sala.
Pára na porta, dá meia volta, pega o bule de chá e sai.
c) Na sala: Lolita dá o chá para Domi, que bebe imediatamente.
Corte para o relógio do rádio, que indica o horário: “14:29”. Muda

para “14:30”.
CORTA PARA
CENA 20 – CASA DE DOMI/QUARTO DE DOMI – INT – TARDE

Domi entra no quarto correndo e bate a porta com muita violência.
Lolita abre a porta em seguida, trazendo outra xícara de chá de
camomila.
LOLITA – Calma, Domi! Bebe mais uma xícara, vai!
DOMI (grita) – Pega esse chá de camomila paraguaio e bebe você! Eu

não agüento mais! Não agüento mais atender esse telefone! Não
agüento mais ouvir um toque de telefone!
Ouve-se o toque do telefone da sala.
DOMI – Ai, meu Deus! Por que os telefones não vão pro inferno?
LOLITA – Nossa, o negócio é sério. Ama telefone e tá falando isso,

imagina se não gostasse...
DOMI – Eu odeio telefone! Odeio! Eu quero que todas as companhias

telefônicas vão à falência!
LOLITA – Domi, minha amiga! Isso é tu mesmo?
DOMI (abre as gavetas e tira uma bolsinha de fichas telefônicas e um

álbum de cartões telefônicos) – Telefone é coisa do demo! Tirem todos
de perto de mim!
LOLITA – O que você vai fazer com essas fichas aí? São a sua coleção!
Domi sai do quarto apressada, sem dizer nada. Lolita deixa o chá
no criado mudo e sai.
CORTA PARA

CENA 21 – CASA DE DOMI/SALA – INT – TARDE

Fred faz um lanche deitado no sofá. Domi entra correndo, sendo
seguida por Lolita.
LOLITA – Fred, segura! Ela endoidou com os telefones!
FRED – Endoidou?
Domi vai até a janela, abre a bolsinha das fichas telefônicas e

começa a arremessá-las.
LOLITA – Viu só?
FRED – Jesus! Isso é desespero telefônico ultra galopante!
LOLITA – Eu vou lá fora resgatar as fichinhas. Quando o encosto sair do

corpo dela, vai querer todas elas de volta.
Lolita sai.
CORTA PARA
CENA 22 – RUA – EXT – TARDE

Um grupo de crianças joga bola no meio da rua. As fichas
começam a cair da janela, chamando a atenção delas, que correm para
recolher.
CRIANÇAS – Oba! Tá chovendo dinheiro!

As crianças começam a catar as fichas, que crêem ser moedas.

Lolita se aproxima deles.
LOLITA – Ei, cai fora todo mundo aí, sai da frente... (começa a recolher
as fichas)
MENINO – A gente viu primeiro. O dinheiro é nosso.
LOLITA – Ah, é?
CRIANÇAS – É!
LOLITA – Então vão comprar sonho na padaria com isso aí pra ver o que
acontece.
As crianças saem com as fichas.
LOLITA – Essas crianças, viu... Não sabem diferenciar fichas telefônicas

de moedas de 50 centavos! Onde é que esse mundo vai parar?
Lolita fica parada, com as mãos na cintura, esperando. Instantes

depois, as crianças voltam e devolvem as fichas.
MENINO – Por que não avisou antes?
LOLITA – E vocês lá iam acreditar em mim? Vamos lá, todo mundo

devolvendo as fichinhas...
Lolita guarda as fichas no bolso e entra na casa. As crianças

retomam a brincadeira.
CORTA PARA
CENA 23 – CASA DE DOMI/SALA – INT – TARDE

Domi está sentada no sofá, ao lado de Fred, desacordada. Lolita
entra.
LOLITA – Pronto, estão todas aqui. (olha para Domi) O que você fez com
ela?
FRED – Tirei o encosto. (t) Dei com o telefone na cabeça dela, foi tiro e
queda.
LOLITA – Seu maluco! E se ela perder a memória?
FRED – Perde nada! Esse negócio de levar porrada na cabeça e perder a

memória é coisa de filme.
LOLITA – Depois não diga que não avisei.
O telefone toca de novo. Domi se mexe ligeiramente, como se

fosse acordar, depois se aquieta. O telefone continua tocando. Ninguém
atende.
LOLITA – Fred... Tá esperando o que pra atender essa joça? Que ela
acorde?
FRED – Atende aí.
LOLITA – O telefone é seu.

FRED – Mas eu não tô a fim...
LOLITA – Se for alguma vaquinha infanto-juvenil atrás de você, vou

dizer que você não está.
Lolita atende o telefone.
LOLITA – Alô! (t) É da casa dela sim, mas ela tá dormindo. O Fred tá,
serve? (t) Vou passar.
FRED – Mas você não ia dizer que eu não tô em casa?
LOLITA – Se fosse uma vaquinha infanto-juvenil! Mas é sua tia, Neide.
FRED – Tia Neide? Dá isso aqui.
Fred pega o telefone.
FRED – Bênção, tia! (t) Tá tudo bem, sim. E Priscila? Estudando, é?

Massa... E a senhora, que milagre é esse de ligar? (t) Vem pra cá?
Amanhã? (t) E a mãe vem junto? (t) Ah, tá. Beijo. (t) Até amanhã, tia.
Fred desliga o telefone.
LOLITA – A sua tia vem pra cá?
FRED – É.
LOLITA – Com a sua mãe?

FRED – Não, sozinha. Só não entendi pra que, mas tudo bem.
Os dois ficam em silêncio por alguns instantes.
FRED – Sabe que agora me ocorreu uma idéia até simpática?
LOLITA – Idéia de quê?
FRED – Uma idéiazinha boa pra Domi continuar trabalhando. (t) E você
pode ajudar.
LOLITA – Não sei se o Marião tá precisando de telefonista na rádio não...
FRED – Não é isso!
LOLITA – É o quê, então?
FRED – Deixa ela acordar que eu explico.
Close em Fred, que ri e pisca o olho direito.
CORTA PARA
CENA 24
Videoclipe mostrando o pôr do sol. Sonoplastia: Tô P da vida –
Dominó.
CORTA PARA


Domi, sentada no sofá, toma um comprimido para dor de cabeça e
coloca o copo vazio sobre a mesa de centro. Lolita está sentada ao lado
dela. Corta para Fred, em pé, com um giz de cera vermelho na mão. Ele
caminha de um lado para outro.
FRED – Hoje, no fim de tarde, eu fui iluminado com uma grande idéia.
DOMI – Lá vem bomba...
Fred pára e escreve na parede a sigla C.A.D., com letras garrafais.

Depois de escrever, vira-se para as garotas, com ar triunfante.
FRED – C.A.D! Central de Atendimento aos Desesperados! Um

empreendimento de sucesso.
DOMI – Eu não acredito...
FRED – Pois acredite, irmãzinha! Porque vai ser um sucesso, e você (faz
breve pausa, apontando para Domi) vai fazer parte dele. Já pensei em
tudo. Nós vamos disponibilizar o nosso número de telefone para que
pessoas como as que ligaram por engano pra cá o dia inteiro telefonem
e contem os seus problemas pra nós, que vamos resolvê-los mediante o
pagamento de uma taxa bastante módica. Que tal?
DOMI – Eu não acredito...
FRED – Mas vai ser um sucesso! Como você ainda não acredita?
DOMI – Eu não acredito que você riscou a parede, seu idiota!

FRED (olha para a parede) – Ah, o fim do ano tá chegando mesmo...

Depois a gente pinta.
DOMI – Mas com que dinheiro? E se eu não arrumar emprego até lá?
FRED – Você não vai precisar procurar emprego, maninha! Agora você
vai trabalhar em casa, atendendo os desesperados aqui, na nossa
central!
LOLITA – Ô Fred, tu tem certeza que isso vai prestar? Ninguém conhece
vocês, essas ligações de hoje foram enganos.
FRED – É aí que você entra!
LOLITA – Pra quê que eu fui perguntar...
FRED – Você tem um programa de rádio, podia dar uma forcinha

divulgando nosso novo negócio pros seus (imitando Lolita) amados
ouvintes, amadas ouvintes.
LOLITA – Muito ridículo, você.
FRED – Vai fazer ou não vai?
LOLITA – Tá bom, eu topo divulgar essa central aí!
DOMI – Olha, Fred. Eu te dou uma semana pra fazer esse bagulho
funcionar. Se não prestar, eu e você vamos procurar emprego, e nem
adianta chiar!
FRED – Sim senhora. (t) Mas que vai prestar, ah vai!
LOLITA – Eita, esqueci! Será que Alfredo já voltou do Recife? (para Fred)
Ele ia ver se teu corpo tava lá no IML.
FRED (se benze) – Nem tão cedo!
LOLITA – Bem, eu vou nessa. Se eu encontrar ele, digo que Fred tá

inteiro. (levanta) Aliás, mais tarde tem programa!
FRED – Não esquece de divulgar a central, viu?
LOLITA – Recomenda de novo que eu esqueço.
FRED – Fica com raiva não... Eu sou assim mesmo.
LOLITA – Tô com raiva não.
FRED – Um beijinho pra fazer as pazes.
LOLITA – Nada de beijinho. Fui!
Lolita sai.
FRED – Oh, mulher cruel!
CORTA PARA
CENA 26 – RUA – EXT – NOITE

Lolita caminha pela rua mal iluminada, olhando atentamente para

todos os lados. Marinho vem em sua direção, mas como está muito
escuro, ela não o reconhece.
MARINHO – Lô!
LOLITA (em posição defensiva) – Parado, senão leva porrada!
MARINHO (levanta a mão) – Calma, menina! Sou eu, Marinho!
LOLITA (sai da posição defensiva) – Ah, tá...
MARINHO – Viu meu pai por aí?
LOLITA – Não, saí da casa da Dominique quase agora.
MARINHO – De quem?
LOLITA – Ah, você não conhece. Deixe para lá. (t) Mas o que tem o
Marião?
MARINHO – É que ele tá procurando a Thatá, minha irmã. Ela foi pro
show do Los Hermanos Cover escondida e deu rolo…
LOLITA – Ah, foi ela que provocou a zorra lá, foi?
MARINHO – Pelo jeito foi. Quando ele pegar ela, a bichinha tá lascada.
LOLITA – Que medinhos... Bem, eu não vi ela não.

MARINHO – Então valeu. Te vejo mais tarde na rádio.
LOLITA – Até mais. E boa sorte pra tua irmã!
Lolita e Marinho seguem por caminhos opostos.
CORTA PARA
CENA 27 – CASA DE ALFREDO/SALA – INT – NOITE

Lolita está deitada no sofá, vendo televisão. Alfredo entra.
ALFREDO – Tira o pé do sofá, Lolita.
LOLITA (obedece) - Já vai chegando e mandando, é?
ALFREDO – Força do hábito. (t) Ah, não achei o presunto do Frederico

em lugar nenhum.
LOLITA – Ah, o presunto tá lá na casa dele.
ALFREDO (espantado) – Mandaram pra lá?
LOLITA (ri) – Calma, Alfredo! Ele tá inteiraço, sem um arranhão.
ALFREDO – Então tá certo... Agora eu vou tomar um banho que o dia foi
cheio.
LOLITA – O jantar já tá pronto, é só esquentar. Daqui a pouco vou tomar

banho também, tá quase na minha hora.

ALFREDO – Hm... Acho que vou te arrumar outro emprego. Esse tá

muito ruim.
LOLITA – Precisa não!
ALFREDO – Precisa sim! Não tô gostando nada desse negócio de ir

trabalhar de noite, passar a madrugada toda fora...
LOLITA – Ah, mas é divertido. Pode ficar peixe, que eu tô muito feliz
nesse trampo, tá?
ALFREDO – Tá bom. Mas assim que eu souber de coisa melhor, vou

indicar você.
LOLITA – Ok.
Alfredo sai.
LOLITA – Bem que podiam ter botado meu programa num horário
melhor, viu...
Lolita suspira e continua vendo televisão.
FUNDE PARA
CENA 28
Tomada do prédio da Rádio Caribe. Sonoplastia: Dança do
desempregado.
CORTA PARA

Lolita apresenta o programa. Sonoplastia: The Guitar Man –
Bread. (em volume baixo)
LOLITA – Hoje nós vamos estrear um novo quadro aqui no Toque de

Amor, o “dicas da Lô”. E pra começar bem, eu quero falar pra vocês
sobre o mais novo serviço de aconselhamento sentimental, pessoal,
psicológico y otras cositas más. Eu tô falando da Central de Atendimento
aos Desesperados. Você pode ligar pra lá, falar dos seus problemas, e
nossos amigos Domi e Fred estarão disponíveis 24 horas por dia, 7 dias
por semana, prontos para ouvir e ajudar.
CORTA PARA

Close no rádio ligado.
LOLITA (off) – Duvida? Então ligue agora para 3256-6666 e comprove!

(t) E essa foi a dica da Lô de hoje. Amanhã tem mais!
Sobe The Guitar Man. Corta para Domi e Fred, sentados no chão,
perto do rádio.
FRED – Depois dessa, quero ver se nosso negócio vai ou não vai ser
sucesso.
DOMI (olha para Fred, desconfiada) – É bom que seja mesmo...
CORTA PARA
CENA 31
Videoclipe do nascer do sol.
CORTA PARA
CENA 32 – CASA DE DOMI/QUARTO DE DOMI – INT – DIA

Domi está dormindo. Ouve-se o barulho do telefone tocando, mas
ela não se mexe. O telefone continua tocando. Ela acorda de repente,
assustada. Olha para os lados.
DOMI – Eita, o telefone! Deve ser o primeiro cliente. (t) Fred, Fred!
Nosso primeiro cliente!
Domi sai do quarto correndo.
CORTA PARA

Domi entra correndo e atende o telefone.
DOMI – Central de Atendimento aos Desesperados, bom dia. (t) Tia

Neide? (t) Tá, tá bom.
Domi desliga o telefone. Fred entra, vindo do quarto.
FRED – E aí?
DOMI – Não era cliente nenhum. É a tia Neide aí fora!

FRED – Ih, esqueci de dizer que ela ligou ontem dizendo que vinha hoje.
Domi abre a porta. Começa a tocar Twiggy Twiggy Twiggy –

Pizzicato Five. [segue até o fim do episódio]
NEIDE (entrando) – Só com um telefone pra vocês acordarem, hein?

Deviam colocar uma campainha nessa casa.
FRED – A gente vai colocar, tia. Assim que tiver grana.
NEIDE – E, Dominique, que história de “Central de Atendimento aos

Desesperados” é essa?
DOMI – Ah... Fred explica melhor.
NEIDE – Então vai explicando enquanto me ajuda a levar as malas pra

dentro.
FRED (olha espantado para as malas) – Nossa, tia. Tanta mala pra
passar uma semaninha com a gente?
NEIDE – Que uma semana, menino? Eu vim pra ficar!
Domi e Fred se entreolham, depois olham para Neide, e pegam as

malas. Os três seguem para o quarto, conversando.
Fecha na parede onde está escrita a sigla C.A.D.
********** FIM DO EPISÓDIO **********


Central Ep01

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Central

Personagens Participações especiais

Dominique abraça a própria bolsa e fica andando de um lado para

Dominique. Heroína brega. Mal paga. Mal vestida. Recém desempregada.

A cena continua. Domi entra no ônibus, que segue o trajeto.

Escrito por Evana Ribeiro – em 02/09/2007 – exibido em 05/10/2007 –

CENA 02 – ÔNIBUS – INT – TARDE

CENA 04 - CASA DE DOMINIQUE/SALA – INT – NOITE

DOMI (acende a luz e se desvencilha do animal, um vira lata) – Ei, sou

Domi entra pelo corredor.

DOMI (off) – Ô Fred! Iuhuu!

Segue-se um minuto em silêncio. Em seguida, Domi volta,

DOMI (lendo) – “A galera me chamou prum show do Los Hermanos

O cachorro se aproxima, cheirando a dona. Depois se afasta.

DOMI – Que foi, Mancha? Eu tô fedendo, é?

Close no cachorro. Em seguida, corta para Domi.

DOMI – Tá bom, eu vou tomar banho.

CENA 05 – CASA DE DOMI/SALA – INT – NOITE

DOMI (levantando) – Pelo amor de Deus! Esse discurso pornô-romântico

Domi pega o telefone e o recoloca no gancho logo depois.

DOMI – Droga! Esqueci que não paguei a conta do telefone.

Ela procura o celular sobre o sofá, o encontra e começa a procurar

CENA 06 – RÁDIO CARIBE/ESTÚDIO – INT – NOITE

LOLITA (com voz sensual, soltando fumaça) – Alô...

Efeito freeze. Surge o letreiro com os seguintes dizeres:

Lolita Love. Musa do rádio. Musa da rua.

Escrito por Evana Ribeiro – em 02/09/2007 – exibido em 05/10/2007 –

DOMI (off) – Tá, pode parar que sou eu!

LOLITA (com voz normal) – Ah, é tu, é? Que foi?

DOMI – É que essa tua vozinha de quenga tá me deixando enjoada.

LOLITA – Ah, é? Não gostou? Então muda de estação.

DOMI – Pra levar a rádio à falência? Se não for eu e mais quatro

LOLITA – Tá, mas vai dedicar música pra alguém?

DOMI – Então tá, então. Mas vê se maneira um pouco aí nessa fala

LOLITA – Sim, senhora.

Lolita desliga o telefone.

Escrito por Evana Ribeiro – em 02/09/2007 – exibido em 05/10/2007 –

coração e mais um monte de canções românticas, só pra você, amado

Começa o intervalo comercial do programa. Lolita apaga o cigarro

MARINHO (off) – E aí, Lô? Qual é a boa?

Lolita se vira e vê Marinho parado na porta do estúdio.

LOLITA – Tá fazendo o que aí a essa hora? Teu programa só começa às

MARINHO – É. Mas pense no furo de reportagem: “apresentadora do

MARINHO – Ah, que peninha... Ia ser legal. Principalmente a parte de

Escrito por Evana Ribeiro – em 02/09/2007 – exibido em 05/10/2007 –

LOLITA – Na boa, vaza. Já, já acaba o comercial. Vai arrumar uma

MARINHO – Sim, senhorita.

Domi continua dormindo e falando, fora de áudio.

Escrito por Evana Ribeiro – em 02/09/2007 – exibido em 05/10/2007 –

CENA 09 – RÁDIO CARIBE/ESTÚDIO – INT – NOITE

LOLITA – Bem, amado ouvinte, amada ouvinte, tá chegando a hora da

Começa a tocar Sedona Sunrise - Aerosmith, em volume baixo.

LOLITA (se afastando) – Aff, sai daí!

MARINHO – Consegui! Papai vai ter orgulho de mim depois dessa.

LOLITA – Ah, toda essa alegria é porque tu conseguiu uma carnificina

MARINHO – Com certeza. O que seria do “Ronda Geral” se não fossem

LOLITA – Eu, hein... Eu fico aqui semeando os bons sentimentos, aí vem

MARINHO – Fica aqui um pouquinho, só pra me ver dando a notícia, tá?

Escrito por Evana Ribeiro – em 02/09/2007 – exibido em 05/10/2007 –

Lolita sai correndo. Marião entra em seguida.

MARIÃO – Então, meu herdeiro? Encontrou a notícia inédita?

MARINHO – Claro, né? Já viu Mário Pereira Barreto Júnior dormir em

MARIÃO – Já! Naquele dia que você cochilou no meio do programa. Se

MARINHO – Fica aí pra ouvir que eu vou começar o programa agora.