Central Ep07

Sitcom de
Evana Ribeiro
Episódio 1:07
“São apenas nomes...
TV DESTINO ® - CENTRAL – Ep. 1:07 2
CENA 01 – CASA DE DOMI/QUINTAL – EXT – DIA

Domi está tentando dar banho em Mancha, que tenta de toda
forma se desvencilhar da dona. Assim, Domi acaba toda molhada.
DOMI (tentando deter o animal) – Ai... É em momentos assim que eu

me pergunto: onde está o outro dono deste cachorro?
NEIDE (entrando) – Domi, novidades!
DOMI – O que é, tia? Ganhou no Pernambuco da Sorte e vai se mudar?
NEIDE – Não... É que nasceram os filhos do Mancha!
DOMI (larga o cachorro, que sai correndo pelo quintal) – É o quê?
NEIDE – Ê, memória curta! (t) Lembra daquele dia que ele fugiu e
passou dias sem dar as caras? E que a cachorra da vizinha emprenhou
depois disso?
DOMI – Tá. Mas o que eu tenho a ver com isso?
NEIDE – Tem que a dona dela mandou avisar que você vai ficar com
metade dos filhotes, porque na casa dela não cabem todos.
DOMI – Tá, e eu com isso?
NEIDE – E daí que o pai dos filhotinhos mora nesta residência. Então
eles... Você entende, né?
CORTA PARA
Escrito por Evana Ribeiro – em 24/10/2007
todos os direitos reservados.
CENA 02 – CASA DE LOLITA/SALA – INT – DIA

Lolita e Domi conversam.
DOMI – Tens idéia de onde eu vou enfiar um monte de cachorrinhos

bebês lá em casa? Tu acha que Mancha vai ter condições psicológicas de
assumir a paternidade desses bichinhos?
LOLITA – Bom... Se ele vai ter envergadura moral para ser um bom pai
eu não sei. Mas eu não vou passar na tua casa enquanto eles estiverem
lá. Alergia...
DOMI – Mas eu não sei nem se eles vão passar por lá!
LOLITA – É claro que vão. E não só vão deixar suas pequenas

impressões patais como vão acabar ficando por lá mesmo.
DOMI – Ficando... Mal tem espaço pra mim, vai ter pra um monte de
cachorros bebês?
CORTA PARA
CENA 03 – CASA DE DOMI/SALA – INT – DIA

Domi, Fred e Neide estão ajoelhados em volta de uma caixa de
papelão. Corta rapidamente para mostrar o conteúdo dela: quatro
cãezinhos filhotes, movendo suas patinhas.
NEIDE (off) – Eles não são fofinhos?
FRED (off) – Parecem com Mancha.

DOMI (fecha nela, encantada) – Vamos ficar com eles? Vamos? Vamos?
NEIDE – Ô, menina! Não era tu que dizia que não tinha espaço pros
bebês aqui?
DOMI – Ah, mas eles são tão miudinhos... Não vão nem incomodar.
FRED – Domi, eles são vira-latas, não exemplares de poodle toy.
DOMI – Mas eles são tão lindinhos! Não podemos entregar eles pra
qualquer um. Qualquer um pode chegar, maltratar os bichinhos, deixar
sem comida, sem banho, sem brinquedinhos...
FRED – Se é pra te deixar feliz, exigimos cópia de identidade, CPF,

comprovante de residência e ainda fazemos consulta lá no SPC antes de
entregar eles pra qualquer um!
DOMI – Tá. Mas enquanto isso não acontece, eles são nossos e vão ser
como parte da família. (t) Meus netinhos!
FRED (observando Domi, que brinca com os cãezinhos na caixa) –

Nunca pensei que ela levasse esse negócio de ser mãe de cachorro tão a
sério.
CORTE RÁPIDO PARA
CENA 04 – CASA DE DOMI/SALA – INT – NOITE

Neide e Fred estão sentados no sofá. Domi entra, vinda do lado de
fora da casa, com expressão de contentamento no rosto.
DOMI – Prontinho! Agora eles já tomaram leite e estão nanando.
NEIDE – Domi... Você não colocou fraldas neles, colocou?
DOMI – Coloquei, ué. Eles são bebês, e bebês usam fraldas...
NEIDE (olha para o teto) – Oh, Senhor... Mais uma que vai acabar na
Tamarineira. Inês não merecia uma coisa dessas!
FRED – Tá, esquecendo os filhotes, e as fraldas e tudo isso... O que tu

queria falar com a gente mesmo?
DOMI – Ah, sim! É que eu queria ajuda com os nomes pros

cachorrinhos.
FRED – Nomes? Por quê?
DOMI – Porque não vamos passar a vida toda chamando esses pobres
bichinhos de cachorro 1, cachorro 2, cachorro 3...
FRED (interrompe) – Mas eles não vão ficar com a gente a vida toda. Os
futuros donos deles podem escolher, não?
DOMI – Prefiro não arriscar. Os nomes que eles receberem vão

influenciar toda a vida deles, entende?
FRED – Sim, e daí? São só cachorros, não importa o nome que

ganharam, vão continuar sendo cachorros.

DOMI – E se eles virarem psicopatas? Desajustados? Párias sociais? E se

eles precisarem fazer análise por causa dos traumas futuros?
LOLITA (entrando) – Vão precisar de análise se continuarem morando

aqui. Esses pobres animais.
DOMI – Valeu, Lolita! Muito obrigada mesmo pelo apoio!
LOLITA – De nada. Mas cadê os puppies?
FRED – Dormindo. Com fralda e tudo.
DOMI – Enquanto isso, eu tô aqui tentando convencer eles da

necessidade de escolhermos nomes bons pros filhotes antes que
qualquer um faça isso e estrague o futuro deles.
NEIDE – E nós estamos convencer ela de que cachorros não vão sofrer
de distúrbios psíquicos por causa de um nome esquisitinho. Eles não vão
pra escola nem nada!
DOMI – Lô, minha amiguinha. Diga com toda a sinceridade o que você
pensa sobre isso.
LOLITA – Bem... De nome esquisito eu entendo. Afinal, eu tinha o nome

mais estranho de toda a turma da primeira série. (t) Só perdi o posto
quando fui pra terceira e conheci um menino chamado Alofone.
NEIDE – Como era o nome dele?

LOLITA – Alofone! A mãe dele era lingüista e achou esse nome legal pra
botar numa criança. Imagine os apelidos que essa criatura não tinha.
FRED – Microfone, xilofone...
LOLITA – Por aí. E também tem os meus primos, os filhos de tia Ariadne.
NEIDE – Como eles se chamam?
LOLITA – Alpatino e Hericlépiton. Eles são uma besteirinha mais novos

que eu, e como tia Ariadne sempre foi muito invejosa e achou que meu
nome era homenagem ao livro do Nabokov, resolveu homenagear
alguém famoso com os gêmeos dela. O problema é que a moça do
cartório escreveu os nomes errados. E até hoje ela não sabe que eu só
sou Lolita por causa do pastelzinho...
DOMI – E os seus primos? Eles não se sentem mal por terem esses
nomes?
LOLITA – Nada! Eles juram que tá escrito certo. Eu é que não vou
estragar as ilusões deles, né?
FRED – Pois sim.
DOMI – Mas deixando os primos da Lolita de lado... Vamos escolher logo

os nomes dos meus au-aus!
FRED – Certo, certo... Eles são teus, tu escolhe e eu não tenho nada
com isso.

Fred levanta e vai saindo. O telefone toca.
FRED – Central de Desesperamento aos Atendados, boa noite. (t) Ah,

não, digo... Central de Atendimento aos Desesperados. Aqui é o Fred,
com quem falo? (t) Sim. (t) Sim. (t) Sim... Sim.
LOLITA – Tem outra coisa pra falar não?
FRED (ainda no telefone) – Sim.
NEIDE – Cristo...
Fred começa a anotar alguma coisa num bloquinho de papel.
CORTA PARA
CENA 05 – CASA DE JULIANA/TERRAÇO – INT – NOITE

Juliana está sozinha, sentada em uma cadeira bem de frente para
o portão. Corta para o portão de entrada da casa, de onde Domi e Fred
se aproximam, trazendo consigo alguns picolés. Juliana vai abrir a porta.
DOMI (entra e entrega os picolés para ela) – Demoramos muito?
JULIANA – Mais ou menos... Que bom que vocês trouxeram o que eu

pedi!
FRED – E ainda foi da marca boa! Não é qualquer central que faz isso
por você.

DOMI – Até porque não existe outra central além dessa, né? Mas vamos
ao assunto, dona... Juliana, né?
JULIANA – Isso.
DOMI – Então pode começar a explicar qual é o problema.
JULIANA – Bem, acontece que eu descobri ontem que vou ser mãe de
um menino.
DOMI – Legal! Mas onde tá o problema?
JULIANA – Tá que minha mãe e meu marido não querem aceitar o nome
que eu escolhi pro bebê!
FRED – Por quê? Por acaso a senhora quer colocar o nome dele de
“fulaninho de tal júnior” e eles são contra?
JULIANA – Não. É exatamente a mesma coisa, só que tudo ao contrário.

Eles querem que o menino seja Júnior e eu sou contra.
DOMI – Eu também seria. Já tem muito Júnior nesse mundo. (t) E você
quer que ele se chame como?
JULIANA – Genival.
DOMI E FRED (surpresos) – Como é que é?
JULIANA – Eles fizeram exatamente essa cara aí quando eu disse o

nome.
DOMI – Mas... Por quê? (t) Por que um nome tão feio desses pra pobre
da criança?
JULIANA – Pra homenagear meu pai.
FRED – Tô com pena do teu pai. Ser xará daquele cantor lá...
JULIANA – Não, o nome dele não é esse não! É que meu pai é fã do
Genival Lacerda. Quando eu nasci, ele queria me chamar de Genivalda,
mas minha mãe ameaçou ele de tudo que era jeito. Aí ele se aquietou,
mas agora eu resolvi fazer a vontade dele.
DOMI – Esse aí merece ser processado, apanhar e ser jogado no rio.
JULIANA – Eu chamei vocês aqui pra tentar convencer minha mãe e meu
marido a aceitarem o que eu já resolvi. Vocês fariam isso por mim, não
é?
DOMI E FRED – É...
Domi e Fred se entreolham, desconfiados.
CORTA PARA

Domi e Fred estão deitados em sofás diferentes, conversando
FRED – E agora? A gente vai mesmo convencer dona Judith e o Flavião a

aceitarem esse nome feio?
DOMI – Eu vou é bater um papinho com seu Hélio pra ver se ele se
convence de que isso não é nome de criança. (levanta-se)
FRED – Mas agora?
DOMI – É, eles devem estar acordados ainda. Não diga a tia Neide.
FRED – Por quê?
DOMI – Sei lá, ela pode ir atrás...
FRED – Tá bom, eu fico aqui, quietinho. Vai na fé e cuidado com o

guarda do apito.
DOMI – Cuidado com o quê?
FRED – Com aquele doido que fica apitando a noite toda. Aquele ali não
tem mãe não, viu...
Domi sai, deixando Fred sozinho, resmungando.
CORTA PARA
CENA 07
Tomada da casa de Judith.
CORTA PARA
CENA 08 – CASA DE JUDITH/SALA – INT – NOITE

Judith recebe Domi.
DOMI – Dona Judith, me desculpe aparecer aqui tão tarde, mas o

assunto é meio urgente...
JUDITH – Minha filha ligou pra vocês, não foi?
DOMI – Foi.
JUDITH – Ela me disse que ia fazer isso...
DOMI – Seu Hélio tá em casa?
JUDITH – Não. Foi ver um jogo aí no bar perto da Igreja Batista.
DOMI – A senhora deixou ele sair de noite?
JUDITH – Deixei! Melhor ele ir ver esse jogo e ficar feliz do que ficar
aporrinhando meu juízo porque não temos TV a cabo em casa. Vai
querer ir atrás dele?
DOMI – Não, eu espero aqui mesmo. (senta no sofá) Me recuso a ir pra

qualquer lugar onde se encontrem mais de dois torcedores do Sport.
JUDITH – Mas... Seu irmão não é torcedor do Sport?
DOMI – É. Por isso que minha tolerância é de dois torcedores. De três

pra cima, ataca a minha alergia.
JUDITH – Então tá... Fique à vontade.

Judith liga o rádio e vai para a cozinha. Está passando o programa

da Lolita.
LOLITA (off) – Amado ouvinte, amada ouvinte, nesse momento damos

uma pequena pausa na nossa seqüência de músicas românticas para
transmitir pra você um recadinho vindo dos nossos amigos da Central de
Atendimento aos Desesperados, que todo mundo conhece e gosta. (t)
Eles receberam quatro filhotinhos de vira-latas muito fofinhos, lindinhos
e cheios de amor pra dar. Esses filhotinhos estão em busca de um dono,
e já que esse é o programa do amor, estamos procurando pessoas que
queiram adotar esses lindos bichinhos. Eles são tão fofinhos!
Domi levanta do sofá bruscamente e começa a procurar o

telefone.
DOMI – Dona Judith! Cadê o seu telefone?
JUDITH (off) – Tá perto do rádio!
DOMI – Eu vou fazer uma ligação rapidinha, tá?
JUDITH (off) – Tudo bem!
Domi pega o aparelho e disca rapidamente os números da Rádio

Caribe.
CORTA PARA
CENA 09 – RÁDIO CARIBE/ESTÚDIO – INT – NOITE

Lolita apresenta o programa.
LOLITA – Caso você, amado ouvinte, amada ouvinte, se interesse em

adotar os filhotinhos cheios de amor, é só ligar pra emissora ou para a
Central. Tratar com Frederico. (o telefone toca) Opa, tem ouvinte na
linha! (atende) Alô?
DOMI (off) – Lolita, que história é essa de vender os meus cachorros?
LOLITA – É... Amiga, estamos no ar!
DOMI – Sim, e daí? Eu quero saber direitinho que negócio é esse de

vender os meus cachorrinhos?
LOLITA – Bom, não sei de nada. Eu só fiz o comercial.
DOMI – Pois então eu quero mandar um recado pro Fred. (t) Olha, seu
cabeça de cone. Ninguém mandou você botar os bebês à venda, tá
ligado? E pros ouvintes agora: Ninguém chega perto dos bichinhos! Eles
são meus! Meus!
CORTA PARA

Domi desliga o telefone. Judith entra na sala.
JUDITH – Minha filha! Que gritaria foi essa?

DOMI – Aquele palhaço do meu irmão querendo vender os cachorros

que eu ganhei de presente! Mas isso não vai ficar assim de jeito
nenhum!
JUDITH – Isso tudo por causa de... Cachorros?
DOMI – Já disse a ele! Não é qualquer um que vai levar eles pra casa
não!
CORTA PARA

O programa de Lolita está em seu intervalo comercial. Fred e
Lolita conversam.
FRED – Lolita, não tem jeito. (t) Vamos ter que mandar Dominique pra
Tamarineira.
LOLITA – Eita, que exagero...
FRED – Exagero nada. Do jeito que ela tá com esses bichos, é capaz de
botar eu e tia Neide pra fora de casa.
LOLITA – Ó, tua tia eu não sei. Mas você é um forte candidato a lavrar
de casa... (ri)
FRED – Tá engraçado porque não é você.
LOLITA – Desculpa aí. Bom, desviando um pouco o assunto... Já

escolheram os nomes deles?
FRED – Sem Domi saber, é claro. (t) Huguinho, Zezinho, Luisinho e Ele.
LOLITA – Ele?
FRED – É. Sabe aquele vilão das Meninas Super Poderosas? Sempre

achei o Ele mais maneiro que o Macaco Louco.
LOLITA – Você assistia?
FRED – Não, mas esse mundo globalizado...
LOLITA – Sim, creio em você. Sempre achei o Ele meio aviadado, mas
enfim. Preferia o Fuzzy Confusão. (t) Aliás, sai da minha propriedade
que tá na hora de continuar o programa. (vira-se para o microfone)
Amado ouvinte, amada ouvinte, estamos de volta! Nossas linhas estão
abertas para você, que quer mandar um recado pra alguém, ou só dizer
que eu sou muito sexy.
FRED (canta) – Humilde!
O telefone toca. Lolita atende.
LOLITA – Alô! Você está no ar!
ALFREDO (off) – Aqui é o Cabo Alfredo Pereira. Quero falar com o dono
dessa espelunca!
Lolita olha para Fred, assustada.

LOLITA (tentando demonstrar tranqüilidade) – Olha... Acho que você

ligou pro lugar errado. Aqui é o Programa Toque de Amor, da Rádio
Caribe, não a pizzaria.
ALFREDO (off, muito bravo) – Engano coisa nenhuma! Eu quero falar

com o senhor Mário Pereira Barreto! Agora!
LOLITA (não mais disfarçando o nervosismo, mas tentando disfarçar a

própria voz) – Ele... Ele não está!
ALFREDO – Não está, é?
CORTA RÁPIDO PARA
CENA 12 – DELEGACIA/SALA – INT – NOITE

Alfredo fala ao telefone, muito raivoso.
ALFREDO – Pois então eu vou invadir essa birosca agora mesmo. Com
um mandado de prisão pra esse pirateador!
Alfredo dá um soco na mesa. Em seguida, pega uma folha de

papel – o mandado – e o observa ligeiramente. Desliga o telefone, dobra
o papel e o guarda cuidadosamente no bolso.
CORTA PARA

Judith e Domi estão em pé, paradas diante do rádio, estupefatas.
JUDITH – O que foi isso?

DOMI – Não quero nem ver o que vai sair disso...
Hélio entra e se assusta ao ver as duas paradas.
HÉLIO – O que foi, moças? Morreu algum famoso?
DOMI – Não, mas provavelmente estamos prestes a ouvir a morte de

alguma coisa, seja o que for.
HÉLIO – Como é?
JUDITH – Depois eu explico. A Dominique veio aqui falar com você.
HÉLIO – Sobre?
DOMI – Depois... Depois eu falo. Depois do comercial, tá?
CORTA PARA

Lolita anda de um lado para o outro do estúdio, muito aflita. Fred
a segue. Ao fundo, toca uma música romântica qualquer.
FRED – Quer parar?
LOLITA – Não!
FRED – Tá massa, então! Alfredo chega, te vê aqui e a gente se vê no

IML?
LOLITA (pára de andar e olha para Fred, os olhos arregalados) – IML?
FRED – Sei lá! (t) Policial... Enteada desobediente... Tresoitão... Vai

saber o que pode sair dessa combinação. (t) Por via das dúvidas, é
melhor eu ir embora. Boa sorte! (sai)
LOLITA (grita) – Fuleiro!
FRED (voltando) – Pensando bem, acho que desertar não é um bom

negócio. Ele vem aí.
LOLITA – Misericórdia! O que eu faço?
FRED – Se entrega pra polícia?
LOLITA – É piada, é?
FRED – Então... Chama o Marião?
LOLITA – Mamãe!
FRED – Isso, chamar a mãe sempre funciona! Ainda mais sendo a tua...
Expresso Celestial!
LOLITA – Eu vou me esconder por aqui... Em algum lugar. E tirar essa

música... Faz de conta que não tem ninguém.
Lolita interrompe a música e sem querer põe para tocar uma fita
contendo uma edição antiga d’A Voz do Brasil.
LOCUTOR (off) – Em Brasília, dezenove horas!
FRED – Vai me desculpar, mas teu relógio tá atrasado, amigo!
LOLITA – Pára de graça e se esconde!
Lolita puxa Fred pelo braço, com força.
FRED – Ei, sem violência, pô!
Lolita finge que não ouviu e os dois se escondem dentro de um

armário quase vazio.
CORTA PARA

Domi, Hélio e Judith ouvem o rádio. Não disfarçam a surpresa por
estarem ouvindo “A Voz do Brasil”.
JUDITH – A essa hora?
HÉLIO – Por isso que eu sou a favor do fechamento desse negócio.

Como se não bastasse ser fora da lei, ainda fica passando noticiário
desatualizado!
DOMI – Deve ter acontecido algum acidente...
JUDITH – Mas vamos deixar isso pra lá. Dominique, você não queria
falar com Hélio?
DOMI – Ah, sim! Queria sim.
HÉLIO – Sobre?
DOMI – Sobre o seu neto. É que a gente ficou sabendo que o senhor
convenceu a sua filha a botar na pobre criança o nome de Genival!
Tenha dó, seu Hélio!
HÉLIO – Mas o que tem de errado com esse nome?
DOMI – Pergunte a alguém que se chama Genival.
HÉLIO – Mas só o cara ser xará do Genival Lacerda, um cara famoso...
DOMI – Aposto que o Genival Lacerda só gosta do nome dele porque é

famoso. Queria ver se ele fosse o Genival do Posto, o Genival da
Padaria, Genival da Farmácia, Genival do Gás...
HÉLIO – Aposta quanto?
DOMI – Dez centavos.
HÉLIO – Dez centavos?
DOMI – É tudo o que eu tenho no momento.
Domi tira uma moeda do bolso e mostra a Hélio.
HÉLIO – Tô vendo cinco centavos aí.

DOMI – Piorou! Tá vendo como eu tô pobre?
HÉLIO – Mas o que vocês fazem com o dinheiro que recebem nessa
central?
DOMI – Ah, seu Hélio! Até parece que a gente ganha rios de dinheiro...
Ajudamos pessoas tão ou mais lascadas do que nós!
CORTA PARA

Todo o estúdio está quieto. Continua tocando a fita d’A Voz do
Brasil. Alfredo entra intempestivamente.
ALFREDO – Agora acabou, seu Mário Pereira Barreto! Eu vou pôr essa
rádio chulé... (pára de falar ao ouvir a fita e se aproxima da mesa de
som) Do que se trata?
CORTA PARA
CENA 17 – ARMÁRIO – INT – NOITE

Fred e Lolita estão presos no armário, muito próximos um do
outro.
FRED – Bom, vamos ver isso pelo lado bom. (t) Estamos aqui,
trancados, juntinhos...
LOLITA – Preferia ficar trancada com alguém que usasse desodorante

regularmente.
FRED – Pôxa, Lolita! Eu tomo banho, né?
LOLITA – Mas que venceu, venceu. Tomara que ele saia logo daí e
ninguém ligue pra cá enquanto estivermos presos.
Ouve-se em off o som do telefone tocando.
LOLITA – Droga!
CORTA PARA

O telefone toca. Alfredo o olha, indeciso, e depois atende. Ouve-se
a música da chamada a cobrar. Imediatamente ele desliga o aparelho e
sai.
CORTA PARA
CENA 19 – ARMÁRIO – INT – NOITE

Continuação da cena 17. A porta está um pouquinho aberta, e
Fred consegue ver Alfredo sair correndo.
FRED – Que loucura... Ele atendeu o telefone, desligou e saiu voando!
LOLITA – Deve ter sido uma chamada a cobrar.
FRED – Como?

LOLITA – É que Alfredo é traumatizado com ligação a cobrar. Uma

história comprida, depois eu conto.
Os dois saem do armário.
LOLITA – Que alívio! (t) Agora vai embora tomar um banho. Eu vou ligar
pro Marião.
Lolita pega o telefone e disca.

CORTA PARA

Domi e Hélio continuam discutindo.
HÉLIO – Não aceito! Não aceito! Meu neto vai ter esse nome e acabou.
DOMI – Seu Hélio! É filho da sua filha, pôxa!
HÉLIO – Por isso mesmo. Tenho direito de opinar sobre ele.
DOMI – Mas pense como vai ser quando ele crescer e for pra escola. Os
outros pirralhos vão cantar músicas do Genival Lacerda pra ele! Isso se
não fizerem rimas infames com o final do nome dele.
HÉLIO – Sim. Como se esses pirralhos de hoje em dia conhecessem

Genival Lacerda!
DOMI – Mas e as rimas infames?

JUDITH (vinda do quarto, de camisola) – Minha gente! Vocês vão ficar

discutindo isso até de manhã?
DOMI – Vamos! Eu vou defender até o fim o direito das pessoas terem
nomes decentes.
JUDITH – Mas eu quero dormir!
DOMI – Não podemos dormir sossegados enquanto existirem criaturas

desalmadas colocando nomes infames em criaturas inocentes!
Traumatizando vidas!
HÉLIO – Meu Deus! Você tá levando isso muito a sério, não?
DOMI – É que eu, eu sou uma pobre vítima de pais sem noção!
JUDITH – Eita, Dominique! Deixa do teu boato! Teu nome não tem nada
de estranho.
DOMI – É que vocês não conhecem a história toda. Mas sentem aí que
eu vou contar.
Hélio e Judith se entreolham.
DOMI – Sentem aí, pôxa!
Hélio e Judith sentam.
DOMI – Vou começar. (t) Até que Dominique seria um nome bem feliz,
sabe? Isso se não tivesse uma musiquinha feiosa com o meu nome!
JUDITH – Ah, mas essa música não é feia não! Eu gosto. (canta)
Dominique, Dominique, sempre alegre, esperando alguém que possa
amar…
DOMI – Pára! Pára pelo amor de Deus, dona Judith! Tá querendo me

deixar pior?
JUDITH – Mas o que tem essa música?
DOMI – Bem, ela evoca lembranças tristes da escola. Eu queria mudar

de nome, sabia?
HÉLIO – Tá. E que nome você queria ter?
DOMI – Sei lá. Qualquer um que não tivesse sido nome de música.
JUDITH – Então você não ia poder se chamar Bárbara, nem Carla, nem
Beatriz, nem Iolanda, nem Renata, nem Kelly... Talvez pudesse se
chamar Judith, porque ninguém lembra de usar meu nome pra fazer
música nenhuma.
DOMI – É, seria legal ser sua xará. Eu acho.
O celular de Domi começa a tocar.
DOMI – Alô? (t) Oi, tia.
HÉLIO – É a Neide? (leva uma cotovelada de Judith) Ai!

DOMI – Como é? (brava) Não deixe eles saírem daí, tá?
Domi desliga o telefone.
HÉLIO – O que ela queria?
JUDITH – Deixa de ser enxerido, Hélio! O que ela queria?
DOMI – Apareceram dois compradores pros filhotes! Eu vou voltar pra

casa antes que eles vão embora!
Domi sai correndo.
HÉLIO – Menina doida...
CORTA PARA
CENA 21
Tomada da casa de Domi.
CORTA PARA

Neide está sentada em um dos sofás, com a caixa de papelão dos
cachorros ao seu lado. No outro sofá, estão Alpatino e Hericlépiton. Os
dois parece estar muito desconfortáveis. Domi entra correndo e pára no
meio da sala, olhando para os rapazes.
DOMI – Quem são vocês?

ALPATINO – Meu nome é Alpatino e esse aqui é meu gêmeo,

Hericlépiton.
DOMI – Alpatino? (t) Tu é primo da Lolita, né?
ALPATINO – Sou, por quê?
DOMI – Sou amiga dela. Vocês vieram aqui pelos cachorros?
HERICLÉPITON – A gente veio aqui visitar a prima, só que acabou se

perdendo. A sorte é que dona Neide apareceu pra salvar a gente.
DOMI (olha desconfiada para Neide) – Salvar, né?
NEIDE – Menina! Olha a compostura na frente das visitas!
HERICLÉPITON – Aí ela trouxe a gente pra cá, já que não tinha ninguém
lá na Lolita. E encontramos eles! Huguinho, Zezinho, Luisinho e... Como
é o nome do outro?
NEIDE – Ele!
DOMI – Ele quem? Onde?
NEIDE – Esse é o nome do outro cachorrinho.
DOMI – Mas que raio de nome é esse que vocês colocaram no bichinho?
ALPATINO – Eu gostei.

DOMI – E eu não pedi sua opinião!
ALPATINO – Nervosinha, hein?
DOMI – Nervoso tinha que ficar você, com esse nome tronxo.
ALPATINO – Não começa...
DOMI – Não te disseram que o analfa do tabelião escreveu o nome de

vocês errado? É claro que não disseram. Se vocês soubessem iam pedir
pra trocar de nome.
NEIDE – Domi, deixa o nome dos meninos! (para eles) Não liguem, tá?
HERICLÉPITON – Acho que é melhor a gente ir embora. (pega a caixa e

vai saindo)
DOMI (o detém) – Não se mexa! Eles não vão sair daqui!
NEIDE – Dominique, deixa eles irem...
DOMI – Só se for sem os meus cachorrinhos.
HERICLÉPITON – Seus, é?
DOMI – Meus! Ganhei eles e eles são meus e não vou dar eles pra
serem criados por pessoas estranhas de nomes estranhos. Mesmo sendo
parentes da Lolita, que é minha amiga mas é estranha.
ALPATINO – Quer deixar de palhaçada e deixar a gente passar?

DOMI – Não!
Os três começam a discutir, falando ao mesmo tempo.
NEIDE (suspira) – Eita! Agora só acaba amanhã de manhã...
Neide continua parada, apenas assistindo a discussão por alguns

instantes. Em seguida, faz menção de ir interrompê-los, mas desiste, dá
de ombros e entra para o quarto.
CORTA PARA
CENA 23
Tomada da casa de Domi. Efeito de transição noite/dia.
CORTA PARA
CENA 24 – CASA DE DOMI/SALA – INT – DIA

Domi, Hericlépiton e Alpatino estão jogados nos sofás,
adormecidos. No chão, a caixa onde estão os cachorrinhos. A campainha
toca.
NEIDE (vinda do quarto) – Já vai!
Neide abre a porta e encontra Lolita.
LOLITA (entrando) – Oi, Neide. Desculpa não ter vindo antes, mas você
sabe, o programa... Eles deram trabalho?
NEIDE – Não muito. Eles só passaram a noite toda discutindo e tão aí...
LOLITA – Discutindo?
NEIDE – É, por causa daqueles benditos cachorros. Eles compraram os

filhotes, sabe... Só que a Dominique, com essa fixação por nomes e
coisa e tal, começou a berrar, e foi uma berração danada... Não sei
como não chamaram a polícia aqui.
LOLITA – Ela tá ficando doidinha, coitada.
NEIDE – Quer que eu acorde eles agora?
LOLITA – Não, não, deixa eles aí mesmo... Depois eu volto aqui.
NEIDE – Tá bom!
Lolita sai. Logo depois, o telefone toca.
NEIDE – Central de Atendimento aos Desesperados, bom dia. Neide

falando. (t) Ah, é você. O que é? (t) É? Ótimo! Eu digo a ela. (desliga o
telefone e sai falando sozinha) É muita audácia dele ficar ligando pra
cá... Muita audácia, seu Hélio!
CORTA PARA
CENA 24 – RUA – EXT – DIA

Lolita sai andando pela rua, sonolenta. Alfredo vem do outro lado
e a interpela.
ALFREDO – Lolita!
LOLITA (espantada) – Oi?
ALFREDO – O que foi?
LOLITA – Nada, nada... Eu só tô com muito sono. Trabalho, né...
ALFREDO – Sim...
Os dois seguem andando juntos.
ALFREDO – Quase peguei o Marião dessa vez.
LOLITA – Foi?
ALFREDO – É. Eu liguei pra rádio na hora do programa de uma tal Lolita,

e fui lá também, mas não tinha ninguém.
LOLITA – Puxa, que coisa.
ALFREDO – Engraçado é que a apresentadora do programa também se

chama Lolita. (t) Achei que só tua mãe tivesse tido a idéia de batizar
uma criança com nome de doce.
LOLITA – Mas tem o livro, né?
ALFREDO – E ela tinha uma voz meio parecida com a sua...
Ao ouvir isso, Lolita pára de andar por um instante, os olhos

arregalados denotando o susto. Logo volta a andar.
LOLITA – Tá dizendo isso só porque sou a única Lolita que tu conhece, aí

fica associando.
ALFREDO – Não, é sério! Cheguei até a pensar que era tu!
LOLITA – Só por causa do nome, eu sei. É nisso que dá ter um nome tão
original. Mas é só um nome. O que deve ter de Lolita espalhada por aí...
Alfredo e Lolita se afastam até sumirem de cena.
********** FIM DO EPISÓDIO **********


Central Ep07

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Sitcom de

CENA 01 – CASA DE DOMI/QUINTAL – EXT – DIA

DOMI (tentando deter o animal) – Ai... É em momentos assim que eu

NEIDE (entrando) – Domi, novidades!

DOMI – O que é, tia? Ganhou no Pernambuco da Sorte e vai se mudar?

NEIDE – Não... É que nasceram os filhos do Mancha!

DOMI (larga o cachorro, que sai correndo pelo quintal) – É o quê?

DOMI – Tá. Mas o que eu tenho a ver com isso?

DOMI – Tá, e eu com isso?

CENA 02 – CASA DE LOLITA/SALA – INT – DIA

DOMI – Tens idéia de onde eu vou enfiar um monte de cachorrinhos

LOLITA – É claro que vão. E não só vão deixar suas pequenas

CENA 03 – CASA DE DOMI/SALA – INT – DIA

NEIDE (off) – Eles não são fofinhos?

FRED (off) – Parecem com Mancha.

FRED – Domi, eles são vira-latas, não exemplares de poodle toy.

FRED – Se é pra te deixar feliz, exigimos cópia de identidade, CPF,

FRED (observando Domi, que brinca com os cãezinhos na caixa) –

CORTE RÁPIDO PARA

CENA 04 – CASA DE DOMI/SALA – INT – NOITE

DOMI – Prontinho! Agora eles já tomaram leite e estão nanando.

NEIDE – Domi... Você não colocou fraldas neles, colocou?

DOMI – Coloquei, ué. Eles são bebês, e bebês usam fraldas...

FRED – Tá, esquecendo os filhotes, e as fraldas e tudo isso... O que tu

DOMI – Ah, sim! É que eu queria ajuda com os nomes pros

FRED – Nomes? Por quê?

DOMI – Prefiro não arriscar. Os nomes que eles receberem vão

FRED – Sim, e daí? São só cachorros, não importa o nome que

Escrito por Evana Ribeiro – em 24/10/2007

DOMI – E se eles virarem psicopatas? Desajustados? Párias sociais? E se

LOLITA (entrando) – Vão precisar de análise se continuarem morando

DOMI – Valeu, Lolita! Muito obrigada mesmo pelo apoio!

LOLITA – De nada. Mas cadê os puppies?

FRED – Dormindo. Com fralda e tudo.

DOMI – Enquanto isso, eu tô aqui tentando convencer eles da

LOLITA – Bem... De nome esquisito eu entendo. Afinal, eu tinha o nome

NEIDE – Como era o nome dele?

Escrito por Evana Ribeiro – em 24/10/2007

FRED – Microfone, xilofone...

NEIDE – Como eles se chamam?

LOLITA – Alpatino e Hericlépiton. Eles são uma besteirinha mais novos

FRED – Pois sim.

DOMI – Mas deixando os primos da Lolita de lado... Vamos escolher logo

Escrito por Evana Ribeiro – em 24/10/2007

Fred levanta e vai saindo. O telefone toca.

FRED – Central de Desesperamento aos Atendados, boa noite. (t) Ah,

LOLITA – Tem outra coisa pra falar não?

FRED (ainda no telefone) – Sim.

Fred começa a anotar alguma coisa num bloquinho de papel.

CENA 05 – CASA DE JULIANA/TERRAÇO – INT – NOITE

DOMI (entra e entrega os picolés para ela) – Demoramos muito?

JULIANA – Mais ou menos... Que bom que vocês trouxeram o que eu

Escrito por Evana Ribeiro – em 24/10/2007

DOMI – Então pode começar a explicar qual é o problema.

DOMI – Legal! Mas onde tá o problema?

JULIANA – Não. É exatamente a mesma coisa, só que tudo ao contrário.

DOMI E FRED (surpresos) – Como é que é?

JULIANA – Eles fizeram exatamente essa cara aí quando eu disse o

JULIANA – Pra homenagear meu pai.

DOMI – Esse aí merece ser processado, apanhar e ser jogado no rio.

DOMI E FRED – É...

Domi e Fred se entreolham, desconfiados.

CENA 06 – CASA DE DOMI/SALA – INT – NOITE

FRED – E agora? A gente vai mesmo convencer dona Judith e o Flavião a