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CONFLITOS PÓS-ELEIÇÕES NO IRÃ E CIBERATIVISMO NO TWITTER

Giuliana de Toledo*

Resumo: Baseado em conceitos de ciberativismo, inteligência coletiva e smart mobs, este


artigo propõe uma análise de como a ferramenta de microblogging Twitter foi empregada na
organização e divulgação dos conflitos pós-eleições 2009 no Irã. A partir da observação de
fenômenos ocorridos no Twitter, este trabalho verifica como a comunicação via internet pode
causar mobilizações mundiais pela democracia e pela liberdade de expressão.

Palavras-chave: Twitter. Irã. Ciberativismo. Inteligência Coletiva. Smart Mobs. Mídias


Sociais. Liberdade de Expressão.

Mídias sociais são ferramentas online de interação social. Elas baseiam-se na criação
coletiva e no compartilhamento de conteúdo entre usuários da Internet. As mídias sociais
permitem que qualquer indivíduo publique vídeos (em sites como Youtube1 e Vimeo2), fotos
(Flickr3), textos (em blogs e ferramentas de microblogging como o Twitter4), músicas
(Last.fm5) e estabeleça contato com outras pessoas (em redes sociais como Facebook6,
MySpace7, Orkut8). A lógica de livre publicação nas mídias sociais estabelece uma mudança
em relação aos padrões de difusão da mídia tradicional, em que um centro distribui conteúdo
para todos (modelo um-todos). Nas mídias sociais, todos têm a chance de produzir e divulgar
conteúdo para todos (modelo todos-todos). (LÉVY, 1999)
A mídia social Twitter é uma ferramenta de microblogging que permite a publicação
periódica de textos curtos com até 140 caracteres. Os usuários podem “seguir” e serem
“seguidos” por outros inscritos, num sistema de assinatura que facilita a recepção das
atualizações de quem se deseja ler. A frase de apresentação, “What are you doing?” (em
português, “o que você está fazendo?”), convida os usuários a divulgarem suas ações na rede.
Embora, segundo Shirky9 (2008 apud PRIMO, 2008), a maioria dos tweets seja dedicada a
1
* Estudante de Jornalismo da PUCRS. Contato: toledo.giuliana@gmail.com
http://www.youtube.com/
2
http://www.vimeo.com/
3
http://www.flickr.com/
4
http://www.twitter.com/
5
http://www.last.fm/
6
http://www.facebook.com/
7
http://www.myspace.com/
8
http://www.orkut.com/
9
SHIRKY, Clay. Here Comes Everybody: The Power of Organizing Without Organizations. New York:
Penguin Press, 2008. 336 p.
2

amigos, a flexibilidade da ferramenta possibilita sua utilização para mobilizar ativistas


dispersos – função que se observa no caso iraniano.

“As mídias interativas e as comunidades virtuais desterritorializadas abrem uma


nova esfera pública em que floresce a liberdade de expressão. A Internet propõe um
espaço de comunicação inclusivo, transparente e universal, que dá margem à
renovação profunda das condições da vida pública no sentido de uma liberdade e de
uma responsabilidade maior dos cidadãos” (LÉVY, 2003, p. 367)

A facilidade de publicação de conteúdo nas mídias sociais permite seu emprego em


situações em que a imprensa não consegue cobrir adequadamente os acontecimentos – seja
por repressão de autoridades (caso das atuais eleições do Irã10, dos protestos anticomunistas na
Moldávia11 e dos warblogs sobre a Guerra no Iraque12), seja por dificuldade de acesso (caso
da tsunami no Oceano Índico em dezembro de 200413).
Outra prática comum no Twitter é atribuição de tags aos textos, ou seja, a aplicação de
palavras-chave que facilitem sua posterior busca no sistema. As hashtags, em especial, são
uma convenção entre os usuários do Twitter. Trata-se da inclusão de um símbolo de sustenido
(“#”, o popular jogo-da-velha) diante das palavras que se deseja estabelecer como tags. No
caso das eleições iranianas, a tag mais popular é #IranElection. Outra marcação bastante
adotada é #gr88 (hashtag em apoio a Mir Houssein Mousavi, em referência ao seu lema de
Green Revolution e ao ano atual, 1388, no calendário persa).
Além da recuperação de informações facilitada pelo uso das hashtags, a coluna
Trending Topics do Twitter organiza um ranking dos termos mais citados recentemente nas
publicações. Assim, tags de grande popularidade como #IranElection ganham ainda mais
visibilidade perante os usuários. O destaque público garante a divulgação dos temas debatidos
e é um elemento essencial para gerar adesão constante de mais ativistas. O Twitter, nesse
sentido, possui uma estrutura que auxilia na divulgação de protestos. “As ferramentas devem
ser pensadas para que as pessoas, mediante pequenos gestos, possam se reconhecer em outras

10
Durante a escrita desse artigo, o conflito pós-eleições no Irã prosseguia. Por isso, utiliza-se o tempo presente
em vários momentos no texto.
11
Em abril de 2009, jovens da Moldávia (pequeno país do Leste Europeu) organizaram, com ajuda do Twitter,
protestos contra a vitória dos comunistas nas eleições para o parlamento. Mais detalhes em
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,protestos-na-moldavia-foram-organizados-pelo-twitter-diz-
cnn,352079,0.htm.
12
Os warblogs da Guerra no Iraque são tratados em BERENGER, Ralph D. (Ed.) Global media go to war : role
of news and entertainment media during the 2003 Iraq war. Spokane: Marquette Books, 2004. 382 p.
13
Sobre o uso de tecnologias móveis e blogs na tsunami, pode-se conferir LEMOS, André; NOVAS, Lorena.
Ciberculturas e tsunamis: tecnologias de comunicação móvel, blogs e mobilização social. Revista Famecos,
Porto Alegre, n. 26, p. 29-40, abr. 2005. Disponível em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/viewFile/3300/2557. Acesso em 31 jun.
2009
3

pessoas como elas. A visibilidade do dissenso, a ruptura da passividade, é o ápice da estratégia


de empowering people.” (UGARTE, 2008, p. 58)
A crise pós-eleições no Irã é causada pelo descontentamento de parte dos eleitores
com a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad. O resultado oficial apontou a vitória
de Ahmadinejad com larga vantagem de 63% – quase o dobro de Mir Houssein Mousavi, o
segundo colocado. O número foi recebido com uma onda de protestos principalmente na
capital do país, Teerã. Os manifestantes acusam que houve fraude na apuração dos votos. Para
reprimir protestos contra o presidente reeleito, o governo iraniano – que já tem um histórico
de condutas arbitrárias – colocou tropas nas ruas, censurou serviços de informação (telefonia
e Internet) e proibiu correspondentes internacionais de fazerem a cobertura dos atos de
contestação. Alguns jornalistas, inclusive, foram obrigados a se retirar do país.
Nos conflitos decorrentes do resultado das eleições de 12 de junho de 2009, o Twitter
tem servido basicamente para cinco funções de contestação: combinar protestos, promover o
principal candidato da oposição, Mir Houssein Mousavi, denunciar abusos e violência das
autoridades repressoras, enviar informações gerais do conflito para o restante do mundo e
criar campanhas de mobilização internacional em torno da causa iraniana.
Ainda que outras mídias sociais sejam empregadas para os protestos (no Facebook,
por exemplo, a comunidade “Iran - Take back your vote!”14 tem quase 62 mil membros), o
Twitter é o espaço mais notável de manifestação. Entre os fatores para essa preferência,
podem-se apontar: facilidade de distribuição de informações para um grande número de
pessoas (sem ficar restrito aos membros de uma determinada comunidade, como acontece nas
redes sociais Facebook e Orkut), facilidade de em uma só ferramenta poder publicar e ao
mesmo tempo responder a escritos de outros (diferente dos blogs, em que é preciso entrar na
própria página para inserir conteúdo e em cada uma das páginas de outros em que se queira
fazer um comentário), facilidade de acompanhar a publicação de informações (fazendo uma
busca no Twitter, encontram-se os tweets mais recentes sobre o tema), mobilidade (pode ser
usado em computadores ou celulares com conexão à Internet, o que permite a publicação de
mensagens direto do local dos fatos), facilidade para reunir conteúdo divulgado em outras
mídias (pode atuar como um espaço de reunião de conteúdo através da postagem de links para
vídeos no Youtube e fotos no Flickr, por exemplo).
Além disso, a suspensão do serviço de mensagens de texto por celular (SMS)
ocasionou o uso do Twitter como forma alternativa para a troca de textos curtos. Nos

14
http://www.facebook.com/pages/IRAN/18297877889. Último acesso em 1º jul. 2009.
4

primeiros dias de conflito, o SMS foi bastante utilizado para combinar protestos – numa
função semelhante à dos casos das Filipinas (2001) e Espanha (2004).15
Também é preciso ressaltar que o sucesso da Internet na mobilização no Irã é um
fenômeno possível pela intimidade anterior da população com a rede – mais de 20 milhões de
iranianos possuem conexão de Internet16. Com uma população predominantemente jovem17, o
Irã sempre se destacou em número de usuários em redes sociais como Facebook e Orkut e
tem, de longa data, uma comunidade forte de blogueiros.18
A ajuda internacional contribuiu significativamente para a continuidade do movimento
no Irã. Para driblar o rastreamento – e consequente punição – de manifestantes contrários ao
governo, usuários de outras nacionalidades têm oferecido proxies para que iranianos se
conectem à Internet como se estivessem em outro país.19 Há campanhas no Twitter para que se
troque o horário20 para o de Teerã, capital do Irã, e se utilize uma imagem colorida de verde
ou um avatar com mensagens de apoio aos manifestantes. Manuais de como localizar as
informações dispersas na rede sobre o conflito iraniano foram criados por blogueiros e por
veículos de diversos países, a fim de facilitar a busca de tweets, vídeos, fotos, blogs, etc.21
Uma manutenção no sistema do Twitter programada para o dia 16 de junho foi adiada como
forma de não interromper esse canal de comunicação dos oposicionistas iranianos. O pedido
de adiamento partiu do Departamento de Estado dos Estados Unidos.22
Manifestações de colaboração internacional como as acima expostas (independente de
estratégias políticas, como se pode atribuir ao caso de apoio dos EUA) demonstram que a

15
O uso de SMS para manifestações políticas nas Filipinas e na Espanha é analisado em UGARTE, David de. O
poder das redes. Porto Alegre: Edipucrs, 2008. 116 p. e em RHEINGOLD, Howard. Smart mobs: the next
social revolution. Cambrigde (MA): Basic Books, 2002. 266 p.
16
Conforme números de 2007, 23 milhões dos quase 66 milhões de habitantes do Irã têm acesso à Internet.
Dados disponíves em http://www.middleeastdirectory.com/cs_iran.htm. Acesso em 2 jul. 2009.
17
Dados demográficos do Irã disponíveis em: http://www.irantour.org/Iran/population.html. Acesso em 1º jul.
2009
18
No site IraniansBlogs (http://www.iraniansblogs.com/) é possível encontrar uma longa lista de blogs iranianos
escritos em inglês. Acesso em 2 jul. 2009.
19
Ao usar um servidor proxy fornecido por uma pessoa de outro país, é possível acessar páginas bloqueadas
para usuários de dentro do Irã. O servidor proxy, por assim dizer, disfarça a origem do computador conectado.
20
A alteração para o fuso de Teerã (GMT +3:30) tem a função de confundir a censura iraniana ao tentar localizar
manifestantes pela origem dos tweets. Quanto mais pessoas usam a hora de Teerã, mais difícil é localizar e punir
os ativistas.
21
Exemplos de manuais podem ser encontrados no site da BBC
(http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/8099579.stm) e no blog BoingBoing
(http://www.boingboing.net/2009/06/16/cyberwar-guide-for-i.html). Último acesso em 2 jul. 2009.
22
Informação obtida em: Twitter pode ser nova e poderosa ferramenta diplomática. Terra – Tecnologia, 18 jun.
2009. Disponível em: http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3831657-EI4802,00-
Twitter+pode+ser+nova+e+poderosa+ferramenta+diplomatica.html. Acesso em 2 jul. 2009.
5

causa iraniana ganhou força através de sua visibilidade na web e conseguiu mobilizar uma
parcela considerável de pessoas em todo o mundo.23

“[...] países com contextos muito diferentes, com identidades culturais e religiosas
de todo tipo, desenvolvem movimentos cidadãos em rede, que convertem
objetivamente a cidadania em fiscalizadora dos processos democráticos,
denunciando fraudes eleitorais, corrupções e excessos autoritários dos
governantes.” (UGARTE, 2008, p. 51)

Assim, a utilização do Twitter nos conflitos pós-eleições iranianas constitui um


fenômeno de inteligência coletiva, em que predomina a manifestação política em defesa da
democracia e da liberdade de expressão. (LÉVY, 2000)
A definição de ciberativismo dada por Ugarte pode ser aplicada à classificação do uso
do Twitter no caso dos protestos pós-eleições no Irã:

“estratégia que persegue a mudança da agenda pública, a inclusão de um novo tema


na ordem do dia da grande discussão social, mediante a difusão de uma
determinada mensagem e sua propagação através do ‘boca a boca’ multiplicado
pelo meios de comunicação e publicação eletrônica pessoal.” (UGARTE, 2008, p.
77)

No movimento iraniano, a capacidade de o ciberativismo incluir assuntos na agenda


pública é bem representado pelo uso da tag #cnnfail24 (em português, CNN fracassa) para
questionar, via Twitter, a pouca cobertura que a rede americana de televisão vinha dando ao
conflito. Após o grande emprego da hashtag o termo ficou visível entre os trending topics do
Twitter. Não se pode afirmar com certeza essa relação, mas é possível que a CNN tenha
intensificado a cobertura sobre o Irã em virtude do movimento iniciado no Twitter.
O conceito de gatewatching pode ser aplicado ao caso #cnnfail. Ao demonstrar sua
insatisfação através da tag, o público tomou a atitude de fiscalizar e questionar a qualidade do
material publicado pela mídia, num ato de gatewatching – como se estivesse avaliando o que
passa pelos “portões” da imprensa. (BRUNS, 2005)
Os protestos no Irã também podem ser classificados como smart mobs, expressão de
Howard Rheingold para definir multidões inteligentes que organizam movimentos
coordenados através da Internet e de tecnologias móveis. (RHEINGOLD, 2002) O ponto
central das smart mobs iranianas reside na busca pela liberdade de expressão em choque com

23
Não é possível dar números precisos dessa colaboração. É inviável, por exemplo, contar o número de inscritos
no Twitter que adotaram uma foto de cor verde. A observação empírica do caso, no entanto, leva à afirmação de
que há uma grande adesão ao movimento iraniano.
24
O conjunto de tweets que usaram a tag #cnnfail pode ser encontrado em:
http://search.twitter.com/search?q=%23cnnfail. Último acesso em 2 jul. 2009.
6

um Estado opressor. A tecnologia da Internet, mais do que simples meio para organizar a mob,
é a forma viável encontrada para combinar protestos no contexto iraniano pós-eleições. Nesse
sentido, a afirmação de Pierre Lévy, seis anos atrás, ganha atualidade com o que se pode
observar nos protestos no Irã: “[...] A Internet é, hoje, o meio mais eficaz para contornar a
censura dos regimes autoritários.” (LÉVY, 2003, p. 372)
Outro conceito de Lévy encontra eco nos conflitos do Irã. Pode-se afirmar que as
smart mobs iranianas – incluem-se aí os grupos de dentro do país e os internautas engajados
na causa ao redor do mundo – põe em prática a ciberdemocracia defendida pelo pensador.
(Ibid, 2003)
O conflito no Irã – ainda que não esteja solucionado até o momento de conclusão deste
artigo – permite apontar, desde já, duas perspectivas que podem contribuir para práticas
futuras de ciberativismo: 1) a Internet, de fato, não pode ser facilmente controlada pelo
Estado, ainda que sejam estabelecidas estratégias de censura; 2) protestos na web são capazes
de mobilizar pessoas de todo o planeta, mesmo aquelas não influenciadas diretamente pela
causa.
7

REFERÊNCIAS

BRUNS, Axel. Gatewatching: collaborative online news production. Nova York: Peter
Lang, 2005, 330p.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. 260 p.

______. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3. ed. São Paulo:
Loyola, 2000. 219 p.

______. Pela ciberdemocracia. In: MORAES, Dênis de (Org.). Por uma outra
comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 367-384.

PRIMO, Alex. A cobertura e o debate público sobre os casos Madeleine e Isabella:


encadeamento midiático de blogs, Twitter e mídia massiva. Galáxia, v. 16, 2008. No prelo.

RHEINGOLD, Howard. Smart mobs: the next social revolution. Cambrigde (MA): Basic
Books, 2002. 266 p.

UGARTE, David de. O poder das redes. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. 116 p.

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