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Giuliana de Toledo*
Mídias sociais são ferramentas online de interação social. Elas baseiam-se na criação
coletiva e no compartilhamento de conteúdo entre usuários da Internet. As mídias sociais
permitem que qualquer indivíduo publique vídeos (em sites como Youtube1 e Vimeo2), fotos
(Flickr3), textos (em blogs e ferramentas de microblogging como o Twitter4), músicas
(Last.fm5) e estabeleça contato com outras pessoas (em redes sociais como Facebook6,
MySpace7, Orkut8). A lógica de livre publicação nas mídias sociais estabelece uma mudança
em relação aos padrões de difusão da mídia tradicional, em que um centro distribui conteúdo
para todos (modelo um-todos). Nas mídias sociais, todos têm a chance de produzir e divulgar
conteúdo para todos (modelo todos-todos). (LÉVY, 1999)
A mídia social Twitter é uma ferramenta de microblogging que permite a publicação
periódica de textos curtos com até 140 caracteres. Os usuários podem “seguir” e serem
“seguidos” por outros inscritos, num sistema de assinatura que facilita a recepção das
atualizações de quem se deseja ler. A frase de apresentação, “What are you doing?” (em
português, “o que você está fazendo?”), convida os usuários a divulgarem suas ações na rede.
Embora, segundo Shirky9 (2008 apud PRIMO, 2008), a maioria dos tweets seja dedicada a
1
* Estudante de Jornalismo da PUCRS. Contato: toledo.giuliana@gmail.com
http://www.youtube.com/
2
http://www.vimeo.com/
3
http://www.flickr.com/
4
http://www.twitter.com/
5
http://www.last.fm/
6
http://www.facebook.com/
7
http://www.myspace.com/
8
http://www.orkut.com/
9
SHIRKY, Clay. Here Comes Everybody: The Power of Organizing Without Organizations. New York:
Penguin Press, 2008. 336 p.
2
10
Durante a escrita desse artigo, o conflito pós-eleições no Irã prosseguia. Por isso, utiliza-se o tempo presente
em vários momentos no texto.
11
Em abril de 2009, jovens da Moldávia (pequeno país do Leste Europeu) organizaram, com ajuda do Twitter,
protestos contra a vitória dos comunistas nas eleições para o parlamento. Mais detalhes em
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,protestos-na-moldavia-foram-organizados-pelo-twitter-diz-
cnn,352079,0.htm.
12
Os warblogs da Guerra no Iraque são tratados em BERENGER, Ralph D. (Ed.) Global media go to war : role
of news and entertainment media during the 2003 Iraq war. Spokane: Marquette Books, 2004. 382 p.
13
Sobre o uso de tecnologias móveis e blogs na tsunami, pode-se conferir LEMOS, André; NOVAS, Lorena.
Ciberculturas e tsunamis: tecnologias de comunicação móvel, blogs e mobilização social. Revista Famecos,
Porto Alegre, n. 26, p. 29-40, abr. 2005. Disponível em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/viewFile/3300/2557. Acesso em 31 jun.
2009
3
14
http://www.facebook.com/pages/IRAN/18297877889. Último acesso em 1º jul. 2009.
4
primeiros dias de conflito, o SMS foi bastante utilizado para combinar protestos – numa
função semelhante à dos casos das Filipinas (2001) e Espanha (2004).15
Também é preciso ressaltar que o sucesso da Internet na mobilização no Irã é um
fenômeno possível pela intimidade anterior da população com a rede – mais de 20 milhões de
iranianos possuem conexão de Internet16. Com uma população predominantemente jovem17, o
Irã sempre se destacou em número de usuários em redes sociais como Facebook e Orkut e
tem, de longa data, uma comunidade forte de blogueiros.18
A ajuda internacional contribuiu significativamente para a continuidade do movimento
no Irã. Para driblar o rastreamento – e consequente punição – de manifestantes contrários ao
governo, usuários de outras nacionalidades têm oferecido proxies para que iranianos se
conectem à Internet como se estivessem em outro país.19 Há campanhas no Twitter para que se
troque o horário20 para o de Teerã, capital do Irã, e se utilize uma imagem colorida de verde
ou um avatar com mensagens de apoio aos manifestantes. Manuais de como localizar as
informações dispersas na rede sobre o conflito iraniano foram criados por blogueiros e por
veículos de diversos países, a fim de facilitar a busca de tweets, vídeos, fotos, blogs, etc.21
Uma manutenção no sistema do Twitter programada para o dia 16 de junho foi adiada como
forma de não interromper esse canal de comunicação dos oposicionistas iranianos. O pedido
de adiamento partiu do Departamento de Estado dos Estados Unidos.22
Manifestações de colaboração internacional como as acima expostas (independente de
estratégias políticas, como se pode atribuir ao caso de apoio dos EUA) demonstram que a
15
O uso de SMS para manifestações políticas nas Filipinas e na Espanha é analisado em UGARTE, David de. O
poder das redes. Porto Alegre: Edipucrs, 2008. 116 p. e em RHEINGOLD, Howard. Smart mobs: the next
social revolution. Cambrigde (MA): Basic Books, 2002. 266 p.
16
Conforme números de 2007, 23 milhões dos quase 66 milhões de habitantes do Irã têm acesso à Internet.
Dados disponíves em http://www.middleeastdirectory.com/cs_iran.htm. Acesso em 2 jul. 2009.
17
Dados demográficos do Irã disponíveis em: http://www.irantour.org/Iran/population.html. Acesso em 1º jul.
2009
18
No site IraniansBlogs (http://www.iraniansblogs.com/) é possível encontrar uma longa lista de blogs iranianos
escritos em inglês. Acesso em 2 jul. 2009.
19
Ao usar um servidor proxy fornecido por uma pessoa de outro país, é possível acessar páginas bloqueadas
para usuários de dentro do Irã. O servidor proxy, por assim dizer, disfarça a origem do computador conectado.
20
A alteração para o fuso de Teerã (GMT +3:30) tem a função de confundir a censura iraniana ao tentar localizar
manifestantes pela origem dos tweets. Quanto mais pessoas usam a hora de Teerã, mais difícil é localizar e punir
os ativistas.
21
Exemplos de manuais podem ser encontrados no site da BBC
(http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/8099579.stm) e no blog BoingBoing
(http://www.boingboing.net/2009/06/16/cyberwar-guide-for-i.html). Último acesso em 2 jul. 2009.
22
Informação obtida em: Twitter pode ser nova e poderosa ferramenta diplomática. Terra – Tecnologia, 18 jun.
2009. Disponível em: http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3831657-EI4802,00-
Twitter+pode+ser+nova+e+poderosa+ferramenta+diplomatica.html. Acesso em 2 jul. 2009.
5
causa iraniana ganhou força através de sua visibilidade na web e conseguiu mobilizar uma
parcela considerável de pessoas em todo o mundo.23
“[...] países com contextos muito diferentes, com identidades culturais e religiosas
de todo tipo, desenvolvem movimentos cidadãos em rede, que convertem
objetivamente a cidadania em fiscalizadora dos processos democráticos,
denunciando fraudes eleitorais, corrupções e excessos autoritários dos
governantes.” (UGARTE, 2008, p. 51)
23
Não é possível dar números precisos dessa colaboração. É inviável, por exemplo, contar o número de inscritos
no Twitter que adotaram uma foto de cor verde. A observação empírica do caso, no entanto, leva à afirmação de
que há uma grande adesão ao movimento iraniano.
24
O conjunto de tweets que usaram a tag #cnnfail pode ser encontrado em:
http://search.twitter.com/search?q=%23cnnfail. Último acesso em 2 jul. 2009.
6
um Estado opressor. A tecnologia da Internet, mais do que simples meio para organizar a mob,
é a forma viável encontrada para combinar protestos no contexto iraniano pós-eleições. Nesse
sentido, a afirmação de Pierre Lévy, seis anos atrás, ganha atualidade com o que se pode
observar nos protestos no Irã: “[...] A Internet é, hoje, o meio mais eficaz para contornar a
censura dos regimes autoritários.” (LÉVY, 2003, p. 372)
Outro conceito de Lévy encontra eco nos conflitos do Irã. Pode-se afirmar que as
smart mobs iranianas – incluem-se aí os grupos de dentro do país e os internautas engajados
na causa ao redor do mundo – põe em prática a ciberdemocracia defendida pelo pensador.
(Ibid, 2003)
O conflito no Irã – ainda que não esteja solucionado até o momento de conclusão deste
artigo – permite apontar, desde já, duas perspectivas que podem contribuir para práticas
futuras de ciberativismo: 1) a Internet, de fato, não pode ser facilmente controlada pelo
Estado, ainda que sejam estabelecidas estratégias de censura; 2) protestos na web são capazes
de mobilizar pessoas de todo o planeta, mesmo aquelas não influenciadas diretamente pela
causa.
7
REFERÊNCIAS
BRUNS, Axel. Gatewatching: collaborative online news production. Nova York: Peter
Lang, 2005, 330p.
______. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3. ed. São Paulo:
Loyola, 2000. 219 p.
______. Pela ciberdemocracia. In: MORAES, Dênis de (Org.). Por uma outra
comunicação. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 367-384.
RHEINGOLD, Howard. Smart mobs: the next social revolution. Cambrigde (MA): Basic
Books, 2002. 266 p.
UGARTE, David de. O poder das redes. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008. 116 p.