Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
Nova Iguaçu
08/07/2009
LAUREANE RAMOS DA
2
Orientadora
Profª. Ms. Luzia Cunha Cruz
Nova Iguaçu
08/07/2009
3
RESUMO
ABSTRACT
This article aims at showing the process of performance from the characters
Dravot and Carnehan in the work The Man who Would be King by Rudyard
Kipling according to the Theory of Communicative Action from the german
philosopher Jürgen Habermas with focus in the Theory of Strategical Acting. In a
discursive act, the being shall seek to influence the “other” using persuasive and
(or) coersitive arguments with purpose to produce results that are in accordance
with his plans. In this manner we are going to show the thought from the
imperialist vision of the literary critic Edward Said analyzing the behavior of the
colonizer reflected in English literature of the nineteenth century. Our objective is
to establish parameters for the human behavior, when the individual, insert in a
social context, acts in a such way to reach a particular goal, despiting his own life.
Introdução
O presente artigo pretende, a partir da visão histórica de Edward
Said¹
e da perspectiva da filosofia hermenêutica da Teoria da Ação Comunicativa de
Jürgen Habermas, analisar o comportamento dos personagens Daniel Dravot e
Peachey Carnehan na obra O Homem que Queria ser Rei2 de Rudyard Kipling3.
___________________________
¹ Em 1978, o palestino Edward Said , ao escrever o clássico “Orientalismo” (Orientalism), rompe
com os estudos pós-coloniais inspirados no marxismo para abraçar as teses de Foucaut. Até então
ninguém ousara interpretar a história como uma luta pela linguagem, e sim como uma luta de
classes, como Marx e seus seguidores o fizeram.
2
O Homem Que Queria Ser Rei (1975) - Tradução de BOSELLI, Cristina Carvalho - Título
original em Inglês: THE MAN WHO WOULD BE KING, é um conto dividido em dois momentos:
no primeiro, o conto é narrado por um homem desempregado que sai da sua terra em busca de uma
melhoria de vida e torna-se editor de um jornal. O narrador apresenta os personagens contando o
seu encontro com os amigos Carnehan e Dravot. No segundo momento, o narrador é o próprio
Peachey que conta as aventuras que viveu com seu amigo Dravot. A história narra as aventuras de
dois ex-soldados britânicos: Peachey Carnehan e Daniel Dravot cuja relação é marcada pela
amizade e lealdade. Os amigos decidem partir para a Índia em busca de riqueza e poder. Vivem
trapaceando e simulando personagens para não serem pegos pelas autoridades locais e com isso,
atravessam o Afeganistão, cruzam desertos, geleiras, montanhas, enfrentam bandidos e as
intempéries naturais até que enfim chegam ao (fictício) Kafiristão. Lá encontram uma terra de
bárbaros, que se reúnem em tribos isoladas, eternamente em luta umas contra as outras. Usando
seus conhecimentos de estratégia militar, além de muita esperteza, Dravot e Carnehan vão
ganhando a confiança do povo local até que conseguem seu intento. Daniel se torna o rei do
Kafiristão. Muitas vezes ajudados pela sorte, pela História e pela Maçonaria (quando Dravot torna-
se o Grande Mestre de Ofício ao descobrir os símbolos maçônicos e convencem a população de
uma tribo de que são deuses), Carnehan e Dravot vão sobrevivendo sem que sejam desmascarados.
Após ser flechado numa batalha e arrancar a flecha fora (que tinha atingido uma proteção que
possuía no peito), Dravot é aclamado pelo povo como um deus vivo, sucessor direto de Alexandre
o Grande. E isso acaba selando o destino dos amigos. Ao agir segundo suas emoções, Dravot
quebra o contrato que fizera com Peachey e pede ao povo que lhe preparem uma mulher para
casar-se com ele. A mulher, insatisfeita, morde o pescoço de Dravot. Ao ver o sangue escorrendo
pelo braço de Dravot, o povo descobre que os amigos não passam de trapaceiros e todo o reinado é
desfeito. A cada erro que Dravot comete em suas ações, Peachey está presente para orientá-lo, mas
levado pela ganância e a inconsequência do homem colonizador, Dravot é levado pelo excesso de
confiança e acaba perdendo sua própria vida. Mas, contudo, teve o que tanto almejou: a coroa de
Rei em sua cabeça.
3
KIPLING, Joseph Rudyard (1865-1936) escritor e poeta britânico, nascido em Bombaim, na
Índia, na época, parte do Império Britânico. Suas principais obras são: The Jungle Book (1894),
The Second Jungle Book (1895), Just So Stories (1902), e Puck of Pook's Hill (1906), Kim (1901);
Mandalay (1890), Gunga Din (1890), If (1910) e Ulster (1912); The Man Who Would Be King
(1888); "Life's Handicap" (1891), "The Day's Work" (1898), e "Plain Tales from the Hills" (1888).
Em 1907, Kipling recebe o Prémio Nobel da Literatura. Considera-se Kipling o principal
representante da literatura imperialista.
5
6
No que se refere ao Agir Comunicativo, Habermas diz que “o entendimento através da linguagem
funciona da seguinte maneira: os participantes da interação unem-se através da validade pretendida
de suas ações da fala[...]. Através das ações de fala são levantadas pretensões de validades
criticáveis, as quais apontam para um reconhecimento intersubjetivo.” HABERMAS: Pensamento
Pós-metafísico, 2002, p. 72.
7
_______________________________
7
Habermas afirma que “No Agir Estratégico a constelação do agir e falar modifica-se. Aqui as
forças ilocucionárias de ligação enfraquecem; a linguagem encolhe-se, transformando-se num
simples meio de informação.” HABERMAS: Pensamento Pós-metafísico, 2002, p. 74.
8
perlocucionários8 que são efeitos que não guardam nenhuma relação com o
significado do proferimento, pois o falante só pode agir estrategicamente
ocultando os interesses particulares que subjaz o seu discurso. Neste sentido,
Peachey, ao tentar convencer o amigo, percebe que este se encontra na mesma
situação financeira que ele, ou seja, sem dinheiro, para pagar o envio do
telegrama. E no ato comunicativo, os amigos conversam sobre assuntos
pertinentes à condição em que eles se encontram: a condição de “vagabundos”.
Vejamos as passagens abaixo que nos mostram o momento em que as personagens
se identificam:
Peachey: “Se a Índia só tivesse homens como você e eu que,
como os corvos, não sabem o que vão comer no dia seguinte,
esta terra não pagaria setenta milhões de impostos: seriam
setecentos milhões”.
O amigo: “Quanto mais eu olhava para a sua boca, mais me
sentia inclinado a concordar com ele. Falamos da política, a
política da Vagabundagem que vê as coisas pelo lado avesso
[...].”
(KIPLING, 1975, p. 8)
___________________________
8
Habermas define os atos da fala como locucionários, o qual o falante simplesmente diz algo,
expressa um estado de coisas; ilocucionários, quando a linguagem é usada objetivando o
9
_______________________________
entendimento mútuo; e perlocucionários, que é o ato no qual o ator, através da comunicação, causa
um efeito no ouvinte, e, consequentemente, obtém vantagens pessoais.
“Eu caracterizei o compreender e o aceitar de ações de fala como sucessos ilocucionários; todos
os fins e efeitos que vão além disso devem ser chamados “perlocucionários”. HABERMAS,
Jürgen. Pensamento pós-metafísico: estudos filosóficos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990, p.
72.
10
aos poucos, o seu império e com isso conquistar a confiança do povo local que
depois de estar sob o domínio ocidental, perde o direito sobre si. Desta forma, o
imperador ganha a liberdade de aplicar as devidas penalidades a quem infringir a
lei imposta pelo dominador.
Ao analisarmos a obra de Rudyard Kipling, observamos que todo esse
jogo do império ocidental encontra-se presente na dialógica das personagens
quando, ao longo do conto, fortalecem-se ganhando cada vez mais aliados e
poder. A sorte parece ser uma fiel companheira e por tornarem-se seres
admiráveis, faz-se iminente o sonho de serem reis. Veremos que os anseios
imperialistas encontram-se muito bem explicitados na fala de Peachey Carnehan:
_________________________________
9
“A visão habermasiana de “mundo de vida” é descrito como um mundo no qual os atores da
comunicação são engajados nele e que comunguem das mesmas bases, das mesmas normas. As
certezas que acompanham a ação podem ruir, não por causa das circunstâncias objetivas
decepcionantes, mas devido a objeções ou a contradições dos outros que possuem valores
diferentes ou que seguem normas incompatíveis entre si”. SIEBENEICHLER, Flávio Beno.
Jürgen Habermas. Razão comunicativa e emancipação. Tempo Brasileiro, 2002. p. 116.
14
“É culpa sua”, ele falou, “por não ter cuidado melhor do seu
Exército. Tinha um motim no meio e você não sabia, seu cão
danado, maquinista de trem, colocador de placas, carregador de
___________________________
10
Na obra, Billy Fish é o chefe de Bashkai, um sacerdote que acompanha e assiste aos amigos
nas questões religiosas e culturais das aldeias. Único homem que sabe da farsa de Peachey e
Daniel e os acompanha até o desfecho da aventura dos amigos.
16
Conclusão
Referências Bibliográficas
KIPLING, Joseph Rudyard. O Homem que Queria ser Rei e outras histórias.
Trad. BOSELLI, Cristina Carvalho. Rio de Janeiro: Editora Record, 1975.
PIZZI, Jovino. O Conteúdo Moral do Agir Comunicativo. Rio Grande do Sul: Ed.
Unisinos, 2005.