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Resumo
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estabeleceu padronização obrigatória para troca
de informações entre operadoras de planos privados de saúde e prestadores de saúde, denominada Padrão
TISS. Com o intuito de acompanhar o processo de implantação deste padrão, foi instituída a pesquisa
Radar TISS. A pesquisa contemplou aspectos relacionados ao intercâmbio de informação sobre
faturamento e autorização de procedimentos, e também mecanismos de elegibilidade e uso de certificação
digital. Esse artigo tem como objetivo apresentar os resultados dessa pesquisa. Observou-se um
impressionante volume de 26 milhões de guias trocadas no mês analisado (outubro de 2007), assim como
uma distribuição desigual de trocas de guias eletrônicas nas regiões brasileiras. A região Sul apresentou o
maior número de guias eletrônicas trocadas (60,2%) e os laboratórios foram os prestadores que mais se
relacionaram (66,5%) de forma eletrônica com as operadoras. A realização sistemática da pesquisa Radar
TISS permitirá melhorias no processo de implantação do padrão, contribuindo para o avanço da
incorporação da troca eletrônica de guias relacionadas a eventos de saúde no Brasil.
Abstract
Brazilian Health Agency (ANS) has implemented a mandatory national standard for electronic health
information exchange among health plans (HP) and health providers, known as TISS. ANS has developed
an assessment survey named “Radar TISS” to evaluate TISS implementation. The aim of this study is to
present Radar TISS results. The survey has revealed the occurrence of an impressive volume of
approximately 26 million information exchanges (2007, October). Important trends were observed like the
unequal distribution of electronic information exchange throughout Brazilian regions. The southern region
had the largest number of electronic exchange in the period (60.2%). Laboratories revealed to be the more
advanced type of health providers in terms of electronic information exchange (66.5%). Radar TISS proved
to be an important instrument to follow the nationwide electronic data exchange implementation. The
systematic use of Radar TISS will help TISS stakeholders to improve the standard implementation,
completely fulfilling the survey purpose.
Key-words: TISS; Health Standardization, Health Information, Health Informatics
te
e
te
Su
st
st
or
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de
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N
-O
A análise dos dados do Radar TISS foi
Su
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tro
N
baseada na resposta de 516 OPS que
en
C
representam cerca de 28 milhões de
beneficiários, o que corresponde a 60% do total
de cobertura do setor. Figura 1 – Percentual de Guias Eletrônicas
As OPS participantes da pesquisa trocadas por região do Brasil
trocaram aproximadamente 26 milhões de guias
com seus prestadores, no período de outubro de A análise também foi realizada
2007. Deste montante, as guias de “SP/SADT” e categorizando as OPS em três portes, a saber:
“Consulta” representaram mais de 88% das pequeno porte (com número de beneficiários
trocas ocorridas. A Tabela 1 apresenta o total de inferior a vinte mil); médio porte (com número de
guias trocadas no período analisado e o beneficiários entre vinte mil e cem mil) e grande
percentual de guias eletrônicas trocadas. porte (número de beneficiários superior a cem mil
beneficiários). Foram 53 OPS de grande porte
(10,3%), 133 (25,7%) de médio porte e 330 (64%)
Tipo de Guia Total %Eletrônica de pequeno porte que participaram da pesquisa.
SP/SADT 14.115.490 46,45% As OPS de médio porte apresentaram, em
Consulta 8.755.396 38,46% relação à representatividade por número de
Sol. Internação 515.830 19,12% beneficiários, um percentual mais elevado de
Resumo trocas de guias eletrônicas (46,8%), em
489.636 35,08% comparação aos outros dois grupos. As OPS de
Internação
grande porte apresentaram um percentual
Outras 2.034.885 26,54% coincidente com a média das guias eletrônicas
Total 25.911.237 41,42% trocadas (41,4%) e as de pequeno porte
apresentaram um percentual (32,5%) abaixo da
Tabela 1 – Volume de guias trocadas, por média.
tipo, e percentual de guias eletrônicas Em relação às modalidades das OPS, as
Cooperativas Médicas atingiram um percentual
Ao analisar as trocas de guias por região, bastante representativo de trocas de guias
observou-se que a região Sudeste apresentou o eletrônicas, 60,6%. Já as Autogestões ainda
maior volume de trocas de guias, na ordem de possuem um percentual elevado de trocas de
16,5 milhões no período, ao passo que a região guias em papel, superior a 80%. As modalidades
Norte trocou apenas 500 mil. No entanto, ao se Medicina de Grupo atingiram 39,73%, enquanto
analisar em termos de volume de guias que as Seguradoras de Saúde apresentaram
eletrônicas, a região Sul se destaca com cerca de 32,37%. Já o percentual de trocas das guias
60%, seguido da região Nordeste (42%,), Sudeste eletrônicas pelas Filantrópicas foi de 25%. A
(40%), Centro-Oeste (27%) e Norte (22%). A média do total foi de 41,4%, mas, dentre todas as
linha que trespassa horizontalmente o gráfico modalidades de OPS, somente as Cooperativas
representa a média das guias eletrônicas em Médicas superaram este valor.
relação ao total de guias (em papel e eletrônica) Foi questionada a forma de
trocadas no período da pesquisa. relacionamento (manual e/ou eletrônica) entre as
OPS e os diversos tipos de PS. Ou seja, uma
OPS pode se relacionar com um mesmo PS ora
manual ora eletronicamente. Observou-se que
cerca de 66% das vezes que uma OPS se
relaciona com os laboratórios ocorre uma
transação eletrônica. Com os hospitais o
percentual reduz para 20% e, com os consultórios
médicos esse percentual é de 34%. A Tabela 2
apresenta os percentuais de relacionamento
eletrônico por tipo de PS e região do país. Todos
os tipos de PS da região Sul apresentaram o Verificou-se que 92% das OPS utilizam
maior percentual de relacionamento eletrônico em formulários em papel como mecanismo de
relação às demais regiões. Entretanto, não há autorização. Já 38% delas utilizam o mecanismo
uniformidade na distribuição entre os tipos de PS Portal (autorizadores).
e regiões do país. A Figura 2 mostra, por Unidade Em relação aos mecanismos de
Federativa, a distribuição do relacionamento faturamento das OPS, os formulários em papel
eletrônico entre OPS e PS pelo país. Observou- representam o mecanismo de maior utilização por
se que as regiões Centro-Oeste e Sul todas as modalidades de OPS. No entanto, o uso
apresentaram resultados mais expressivos em do formulário em papel apresentou grandes
comparação com as demais regiões do país. variações entre elas. Observou-se, por exemplo,
que entre as Seguradoras, seu uso foi de 81,1%,
já as Cooperativas Médicas restringem o uso
Tipo de
deste mecanismo a 44,7% de suas operações de
Prestador S SE N NE CO Total
faturamento. O menor percentual registrado nesta
Laboratórios 88% 67% 5% 22% 10% 66% modalidade é explicado pela maior utilização do
Pronto Socorro 57% 32% 7% 9% 6% 36% “Portal (autorizadores)”, 25,9%. Este percentual é
Consultórios 59% 33% 24% 25% 8% 35% bastante discrepante do observado pelas
Clínicas 71% 12% 3% 22% 5% 21% Seguradoras (0,3%), ou mesmo pelas
Hospitais 30% 19% 9% 24% 13% 20% Autogestões (1,8%) e Medicinas de Grupo
(4,05%).
Tabela 2 – Percentual de relacionamento Outro mecanismo merecedor de
eletrônico entre as OPS e PS destaque é o “Provedor de conectividade”, o qual
obteve um expressivo uso pelas Autogestões
(18,6%), mas sequer é utilizado pelas
Filantrópicas (0%). As Seguradoras também
processam uma parte importante do seu
faturamento através deste mecanismo (12,2%).
Por último, observou-se que a
Certificação Digital ainda é utilizada de forma
muito incipiente pelas OPS. Do total das
participantes da pesquisa (516), apenas 100
(19,3%) fazem uso de tal mecanismo.
%Eletrônico
até 20,0
Discussão e Conclusões
20,0 --| 40,0
40,0 --| 60,0
60,0 --| 80,0 O envolvimento permanente de
80,0 --| 100,0 autoridades públicas na estruturação, gestão,
financiamento, organização e provisão de
serviços de saúde, incluindo soluções referentes
à Saúde Eletrônica, assim como as disposições
Figura 2 – Percentual de relacionamento legais e regulamentares específicas, estão na
eletrônico entre as OPS e PS por UF base de um sistema de saúde eficaz.
Nesse contexto, cabe mencionar que a
Na pergunta acerca dos mecanismos de Saúde Eletrônica oferece uma série de
elegibilidade do paciente utilizados pelos PS, oportunidades para alterar radicalmente a
havia a possibilidade da OPS responder mais de prestação de cuidados de saúde em benefício de
um item, caso utilizasse mais de um mecanismo todos os interessados [9].
de elegibilidade. A partir da consideração de tais evidências,
Observou-se que o “Cartão de o Brasil, por meio da Agência Nacional de Saúde
Identificação” é adotado como mecanismo de Suplementar, estabeleceu padronização
elegibilidade por uma parcela bastante obrigatória (TISS) para troca de informações em
representativa das OPS (78,60%), seguida pela saúde, entre OPS e prestadores de serviços.
“Assinatura” (52,09%). Algumas poucas OPS, Constatou-se, no caso brasileiro, que a atuação
entretanto, reportaram não utilizar nenhum de uma entidade do Governo na condução de tal
mecanismo de elegibilidade (5,58%). Apenas 7% projeto foi decisiva para o alcance de seus
das OPS utilizam a biometria para esta finalidade. objetivos, tendo em vista seu caráter permanente
Inquiriu-se ainda as OPS sobre os e sua capacidade de contrabalançar pressões
mecanismos utilizados pelos PS para autorização advindas de interesses particularistas que
dos serviços de saúde. Nesta pergunta, havia a poderiam enviesar a construção do padrão.
possibilidade da OPS responder mais de um item, Importante destacar que a padronização TISS,
caso utilizasse mais de um mecanismo de uma política pública na área de saúde, foi
autorização.
construída a partir de um amplo debate entre os OPS e PS no país. As Regiões Sul e Sudeste, por
atores do setor de saúde suplementar. exemplo, apresentaram percentual bastante
superior em comparação às outras regiões, em
No entanto, para o sucesso de tal política,
relação a cada grupo de prestadores. Tais
torna-se importante considerar um grande desafio
diferenças regionais, relacionadas com a
(não só para o Brasil, mas para outros países,
implantação de tecnologia de informação de
tanto desenvolvidos como em desenvolvimento),
que seria o identificador unívoco para cada saúde, já foram descritas pelo relatório da
indivíduo. A ausência desse identificador dificulta, Organização Mundial de Saúde no ano de 2006
sobre o Brasil[12]. No referido trabalho, são
por exemplo, a implantação de sistemas de
apresentadas algumas dificuldades para o
informação baseados em dados do paciente. [10]
desenvolvimento da infra-estrutura de informação
Em relação aos resultados obtidos pela em saúde, dentre elas o tamanho do país e as
pesquisa Radar TISS, observou-se que os diversidades regionais.
hospitais constituem o tipo de prestador com o Verificou-se ainda que a Certificação Digital
menor percentual de relacionamento eletrônico é um mecanismo pouco utilizado no mercado de
com as OPS (20%). Tendo em vista o resultado saúde suplementar. Os resultados estão de
encontrado, torna-se importante mencionar uma acordo com aqueles encontrados no relatório da
pesquisa realizada com hospitais da América Comunidade Européia em 2007. No referido
Latina e Caribe sobre a informatização de seus trabalho também foi constatado que há poucas
sistemas. Foram observadas diferenças experiências em certificação, em especial as
significativas entre os diversos tipos de hospitais. consideradas de alto níveis de semântica,
Os hospitais públicos vinculados à seguridade necessárias na área de Saúde Eletrônica. [9]
social, embora em menor quantidade (5,29%),
apresentaram o maior percentual de Como conclusão, é possível afirmar que a
informatização (50%), seguido pelos filantrópicos pesquisa Radar TISS mostrou-se um instrumento
(39.3%), privados (36.7%), militares (23.2%), e de extrema relevância para o acompanhamento
públicos não vinculados à seguridade social do Padrão TISS no país. De fato, por meio de tal
(21.5%). No entanto, no grupo de todos os pesquisa foi possível identificar importantes
hospitais com sistemas informatizados, os padrões de troca de informação entre OPS e
hospitais privados representaram a maioria prestadores no período analisado.
(54,7%). [9] Tendências importantes foram observadas,
como, por exemplo, a distribuição desigual do
Outro tipo de prestadores de serviços, os número de trocas de guias eletrônicas nas
consultórios médicos, também foram incluídos na regiões brasileiras, e também nas diferentes
pesquisa, embora o prazo para a implantação modalidades e portes das OPS, e ainda entre os
eletrônica do Padrão TISS não era obrigatório na diferentes tipos de prestadores.
época de sua realização. Ainda assim, verificou- Concluiu-se que as informações colhidas
se um percentual importante neste grupo (35%). com a realização sistemática da pesquisa Radar
Os resultados encontrados parecem demonstrar o TISS permitirá melhorias no processo de
maior acesso ao computador pelos profissionais implantação do padrão TISS, cumprindo sua
médicos. finalidade prevista.
De acordo com o Relatório sobre o
desenvolvimento de Saúde Eletrônica na Referências
Comunidade Européia (Health Information
Network Europe -HINE Report), do ano de 2005, [1] BRASIL. Agência Nacional de Saúde
observou-se que os hospitais europeus ainda não Suplementar. Resolução Normativa nº 153, de 28
atingiram a plena capacidade de uso das de maio de 2007. Disponível em:
principais ferramentas relacionadas à Saúde http://www.ans.gov.br/portal/site/legislacao/legisla
Eletrônica. Além disso, mais de 80% dos médicos cao_integra.asp?id=993.
generalistas estão conectados on-line, e a banda
larga está disponível para mais de 90% de [2] Brasil. Agência Nacional de Saúde
população urbana, mas para apenas 60% da Suplementar. Caderno de Informação da Saúde
população rural. Embora atualmente a utilização Suplementar. (jun. 2008). Rio de Janeiro: ANS,
da banda larga direcionada para a saúde continue 2008. Disponível em:
a ser muito limitada na Europa, sabe-se que o http://www.ans.gov.br/portal/upload/informacoess
aumento de sua cobertura conduzirá, s/caderno_informaca_06_2008.pdf.
inevitavelmente, à maior utilização da soluções
eletrônicas para a saúde [11]. [3] NHS-ConnectingforHealth [acesso em 2008
Outro resultado encontrado pela pesquisa Junho 10]. Disponível em
Radar TISS foi a distribuição desigual dos http://www.connectingforhealth.nhs.uk/
percentuais de relacionamento eletrônico entre
[4] Nehta (National E-Health Transition Authority) [11] European EHealth Forecast. Health
[acesso em 2008 Junho 10]. Disponível em Information Network Europe (HINE) report, 2006.
http://www.nehta.gov.au/
[12] World Health Organization, Global
[5] Canadá Health Infoway [acesso em 2008
Observatory for E-Health. Global Survey
Junho 10]. Disponível em http://www.infoway-
2005/2006, WHO Regions of the Americas, Brazil
inforoute.ca/ Profile.
[6] Office of the National Coordinator for Health
Information Technology (ONCHIT) [acesso em Contato
2008 Junho 10]. Disponível em
http://www.os.dhhs.gov/healthit/documents/ Autor: Simone Fabiano Mendes
Cronin.htm Cirurgiã-Dentista formada pela Universidade
Federal Fluminense (UFF) – Rio de Janeiro
Especialista em Regulação de Saúde
[7] California Association for Healthcare Quality
(CAHQ) [acesso em 2008 Junho 10]. Disponível Suplementar/ANS
em http://www.cahq.org Mestre em Saúde Pública (Área de Concentração
Planejamento e Gestão de Sistemas e Serviços
de Saúde) pela Escola Nacional de Saúde
[8] Health Leven 7 (HL 7) [acesso em 2008 Junho
Pública (ENSP)
10]. Disponível em http://www.hl7.org/
[9] European Comission, Information Society and Agência Nacional de Saúde Suplementar
Av. Augusto Severo 84 10º andar – Glória
Media Directorate. EHealth Taskforce Report
Rio de Janeiro/RJ.
Composed in preparation for the Lead Market
Initiative - Accelerating the Development of the
Diretoria de Desenvolvimento Setorial
eHealth Market in Europe, 2007.
Gerência Geral de Integração com o SUS
[10] Rodrigues RJ, Risk A. E-Health in Latin Gerência de Padronização de Informações
Tel: (021) 3513 0123
America and the Caribbean -Development and
(021) 3513 0124
Policy Issues. Journal of Medical Internet
(021) 3513 0108
Research 2003 Jan–Mar; 5(1): 4.