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Apresentação
Rogério Christofoletti
Professor responsável pelo MONITOR DE MÍDIA
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Expediente
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Sumário
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CIÊNCIA
Reunião dos artigos sobre jornalismo científico
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Superficialidade pautou
cobertura da MP dos
Laura Seligman em 16/10/2005
transgênicos
O noticiário brasileiro acompanha nos úl- Essa definição pouco interessou durante a
timos dias um dilema que parece improvável. cobertura, inclusive a catarinense, que acompa-
Devemos autorizar (através de nossos represen- nhou os momentos de indecisão, afirmações e
tantes no Congresso, é claro) a comercialização desmentidos, até a decisão no final da noite do
de soja transgênica? O Executivo tem o direito dia 14, quinta-feira, pela reedição da Medida Pro-
de permitir a produção de alimento transgênico visória que autoriza o plantio e a comercialização
por Medidas Provisórias? A dúvida é improvável da soja transgênica. O grande destaque, pelo pal-
pelo simples fato do total desconhecimento sobre co onde a decisão se desenvolveu, foi o fato políti-
o que vem a ser alimento transgênico. E a igno- co, principalmente a disputa entre ministros (do
rância (no sentido de desconhecimento, longe de Meio Ambiente e da Agricultura). Pontuando a
qualquer pejo) se configura como uma pandemia, cobertura política, o fato econômico: os agricul-
atingindo, inclusive, jornalistas de uma forma ge- tores gaúchos teriam grandes dificuldades finan-
ral. ceiras se fossem impedidos de plantar suas semen-
tes transgênicas e condenados a destruir todo o
O mal não se restringe a essa cobertura. estoque.
Como disse Clóvis Rossi, jornalista não pode ser
um “especialista em generalidades”. Nos veículos O jornal gaúcho Zero Hora, por exemplo,
diários, a cobertura científica é feita pelo mesmo com público diretamente interessado na possibi-
cidadão que vai cobrir, num dia só, a pauta do bu- lidade de liberação da soja transgênica (é lá que es-
raco na rua, a fila no posto de saúde, a coletiva do tão a Monsanto, multinacional da biotecnologia
secretário da Segurança Pública. que produziu as sementes em questão, e os agri-
cultores que plantaram na ilegalidade e esperam
Segundo o site AMBIENTE BRASIL, a caneta da salvação), citou, no dia 14 de outubro,
transgênicos “resultam de experimentos de en- na sua versão on-line, em três oportunidades a pa-
genharia genética nos quais o material genético lavra “transgênicos”.
é movido de um organismo a outro, visando a
obtenção de características específicas. Em pro- A primeira citação veio no comentário po-
gramas tradicionais de cruzamentos, espécies lítico de Brasília, de Ana Amélia Lemos, com
diferentes não se cruzam entre si. Com essas téc- afirmações de deputados garantindo o bem-estar
nicas transgênicas, materiais gênicos de espécies dos agricultores. A segunda vez, numa frase enig-
divergentes podem ser incorporados por uma ou- mática que encerra a coluna de informação geral
tra espécie de modo eficaz”. Portanto, o uso como Informe Especial, questionando: “a medida pro-
sinônimos dos termos transgênicos e organismos visória sai este ano”? Ora, se o jornalista não sabe,
geneticamente modificados nem sempre é verda- a quem devem recorrer os pobres mortais leitores?
deiro. E na terceira e surreal citação, a ministra Marina
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O apelo pela vida, na maioria das vezes dade de continuar seu trabalho usando células
irrefutável, foi pauta e capa de duas importan- de outra procedência. Temem a produção de
tes revistas simultaneamente na semana de 17 a fetos com fins exclusivos de pesquisa: cobaias
23 de outubro. Época (Editora Globo) e IstoÉ humanas. Da mesma forma, grupos religiosos
(Editora Três) comemoravam “a vida em ação”. reconhecem a necessidade de usar a tecnologia
Ora, quem poderia ser contra a oportunidade a serviço da vida, mesmo que com restrições. O
de uma vida melhor ou da sobrevivência a quem Vaticano, porém, se mantém inflexível. Neste
padece de alguma doença mortal ou que deixa quesito, IstoÉ saiu na frente e retratou as diver-
seqüelas? Ninguém, claro, ainda mais quando gências dos grupos em box.
o argumento vem revestido de fontes acima de
qualquer suspeita. Elas existem? Em meio à polêmica, as células-tronco ga-
nham notoriedade na mídia como se fizessem
Para algumas publicações, muitas vezes parte do vocabulário médio nacional. Segundo
de forma impensada, são os cientistas ou a sim- a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do
ples menção da palavra ciência, as justificati- Centro de Estudos do Genoma Humano da
vas cabais para que não se possa questionar a USP, em entrevista ao jornal O Estado de São
procedência da informação. Cientistas são in- Paulo, célula-tronco “é um tipo de célula que
teligentes, eles sabem o que fazem, estudam pode se diferenciar e constituir diferentes te-
para isso – argumento de sobra. A reportagem cidos no organismo. Esta é uma capacidade es-
de Época chega a colocar grupos em sentidos pecial, porque as demais células geralmente só
opostos: religiosos são contra, cientistas a favor podem fazer parte de um tecido específico (por
desta nova chance de viver com qualidade. Na exemplo: células da pele só podem constituir
capa da edição, Herbert Vianna em cadeira de a pele)”.Se não há consenso entre cientistas ou
rodas serve como personagem de uma campa- religiosos, qual o motivo que levou dois veícu-
nha pela liberação dos estudos e tratamentos. los brasileiros a estampar promessas que ainda
Cristopher Reeve, o super-homem do cinema, não vêm acompanhadas de garantias? Talvez,
morreu antes que a terapia a que se submetia mais uma vez, o interesse econômico tenha pre-
pudesse surtir efeito. valecido, mas não apenas no sensacionalismo
da abordagem para que a capa se tornasse um
Na verdade, nem a comunidade científica chamariz – ciência tratada como mercadoria
e muito menos os grupos religiosos consegui- barata. Há muito mais interesses envolvidos na
ram formar uma unidade contra ou a favor das polêmica das pesquisas com células-tronco hu-
pesquisas com células-tronco de seres humanos. manas do que uma simples edição de revista. O
Movimentos que incluem cientistas na Europa interesse de grupos de cientistas em garantir a
(Alemanha e Espanha) consideram a possibili-
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Enquanto se arrasta a novela internacional Conforme o doutor Nitrini afirma, quanto menor
sobre a possível liberação de pesquisas com célu- o nível econômico, maior a chance de incidência
las-tronco e as possibilidades de cura de algumas do Alzheimer. A Carta Capital é, por vocação,
doenças ainda são uma promessa, a esperança se uma revista dirigida à elite, com linguagem e pre-
renova a cada aceno da mídia com pesquisas de ço (R$6,50 na capa) fora do alcance dessa porção
toda a natureza. Respeitando-se as características da população. Melhor ainda seria prestar este
experimentais destas, talvez o jornalismo pres- mesmo serviço em um veículo que alcança quase
tasse melhor serviço ao divulgar tratamentos de toda população brasileira.
acesso mais fácil e de resultados mais eficazes. É
como se contar antes com o certo. Mais tarde, É o que faz na televisão a Rede Globo vei-
com mais tranqüilidade, se pensa no que ainda se culando como serviço, nos intervalos comerciais,
apresenta como duvidoso. Um bom exemplo são um vídeo institucional da Associação Brasileira
os tratamentos sintomáticos contra o avanço do de Alzheimer - ABRAZ, que fala sinteticamente
mal de Alzheimer. os principais sintomas e a quem se pode recorrer.
No filme, uma mulher idosa vai se separando do
Falo da febre de divulgação científica. Se os resto dos integrantes de uma fotografia de família
cientistas de New Castle, na Inglaterra, descon- - clara alusão à perda de memória dos pacientes de
fiam dos efeitos benéficos do chá verde em rela- Alzheimer. Parece pouco para quem assiste inad-
ção aos avanços da doença, a BBC (e a Folha de vertidamente à programação. Para quem luta para
S.Paulo, por reprodução) anuncia esta possibi- divulgar a doença e suas formas de prevenção,
lidade e, eticamente, ressalta que não se trata de aquele espaço de 30 segundos é muito caro - em
cura. Assim, experimentos sortidos são levados a todas as acepções da palavra, afinal uma inserção
público a todo momento. É bom levar esperança pode custar muitos milhares de reais.
a quem necessita. Melhor ainda, levar informação
procedente e útil. Segundo a Associação Brasileira de Emis-
soras de Rádio e Televisão - ABERT, 90% das
Na edição de 3 de novembro, a revista Carta residências no país contam com pelo menos um
Capital presta esse serviço com louvor. No Espe- aparelho de TV. Os institutos verificadores de au-
cial Saúde, em três páginas, a publicação traz en- diência ainda destacam, dentro de toda a progra-
trevista com o professor especialista da Faculdade mação, a telenovela como o mais popular produto
de Medicina da USP, Ricardo Nitrini. Ao final da indústria cultural brasileira.
da matéria, sabemos os sintomas, a incidência em
cada faixa etária, prováveis agravantes ou atenu- Por isso mesmo, tem maior valor ainda a in-
antes, onde e como procurar tratamento. Serviço serção na mesma emissora de merchandising so-
completo, mas fica uma deficiência a ser suprida. cial (prática habitual nas telenovelas da empresa
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Está certo, é chegada a época das festas de perto do planejado, é melhor falar do amor que
dezembro e aquele espírito contemplativo e fi- é relatado por Humberto Maturana. Ele explica
losófico começa a tomar conta de todos. Muitos que o aprendizado está relacionado com a emoção
versos, músicas pregando o amor universal, mas despertada pelo sentimento de afetividade com o
sempre parece que esse sentimento se mostra de outro.
fachada quando vamos a fundo em seu significa-
do. Talvez o que esteja ausente seja esse amor
ao próximo e ao que se faz, pelo menos de forma
Amor tem significados diversos. Para o po- consciente, no dia-a-dia jornalístico. Porque os
eta Ovídio, que viveu na Itália décadas antes de profissionais que estão no mercado têm forma-
nascer Cristo, o amor é erótico. Numa época em ção adequada e inteligência suficiente para exer-
que o amor tinha explicações científicas, conside- cer suas funções. Se não as tivessem, não estariam
rado apenas uma garantia de procriação, evitan- onde estão. Parece que ausente está mesmo a cons-
do a extinção das espécies, Ovídio falou do amor ciência dos atos, privilegiando o automatismo das
como uma arte. tarefas, tudo em nome de uma velocidade que é
imposta pelos próprios veículos, não pelo leitor,
Outros autores, menos românticos mas não telespectador ou ouvinte.
menos ousados, falaram do coração. Blaise Pas-
cal, em pleno século XVII, a era das revoluções Exemplo disso, e um dos graves, aconteceu
científicas, dedicou-se ao misticismo e à alma hu- no telejornal Bom Dia Santa Catarina, veicula-
mana após contribuir com estudos importantes do pela RBS TV para todo Estado de segunda a
na Física, como a hidrostática. Sua contribuição sexta-feira, das 6h15min às 6h45min. A pauta do
em relação à mecânica dos fluidos é fundamen- jornal, costumeiramente, não prima pelos assun-
tal. Pascal disse, entre outros pensamentos menos tos mais urgentes. Muito menos a visão científi-
famosos, que “o coração tem razões que a própria ca dos fatos freqüenta habitualmente o Bom Dia
razão desconhece”. Mas disse, também: “Posso SC. Pelo contrário, assuntos como terapia das
conceber um homem sem mãos, pés, cabeça (pois cores, dietas do tipo sangüíneo e outras notícias
só a experiência nos ensina que a cabeça é mais ainda menos ortodoxas, são costumeiras neste te-
necessária do que os pés); mas não posso conceber lejornal. Mas barriga do tamanho da que o Bom
o homem sem pensamento: seria uma pedra ou Dia deu há poucas semanas, nesta época é exclusi-
um animal”. vidade do Papai Noel.
Poderia falar do amor que pregam as religi- Na sexta-feira, dia 19 de novembro, o Bom
ões, todas elas. O amor a Deus, ao próximo, mas Dia divulgou uma lista de medicamentos proi-
não é disso que trata este artigo. Para chegar mais bidos pelo Ministério da Saúde. Muito louvável,
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um grande serviço à comunidade, não fosse a lista principalmente, perde a comunidade catarinense
apenas um hoax mail, ou seja, correspondência com o jornalismo autômato, seja do Bom Dia SC
falsa. Isto mesmo, o Bom Dia SC publicou uma ou de qualquer outro veículo de informação. Tal-
notícia falsa que chegou à redação por e-mail e vez seja realmente esse o sentimento mais ausente
não foi conferida. na prática do jornalismo: amor ao que se faz e ao
próximo. Aquele que não precisa de definições de
As conseqüências desse ato, espera-se im- Ovídio, Pascal, Maturana, da Bíblia ou de quem
pensado, são óbvias, mas nunca é demais relatar. quer que seja. Aquele que simplesmente se sente,
Pânico comprovado nas ligações e aglomeração proporciona prazer e felicidade. Mas se necessá-
na sede da Vigilância Sanitária, em Florianópolis; rio for, o Dicionário Aurélio está sempre à mão
pacientes deixando de tomar seu remédio por fal- e avisa: amor é o “sentimento que predispõe al-
sa informação; laboratórios e farmácias prejudica- guém a desejar o bem de outrem; sentimento de
dos; e o que mais se possa calcular ou comprovar. dedicação absoluta de um ser a outro, ou a uma
coisa”. Feliz Natal e um ótimo ano novo. Com
O Bom Dia SC, avisado do problema, na se-
muito amor.
gunda-feira veiculou o desmentido. Na terça-feira,
dia 23 de novembro, entrevistou especialistas em Para ler nas férias:
segurança na área da informática para denunciar
como “acidentes” como esse podem ocorrer. Na De máquinas e seres vivos - autopoiese, a
primeira atitude, a obrigação da imprensa: retra- organização do vivo, de Humberto Maturana
tar-se quando erra. Na segunda atitude, um acin- Romesín & Francisco J. Varela Garcia. Editora
te. Não há falha na máquina tampouco no sistema Artes Médicas
projetado. A falha, neste caso, é nos procedimen-
tos humanos. Os princípios mais básicos do bom Pensamentos, de Blaise Pascal. Ediouro
jornalismo foram desconsiderados. A veracidade
A arte de amar, de Ovídio. Martin Claret
da notícia, a qualidade e confiabilidade das fon-
tes, a preocupação com as conseqüências do fato Jornalismo em tempo real - o fetiche da ve-
noticiado, nada disso foi levado em conta. locidade, de Sylvia Moretzsohn. Ed. Revan
Alguns poderiam dizer que este é o retrato
de uma sociedade individualizada, que desapren-
deu a questionar e a contestar, que esqueceu a
consciência de grupo que é em nome de valores
tão pequenos e efêmeros. Prefiro retirar essa res-
ponsabilidade da grande maioria dos jornalistas e
não conferir esses atributos à classe.
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Que papel pode a imprensa que escreve so- atribuído a tarefas, obras a serem executadas. Foi
bre ciência desempenhar quando pretende pro- a Igreja Católica que colocou a vocação como o
mover o desenvolvimento do país nesta área? Pelo cumprimento de suas obrigações impostas por
menos um deles ficou claro neste verão brasileiro, desígnios divinos. Lutero, em sua Reforma, adap-
quando mais uma vez, batalhões de jovens se sub- ta este conceito, concebendo as tarefas humanas
meteram a exames vestibulares pretendendo uma como coisas da carne, embora fruto da vontade
vaga em universidades - a escolha pelos cursos não de Deus.
ofereceu um futuro promissor às disciplinas cien-
tíficas. Talvez toda essa teoria e mais outras tantas
de cunho científico, determinando predisposições
Em alguns casos, um menino de 17 anos dis- genéticas a desempenhar uma ou outra função ou
putava uma vaga com até 150 concorrentes, como psicológicas com seus intermináveis testes, sejam
no caso dos cursos de Publicidade e Propaganda e deixadas de lado na hora de preencher a ficha de
Ciências da Computação na USP. Em Santa Ca- inscrição no exame vestibular. Afinal de contas,
tarina, os campeões da disputa foram os cursos de não consta que Santa Catarina precise de 5576
Medicina (55 por vaga), o novo curso de Cinema novos médicos, 1200 jornalistas ou mais 740 ci-
(24 por vaga) e Jornalismo (20 por vaga), todos na neastas (número de inscritos na UFSC). Não, não
Universidade Federal. Nas particulares, o índice pode ser iluminação divina.
é logicamente menor pelo custo dos estudos. Na
Federal, muitas vezes mesmo sem preparo, a ins- A versão de puro mercantilismo também
crição é feita como uma loteria. fica pouco provável com os últimos números que
se apresentam. Pense bem, 150 candidatos ao cur-
Mas por que será que essa loteria não inclui so de Publicidade e Propaganda matutino e ou-
Física, Química ou Matemática, que tiveram uma tros 100 ao curso noturno na USP; 740 ao curso
média de quatro candidatos por vaga na Federal de Cinema da UFSC - não, a maioria deles não
catarinense? Será falta de vocação ou puro mer- será parte integrante da ínfima porcentagem de
cantilismo? milionários brasileiros.
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O Jornalismo Científico é área em expansão cia para iniciantes, procure bem e vai encontrar
no Brasil e ninguém mais duvida. É fácil compro- a Scientific American Brasil, edição brasileira da
var essa informação, mesmo sem a necessidade de mais tradicional revista de divulgação científica,
qualquer método científico (se me perdoam o tro- como os próprios editores anunciam. Com textos
cadilho). Revistas populares criticadas pelos mais ainda bem jornalísticos, a publicação traz maior
ortodoxos, publicações de renomadas instituições cuidado em relação ao conteúdo científico. A re-
de pesquisa, edições especiais pra comprar, ler e vista tem uma versão eletrônica também muito
colecionar. Tem de tudo sobre Ciência ali na ban- interessante, com lista de links de outras publi-
ca da esquina. É só saber escolher. cações e sites científicos. Para ler e colecionar, a
Duetto Editorial colocou nas bancas a série Gê-
Um leitor ainda não iniciado, que pretende nios da Ciência, cada número sobre um grande
despertar um interesse ainda adormecido sobre cientista da história - já estão disponíveis DaVinci
fatos científicos, pode começar com a área mais e Newton a R$ 11,90 cada.
popular das publicações científicas. A mais anti-
ga e tradicional é a Superinteressante, da Editora Nesta linha, chega às bancas a revista Pes-
Abril. Com modificações substanciais nestes últi- quisa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-
mos anos, a revista subdividiu-se em outras espe- tado de São Paulo - Fapesp. Astrofísica, Biologia,
cializadas: Mundo Estranho, para jovens; Revis- Genocronologia, tem variedade científica para
ta das Religiões - o mundo da fé; e Aventuras na todos nesta publicação, que antes só circulava no
História - para viajar no tempo. A Super também meio acadêmico.
iniciou a moda de diversificação dos seus produ-
tos: agendas, DVDs, CD-ROM, livros e edições Para qualquer idade ou preferência, o jor-
especiais são ouro para os amantes da ciência no nalismo quer saciar aquela curiosidade científica
seu sentido mais literal - amadores, não profissio- que nunca nos abandona. É só experimentar.
nais da ciência em busca de divulgação científica.
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Nada de comemoração
Laura Seligman em 14/03/2005
Demorou, mas ainda vai demorar muito dicina regenerativa são cientistas loucos querendo
mais. O substitutivo de autoria do senador Ney criar um exército do mal, ou coisa assim.
Suassuna (PMDB - PB), que modificou o projeto
de lei do Executivo sobre questões de Biossegu- Em outros países, o debate se estende há
rança, vai ficar esfriando até o final do ano, como muitos anos e a sociedade continua dividida. Uns
prevêem especialistas na pauta do Congresso. avançaram. Outros, como os Estados Unidos,
Essa e outras tantas limitações não deixaram que estão na mesma situação, ou ainda pior: têm ar-
houvesse comemoração de quem espera por no- mazenado, segundo a Sociedade de Tecnologia de
vidades científicas com um prazo que pesa sobre Reprodução Assistida em reportagem da France
sua própria saúde. Presse, algo calculado em 400 mil embriões hu-
manos congelados, mas não podem usá-los em
Vamos recapitular essa história para enten- pesquisa, tampouco destruí-los sob pena de in-
der onde chegamos. O projeto de lei sobre Biosse- correr em crime de aborto.
gurança que partiu do Executivo era, na prática,
um retrocesso. Cedendo mais uma vez à pressão Mas, se a ciência atesta que as pesquisas nes-
de religiosos, o Governo Federal autorizava a pes- te campo podem salvar tantas vidas, o que acon-
quisa com células-tronco, mas proibia o uso de tece para que os representantes da sociedade se
células embrionárias. Seria assim como dizer que dividam na sua aprovação? No Brasil acontece
alguém pode ir à chuva, mas não pode se molhar. uma situação ainda mais problemática do que em
Ou seja, nada! Tudo continuava engessado. O outros países. A mesma lei que aprova o uso de
substitutivo do senador paraibano avança: permi- células-tronco, versa ainda sobre a produção e co-
te o uso de embriões que estejam armazenados há mercialização de alimentos transgênicos. A pres-
pelo menos três anos. É pouco, mas é mais do que são, neste caso, não diminui de intensidade mas
nada. muda o fluxo: ambientalistas contra e grandes
produtores agrícolas aliados às empresas produ-
As células-tronco são tão importantes por- toras de sementes transgênicas (sim, a Monsanto)
que têm a capacidade de se transformar em célu- na torcida a favor. Outros países continuam em
las de qualquer parte do corpo. É repetir o milagre debate sobre mais este tema, mas para não parar
da reprodução e da regeneração que acontece no a economia, liberaram a produção e comercializa-
início da vida. Pode ser a salvação quase milagrosa ção de alimentos com componentes transgênicos
(se não fosse científica) para doentes de males que desde que a embalagem alerte para tal fato.
precisam dessa regeneração, como o Parkinson,
Alzheimer, Diabetes e doenças musculares dege- O que o Brasil pensa a respeito dessas inova-
nerativas. Mas, infelizmente, para muitos setores ções? Provavelmente não saberemos tão cedo. A
da sociedade, os geneticistas e especialistas na me- previsão inicial de que o projeto de Biosseguran-
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Há quem reúna em uma só, todas as justi- lado, que naturalmente, Terry talvez já estivesse
ficativas para o desenvolvimento científico e tec- morta há 15 anos. Por outro, ciência e tecnologia
nológico na história da humanidade: o desejo do não seriam, também, obras guiadas por Deus?
homem de se perpetuar sobre a Terra. Já vence-
mos adversários poderosos - tigres, leões, o fogo, A mesma pressão de origem religiosa retar-
o trovão, e tantos mistérios que a ciência se encar- dou e alterou, aqui no Brasil, a votação da Lei de
regou de estudar e explicar. Alguns inimigos qua- Biossegurança. Historicamente, o conhecimento
se invisíveis continuam a nos atormentar, apesar foi encarado pelos mesmos religiosos como um
de tanto conhecimento somado. E não falo dos adversário a se manter bem ao lado, de preferência
vírus e bactérias que ainda matam as vítimas da trancafiado. A história já revisou esta atitude, mas
pobreza, da ignorância, da fatalidade ou da fal- por que continuamos a aceitá-la?
ta de saneamento. Os casos catarinenses do Mal
Bem, talvez os direitos individuais muitas
de Chagas seriam mais do que um bom exemplo
vezes tenham que se sobrepor aos coletivos. Tal-
– falaremos deles mais adiante. Agora, o assun-
vez Terry, inerte, seja mais do que uma vida vege-
to é outro fator que não é conseqüência da falta
tativa, mas uma mensagem a ser decifrada. Quem
de desenvolvimento, mas do uso indiscriminado
sabe devamos parar de aceitar o que nos despejam
desse.
“goela abaixo” sem questionamento? Talvez seja a
A vida de Terry Schiavo, mulher norte-ame- hora de refletir e iniciar o questionamento sobre
ricana em estado vegetativo há 15 anos, tornou- o que nos é destinado - seja o conhecimento dito
se mais um debate político-religioso. A eutaná- absoluto, sejam as imposições para a vida. Na falta
sia volta a uma batalha de opiniões controversas de expressão pode estar a verdadeira lição de Ter-
- ato de amor, assassinato, um direito individual. ry Schiavo.
Não é sobre essa polêmica que gostaria que nos
Suspeitas e prestação de serviço
debruçássemos, mas sobre o discurso que se mol-
da a cada situação. Os pais de Terry lutaram pela A cobertura catarinense a respeito dos casos
manutenção da vida vegetativa de sua filha apoia- de Mal de Chagas registrados no Estado mos-
dos pelo governo de seu Estado, a Florida, e de seu traram agilidade e correção na prestação de um
país, os Estados Unidos. Perderam a batalha na serviço de saúde pública. Em cima dos fatos, os
justiça. Ambos, governador e presidente, têm em jornais, emissoras de televisão e de rádio divulga-
comum mais do que o sobrenome e os pais. Além ram as orientações que eram repassadas pelas au-
de irmãos, são religiosos, membros da ultradireita toridades em vigilância sanitária.
cristã. Em seu discurso, o apelo religioso de que só
Deus pode dar ou tirar a vida. Ignora-se, por um É certo que houve algum titubeio, uma vez
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que os sintomas da doença podem confundir (e o sado pela falta de higiene no armazenamento da
fizeram) o diagnóstico: Leptospirose, Hantaviro- cana-de-açúcar que virou caldo. Não se trata, por-
se e a culpa nem era dos ratos desta vez. O acerto tanto, de fatalidade, mas de falta de fiscalização.
veio em duas semanas, tempo insuficiente para as Essa deficiência já vitimou cinco pessoas e não se
cinco vítimas que não resistiram até que se des- pode creditar essas perdas ao acaso. Alguém deve
cobrisse o verdadeiro mal. Descoberto, todos os responder por elas, mas essa notícia, os jornais
demais pacientes receberam tratamento e a popu- ainda não publicaram.
lação recebeu orientação. Sintomas e tratamento
divulgados resultaram nos seguintes números:
mais de 12 mil pessoas fizeram o exame de sangue
e 31 tiveram a contaminação confirmada, segun-
do divulgou a Agência Estado. O foco principal
de contaminação, o Barracão da Penha, às mar-
gens da BR-101 entre os municípios de Navegan-
tes e Penha, só foi confirmado na segunda-feira,
dia 28.
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Os reinventores da tradição
Laura Seligman em 15/04/2005
Há quem diga que os espaços reservados à de suas fontes e do meio que freqüenta. Acompa-
publicação de reportagens em Jornalismo Cientí- nha a própria história da imprensa brasileira com
fico são esparsos. A defesa de cadernos especiali- cadernos nos principais jornais e com a conquista
zados e editorias de ciência foi se dissipando com de um publico fiel que garante sua sobrevivência.
a realidade imposta pelos veículos. Não que o Jor-
nalismo Científico não seja publicado, pelo con- Mas não se sobrevive no mercado só com
trário, só cresce em freqüência nos mais variados tradição. Se o campo se modernizou absorvendo
tipos de veículos em qualquer suporte. Está no novas tecnologias, o Jornalismo Rural ou Agríco-
Fantástico, no Domingo Legal do Gugu, no Mais la acompanhou sua evolução. Ganhou com cada
Você de Ana Maria Braga, no Globo Repórter e novo espaço criado, se estabelecendo na televisão
no Domingo Espetacular da Record. Está no jor- e na internet. Inovou, também, na linguagem
nal de circulação nacional e também no boletim jornalística e na relação com o público. Acompa-
de bairro. Ganha em espaço, mas muitas vezes nhou as inovações sem se desfazer do que lhe era
perde em qualidade. Repórteres sem especializa- essencial. Ganhou nova denominação, Jornalismo
ção tendem ao erro. Programas que espetaculari- em Agribusiness, ampliou o espectro de atuação,
zam a notícia tendem ao bizarro. mas, mais uma vez, se manteve fiel às origens.
Tanto espaço pode ser fruto do bom jorna- Assim se mantém há 25 anos no ar o pro-
lismo desempenhado nesta área, mas também da grama Globo Rural, fruto da visão expansiva que
curiosidade que já nasce com o homem. Essa pode o departamento de marketing da Rede Globo
ser uma boa explicação para os avanços científi- lançou sobre as campanhas de eletrificação rural
cos e também para a sustentação e incremento do no final da década de 70. Se há eletricidade, há
Jornalismo Científico em todo o mundo. Mas há, televisão. Não se pode negar, também, a influên-
entre todas suas modalidades, uma que está aci- cia da bem-sucedida experiência da RBS, no Sul,
ma de qualquer teoria, argumentação contra ou afiliada da Globo que anos antes já obtinha bons
em favor da setorização da ciência como matéria resultados com o ainda no ar Campo & Lavoura.
jornalística. A tradição garante no Brasil tudo o
Mais do que um produto acertado, o Glo-
que se publica em Jornalismo Rural há pelo me-
bo Rural mostrou fibra em 25 anos no ar. É, hoje,
nos cem anos.
nas figuras do jornalista José Hamilton Ribeiro
Como poderiam programas de televisão e do repórter e apresentador Nelson Araújo, um
com público setorizado e com veiculação em ho- dos últimos espaços onde se trabalha a estrutura
rário tão diverso permanecerem por 20 ou 30 anos da notícia sob a ótica humana, aplicando o Novo
sem sofrer quedas ou ameaças? O Jornalismo Ru- Jornalismo onde parecia improvável.
ral parece ter herdado a característica tradicional
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
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Tecnologia mercantilizada
Laura Seligman em 29/04/2005
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O espetáculo da saúde
Laura Seligman em 30/05/2005
Não que a saúde do brasileiro ande, assim, nalismo é produto da indústria cultural, precisa
um espetáculo. Tampouco os serviços públicos de vender para manter-se nas ruas. Mas, o câncer não
saúde podem ser classificados dessa forma. O es- pode ser tratado como uma doença menor para
petáculo é proporcionado tão somente pela abor- que o leitor se alegre. A AIDS não pode ser ba-
dagem que o jornalismo em geral tem dado às nalizada como se nada de sério pudesse acontecer
pautas sobre o tema. É só dar uma olhadinha em para que o paciente sorria ao final da leitura. Há
qualquer banca. Nas capas das revistas semanais, que prevalecer o equilíbrio.
mensais, dos diários também – quase sempre está
estampada a mais nova promessa para a cura de Foi assim que a revista Veja do dia 18 de
sabe-lá-o-quê. Se ainda assim não estivermos sa- maio tratou o tema. Na capa, o ator Raul Cor-
tisfeitos, é só sintonizar nos programas especiais tez sorri – ele trata um câncer no trato digestivo.
de reportagem na TV – Globo Repórter, Domin- Tudo poderia levar a crer que o sensacionalismo
go Espetacular, tanto faz: todos nos ensinam a mais uma vez prevaleceria. Afinal de contas, na
tomar café, a deixar de beber café, a comer maçã, edição anterior, a mesma revista tratou o tema
a não comer maçã, a tomar uma nova pílula, ou “Vida após a morte” como chacota – a capa trazia
aquela outra ainda mais nova. os pés de um cadáver com um bilhetinho pendu-
rado: “volto já!”.
Nem sempre a intenção é má, não pode ser
intencional confundir ou ludibriar o leitor. A Mas o que se encontrou no interior de Veja
maioria das pautas de jornalismo em saúde pre- foi um alento. Os personagens da reportagem tra-
tendem prestar, de certa forma, um serviço. Tra- ziam equilíbrio: os que já se curaram mais de uma
tamentos, medicamentos, um novo jeito de viver vez (a apresentadora Ana Maria Braga e o minis-
de forma mais saudável. O problema está na es- tro Luiz Gushiken), os que enfrentam a doença
sência. Jornalismo em saúde deveria primar pela (Raul Cortez) e os que enfrentam uma dor ainda
educação para a saúde. E neste quesito falhamos maior, a doença em um filho (a VJ e vereadora So-
profundamente. Se quisermos educar para a pre- ninha, de São Paulo).
venção, não podemos centrar a reportagem no
O grande serviço da reportagem de Veja foi
paliativo. Se pudermos alertar para os perigos da
mostrar que câncer (e por tabela, qualquer outra
auto-medicação, qual a vantagem lícita em divul-
doença do tipo) pode acontecer com qualquer um:
gar todo o novo remédio divulgado nos releases
o importante é procurar tratamento e enfrentar
dos laboratórios farmacêuticos?
a doença em bloco – família, médicos, auto-esti-
O problema está, então, na abordagem que ma. Um grande avanço para uma publicação que,
a pauta recebe. É claro que o tema atrai leitores e assim como a grande maioria, costuma deixar o
essa preocupação não pode ser descartada – o jor- leitor confuso.
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De cientista e de louco...
Laura Seligman em 01/07/2005
O tempo passa, o desenvolvimento científico Mas, a manipulação das informações não está
e tecnológico se acelera, mas a imagem da Ciência somente em grandes temas como estes. Em cada la-
e de seus protagonistas não muda com a mesma ve- boratório, pode haver uma nova justificativa para
locidade. Não importam os propósitos acadêmicos a sobrepujança de um grupo sobre outro. A atual
mais nobres que possam mover os estudos, o que edição da revista Ciência Hoje, de responsabili-
prevalece na mídia são pesquisas que possam ser dade do instituto homônimo, reproduz artigo da
manipuladas politicamente com vistas à conquista revista Biology Letters, da Royal Society sobre um
geográfica e econômica. estudo londrino a respeito do orgasmo feminino.
Baseados em questionários respondidos por gême-
A cobertura sobre pesquisas com células- as a respeito de sua vida sexual, os ingleses concluí-
tronco é um bom e atual exemplo. A imagem de ram que a frigidez pode ter influência na bagagem
cientistas malucos matando criancinhas e repro- genética. Bom saber que há uma nova visão (não
duzindo seres perfeitos, formando um exército somente a cultural ou a psicológica que eram man-
neonazi, teria prevalecido não fossem as alterações tidas até então) para resolver esse problema que afe-
feitas pelo Congresso Nacional na Medida Provi- ta boa porcentagem de mulheres em todo mundo.
sória que autorizou as pesquisas. O texto original, O temor é o de que a cobertura não-especialista
elaborado pelo governo, contemplava os interesses transforme a pauta em curiosidade bizarra ou em
da Igreja e proibia qualquer uso (mesmo científico) debate de programas de variedades.
de embriões humanos. O debate prevaleceu e fo-
mos além, mas a cobertura mostrou-se confusa e A superficialidade ou abordagem sensacio-
capenga. Tá certo, é difícil tratar temas tão com- nalista da pauta científica é muitas vezes justifica-
plexos de forma coloquial, mas os especialistas em da em exigências de mercado, linha editorial ou
comunicar somos nós. ordens superiores (que argumento sobrenatural,
não?). Prefiro a opinião de Ricardo Noblat, que de-
A questão nuclear é outra aberração na mídia. finiu: jornalistas escrevem para jornalistas.
Depois de lermos a respeito, é mais fácil imaginar-
mos Pinky e Cérebro, personagens de desenho ani- E o leitor? Bem, este pode escolher entre ser
mado infantil, como cientistas do que um sujeito desconsiderado, afastado do processo produtivo ou
que dedica sua vida profissional a resolver questões subestimado. Ou então, pode exercer seu grande
como fontes de energia alternativas ao petróleo, poder de escolha e dizer não, comprar outra publi-
uso terapêutico inclusive na cura do câncer, enfim, cação, virar o canal, mudar a estação. Talvez seja
pontos decisivos para a humanidade. Preferimos a esta nossa pior herança da atualidade e o maior de-
imagem de cientistas desvairados ou aprisionados safio de quem é educador: recuperar o espírito crí-
por regimes totalitários, preparando o inevitável tico para que haja o pleno exercício da cidadania.
apocalipse.
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Sem sincronia
Laura Seligman em 15/08/2005
Até que ponto as notícias sobre saúde põem E se o assunto é café, chocolate, vinho, ou
em risco o compromisso jornalístico de prestar um qualquer outro tema recorrente, as posições se in-
serviço a uma determinada comunidade? Muitas vertem a cada pesquisa que tem seus resultados
vezes, a resposta é imediata, mas é preciso antes preliminares divulgados antes que a comunidade
conceituar notícia, jornalismo, saúde, ciência. científica a analise. É bom lembrar que não há con-
ceito científico de Ciência, já disse Edgar Morin.
Notícia envolve preceitos jornalísticos como Científico é o que a comunidade científica assim
veracidade, afinal de contas, são verdades que determinar.
procuramos nas páginas dos jornais, nem sempre
encontradas, é verdade; pertinência, pois o jorna- Para onde corre o leitor, ouvinte ou telespec-
lismo é, em princípio, parte de uma comunidade tador, submetido a esse confronto de informações?
e deveria participar de seu desenvolvimento; e no- Para longe da mídia é que não pode ser. Pelo con-
vidade, esta, sim, difícil de cumprir quando o as- trário, a saída pode ser aumentar o volume de lei-
sunto é Ciência. tura para que não mais se procure verdade em de-
terminado veículo jornalístico, mas a pluralidade
Jornalismo e Ciência têm tempos reais dife- de idéias e conceitos, elementos indispensáveis para
rentes, raras vezes há sincronia. O Jornalismo vive que um verdadeiro cidadão possa construir suas
o imediato, a velocidade, quando sai do tempo real, próprias idéias.
é para recuperar fatos que já vão longe na história.
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Essa seria, sem dúvida, a recomendação fei- desigual. Há grandes investimentos, tanto de um
ta por um novo habitante da Terra após assistir a lado quanto de outro. Mas, parece que se tornou
um ou dois telejornais nacionais. Imagine só. Um proibitivo escrever ou pronunciar a palavra terro-
extraterrestre chega neste mês de fevereiro para rista.
explorar as maravilhas do planeta azul e, é claro,
escolhe o Brasil, sabe como é, carnaval, quem sabe Dias desses, caiu-me o queixo quando li que,
este seja o lugar perfeito para seu povo... Senta em em represália ao jornal dinamarquês que publicou
frente ao maravilhoso aparelho transmissor de as charges sobre o profeta Maomé, o governo Ira-
imagens e fica informado sobre o funcionamento niano decidiu promover um concurso de charges
de nossa avançada civilização. sobre o holocausto. Mas, ao contrário do que es-
perava, o fato não causou surpresa na cobertura
Rapidamente ele conclui: pobres crianças do jornalística, pelo contrário. No dia 7 de fevereiro,
Líbano, lutam de forma desigual, jogando pedras na BandNews, o comentarista anunciava o fato
nos malvados soldados que, sem piedade, atiram como uma “resposta adequada às provocações”. O
contra elas. E no Brasil, então? As crianças, coi- absurdo foi denunciado no site De Olho na Mí-
tadinhas, sofrem na mão de enlouquecidas mães dia, versão brasileira do Honest Reporting. Nin-
que, tomadas de um repentino surto de insanida- guém espera que haja aplausos quando alguém
de, andam jogando seus bebês no lixo, na lagoa, lança uma bomba, seja quem for seu autor. Para
em qualquer canto possível. que guerras acabem, é preciso reprovação da vio-
lência, e não alinhamento. Todos que a promo-
O problema real, fora fantasia, é que não vem devem arcar com conseqüências, mas que
precisa ser ET para chegar a essas conclusões. não sejam mais violência.
Basta estar desavisado ou não ter como prática a
leitura crítica da mídia. Sem analisar o noticiário Pobres bebês brasileiros
com este devido distanciamento, só resta ao teles-
pectador crédulo a leitura superficial e a compre- Da mesma forma, a superficialidade foi uma
ensão óbvia da informação. constante na cobertura que foi desencadeada no
dia em que, à beira da lagoa da Pampulha, em
É esse o cardápio oferecido diariamente em Belo Horizonte, um sujeito resolveu passear com
qualquer um dos telejornais exibidos. Pouca ou a namoradinha (isso lhe custou o casamento, mais
nenhuma análise e, quando pouca, apresentada tarde, quando a matéria foi ao ar) e outro se di-
de forma maniqueísta, dividindo o mundo em ei- vertia com sua câmera de vídeo amador. Será um
xos do bem e do mal - parece que Bush fez escola. gato naquele saco boiando na lagoa? Será algum
animal perigoso? Não, era um bebê e o Brasil se
Não, a guerra no Oriente Médio não é assim comove em rede nacional. E a mãe, aquela bandi-
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E o Dia do
Meio Ambiente, hein?
Equipe do MONITOR DE MÍDIA em 16/06/2006
Veja como se comportaram os jornais cata- “Dia Mundial do Meio Ambiente - O dis-
rinenses a respeito desta data: curso e a prática” foi capa do caderno “AN VER-
DE”. O mesmo título foi usado no texto do mes-
AN vem reforçado tre em ciências de saúde ambiental, Dagoberto
Lorenzetti. O encarte publicou matérias varia-
A Notícia se preocupou em publicar con-
das, destacou os problemas ambientais atuais e
teúdos referentes ao meio ambiente de diversas
demonstrou soluções através dos programas que
formas. Através de matérias, encartes, editorial e
estão em prática. Algumas das principais maté-
opinião, o periódico evidenciou que o tema mere-
rias foram: “O ecossistema da Terra em colapso”,
ce atenção não só em 05 de junho, mas, todos os
“Marketing sustentável”, “Parque Nacional resiste
dias. O jornal busca sempre dar destaque ao meio
a liminares”, “Esforço para barrar extração mine-
ambiente, já que tem o selo ISO 14001 - certifi-
ral”, “A natureza ensinando na prática”, “Aposta
cação para a empresa que aprimora e sustenta um
no jovem para garantir o futuro”, “Protagonistas
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de um mundo melhor” e “Sem dinheiro, projeto Mundial do Meio Ambiente. Patrocinado por
morre à beira da praia”. Além disso, todas as pá- várias empresas, com o título “Plantar o futuro”,
ginas do caderno vieram com notas no topo, com apresentou matérias como: “Recursos hídricos em
informações de animais e plantas em extinção. alerta”, “Empresas minimizam poluição”, “Esgoto
tratado é saúde”, “Pensar ecológico, essa é a idéia”,
DC ainda planta a semente “Quem conhece pode preservar” e “Falta de água,
uma realidade”.
O Diário Catarinense destacou a natureza
no Dia do Meio Ambiente. Apesar do forte do Meio ambiente em extinção no Santa
jornal não serem as questões ambientais, o dia foi
bem lembrado e teve a merecida atenção. Na edição de 5/6, o Jornal de Santa Catari-
na nada destacou sobre o Dia Mundial do Meio
Com uma foto da Praia dos Ingleses, sob Ambiente. O jornal somente citou a data em seu
o título “A natureza ameaçada”, a contracapa do calendário na penúltima página do jornal. Nem
jornal indicou as matérias internas. Com o mes- mesmo na edição anterior, do final de semana, a
mo título da chamada, a Reportagem Especial data foi mencionada. Até mesmo a publicidade
apresentou “Ecossistema ameaçado”, “Agressões apresentou e representou a data. O verde passou
são visíveis e contínuas” e “Poluição torna-se par- em branco no Santa.
te da paisagem”. Com o título “O verde na ilha”, a
reportagem trouxe box com agenda dos “eventos
ambientais” em Santa Catarina, além de uma pá-
gina com fotos e descrições dos principais ecossis-
temas de Florianópolis.
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Mídia e Religião:
um diálogo a ser construído
Valquíria Michela John em 30/10/2006
Embora Nietzsche tenha proclamado no sé- nicação Eclesial. O evento integrou o Unescom
culo XIX que “Deus está morto”, o século XXI – Congresso Multidisciplinar de Comunicação
aponta para o surgimento cada vez mais acelerado para o Desenvolvimento Regional, comemorati-
de novas religiões e novos sincretismos religiosos. vo dos 10 anos de atividades da Cátedra Unesco/
Há até quem brinque com a frase e diga: “Niet- Metodista de Comunicação para o desenvolvi-
zsche está morto. Assinado Deus”. O que pode mento Regional. Foram reunidos, durante os dias
explicar a busca tão frenética por respostas que a 9 a 11 de outubro, na Universidade Metodista de
Ciência não pode nos dar? Porque as pessoas mu- São Bernardo do Campo (SP) os eventos: Cela-
dam tanto de religião, de credo ou crença? Basta com, Folkcom, Politicom, Regiocom, ComSaúde
olharmos para o mundo a nossa volta para com- e Eclesiocom. A temática central do Unescom
preendermos essa sensação de vazio que parece foi Comunicação, região, inclusão e diversidade
instalada em todas as sociedades. - promovendo o desenvolvimento humano na era
digital.
Os conflitos armados aumentam diaria-
mente; as doenças se proliferam com uma velo- Nesta primeira discussão sobre religião e
cidade assustadora; o aquecimento do planeta e a mídia com proporções nacionais, as temáticas de-
destruição das fontes naturais são cada vez mais batidas foram: a espetacularização do cotidiano
evidentes; a fome, a desnutrição, o enriquecimen- e seu impacto nos cenários religiosos; o merca-
to de poucos enquanto a maioria empobrece cada do religioso de bens simbólicos: da produção ao
vez mais é a própria essência do tempo em que consumo; a formação de recursos humanos para
vivemos. As intolerâncias (em todas as suas nu- a mídia religiosa na era digital; a produção de co-
ances e formas) se agravam cada vez mais. Parece nhecimentos sobre a comunicação religiosa nas
mesmo um caminho natural a busca pelo impon- igrejas e nas universidades. Os grupos de trabalho
derável – a fé – já que nas situações concretas do (GTs) do evento focaram: GT1 – Indústria Cul-
dia a dia não conseguimos desenvolver sentimen- tural Religiosa; GT2 – Comunicação Religio-
tos profundos de esperança. Por outro lado, a re- sa na Mídia; GT3 - Comunicação Religiosa nas
ligião sempre pôde ser usada para a manipulação Comunidades; GT4 – Comunicação Religiosa
das massas e o advento dos meios de comunicação Institucional e GT5 – Comunicação Ritual e Li-
torna-se o mecanismo ideal para a propagação de túrgica.
interesses econômicos no campo da fé. Assim, a
religião submete-se ao espetáculo, nos moldes do A grande preocupação norteadora dos deba-
que foi “profetizado” por Guy Debord. tes foi a espetacularização da fé, o uso da mídia
como novo espaço de evangelização e pregação
Esta foi a temática norteadora do Eclesio- e também para a mercantilização dos sofrimen-
com 2006, o I Colóquio Brasileiro de Comu- tos e angústias daqueles que buscam na religião
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o conforto e a esperança. É fundamental que esta com as demais religiões. Aqui, focou-se apenas o
temática ganhe o espaço acadêmico, sobretudo Cristianismo, como fica claro pelo próprio nome
pela aplicação das “psicologias de manipulação do evento. Para contribuir com a desmistificação
de massa” cada vez mais usadas pelos pseudopre- da intolerância e promover a efetiva aceitação da
gadores, pastores do enriquecimento, astros do diferença, não podemos e não devemos nos fechar
show biz da fé. Entretanto, precisamos pensar em guetos, precisamos ouvir o outro e respeitar a
também a outra ponta, não apenas como as religi- alteridade. A mídia pode ser aliada nessa tarefa,
ões usam a mídia, mas como a mídia narra as re- por isso é necessário fazer sempre o monitora-
ligiões, os estereótipos que reforça ou que produz mento, a leitura crítica da narrativa midiática, em
e as implicações das representações construídas todos os campos da vida social.
com relação a determinadas práticas religiosas,
que não contribuem para o fim das intolerâncias,
ao contrário, ajudam a exacerbar esse sentimento.
Este foco não foi explorado no primeiro Eclesio-
com mas impõem-se como urgente e necessário,
não apenas nesse evento, mas em todos as discus-
sões relacionados aos meios de comunicação e sua
atuação na “construção social da realidade”, como
definem Peter Berger e Thomas Luckmann.
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• É um antídoto ao etnocentrismo
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Arenas do conhecimento
Valquíria Michela John em 09/10/2007
O que você busca quando participa de Imaginem o que significa para um pesquisa-
um congresso em sua área de atuação, de pes- dor iniciante participar pela primeira vez do maior
quisa ou interesse? Particularmente, sempre evento científico de sua área de atuação. Estar lado
tive a convicção que um congresso, simpósio, a lado com os autores que leu durante sua gradu-
seminário ou qualquer encontro científico ação e a quem passou a admirar e ter vontade de
tem a finalidade de aproximar as pessoas por seguir seu caminho. Pode ser um pouco de influ-
interesse, por afinidades teórico-conceitu- ência de nossa cultura pop, em que nossos ídolos
ais, metodologias, temáticas, pontos de vista se transformam em deuses e queremos estar perto
ou até mesmo por intensas discordâncias, de deles para nos sentirmos no Olimpo. Foi com esse
modo a produzir a discussão, problematização sentimento que segui para Santos/SP no último
e crescimento daquela área do conhecimento. mês de agosto para participar pela primeira vez do
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunica-
Acredito que nenhum pesquisador “é ção – Intercom. Já havia participado de edições
uma ilha”. Precisamos compartilhar, rever, do Intercom Sul, mas no evento nacional era mi-
contestar, discutir nossas idéias, resultados, nha primeira vez. Foi com grande expectativa que
angústias, metodologias, frustrações e con- viajei, esperava encontrar no congresso um espaço
quistas com nossos pares a fim de darmos cada rico e dinâmico para a troca de idéias, para novos
vez mais consistência e refinamento aos nos- aprendizados, para rever meus posicionamentos e
sos estudos e descobertas. Sem compartilhar aprender com aqueles que já têm uma longa his-
nossos resultados, corremos o risco de fazer, tória e trajetória na pesquisa em comunicação. O
como brinco com meus alunos, várias “tran- sentimento era de um discípulo indo ao encontro
samazônicas”, ou seja, levar o nada a lugar ne- de seus mestres. Foi com muita expectativa que
nhum. cheguei em Santos, foi com uma certa frustração
que retornei a Itajaí.
Os diversos eventos científicos realiza-
dos anualmente deveriam propiciar esse in- Não pretendo com isso afirmar que o In-
tercâmbio, esse espaço democrático para o tercom 2007 foi ruim, ao contrário, participei de
compartilhamento de saberes e novas aquisi- debates interessantes, conheci pessoas fantásticas,
ções de conhecimento a partir da experiência pude ver face-a-face autores que só conhecia nos
de nossos colegas. Deveriam ter como foco o livros, além do maravilhoso intercâmbio cultural
crescimento da área abordada, sua consolida- que o evento propicia. Claro que vou continuar
ção como campo do saber; não deveriam ser a participar do Intercom, mas confesso que jus-
um espaço de disputa ou reforço das hierar- tamente pela minha inexperiência com o evento,
quias provenientes do capital cultural, como acabei não concentrando minhas atividades em
diria Bourdieu.
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um único foco temático, acabei flanando por vá- processo educativo deve ser – para o crescimento
rios grupos e foi, naquele que considero um dos do sujeito e não sua humilhação. Resquícios tal-
espaços mais ricos para o aprendizado, para o vez da própria obra de Luiz Beltrão, tão pouco
crescimento da área e a troca de saberes, que mais estudado ainda em nossas universidades e tão
me frustrei - o Encontro dos Núcleos de Pesquisa profundamente enraizado em nossa história cul-
(NPs). Participei de atividades de três NPs (como tural, em nossa gênese como povo, como nação.
disse, fruto de minha inexperiência com o porte Talvez pela própria marginalização que a cultura
do evento); em duas ocasiões saí da sala de dis- popular (e por extensão a comunicação popular)
cussões profundamente constrangida. Estava lá sofreu e ainda sofre nos redutos acadêmicos, não
como ouvinte, mas me senti esmagada, dado o poderia esperar que os líderes do Folkcom e os
peso do “julgamento” a que alguns colegas foram participantes desse núcleo fossem diferentes do
submetidos. Percebi, com grande frustração, que que encontrei.
alguns excelentes pesquisadores não vão ao Inter-
com para compartilhar suas experiências e auxi- Tenho mergulhado pouco como pesquisa-
liar os jovens pesquisadores a descobrirem seus dora na comunicação popular, embora por muito
rumos, sua trajetória. Parecem ter como único tempo tenha sido essa minha prática como jorna-
propósito reafirmar-se como “estrelas” da Ciên- lista. Assim, apesar da frustração com as arenas
cia da Comunicação. Alguns dos pesquisadores que presenciei, reafirmo a certeza de que senão to-
que ouvi foram simplesmente arrasados por essas dos, alguns espaços do Intercom são efetivamente
divindades. Fica a pergunta: os NPs não servem democráticos e visam ao crescimento e desenvol-
para o aprimoramento e desenvolvimento da área vimento da pesquisa em Comunicação. Como
temática a que se referem? A apresentação dos tra- pesquisadora, ainda tenho um longo caminho a
balhos não tem o propósito de servir como apren- trilhar, mas trago como maior lição do encontro
dizado? Claro que os erros devem ser apontados, do NP Folkcomunicação a certeza de que definir
só assim faremos pesquisas mais consistentes, mas nosso horizonte, nosso foco como pesquisadores
creio que isso não deve ocorrer em tom de julga- é um processo de amadurecimento, mas que não
mento. Em um núcleo em particular senti como podemos perder de vista quais são nossas afinida-
se estivesse no Coliseu, vendo a luta de gladiado- des. Definitivamente, não acredito que degladiar-
res que tentavam reafirmar seus egos às custas da se numa arena seja a fórmula ideal para o estímulo
humilhação dos pobres “cristãos”. à pesquisa em comunicação e para formação de
novos pesquisadores. E que venha o Intercom
Não vou deixar de ler os textos dessas di- 2008 que, aliás, terá como tema central a Folkco-
vindades, mas confesso que já não é mais com o municação.
mesmo olhar apaixonado que o faço. Felizmente,
pude descobrir o núcleo de pesquisa que realmen-
te me cativou – o NP Folkcomunicação. Foi neste
núcleo que apresentei meu trabalho e em nenhum
momento temi ser jogada aos leões, porque ao con-
trário das outras duas experiências, nesse núcleo
você é realmente acolhido. As falhas são obvia-
mente apontadas, mas da forma como qualquer
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EDUCAÇÃO
Conjunto dos textos editados na seção de mesmo nome
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Assaltos, seqüestros, novas modalidade de temas como qualidade de vida, lazer, entre outros
crimes e abusos são fatos freqüentes na mídia, assuntos mais descontraídos. Mas isto, no jorna-
atualmente. Com a exploração do assunto em fil- lismo impresso. Na televisão, até por causa do
mes, como no caso de Cidade de Deus, de seria- apelo visual, a violência é mais abordada. “Com a
dos e na música, com o rap, sem contar a crescente migração da classe-média para a tevê a cabo, por
organização do tráfico, as rebeliões em presídios exemplo, as abertas passam a atender classes mais
e as corrupções políticas de alto escalão, pode-se baixas da população e há um apelo, uma certa ex-
ter a impressão de que o simples fato de sair à rua ploração na violência nestes canais”. De qualquer
significa um perigo iminente. modo, para ela, este tipo de cobertura é uma de-
manda de mercado.
Mas, afinal de contas, será que este alarma
todo tem fundamento ou se trata apenas de uma Para o professor Venera, “cada época tem
percepção imprecisa? Estando estes fatos relacio- seu diferencial”. Ele concorda com a idéia de que
nados de maneira intrínseca à sua divulgação, o há um predomínio da violência real, em compara-
MONITOR DE MÍDIA buscou a opinião de ção à sua divulgação. Mas salienta um diferencial:
docentes que também vivem o cotidiano jorna- “Eu não diria que a violência é maior, mas sim que
lístico e tentou traçar um plano mais preciso de temos mais acesso aos meios que dão espaço para
como a violência aparece nos jornais. falar dela”.
Foram entrevistados a professora Sílvia Que- Com relação a uma certa angústia causada
vedo, coordenadora do COBAIA, jornal-labora- por número de mortes, acidentes de trânsito –
tório do curso de Jornalismo da Univali, e José que podem ser subsídios palpáveis para um maior
Isaías Venera, do Laboratório de Mídia, Cultura alarme –, Venera acredita que não se pode falar
e Estética, o Lamce. Ambos concordaram em al- apenas em efeitos negativos, em maior medo ou
guns aspectos, quanto à cobertura da violência. pânico por parte da sociedade. Na sua opinião,
“quanto mais imagens trágicas, mais conscienti-
Perguntados sobre se há mais violência ou zação ou mais alarme. Certamente há efeitos. As-
tão-somente mais “anúncios” de violência na sim como também há banalização, ou seja, per-
mídia, as opiniões convergiram em favor de um da de efeito”. Sílvia ressalta quanto a isto que, na
predomínio real do tema, não apenas exacerbado verdade, sempre houve casos de violência; o que
pela mídia. Sílvia prefere separar o noticiário im- ocorre é que hoje, com os jornais, fica-se sabendo
presso do televisivo. Diz que, quanto ao primeiro, de tais casos.
já houve épocas em que o leitor abria o jornal pelas
últimas páginas, pelas páginas de polícia. Hoje, O suicídio de um policial, em São Paulo,
entretanto, há um consenso da preferência por recentemente, provocou debate acerca da divul-
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O título deste trabalho – “ Uma pequena re- cos. Enfim, são homens que se destacam entre os
visão da obra de McLuhan” – sugere e dá a exata homo sapiens sapiens por desafiarem os valores e
dimensão do seu conteúdo e objetivo: expõe algu- pensamentos dominantes, localizadas num tem-
mas idéias deste professor canadense, a partir da po e espaço físico determinados, e, por isso mes-
crítica de autores que as conhecem profundamen- mo, quebraram paradigmas e marcaram novas
te, e impressões pessoais a respeito das mesmas e épocas, novas eras.
dos mesmos, respectivamente. A decisão está em-
basada no fato de reconhecer as limitações da au- Passados mais de 40 anos da divulgação de
tora sobre o legado deixado pelo chamado ‘guru suas principais idéias, sobre o impacto das novas
da comunicação’ e, sobretudo, a responsabilidade tecnologias no cotidiano do homem, elas persis-
imputada ao anunciar e enunciar opiniões que tem em provocar e a dividir opiniões. Claro que o
possam ser levianas, inapropriadas e superficiais. homem McLuhan pertence no passado, já se foi,
mas as suas reflexões, mais do que nunca, são pon-
As obras do professor canadense Herbert tuais. Aliás, transcendem ao tempo, tornando-se
Marshall McLuhan (1911-1980), a respeito do clássicas e, por isso mesmo, vêm sendo relidas e
papel dos meios de comunicação de massa na reinterpretadas, reiterando a necessidade da ação
vida humana, publicadas na década de 60, vêm do próprio tempo, ou seja, a maturação, para a
merecendo uma revisão por parte dos pesquisa- decantação do passado e a posterior compreensão
dores da área da comunicação. A releitura justi- da história.
fica-se porque muitas de suas reflexões e previ-
sões só, recentemente, têm sido compreendidas e,
conseqüentemente, aceitas. De um lado, críticas
severas, principalmente aquelas procedentes de
colegas de academia, pois foi diretor do Centro
de Tecnologia e Cultura da Universidade de To-
ronto, no Canadá. De outro, aplausos efusivos de
simpatizantes e discípulos de suas interpretações
pelo mundo afora.
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Entre os meses de maio de 2004 e feverei- Poglia (41) e Cláudio Thomas (46) foram os en-
ro de 2005, desenvolvi uma pesquisa que tinha trevistados do Diário Catarinense. E do Jornal de
como principal objetivo mapear o processo de Santa Catarina, Edgar Gonçalves Jr. e Eduardo
retificação dos erros jornalísticos na grande im- Correia.
prensa catarinense. Este projeto teve como título
“O erro como aspecto ético e como fator de com- Foram 484 edições analisadas, das quais
prometimento da qualidade técnica no jornalis- 136 tinham erratas, o que representou 28,09%
mo: incidência, percepção e correção nos jornais do total. Nestas edições, foram encontradas 168
catarinenses”. Foram analisados os três principais erratas, isto é, em algumas edições havia uma ou
jornais de Santa Catarina: A Notícia (Joinville), duas erratas. Do jornal A Notícia, foram 170 edi-
Diário Catarinense (Florianópolis) e Jornal de ções analisadas e 33 erratas encontradas, o que
Santa Catarina (Blumenau). representou 15,29%. O número de edições ana-
lisadas do jornal Diário Catarinense foi o mesmo
A pesquisa teve duas etapas. Na primei- do jornal de Joinville, mas a quantidade de erratas
ra, houve o monitoramento diário dos jornais já encontradas foi bem superior. No jornal da capi-
mencionados. A leitura dos periódicos foi orien- tal, foram contabilizadas 86 correções, o que re-
tada para identificar as colunas de retificação e presentou 41,17% do total. E do Jornal de Santa
correção de informação. Após a consolidação do Catarina foram encontradas 49 erratas em 144
banco de dados, foram dispostas as quantidades edições analisadas, ou 27,7% do total.
de erros identificados no período, sua natureza,
sua freqüência, sua localização nos jornais e a cor- Cada errata tinha sua característica própria.
reção efetuada. Alguns erros eram por pura falta de atenção do
repórter ou do editor. Outros por problemas téc-
A segunda etapa constituiu de uma série de nicos. Após a análise das erratas, optou-se por
entrevistas com os editores dos jornais e os res- uma classificação das mesmas em 7 categorias
ponsáveis pela revisão das páginas. Na abordagem distintas.
a estes profissionais, quis saber como eles concei-
tuavam “erro”, que importância davam para a sua Erro de Incorreção - quando o erro era oca-
identificação e pronta correção, e se existia uma sionado por informações equivocadas, repassadas
política editorial voltada a esta prática, bem como por organismos públicos.
se havia uma consciência ética sobre aquela temá-
Erro de Imprecisão - as erratas que traziam
tica. Foram efetuadas cinco entrevistas que ser-
a correção problemas ou inadequações de acordo
viram de base para a conclusão da pesquisa. Do
com a norma culta da língua portuguesa ou es-
jornal A Notícia, Ari Lazzari, 57 anos e editor
trangeira.
executivo do jornal, foi o entrevistado. Tarcísio
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Erro de Créditos - todo e qualquer erro oca- Jornal de Santa Catarina, acredita que todo tipo
sionado por falha operacional. de erro é nocivo para a relação com o leitor. “To-
dos eles, sem exceção, o leitor percebe e todos eles
Erro de Identificação - quando a errata tra- minam a credibilidade. Pode ter uma matéria
zia a correção de uma troca de nomes, seja ela de perfeita, maravilhosa do início ao fim e chega na
pessoas, de lugares públicos ou até mesmo de sigla última linha e tu tem um errinho de digitação o
de partidos. leitor vai perceber”, comenta o jornalista. No Jor-
nal de Santa Catarina, segundo Gonçalves, “tudo
Erro de Edição - quando o nome do fotógra-
que for detectado tem que ser corrigido na edição
fo, nos créditos da foto era trocado pelo nome de
seguinte. E ai vai da honestidade intelectual do
outra pessoa.
jornalista. Se percebeu o erro tem que informar o
Erro Gramatical - quando havia troca de editor, tem que fazer a correção por uma questão
números como, por exemplo, resultados de parti- de honestidade, questão de lisura, de credibilida-
das de futebol ou de sorteios de loterias. de”, finaliza o editor.
Erro Ocasionado por Terceiros - é o erro Mas apesar de toda essa preocupação, o Jor-
de informação propriamente dito, caracteriza-se nal de Santa Catarina errou muito. O jornal atin-
quando o jornal troca as informações gerando giu a porcentagem de 87,73% de erros de informa-
dúvidas ao leitor. ção. Não se pode tolerar um índice tão absurdo
de erros, ainda mais quando os erros ocasionam
Com os números em mãos, cheguei a uma confusão, causam ambigüidades e prejudicam o
conclusão assustadora. Os jornais erram e erram andamento da sociedade. O que os jornais têm
muita informação. Notei que os jornais foram que entender é que eles são porta-vozes da socie-
mais incidentes em três tipos de erro. O de In- dade, são eles que noticiam que “fulano de tal” vai
correção depois o Erro de Identificação e por fim casar ou que morreram tantas pessoas num gra-
o Erro de Imprecisão. Só para citar um exemplo, ve acidente. É preciso ter responsabilidade ética,
um terço dos erros cometidos pelo jornal Diário honestidade e vontade para mudar este quadro,
Catarinense foram erros de incorreção, portanto, melhorar o produto jornalístico e alcançar uma
erros de pura informação! Das 85 erratas conta- qualidade editorial que não fira a sociedade.
bilizadas, 70 (82,34%) traziam a correção algum
equívoco do jornal. O que denota que o DC tem Passando longe desta meta está o jornal A
pecado neste quesito, lembrando que a informa- Notícia, que quase atingiu um índice absurdo de
ção é matéria-prima do jornalismo, e tem que ser 100% de erros de informação nos resultados en-
passada corretamente, livre de enganos e isenta de contrados. Foram 9 erros de incorreção (27,27%),
erros. A qualidade do jornal fica comprometida, 10 erratas (30,3%) que traziam a correção do erro
sua credibilidade, ferida. O pacto de confiança de imprecisão e 13 correções (39,39%) de erros de
com o leitor fica manchado. Por que o leitor com- identificação. Somadas as porcentagens, chegamos
prará o jornal que tem uma grande margem de er- a 96,96% de erro de informação, o que é preocu-
ros, principalmente erros de informação? pante.
Edgar Gonçalves Jr, que é editor chefe do Para o editor executivo do jornal A Notícia,
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Paradoxo geográfico
Rogério Christofoletti em 13/05/2005
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Paradoxo da Educação
Laura Seligman em 05/08/2005
Há algumas coisas na vida que sempre são do privado (veja gráfico abaixo). Dados do Minis-
bem-vindas e nunca são suficientes. Você pensou tério da C&T apontam que os recursos federais
em dinheiro? Certíssimo. Nos últimos dez anos, caíram de quase 1,6 milhão de reais em 2000 para
cresceram os investimentos em Ciência e Tecno- 1,3 milhão de reais em 2003. Os recursos estadu-
logia no Brasil, alcançando um nível considerável ais na área se mantiveram estáveis, provavelmente
e levando nossos pesquisadores a uma destacada por conta de poucos estados que mantêm funda-
posição internacional. ções de fomento à pesquisa. No âmbito das insti-
tuições particulares de ensino, os recursos aplica-
Em 2002, ao final do governo Fernando dos na área subiram de 179 mil reais para 271 mil
Henrique, eram investidos 4,5 bilhões de reais reais. Ainda é pouco.
por ano na formação de recursos humanos, e con-
cedidas 31 mil bolsas de mestrado e doutorado no
mesmo período. Há poucos dados divulgados pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia posteriores a
esse período, mas a comparação internacional do
período anterior em relação aos gastos com Pes-
quisa e Desenvolvimento (P&D) é interessante.
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Um reflexo da sociedade
Laura Seligman sobre pesquisa dos estudantes do 6º período de Jornalismo da Univali em 16/09/2005
O caráter opinativo de alguns gêne- Foi com o objetivo de aferir esta re-
ros jornalísticos são geralmente polêmicos. presentação que os alunos do sexto perío-
Guardado certo distanciamento crítico ne- do de Jornalismo da Universidade do Vale
cessário à produção da notícia, é todo ele, do Itajaí - Univali pesquisaram nas edições
o jornal, um veículo de expressão opinati- dos meses de Julho e Agosto de 2005 dos
va. Na seleção da pauta, nas manchetes, na Jornal do Brasil (RJ) e A Notícia (SC) so-
edição, quem lê a notícia, a enxerga pelos bre a autoria e a temática dos artigos publi-
olhos dos jornalistas. É a visão deles que cados por estas publicações em suas versões
está presente neste processo seletivo - tor- on-line.
na-se o jornalista, representante da socie-
dade. O jornal A Notícia publica diariamen-
te, três artigos enquanto o Jornal do Brasil
Mas há entre os gêneros genuinamente varia - de três a quatro diários, aumentan-
opinativos um que tem confessa pretensão do aos domingos para cinco a sete artigos.
de representar a sociedade como um todo.
É o artigo jornalístico a contribuição dos Na análise de A Notícia, os alunos ve-
não-jornalistas (e também deles) na condu- rificaram a publicação de 41 artigos sobre
ção da opinião pública a respeito de fatos de política em cada um dos meses estudados.
configuração social. Escrito por formado- Outros temas como religião, economia,
res de opinião (uma herança do jornalismo cultura apresentaram menos da metade das
norte-americano com os opinion makers), inserções do tema predominante.
ele adquire, conforme descreve o espanhol
No Jornal do Brasil não foi diferente.
Gonzalo Martín Vivaldi, o conceito de um
Com o número maior de artigos, em Julho
“escrito de conteúdo amplo e variado, de
o número de artigos sobre política chegou
forma diversa, no qual se interpreta, julga
a 67, com número semelhante em agosto.
ou explica um fato ou uma idéia atual, de
No olho do furacão das CPIs e denúncias
especial transcendência, segundo a conve-
de corrupção no Governo e no Congresso
niência do articulista”.
Nacional, a sociedade falou alto, descon-
Desta forma, segundo ainda José Mar- tente com a situação.
ques de Melo, a participação no artigo é
Mas, os estudantes de Jornalismo não
predominantemente intelectual, uma re-
se satisfizeram com esses números e a aná-
presentação valorizada pela capacidade de
lise da autoria dos artigos confirmou suas
argumentar e formular opiniões a partir de
suspeitas - não é exatamente um retrato
referências diversas.
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
O canudo é só o começo
Rogério Christofoletti em 28/10/2005
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
públicos, com interesses nem sempre coincidentes Repito a pergunta que lancei há pouco:
o que significa uma permanente tensão interna. o que fica dos tremores que chacoalharam o
campo do Jornalismo nesses tempos? Ensaio
Outro ponto a se considerar é que, tal uma resposta pouco mais convicta: Resta mui-
como em outras camadas da sociedade, é abso- to, sobra muita coisa pra fazer. Guardadas as
lutamente necessário buscar uma unidade de devidas proporções, os desafios que se apre-
propósitos. Não significa dizer da necessidade sentam são semelhantes aos de um recém-for-
do pensamento único, praticamente impossí- mado na área: a conquista do canudo é só o
vel nesta comunidade, dadas as suas pluralida- começo. Importante, mas só o começo. Com o
de e dinâmica. Mas ao dizer “unidade de pro- diploma assegurado, temos mais em que pen-
pósitos”, refiro-me à formação de pelo menos sar.
um núcleo rígido de princípios e valores que
norteiem as ações dessa comunidade. Assim,
jornalistas, professores, pesquisadores e estu-
dantes da área precisarão – cada vez mais –
encontrar pontos de coincidência, afinidades
para fortalecer sua luta e a reivindicação de
seus pleitos. À medida que se observar o cres-
cimento desses nós comuns entre diferentes
pares, observaremos também o enrijecimento
e amadurecimento da área e de seu campo de
atuação.
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
O que difere o popular do popularesco? O trabalho realizado em aula), a repetição nos resul-
que é afinal de contas, cultura popular? Se não tados encontrados aponta para o que Fernando
há consenso entre os estudiosos das ciências hu- Torres, em artigo para o Canal da Imprensa, cha-
manas e sociais, no jornalismo cultural praticado ma de “o drama cult”. Como o autor, percebemos
nos jornais diários brasileiros não parece restar a que os cadernos culturais tendem, ou para a ex-
menor dúvida: popular é o que atinge o maior nú- trema erudição, transformando suas páginas em
mero possível de pessoas, aquilo que se dissemina tratados acadêmicos (portanto, deixando de ser
rápida e massivamente. jornalismo) ou insistem na banalização, no culto
às celebridades, no entretenimento e na cultura
Maria Ignez Novais Ayala, uma das princi- de variedades (o nome do caderno cultural do Di-
pais estudiosas da cultura popular brasileira, so- ário Catarinense, por exemplo, é exatamente esse
bretudo da oralidade, fala de popular como aqui- último: Variedades).
lo que emana do povo. É este também o conceito
gramsciano de cultura popular, o das práticas, Daniel Piza, em seu livro Jornalismo Cul-
manifestações, saberes que nascem no interior tural, aponta como um dos grandes problemas a
dos grupos, não necessariamente em grandes gru- tendência ao agendamento nos cadernos culturais
pos, não necessariamente disseminados em larga brasileiros. Cada vez mais espaço para a agenda de
escala. espetáculos, shows, filmes, TV, em detrimento da
análise, da crítica e reflexão quanto às expressões
O que encontramos nas páginas dos cader- e manifestações da cultura. Não é necessária uma
nos culturais, salvo poucas exceções, não é cultura análise muito aprofundada para comprovar que
popular e sim cultura pop, de massa, ou indústria os suplementos culturais dedicam cada vez mais
cultural, a depender da opção teórico-conceitual espaço para as grades de programação (TV, cine-
adotada. Na verdade, a cultura efetivamente do ma, teatros, etc) ou matérias que contribuem para
povo ocupa raros espaços em nossos jornais diá- o leitor organizar a sua “agenda cultural” e pouco
rios. ou nenhum espaço para matérias que analisem a
repercussão ou a contribuição dessas manifesta-
Há três semestres, realizo com os alunos da
ções, característica essencial do jornalismo cul-
disciplina Cultura Brasileira do 2º período do
tural. Vive-se um drama no jornalismo cultural,
curso de Jornalismo, um trabalho de análise dos
literalmente.
suplementos culturais dos principais jornais di-
ários brasileiros, incluindo três diários de Santa Nesse contexto de “agenda”, a cultura popu-
Catarina (A Notícia, Diário Catarinense e Jornal lar não encontra espaço, a não ser é claro que seja
de Santa Catarina). Embora não seja a efetiva rea- absorvida e transformada em cultura de massa.
lização de um estudo de conteúdo (trata-se de um Como aponta Ecléa Bosi, o que caracteriza a cul-
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
tura de massa é exatamente a sua capacidade de sita técnica a uma das festas, a Fenarreco (Brus-
assimilar o saber e as práticas do povo e banalizá- que), e em visitas isoladas à Marejada (Itajaí) e
los. É a cultura que vende, industrializada, como Oktoberfest (Blumenau), os alunos do 2º período
definiram Adorno e Horkheimer. O espaço reser- descobriram muitas histórias do povo, nenhuma
vado à música nos cadernos culturais demonstra delas presente nos diários catarinenses. A seguir,
ao leitor a dimensão desse aspecto. transcrevo o texto do acadêmico Joel Minusculi,
um exemplo do que poderia ter sido abordado.
Os diários catarinenses não fogem a esta “re-
gra”. Se a ausência da cultura popular nos jornais A Fenarreco, que ocorre na cidade de Brus-
da circulação mais ampla (como Folha e Estado de que, é considerada o maior festival gastronômico
São Paulo) já são preocupantes, o que se dizer de das festas de outubro em Santa Catarina. A festa
jornais que tem como proposta (ou suposta) linha foi criada em 1986 para divulgar um prato típico
editorial o caráter regional? Os cadernos cultu- alemão – o Ente mit Rot Kohl, ou Marreco com
rais dos três diários catarinenses reproduzem, em Repolho Roxo.
menor escala, a mesma tendência dos assim cha-
mados “grandes jornais”. O que pode explicar tal O responsável pelos pratos típicos da festa,
prática? Como apontado pelo professor Sandro Cláudio Geres, conta que a cultura de criação do
Galarça, na edição anterior desta coluna, a repor- marreco é responsável pelo surgimento da festa. A
tagem parece estar desaparecendo do jornalismo. ave, que é de fácil manejo e criação, existia em boa
No caso do jornalismo cultural, a situação já é de quantidade. “Quando as pessoas se reuniam nos
desespero, uma típica tragédia grega. finais de semana, para descansar da semana de
trabalho e festejar, cada um trazia alguma coisa
As edições dos cadernos culturais do mês para colaborar na festa. Assim, alguns traziam o
de outubro foram mais um capítulo dessa “tra- marreco que se tornava o assado”, conta Cláudio.
gédia”. Em outubro, Santa Catarina ganha desta-
que nacional pelas festas ligadas às tradições dos Nessa tradição de reunir os conhecidos,
imigrantes, as famosas “festas de outubro”, sendo muitos viajantes que passavam pelo local gosta-
a mais conhecida a Oktobertfest de Blumenau. ram das comemorações e acabaram se juntando.
Uma ótima oportunidade para a cultura popular Cláudio ainda explica que no início as festivida-
ganhar as páginas dos diários, certo? Infelizmen- des ocorriam num clube de caça e tiro da cidade
te não. O diagnóstico realizado pelo Monitor de e apresentavam música e danças típicas alemãs.
Mídia, mais os trabalhos realizados em aula de- Tudo isso acompanhado da culinária germânica,
monstram que os jornalistas dos diários catari- como marrecos, repolho roxo, purê, salsicha e o
nenses preferem repetir frases feitas e insistem chope.
em falar do chope e das “variedades” das festas.
É o popularesco que ganha espaço, mais uma vez Mas apesar de ser considerada uma festa
a cultura de massa. Qual o motivo? Não há nada alemã, nos dias de hoje seu foco é outro. A cozi-
além do chope para ser divulgado? Na verdade, nheira aposentada, Isaura Mercelino de 72 anos,
o que falta é a boa vontade dos jornalistas, o ver- trabalhou nas primeiras edições da festa e acha
dadeiro exercício da reportagem. Prova disso? Em que “não é mais a mesma coisa”. “A festa hoje é
apenas uma hora meia que passamos em uma vi- um comércio, deixando a tradição do alemão de
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
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Na última semana de novembro, Florianó- os focos de produção no país; define metas e traça
polis reuniu quase duzentos cientistas de todo um projeto científico nacional; normatiza práti-
o país para o 3º Encontro Nacional da Socieda- cas burocráticas que ainda são muito levadas a sé-
de Brasileira dos Pesquisadores de Jornalismo, a rio pelas agências de fomento; e abre portas para
SBPJor. É isso mesmo: eu disse “cientistas”. E em- pontes de cooperação internacional. Sem dúvida,
bora o uso do termo tenha causado alguma sur- é um avanço. Mas nem tudo são flores.
presa (ou desconforto) no leitor, a palavra é a mais
apropriada, pois se trata de gente que pesquisa, Deficiências
estuda, experimenta, escreve e produz conheci-
Embora haja muito otimismo entre os pes-
mento sobre jornalismo. Essas atividades são pró-
quisadores do jornalismo, ninguém pode negar
prias dos cientistas de qualquer campo, mas entre
que ainda há muito pela frente. Em alguns aspec-
os da comunicação sempre vigorou um mal-estar,
tos, estamos engatinhando. Veja, por exemplo, o
graças a uma intensa informalidade que marca o
mercado editorial de periódicos. Segundo dados
perfil de seus componentes e a um pudor mal-dis-
da Capes, existem cerca de 200 títulos das áreas
farçado de chamar seu métier de ciência. Besteira.
de Comunicação e Ciência da Informação e ape-
A exemplo dos demais ramos, também se faz ciên-
nas 10% deles alcançam o conceito máximo na
cia entre os comunicadores e entre os jornalistas.
avaliação do Sistema Qualis.
A realização desse terceiro encontro da no-
Além disso, os próprios pesquisadores não
víssima sociedade científica do jornalismo de-
mantêm o hábito de ler e citar periódicos cientí-
lineia bem isso. Criada em 2003, a SBPJor foi a
ficos. Levantamento apresentado pelo professor
saída para que a pesquisa jornalística se desenvol-
Eduardo Meditsch, coordenador do Encontro da
vesse em margens mais largas: o espaço nos con-
SBPJor, mostrou que é ínfimo o impacto dessas
gressos da Sociedade Brasileira de Estudos Inter-
revistas em artigos apresentados nos eventos da
disciplinares da Comunicação, a Intercom, era
área. E mais: os pesquisadores mais citados pelos
insuficiente. Não foi um divórcio. Mais parece o
seus pares são os que mais mencionam revistas em
caso do filho que deixa a casa dos pais para morar
suas referências bibliográficas. Fato que permite
na sua própria. Não rompe com eles e, de vez em
supor que esses pesquisadores atuam como tradu-
quando, aparece pra almoçar...
tores dos periódicos para uma camada mais pró-
Aproveitando a metáfora, a criação da xima, gerando pouca inovação e pró-atividade...
SBPJor equivale mesmo a um marco de maturi-
Não bastasse isso, dados da Capes e do CNPq
dade para aqueles que militam na pesquisa cientí-
– apresentados pelos representantes da Comuni-
fica do jornalismo. O surgimento da sociedade dá
cação nessas agências – apontam que os cientis-
mais nitidez e especificidade ao campo; organiza
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
tas-comunicadores apresentam poucos projetos da Silva, Josenildo Guerra, Luiz Gonzaga Motta,
para financiamento de pesquisa. Nos programas Victor Gentilli, Allan Novaes, Danilo Rothberg,
de incentivo à cooperação internacional e nos edi- entre outros. São mais de quarenta pesquisadores,
tais análogos para intercâmbio interno, há pouca vindos de treze estados das cinco regiões brasilei-
procura. Falta agressividade, concordam todos. ras. São pelo menos 18 focos de atividade, e a mais
recente é o site Análise de Mídia, da Universidade
E mesmo nos famosos fundos setoriais, do Sagrado Coração (USC), de Bauru.
quase ninguém se arrisca. Há quem identifique
a razão: não há ligações fortes entre a academia É claro que as redes de pesquisa não são a
e o sistema produtivo. As empresas do ramo de panacéia para a produção científica nacional. En-
comunicação ignoram o que se produz nas uni- tretanto, essas tramas possibilitam um punhado
versidades, e estas torcem o nariz para o mercado, de ações que dão mais corpo e força á investigação
encastelando-se cada vez mais... do ramo. Redes podem agregar projetos diversos e
racionalizar esforços para iniciativas maiores; re-
Saídas des facilitam o tráfego das informações, a trans-
ferência de tecnologia, e a troca de experiências;
Mas se as dificuldades são imensas, a ânsia
redes têm capilaridade e penetram com mais fa-
por um cenário melhor é maior. Nesse sentido, o
cilidade nos mais diversos cantos; redes amparam
3º Encontro da SBPJor serviu também para sina-
os projetos mais frágeis e robustecem os mais an-
lizar uma importante linha de ação para profes-
tigos. Nesse sentido, podemos enxergar nas redes
sores, alunos e pesquisadores: a formação de redes
um princípio viável para a pesquisa brasileira em
de pesquisa, esforços capazes de arregimentar ini-
jornalismo na medida em que elas permitem que
ciativas distantes geograficamente, mas afinadas
os pesquisadores da área deixem de engatinhar,
nos objetivos.
passem a se apoiar mutuamente e firmem suas ba-
Como em outras áreas, o jornalismo começa ses para passos mais firmes e decisivos.
a perceber que trabalhar coletivamente é uma sa-
ída para os poucos recursos, a defasagem tecnoló-
gica, a dependência teórica externa, entre outros
problemas.
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Em Minas, o professor Avery Veríssimo ela- Existem projetos ligados a disciplinas e, que
bora proposta de um projeto de observatório da portanto, têm uma vinculação maior com o en-
imprensa na Faculdade Estácio de Sá. No mesmo sino de Jornalismo. Alguns observatórios devem
estado, o professor Sérgio Gouvêa utiliza a disci- surgir como resultados da sala de aula, do traba-
plina “Escritório de Jornalismo IV” para ativida- lho entre alunos e professores, como se coroassem
des de crítica da mídia na Universidade do Triân- uma boa trajetória. Essas experiências tendem a
gulo, a Unitri. Na Unilinhares, a professora Jussa- estabelecer um fluxo de informação que retroa-
ra Carvalho de Oliveira já iniciou um projeto de limenta as aulas, tornando mais rico o processo
monitoramento no curso de Jornalismo local. E de ensino-aprendizagem. Está por trás disso a
em Campos do Goitacazes (RJ), o professor Ger- idéia de que elementos de crítica de mídia podem
son Dudus conclui em breve um projeto de im- ajudar a constituir uma ementa de disciplina. O
plantação de laboratório no Centro Universidade professor Victor Gentilli, da UFES, conduziu
Fluminense. Em Santos (SP), o professor Fer- uma experiência similar no ano passado, e outros
nando de Maria articula para reservar na home pesquisadores devem fazer o mesmo em 2006. A
page de sua instituição, a Unisanta, espaço para criação de um observatório de mídia na universi-
discussão sobre a mídia regional. Em Curitiba, a dade a partir de disciplinas regulares ou optativas
professora Kelly Prudêncio aglutina professores parece ser uma saída menos dificultosa que por
de Jornalismo e Publicidade para a criação de um meio de um grupo de pesquisa. Isso porque o gru-
Núcleo de Estudos em Ética na Comunicação, po, atendendo a critérios burocráticos e regulató-
observando prioritariamente as intervenções de rios, precisa estar consolidado e em pleno funcio-
lado a lado (jornalismo e publicidade) nas lingua- namento para suportar uma rotina de observação
gens, oferecendo disciplinas optativas e buscando sistemática. Na sala de aula, o compromisso insti-
maior adesão de alunos para o núcleo. tucional é mais caracterizado e o envolvimento de
professores e alunos é praticamente imediato.
Ensino, pesquisa e extensão
Há ainda experiências que se estendem para os
O que se observa, já com tão pouco tempo de caminhos da extensão universitária. O exemplo mais
funcionamento da Renoi, é que há experiências ini- nítido é o S.O.S. Imprensa, que funciona como uma
ciadas a partir do trabalho de grupos de pesquisa, ouvidoria para erros da mídia. Com um site e um
como é o caso do Monitor de Mídia, do S.O.S. Im- telefone do tipo 0800, o projeto oferece orientações
prensa e do Mídia e Política, vinculado ao Núcleo ao cidadão comum sobre abusos dos meios de comu-
de Estudos em Mídia e Política. Essa característica nicação. Recentemente, o projeto da UnB iniciou a
reforça a atuação dos grupos e dá maior visibilidade produção e veiculação de um programa de televisão
aos seus projetos na medida em que oferece uma in- na TV Comunitária do Distrito Federal. A cada
terface menos concentrada no meio acadêmico, um 15 dias, o programa de meia hora é exibido, e lá são
site na internet. Alguns dos novos focos da Renoi discutidos temas como invasão da privacidade e res-
tendem a seguir esse percurso, mas isso se dá quase ponsabilidade social da mídia. Em Santa Catarina,
sempre de acordo com o perfil de seus articuladores também recentemente, o Monitor de Mídia lançou
locais. A Renoi não determina como devem surgir um programa de TV no sistema a cabo. Trata-se de
os nós da rede, apenas orienta em que circunstâncias Monitor na Mídia, que vai ao ar semanalmente pela
eles podem se viabilizar e se somar ao coletivo. TV Univali, o canal universitário em Itajaí (SC).
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Pesquisar é preciso
Joel Minusculi em 27/04/2006
Concluí recentemente a pesquisa “Liberda- poucos. Com esses dados brutos nas mãos, era o
de de Imprensa em Santa Catarina em vinte anos momento de achar seus porquês.
de redemocratização”, financiada com recursos
previstos no artigo 170 da Constituição Estadual. Comparados a outros estados, os casos ca-
Mais que um auxílio financeiro, a pesquisa trouxe tarinenses não foram tantos. A realidade não é
grandes contribuições a minha formação acadê- mais tão violenta, mas nem menos complicada. O
mica. grotesco dos atentados foi substituído pela sutile-
za do jogo político e econômico. Hoje, se atinge
O foco do estudo foi o exercício da profissão no bolso e na moral dos jornalistas e pouca coisa
na mídia, dentro do território catarinense. Apesar é tornada pública, pelos interesses dos que detêm
de a análise recair sobre a atuação dos jornalistas o poder.
só de Santa Catarina, foram observadas informa-
ções que diziam respeito a todo o Brasil, do perío- Essas informações são uma síntese das en-
do de 1985 a 2005 – os vinte anos que sucederam trevistas com jornalistas atuantes em Santa Ca-
o período de ditadura militar do país. tarina. As conversas foram fontes de grande im-
portância. Em todas as ocasiões fui muito bem
Para começar, examinei arquivos de revis- recebido e aprendi muito além das perguntas for-
tas e jornais (numa rápida constatação, descobri muladas. Um resgate histórico e um debate muito
como é difícil encontrar este tipo de memória) e mais fiel da realidade, do relato de quem vive no
consultei bancos de dados históricos. Também cotidiano a situação analisada.
nesta etapa, fiz uma intensa revisão bibliográfica
sobre como se deu a censura e a opressão nas ter- No final do tempo proposto para o recolhi-
ras brasileiras. Como se aprende desde o começo mento de informações, em janeiro de 2006, era
da faculdade, um bom jornalista deve conhecer hora de concluir. Apesar dos avisos do meu orien-
sobre aquilo que fala. tador, de que sempre se deveria saber filtrar as in-
formações, havia muito material. Com a releitura
Ao mesmo tempo em que fazia a leitura das de tudo, começamos o trabalho de colocar nos
obras e as pesquisas nos periódicos e bancos de moldes metodológicos e pontuar as descobertas.
dados, não deixei de lado a realidade atual. Era Foi nessa etapa que a descobertas mais relevantes
necessário montar um quadro da situação do apareceram.
exercício nos dias de hoje. No acompanhamento
dos sites que monitoram a liberdade de imprensa, Quando comparadas as estatísticas dos ca-
tanto em Santa Catarina ou em todo o mundo, sos, não houve coincidência dos números publica-
comprovei registros de que ainda acontecem casos dos por sites e publicações especializadas. Os da-
de censura e atentados a jornalistas. E não foram dos apresentados divergem entre as tabelas. Isso
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Educação, Comunicação e
Cultura: diálogos necessários
Valquíria Michela John em 01/08/2006
Ciente da importância da formação de um rada uma das mais importantes publicações con-
jornalista capaz de analisar e refletir sobre o mun- temporâneas na área dos Estudos Culturais.
do a sua volta, o Monitor de Mídia vai participar
das discussões e reflexões relacionadas às áreas de No dia 04, um debate sobre “Cultura con-
Educação, Cultura e Comunicação na cidade de temporânea e produção de Subjetividades” en-
Canoas no Rio Grande Sul. Entre os dias 2 e 4 de cerra o evento, tendo como debatedores o Dr.
agosto, a Universidade Luterana do Brasil promo- Thomas S. Popkewitz (University of Wisconsin-
ve o 2º Seminário Brasileiro de Estudos Culturais Madison - EUA), Dr. Jorge Ramos do Ó (Uni-
e Educação (2º SBECE). Como destacado pela or- versidade de Lisboa - Portugal) e o Dr. Alfredo
ganização do evento, “a contemporaneidade tem Veiga-Neto (ULBRA/UFRGS).
se destacado pelos modos como a cultura opera,
O tema central do 2º Sbece é “Educação e
incidindo na constituição das identidades e sub-
Cultura Contemporânea” e um dos focos temá-
jetividades, moldando maneiras de ser, de pensar,
ticos é, justamente, Educação e Mídia, uma das
de viver, enfim, regulando fatores materiais e sim-
linhas de pesquisa e de preocupação do Monitor
bólicos da vida nas sociedades do presente. Isto
de Mídia.
tem conseqüências importantes para a educação,
e o objetivo deste 2º Seminário é abrir um amplo
Num momento em que os conflitos por mo-
espaço para a discussão das questões implicadas
tivos étnico-raciais, religiosos ou motivados pelas
nesta cada vez mais complexa e plurifacetada rela-
intensas desigualdades sociais se agravam em todo
ção entre Educação e Cultura Contemporânea”.
mundo, torna-se cada vez mais evidente a neces-
sidade e a importância de se discutir, analisar e
O 2º SBECE é uma promoção do Programa
refletir a questão alteridade.
de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Luterana do Brasil (ULBRA/Canoas), contando A cultura, ou a discussão sobre as culturas,
com a colaboração do Programa de Pós-Gradua- torna-se cada vez mais o centro do debate con-
ção em Educação da Universidade Federal do Rio temporâneo, não apenas do debate acadêmico,
Grande do Sul (UFRGS), do Grupo de Pesqui- mas das conversas em todas as esferas da vida.
sa Cultura e Educação (GPCE) e do Núcleo de Debates esses agendados, motivados, pautados
Estudos sobre Currículo, Cultura e Sociedade enfim, na maioria das vezes, pelo relato jornalísti-
(NECCSO). Entre os convidados estrangeiros, co. Os meios de comunicação tornam-se cada vez
destaque para o Dr. Dr. George Yúdice (New mais os principais mediadores entre o mundo que
York University, EUA) que fará a conferência de nos circunda e a vida particular de cada um nós.
abertura abordando a temática “A Conveniência Partindo da premissa de que os meios de comuni-
da Cultura”, título de um de seus livros, conside- cação atuam no sentido de construir a realidade
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Os jornalistas sempre se perguntam sobre retamente nos movimentos juvenis a quem estuda
quem lê o que escrevem na mídia? Talvez as me- seu comportamento. O resultado desse trabalho
lhores perguntas a serem feitas seja o que e como sério será enviado a toda a mídia nacional – gran-
lêem. Foi com essa preocupação que a Agência de de, pequena, tradicional ou alternativa.
Notícias dos Direitos da Infância – ANDI convi-
dou 80 profissionais representantes da imprensa, Segue, abaixo, o texto elaborado pelo grupo
de universidades e de movimentos sociais e juve- que analisou o tema ‘As Crises no Processo De-
nis para o evento EU DECIDO! Juventude, par- mocrático – o voto nulo como forma de protesto
ticipação e comunicação. O Monitor de Mídia foi versus impactos a longo prazo.
convidado e estava lá. Refl exão sobre o contexto/universo con-
ceitual
Durante dois dias, em São Paulo, todos ar-
regaçaram as mangas para debater temas que po- Vivemos uma crise no processo democráti-
dem ser boas preocupações para os profissionais co? Nos parece que não. Não existe crise no pro-
da mídia durante este delicado período eleitoral. cesso democrático, mas na representação política,
Os temas debatidos foram Democracia Represen- o que se reflete na confiabilidade do eleitor e nos
tativa’; ‘Mídia e Democracia’; ‘Juventude e o For- valores éticos e morais envolvidos.
talecimento dos Processos Democráticos’; ‘Votei.
E Depois?’; ‘Ética na Política e no Dia-a-Dia’; ‘Di- O Brasil ainda está recém namorando a de-
ferentes Formas de Participação Juvenil’; ‘Parti- mocracia e já vive uma crise das instituições de-
cipação Juvenil e Políticas Públicas’ ; ‘As Crises mocráticas, das instituições representativas. A
no Processo Democrático (o Voto Nulo Como crise seria, também, identitária – a sociedade bra-
Forma de Protesto Versus Impactos a Longo Pra- sileira já sabe o que não quer ser, mas ainda não
zo)’. Ficamos no último grupo e, ao final dos dois encontrou uma nova identidade.
dias, todos colaboraram para a publicação de um
documento que traz, para cada um dos oito itens, O voto nulo como forma de protesto
uma contextualização e abordagem conceitual do
tema, seguidas de recomendações aos profissio- O voto nulo é legítimo e não aparece somen-
nais da comunicação e sugestões de pautas. te como uma resposta para uma decepção pontu-
al com o processo eleitoral. Para muitos, é uma
Importante destacar o princípio democrá- alternativa quando não existem esperanças nas
tico e colaborativo do evento organizado pela instituições e não há crença alguma no processo
ANDI que, com honestidade, selecionou por de representação. Ele está mais ligado a uma ten-
todo o país, interessados no tema com caracterís- tativa de não compactuar com o sistema do que
ticas as mais variadas – desde quem trabalha di- de tentar transformá-lo. Apesar disso, o voto nulo
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não deve ser confundido com revolta juvenil vazia Fazer política pode ser diferente
e pouco fundamentada. Ele pode ser propositivo,
se aliado a maneiras alternativas de se fazer e de se Tanto as campanhas eleitorais quanto as
pensar a política. que incentivam o voto nulo se apresentam de
forma superficial, não contemplam a complexi-
A campanha que circula na internet sobre dade e a diversidade de esferas de participação
conseguir 50% de votos nulos para anular as elei- cidadã. De um lado se diz vote porque é seu de-
ções busca tanto a solução nas instituições quanto ver e tudo vai mudar; de outro se afirma não vote
aquela que busca o chamado “voto consciente”. porque vai eleger um pilantra, não há solução.
O voto nulo está ligado à realização de uma O voto nulo, o voto branco e o voto válido
outra política que não está necessariamente com- não podem ser colocados como as únicas formas
prometida com a transformação das grandes es- de participação política do cidadão. É necessário
truturas, tampouco busca soluções vindas do Es- problematizar as instâncias de participação e as
tado. Anular o voto pode ser a representação de práticas de movimentos, dos parlamentares, e do
quem busca uma política com outras formas de Executivo.
organização social, uma política que está mais li-
gada à ação direta – intervir na realidade fora das A democracia representativa não é a única
instituições formais. forma de se fazer política. Acreditamos que exis-
tem outras maneiras de organização, que se exer-
As conseqüências do voto nulo ce o poder em todas as relações da sociedade.
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- Incentivo à criação de conteúdo para jo- - Experiências de jovens que, por conta pró-
vens e feitos com a participação de jovens na mí- pria, se organizaram para expressar anseios juve-
dia/ Abertura de canais de participação na mídia nis (editores de livros, gravadoras independentes,
para os movimentos juvenis; organizações comunitárias, grupos culturais)/
mostrar como exemplo de ato político;
- Qualificar o leitor, incentivar a leitura crí-
tica dos veículos de comunicação; - Matéria “Dicionário da Política” que abor-
de vários aspectos da atuação dos senadores, de-
- Atender mais demandas politicas dos elei- putados, governadores, entre outros e como fun-
tores, e menos as dos partidos. Falar abertamente cionam as instituições políticas.
sobre questões que afligem a vida do público elei-
tor.
Sugestão de Pautas
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Estado x Comunicação
Patrícia Wippel da Silva em 18/09/2006
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A heterogeneidade da ANPED
Laura Seligman em 30/10/2006
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Os jornais educam no
ciberespaço?
Laura Seligman em 21/05/2007
Essa pergunta é feita a todo o momento e ção, novas linhas de fuga, a tal ponto que o sen-
sob diversas abordagens por pais, professores e tido global encontra-se cada vez mais difícil de
pesquisadores. O que aprende o sujeito que aperta circunscrever, de fechar, de dominar”.
a tecla de ligar do computador e se conecta a um
mundo de informação e de conhecimento? Mais Para a maioria, as multiplicidades da web
do que isso, como aprende o sujeito conectado? são vistas como uma panacéia. Um novo mundo
tecnológico onde homens são servidos por má-
Para alguns autores, sem mesmo questionar quinas em nome de um bem comum não é exa-
o jornalismo, é possível uma pedagogia crítica no tamente um quadro novo. Durante todo o século
ciberespaço, apesar do reconhecimento de que XX a filmografia tratou de imaginar como seria
nele, tudo cabe. O ofertório de temas e abordagens a nossa relação com as máquinas. O medo de que
com reconhecida credibilidade se misturam a um elas nos dominassem esteve presente em muitas
mar de construções frágeis, cheias de falhas. Para personagens. Talvez a mais fantástica delas tenha
o israelense Ilan Gur Ze’ev, professor da Universi- sido o computador HAL 9000, de Kubrick em
dade de Haifa, há conflito entre os dois conceitos. “2001 – uma odisséia no espaço”.
Pedagogia crítica é uma construção moderna que
objetiva o Esclarecimento. O ciberespaço é total- O que mudou realmente nas relações sociais
mente pós-moderno, descentrado, múltiplo. com as tecnologias? Como o jornalismo passa a
ser visto pelos que têm acesso à Internet? No pro-
Apesar do pessimismo de Ze’ev, outros cesso de construção da notícia, pouco ou nada
frankfurtianos vêem com bons olhos as possibi- mudou. Na forma como lemos as notícias, quase
lidades do virtual como oportunidades para que nada mudou além da velocidade com que elas se
o ato de aprender ganhe novas configurações. É o apresentam e se retiram.
caso de Douglas Kellner, estudioso da Escola de
Frankfurt, e de Lankshear e Peters, todos citados Talvez a maior mudança seja a diferença fí-
por Ze’ev no artigo “É possível uma educação crí- sica que destacava as diferenças entre jornalismo e
tica no ciberspaço?” conhecimento acreditado deixa de existir na web.
O jornal de papel, que suja as mãos e se deteriora
Para Pierre Levy, no livro Cibercultura, a perde em credibilidade para os livros, elaborados
rede mundial de computadores muda a relação fora do processo estonteante do jornalismo, pu-
que temos com o mundo e com os fatos. Na web, blicados após longas revisões e em qualidade para
as informações circulam num fluxo ininterrup- durar uma vida.
to – muda também o conceito de proximidade.
“Cada conexão suplementar acrescenta ainda Na web todos parecem obedecer a um mes-
mais heterogeneidade, novas fontes de informa- mo estatuto e quanto à aparência física, os jornais
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Um balanço do Jornalismo no
Enade 2006
Gabriela Azevedo Forlin e Fabíola Obadovski da Rosa em 11/06/2007
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Fair Play
Comunicação e esportes nos textos reunidos a seguir.
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Desliguem os aparelhos
Laura Seligman em 14/03/2006
Ronaldo Nazário é uma alma futebolística Agora ele se queixa da crítica que Pelé fez: a
agonizante. O povo vaia, os colegas ficam cons- vida particular estaria atrapalhando seu desempe-
ternados, os comentaristas são até cruéis: Ronal- nho dentro de campo. Ronaldo protesta, ago de
do está muito gordo, Ronaldo está muito velho. verdade deve haver na afirmação de Pelé. Dono de
Foi Platini, astro da seleção francesa da década uma carreira inconstante, raras vezes em sua histó-
de 80, quem disse. Foi bem dito. A torcida fez ria profissional Ronaldo manteve regularidade de
coro. suas boas fases por mais de uma temporada. Talvez
sejam muitos aplausos, holofotes, o rei da Globo se
Ronaldinho tem só 29 anos, ainda resta envaidece, perde o foco e erra o gol (aliás, o pênalti
um certo fôlego no futebol. Não é exatamente que ele perdeu esta semana foi a gota d’água).
o auge, mas ainda dá pro gasto. Ronaldo afirma
pesar o mesmo que pesava na copa de 2002, pa- Talvez o problema esteja também no ambien-
rece que eram uns 81 quilos. Ninguém viu a ba- te familiar. Ronaldo foi criado pela mãe para ser
lança. um popstar do futebol. Criou-se uma aura perso-
nalista em volta do jogador que despontou ainda
Todo esse episódio não tomaria a propor- jovenzinho. Do Cruzeiro para o mundo, tornou-se
ção que tomou, se Ronaldo não contasse com o “o fenômeno”. A mídia reforçou e como ela define
apoio institucional de uma das maiores corpora- o que é verdade, Ronaldo assim foi aceito. É claro
ções de comunicação no mundo. A Rede Globo que sempre foi um jogador excepcional, mas, cá pra
abraçou Ronaldo, ele tem amigos por lá. nós, fenômeno mesmo é o outro Ronaldo. Ao con-
trário do astro do Real Madri, o outro, Ronaldinho
Com todas as suas forças, a Globo direciona as
Gaúcho, foi criado para amar o futebol. A família
reportagens de seus telejornais, especializados ou não
já era experiente, o irmão mais velho, Assis, já havia
em esporte, para a “injustiça” européia contra o “fe-
sido estrela de brilho menor, mas preparou todos
nômeno”. Ex-jogadores cogitam uma simples má fase,
para o astro maior que chegava. Discreto, pouco se
treinadores dizem que o queriam no seu time, enquetes
ouve falar de sua vida pessoal. Alegre e simpático,
apresentam sucessivos depoimentos de populares que
joga com a disposição de menino em pelada de vár-
poderiam se traduzir na seguinte frase: “Ronaldo é o
zea. Sabe preservar a galinha dos ovos de ouro.
rei”.
Se a previsão do volante Dunga, ex-capitão
Ao contrário do que quer a Rede Globo, Ronal-
da seleção, se confirmar, é só uma má fase e elas
do não é o rei. Nem aqui, nem na Europa. Não adianta
passam. Mas se a fase de Ronaldo for realmente a
insistir. Ao contrário da política, é preciso algum de-
derradeira, é melhor para ele e para nós que o sus-
sempenho favorável no esporte para convencer a torci-
piro final seja aliviado. Desliguem os aparelhos e
da. Eleitores votam por muito menos do que um gol.
sigam a tradição: “rei morto, rei posto”.
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O critério da proximidade:
Uma discussão sobre o local e o global na imprensa catarinense
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veram neste veículo menor repercussão. Foram 22 plificando que “a pessoa que tem um problema a
matérias em dez dias, o que corresponde a apenas perturbá-la, como um terreno baldio ao lado de
11,3%, o menor de todos os índices. sua residência ou a precariedade da iluminação pú-
blica, procura com mais interesse a nota do jornal
Esporte não foge à regra que aborde esses assuntos do que o telegrama pro-
cedente de Washington que fale sobre as ativida-
Quando o assunto é esporte, a situação se in-
des do presidente norte-americano”. Stuart Hall,
verte um pouco. As diferenças entre local e global
ao falar sobre a mudança de foco da identidade do
permanecem evidentes, mas sob este aspecto é o
sujeito pós-moderno em A Identidade Cultural na
jornal A Notícia o que apresenta um maior equi-
Pós-modernidade, vai dizer que global e local es-
líbrio. Foram 19 textos com características locais
tão se entrelaçando, ao ponto de estabelecer uma
(8,2%), contra 23 matérias com motivação inter-
nova ordem na procura pelos fatos jornalísticos,
nacional (9,9%). Por outro lado, a distância é notó-
que deixam de explorar o cotidiano e passam a se
ria nos outros veículos pesquisados: o Diário Ca-
preocupar com outros fatores, como os objetos das
tarinense publicou 13 matérias locais no período,
notas internacionais.
que somam 7,4% do total de textos sobre espor-
te, contra 36 notícias internacionais, totalizando Fica, portanto, a dúvida: ou o que acontece
20,6% - praticamente três vezes o número de ma- fora das fronteiras nacionais, em países que sequer
terial produzido. As páginas de esporte do Jornal soubemos localizar no mapa mundi (Azerbaijão,
de Santa Catarina veicularam apenas 18 matérias por exemplo) está realmente motivando o inte-
locais nos dez dias analisados, (7,9%) em contraste resse popular, ou não há, na pauta de discussões,
com as 57 internacionais, ou seja, 24,9%. importância para problemas latentes na comuni-
dade, como o aumento na tarifa do ônibus ou a
Se considerarmos o destaque que pode ser
falta de vagas nas creches municipais. A figura do
dado nas principais notícias desses jornais a par-
pauteiro, cada vez menos presente nas redações, e a
tir da manchete de capa, temos uma outra com-
influência das agências internacionais e dos relea-
paração: em dez manchetes, A Notícia privilegiou
ses enviados pelas assessorias de imprensa são boas
matérias nacionais em sete oportunidades (70%)
explicações para a compreensão deste fenômeno
e não registrou uma manchete local sequer. O
nas redações catarinenses.
Diário Catarinense, por sua vez, destacou cinco
manchetes nacionais (50%) e apenas uma local
(10%). Mais uma vez, o fator cobertura geográ-
fica foi determinante para que o Jornal de Santa
Catarina apresentasse o maior equilíbrio entre os
pesquisados: foram nove manchetes no período,
sendo apenas uma nacional e uma local (as outras
dividiram-se entre estadual e regional).
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Por que está convencionado no senso co- sença. Quantas mulheres efetivamente desem-
mum e nas conversas corriqueiras que mulher penham um papel de âncoras, de comentaris-
e futebol são antíteses? Se o Brasil é, como dis- tas, de repórteres nos programas esportivos? À
se Nelson Rodrigues, a pátria de chuteiras, uma exceção do Esporte Espetacular da Rede Globo
enorme parcela da nossa população está excluída em que pelo menos há um número razoável de
desse time. Basta levarmos em conta os dados do reportagens conduzidas por mulheres, em que
último censo do IBGE que aponta a população têm a possibilidade de demonstrar seu conheci-
feminina como superior à masculina. Os meios mento quanto ao esporte retratado, nos demais
de comunicação contribuem para desmistificar, programas elas costumam ser apenas parte do
ou ao contrário, mistificam ainda mais essa repre- cenário, objeto de decoração. Se pensarmos no
sentação? futebol então, o abismo é ainda mais marcante,
onde nem mesmo o Esporte Espetacular pode
Em seu livro sobre Jornalismo Esportivo, ser tomado como exemplo da atuação femini-
Paulo Vinicius Coelho afirma que as mulheres na.
representam no máximo 10% do quadro de jor-
nalistas das redações esportivas e que esse número Esse aspecto também já foi apontado por
já é um avanço em relação às décadas anteriores Paulo Vinicius Coelho – o de quais esportes a
em que a mulher estava praticamente ausente do mulher estaria “qualificada” para realizar a co-
noticiário esportivo. Isso aponta para a efetiva in- bertura. Em geral, conforme descreve o autor,
visibilidade da mulher no mundo dos esportes, quando chega às redações esportivas, a mulher
principalmente quando o assunto é futebol. é designada para cobrir os esportes amadores,
demarcando simbolicamente seu status, sua re-
Há menos de dois meses do mais impor- presentação no jornalismo esportivo.
tante evento do futebol – a Copa do Mundo
– já era de se esperar que os noticiários brasilei- É no jornalismo impresso, entretanto,
ros dedicassem intensa cobertura à seleção bra- que o estereótipo da mulher que não entende
sileira e aos preparativos para a Copa. Seria esse futebol está mais vivo. As duas mais impor-
um bom momento para desmistificar a premis- tantes publicações de jornalismo esportivo
sa de que mulheres e futebol não combinam, impresso – jornal Lance! e a revista Placar -
atribuindo um papel mais enfático às jornalis- constituem-se verdadeiros “clube do bolinha”.
tas na divulgação do “mundo do futebol”. Os Na cobertura esportiva dos jornais diários o
mais esperançosos poderiam afirmar que isso cenário não é muito diferente. Seguindo nes-
está ocorrendo nos programas esportivos tele- sa linha, os três principais jornais diários de
visivos, onde a presença de mulheres é cada vez Santa Catarina repousam sobre o mesmo es-
mais marcante. Mas parece ser apenas isso: pre- tereótipo.
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Ao analisar a cobertura esportiva dos Vale destacar que nas matérias do DC redi-
jornais Diário Catarinense, A Notícia e Jor- gidas pelas jornalistas, mais da metade referiam-se
nal de Santa Catarina durante sete dias, fica a ao futebol. O resultado aponta nuances da efetiva
impressão de que no estado de Santa Catarina busca pela equidade de gênero. O caminho para
há escassez de atletas femininas e, mais ainda, a efetiva visibilidade da mulher no “mundo dos
de mulheres capazes de narrar o mundo dos esportes” ainda é longo. A cobertura da Copa do
esportes. Em sete dias (20 a 26 de março de Mundo de 2006 nos dará pistas do quanto ainda
2006), na soma dos três jornais, em 157 pági- temos a conquistar. Com o perdão da brincadeira
nas dedicadas ao esporte (incluindo os cader- com o cronista, mas ainda falta produzir chutei-
nos especiais) apenas oito matérias apresen- ras com numeração menor para que o Brasil seja
taram mulheres como protagonistas. A única efetivamente a “pátria de chuteiras” de Nelson
matéria sobre futebol protagonizada por mu- Rodrigues.
lheres falava de seu papel como companhei-
ras dos jogadores, das dificuldades inclusive (O levantamento realizado com a colabo-
de conviver com um esporte que nem sempre ração da acadêmica do 3º período de Jornalismo,
apreciam. Não é necessário dizer mais nada. Caroline Gautério Leal)
http://www.univali.br/monitor 85
Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Bola dentro
Entretanto, o Diário Catarinense não se
A cobertura esportiva vem merecendo des- limita a essas facilidades para sua cobertura jor-
taque nas páginas do Diário Catarinense, prin- nalística do esporte. Dá amplo espaço ao futebol
cipalmente após a implantação do novo projeto catarinense da Divisão Especial, cobrindo com
gráfico, no ano em que o DC completa 20 anos de correspondentes o sul do Estado, quando divulga
circulação no Estado. Quando o assunto a ser ob- matérias e até mesmo reportagens sobre o Crici-
servado é o caderno especial de esporte, publicado úma, e quando faz, sistematicamente, no caderno
às segundas-feiras, o comparativo com os outros especial das segundas-feiras, matérias que incluem
dois grandes veículos de circulação diária (Jornal clubes do Vale do Itajaí e do norte catarinense,
de Santa Catarina, também do Grupo RBS, e A como Marcílio Dias e Joinville.
Notícia, de Joinville) é inevitável: enquanto seus
concorrentes investem em assuntos nacionais e Analisando a edição de 08 de maio, nota-se
até mesmo internacionais como destaque princi- que as matérias nacionais e internacionais tam-
pal, o DC faz a opção acertada, valorizando o lo- bém recebem destaque, mas a hierarquia utiliza-
cal e privilegiando o envio de repórteres aos locais da pelo DC privilegia assuntos locais, regionais
dos acontecimentos, usando menos os materiais e utiliza bem os critérios jornalísticos, avaliando
das agências de notícia e, inclusive, produzindo quais as melhores pautas para o perfil do leitor a
mais reportagens. ser atingido. Em sua estrutura, o Caderno de Es-
portes traz uma capa tradicional, com equilíbrio
Cabe ressaltar, entretanto, que o DC goza
informativo: a abertura fala sobre o Figueirense,
de algumas vantagens, como estar localizado na
mesma cidade de um clube de futebol que disputa e há chamadas menores para o desempenho do
a Série A do Campeonato Brasileiro – o Figuei- Criciúma na Divisão Especial, para o basque-
rense – e de outro que joga a Série B da mesma te de Joinville e para a Fórmula 1, com a vitória
competição – O Avaí. Além disso, está presen- de Michael Schumacher no Grande Prêmio da
te na capital brasileira do voleibol masculino (a Europa, em 7 de maio. Nas páginas internas do
equipe da CIMED/Florianópolis venceu a super- caderno, apresenta tabela completa das Séries A
liga de vôlei no início do mês) e é vizinha de Gus- e B do Campeonato Brasileiro de Futebol, notí-
tavo Kuerten, o melhor tenista brasileiro de todos cias sobre surfe, vôlei, ciclismo, esportes radicais,
os tempos. Esses fatores, com certeza, fazem do além de um quadro sobre o esporte internacional,
DC um espelho mais próximo do que acontece fazendo um resumo e noticiando fatos importan-
de bom no esporte catarinense, permitindo que tes da Europa, como o anúncio da despedida do
essa editoria cumpra o papel de manter o esporte francês Zinedine Zidane, os campeões da Alema-
local em primeiro plano no destaque de noticia- nha e Inglaterra e a disputa da última rodada no
bilidade. campeonato italiano de futebol. São 12 páginas
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
de cobertura, num show de jornalismo esportivo gional. O Avaí, que disputa a série B do futebol,
equilibrado e que traz, inclusive, o resultado da recebe destaque igual ao dos outros clubes brasi-
rodada do Campeonato Brasileiro de Futebol, leiros.
com seus jogos que haviam terminado às 8h da
noite. Uma aula de bom jornalismo. Além disso, o caderno é pouco informati-
vo, traz as notícias locais e regionais sempre nas
Bola Fora páginas da esquerda e não apresenta reportagens,
apenas matérias com cobertura até certo ponto
Enquanto o DC nos mostra como se faz superficiais e que ficam nos resultados conquista-
uma boa edição no esporte, o co-irmão de Blu- dos. De positivo, apenas a seção Giro pelo Mun-
menau não utiliza os mesmos critérios e peca em do, onde o Santa faz algo semelhante ao DC,
detalhes importantes. O Jornal de Santa Catari- apresentando os principais resultados no esporte
na, motivado pela falta de equipe no plantão aos pelos outros continentes, e a coluna fi xa de Cláu-
domingos ou pela facilidade de utilizar o material dio Holzer, informativa, opinativa e que acres-
das agências de notícia ou, ainda, pelas duas coi- centa uma reflexão a respeito das tendências do
sas, acaba trazendo uma edição bem mais modes- esporte local.
ta no mesmo dia, segunda-feira, 8 de maio.
As pautas do Jornal de Santa Catarina pou-
São apenas seis páginas em seu Caderno de co ampliam a visão do esporte como notícia, limi-
Esportes, que apresenta como desvantagem não tando-se à cobertura do que já aconteceu. Como
tratar a primeira página como capa. Ao invés de gosta de afirmar Ricardo Noblat, um jornal im-
apresentar os destaques da edição, a página que presso que não consegue antecipar-se aos fatos e
abre o caderno traz em espaço privilegiado (pági- publicar algo que vai acontecer e, ainda, não pri-
na da direita, colorida) uma matéria de abertura vilegia a compreensão dos fatos divulgados, não
sobre o clássico carioca Flamengo vs Botafogo e terá função no futuro do jornalismo. O Jornal de
uma matéria menor sobre o duelo paulista da ro- Santa Catarina, abrindo mão dessas característi-
dada, São Paulo vs Corinthians. Nenhuma linha cas, pode deixar escapar, também, a credibilidade
sobre o esporte local, regional ou estadual na pri- de seus leitores.
meira página do caderno.
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Amor à pátria
Laura Seligman em 30/05/2006
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Diz o antropólogo François Laplantine que que também motiva intolerâncias, como brigas
“aquilo que os seres humanos têm em comum é de torcida, ofensas racistas, disputas violentas,
sua capacidade para se diferenciar uns dos ou- justamente por desencadear o nosso lado mais
tros, para elaborar costumes, línguas, modos de passional, como qualquer paixão, mas que con-
conhecimento, instituições, jogos profundamen- segue unir uma nação inteira sob as cores da
te diversos: pois se há algo natural nessa espécie pátria e momentaneamente colocar a todos em
particular que é a espécie humana, é sua aptidão condições de igualdade. Talvez nesta paixão - o
à variação cultural”. futebol - esteja a resposta para a aceitação da al-
teridade.
A alteridade que caracteriza a humanidade
tem sido também a motivação para as diversas Há um acontecimento que se repete a cada
práticas de intolerância ocorridas ao longo de quatro anos em que, por um intervalo de 30 dias,
nossa história. A nossa tendência ao sectarismo, as nossas diferenças ficam em suspenso. Não im-
como apontou o “pai” da antropologia cultural porta a língua, o credo, a cor, a origem, os aspec-
americana, Franz Boas, se mostra mais evidente tos físicos ou intelectuais. Nada disso importa
quanto mais “civilizados” nos tornamos. Se o sé- no mundo do futebol. Dentro dos “campos de
culo XX foi marcado pelas intensas revoluções batalha” da Copa Mundo só uma coisa importa:
científicas e tecnológicas, também teve como a realização, que pode ser o título para uns, uma
marco duas guerras mundiais. Mesmo com a vitória para outros, um gol marcado para estre-
exaustiva referência às atrocidades praticadas, antes ou a simples participação.
sobretudo durante a Segunda Guerra Mundial,
aportamos no século XXI ainda carregando o Poderíamos dizer que há sim sectarismo,
estigma e o peso da intolerância, em todas as cada país lutando pela sua conquista particu-
suas nuances. O que pode explicar o crescimento lar. Pode ser. Mas a “luta” é definida pelo empe-
cada vez maior de grupos neonazistas, de atenta- nho, pelo talento, pelo trabalho de grupo, pelo
dos terroristas, de invasões a países alheios, de entrosamento, pelo respeito ao adversário. As
conflitos armados em todo o globo? Ao que pa- diferenças são da técnica, da história com o es-
rece o progresso não acompanha e não gera ide- porte, do preparo físico, do clima psicológico.
ais de respeito à diferença. Durante a Copa do Mundo, não são as cren-
ças religiosas que separam os times, nem sua
Por outro lado, o século XX foi marcado condição sócio-econômica, nem seu idioma ou
também pela ascensão e difusão de uma das origem étnica. Diferenças que motivam tantos
mais importantes práticas culturais, de uma conflitos e tantas guerras em todo o mundo
paixão que une pessoas de vários países, de vá- perdem toda a sua importância dentro das qua-
rias crenças, etnias, classes sociais. Uma paixão tro linhas.
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Nesta Copa de 2006, a maior de todos os minou em 1x0 para Portugal, que foi pressionado
tempos como chamada e pretendida pelos ale- muitas vezes pelo estreante adversário. Fora de
mães, estão representadas todas as nossas diferen- campo, o único traço comum entre os paises é o
ças como raça. Sim, porque formamos uma única idioma, imposto pelo colonizador. A expectativa
raça - a humana. Espetáculo apresentado num pal- de vida, por exemplo, em Portugal é de 78 anos e
co que já foi sede da maior prática de intolerância em Angola, a metade disso.
do século XX e que ainda hoje vive os estigmas do
holocausto e trava uma luta simbólica para que ele Os abismos que separam os países são mo-
não se repita, dado o crescente aparecimento de mentaneamente apagados durante a Copa do
grupos neonazistas na própria Alemanha. Ainda Mundo e aqueles que não compõem o cenário
assim, mais uma vez o futebol quebra as barreiras econômico mundial como grandes representantes
culturais e a seleção alemã traz um africano em acabam roubando a cena dos poderosos “países
seu plantel. Num país regido pelo jus sanguinis de primeiro mundo”. Algumas situações curio-
(direito de sangue) atribuir a nacionalidade alemã sas ocorrem, como o fraco desempenho da sele-
para um africano é um grande passo na luta pelo ção dos Estados Unidos e o Brasil como grande
fim da intolerância étnica, apesar de todas as di- potência, como o centro do mundo, o centro das
vergências e dos protestos de muitos alemães por atenções, ao menos durante a Copa do Mundo.
“um tipo puro”.
Ao fim da “batalha mundial do futebol”
Por tudo isso, o futebol é muito mais do apenas um time levará para seu país a tão sonha-
que um esporte é um espaço de luta simbólica em da taça do mundo, o símbolo máximo da vitória.
que as nossas diferenças ficam tão demarcadas e Esta também é uma guerra que pode deixar feri-
ao mesmo tempo tão menos importantes, ao me- dos, que divide as nações entre vitoriosos e der-
nos durante os 90 minutos da partida. Não são rotados. A diferença primordial é que a “guerra”
apenas as diferenças culturais, comportamentais tem data definida para começar e terminar e os
que estão representados, mas inclusive os grandes feridos são apenas acasos, geralmente não inten-
abismos que separam o “mundo rico” do “mundo cionais e que ao término, cada país irá concentrar
pobre”. Todos se encantam com o futebol africa- seus esforços em melhorar seu próprio desempe-
no, sempre no ataque, muitas vezes inexperientes nho, buscar novos talentos.
e frágeis em suas defesas. Fruto talvez de países
A diferença entre a guerra da intolerância e
ainda jovens no quesito autonomia (muitos con-
a guerra do futebol é que a retaliação nesta última
quistaram independência somente na segunda
será quatro anos mais tarde, num espaço defini-
metade do século XX). Autonomia que a maioria
do, sem perdas civis, sem a destruição de cidades
deles ainda nem têm quando se trata da sustenta-
e cujas únicas armas serão novamente o talento,
ção econômica de suas nações.
o amor ao esporte e o desejo de vencer. O futebol
Dentro de campo os jogadores são todos não resolve nossas diferenças, não elimina as de-
iguais e ao mesmo tempo tão diferentes, carre- sigualdades, mas nos deixa pistas importantes do
gando em seus uniformes e chuteiras a história de quanto somos ignorantes ao definir a diferença
seus países, suas fragilidades, sua diversidade. O do outro como aquilo que o faz inferior.
jogo entre Portugal e Angola, por exemplo, ter-
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Craques de porcelana
Laura Seligman em 30/06/2006
Certa vez, a revista Veja trouxe a se- a exigência é grande demais, ou há proble-
guinte frase como título de uma reportagem mas no preparo físico desses atletas, ou ain-
sobre a fragilidade física do atacante Bebeto da – o que prefiro não ouvir, por favor, não
(Vitória, Flamengo, Vasco, Botafogo, La Co- me contem se for verdade – os holofotes do
ruña e outras passagens por clubes do Japão e espetáculo da mídia podem estar ofuscando
Arábia Saudita): Craque de Porcelana. Titu- o principal. Assim, só pode faltar vontade e
lar da seleção de 1994, quando o Brasil aban- disposição para jogar futebol.
donou o jejum de 24 anos e conquistou o te-
tra, o jogador era conhecido pelas sucessivas
lesões que o tiravam de campo: era encostar
que o sujeito quebrava.
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O cartunista do jornal A Notícia, Frank Nesse intervalo, passou por times nacionais como
Maia, deu o tom dos comentários sobre o novo o Corinthians, Santos e Vasco e por internacio-
treinador da seleção brasileira de futebol. Para nais, na Itália e no Japão, entre outros. A trajetória
futebol anão, só Dunga poderia ser o treinador. é marcante, mas não exatamente pela técnica apu-
Este é o momento em que normalmente se diria rada. Dunga se destacou pela força – na marcação
“brincadeiras à parte...”. Mas, sinceramente, não e no bom posicionamento em campo e no potente
dá. Só pode ser brincadeira. chute de pé direito. E só. Um futebol viril, certo.
Mas, nada de grandes jogadas construídas, nada
O mês de agosto começou, para a nova sele- daquele futebol-arte do qual todos têm saudades.
ção, com a primeira escalação. Os jogadores vão
a Oslo, na Noruega, para um amistoso. Percor- Outro representante desse futebol, porém
rendo a lista, não se encontra nenhum Ronaldo, dono de maior habilidade e técnica, já esteve no
Rogério Ceni ou coisa que pareça. Devemos nos comando da seleção. Paulo Roberto Falcão che-
alegrar ou entristecer? Ainda não dá pra saber. Já gou ao posto exatamente na mesma situação em
tem gente dizendo que vai ser mais fácil encontrar que está Dunga. A seleção havia sido eliminada
cabeça de bacalhau do que gol da seleção, mas aí da Copa da Itália, em 1990. O ex-volante dirigiu
já é maldade. a seleção por 17 jogos e foi demitido para a entra-
da de Parreira e a conquista do campeonato em
Dunga foi escolhido para ser o treinador da 1994. Resta saber se a passagem de Dunga será
seleção a exemplo do que aconteceu na Alema- meteórica como a do outro colorado.
nha, com Franz Beckenbauer. O kaiser, ou impe-
rador, como era chamado, ajudou em campo na
vitória da Copa de 1974. Como treinador, assim
como Dunga sem experiência prévia, foi vice em
1986 (perdeu logo pra Argentina) e campeão do
mundo em 1990.
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A América em vermelho e
branco
Sandro Lauri Galarça em 14082006
Quando o árbitro uruguaio Horacio Eli- aplicando sonoros 4 a 0 no jogo da volta, no Mo-
zondo, 42 anos, apitar o início da partida entre rumbi. Deu a lógica, já que o tricolor paulista era
Internacional e São Paulo, na próxima quarta- o melhor time da competição e o Atlético, ape-
feira, em Porto Alegre, oito milhões de colorados sar dos méritos, não fez um bom jogo de ida. Esse
espalhados pelo mundo estarão mandando suas ano, a crônica esportiva apostava numa bela vitó-
vibrações positivas para a conquista de um título ria tricolor em São Paulo. Seria a lógica. Seria.
inédito: o de campeão da Libertadores da Amé-
rica. Talvez esta seja a maior vantagem do time Há quem diga que camiseta pesa, que tradi-
gaúcho diante dos paulistas: a vontade de vencer ção ganha jogo e que título se decide nos detalhes.
um título internacional, que com certeza é muito Prefiro acreditar no retrospecto recente do Inter
maior entre os gaúchos. sobre o São Paulo: em quatro anos, o tricolor ven-
ceu apenas uma vez, são duas vitórias gaúchas em
Explico: o multicampeão São Paulo talvez 2006 (3 a 1 e 2 a 1), mais a eliminação da Copa
não tenha a mesma sede de vitórias no atual está- Sul-Americana de 2005. E ainda acrescento: a
gio de sua história. O time do Internacional, por partida do Morumbi mostrou quem realmente
sua vez, concentra forças desde 1909 para este mo- quer o título.
mento: pintar a América de vermelho. Por duas
vezes, isso já esteve bem perto de acontecer: em Escrevo isso porque há uma constatação
1980, após o tricampeonato invicto de 1979 (o cristalina como água: o Inter jogou bem melhor
único campeão na história sem perder uma úni- no Morumbi e só não saiu de lá com um resul-
ca partida), o time de Falcão, Mário Sérgio, Jair tado melhor porque o São Paulo acertou a única
e Mauro Galvão perdeu a chance de levantar a cabeçada que foi ao gol adversário em 90 minutos
taça diante dos uruguaios do Nacional, em Mon- de futebol. Josué, um dos melhores dos paulistas,
tevideo. Em 1989, comandado pelo mesmo Abel está fora, o mesmo acontece com Ricardo Olivei-
Braga, o time vermelho ficou na semifinal diante ra. O Inter vai completo e em grande fase, decide
do Olímpia, do Paraguai, em pleno estádio Bei- diante de sua torcida, seus resultados no Beira-
ra-Rio. Mas o raio não cai duas vezes no mesmo Rio na temporada são garantia de pelo menos um
lugar e, daí, a confiança da nação colorada. empate, o que também significa título.
As razões para o Inter vencer o São Paulo são Será um grande jogo, com certeza, mas de-
lógicas, racionais, quase matemáticas. Mas esses pois do apito final, apenas uma torcida estará co-
são fatores que poucas vezes podem ser conside- memorando. E, assumindo um gesto de cavalhei-
rados em uma final deste porte. Em 2005, na pri- ro, prefiro anunciar: que vença o melhor. Até por-
meira final exclusivamente brasileira do torneio, que, ultimamente, o Inter tem sido bem melhor
o São Paulo passeou sobre o Atlético Paranaense, do que o excelente São Paulo.
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Prezados leitores Paulo não vence o Inter faz seis jogos, tudo bem que já
perdemos no primeiro turno do brasileirão, tudo bem
A dois dias de mais uma final de Libertadores,
que perdemos a primeira partida em pleno Morumbi.
com o coração ainda sangrando pela derrota na última
Nada disso importa quando soar o apito do juiz nes-
quarta-feira, esta tricolor que lhes fala não poderia esco- sa quarta-feira porque se há algo que todo amante do
lher outro tema para o Bola Fora dessa quinzena. Per- futebol sabe é que o imponderável segue de mãos da-
doem-me todos os rubro-negros, os alvo e verde, os alvo das com esse esporte, o tal “sobrenatural de Almeida”
e branco, os tricolores de outras praças, etc, etc, etc mas como dizia Nelson Rodrigues está sempre rodeando
quando se trata do futebol, do seu time do coração, a ló- os estádios. Mesmo porque, a derrota no Morumbi foi
gica deixa de valer e são as nossas emoções que tomam apenas um acidente de percurso, para dar mais moti-
conta. Talvez seja esta realmente a magia do futebol, a vação à final. Se o São Paulo vence em casa, o título já
catarse necessária para seguirmos em frente (não para estava decidido, e aí, qual a graça?
esquecermos dos nossos problemas, mas para “superar-
mos as derrotas”). E se o São Paulo perder, você deve estar se per-
guntando? Tudo bem, nenhum torcedor do São Pau-
É piegas, eu reconheço, mas o futebol é isso: pas- lo irá apedrejar ônibus ou agredir seus jogadores. O
sional, sem razão, sem teorizações e, para quem vive e São Paulo é o melhor time brasileiro dos últimos 20
respira a academia quase 24 horas todos os dias, esta anos, e não é o meu coração que diz isso, são os fatos:
catarse é mesmo necessária. Ao contrário do pensam foram dois brasileiros, três libertadores, três mundiais,
muitos de meus alunos, eu não sou assim tão frank- e tantos outros títulos. Se o Sampa não vencer na
furtiana, aí está minha paixão pelo futebol para prová- quarta-feira, tudo bem, o tetra só fica adiado por mais
lo. Na quarta-feira, eu troco as reflexões, os autores, as um ano, pois se há algo certo é que, independente do
preocupações teóricas; substituo a análise teórica pela resultado de quarta, o tricolor jogará a Libertadores
análise tática e visto a minha camisa tricolor para mais do próximo ano. Se não sairmos com o tetra do Beira
90 minutos (ou mais) de muita aflição, raiva, euforia, Rio, ainda seremos líderes do brasileirão e, se não es-
decepção, enfim, para todas as surpresas de mais uma tivermos em Yokohama em dezembro, haverá outras
partida de futebol. conquistas a comemorar, como o título do brasileiro
ou o rebaixamento dos arqui-rivais (basta olhar para a
Como o futebol não é ciência, muito menos outra ponta da tabela).
exata, este coração tricolor segue firme e convicto da
vitória. Os fatos podem me desmentir ao final da noite Aos colorados, um último recado: não esque-
de quarta, mas se o futebol é mesmo tão imprevisível çam da última final do mundial interclubes - o fa-
quanto a vida, melhor os colorados não acreditarem na vorito não venceu. Outro detalhe (para os supers-
vitória antes do tempo. Como diz a máxima do futebol, ticiosos), o Liverpool também é vermelho. E viva a
o jogo só termina quando acaba. Tudo bem que o São falta de lógica no futebol!
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O site Terra é um dos principais espaços “O Corinthians perdeu para o Grêmio por
no segmento notícias pela Internet do Brasil. 2 a 0 neste domingo, resultado que marcou a pri-
Acompanha os principais jogos de futebol pelo meira derrota de Emerson Leão no comando do
mundo em tempo real e, logo após o evento es- time alvinegro, pela 20ª rodada do Brasileiro, no
portivo, já apresenta matéria completa com o Estádio Pacaembu, onde a torcida alvinegra mar-
resultado, a repercussão, entrevista com joga- cou grande presença e fez questão de xingar o ata-
dores, técnicos e a nova tabela de classificação. cante Carlos Tevez, que está na Argentina e deve
Tudo atualizado minuto a minuto. Simples ser negociado com o futebol europeu.”
como um clique.
Em suma: é muita informação pra pouco
O problema é que quase nunca essa rapidez espaço. Na pressa de publicar, a forma vai pra se-
traz consigo qualidade informativa, de verdade. gundo plano. E acaba levando o conteúdo junto.
Os textos são, na maioria das vezes, cheios de O lead, aquele primeiro bloco introdutório, acaba
clichês do mundo do futebol, argumentos su- afastando o leitor do restante do conteúdo, ao in-
perficiais e, é claro, as famosas respostas óbvias vés de atrai-lo.
dos jogadores: “a gente lutou muito pra sair da-
qui com o resultado positivo, mas infelizmente No impresso, escassez de pauta
não foi possível. Vamos trabalhar muito duran-
te a semana, e o professor vai acertar o time pro O que se vê no impresso, pelo maior tempo
próximo compromisso” (!!!) de produção das matérias, são poucos erros gros-
seiros e um conteúdo cada vez mais limitado. Na
Além disso, são registrados muitos erros verdade, há uma preocupação maior com a forma
de digitação e Língua Portuguesa nos textos nos veículos impressos, sobretudo em Santa Ca-
de cobertura esportiva. E o que é pior, mesmo tarina, o que nem sempre acontece em relação ao
depois de estar há algum tempo disponível na conteúdo. A mídia impressa, na última semana,
rede, ninguém mexe no texto, ninguém atuali- limitou-se a cobrir os esportes em evidência e os
za. Ele fica lá, por horas, dias no banco de dados eventos de maior destaque na mídia nacional e
com os mesmos erros. Outro problema clássico
mundial – Vôlei Masculino, Fórmula 1, Futebol
é a má construção do texto. No primeiro bloco,
– deixando na gaveta assuntos com abordagem
o lead jornalístico, que deve ser claro, resumi-
mais crítica e analítica.
do e preciso, evitando períodos subordinados, é
assassinado várias vezes em nome da velocidade Neste aspecto, Diário Catarinense e Jornal
de atualização. Vamos a um exemplo, do últi- de Santa Catarina padecem do mesmo mal: falta
mo domingo, logo após a rodada das 16 horas de criatividade para matérias não factuais e pouca
do campeonato brasileiro: inspiração para a produção de reportagens. A No-
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O título não está errado nem esta é uma Numa rodada em que o São Paulo não con-
barriga (notícia falsa, sem apuração, que acaba seguiu fazer a festa de maneira antecipada – o
veiculada na imprensa). Mas bem que poderia Inter também venceu e adiou a comemoração no
ser. No sábado à tarde, a seção de esportes do site Morumbi – Santos e Grêmio bateram seus adver-
do Terra noticiou esta informação: torcedores do sários para provar o equilíbrio na parte de cima da
Flamengo pediram que o centroavante Obina não tabela e que o miolo está cada vez mais insosso.
marcasse gols no jogo contra a Ponte Preta, que
aconteceria às 16h de domingo. O motivo: Ponte Pelo bem do futebol brasileiro, sem craques,
e Fluminense brigam para não cair à segunda di- mas ainda importante, podemos pensar na volta
visão e, portanto, a vitória dos rubro-negros aca- da decisão em semifinais e finais, sob pena de ter-
baria ajudando os tricolores. mos como única notícia um fato que nem se sabe
ao certo se aconteceu: o torcedor exigir a derrota
Segundo os critérios que ajudam a selecionar de seu time como a última emoção possível nas
uma notícia, o caráter de imprevisibilidade, ou o rodadas decisivas de um campeonato nacional de
que foge ao comum, é um forte indício de que a futebol.
notícia vai ganhar as páginas dos jornais. Neste
caso, o jornalista foi além: mesmo sem apuração
dos fatos – a matéria não ouvia uma fonte oficial,
não identificava os torcedores nem repercutia o
fato na Gávea, a casa do Flamengo – a matéria foi
publicada. É verdade que a notícia causa impacto
pelo ineditismo, mas checar a informação e reper-
cuti-la é o mínimo que orientaria o manual do
bom jornalismo.
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Jornalismo: a tela, a lousa e a quadra MONITOR DE MÍDIA
Eqüidade de gênero significa que mulheres No dia 11 de março, na partida entre Santos
e homens, homens e mulheres têm os mesmos e São Paulo na Vila Belmiro, a auxiliar de arbi-
direitos e os mesmos deveres perante a socieda- tragem Ana Paula Oliveira errou ao marcar um
de; significa que o sexo não é determinante do impedimento que anulou o gol do atacante Jonas
seu desempenho profissional, das relações inter- do time da baixada. Ela não foi agredida pelo téc-
pessoais, dos gostos e desejos; significa que cada nico, pelo contrário, após a partida e seu efetivo
um de nós é diferente, conforme nossas escolhas, reconhecimento do erro, o técnico santista prefe-
personalidade, modo de ver o mundo, formação riu nem comentar a declaração. Onde está o pre-
profissional, mas que não é sexo biológico com conceito então? Na sua forma mais sutil, como ele
o qual nascemos que determina essas diferenças geralmente costuma aparecer em nosso discurso.
ou nossas “funções” sociais. Estas são determi- Ainda durante o jogo, logo após o incidente, as
nadas culturalmente e é justamente por isso que câmeras de TV flagram Wanderlei conversando
ainda lutamos pela efetiva equidade de gênero, com Ana Paula. Ele lhe diz educadamente “você
porque historicamente as mulheres tiverem re- errou, as câmeras já mostraram” e em seguida
negados muitos de seus direitos e ocuparam pa- completa “tudo bem, como você é mulher eu te
péis sociais inferiores aos dos homens como se perdôo”. Deveria perdoar porque erros aconte-
os mesmos estivessem desenhados em seu códi- cem, principalmente no futebol. Deveria perdoar
go genético. por levar em conta o retrospecto de Ana Paula,
que costuma ter sempre boas atuações. Não de-
Muito já avançamos: o direito ao voto, ao
veria perdoar por ela ser mulher, porque isso de
divórcio, ao mercado de trabalho, embora ainda
todo modo a inferioriza. A luta pela equidade não
sejam muito desiguais nossos postos e salários. é apenas pelos direitos, mas também pelos deve-
Mas ainda há muito a ser feito, pois uma vez que res. Ou há equidade ou não há, não é possível um
se tratam de diferenças social e culturalmente meio termo.
construídas, são como dogmas que precisam ser
derrubados. Este preconceito velado também é uma for-
ma de violência, simbólica como chamaria Pierre
Em alguns espaços sociais já avançamos de Bordieu. Mas, não sei se pior do que o preconcei-
forma mais contundente, mas em outros a luta to velado, arraigado em nossos comportamentos
ainda é longa. Um exemplo? O mundo do futebol e discursos, há o preconceito declarado, agressivo,
e a polêmica que envolve dois dos principais téc- revelador mesmo de nossas práticas. Este foi es-
nicos do futebol brasileiro, Wanderlei Luxembur- cancarado pelo técnico Emerson Leão, que uma
go e Emerson Leão, protagonistas de práticas que semana após o ocorrido na Vila Belmiro foi ainda
vão de encontro à luta pela equidade de gênero. mais direto em seu preconceito, exposto no jogo
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entre Corinthians e Noroeste no dia 18 de março. meios de comunicação que poderiam e deveriam
Em mais um erro de arbitragem, desta vez da au- contribuir para o fim das práticas de intolerância
xiliar Aline Lambert, que sinalizou impedimen- (seja ela qual for) e pela equidade entre homens
to no lance em que o atacante Daniel Grando do e mulheres muitas vezes atuam no sentido de re-
Corinthians sofreu pênalti, gerou a seguinte fala forçar essa naturalização da desigualdade, como
do treinador corintiano: “Tá vendo? Colocam demonstra a frase de texto publicado no site da
uma mulher para apitar...” Nos leva a pensar se, Rede Globo, ao relatar a atitude de Emerson Leão:
caso fosse um homem e não Aline, qual teria sido “Em pleno mês de março, quando é comemorado
a frase do treinador? Possivelmente teria “elogia- o Dia Internacional da Mulher, o técnico Emer-
do” a mãe do auxilar, outro fato comum no mun- son Leão arrumou sarna para se coçar”. A frase
do do futebol. É realmente doloroso e revelador alude às manifestações promovidas por Ongs que
da ampla necessidade de reflexão e debate sobre lutam pelos direitos das mulheres e a repórter de-
o ocorrido, uma vez que temos discutido tanto o finiu a atitude preconceituosa do técnico como
problema da violência no futebol. A violência se “sarna para se coçar”. Se a mídia também atua no
dá de muitas formas e o preconceito e a discrimi- sentido de reforçar os estereótipos, preconceitos
nação são uma de suas piores faces, pois são tão (velados ou não), nossa luta fica
mais difíceis de se combater, já que são constan-
temente naturalizados, como mostra a frase do
técnico Emerson Leão.
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Uma aventura em
La Bombonera
Fabíola Obadovski Rosa, de Buenos Aires em 14/05/2007
Esta história aconteceu na semana passada, vamos em frente ao famoso palco do futebol. La
para ser mais precisa na segunda-feira, 30 de abril Bombonera tem capacidade aproximada de 49 mil
de 2007. Foi neste dia que embarquei para uma espectadores e de fora já impõe respeito. A cons-
viagem à Argentina. O objetivo principal do des- trução me lembrava um formigueiro humano. Os
locamento até a terra dos hermanos era o World lances de escadas que dão acesso às arquibancadas
Rally Championship (WRC). Todos os anos, tiram o fôlego e os tijolos parecem se equilibrar
uma das etapas do mundial de rally é realizada no em uma sobreposição de camadas. A impressão é
país, pessoas de todos os cantos desembarcam na que tudo foi empilhado e remendado durante a
capital Buenos Aires e em Córdoba. construção. Apenas o alambrado e alguns passos
separam a torcida do campo. Parece mesmo uma
Eu e mais onze amigos resolvemos apro- imensa caixa de bombons, como sinaliza o apeli-
veitar a ida até a Argentina para desfrutar de al- do.
guns dias de passeio na capital. Enquanto isso, na
América, continuava rolando a Copa Libertado- Chegamos um pouco atrasados e eufóricos.
res e para aquela semana - entre tantas partidas Passei as catracas e subi os lances de escadas no
das oitavas-de-final - uma nos interessou direta- ritmo frenético da torcida do Boca – a turma não
mente: Boca contra Vélez, no estádio Alberto J. tinha preferência por nenhum time, mas acha-
Armando, mais conhecido como La Bombonera. mos melhor ficar no meio dos donos da casa – e
O confronto tinha data e horário: 2 de maio às antes mesmo de chegar de fato aos nossos lugares,
21h45. Não dava para estar lá em Buenos Aires o caldeirão argentino veio abaixo. Aos 9 minutos,
no dia deste jogão e não comparecer. o time da casa abre o placar com um gol de Ri-
quelme, craque da seleção argentina. O descon-
Quarta-feira, às 21h30, todos prontos para trole foi geral.
ir ao estádio. Seguindo as recomendações da re-
cepcionista do hotel, fomos de camisetas neutras, Estar no meio da torcida do Boca foi uma
sem brincos, anéis, pulseiras, relógios, apenas di- experiência única. Não tanto pelo time, afinal de
nheiro para o táxi, documentos de identidade e contas meu coração bate forte por outro azul, mas
ingresso para a popular. O clima era de expecta- pela paixão que move todos os torcedores argen-
tiva, porém, com um pouco de receio. Afinal de tinos e que me contagiou. A torcida do Boca Ju-
contas, muitos nos assustaram a respeito de ir niors é fanática e a popular cantou o jogo inteiro.
para La Bombonera, famosa pelas brigas e a pres- Ensaiei cantar junto, quando não sabia acompa-
são da torcida. nhava enrolando a língua no portunhol.
Chegamos ao bairro La Boca e de longe já se Nos outros dois gols da partida, pulamos no
ouvia o fervor. Após uma breve caminhada, está- embalo: todos se abraçavam até mesmo quem não
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A pesquisa Jornalismo Esportivo no Vale funções longe das redações, por paixão, pela voz
do Itajaí - O perfil dos comunicadores da região bonita ou por agarrar uma oportunidade foram
teve início em agosto de 2006, com a orientação parar no departamento de jornalismo.
do professor Sandro Lauri Galarça. O objetivo do
estudo é traçar um diagnóstico da cobertura es- Na televisão e no meio impresso, é mais comum
portiva respondendo a questões como: quem são encontrar jornalistas com formação acadêmica. São
os comunicadores? Como os veículos trabalham repórteres que cobriram algumas matérias e migraram
essa editoria? Qual o espaço dedicado a ela? para o esporte, ou iniciaram a carreira na área e não sa-
íram mais. Paulo Vinícius Coelho já diagnosticou em
O primeiro passo foi ler e fichar o livro Jor- seu livro: “É para ela que seguem os focas, novatos que
nalismo esportivo, do jornalista Paulo Vinícius chegam sedentos de trabalho e de crescimento profis-
Coelho. Através dele foi possível entender um sional. É assim desde que o jornalismo escreveu sua
pouco da história recente do jornalismo esportivo primeira página. As portas de entrada para os novatos
e ter um panorama de sua situação no Brasil. No são a editoria de esportes e a de cidades”.
início esta área enfrentou preconceitos nas reda-
ções, mas superou, ganhou espaço e notabilidade. A cobertura do esporte na região, como em
Com isso, surgiram cadernos e jornais dedicados todo o país, ainda é pautada pelo futebol, isso porque
somente ao jornalismo esportivo, com leitores, a modalidade é paixão nacional e sinônimo de audi-
ouvintes e telespectadores assíduos. ência. Contudo, as outras categorias conquistam aos
poucos espaço e prestígio, principalmente nos jornais
Mesmo com o destaque dos últimos anos, locais onde o esporte amador ganha destaque. Nas
este campo ainda tem muito que crescer, princi- emissoras visitadas até agora foi possível perceber a
palmente no interior. Além disso, o mercado de divulgação de esportes prestigiados na região, como
trabalho tem espaço e carece de especialização. esportes ligados ao mar, por exemplo.
Os profissionais mais antigos e com maior experi-
ência aprenderam o ofício no dia-a-dia, uma prá- A pesquisa está em andamento, mas já é pos-
tica tradicional até então. Para comprovar tudo sível perceber a importância de mapear o perfil dos
isso, as idéias são construídas com o recolhimento comunicadores de esporte da região. Com um diag-
gradativo de depoimentos de jornalistas atuantes nóstico final será possível definir os espaços a serem
na área. conquistados no mercado e abrir oportunidades para
os novos jornalistas. Além disso, as carências dos pro-
Cada meio tem suas especificidades - como fissionais que já trabalham na área poderão ser enten-
nas emissoras de rádio, em que o mais freqüente didas. Esta pesquisa é apenas um dos inúmeros passos
é encontrar profissionais sem formação acadêmi- que precisam ser dados para aperfeiçoar e melhorar a
ca em Jornalismo. Eles começaram na rádio em comunicação na área esportiva.
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Seleção brasileira e
identidade nacional
Valquíria Michela John em 18/06/2007
Lá se vão 26 anos sem Nelson Rodrigues, Símbolos nacionais são construídos dis-
o cronista da identidade nacional brasileira. Ne- cursivamente para enfatizar uma idéia de nação
nhum outro mergulhou tão profundamente na unificada. Podem ser usados como instrumento
nossa realidade cotidiana, corriqueira, o Brasil de manipulação das massas, como o fez o presi-
“como ele é”. Contemporâneo de uma época em dente Médici com a seleção de 70, mas também
que grandes intelectuais se dedicaram a pensar a são importantes para a construção de nossa idéia
identidade nacional, como Gilberto Freyre e Sér- de pertencimento.
gio Buarque de Holanda, Nelson Rodrigues mer-
gulhou no Brasil de todos nós, expondo nossas Talvez por isso tenha sido tão frustrante
qualidades e mazelas. Não por acaso, foi no fu- acompanhar nosso principal símbolo nacional
tebol que encontrou muitos de seus personagens nos últimos anos. A seleção canarinho já não re-
para destacar o valor de nossa mestiçagem, os pro- presenta o mesmo fascínio de outras épocas. E
blemas de nossa desigualdade e o mito de nossa olha que nem posso ser acusada de ter um olhar
democracia racial. E assim definiu o Brasil como nostálgico com relação ao passado porque não vi a
a “pátria de chuteiras”. seleção de 70 jogar, nem era nascida naquela épo-
ca. Sou da geração 1994, que se já não tinha o bri-
A conquista da Copa do Mundo em 1958 lho do futebol brasileiro, tinha ainda um espírito
retirou o Brasil da condição de vira-lata entre as de equipe, de seleção. Sempre ouvi meu pai dizer
noções, no olhar saudoso e patriota do cronis- que a seleção de 70 é a melhor de todos os tempos,
ta. Ele ainda viveu para ver o Brasil tri-campeão de todos os países, não apenas porque tinha gran-
mundial, e morreu antes de sofrer com a derrota des jogadores, mas porque acima de tudo, não era
da mágica seleção de 1982, as cobranças de pênal- uma soma de individualidades, mas um grupo,
tis em 1994, o fracasso na final de 1998, o ressur- uma seleção.
gimento em 2002 e o apagão de 2006. Coisas do
futebol, da tragédia ao triunfo, da vitória à derro- Hoje temos um time montado com indivi-
ta sem explicação. dualidades em uma atividade que é cada vez mais
comércio e menos esporte. A seleção brasileira
O futebol é parte marcante de nossa iden- sempre representou para os jovens praticantes do
tidade nacional, um de seus principais símbolos, futebol o sonho máximo a ser realizado. Hoje, aos
principalmente se levarmos em conta as idéias 10, 12 anos nossos meninos já dizem que o sonho
de Stuart Hall, que diz não haver construção de é jogar na Europa. Sim, apenas os meninos, por-
identidade, mas de identificações. Nem todo bra- que para as meninas nem clube brasileiro tem pra
sileiro ama futebol, mas todo brasileiro considera jogar, então, o único sonho possível é o da Europa
o Brasil a pátria mãe desse esporte. e dos EUA.
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TECNOMÍDIA
Inovações e novas tecnologias aplicadas na comunicação.
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Um aviso aos navegantes: este texto é alta- • O alemão representa 1%, como o farsi, idioma
mente perecível. Claro que qualquer texto tem falado por 60 milhões de pessoas no Irã e mais um
seu tempo de permanência, mas a advertência aci- pouco na Armênia, Afeganistão, Iraque e outros
ma não é nem um pouco exagerada, já que meu países orientais. O que demonstra o crescimento
assunto aqui é mais do dinâmico, quase volátil: da presença do mundo árabe na web;
a blogosfera. Dependendo de quando este texto • Tem crescido também o número de posts com
for lido, muito do que for aqui encontrado será tags, isto é, posts categorizados, que facilitam a
poeira e sombra... busca e a organização dos conteúdos;
Um estudo recente tenta dar conta do atu- No Brasil, não existem dados consolidados
al estado das coisas: The State of Blogosphere, sobre a blogosfera. No ano passado, especulou-se
produzido pelo Technorati. O site, que monitora que os portais IG mais Globo.com hospedavam
blogs no mundo todo, trouxe à tona dados bem juntos um milhão de blogs, mas essa cifra não é
relevantes para se compreender o fenômeno: confiável, além de ser datada. O UOL tem hoje
mais de 210 mil blogs hospedados em seu portal,
• No começo deste mês de abril, já existiam no mas as taxas de crescimento não são reveladas.
mundo mais de 70 milhões de blogs;
• Todos os dias, 120 mil novos blogs chegam à Simples e fácil por natureza, o blog – aos dez
web; anos de idade – já não é mais novidade, mas sua
• 1,4 blogs por segundo (!); performance surpreende pela elasticidade dos da-
• Spams e splogs (spams em blogs) têm demonstrado dos, pela velocidade de seu crescimento e por sua
queda desde dezembro do ano passado; capilaridade e extensão.
• Entre 2004 e 2006, a blogosfera dobrava de
Afortunados
tamanho a cada sete meses;
• Por dia, são inseridos nos blogs 1,5 milhão de A onda blog provoca fenômenos empolgan-
posts; tes, mas a realidade é mais dura do que se pensa.
• Isto significa um novo post a cada 17 segundos; Segundo o jornalista Ricardo Noblat, dono do
• O japonês é o idioma mais presente na blogosfera: blog jornalístico mais conhecido do país, apenas
tem uma fatia de 37%; duas ou três pessoas vivem de seus blogs no Brasil.
• O inglês vem em segundo (36%), o chinês em Noblat é um deles, mas durante quase dois anos
terceiro (8%), italiano e espanhol em quarto viveu no vermelho. Começou no IG, teve seu pas-
(3%); se comprado pelo Estadão e hoje está no Globo.
• O português tem uma presença de 2%, assim com. Tem uma equipe enxuta para auxiliá-lo, com
como o russo e o francês; repórter, secretária e um moderador de comentá-
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Tendências
Ética
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Crise de identidade
Joel Minusculi em 30/04/2007
A criação de uma identidade dentro do O uso dos perfis falsos chegou até o Orkut,
mundo virtual é uma das possibilidades mais o maior site atual de relacionamentos virtuais.
fascinantes da internet. Para ser ou não ser, o Nessa versão a prática serve, entre outras coi-
usuário só precisa criar um perfi l ou participar sas, para propósitos mal intencionados, como
como anônimo na interação da grande rede. Mas agressões morais ou para corromper outros per-
o que parece tão simples e fácil causa muitas dis- fis de outros usuários. Estas ações causaram um
cussões, principalmente na relação de confiança revés na idéia de construção coletiva do conhe-
entre os usuários e o serviço. cimento, que era a proposta inicial do site.
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Mesmo com todas as dúvidas, há jornalistas Em todos os meios existem jogos de interesses, in-
que exploram este novo mundo para o exercício formações plantadas e manipulação de dados. A
de sua profissão. Além da alta velocidade da gran- verdade, que é um dos principais fundamentos da
de rede entre os meios de comunicação, os benefí- imprensa, é configurável na versão on-line. A in-
cios incluem a possibilidade de contato com pes- ternet somente entra como um novo canal e, ape-
soas em todo o mundo, a maior flexibilidade de sar dos bytes facilitarem em muito a vida, o fator
horários e a comodidade de colher informações humano não deve ser deixado de lado. Afinal, são
em qualquer ponto com internet. as pessoas, com boas ou más intenções, que ainda
apertam os botões e conduzem o mouse.
Exemplo disso foi a cobertura feita pela
Wikipédia no atentado em Virgínia. Num curto
espaço de tempo e com a contribuição de 2.074
editores, segundo a última contagem, o site criou
um artigo detalhado e bem feito sobre o ocorrido
e com mais de 140 notas separadas. Porém, caso
um destes editores quisesse, parte das informa-
ções dispostas poderiam ser corrompidas, como
aconteceu no recente caso Essjay.
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Metamorfose binária
Joel Minusculi em 21/05/2007
Na internet, assim como na natureza, nada plataformas que atuam como os sentidos huma-
se perde e tudo se transforma, ou melhor, se confi- nos. A internet se consolida como um sistema de
gura. Os dados que transitam pelas redes são volá- processamento e armazenagem. E, diferente dos
teis, não seguem um modelo tradicional e podem outros meios, a informação contida neste espaço
se apresentar na forma mais atraente aos usuários. pode ser trabalhada de acordo com a vontade do
A sociedade ainda dá seus primeiros passos nessa internauta.
estrada pavimentada por seqüências numéricas e
se deslumbra com as possibilidades disponíveis. Os textos não precisam ser lineares. As idéias
podem ser apresentadas de forma resumida, com o
Antigamente, na visão dos já imersos na pra- desdobramento de termos ou complementos atra-
ticidade da grande rede mundial, para cada meio vés dos hyperlinks. Até a criação e manipulação
específico a informação tinha uma cara diferente. desse tipo de conteúdo é dinâmica na internet, já
Nos impressos, o texto era predominante. O rádio que em poucos cliques, por exemplo, alguém pode
surgiu com o áudio como plataforma exclusiva. Já copiar informações em um verbete da Wikipedia,
a televisão apresentou através de imagens e movi- colar em seu blog, cortar algumas sentenças que
mentos a iniciativa mais precursora na conjuga- julga desnecessárias, mudar a ordem de outras e
ção dos modelos anteriores. Mas ainda faltava a adicionar comentários pessoais. Neste processo,
interatividade. há a preservação da essência, mas não do estilo.
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É só clicar no play
Joel Minusculi em 28/05/2007
Enquanto os estudiosos ainda desenvolvem do, para com isso conquistar público e número
os conceitos de uma internet 3.0, os usuários já de acessos. Surgem com isso verdadeiras pérolas,
aproveitam as vantagens da versão atual. Nesta que vão desde recordações de família, até flagras
segunda geração da grande rede, o internauta não indiscretos.
é mais um mero espectador, mas, sim, um prota-
gonista. A participação é cada vez mais intensa, O YouTube é um fenômeno transformador,
principalmente com o desenvolvimento de ser- desde a política até a cultura pop. O site é uma das
viços que permitem a transposição do cotidiano melhores soluções para veiculação de conteúdo, jus-
para o meio eletrônico. Este fenômeno virtual, tamente por seu caráter popular e de fácil navegação,
junto com a natural curiosidade humana pelo através da busca por tags dos assuntos relacionados.
próximo, cria uma espécie de reality show e uma Iniciativas virtuais, como a Good Magazine, usam
disputa pela popularidade. desta vantagem para apoiar seu conteúdo em multi-
mídia, no sentido mais prático da construção coleti-
Os primeiros blogs foram diários abertos va do conhecimento. Porém, nem todos usam com
para o mundo. Neles, as pessoas relatam seu co- esta consciência.
tidiano, para outros lerem e comentarem os fatos.
Depois vieram os fotologs, com a mesma estraté- Como qualquer outro serviço, há o uso inde-
gia, só que apoiados em imagens. E, desde 2005, vido, apoiado no fútil e supérfluo. Nesta categoria,
o YouTube é a principal referência ao oferecer estão os vídeos em estilo “paparazzo”, em que muitas
hospedagem de vídeos – e, talvez, a realização do celebridades temem os “micos” propagados. Com
sonho das pessoas de se verem em uma “telinha”. isso, entram em cena os dispositivos legais e institu-
cionais, que tentam controlar o fluxo de informa-
Em 2006, a revista americana Time elegeu ções vindo de todos os cantos do mundo. Exemplos
o YouTube como a melhor invenção do ano por, disso são o bloqueio feito na China e a proibição dos
entre outros motivos, “criar uma nova forma para soldados americanos de acessarem o serviço.
milhões de pessoas se entreterem, se educarem e se
chocarem de uma maneira como nunca foi vista”. Diferente das estrelas que temem flagras indis-
Além disso, a diversidade de temas disponíveis é cretos, as pessoas “comuns” oferecem um cardápio
tão grande quanto a quantidade de usuários, ca- variado de atuações para impulsionar na corrida pelo
dastrados ou não, do serviço. sucesso. O resultado disso são produtos que viram
motivos de piada, replicados por todos os meios. Há
Como um canal disponível para qualquer aqueles que vêem nestas categorias humoradas uma
um, o site virou uma plataforma para a fama. O forma de alcançar a popularidade. Não que estejam
conceito de “uma câmera na mão e uma idéia na errados, pois existe audiência para esse tipo de con-
cabeça” é aplicado em seu sentido mais inusita- teúdo.
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Uma das cenas mais intrigantes de Matrix viço, acontece porque as batidas sincronizam as
acontece logo nos minutos iniciais do filme. O ondas cerebrais para os usuários sentirem-se eu-
protagonista, Neo, está desacordado sobre seus fóricos, sedados ou para terem alucinações, como
computadores quando a campainha toca. Ao uma hipnose induzida.
atender a porta, há um homem acompanhado de
duas mulheres que pede um “material eletrônico”, Ainda nas simulações sonoras, um trecho
para curtirem em uma festa. Neo sai de cena, para de uma atração da Disney é popular atualmente
depois voltar com um Mini DVD. Os dois fe- na blogosfera. O arquivo que caiu na grande rede
cham negócio, com a palavra de que um não sabe mostra o nível dessa tecnologia. É o Virtual Bar-
da existência do outro. Não seria nada estranho, bershop, onde usuário é submetido a um corte de
caso a cena não fosse montada como uma nego- cabelo, com direito a um barbeiro francês e músi-
ciação entre um traficante e um usuário. ca ambiente. Quando o usuário “entra na onda”, o
efeito é surpreendente: ouvem-se passos e ruídos
Simulacros e simulações. Estas duas pala- no ambiente, com noção de profundidade e mo-
vras, além de darem nome a uma teoria e a um vimento ao redor do corpo, enquanto o barbeiro
livro de Jean Baudrillard, estão cada vez mais pre- faz seu serviço e “conversa com o usuário” – além
sentes em nossa realidade. Estas ações são frutos da sensação de que a qualquer minuto uma tesou-
de um movimento virtualizador do mundo, dig- ra vai cortar a ponta de uma da orelha. Mais uma
no dos filmes de ficção científica. Tudo através de vez a percepção enganada, tudo propiciado por
sensações artificiais, criadas com sintetizadores e uma técnica chamada binaural recording, sinto-
imersão de sentidos. Mas a questão é: até que pon- nizar áudio para esse fim.
to vale a pena abandonar as sensações reais pelas
virtuais? O Second Life é uma tentativa, como o pró-
prio nome deduz, de criar uma segunda vida para
Um marco dessa tendência, lançado há pou- os usuários. Foi uma das iniciativas mais popu-
co tempo, foi o I-doser. Através desse programa, lares justamente por negar ser um jogo. Aqui é a
as pessoas podem ter a simulação de alguns efeitos imagem do avatar, uma personificação gráfica do
físicos de drogas, através de seqüências musicais internauta no virtual, moldada pela vontade do
emitidas pelos fones de ouvido – “bons fones de internauta, que conquista o desejo em apenas al-
ouvido e estéreo”, segundo as instruções do pro- guns cliques. A projeção eletrônica pode interagir
grama. É possível se inebriar, por exemplo, com o com todos os outros elementos do seu mundo. Se-
efeito do álcool, e até com um poderoso psicotró- gundo os desenvolvedores desses sistemas, quanto
pico chamado “A mão de Deus”. Tudo através de mais perto da realidade, mais longe dos simples
uma simulação mental que, segundo o site do ser- jogos eletrônicos, baseados no fantástico.
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Assim como a sociedade é dividida em gru- a possibilidade das pessoas participarem com seus
pos, a internet tem seu conteúdo organizado em pontos de vista – por isso a internet é considerada
segmentos específicos, de acordo com o gosto de um meio democrático, como discutido no artigo
seus internautas. A estratégia, junto com os mo- La internet, el acceso a las informaciones y las
tores de busca, facilita o acesso rápido aos dados nuevas formas de organización del cotidiano.
e aproxima usuários em círculos de interesses.
Entre os muitos serviços disponíveis no mundo Os blogs entram como uma vitrine de idéias
virtual, os blogs são um fenômeno participativo para o meio virtual. Enquanto eles são apenas a
e um dos exemplos mais práticos da estratégia de mensagem exposta através de multimídia, a blo-
grupo com a chamada blogosfera. gosfera é o fenômeno das relações entre bloguei-
ros. Isso acontece através dos hyperlinks, prin-
O termo representa o coletivo dos diários cipais apoios dos textos virtuais, que remetem e
virtuais, weblogs, e foi usado pela primeira vez desenvolvem os conteúdos dentro de uma rede
em 10 de setembro de 1999, no blog de Brad L. ligada por idéias relacionadas. O exemplo prático
Graham, como uma piada: “Goodbye, cybers- está inserido neste texto, em cada palavra grifa-
pace! Hello, blogiverse! Blogosphere? Blogmos? da em azul, em que com apenas um clique sobre
Imagine billions and billions and billions of blo- elas faz o usuário “navegar” através de uma rede
gs…”. Anos mais tarde, o escritor William Quick de pensamentos.
postou em seu blog: “I propose a name for the in-
tellectual cyberspace we bloggers occupy: the Blo- Na dinâmica dos hyperlinks há duas possi-
gosphere”. A partir disso, a informação propagou bilidades: prender o internauta dentro de um cír-
pelo mundo virtual como um meme – uma idéia culo restrito e auto-suficiente de conteúdo (que
que se espalha através da multiplicação, similar pode ser do mesmo local da publicação principal)
aos genes da memória. ou expandir para o maior número de links exter-
nos possíveis (neste caso, podem ser direcionados
A comunidade que desenvolve conteúdo por para qualquer assunto dentro da grande esfera
postagens é crescente, como mostra o filósofo da dos blogs).
informação Pierre Lévy em seu livro As árvores
do conhecimento. Segundo o autor, “as redes de No quesito monitoramento e organização
computadores carregam uma grande quantidade da blogosfera, há vários serviços como o Techno-
de tecnologias intelectuais que aumentam e mo- rati, dos Estados Unidos, o BlogBlogs, do Brasil,
dificam a maioria das nossas capacidades cogniti- que disponibilizam estatísticas e informações
vas”. A idéia representa a construção coletiva do úteis para esse mundo de posts. Eles identificam
conhecimento, que ganhou força com a web 2.0 e interconexões, assuntos relacionados e uma lista
completa de categorias que abrangem os blogs.
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A professora entra na sala de aula, abre seu “É um projeto de educação, não um projeto
material e inicia a aula. Os alunos já estão em suas de laptop”, declara o fundador do OLPC, Nicho-
carteiras, com seus respectivos laptops e conecta- las Negroponte no site da iniciativa. Lá, é possível
dos a uma rede wireless. A aula é sobre geografia encontrar também as especificações técnicas do
e sobre as divisões continentais. Os alunos pron- hardware e soft ware utilizados nos modelos dis-
tamente baixam e instalam o Google Earth. A tribuídos. No mesmo endereço ainda há dados do
professora dá algumas instruções sobre o uso do progresso e, em conjunto, um wiki dedicada ao
programa, através do uso de latitude, longitude e assunto. Dentro do wiki há uma espécie de ser-
noções de pontos cardeais. O mundo está bem na viço de clipagem de notícias relacionadas ao pro-
frente dos olhos de todos. jeto. Porém, não há matérias relacionadas com o
não progresso da idéia.
A situação acima é o ideal que as iniciativas
de inclusão digital buscam principalmente com Na Liverpool High School dos Estados
crianças em idade escolar. Um dos projetos mais Unidos, o presidente do conselho escolar, Mark
conhecidos nesse sentido é o One laptop per chil- Lawson, afirma que “depois de sete anos, não há
dren – OLPC (Um laptop por criança). A distri- literalmente nenhuma evidência de que o pro-
buição acontece através da venda do equipamen- grama teve algum impacto no aprendizado dos
to básico para os países participantes, para serem estudantes – nenhuma” – em matéria publicada
distribuídos através do ministério da educação. no portal G1, em 06/05/2007. Assim como a Ín-
Porém, os resultados obtidos com a ação não são dia cogitou descartar sua participação no projeto
satisfatórios e fogem do caráter pedagógico espe- OLPC, por classificar os equipamentos com “fer-
rado. ramentas fantasiosas”, porém, ainda está no pro-
grama – em matéria publicada no IDG Now! em
Um projeto para várias realidades 28 de julho de 2006.
Nos países em que o projeto está em ação, O governo brasileiro estuda o OLPC, que
que vai dos Estados Unidos a Nigéria, muitos aqui ficou conhecido como o “laptop de US$ 100”,
alunos usam o equipamento recebido para colar desde 2005. Entre os fatores que ainda impedem
em provas, fazer download de pornografia, se o início da distribuição é a discussão burocrática
distrair em chats ou páginas de relacionamento da produção. Um dos fatos mais intrigantes nesse
e, até mesmo, invadirem sites. O que foi criado sentido foi que a Intel – maior produtora de chips
para preparar as novas gerações para um admirá- do mundo -, disputava com organizações, como a
vel mundo novo tecnológico gera várias discus- OLPC, o fornecimento de laptops para os países.
sões sobre a legitimidade do projeto e a dinâmica Agora, depois de um acordo, a Intel firmou parce-
adotada para sua aplicação. ria com a OLPC na produção dos equipamentos.
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Vários outros aspectos técnicos são conside- Setzer, “O computador oferece uma educação
rados para a implantação do OLPC. Porém, não mecanizada que pode ser prejudicial à formação
há iniciativas relativas à capacitação de educado- dos alunos”. Ou seja, ainda são pessoas que aper-
res para lecionar com os aparelhos ou na prepara- tam os botões e essas, além de tudo, devem saber
ção dos alunos para o vislumbre de possibilidades pensar como fazer isso da maneira mais constru-
da internet. tiva possível.
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idgnoticia.2007-06-19.9091114767/
Entrevista com o vice-presidente executivo e
administrador geral do grupo de marketing e
vendas da Intel, sobre os projetos de inclusão
digital.
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Evolução de telespectador
para usuário
Joel Minusculi em 05/11/2007
O site oficial da TV Digital (DTV) no Bra- Mas é na nova tecnologia digital que está o maior
sil faz sua contagem regressiva para a primeira avanço, que é, além da melhor qualidade de sinal,
transmissão do formato, enquanto muitas pesso- o da interatividade.
as ainda tentam entender a revolução que o siste-
ma proporcionará aos telespectadores. O conceito A história da televisão digital começa nos anos
digital está na moda, principalmente pelas mui- 1970, quando a direção da rede pública de TV do
tas iniciativas que surgem para inserir a socieda- Japão, Nippon Hoso Kyokai (NHK), juntamente
de neste novo mundo. Mas será que a população com um consórcio de 100 estações comerciais, de-
brasileira está pronta para essa nova forma de ver ram carta branca aos cientistas do NHK Science
televisão? & Technical Research Laboratories para desenvol-
ver uma TV de alta definição (que seria chamada
No Brasil, 87,7% das residências possuem de HDTV). No Brasil, o Governo decidiu realizar
aparelhos de TV. A televisão é a principal fonte uma pesquisa para ter sua própria tecnologia para
de informação e diversão de milhões de brasilei- a TV digital, com o objetivo de escolher o padrão
ros. Desde a sua implantação há mais de 50 anos, mais adequado à nossa realidade.
ela foi utilizada como um instrumento para pro-
pagar mensagens para as massas. Tanto que os pri- O sinal analógico ficou obsoleto diante da ca-
meiros aparelhos eram subsidiados pelo governo. pacidade de transmissão de dados do formato digi-
Além disso, o sinal de televisão e uma concessão tal. Para resumir os muitos detalhes técnicos que de-
pública, que pode ser explorada comercialmente, finem as diferenças entre o sinal analógico e o digi-
mas, segundo a lei, tem que oferecer qualidade à tal, o novo padrão tem a capacidade quadruplicada
população. no envio de informações, além de ter um sinal con-
tínuo, ou seja, maior qualidade na imagem, melhor
O tempo trouxe desenvolvimento à tecno- do que a do DVD – esse último tópico somente será
logia dos aparelhos de TV e à forma de fazer a aproveitado plenamente em aparelhos com suporte
programação. As cores revolucionaram os televi- para alta definição e som.
sores, quando o assunto foi a maior aproximação
com a realidade. De lá para cá, surgiu uma série A questão é que o analógico, mesmo com o
de aparatos tecnológicos que transformaram a re- mínimo de sinal, ainda mantém uma imagem dis-
cepção dos programas televisivos nos lares: apa- torcida e com ruídos, aquela imagem com fantasma,
relhos de tela plana, de plasma e LCD e, além da que muitas vezes deixa os personagens irreconhecí-
parte física, a forma de recepção de sinal também veis. O digital a partir do momento em que o sinal é
teve avanços, indo das antenas internas e das ve- fraco, fica impossibilitada a recepção nos aparelhos.
lhas “espinhas de peixe” até o sistema via satélite. Na Wikipedia, há uma lista das Inovações Técnicas
e Tecnológicas do sistema digital de TV.
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