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Uma versão resumida foi também publicada na Revista Universo Espírita, em sua edição n° 12.
Henry Thomas
Este artigo traz à luz um neologismo: Psicosofia. Esta palavra foi cunhada
com o objetivo de delimitar um campo de reflexão pouco comum no meio
filosófico: o campo da sabedoria espiritual (psique = espírito / Sofia = sabedoria).
O termo espírito no meio filosófico quase sempre foi pensado como sinônimo de
mente ou como o seu produto e, com raras exceções, como um Ser incorpóreo
autônomo e invisível para a maioria das pessoas. Assim, o termo psicosofia
valorizará essa outra dimensão e será utilizado para caracterizar as teorias
formuladas por diferentes filósofos ou pensadores encarnados, independente da
época, sobre o mundo dos Espíritos.
Esta teoria, em linhas gerais, antecipou em quase cem anos algumas das
revelações que compõem o quadro doutrinário do espiritismo. Possivelmente, se
Kant não tivesse abandonado suas pesquisas sobre os espíritos, poderia ter
criado um clima mais amistoso, pelo menos no meio filosófico, para a difusão da
Doutrina Espírita. É provável que nem ele se encontrava preparado para
compreender a importância dessa sua reflexão, uma vez que costumava
apresentá-la com uma certa dose de ironia, como se estivesse disfarçando o fato
de estar se dedicando a um tema de “menor” valor.
Por anteceder seus principais livros, esta obra passou a ser tratada por
alguns historiadores da filosofia como uma produção inferior, como fruto do
período “pré-crítico” de Kant. Alguns estudiosos se debruçaram sobre esta obra
interessados em compreender a “loucura”, dando pouca atenção para a psicosofia
nela presente. Acredito que este nosso estudo seja o primeiro que procurou
correlacionar este livro de Kant com a doutrina dos espíritos nascida na França,
em meados do século XIX.
Por alguma razão subjetiva Kant não se cansava de dizer que talvez as
experiências ocultistas com os espíritos fossem falsas, mas não charlatanismo.
Para Kant o contato com o mundo dos espíritos era o resultado de uma
perturbação da inteligência, de alguma afecção patológica dos sentidos e da
imaginação. Esse processo resultaria em representações simbólicas de um além
impossível de ser atingido pelas mentes normais.
Para diferenciar as ilusões dos ocultistas das ilusões dos metafísicos, Kant
denominou as primeiras de sonhos dos sentidos e, as segundas, de sonhos da
razão. Porém, apenas as “ilusões” dos ocultistas foram classificadas como
patológicas.
Kant chegou também a escrever que Swedenborg seria um “oráculo dos
espíritos” e que teria o seu “ser interior” aberto. Ou seja, que podia ser “tomado”
pelos espíritos. Hoje, com o advento da doutrina espírita, poderíamos dizer que o
“vidente de espíritos” era, de fato, um médium e que, possivelmente, possuía a
mediunidade psicofônica, conhecida também como mediunidade de
“incorporação”, aquela que acontece quando um ser incorpóreo utiliza o veículo
físico de um encarnado para se comunicar, utilizando suas mãos, por exemplo,
para escrever ou segurar objetos; suas pernas para andar pelo ambiente e, como
diz o nome da mediunidade, falar (de forma audível para todos os presentes)
através da boca do médium que pode ficar totalmente inconsciente durante o
processo, em semi-consciência ou, até mesmo, plenamente consciente.
Talvez seja por isso que Kant, ao definir a razão como a arte de arquitetar
problemas sem solução, parece ainda preocupado em encontrar uma solução
para a questão dos espíritos. Será através da noção de númeno que Kant atribuiu
um lugar para aquilo que se encontra além do fenomenal. Assim, a positividade do
mundo fenomenal passa a adquirir sentido em oposição à negatividade do
númeno. O filósofo não afirma que tal negatividade seja absoluta, pois o fenômeno
também não é tudo, fixando, assim, o estatuto de transcendente, abrindo a
possibilidade de se compreender o complexo mundo dos espíritos, o mundo que,
possivelmente, nós viveremos ao deixar o corpo físico.
Algumas conclusões
Para o senso comum, aceitar a idéia de que a vida continua para além da
morte física e que seria possível contatar os espíritos seria um dogma criado pelo
espiritismo, uma religião irracionalista, segundo alguns acadêmicos. Mas não é no
campo da filosofia que iremos encontrar as provas mais evidentes da continuidade
da vida. O século XX conheceu, graças à mediunidade de Chico Xavier, um
avanço nos meios de comunicação entre espíritos encarnados e seres
incorpóreos. A Academia ainda não se deu conta, mas a literatura mediúnica
possui a força da literatura dos viajantes que, no século XVI, descrevia o mundo
novo ainda desconhecido para os europeus.
Mas não precisamos ser adepto de nenhuma religião para acreditarmos que
a vida continua após a morte do corpo físico. As contribuições da Psicologia
Transpessoal e da Projeciologia, ciências que não possuem vínculos doutrinários,
demonstram também que a comunicação entre os dois planos da vida é mais
comum do que possamos imaginar. Assim, é um falso enigma, o shakesperiano
texto que afirma ser a morte uma região misteriosa de onde nenhum viajante
jamais voltou.