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doi: 10.1590/S0101-73301998000400004
Os ingredientes da competência: Um exercício necessário para uma questão
insolúvel*
Yves Schwartz**
RESUMO: As mudanças técnicas organizacionais e econômicas dos últimos dez anos levaram os
chefes de projetos e de empresa a substituir progressivamente o termo "qualificação" pelo de
"competência" para pensar o problema dos ajustes das pessoas às tarefas ou aos objetivos, bem
como a buscar procedimentos ou modelos de avaliação dessas competências. Ora, se por um lado a
questão é legítima e se coloca além mesmo da conjuntura atual, por outro, essa busca de
procedimentos ou grades descontextualizadas, codificáveis e homogêneas é incompatível com a
pluralidade de registros ou elementos que toda atividade de trabalho tenta articular.
De fato, esta comporta pelo menos três polaridades diferentes: o grau de apropriação de saberes
conceitualizáveis, o grau de apreensão das dimensões propriamente históricas da situação e o debate
de valores a que se vê convocado todo indivíduo num meio de trabalho particular. Há, portanto,
uma heterogeneidade fundamental nos "ingredientes" da competência, relações dinâmicas entre
esses ingredientes nunca verdadeiramente antecipáveis e, conseqüentemente, pesquisas a serem
conduzidas acerca dos procedimentos de avaliações diferenciadas, apropriadas à diversidade desses
ingredientes.
Palavras-chave: Trabalho, qualificação, competência, mudanças técnicas organizacionais, gestão
dos recursos humanos
Neste artigo, defendemos o seguinte paradoxo acerca da determinação das competências para o
trabalho: trata-se de um exercício necessário - ao qual nos dedicaremos - e ao mesmo tempo de uma
questão insolúvel. Propor-se a um processo de computação da competência sem ter consciência
desse paradoxo equivale, ao nosso ver, a flertar com a charlatanice. Inversamente, não se pode
censurar quem tenta proporcionar guias de ação nesse domínio, contanto que saiba medir os limites
e perigos envolvidos.
A avaliação de competências constitui um problema real. Todos o enfrentamos implícita ou
explicitamente quando um projeto qualquer nos leva a buscar uma parceria ou a cercar-nos de
colaboradores sobre os quais teremos responsabilidades. Todos temos contudo consciência de uma
diversidade a ser hierarquizada em relação às qualidades de possíveis ajustamentos entre pessoas e
objetivos. É claro que nossas escalas de medição ainda são muito vagas e que cada pessoa
representa um equilíbrio particular entre diversas qualidades que só poderá trazer benefícios para o
objetivo se se articular a outros equilíbrios diferentes e complementares. No entanto, por motivos
diversos, alguns inclusive de cunho jurídico, de garantia da pessoa, deve-se negociar com
indivíduos. Criticar tal preocupação - de realizar avaliação das competências das pessoas no
trabalho -, hoje hipertrofiada no campo das relações profissionais, seria irresponsável, uma vez que
nenhum projeto humano escapa a essa regra.
Nos referimos ao campo das relações profissionais: há, de fato, projeto e projeto. Não é de se
estranhar que a questão da definição dos critérios de ajustamento se torne estratégica quando as
pressões para o êxito ou os resultados do projeto são altas - é o caso das relações contratadas no
campo das relações mercantis. É claro que quando a massa de postos a serem ocupados parece,
numa relação salarial, requerer apenas tarefas simples, estáveis e de "execução", acredita-se poder
limitar a questão das competências a testes simples e padronizados (cf. a psicotécnica e sua relação
com os governos tayloristas do trabalho). O fato de vivermos hoje em dia, embora apenas como
tendência e de modo contraditório, as "Novas racionalizações da Produção"1 transforma
naturalmente essa questão - antes estratégica - em ponto crucial. Quer se modifique mais ou menos
profundamente um ambiente técnico, quer mudanças sejam introduzidas nas organizações do
trabalho - ambas as transformações não sendo necessariamente ligadas2 -, quer se busque antecipar
funcionamentos ou operações futuros por meio da direção da projetos ou quer ainda se crie novas
instituições, qualquer que seja o caso, é impossível subtrair-se a um rebuliço global afetando
"postos de trabalho" e modos de comunicação entre agentes, a uma reestruturação material e/ou
organizacional, a questionamentos quanto a equipes, classificações, coeficientes, em suma quanto
aos modos legítimos3 e eficientes de uso dos agentes. Não se governa o uso industrioso de homens
e mulheres em uma oficina de montagem automatizada em que robôs alinhados e engaiolados
fazem as peças passarem de uma prensa a outra, do mesmo modo que uma oficina em que as cargas
e descargas são realizadas por operários qualificados em cada prensa. As funções e o
relacionamento com o usuário na AnpeI ou nos Correios não podem ser redefinidas, assim como
uma estrutura de prevenção à toxicomania de uma cidade grande não pode ser criada sem que antes
se pergunte quem fará o que e como desempenhará a sua função de modo eficiente. Certamente,
nenhuma dessas questões levantar-se-ia num espaço neutro em que todos os parceiros, colocados
num mesmo plano, se esforçassem para reduzir as incertezas, compartilhassem a mesma idéia do
"projeto", de sua utilidade, do que poderia ser feito para torná-lo "competitivo". Tal rebuliço ocorre
em uma situação de crise, quando a pressão sobre o emprego como custo é dificilmente
contrabalançada pelas vontades ou veleidades da luta contra a exclusão. Nem todos têm poder igual
nessa "empreitada" de renegociações; e seria ingênuo pensar que todas as tentativas de redefinição
dos ajustamentos e as diversas "lógicas de competências" são desconectadas das políticas
econômicas de emprego ou de reconfiguração das relações de poder.4 Mas não cair na ingenuidade
também não nos autoriza a beirar a demagogia: essa questão dos reajustamentos também é um
verdadeiro problema, colocado a todos, no qual as diversas partes hesitam, têm perspectivas de
custos-vantagens complicadas, aleatórias; embora os recursos sejam desigualmente repartidos, não é
fácil para ninguém.
Nesse contexto surgiram práticas novas, que, parece-nos, também devem ser avaliadas tendo
presente essa preocupação com os aspectos contraditórios: pensamos nas múltiplas tentativas de um
ramo (cf. o acordo "A CAP 2000" na metalurgia, em 1990) ou de uma empresa para implementar
"lógicas de competências". Dispositivos complexos, referenciais de empregos e de profissão foram
introduzidos na Solmer em Fos-sur-mer, na Sollac Dunkerque, em Pechiney Gardanne,5 por
exemplo, que são testemunhos de uma preocupação real com uma utilização mais judiciosa dos
assalariados, com uma análise de recursos humanos mais refinada, bem como com a necessidade de
melhorar a rentabilidade dos ambientes técnicos modificados. Esse rebuliço também afeta
profundamente os Correios, os bancos e as seguradoras, em contextos cada vez mais particulares.
(Os Correios, por exemplo, iniciaram em 1991 a empreitada colossal que requer passar de uma
lógica de níveis a uma lógica de função). Isso se dá de modo ainda mais problemático no setor de
serviços, onde nenhuma transformação técnica maior pode nortear esses reajustamentos.
Ao mesmo tempo, firmas de consultoria propõem às empresas empenhadas em tais operações
procedimentos na forma de grades, constituindo-se em ferramentas relativamente padronizadas e
estabilizadas e permitindo uma monitorização para correlacionar postos de trabalho ou conteúdos de
empregos reconfigurados e aptidões individuais suscetíveis de ser mais bem apreciadas.
Poder-se-ia escrever, e muito já foi escrito, sobre esses temas.6 Questões fundamentais estão neles
embutidas, mais particularmente a respeito do deslizamento semântico "qualificação/competência"
que marca de maneira global essas novas empreitadas. Permitimo-nos remeter o leitor a nosso
próprio texto a respeito desse deslizamento, escrito para atender à solicitação dos organizadores das
IV Journées de Sociologie du Travail (Toulouse, maio 1990),7 do qual o presente texto é, por assim
dizer, uma seqüência. Naquela época, salientávamos que tal inflexão não cortava os elos com os
pontos de referência tradicionais de uma problemática da qualificação; e também que uma certa
folga se instaurara no dispositivo social, a qual poderia criar novas circunstâncias para se pensar
melhor em que situação ocorre uma utilização eficiente dos "recursos humanos" nas atividades
sociais de trabalho. Uma certa relação interativa de dilatação ou de labilidade podia instaurar-se
entre o posto (definição das competências "requeridas") e o registro de atividade exibido pelo seu
titular (putativo ou atual).
No fundo, parece-nos que esse deslizamento qualificação/competência é um ponto de bifurcação: a
partir desse rebuliço, pode ser aberta a caixa de Pandora, o que permitiria avaliar melhor as
dramatiquesII que convocam todos os seres industriosos, e que devem ser levadas em consideração
por quem estiver preocupado com eficácia. O registro do que parece hoje caber na "competência"
abrange um campo muito mais vasto, humanamente falando, do que os referentes mais
circunscritos, precisos, estreitos, ligados a uma lógica de "postos de trabalho", característica da
linguagem da qualificação. Tal conscientização nos permite avaliar, inclusive de modo retroativo, o
que sempre se pensou estar ocorrendo segundo processos simples, mas que nunca correspondeu a
tais esquemas. Uma maneira de exprimir essa idéia é dizer: o deslizamento
qualificação/competência é estruturalmente paralelo ao deslizamento trabalhar/gerir.8 Os elementos
que hoje podemos muito mais claramente identificar como gestão de situação de trabalho e que
motivam esse recurso ao conceito mais vago de competência não nasceram do nada junto com as
"novas tecnologias", as "novas formas de organização do trabalho", as novas regras de avaliação
dos agentes; já existiam nas formas anteriores, com dimensões e objetivos aparentemente mais
modestos, com formas implícitas, dissimuladas pela evidência da gestualidade apreendida como
repetitiva. Todos os desenvolvimentos nesse sentido ilustrariam a via positiva aberta pela
bifurcação.9
Quer, pelo contrário, e muitos procedimentos atuais indicam o quanto esse risco é grande, que essas
perspectivas apenas abertas se voltem a fechar. Perante a diversificação das situações de atividade e
da dilatação dos registros envolvidos, vemos proliferar ressegmentações e circunscrições de
aptidões, uma grande quantidade de itens na forma de "capacidades para" que supostamente
descrevem características do titular do emprego. Exigem-se verbos curtos, impessoais,
enquadrando, durante uma eternidade muito provisória, quem faz o que do emprego considerado. A
dificuldade em verbalizar a atividade de trabalho, problema essencial, é amplamente ignorada ou
subestimada. Na maioria das vezes, é "o emprego, o posto ou a tarefa, nunca o trabalho" (Guy
Jobert, Education Permanente, nº 116, 1993-3, p.14) que administradores e formadores levam em
conta. "Sejamos impessoais" recomenda uma metodologia de grade, "não escrevam `meu posto',
`eu', mas `o posto', `o titular'". O método de determinação do peso dos postos de trabalho, isto é, a
descrição dos postos independentemente de todo operador, momento complementar e anterior à
determinação das competências individuais, sem chegar a parecer ilegítimo, é - pelo menos
extremamente - ambíguo, suscetível de múltiplas interpretações.10
Portanto, podemos pensar que essa determinação do peso dos postos de trabalho é vigorosa onde
subsistem, por vários motivos técnicos ou socioeconômicos, postos relativamente individualizados.
Contudo, escolheremos aqui um exemplo visando mostrar o quanto é delicado e sempre em parte
abusivo confrontar duas realidades supostamente independentes: a pessoa e o posto. A questão
resume-se a: quem pode definir o que é uma situação de trabalho? Ou, melhor ainda, um "meio" de
trabalho? Tomemos um(a) controlador(a) de gestão: essa pessoa tem missões definidas: calcular
orçamentos de custos, controlar preços de custo, propor orçamentos. No entanto, essas tarefas
condensadas em verbos abstratos podem corresponder a modos diversos de lhes dar conteúdos. Um
controlador, "rei da máquina de calcular", trabalhará com fichas, na sua sala. Outro, para entender a
ultrapassagem dos custos, as anomalias de faturamento, irá conversar com o chefe do projeto,
observar os ateliês.11 Dois horizontes de trabalho em parte diferentes nos quais podem ser
veiculados, para um mesmo contrato de trabalho, diferentes tipos de informações a serem
sintetizadas, de relações humanas a serem estabelecidas, fatos ou procedimentos a serem
entendidos... Áreas de interesse, imersões diferentes na realidade industriosa e histórico-social que
suscitam e requerem por parte dos protagonistas "usos de si" em parte comuns, em parte diferentes.
Qual é, nesse caso, o posto a ser "pesado"? O que significa a injunção de anonimato (cf. acima, no
fim do § 2)? Quem pode definir de modo infalível a natureza das "competências" ligadas a este
artefato que existe apenas como tendência, na encruzilhada entre tecnicidade e escolhas sociais e
econômicas: o emprego de controlador de gestão? E essa diversidade na maneira de se constituirem
horizontes de trabalho só pode proceder das histórias, das escolhas, dos valores que levam o
controlador de gestão, e cada um, a configurar em parte, e às vezes de maneira ínfima - uma vez que
as pressões e "normas antecedentes"12 são tão fortes quanto a tendência a reconfigurar o meio -, o
que, para ele, faz as vezes de "meio de trabalho".
Os mesmos critérios devem ser aplicados ao animal e ao homem. Contudo, a reação
humana à provocação do meio é diversificada. O homem pode apresentar várias
soluções para um problema colocado pelo meio. O meio propõe, nunca impõe uma
solução. É evidente que as possibilidades não são ilimitadas num determinado estado de
civilização e de cultura. No entanto, o fato de considerar como um obstáculo o que
talvez acabe ulteriormente por revelar-se como um meio de ação procede, em definitivo,
da idéia, da representação que o homem - é claro, do homem em sentido coletivo - faz
de suas possibilidades, de suas necessidades, numa palavra, decorre do fato de ele
representá-lo para si mesmo, como desejável e isso não se separa do conjunto de seus
valores.13
Também não é de estranhar que tais indagações sejam levantadas a respeito do funcionamento da
instituição escolar: essa primeira forma de competência industriosa é uma de suas justificativas, na
sua missão de preparação para a vida ativa. Não diríamos que a instituição escolar é a única capaz
de ensinar o que diz respeito a esse primeiro ingrediente (o que ela consegue com maior ou menor
êxito), mas também não se deve subestimar o papel essencial da formação inicial e da escola.19
A qualidade de apropriação dessas diversas "linguagens" durante os percursos escolares e
universitários é um trunfo fundamental no confronto com a vida ativa. Sua relativa ausência é uma
desvantagem que certamente poderá ser reduzida ulteriormente, mas que a priori limita o leque de
ocupação de cargos e de trajetórias profissionais.
E tal desvantagem é às vezes vivenciada de modo doloroso: quantas pessoas não chegaram a entrar
em pânico, sentir-se desvalorizadas, e a longo prazo fragilizadas no seu emprego, por não
dominarem a informática, novas instalações, novos procedimentos? Tornavam-se obsoletas por falta
de "tecnicidade". Uma das dificuldades pelas quais passam hoje os dispositivos imaginados pela
ergonomia de concepção provém da heterogeneidade das "representações" dos interlocutores quanto
ao funcionamento dos processos industriais.20 A previsão restrita apenas aos modelos
psicoquímicos tem suas limitações, e isso pode ser perfeitamente medido hoje em dia, em relação à
antecipação dos funcionamentos e das dificuldades da futura instalação. Contudo, a dificuldade
sentida pelos operadores associados à concepção em se moverem também nesse terreno é um dos
elementos que freiam a dinâmica, por outro lado muito interessante, de tais grupos cooperativos.
(Veremos a contrapartida exata dessa dificuldade, desta vez imputável aos engenheiros, com o
ingrediente nº 2). Do mesmo modo, quando alguns aparelhos se tornam complexos demais
(captadores, indicadores), os operadores não mais conseguem constituir para si mesmos um modelo
de funcionamento, e isso vai de encontro à tendência para uma delegação maior de certos níveis de
manutenção às equipes de fabricação.
Determinar esse primeiro ingrediente da competência industriosa em cada caso particular, avaliar
seu grau de apropriação pelos indivíduos supõe, portanto, procedimentos ajustados à própria
definição desse tipo de ingrediente. Nesse caso, vemos claramente que estes serão bastante
clássicos.
Será esse tipo de ingrediente mais valorizado hoje em dia por causa da proliferação de línguas,
signos, comunicações no trabalho? Num certo sentido, sim. Na medida, porém, em que tais
transformações aumentam a dimensão "gestionária" do trabalho, as situações face a face e as
interfaces de toda natureza, elas trarão consigo a proliferação de outras formas da competência.
O segundo ingrediente da competência industriosa situa-se, por sua vez, num pólo oposto. Dizíamos
acima (§ 4) que toda atividade de trabalho, por um lado analisável como um seguimento de um
protocolo de experimentação, era sempre também, em parte, experiência ou encontro. O que
também chamamos de Registro 2 ou dimensão "experimental" nos parece ser uma característica
universal de todo processo ergológico: não existe situação de atividade que não seja afetada pela
infiltração do histórico no protocolo. Isso requer, portanto, uma forma de competência ajustada ao
tratamento dessa infiltração, tratamento por definição jamais padronizado e que, por isso mesmo,
reforça a contingência da situação.
Só a título de indicação, evocaremos os numerosos trabalhos, originariamente concentrados nos
setores industriais e hoje em dia estendidos a todos os setores de atividade, que exploraram as
fontes de variabilidade: estas fazem de toda situação de trabalho, numa escala ínfima ou visível,
uma combinação parcialmente inédita entre normas antecedentes (manuais e instruções técnicas,
regras gestionárias, organizacionais, prescrições e diretrizes, procedimentos etc. Cf. § 4) e materiais,
objetos técnicos, entidades coletivas, cada qual com sua história própria, e cujo encontro,
constituindo uma situação nunca idêntica a outra qualquer, produz e reproduz história de modo
incessante. Bruno Lamotte, na tese acima mencionada, descrevia muito bem, no setor produtivo,
essa "variabilidade" e "instabilidade": um processo de trabalho "é raramente uma sucessão estável
de transformações que se repetem de modo idêntico" (pp. 267-271). Se podemos legitimamente
ambicionar a constituição de toda série de operações como o transcorrer de um programa dominado
e antecipado, em um outro pólo, essa série será sempre um "acúmulo de interfaces", um combinado
de historicidades de toda natureza.
Essa ressingularização em relação às normas antecedentes marca de modo permanente todos os
elementos da atividade. E ser competente, num sentido muito diferente do primeiro ingrediente,
equivale a ter-se "imbuído", num grau mais ou menos forte, dessa historicidade que a dimensão
conceitual, pelo menos num primeiro tempo, ignora. "Saber", "saber-fazer", "conhecimento"? Essas
distinções não nos parecem, aqui, muito relevantes. Mais pertinente nos parece ser a capacidade
para tomar decisões, para arbitrar, levando essas "conjunturas" em conta. Em L'homme producteur
evocávamos um exemplo relatado por operadores do setor de petroquímica, que separava de modo
um tanto caricatural os dois ingredientes - que, na realidade, nunca podem ser completamente
separados - remetendo cada qual a uma categoria socioprofissional diferente:
Em 1976, durante uma greve, a direção decidiu ela própria assumir a segurança,
confiando portanto nos seus engenheiros, graças a seu conhecimento teórico das
instalações. No entanto, graves dificuldades decorreram disso. "Os engenheiros que
conheciam o processo não conseguiam dominar uma série de elementos pertinentes à
segurança" (P. Dezeuze). Foi preciso chamar de volta operários e equipes. Mas o que
estes fizeram que os outros não conseguissem fazer? Pois bem, nesse caso, como em
muitos outros, "não se consegue definir isso" acrescenta P. Dezeuze. "Fica difícil
explicar o que se faz." 21
Aqui se inscreveria a exata contrapartida da dificuldade acima evocada (§ 4), a propósito dos grupos
de cooperação na ergonomia de concepção: as "representações" dos engenheiros dificilmente
integrarão (se é que a integram) essa competência do histórico. Somos remetidos às constatações de
Alain Wisner a respeito das transferências de tecnologia: nos países em desenvolvimento, uma parte
importante do bom funcionamento das instalações somente é possível graças a competências
práticas "difíceis de ser verbalizadas ou transmitidas", porque adquiridas a partir da experiência
histórica e da duração - seleção das variáveis pertinentes, escolha de seu tratamento -, e não a partir
do ingrediente nº 1, do qual os operadores locais estão, a esse respeito, muito mais afastados que
seus colegas do país de origem. Essas competências práticas são, portanto, "próprias aos operadores
e à direção de baixo escalão, o que constitui uma fonte de conflitos entre executivos diplomados e
operadores competentes".22 Já podemos vislumbrar a dificuldade para definir e medir as
competências, uma vez que os critérios aqui se opõem.
É claro que não se deve, por ser "difícil explicar o que se faz", em hipótese alguma inferir não haver
regras implícitas, atividade conceitual, conhecimentos acompanhando essas escolhas e gestões das
situações. Estamos, porém, diante de sínteses de uma multiplicidade de elementos difíceis de ser
explorados, ordenados, verbalizados, pelo menos numa primeira abordagem. Esse ponto de vista
ressalta o caráter necessariamente redutor das "entrevistas de avaliação", por exemplo, para
salientar esse segundo ingrediente da competência. Essa competência do histórico, composta por
pontos de referência, conhecimentos mais ou menos intuitivos da vizinhança industriosa,
antecipações do comportamento e das arbitragens dos próximos, remete em parte ao "trabalhar,
gerir" acima evocado (§ 2), assim como à labilidade do que constitui para cada um seu "meio de
trabalho" (§ 3) (em termos de profundidade topográfica tanto quanto de duração e relações
humanas). No entanto, se, com tempo e condições favoráveis - que remetem aos métodos próprios
para avaliar esse segundo ingrediente -, pode-se progressiva e parcialmente reapropriar-se da lógica
das escolhas imersa nessa dimensão da competência e com isso tentar hierarquizá-la em função das
pessoas, esse ingrediente não pode, por definição, ser ensinado, verbalizado nem avaliado segundo
um modo em concordância com a "disciplina", ou até mesmo com a ascese das conexões
conceituais próprias ao primeiro ingrediente. Assim como temos certeza de que esse ingrediente
existe e deve ser procurado na análise das atividades concretas de cada um (em graus diversos),
sabemos que sua abordagem pode apenas ser específica de uma situação de trabalho, de um
emprego.
Inúmeros exemplos poderiam ilustrar esses graus de sínteses individuais ou microcoletivas
incidindo sobre o que cada um considera como "meio próprio de trabalho", matriz fundamental de
atos eficazes e acertados. Teríamos de mencionar aqui a prática das "sugestões" e "inovações a
partir da experiência".23 Um encarregado do serviço de triagem de trens de carga é competente
quando, por meio de seus pontos de referência, comprovados em sua prática, ele prevê, por
exemplo, que um vagão muito lento corre o risco de descer sobre a linha designada à formação
seguinte e ocasionar o empilhamento de vagões, redirecionamentos, redesignações de linha, com
custos de tempo. Ele "desconfia" e desvia na hora a formação seguinte para outra via livre. Isso
supõe uma espécie de sintonia instantânea articulando sua experiência da velocidade dos vagões (de
ver e ouvir), a antecipação das reações do operador da agulha e do coordenador de desacoplamento
às suas próprias escolhas, e a avaliação comparada dos tempos para as diferentes operações de
redesignação de linha. Competência complexa, profundamente ancorada numa cultura muito
específica da triagem, particularizada pelos hábitos coletivos locais de tratamento dos imprevistos,
geralmente mal formulado ou formulável.24
As atividades de serviço estão repletas de tais complexidades. Os procedimentos de
encaminhamento (de dossiês contábeis) podem parecer idênticos em todos os serviços de
contabilidade. No entanto, um estudo sobre o Serviço de Contabilidade de uma MutuelleIV
manifesta serem necessárias a "experiência" e uma "cultura geral" do conjunto dos organismos
associados de modo a garantir um encaminhamento eficiente. Existem relações muito particulares,
"históricas", entre o Serviço de Contabilidade e a Tesouraria, necessárias para o tratamento dos
dossiês nos prazos e com qualidade.
Para mencionar um exemplo, a codificação necessária aos agentes do grupo Tesouraria
para poder proceder ao encaminhamento não será pedida a qualquer um nem a qualquer
momento do dia. O pedido parece ser quase sempre dirigido à mesma pessoa segundo
os organismos. Para tanto, os agentes da Tesouraria devem conhecer ou ter assimilado o
suficiente a cronologia das tarefas adotada pelo contador a quem confiam sua
codificação, assim como suas possibilidades em termos de disponibilidade para
codificação. Via de regra, ao depositarem tais documentos em tal horário, eles
antecipam a hora em que a codificação será efetuada.25
De fato, constata-se que um operador numa fábrica de cimento resiste à categorização pela qual o
especialista tenta formular ou reformular o que acha entender de seu diálogo com ele. A linguagem
(a categorização) - por exemplo, nesse caso, os termos "carga" e "intensidade de trabalho", referidos
à lista de ações a serem executadas num dado período de tempo - pode de fato, mesmo nesse nível
de precisão, dissimular o envolvimento do operador, e portanto o exercício real de suas
competências, uma vez que repadroniza seqüências temporais que devem sempre ser revividas na
variabilidade e na particularidade do contexto da instalação. "Essa mesma medida arbitrária pode
conter em si uma variabilidade importante em termos de tensão da atividade, de acordo com o
número e o conteúdo das ações" (ibid., p. 90).
Vemos portanto que esse ingrediente levanta pelo menos três problemas:
• A duração: o histórico de uma situação (serviço, oficina, instalação, empresa, ramo...) não se
incorpora no instante.30 (Um "armazena-mento na forma de patrimônio", por menor que seja, deve
ser possível. As práticas de terceirização e de empregos precários tornam a cristalização desse
segundo ingrediente senão impossível, pelo menos difícil.
• A formação: ingrediente que só se forma através da própria operatividade. Não apenas nenhuma
formação clássica, como vimos, consegue, do dia para a noite, preparar para isso, como também, se
houver formação, esta só poderá ser desenvolvida por meio da cooperação dos protagonistas, em
proporção à qualidade desse ingrediente 2 presente neles. Formar para tarefas ou empregos no eixo
do primeiro ingrediente (formação profissional clássica) parece-nos mais eficaz ainda, e evitar a
subestimação - socialmente patogênica - dos outros ingredientes da competência, se essa formação
for acompanhada, simultaneamente, de uma "contraformação" no sentido em que monitores e
formadores se proporiam ao mesmo tempo a aprender dos protagonistas - contanto que estes
conseguissem verbalizá-los - elementos desse segundo ingrediente.
• Finalmente uma questão delicada: como avaliar o segundo ingrediente da competência industriosa
que, segundo tudo indica, tem ele próprio graus variáveis em função das pessoas.
Pode-se, sempre tendencialmente, dispor de trunfos importantes em matéria de ingrediente 1, mas
estar desarmado ou manifestar pouca disposição diante das combinatórias concretas apresentadas
pelas situações de trabalho, com os nós de história, de relações humanas, de complexidades que
oferecem. Pode-se viver numa intimidade comprovada, e portanto eficiente, no âmago do que se foi
construindo como "meio de trabalho" sem estar em condições ou nem mesmo desejar - por diversos
motivos - empreender o aprendizado de tal formalismo, tal campo de saber, tal tecnicidade que em
teoria programam os fluxos e procedimentos de atividade. Está claro que, levando também em conta
os níveis hierárquicos estudados, todas as nuanças são possíveis nesse equilíbrio no qual ninguém,
nunca, está totalmente desprovido de um pólo nem do outro. Parece claro, no entanto, que um
terceiro ingrediente da competência pode ser definido como capacidade e propensão variáveis para
"estabelecer uma dialética" ou uma consonância entre os dois primeiros. Trata-se, então, de uma
disposição mais ou menos aguda para identificar de modo contínuo uma situação como atualização
circunstanciada, e portanto requerendo um tratamento ajustado a ser criado, de uma configuração
genérica permitindo em teoria uma programação seqüencial de operações. O velho problema
filosófico da subsunção de um caso sob um conceito supõe aqui uma inventividade dinâmica que
leve em conta nas suas escolhas tanto as características genéricas quanto os "metabolismos" locais.
Desse modo, a gestão orçamentária descentralizada de um ateliê supõe, por um lado, o
conhecimento de algumas regras de gestão de produção, contabilidade e controle financeiro, que
não têm lugares nem tempos de definição particulares - existem formações estabilizadas para eles -,
e, por outro lado, um bom conhecimento dos sistemas locais de trabalho, o histórico dos ambientes
técnicos com seus imprevistos prováveis, dos modos de sinergia inter e intra-equipes... Por sinal,
quanto mais uma "economia da variedade" e seus acompanhamentos logísticos se desenvolverem,
mais essa exigência de instauração de uma dialética se aprofundará.31 Uma frase da pesquisa sobre
a cozedura da alumina32 parece condensar de modo notável uma maneira de interpretar o que os
gregos chamavam de "arte de Kairos", como escolha pertinente de ação diante da conjunção
localmente particular e inédita33 de processos considerados, cada um por seu lado, controláveis e
programáveis:
Para conduzir o procedimento, deve-se, embora não baste, ter uma visão global dos
diferentes mecanismos e reações que podem ocorrer. É principalmente indispensável ter
uma visão atualizada da situação, das indicações dos parâ-metros na tela e do estado das
instalações e diversos aparelhos do ateliê, de modo a estar pronto para enfrentar
qualquer acontecimento ou conjunção de acontecimentos. As margens de manobra ou
"portas de saída", a escolha de um novo sistema de prosseguimento serão determinadas
de acordo com as possibilidades materiais e humanas do momento. Por "sistema de
prosseguimento" deve-se entender a configuração particular de funcionamento num
dado momento (tipos de aparelhos utilizados, diretrizes programadas, circuitos
requeridos...).
Tal pessoa, encaminhada pelo PEA a uma empresa, funcionava perfeitamente como
empregada de lavagem a seco até o dia em que o diretor mudou. De repente, essa
senhora perdeu a motivação. "Não gosto do patrão", dizia ela a seu tutor externo (do
PEA). "Mas a senhora não tem de gostar dele, não é seu marido, é seu patrão". Seja
como for, as coisas se precipitaram, a pessoa chegando ao ponto de sabotar as próprias
competências. Sofria repentinamente de dores nas costas na calandra, confundia
diferentes categorias de roupas etc...
Queiramos ou não, o próprio avaliador, por causa desse ingrediente fora das normas, vê-se avaliado
sem poder desde o início apresentar razões superiores que possam justificar, por exemplo, que "os
valores da empresa", seu interesse econômico, sua estratégia - para voltarmos aqui ao campo das
relações profissionais - devam ser impostos integralmente às normas da pessoa avaliada.
Isso também não significa que os valores do avaliador, numa simples inversão do pró e do contra
que nos transporia do charlatanismo à demagogia, devam ser denunciados como usurpadores; nem
que haja necessariamente uma oposição integral entre os valores de avaliadores e avaliados: o
campo das relações profissionais sempre foi, e torna-se cada vez mais um terreno híbrido em que
zonas plásticas de consenso e dissenso juntam e opõem grupos sociais eles mesmos vagos nas suas
relações de poder, que se complicam sem deixar de continuar assimétricas.
Mas se deve olhar as coisas pelo seu lado positivo: esse ingrediente 4, se buscarmos fazer com que
ele se manifeste, cria uma oportunidade de debate das dinâmicas e limitações próprias ao meio de
trabalho. Uma vontade político-gestionária forte e lúcida será certamente imprescindível para se
empenhar realmente nessa interpelação recíproca contínua. Mas como propunha nosso grupo de
pesquisa a propósito do relatório acima mencionado sobre a Evaluation economique à l'epreuve des
services:
Os pontos precedentes denotam em que medida um serviço, uma empresa que se
interrogasse com conceitos e segundo as modalidades por nós propostas sobre a
eficácia/eficiência, que buscasse desmontar, penetrar seu modo de construção, prover-
se-ia de uma real pedagogia de redescobrimento de seus próprios recursos. No entanto,
os ensinamentos da análise estratégica confirmam que toda busca de melhoria da
eficiência passa primeiro pelo levantamento das vantagens e desvantagens. (p. 459)
Apenas pelo estudo desse ingrediente 4 poder-se-á compreender melhor por que os processos de
armazenamento na forma de patrimônio são mais ou menos desenvolvidos, nesta ou noutra direção,
ou pelo contrário, presos, bloqueados.43Isso equivale a proporcionar-se meios de instauração de
uma "dialética dos registros"44 que, sem apagar conflitos nem antagonismos, permite medir melhor
sob que condições a eficiência pode progredir nos meios de trabalho. Pierre Trinquet, na sua
obra,45 dá um excelente exemplo a respeito da segurança. Com isso levanta-se o problema das
"organizações qualificantes" ou da volatilidade das políticas gerenciais que, por mudarem
incessantemente interlocutores e arquiteturas organizacionais, acabam por dificultar a constituição
de "organizações vivas do trabalho",46 o empreendimento simultâneo de formações e
"contraformações" (cf. ingrediente 2) e a instauração de um debate sobre os laços entre os valores e
as atividades em operações concretas.
Deveríamos agora falar em quinto ingrediente ou, antes, introduzir aqui uma reflexão de bom senso:
há recorrência parcial do ingrediente 4 em todos os outros.
Recorrência: temos dito que o terceiro ingrediente (a instauração de uma dialética entre os dois
primeiros) supunha trabalho, esforço, uso de si; que esse trabalho, como qualquer trabalho, tinha
níveis, diferenças possíveis de qualidade na sua realização; que as modalidades desse uso de si,
mais ou menos retraídas, mais ou menos dilatadas, estabeleciam portanto laços dialéticos com as
formas possíveis de armaze-namento na forma de patrimônio oferecidas e construídas no meio de
trabalho (constatação que delimita a definição do ingrediente 4). Contudo, isso só vale, de modo
provavelmente mais indireto, para os dois primeiros. Gere-se melhor o trabalho como encontro
(ingrediente 2), como acúmulo e interface de singularidades, ele será mais bem incorporado por
meio de vigilância, atenção, interesse por todos os sintomas dessa historicidade contanto que se
consiga nele inscrever patrimônios. Ilustraremos essa afirmação com um exemplo extraído do
mémoire de maîtrise de sociologieXI de Pierre Trinquet Du Travail en détail au détail du travail
(Université de Provence, 1987):
Já nos aconteceu observar, no decorrer do dia, operários que tinham decidido
unilateralmente fazer uma pausa e pareciam desinteressar-se pelo trabalho em curso. E
isso, sem que ninguém os repreendesse. No entanto, caso acontecesse qualquer
incidente ou caso sua participação se tornasse necessária, eles reintegravam-se
imediatamente à equipe de trabalho, e na maioria das vezes sem que fosse preciso
chamá-los.
A primeira vez que um tal caso chamou nossa atenção, tratava-se de um operário
(OQ3)XII que, finda sua tarefa de sinaleiro para o operador do guindaste que acabara de
colocar um elemento do túnel no seu lugar, acendera um cigarro e batia um papo com
operários da equipe de reboco que trabalhavam ao lado. Enquanto isso, o operador do
guindaste fora buscar mais um elemento do túnel no canteiro da vigilância, e o resto da
equipe, por dentro, acabava de acertar e acoplar o elemento colocado.
De repente, sem que nada chamasse nossa atenção (embora estivéssemos ao lado dele),
esse operário jogou fora o seu cigarro, pulou em cima do túnel e de lá guiou e ajudou a
manobra de acoplamento.
Mais tarde, ao responder às nossas indagações, ele nos confiou ter ouvido um certo
barulho que lhe fizera entender que o elemento se apresentara de um modo errado, e que
seus colegas não conseguiriam acoplá-lo antes que o guindaste trouxesse o próximo
elemento. De cima do túnel, ele conseguia ver certos pontos de referência e podia
facilitar certas manobras.
De fato, se esse operário ouviu esse ruído particular no meio de tantos outros (e barulho
é o que não falta num canteiro de obras!), é mesmo porque, ao contrário do que pudesse
parecer, ele não estava alheio ao que estava acontecendo ali, e embora sentisse
necessidade e tivesse uma oportunidade de fazer uma pausa, seus sentidos permaneciam
alertas e atentos ao que seus colegas faziam.
Se interferiu, e com rapidez, quando ninguém lhe pedia nada (e, afinal, sua função
limitava-se a guiar o operador de guindaste!), é unicamente porque tinha consciência da
premência de sua intervenção para a seqüência das operações e a realização da rotação.
(pp. 75-76)
Tal manifestação da competência diz respeito, tipicamente, ao segundo ingrediente. Ela supõe uma
formidável condensação de relações com a história, sintetizada no registro auditivo ("um certo
barulho"): história da profissão, intimidade com a série de operações no canteiro de obras, história
dos instrumentos particulares ("tal guindaste que chia"), história deste canteiro de obras (vento,
alcance do som), da equipe (quem faz o quê, em que momento do dia, quais são os modos
operatórios compartilhados, os tempos usuais para cada operação), história dos problemas análogos
já encontrados. Isso constitui uma mistura inextricável e pouco suscetível de ser codificada na
forma de ingrediente 1. O que é notável não é apenas que este OQ3 tenha interrompido sua pausa
visando ajuda mútua, mas principalmente que tenha ouvido e interpretado tal sinal. Ora, para que
seu "corpo-si" (pois está claro que a microdramática em jogo não se situa apenas em nível
"cognitivo") tenha tramado, sem que ele percebesse, tal síntese, foi preciso que o agente em questão
tivesse, por assim dizer, se imbuído dessa cultura histórica, se imiscuído na sua rede e nos seus
sinais, e portanto que ela tenha adquirido, para ele, um valor patri-monial como campo pertinente
de sua atividade e de sua vida.
Quanto à recorrência do ingrediente 4 no 1, ela nos leva ao campo das condições da relação ao
saber. Que valor tem o meio, quais são seus horizontes de uso para que a pessoa deseje apropriar-se
das ferramentas formais (embora parciais) de seu domínio? Quais as condições para o que
chamamos essa ascese, essa disciplina? Trabalhos recentes exploraram esse campo, principalmente
a propósito das trajetórias escolares47 ou das constatações de que a inserção em situação de
trabalho de jovem egressos do sistema escolar, sem bagagem aparente, modificava positivamente
sua relação inicialmente negativa aos aprendizados formalizados. Para comprovar mais ainda essa
recorrência haveria também as lições da educação permanente, os êxitos e malogros em formação
contínua de ativos adultos, eventualmente beneficiários de uma validação das aquisições
profissionais que lhes permita ter acesso a níveis de formação superiores à sua formação inicial.48
Recorrência, no entanto, parcial. Essas modalidades de armaze-namento na forma de patrimônio
não criam do nada potencialidades em indivíduos supostos todos iguais. As pessoas chegam até seu
campo de atividades industriosas já carregadas de história, de possíveis, de limites. O fato é que
ninguém conseguiria circunscrever a priori esse potencial que pode ser avaliado apenas quando
contextualizado. Entre os possíveis e as imposições oferecidos pelos espaços de trabalho e esse
potencial pessoal cujas condições aos limites não poderiam ser determinadas a priori, existe uma
dialética permanente, em que muitas características remetem às normas de governo do trabalho, a
seus critérios de performance, a suas escolhas gestionárias.
Porém, resta um elemento importante. Ele é, também, difícil de "normalizar": trata-se do que se
costuma chamar, de modo um pouco impróprio a nosso ver, de "competência coletiva".
Se os elementos heterogêneos de que temos falado têm mesmo seu lugar na noção de competência
industriosa, então ninguém pode ser competente de modo igual em todos os registros. O problema
das eficiências coletivas será o de constituir equilíbrios variados e complementares de ingredientes,
conforme o tipo e o nível da tarefa ou da missão a ser realizada (conferir mais acima, os exemplos
do chefe de estação de triagem - § 5 - ou da equipe de profissionais de saúde - § 6). Vista pelo
prisma do desempenho, a noção de equipe torna-se cada vez mais uma entidade funcional
necessária e valorizada nos organogramas (o que nem sempre foi o caso), o que nos ajuda a
entender melhor por que a eficiência emerge cada vez mais como um produto coletivo. Isso levanta
um verdadeiro problema industrial, de gestão, gerencial: como combinar dois momentos, duas
abordagens da avaliação industriosa: um inelutavelmente individualizador - a contratação, a
promoção, a classificação, ... -, eventualmente reforçado por práticas de direção explícitas
(individualização dos salários, das carreiras, ...), e o outro imerso na análise dos desempenhos
globais em que se chega rapidamente à constatação de que a eficiência de conjunto não é a soma de
competências individuais avaliadas separadamente.49 O termo "competência coletiva" parece-nos,
no entanto, impróprio para evocar a série de dificuldades reais compreendidas pelo sexto
ingrediente. Ele denota unicamente o efeito - um bom grau de êxito - que, de fato, é coletivo,
imputável a todos; no entanto, ele dissimula sua difícil condição: a combinação fecunda de
espectros diferentes de ingredientes50 que conseguem cooperar localmente, cada qual completando
as lacunas dos outros. A "competência coletiva" preferimos portanto a expressão qualidade
sinérgica, construção sinérgica, que indicaria melhor, como problema, a colocação em síntese de
espectros ergológicos diferentes.
À lembrança dessa verdadeira dificuldade das cooperações logrando êxito, soma-se a
impossibilidade quase geral de definir coletivos estáveis e circunscritos. Sempre deparamos,
segundo os casos, com coletivos de geometria variável (no tempo e no espaço), em superposição ou
recobrimentos parciais (cf. por exemplo, Qualifications en Procès, op. cit., pp. 151, 213, 219, etc...).
Por sempre lidarmos com "ECRP",51 não é possível identificar crisóis estáveis para essa enigmática
"competência coletiva".
Finalmente, está claro que a observação que nos serve de ingrediente 5 aplica-se plenamente a toda
interrogação quanto à qualidade dessas sinergias: esta não poderia ser independente das formas
autorizadas e/ou construídas de "armazenamento na forma de patrimônio". Pode-se retomar o
exemplo do OQ3, evocado por Pierre Trinquet, que pergunta: "Caso ele não tivesse interferido,
quem o teria recriminado?". Então, "pensar de modo coletivo" sempre comporta algo da natureza de
uma escolha conjuntural.
Essas qualidades sinérgicas não são portanto um simples dado, um traço de caráter. Não são
evidentemente independentes de predisposições individuais: pode-se falar, e há quem o faça, em
"sociabilidade", em "capacidade para trabalhar em equipe"; em condições idênticas, indivíduos
diferentes adotarão, com toda certeza, disposições diferentes. Mas além do fato de não ser em nada
evidente hierarquizar tais disposições numa escala única, seríamos inelutavelmente levados a pensar
que o parâmetro "meio", que as políticas de governo do trabalho são, a esse respeito,
predominantes.52 É aqui que elas podem mostrar sua genialidade ou, pelo contrário, sua fraqueza,
ou até mesmo pusilanimidade: lucidez em antecipar os diversos espectros complementares de
ingredientes, em tecer aí sinergia; ou considerar de modo inverso essas sinergias como obstáculos à
autoridade. Buscar-se-á "implodir as equipes" (cf. L'homme producteur, op. cit., p. 240), em
concordância com a tradição taylorista, segundo a qual o trabalho individual é superior ao trabalho
em equipe, ou, pelo contrário, buscar-se-ão equilíbrios fecundos entre as normas capitalizadas pelas
entidades coletivas e as normas transitando pela hierarquia? Serão a polivalência, a ajuda mútua, as
trocas condenadas à semiclandestinidade, ou serão patrocinadas por organogramas e um
gerenciamento sensíveis às exigências de flexibilidade e de microrreações contínuas das "gestões do
trabalho"?
Afinal de contas, tudo nos leva a pensar que as avaliações dos ingredientes 2 a 4 dariam uma boa
antecipação para esse último ingrediente.
Se levarmos em conta essa hipótese de decomposição dos ingredientes, qual sentido poderiam ter a
determinação e a avaliação das competências industriosas? Considerem essa conclusão como uma
espécie de obra a ser iniciada.
a. Essa competência é portanto cada vez mais uma síntese de ingredientes heterogêneos, entre os
quais alguns se situam em pólos opostos da relação entre a inteligência e o meio de ação. Não pode
haver dispositivo único (do tipo grade com seu monte de itens), mas antes necessidade de se
inventar testes e ferramentas ajustados às especificidades de cada ingrediente ou grupo de
ingredientes.
b. Essa decomposição dos ingredientes nos permite entender por que esse problema foi tachado de
"insolúvel": principalmente por causa dos ingredientes 4 e 5, por não haver "extraterritorialidade"
nem escala absoluta de valores, a questão nunca poderá ser mantida apenas no plano objetivo, como
resultado de uma modelização teórica, de tipo cognitiva ou de qualquer outro tipo.53 De fato, e é
muito importante, sempre há uma perti-nência local forte do que se pode dizer sobre essas
competências (cf. acima, § 7, o caráter sempre aleatório da "transferência" das competências).
c. Portanto, para cada um desses ingredientes, existem flutuações em cada espectro pessoal. Se é
mesmo verdade que a "perfeição" do fazer supõe um alto nível de desempenho para o conjunto dos
ingredientes, não há absurdo algum em buscar avaliações por ingredientes, na medida em que
ninguém poderia acumular em si o "melhor" de cada gênero. Isso nos afasta dos princípios de
julgamento único, como o de desvalorizar um assalariado porque é fraco no ingrediente 1 quando
pode ser excepcional no 2; e mais ainda, porque sinergias bem-sucedidas supõem um bom
equilíbrio dos ingredientes, individual por uma parte mas sobretudo coletivo. Não há boa política do
trabalho que não seja sensível a esse problema de receita. Em gastronomia, o sal não é nem superior
nem inferior ao cravo-da-índia ou ao gengibre; tudo é questão de dosagem e de compatibilidade.
Isso justifica, com todas as reservas evocadas, uma pesquisa sobre as ferramentas.
d. Essa investigação, embora parcialmente insolúvel, deveria mais ainda levada adiante por
constituir uma ferramenta de descompartimentação entre serviços, categorias, culturas, usos
diferentes da linguagem, "representações" (no sentido de F. Daniellou, op. cit.). Investir no campo
do "trabalhar, gerir" dos diferentes parceiros favorece um redescobrimento da entidade
socioeconômica, uma interrogação positiva acerca do seu potencial; é o verdadeiro fundamento de
toda "gestão pelas atividades".
e. Essa observação, no entanto, só vale contanto que se tenha condições autênticas para "trabalhar"
as competências. A urgência, as dificuldades econômicas, certas estratégias industriais
(deslocamento...) ou pessoais (lutas pelo poder) não criam tais condições.
Esses casos de figura podem ser concebidos, mas são incompatíveis com toda pretensão manifesta
de desenvolver uma lógica de competência. Ela requer tempo: uma certa estabilidade do organismo
pelo qual será adotada, das partes a serem avaliadas, além de tempo a ser alocado ao próprio
procedimento de avaliação.
f. Cabe distinguir o caso em que a avaliação ocorre no quadro de uma entidade socioeconômica
(tipo lógica de competência) do caso em que a avaliação é realizada fora desse quadro (tipo balanço
de competências). Mesmo assim, não pensamos que os princípios metodológicos possam ser
fundamentalmente diferentes. Por outro lado, além da interrogação atual a respeito da avaliação,
uma tal análise do conceito de competência industriosa parece-nos mais apta - e frisamos isso no
nosso percurso - para delimitar a questão da produção de tais competências.
Quanto ao ingrediente 1, basta nele incluir a reflexão-ingrediente 5 para reencontrarmos um debate
clássico acerca dos testes de apropriação dos saberes escolares.
No que diz respeito ao ingrediente 2, e provavelmente ao 3 também, vários procedimentos poderiam
permitir, com toda a cautela necessária, medir seus níveis de qualidade. Basta fazer emergir e
"falar" as dramatiques microscópicas da atividade: "crônicas" parciais de atividade (um pouco ao
modo dos ergônomos) com diálogos para interpretação com os observados; exercícios de
verbalização do trabalho, redação de memórias ou de "Cadernos de competência" (como certas
Comissões de Empresas do Setor Químico começaram a implementar), método dos sósias...
Exercícios dispendiosos em tempo, mas extremamente fecundos quando instaurados.54
Em relação ao paradoxal ingrediente 4, suscetível de acompanhar ou transformar os processos
cooperativos (tipo direção de projeto) cujo desenvolvimento atual é percebido, pode-se pensar, por
exemplo, em "contratos de competência": compromisso em cobrir tal área, de tal modo, caso tal ou
tal condição de ambiente seja modificada, de tal maneira; convite a formular projetos de
organização do trabalho, sugestões de organogramas. É toda uma filosofia da gestão que se vê aqui
convocada, de suas dimensões microscópicas a seu quadro regulador global.
Na implementação desses métodos, a questão do face a face individualizado com o "n+1" ou o
"n+2" parece problemática. De fato, se por um lado esse superior hierárquico deve estar fortemente
envolvido no procedimento e exprimir seu ponto de vista para não haver atritos relativos ao
ingrediente 4, por outro lado, a verbalização das competências e a emergência dos valores
imanentes às atividades acomodam-se mal com tal face a face exclusivo. Esse superior não estará
necessariamente numa posição privilegiada para sensibilizar-se com esse complexo heterogêneo de
ingredientes, e notadamente quando ele próprio já ocupara o lugar do avaliado.55 Em certas fases
da avaliação, é preciso imaginar formas de expressão e de validação coletivas, bem como o apelo a
terceiros, especialistas em análise pluridimensional da atividade, para mediar esses processos.
Certas empresas que se empenharam de maneira notável nesses procedimentos-competência
indagaram-se a respeito da certificação escolar ou universitária dessas competências. Questão
legítima embora difícil, na medida em que leva a misturar ingredientes e portanto formas de
avaliação heterogêneas. No caso, a reflexão-ingrediente 5 é provavelmente o que permite dar
sentido à questão. Vimos casos de percursos universitários notáveis de ativos e/ou assalariados
acedendo a níveis bem superiores aos que sua formação original (Cf. § 8) teria permitido, partindo-
se de estimativas realizadas em bases semelhantes aos ingredientes acima detalhados. É preciso, no
entanto, manejar essas possibilidades sensatamente: os casos diferem segundo as disciplinas; e se o
acesso a formações escolares e universitárias deve ser facilitado, estas não devem ser consideradas
como equivalentes de uma aquisição de formações anteriores numa carreira. Ninguém ganha ao
trapacear com o ingrediente 1; favorecer o acesso a formações não equivale a entregar diplomas
dispensando de seguir formações; por outro lado, a presença de um público de adultos ativos ao
lado dos estudantes ou dos alunos é um vetor positivo de evolução dos ensinamentos disciplinares.
Estamos longe, certamente, de toda receita; e tal constatação pode desanimar eventuais parceiros
socioeconômicos, premidos pela urgência, em busca de ferramentas simples e métodos rápidos.
Seja como for, se fomos bem entendidos, ninguém está em condição de pretender que a questão das
competências constitui uma tarefa simples e circunscrita.
Buscamos, no entanto, mostrar que ela não deve ser tomada como tudo ou nada, que talvez seja
insolúvel, mas que toda abordagem pode ser, ao mesmo tempo, legítima e útil; que a partir dessa
hipótese de decomposição um apelo à inventividade foi lançado - cf. nossa conclusão -; e que, no
fundo, muitas outras questões cruciais acabariam por amadurecer ao se empenhar em tal
procedimento, contanto que não seja superficial nem manipulatório.
Notas
1. Cf. a obra coletiva com este nome - Nouvelles Racionalisations de la Production -, coordenada
por Gilbert de Terssac e Pierre Dubois, Cepaduès Editions, 1992. [ Links ]
2. Cf. nosso Relatório de Pesquisas "Nouvelles technologies et/ou nouvelles organisations": Les
défis de l'expertise pour le mouvement syndical" (Capítulo I) (Novas tecnologias e/ou novas
organizações: Os desafios da perícia para os movimentos sindicais), APST-Recherche, URA-CNRS
1084, 1996, Université de Provence. [ Links ]
3. A "qualificação profissional" é um dos elementos que permitem atribuir um conteúdo, ao mesmo
tempo positivo e limitativo à noção de "subordinação jurídica". Cf. Alain Supiot, Critique du droit
du travail, PUF, 1994, pp. 103-109; [ Links ]Marie-Laure Morin, "Compétence et contrat de
travail", GIP, Mutations Industrielles, Cahier nº 70 (2/96) pp. 67 ss.
4. Cf. E. Dugue, "La gestion des compétences: Les savoirs dévalués, le pouvoir occulté", Sociologie
du Travail, nº 3/94, 1994. [ Links ]
5. Cf. por exemplo: Jean-Marc Devaud (Pechiney): "Une nouvelle gestion du travail: La gestion
anticipée des compétences", GIP, Mutations Industrielles, Cahier nº 70 (2-1996); Qualifications en
Procès, Situations de Travail Qualifiantes à Pechiney Gardanne, APST-Recherche 1994 (Dir.,
M.M. Charriaux), Université de Provence; J.N. Tuillier, "L'appropriation de la compétence dans une
entreprise sidérurgique. Processus e finalités", UTINAM, mar. 1995, nº 13, pp. 193-209.
6. Cf. o excelente número da revista Education Permanente, nº 123, 1995-2. [ Links ]
7. Publicado em Société Française, nº 37 (1990) e republicado em Education Permanente, nº 123.
8. Cf. Yves Schwartz, Travail et philosophie, Convocations mutuelles, Octarès Edition, 1992, pp.
39-40. [ Links ]
9. Assim, o acordo "A CAP 2000" chega ao ponto de considerar uma espécie de reviravolta
organizacional, uma definição dinâmica dos conteúdos e das situações de postos a partir das
competências desenvolvidas localmente pelos indivíduos (cf. Liaisons Sociales 6506, 11/03/91, pp.
1 e 3).
10. Por isso evocamos a respeito do acordo "A CAP 2000" (cf. nota supra) a hipótese de uma
reviravolta, embora isso não deva esconder o ponto de vista das competências "requeridas" para o
posto, cf. Titre III, art. 31, 32.
11. Cf. Mireille Gras, "Une expérience de contrôleur de gestion", DESS-APST 1995-1996.
[ Links ]
12. A respeito deste termo, cf. nossa contribuição em La liberté du travail, éditions Syllepse 1995,
"L'inconfort intellectuel, ou comment penser les activités humaines", pp. 108-207.
13. G. Canguilhem, "Le vivant et son milieu". In : La connaissance de la vie, Vrin, 1965.
[ Links ]
14. Cf. a esse respeito nossa contribuição à obra coletiva Crises du travail, la société salariale en
question, a ser publicada pelas Editions La Dispute: "Le travail a-t-il une valeur?". Publicado sob o
título Trabalho e valor. In: Revista Tempo Social. Detpº de Sociologia da USP, vol. 8, nº 2,
outubro/1996, pp. 147-158.
15. Cf. B. Coriat, O. Weinstein, Les nouvelles théories de l'entreprise, Livre de Poche, 1995, pp.
123, [ Links ]assim como o excelente ajuste crítico de W. Cavestro: "Innovation, apprentissage
organisationnel et individuel dans la firme", contribuição ao seminário de 8/3/1996 a respeito das
Régulations de l'emploi, IREPD, Université P. Mendès-France, Grenoble. [ Links ]
16. Cf. nossa comunicação no XXIX Congrès de la Société d'Ergonomie de Langue Française,
setembro 1994 (in: Ergonomie et Ingénierie, Eyrolles édition, p. 11). [ Links ]
17. Université des Sciences Sociales, Grenoble.
18. B. Charlot, E. Bautier, J.Y. Rocheix, Ecole et savoir dans les banlieues et ailleurs, A. Colin,
1992, p. 232. [ Links ]
19. Na pesquisa sobre as Nouvelles Formations d'Ingénieurs (NFI), na qual nossa equipe colaborou,
mesmo se a hipertrofia tecnicista das formações tradicionais chegou a ser criticada, não se cogitou
desvalorizar este elemento da competência dos engenheiros. Cf. Nouvelle Professionalité de
l'ingénieur, politique de l'entreprise et nouveaux dispositifs de formation, INRP- APST-Recherche,
setembro de 1994.
20. Cf. François Daniellou, "Le statut de la pratique et des connaissances dans l'intervention
ergonomique de conception", dissertação de mestrado. Toulouse, Le Mirail, 1992. [ Links ]
21. Yves Schwartz et Daniel Faita (orgs.), L'homme producteur, autour des mutations du travail e
des savoirs, Editions Sociales, 1985, p. 229. [ Links ]
22. "L'organisation de l'entreprise e du travail lors des transferts de technologie". Paris: CNAM,
1993. [ Links ]
23. Segundo a expressão de A. Héron, Responsável do dispositivo "Suggestions" da Régie Renault,
numa intervenção no DESS-APST.
24Pour passer le triage au crible, l'introduction du projet ETNA dans le trafic marchandise de la
SNCF. Relatório de Pesquisa APST-Recherche-Activité (Dir. Yves Schwartz), setembro 1988.
25. Muriel Coutureau, Franck Martini, in: L'evaluation economique à l'epreuve des services,
Rapport pour le ministère de la Recherche (Dir. Yves Schwartz), APST-Recherche, 1992, p. 346.
26. Education Permanente, nº 123, p. 101 ss. [ Links ]
27. Qualification en Procès, op. cit., p.187.
28. Cf. Michel Joanneaux, "Le moment de l'action", Performances Humaines et Techniques,
setembro 1994, p. 40. [ Links ]
29. Connexions, nº 65, 1995/1, p. 79. [ Links ]
30. Cf. o que A. Wisner dizia a respeito da possibilidade de instalações produtivas nos países em
desenvolvimento: "as competências do pessoal e a estabilidade deste são um elemento essencial da
estratégia organizacional da empresa", art. citado, p. 41).
31. L'usine du futur, L'entreprise communicante et intégrée, Relatório de 1990, publicado na
Documentation Française, frisa insistentemente a necessidade do "desenvolvimento de uma
inteligência das situações industriais evolutivas" - cf. p. 122 ss - que corresponderia, para nós, ao
terceiro ingrediente).
32. Cf. Qualifications en Procès, op. cit., p. 148.
33. Por causa dos elementos de variabilidade evocados a respeito do ingrediente 2.
34. Cf. L'evaluation economique a l'epreuve des services, op. cit., p. 336.
35. Cf. as observações de E. Orban, carteiro-pesquisador, APST-Recherche, in : Yves Schwartz, "Le
juridique et l'industrieux", L'Amour des lois, L'Harmattan, 1996, p. 124. [ Links ]
36. Philippe Zarifian observava recentemente (Le Monde 17/4/1996) que, assim como a norma, o
acontecimento também era qualificado para estruturar a vida dos processos industriais e supunha
novas relações de cooperação entre os geradores de normas e os administradoress do
acontecimento. Concordamos plenamente com ele, e esta é uma maneira de apresentar nosso
terceiro ingrediente. Acrescentaremos que há quase 12 anos estamos insistindo neste ponto; e que é
justamente este tipo de constatação que nos levou a criar o dispositivo de Analyse Pluridisciplinaire
des Situations de Travail (APST), onde se busca trabalhar em conjunto a questão das culturas e
inculturas específicas, a dos manipuladores profissionais do conceito e a dos administradores dos
encontros de trabalho. Se é verdade que se aprofunda em tais dispositivos materiais o conteúdo em
gestão de atividades de trabalho (cf. "Trabalhar, gerir"), estamos então no direito de nos indagarmos
até que ponto todos os que estão hoje empenhados em pesquisas sobre as políticas de gestão
(critérios, indicadores, gestão por atividade, por processo, grupos-projetos...) podem dispensar tudo
o que tais dispositivos produzem. Salientaremos o Cahier nº 10 de l Anact (1996), coordenado por
F. Ginsbourger (Pour une Gestion Intentionnelle de l'Emploi), rico de indicações a respeito dos
laços entre políticas de gestão e consideração das atividades.
37. Cf. nossa contribuição à obra coordenada por François Daniellou, L'ergonomie en quête de ses
principes (Octarès Edition, setembro 1996): "Ergonomie, philosophie et extraterritorialite".
38. Já exprimimos nossa opinião, na linha da de G. Canguilhem, em várias oportunidades.
39. Em Redécouvrir l'expérience ouvrière, Editions Sociales, 1981. [ Links ]
40. De quem acabamos falando freqüentemente, pois foi um dos mais notáveis protagonistas de
nossas primeiras experiências de trabalho em comum (Cf. L'homme producteur, op. cit.).
41. DESS-APST, 1995. Analyse pluridisciplinaire des situations de travail.
42. "Milieux et normes de l'homme au travail", Cahiers internationaux de sociologie, volume III,
1947, p. 194. [ Links ]
43. A esse respeito cf., por exemplo, C. Dejours in Raisons Pratiques, 3/92, p. 180). Quanto à
"bifurcação" entre por um lado o armazenamento na forma de patrimônio socializado de jeitinhos,
astúcias, microinventividades do coletivo, e, por outro lado a deriva negativa que dissimula, divide
e faz com que essas riquezas não se constituam em herança, cf. a revista já mencionada
Qualifications en Procès, p. 253.
44. Cf. Nosso artigo em Education Permanente, nº 123, p. 134.
45. Maîtriser les risques du travail, PUF 1996, p. 301 ss. [ Links ]
46. Segundo a feliz (e paradoxal por aplicar-se a organizações tayloristas) expressão de Marie
Bellemare na sua tese: "Actions ergonomique et projet industriel: De la coopération dans le travail à
la coopération pour la transformation du travail, le cas du travail à la chaîne, Paris : CNAM, 1994.
47. Cf. Ecole et savoir dans les banlieues et ailleurs, op. cit.
48. Cf. também, nos trabalhos de J. Broda, a temática da "pulsão de conhecimento". (ver, por
exemplo, os "curtos-circuitos" in: Bertrand Schwartz, Moderniser sans exclure, La Découverte
1994, p. 118 ss, 202 ss). [ Links ]
49. O acordo "A CAP 2000" fala, por extensão, em "competências de um grupo, aptidão dos
assalariados em juntar seus conhecimentos e suas experiências empregadas em torno de um
produto, de uma ferramenta, de uma missão". Cf. a esse respeito, Bruno Lamotte, op. cit., p. 180 ss.
50. Recorremos aqui à palavra "espectro", por analogia com a noção de "perfil epistemológico" de
G. Bachelard, e no sentido em que este traça, por exemplo, o perfil epistemológico de sua noção
pessoal de massa, diferente de qualquer outra pessoa tendo outra formação e cultura do que ele (cf.
Philosophie du non, PUF, 1970, cap. II).
51. "Entités collectives relativement pertinentes". Cf. nossa contribuição em La liberté du travail,
op. cit.
52. A respeito da monitorização nos canteiros de obras, cf. Marcelle Duc, "Gestion des ressources
humaines et coopérations sur le chantier", in: L'encadrement de chantier, Plan Construction et
Architecture, julho de 1993. [ Links ]
53. Uma responsável da Direção de Recursos Humanos dos Correios, organismo com o qual
trabalhamos nessa questão das competências, observava que o procedimento competência nesses
serviços já começava a separar nitidamente a questão das "capacidades" da dos "valores".
54. Tivemos pessoalmente essa experiência nas nossas aulas de Analyse Pluridisciplinaire des
Situations de Travail (Diplôme d'Université et DESS).
55. Daniel Faita mostrou várias vezes as inflexões de linguagem, indicadoras de uma transformação
da relação com as normas (principalmente técnicas) quando tais promoções acontecem. Cf.
igualmente "Quelques réflexions sur le métier de pilote de ligne" de Michel Joanneaux, ex-piloto de
linha, 1994, documento pessoal, p. 27.