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N1

POEMAS
CONTOS
CRÔNICAS
ENSAIOS
aos leitores
Olá a todos que chegaram até aqui!
EDIÇÃO
DIAGRAMAÇÃO É justo começar pela proposta desta e-zine, afinal, é confortante
TEXTOS sabermos onde estamos.
Wellington Souza
Isto que tens em tela nada mais é que uma coletânea de textos do blog
Hiper-Link.blogspot reorganizados por temas, e não mais por data –
REVISÃO
como no blog. Trazem consigo comentários selecionados e um link no
Wellington Souza
nome dos autores. É um back-up de luxo, por assim dizer.
Na primeira seção temos poemas , alguns antigos e revitalizados e outros
CONTATO feitos por esses dias – mas não especialmente para o blog. As postagens
souzawell@yahoo.com.br originais foram feitas por motivos puramente temporais, por isso, não há
entre eles correlação lógica intencional.
www.hiper-link.blogspot.com A seção seguinte é constituída por fotos captadas por este que vos
escreve. Elas, sim, têm uma temática comum: as nuvens. O nome: A
Dinâmica dos Fluidos foi em homenagem não apenas à água, mas também
aos sentimentos que fluem em nosso firmamento e que este e-zine procura
BAIXE ESTE ARQUIVO! movimentar. Não ebulir nem tão pouco condensar, apenas movimentar.
A “utilidade pública” do doc. está nas indicações de filmes. Achei por
bem acrescentar aos meus rápidos comentários, trechos de diálogos.
Em prosa, lerão uma crônica cuja temática é não apenas os filhotes
humanos, mas é também uma tentativa de narrar um mundo fora do nosso
e que observamos por fração de minuto, esquecendo-o mais rápido ainda.
Em Espelho exponho-me refletido. E no Conto: Encontro procuro
narrar a estória – saga – de uma conquista amorosa vista de dentro – em
primeira pessoa. As pessoas e as coisas não têm nomes, nós é que os
damos – e neste trabalho não nominei a ninguém.
Agora que vos situei, acredito que a degustação se dará de maneira mais
É proibida a reprodução total ou confortável. Ficaria eternamente grato se criticassem, pois melhorariam
parcial de textos deste trabalho a próxima edição de duas maneiras: contribuindo para que falhas não se
em e prévia altorização do autor. repitam e dando aos outros leitores o prazer de ler vossas opiniões nela!!
Bora Ler!
Wellington Souza

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Sumário
POEMAS 3
placebo

benzinho

amor fisiológico

virgem

anti-deus

A DINÂMICA DOS FLUIDOS 10

FILMES 16
viver a vida (1962)

quero ser john malkovich (1999)

CRÔNICA 19

ESPELHO 20

CONTO 22
encontro

CRÉDITOS 38
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Poemas
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PLACEBO

A função da alma,
por esses tempos difíceis,
em que prazeres físicos são raros...
é extrapolar o corpo,
fugir,
e falsificar sensações tão bem imaginadas
a ponto do organismo,
exato e lógico como ele é,
aceitá-las e produzir os necessaríssimos neuro-peptí-
deos
e os hormônios
que estouram a reação em cadeia
bem conhecida como felicidade.

“ Bom, neuropeptídio é o mesmo


que neurotransmissor. Tipo, quando
você me vê, seus olhos enviam uma
imagem para o cérebro, este por sua
vez reconhece minha imagem e come-
ça a produzir esse neurotransmissores
que são jogados na corrente sanguínea
e chegam até a células do coração, por
exemplo, fazendo-o bater mais rápi-
BENZINHO do; até os músculos da face te fazendo
sorrir, e aumentam a temperatura do
A falta do bem seu corpo...”
deixa miserável Wellington Souza para *Lili*
e triste,
– ai tristeza,
o consumidor que se consome...
que não aprendeu “O poema, meio pernóstico. Você
é mestre quando simplifica. Quando
ser impossível adquirir um bem-querer, cai na pseudo-intelectualidade, nessas
ainda mais à prestação firulas lexicais, perde parte do brilho.
Mas não, não está de todo ruim. (E há
o mérito de ainda arriscares poemas,
mesmo depois de todos esses anos.
É como ainda querer ser socialista.
Hehe).”
deco_ica

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AMOR FISIOLÓGICO

Há necessidades biológicas que necessitam ser satis-


feitas
e isso é mútuo, benzinho...
Como nossos eixos não se alinharam,
deixemos então nossas realidades físicas se experi-
mentarem,
permitamo-nos,
vez ou outra...
Nossas almas não ganharão o reino dos céus
pois elas não fizeram o voto de pobreza dos amantes
e ostentaram uma soberba inútil e fraca por si só,
– então que nossas consciências o ganhem,
nem que seja por frações de minutos...

VIRGEM

Diz-se da mulher que ainda não teve cópula carnal.


Casto, intacto, puro.
Que ainda não serviu.
Diz-se da mata que ainda não foi explorada.
Diz-se da terra que ainda não foi cultivada.
Diz da vela nunca derretida.
Diz-se da cal anídrica.
Isento.
Livre.
Ingênuo.
Inocente.

“Assim o dicionário Michaelis nos descreve depois da-


quele tarde nublada, em que o Sol apareceu ao final, já
se indo, como que sacramentando o nosso batismo, o
revirgirnamento”.

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ANTI-DEUS

Muitas já me reprovaram,
algumas mal olharam,
já ignoraram
como se à frente
fosse algo imaterial
- nem estátua
e nada lhes ofereceria...
Tão imaterial que nem cabia prova,
impotente, inexpressível.

Meu benzinho diz que,


graças a Deus,
elas eram cegas do coração.

“Só se vê bem com o coração? Acho


ele o mais cego de todos.”
*Lili*

PARAFRASEANDO
ALGUÉM

Depois de ti,
hasteei bandeira
branca
e pedi paz.

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Mas livre, bem livre, é mesmo estar morto. Também.


Liberdade é estar fora do corpo,
Fora do efeito gravitacional
que a consciência e o desejo de materialização impõe.
A liberdade não deixa de ser uma espécie de morte,
é se esquecer o que se tem a perder
(do que se acha ter a perder,
pois sempre não temos nada a perder)
e ir
e não perguntar
não consultar
e já está feito.
Mas é preciso se desatar das correntes do passado
e estiar as nuvens do futuro
e ir.
Sobretudo, se é livre se e somente se se é corajoso,
essa superação do medo é o que distingue o livre do
louco.

“Realmente, o corpo é a prisão da


“Tão livre quanto uma música instrumental alma e acho que falta coragem pra eu
me libertar de minhas prisões.
tão livre quanto um cão que faz da praia sua morada Todo mundo quer ser livre, mas nem
tão crédulo como que ante a primeira paixão todo mundo está disposto a pagar o
tão livre quanto um solista de sax real preço da liberdade. E, quem sabe,
tão livre e solitário quanto um goleiro comemorando a liberdade pode não ser tão cômoda
gol quanto a prisão.
Belo post.
tão livre quanto um beijo após o cigarro.”
Beijo querido!”
*Lili*

““A liberdade não deixa de ser uma


espécie de morte”

Ando nessas de decidir se morro de


vez ou sigo morimbunda por ai.
Adorei.”
Cláudia Linck

“E a liberdade pra mim não passar


de um bairro com motivos orientais.”
deco_ica

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Responda a questionários e ganhe Eletrônicos!
MP3, MP4 ,Cams...

Na página de cadastro: no item “como conheceu


o QualiBest” terão que selecionar: “amigos”
e no campo “e-mail da pessoa que te indicou”
deverão escrever o e-mail: souzawell@yahoo.
com.br

PARA A TROCA DE
BANNERS, ENVIE E-MAIL:
SOUZAWELL@YAHOO.COM.BR

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inâmica dos
fluídos

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“Boa garoto, estou curioso
pra saber do resultado dessa
sua teoria dos Fluidos.
Abraço”
Wellington Max

“as fotos mais que escolhi-


das a dedo.”
draytonroger

SOBRE A RADIAL LESTE

As fotos com a temática nuvem/céu serão chamadas nos ‘marcadores’ de ‘a dinâmica


dos fluídos’.

Perguntas pertinentes:

Por que nuvens?


Por que elas são o final de um ciclo. Se ordenarmos o ciclo das águas pelo estado em
que ela permanece por mais tempo, a forma de gasosa é a ultima.

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“E acho boa essa ideia de
fotografar o céu. Se eu fosse
menos materialista, aplaudiria
de pé.”
deco_ica

“Engraçado, hoje pela ma-


nhã eu estava vendo a forma
das nuvens no céu e decidi
fotografar algumas. Depois
de baixar as fotos no micro eu
percebi que só eu enxergava
aquelas formas... paciencia.”
*Lili*

VARANDA DE CASA

Por que fotos, qual o objetivo?


Foto pela praticidade e pela arte: olho para o céu
todo dia, sempre que possível, e isso contagia o
meu humor: a foto é uma forma de expressão sim.
Ficar filmando nuvens seria muito monótono e,
se eu fosse assistir, não assistiria. O objetivo é
fazer filosofia, mesmo sem saber e parecer.

CRUZ DA IGREJA DE SANT’ANA

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E a dinâmica?
Toda ciência tem o estudo da dinâmica em temas que lhe é especifico, isso das naturais
às sociais. Para tal estudo são criados modelos, que nada mais são que simplificações da
realidade para se formular e experimentar hipóteses, chagando a teorias. Estas técnicas
de modelagem partem, à priori, de bases comuns (todos lêem ‘O discurso do Método,
de Durkheim), especializando para o uso de cada ciência. O vocabulário também é co-
mum: velocidade do PIB (taxa de crescimento) e velocidade de átomos (temperatura),
densidade do objeto e a demográfica, equilíbrio, etc. Todos temos, na gênese, alguma
herança positivista.

NUVENS À SETE DA MANHÃ


MATA DA CANTAREIRA

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Mas as fotos serão acompanhadas de texto? AV. 9 DE JULHO
Este é o objetivo. Textos curtos e bem menos densos que essa entrevista, espero. VISTA DO 8° ANDAR
Exemplo: o princípio que permite que as partículas de água fiquem suspensas no ar
foi batizado de “tensão superficial” e é observado em todo líquido, é esse mesmo
principio que faz com a água e o óleo não misturem, mesmo que chacoalhados. E
esse conceito pode (e será) usado em uma reflexão sobre o que mantém as sociedades
coesas, ou os indivíduos padronizados ou outro paralelo qualquer que a criatividade
permitir.

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“Nuvens! “Não precisava mesmo de trilha “E gostei dos poemas e princi-
Amigo, você deve olhar muito para o sonora...como é que se diz mesmo? palmente da foto.”
céu. Uma imagem vale...sim, você já co-
deco_ica
Ele lhe dá respostas?” nhece o ditado.”
draytonroger Groo

BRASIL
‘É necessário se emprestar aos outros
e dar-se a si mesmo.’
MONTAIGNE

Filmes

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VIVER A VIDA (1962)

N ana, uma atriz que tem um trabalho diurno numa loja


de discos é convidade pelo destino a se prostituir. Acei-
ta, na busca de uma razão de existir, satisfazer carências e
na necessidade de ganhar dinheiro. ‘Vivre sa Vie’ é uma ex-
pressão usada para o ato de se prostituir. Na mão de outro
diretor – que não Godard – seria apenas mais um drama.

Primeira cena: ...O que isso importa?...

– Um café. Nana quer – Paul


abandonar - paul - o caça- “O que há com você?”
níqueis.
– Nana
– Paul “Nada; Eu queria dizer
“Ele te interessa mesmo?” essa frase com palavras
que fossem precisas”
– Nana Eu não sabia qual era o
“Eu não sei. Eu me per- melhor jeito de exprimir
gunto o que você está pen- essa idéia. Ou, ainda, eu
sando” sabia, mas agora eu não
sei mais. Justamente quan-
– Paul do eu queria saber. Nunca
-Ele tem mais dinheiro aconteceu com você?”
que eu?
– Paul
– Nana “Você não pode dizer ou-
- O que isso importa? tra coisa senão de você
...o que isso importa... mesmo?”

– Nana estou cansada. Quero


“Você é maldoso” morrer.”

– Paul – Paul
“Eu não sou maldoso, “Estou falando sério
Nana, eu estou triste”
Nana
– Nana “Também estou falando
“Eu não estou triste, Paul, sério”
sou maldosa”
– Paul
– Paul ‘Falar por falar’
“Não fale por falar, isso
não é um palco” – Nana
‘É melhor que nos separe-
– Nana mos. Eu sempre tenho de
“Você nunca faz o que eu suplicar. Eu existo tam-
quero; você sempre quer bém. Você me acha cruel,
que eu faça o que você mas na verdade é você.”
quer De qualquer jeito,

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QUERO SER JONH
MALKOVITC (1999)
“Filme de estréia do roteriasta Charlie Kaufman,‘sendo
Jonh Malkovich’, definitivamente não é um filme para
se ver só por ver. Levanta explora a consciência de hu-
manos e de macacos. Abaixo, duas cenas em destaque.”
CENA 1 – Craig com tí-
teres representando ele – Maxine
e Maxine no palco. Ele Interessante, Craig.Será
faz as duas vozes. que gostaria de estar na
minha pele...pensar o
– Maxine que eu penso... sentir o
Craig, por que você gos- que eu sinto?
ta tanto de marionetes?
– Craig
–Craig Mais do que qualquer
Maxine,não tenho certe- coisa.
za. Talvez seja a idéia de
ser outra pessoa por um – Maxine
instante.Estar em outra Aqui é bom, Craig.Nem
pele... pensar e mover- nos mais loucos sonhos
se diferentemente...sen- é assim.
tir de outra maneira.

CENA 2 – Após passar


pelo portal, Craig vai até – Craig
Maxine. Muitas coisas. Aquele
filme de ladrão de jóias.
– Craig Ele é muito respeitado.
Há uma portinha no meu Que seja. O ponto é... que
escritório, Maxine.É isto é muito estranho.É
um portal que leva você sobrenatural,por fal-
para dentro de John ta de palavra melhor.
Malkovich. Vê o mun- Digo, levanta todos os
do com os olhos de John tipos sobre a natureza
Malkovich...e depois do ego,sobre a existên-
de uns 15 minutos,é cia de uma alma.Tipo:
lançado...à beira da auto- eu sou eu? Malkovich é
estrada de Nova Jérsei. Malkovich? Estava com
um pedaço de madeira
– Maxine na mão.Não está mais
Que barato!Quem é John comigo.Onde está? De-
Malkovich? sapareceu? Como pode
ser? Ainda está na ca-
– Craig beça de Malkovich? Eu
É um ator. Um dos gran- não sei!Entende que
des atores americanos do fossa metafísica pode
século XX. ser este portal? Não sei
como viver a vida como
– Maxine vivia antes.
Em que filme ele atuou?

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Crônica
E
“Se olhando para o céu, é possível nos ntram no ônibus e sentam na escada que dá para
questionarmos se Deus existe assim como a porta, se cutucam e riem, mas um riso pra den-
nos impuseram, olhando para elas, esta tro, mudo, com os olhos fechados. As garrafas
de plástico estão por debaixo da camisa e, após uma
pergunta se dissolve.”
baforada longa e simultânea... Cessam os risos. Resta
uma observação inerte focando a porta do coletivo, o
túnel em que mergulhamos ou algo além. A mulher, ou
menina, estica a mão e fica olhando os dedos que se
mexem vagarosamente. O homem, ou menino, com os
braços apoiados nos joelhos, também fica inanimado,
mas é logo desperto do transe e pega a mão que a outra
observava, despertando-a também. Vamos descer, va-
mos descer. Levantam e correm para o fundo do trans-
porte, onde acionam o sinal de desembarque. Voltam a
se cutucarem e a rir. Como as camisas estão por dentro
das bermudas, as garrafas ficam seguras neste bolsão.
Saltam num ponto ainda dentro da passagem subterrâ-
nea e correm em trote, se cutucando.

Gostaria de escrever sobre suas mentes, sobre o que


gostam de fazer, do que gostam de brincar, o que so-
nham ser quando crescerem. Queria saber sobre seus
medos e desejos, sobre suas consciências, enfim. Mas
nenhum de nós está preparado para essa metamorfose
kafkiana, acho.

Sou culpado. Sou conivente, sei. Se olhando para o


céu, é possível nos questionarmos se Deus existe assim
como nos impuseram, olhando para elas, esta pergunta
se dissolve. “Sua segurança é possível apenas por meio
de sua burrice*”. Melhor parar por aqui.

*Frase de K. (personagem principal) sobre funcioná-


rios de alguma repartição que o abordaram .: KAKA,
Franz; O processo. Coleção L&PM POCKET, 1° edi-
ção 2006, página 21.

“Nós já fomos crianças “Assim cuidamos de


um dia e se estamos onde nossas crianças. Infe-
estamos, é porque alguém lizmente. Mas estarei
olhou por nós... É uma sendo hipócrita se disser
pena saber que somos ego- que tenho me preocupa-
ístas demais para pensar do demasiadamente com
em outras pessoas...” isso.”
Túlio Clemente deco_ica

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Espelho

Espelho
Síndrome de enxadrista** teria condições materiais de cumprir - além de ser um
plano de vida bem imbecil, de querer morrer de uma

A
lguns dias são estranhos, soam estranho. forma digna (tipo voando amarrado a balões...)
Aqueles em que seu cachorro te morde, sua
mãe não põe a mesa ou o ônibus não passa. O Gosto de navegar, e não ficar à deriva. Mas o mar é
dia também parece que não vai passar. Mas passa, e se tão imenso, como saber se se está indo em alguma
repete, mas passa; E tão amanhece já parece ontem. direção?

Sou um cara avesso a mudanças. Planejo evoluções, Independente de dar ou levar o xeque-mate, a sensa-
mas sem guinadas, procuro traçar as rotas mais retas ção boa é a de ter feito um bom trabalho.
possíveis por motivos óbvios. E gosto de ser sozinho,
me dou melhor sendo sozinho (não me doando), isto * “o espelho, que serve para mostrar aquilo que so-
tira a sinuosidade do caminho. Planifica a Montanha- mos, aquilo que não somos e aquele que gostaríamos
russa. de ser.”
SILVA, Fábio Ronaldo da. A questão do ser em
Acho que a vida é um jogo de xadrez, onde as pesso- “Quero Ser John Malkovich”. Artigo.
as não se falam, não se olham e o toque acarreta em
punição. Acho que a vida deveria ser assim, mas não ** Encarem esse texto como um conto ou uma crôni-
é. Um jogo é somente planejado, o cavalo não quebra ca. Ainda bem que não sou sempre esse cara sóbrio e
a pata nem a torre se inclina como a de Pisa. Tinha alabirintado, que procura conhecer mas não desbra-
uma estratégia (que eu mesmo bolei) de fazer jogadas va. Um alter-ego apenas, um dos.
erradas para o adversário inflar seu ego e achar que
estava lidando com um idiota. Para ele perder para ele
“gostei do texto, bem “Viver é planejar.
mesmo. Mas sempre dava errado. Fiz isso no convívio colocado e sutil, levinho Mas executar o pla-
interpessoal e também deu errado. Faz parte do jogo. mas com o “meu eu in- nejamento são outros
terior” do texto bem a 500...”
Falta um plano, chega de testes. Um plano maior, que mostra. deco_ica
gere planos menores. Estes: com fim, meio e come- parabéns. ;)
ço (necessariamente nesta mesma ordem). Fazer uma grande abraço!”
lista das 11 coisas que tenho que fazer antes de par- PR
tir? também não adianta, para a maioria delas não eu
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Conto

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Encontro
1.

E
ngraçado o quanto colaboramos com o onde moro. Eu estava com um amigo vendo
acaso, o quanto colaboramos para que um jogo de futebol desses à noite, e ela
as coisas assim aconteçam (ou assim acompanhada de amigos, quatro na verdade,
pareçam). Ficam mais belas com o acaso, mais e uma amiga. Ficamos ali algumas horas,
pitorescas. Passar por baixo de uma árvore, que mas nossa disposição não permitia troca de
serve de poleiro para os pombos do centro da olhares; apenas pesquisa comportamental.

cidade, é pedir para tomar Os homens de sua mesa


uma bela cagada e botar a não se interessaram por
“A perguntar que não me dei-
culpa no acaso, no azar ou xava: ela quer dar ou não? A lei- futebol, coisa que me deixa
tura dos sinais dela tinha que ser
na sorte, sei lá. precisa para não haver excesso sinceramente preocupado:
de força (que soaria como um: ou
não que ponha em xeque
Bom, o meu caso é que dá ou desce), tampouco fraqueza
em demasia, coisa que acaba com a sexualidade deles, mas
tenho uma paquerinha na qualquer homem. Tinha que ser
uma sintonia fina entre os nossos será que suas vidas têm
biblioteca da faculdade, incentivos e respostas, para con-
tanto sentido assim a ponto
trabalha na sala de vergirmos ao equilíbrio, ao enten-
dimento. ” de não acompanharem
informática, monitorando.
futebol? Nem quando iam
Sempre sorrimos um para
o outro, perguntamos se está tudo bom – os ao banheiro espiavam a TV. Preocupante.
dois perguntam ao mesmo tempo, também
Mas fato é que nesse dia ela bebia cerveja.
respondemos juntos. Depois, sorrimos e abanamos
Outro ponto que mostra um pouco o que as
a cabeça (eu a abaixo, e suponho que ela também
pessoas têm embaixo de suas máscaras. Uma
abaixe), mas não sabemos nossos nomes, nem
mulher que sai para beber com amigos em um
qual curso fazemos e tão pouco nossas utilidades
bar freqüentado por defuntos telespectadores
para a sociedade. Até ontem estes tinham sido
me agrada muito, pois não tem preocupações
nossos mais longos diálogos.
ambiciosas para ficar maquinando, não
Há algum tempo, a encontrei num bar no bairro procura nada ali senão as pessoas que estão à

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sua volta. Tem a humildade, não é envaidecida música”, ela respondeu, sorridente. Posto que
etc. Isso me agradou bastante, aumentou meu eu só expressasse um: “Ah...”, ela prosseguiu:
fetiche por ela. “Porque?” “Não, por que tô procurando um
tal de Alexandre, o Pato, da psico, e não sei
No dia em questão, no caso: ontem, fui usar a
porque pensei que você fizesse psico, daí como
sala de informática, coincidentemente no turno
ele é um dos poucos homens de lá, achei que
dela. Chegando lá, olhei pela janela de vidro da
poderia conhecê-lo, ainda mais por que ele é
porta, ela estava lendo numa mesinha e havia
um dois poucos homens-homens de lá...” esbocei
dois computadores vagos. Voltei pelo corredor
um risinho, que se expandiu ao ver que ela rira,
e fui ao banheiro, depois bebi água. Retornei à
embora a piada fosse, reconhecidamente, sem
sala e entrei, seguido de outro rapaz. Dessa vez
graça. Ela enfatizou, em meio ao riso, que não
havia apenas um computador vago e, como eu
conhecia nenhum Pato e, como eu previra que
queria verificar em minha mochila se esquecera
assunto iria morrer quando nossas risadas já
algo, deixei-o passar na minha frente. Nos
esfriassem, continuei – embora ache imensamente
cumprimentamos como de costume, sentei em
difícil falar e pensar ao mesmo tempo, gosto de
um banco de espera, desses que cabem três
repetir diálogos prontos o máximo que posso,
pessoas, e quase entrei dentro da mochila à
assim somente tenho o trabalho de adequá-
procura de algo, ou falta dele, à procura do fio
los à situação, e incrementá-los. Mas como o
da meada. A pergunta inicial seria o curso que
acaso me pusera naquela situação. “É que eu
ela fazia, na faculdade, tudo se iniciava ai. Ela
entrei em um grupo de estudo orientado por
ficou algum tempo olhando em minha direção,
um professor da psico, e esse Pato também
não para mim. Fato foi que percebi que sua
está lá, mas estou em dúvida sobre o artigo
leitura não era tão interessante assim, mas não
que será comentado na próxima reunião...
consegui descobrir o assunto que se tratava,
só sei que é sobre ‘a identidade no mundo
com rápidas e despretensiosas olhadinhas.
contemporâneo ou pós-moderno’, já li um artigo
Achei-o, enfim, dentro do caderno de a respeito e é bem interessante, por incrível
fichamentos de filosofia-da-pedagogia. Já que pareça!”, conclui. Ela: “Nossa, parece ser
tinha o principio do assunto. O diálogo se interessante sim... explora conceitos sobre o
passou mais ou menos assim: “É... deixa eu homem atual, vem daí ‘identidade’?”. “É. Li o
perguntar, você faz psicologia?”. “Não... faço artigo: ‘a questão do ser em Quero Ser Jonh

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Malkovich’. Daí o autor expõe alguns conceitos conforme mudamos de ambientes, sempre
que caracterizam o homem contemporâneo... nos reinventado. Ser você mesmo virou meio
Você já assistiu esse filme? é de 2.000, acho”. démodé hoje em dia!”. Disse essa ultima frase
“Não, não vi não”, respondeu melancólica, com em tom meio irônico, e dei uma risada discreta.
as sobrancelhas franzidas. “Pois é muito bom. Ela também sorriu discretamente, e concordou.
Depois de ver o filme duas vezes, fuçando na Eu já estava farto desse assunto, resolvi por fim,
internet encontrei esse artigo. O filme você tem antes que essa minha máscara caísse. “E daí
que ver, mas o artigo expõe o homem de hoje vai toda uma viagem. Vê o filme, lê o artigo.
como um colecionador de sensações, tendo Não sei se faz bem saber de certas coisas, às
uma identidade fragmentada sabe, sendo vezes é mais seguro escolher uma mentira e
muitas vezes ao dia outras pessoas e sentido, acreditar nela. Vestir sua máscara de manhã,
literalmente, como elas, daí o colecionador. achando essa sua personalidade e pronto.
Todos nós criamos várias personas, e atuamos Se numa dessa de querer ficar formulando
também. Um exemplo disso é o escritor: ele conceito sobre tudo e deduzir logicamente
vive as situações que a personagem vive, é a você chegar à conclusão de que isso tudo é
única forma de criar, ele sente o que ela sente. imenso dum teatro, ou jogo de xadrez no qual
Pesquisas em neurociência demonstram que viver se é uma peça apenas, programada para ter
algo, ou se imaginar vivendo algo, despertam as sensações, interagir e se reproduzir... você não
mesmas áreas do cérebro e causam as mesmas terá outra solução senão uma super-dosagem
sensações físicas, sentimentos, é atuar. Para o de Prosac!” . Ela apenas respondeu com um
cérebro, não há diferença entre o que os sentidos ‘credo’, mas afirmou ter vontade de conhecer
captam e a imaginação” “Nossa, que viagem...”, mais sobre o tema. Anotou o nome do filme e
ela respondeu, meio atordoada, e continuou: “é o nome do artigo. Me perguntou qual filme
mesmo, não posso dizer que sou a mesma pessoa mais a indicaria. Falei-lhe mais dois filmes,
aqui na faculdade, e na minha cidade, quando acrescentando que um deles seria difícil de
vou ver meus pais, meus amigos...”. “Então, conseguir, por ser uma produção japonesa.
quanto em mais círculos sociais você se associa,
Bom, o importante que cumpri meu intuito que
parece que é maior o número de ‘você’ que se
era impressioná-la. Tem lá suas vantagens
tem de criar. O autor associa isso ao fato de
ter um pouco de cultura. Cada um cultiva
vivermos em constante processo de adaptação
suas habilidades. Tem uma teoria econômica,
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formulada por Ricardo, conhecida como quinta-feira. Trocamos números de telefone, e
‘vantagens comparativas’. Nesse clássico nos despedimos com um beijo-falso no rosto e
raciocínio sobre comercio internacional entre abracei-a rapidamente, embora permanecesse
países, ele conclui ser a melhor estratégia sentada na cadeira e inclinar meu corpo sobre
para cada um especializar-se na produção a mesinha tivesse atrapalhado um pouco.
e exportação em que tem maior eficiência,
Sai da sala de informática, o papo se
importando os demais, mesmo que o preço desse
estendera um tanto mais que o previsto e tinha
bem seja menor que os a serem importados,
aula agora. Acho que ela não reparou que
pois, quando fizerem o comercio e trocarem
eu tinha esquecido de usar o computador, a
seus produtos, os dois países terão mais dos dois
imaginava mais inteligente, espirituosa. Se bem
bens e assim estarão em situação melhor que
que sua demonstração de interesse no inicio da
com suas economias fechadas. A mesma lógica
conversa perguntando-me porque perguntei se
se aplica a nós, você tem que se especializar
ela fazia psicologia foi o que me deu ânimo
naquilo que desenvolve bem. Se os fortões por
para prosseguir o dialogo, que foi mais um
ai pegam mulher mostrando-se fortões, porque
monólogo, se se analisar bem.
não posso tentar as minhas mostrando-me
intelectual? Mesmo que minha “produção” seja Faz música, ainda bem que já tenho aquelas
menor do que a dos fortões, é melhor do que músicas instrumentais lá no meu computador.
se eu tentasse seduzi-la com atrativos físicos e Agora tenho que pesquisar um mais sobre a
lábia? vida e as propostas desse tal Paul Muriati, e
procurar outros maestros experimentais da
Pensei em chamá-la para sair outro dia, posto
mesma linha. Também tenho que procurar uma
que hoje já poderia dormir com sensação de
festa e ver se a galera quer ir, ver se as meninas
trabalho cumprido; mas resolvi citar que ia
querem ir, para quebrar o gelo um pouco, pelo
numa festa com uns amigos, para ver se ela
menos até a cerveja desempenhar seu papel.
topava. Ela sorriu. Saber que ela tomava
cerveja me encorajou. Prometi não falar em Acho que vou desistir da aula.
pós-modernidade na festa, e que meus amigos
eram um pouco mais normais. Acrescentei que
teríamos carona para ir e para voltar. Ela achou
que seria legal uma festinha, sorriu, afinal era
Blozine | Hiper-Link | 26
2. Veste-se mais para o estilo hippie: de uma
escala de zero a dez, sendo o zero ‘patricinha’
Não sou cientista, Deus me livre. Mas coisa sábia
e o dez hippie, daria um 7,5 para ela. Instigam-
desses filósofos foi promover a utilização de
me essas mocinhas meio hippies, mas não é
métodos, de índices, que aplicamos mesmo sem
nada ideológico de minha parte não, é que isso
saber. A dedução só perde para o fogo e para
é um sintoma de que há algo de contestador,
a roda na história da humanidade. Empata com
fora do padrão de estilo da classe-média, e é
a pólvora, uma justifica e outra operacionaliza
exatamente essa desvirtuação que indica que
os conflitos modernos, que são os alicerces da
elas podem acabar com caras como eu (acabar
economia desde muito tempo.
na cama, digo). Seus óculos de armação cor
Gosto de analisar as pessoas através de ferrugem também me deixaram instigado,
índices, da semiótica. Falarei pouco sobre ela como que perante uma alquimista que iria
até agora, tentarei esboçar um ensaio sobre transformar-me a matéria como bem quisesse:

minhas impressões pré- todos os sentimentos do


contato, sobre meus pré- “caraca viu meu, to sentindo a mundo estavam em suas
expectativa como se fosse meu pró-
conceitos. Partirei do geral prio plano elaborado para me dar mãos e poderia a qualquer
bem..
para o particular, sendo este me avise quando sair o “quarto ato” momento me utilizar de
heim”
último apenas um esboço, frasco para misturá-los.
Oddie
apenas.
Outro índice que acho
fundamental nas mulheres
Ela é branca, dessas brancas que não estão são as unhas, elas dizem muito. Talvez devido
acostumas com o sol. Nem magra nem gorda, faz a alguns filmes que assisto, unhas médias, de
o tipo gostosa mesmo, mas não parece trabalhar extremidade quadrada ( não arredondada) e
o fator corpo, poucas vezes a vi com blusinhas bem feitas sempre se associam à sexo oral, unhas
em que seu colo e alto-ventre se mostrasse. sujas falta de higiene, quebradas a desleixo ou
Faz o tipo italianinha, seus cabelos são de um a falta de nutrição e assim por diante. Conheci
louro escuro, miscigenado, e suas sobrancelhas uma mulher-jovem que deixa curta apenas a
também, daí conclui-se que não tem o hábito de unha do dedo-médio, a finalidade que atribuía
pintar os cabelos, fato, aliás, que me admira. a isso me enchia de pensamentos onanistas. Mas
Gosto das pessoas naturalmente. as dela são curtas, redondinhas, e nunca as vi
Blozine | Hiper-Link | 27
com esmalte, somente aquela substância que as Como não tinha nenhuma festa da faculdade,
deixam reluzentes. Outro fator que me atraiu. e nem outras mulheres para nos acompanhar,
Mas em sua mão, chamou-me a atenção o fato resolvi desistir da empreitada. Liguei para os
de usar um anel prateado e espesso no dedo caras falando que apareceu um imprevisto: uma
indicador. Escutei em algum lugar, ou li, que gatinha querendo ver um filme em casa. Esse
esse era um código de reconhecimento entre era um motivo de força maior, reconheceram.
homossexuais femininas. Não sei o quanto disso
Conhecia-me o bastante para saber que
é verdade, tão pouco se ela sabe. Acho que isso
efetivamente só sairia com ela essa noite se
me perturbou um pouco, pois tenho a impressão
desse tudo certo, se o acaso assim alinhasse. Se
de tê-la visto algumas vezes observando outras
fosse um homem objetivo, um caçador de olhos
meninas... pode ser que estava com olhar vago,
próximos que funcionassem como uma mira de
pensativo, ou fantasiando.
precisão teria convidado-a para um encontro
Dada uma esmiuçada na moça, cabe agora a dois, em casa mesmo talvez, ou nalgum bar
contar o que aconteceu naquele inicio de noite, próximo. Mas joguei a moeda, quis contar
ou que poderia ter acontecido. com uma série de fatores, como que pedindo
a benção da sorte. Agora é traçar um plano
Telefonei para dois amigos, saber de festas.
antes de ligar para ela, tenho que vê-la hoje,
Eles me falaram de ir à boate, retruquei que
senão retrocederei alguns passos. É mais ou
não estava com pique. Perguntei sobre festas
menos como um guepardo, uma vez lançada
universitárias, no máximo algum show. Citaram
a investida não se pode voltar atrás, com a
o Hard Day´s Night, boa pedida, pois ali se
energia que esses animais gastam durante o
apresentavam bandas de rock ou Reggae,
ataque, um erro na escolha do alvo pode custar
era barato para entrar e vendiam cerveja
não só uma refeição, mas ser fatal. O roteiro:
de garrafa. Eles toparam de ir lá, ficaram
Primeiro falar que a turma desanimou de ir.
de passar em casa às dez. Agora tinha que
Depois falar que vou ficar em casa mesmo.
chamar as meninas, o bom de ter amiga é esse:
Citar que sairei para comer um lanche, talvez
dá-te margem para convidar outras mulheres
tomar uma cerveja no bar do Macaco (aquele
para sair sem parecer um canastrão (além do
mesmo bar que a encontrei tomando cerveja),
sexo casual, é claro). Mas nenhuma delas quis
dependendo de a reação convidar para ir
ir, deram desculpas.

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também. Por último falar que verei um filme em Agora eu conhecia, enfim, os sentimentos:
casa mesmo, se ela interessar-se, convidar para dos gregos quando tomaram Tróia; dos
vir ver. portugueses no então Cabo Das Tormentas;
de Napoleão em Roma, dos soviéticos em
Esboçado o plano, liguei: “Oi, tudo bem? sou
Berlim. Minha consciência ficou algum tempo
eu...”. “Oi! todo bom”. “Então, o pessoal que
plenamente satisfeita, enfim. Daqueles instantes
ia sair hoje furou, as meninas se esconderam
que sucederam o telefonema em diante estava
e os caras vão a uma boate. Daí desencanei”.
transpirando contentamento. Não sabia, então,
“Que pena... ah... mas não faz mal, deixa
do monstro que estava alimentando dentro de
para outro dia”. “Pois é, estou pensando em
mim, e nem do estrago que ira causar quando
ir no Macaco mesmo, comer um lanche, tomar
sua fome se tornasse impossível de ser saciada.
uma cervejinha...”. “...”. “Ficar mais sossegado...
Iria devorar-nos (a mim e aos outros eu que me
depois voltar para casa e ver um filminho...”.
coabitam).
“Hum... e que filme vai assistir?”. “Então, não
sei ainda. Tenho alguns aqui em casa, no A perguntar que não me deixava: ela quer dar
computador, baixo na faculdade e trago, ou não? A leitura dos sinais dela tinha que ser
depois gravo em DVD e assisto. Você quer vir precisa para não haver excesso de força (que
ver, daí a gente escolhe junto?”. “Vontade não soaria como um: ou dá ou desce), tampouco
me falta. Onde você mora?”. “Moro na rua fraqueza em demasia, coisa que acaba com
do Macaco, só que na parte alta”. “Então, eu qualquer homem. Tinha que ser uma sintonia
moro na baixa... nah, deixa para outro dia, um fina entre os nossos incentivos e respostas, para
sábado ou domingo...”. “Você tem aula amanhã convergirmos ao equilíbrio, ao entendimento.
cedo? por que aqui na Rep. tenho colchão, posso Um conceito importante nestas horas é o de
dormir nele e você na minha cama...”. “... não ‘armadinha da amizade’ na arte de seduzir:
tenho aula amanha cedo... hum... até pode ser... tentando persuadir a mulher com estórias
não ia fazer nada hoje mesmo”. “Fechou então: e vantagens, corremos o risco exceder no
a gente se encontra lá no Macaco às dez, daí ponto ótimo de aproximação que maximiza o
subimos aqui para casa”. “Beleza, combinado... interesse delas (tesão), e nos tornarmos amigos,
hum... posso levar uma amiga?”. “Claro, sem daí o todo esforço é dissipado, toda a luta é
problemas!”. “Beleza então, beijão”. “Até daqui vã. Então é partir para o menos pior, tentar
a pouco”. salvar algo pedindo-as para apresentarem as
Blozine | Hiper-Link | 29
amigas. pares antecessores de momentos impares, que
comprovamos a existência de vários universos.
O fato de ela querer trazer uma amiga pesava
Vejamos uma análise embasada naquelas
contra mim. É mais fácil ela estar querendo se
mesmas teorias que me detive a explicá-la
livrar de um encontro a dois do que planejando
em nossa primeira conversa... De como não há
uma suruba, mas há a chance. Subitamente
diferença para o cérebro (ou fisiologicamente),
lembro-me do seu anel no dedo indicador.
entre o que os sentidos captam, isso que
3.
achamos que vivemos, e o ato
Estou sentado na varanda do “Hum, esse negócio de chamar que imaginarmos situações.
pra ver filme em casa é um convite
ao sexo mesmo... hahahahaha
meu quarto, que dá para os Maravilhoso Ciri. Só estou curio-
De tudo o que vivemos essa
sa pra saber mesmo o que vai dar
quintais das casas vizinhas. este encontro, afinal estou platoni-
noite, contar-lhes-ei um terço
camente apaixonada pelo persona-
O dia está claro, mas o sol gem. Será que vou me desapaixo-
delas, posto que as outras
nar? rs...
ainda não veio, mas seu tapete Bjo querido, parabéns pelo belo
partes somente elas viveram:
azul é é manchado de nuvens conto.” o caminho até o bar e depois
Lili
vermelhas que apontam onde indo-nos para casa e no antes
ele nascerá (direção que não e no após o filme. Em uma obra
é nova, visto que estou na varanda onde tantas de arte cada qual vê, sente uma coisa, pois
vezes o vi chegar). Os pássaros anunciam a ela desperta as distintas lembranças do nosso
chegada do Rei. álbum de figurinhas.

Fumo o quarto cigarro da minha vida, este Chegaram o lanche e a segunda cerveja. Se
está menos amargo e mais triste, o prazer do fosse em outros tempos, minha lábia seria
segundo foi o melhor. o tacape, a levaria para casa e quando
acordasse, taiparíamos. Apesar que, se fosse
A seguir, de como as coisas se deram essa
nesses tempos, teria eu nascido na casta
noite.
dos líderes espirituais ou estaria fazendo
Fui para o bar, e fiquei aguardando. Troquei igual àqueles macacos fracos e sem lugar no
o tradicional X-Bacon por um X-Salada, para bando, que apenas se masturbam encima de
manter a alma um pouco mais limpa, a cerveja faz qualquer árvore. A dominação nesses tempos
parte no projeto alvejante. São nesses momentos de pax se dá pele persuasão, olhos-nos-olhos
e mão entrelaçadas. Não posso tirar os olhos
Blozine | Hiper-Link | 30
dos dela e tenho que manter um meio sorriso no com as demais partes do corpo.” Detive-me a
rosto. Fazê-la perceber que estou imaginando-a essa ultima lição e não prestei atenção ao nome
nua, mas sem olhar em demasia para os seios da amiga, mas nada que não venha a saber
ou para a bunda, caso ela se levante. Para um mais tarde, a noite será longa, espero.
segundo encontro, depois de já ter beijado,
Sentam-se. Mesa quadrada e de plástico, típica
daí sim pode-se deixar o animal de eterno cio
de bar. Cadeiras também de plástico.
tomar conta. “Por hora, você tem que demonstrar
através de gestos e expressões calculada que “Acabei de comer. Já deixei avisado com o
deseja cada parte do corpo menino para que, quando
“Filmes do Godard instigam a
dela e que, se necessários foder, e são para se ver depois vocês chegassem, ele trazer
de foder, para dar vontade de
fosse, ergueria uma ponte foder mais. Vê-los sozinho en- mais dois copos… até pedi
para ficarem juntos… nada tristece o que, por definição, já para deixar no congelador
é triste. Dão vontade de foder
de se jogar de ponte em porque dão vontade de viver, os copos, para ficarem
e viver é sentir, acho. E sentir
função dela, mulher nenhuma é diferente de ter sentimento: perfeitos à degustação
quer que o cara se jogue o sentimento é uma força, um da cerveja…”. “Nossa,
substantivo que remete sem-
da ponte, até que ficariam pre a um objeto… se já o sentir que honra… chegaram…
é o movimento a que essa força
felizes, e tristes por estarem impele, a ação. O sentimento pode deixar que eu sirvo a
feliz, mas isso acabaria com apenas, sem sentir, sem a ação, gente… Tim-tim. Há algum
represado, leva, possivelmente,
a brincadeira.” á loucura.” filme que, por algumas
horas, irá nos tirar de nós
Estou no desafio das ultimas dentadas no lanche mesmos!”. “Tim-tim”, repetimos a amiga e eu.
e elas chegam. Não sei se X-Salada é um bom Achei que estava querendo me impressionar –
índice para ela. Deixei o resto de lanche no ou querendo impressionar quem achava que
prato. Limpei a boca com guardanapo e me eu era, àquele cara que conheceu na sala de
levantei para cumprimentá-las. informática, suponho. Meio sorriso ficou mais
natural.
E isso de que o gato “brinca” com o gato
depois de predá-lo é apenas uma fábula. Após Durante sua conversa, procurei olhá-la nos
segurar o roedor com uma das patas, não tarda olhos.
em se utilizar das poderosas mandíbulas para
Quanto à amiga, essa tinha um ar sereno.
destroçar o céfalo, engoli-lo e fazer o mesmo

Blozine | Hiper-Link | 31
Cabelos negros e lisos, pele um pouco morena, como que ainda não desperta de uma estase
meio mediterrânea, meio indígena. Até agora sexual, ou na eminência de um.
não tinha sorrido, ao menos não reparei, não
Até agora a amiga estava muda, somente
compartilhava a alegria da outra. Mas também
observando. Olhava-me enquanto eu buscava
não mantinha a boca de tudo fechada, os lábios
os olhos da outra, e a olhava se esquivando de
separados expiravam desalento, que deixavam
minhas empreitadas psicológicas. Ela já sabia
sua imagem um pouco insossa, mas leve.
o que eu queria, para ambas já tinha ficado
“Para hoje separei um Godard, acho que vão claro, acho.
gostar, pois a estória central é de uma mulher
Olhar para a amiga e falar de liberdade e
francesa jovem que busca ser atriz, ou mais que
loucura me deixou um pouco atônito. E também
atriz, busca sua essência, seu contentamento…
achei um tanto sutil da parte dela dizer que “não
pelo menos li dessa forma… e tem diálogos
vimos muito de Godard, mas sempre escutamos
ricos, acrescenta, sabe…Viver A Vida, o nome”.
falar dele…”. O uso do pronome pessoal no
“Que bom, não vimos muito de Godard, mas
plural indica uma cumplicidade, um elo que
sempre escutamos falar dele e dos diretores da
transcende a amizade… será que carregam
nouvelle vague… Trufaut… vimos o Bande à
consigo uma a imagem na outra encardida em
Part, dele, do Godard, um clássico, né? Esse filme
seus sub-conscientes? Pior que não me vem à
é o preferido do Tarantino, sabia? E, olhando
mente um método seguro (de baixo risco) que
para a amiga, acrescentou: “ Dá vontade de
me permita testar essa hipótese e ter resultados
fazer a louca que vem à cabeça, ou arrumar
confiáveis.
uma para deixar essa monotonia da vida mais
azul, ver se tangemos a liberdade…” Enquanto “Vamos pedir outra, ou já vamos ver o filme?
enchia os três copos, respondi, olhando-a. “Não estou ansiosa por ver Goudard novamente.”. “Por
sabia… mas é bem a cara dele mesmo, falam mim podemos ir. Temos uma garrafa de vinho
que nesse filme Godard fez uma homenagem na geladeira;uma não, umas!”. “Hum, você está
ao cinema estadunidense do gênero. É mais premeditando demais as coisas essa noite…”,
difícil de achar filmes do Trufaut na net… mas olhava para mim e afastou um pouco a cabeça
também procurei uma vez só…”. Rimos. Ela e o corpo para trás, meio sorriso no rosto e pela
mantinha um sorriso franco desde que chegou, primeira vez procurou os meus olhos, mesmo que

Blozine | Hiper-Link | 32
brevemente. “Sou um homem-cirúrgico: gosto de observando os fatos, as ações e as reações,
pensar na ação, na reação e contra-reação.” superstições embasadas cientificamente. E ficar à
Rimos os dois. A amiga permaneceu calada, esquerda não me pareceu boa sorte. Na Última
apenas franziu os lábios, esboçando um sorriso Ceia de Da Vinci, Judas estava à direita de
que logo se acanhou. Resolvi conjugar verbos Cristo, sim, mas em todos os retratos da reunião
na primeira pessoa do plural também, pois ele que vieram depois, ele está à esquerda com
dissolve o egoísmo das ações e dos planos; seu saquinho de moedas. Não sou conhecedor
além do efeito citado acima. de outras teorias (se é que essa é uma) sobre
semiótica, mas a esquerda, definitivamente, não
Nisso, a conta chegou. Cada uma pagou o
é um bom presságio em nossa cultura.
equivalente a uma cerveja e eu o restante. Ao
me levantar, tomo cuidado de São tantos os devaneios…
alinhar logo minha camisa, “ Volúpia... sonhamos e às vezes tão
ótima “coletanea”
de modo que as meninas não =DD intensamente que, ante á
poste mais contos
percebam minha ereção. Tenho paz e luz”
possível, ou antes, à inevitável
em mente que sentimento sem Joana Camila realização deles, sentimos
ação leva à ruína da alma. medo, medo da eminente
Novamente o bicho do querer alegria. Suscita a consciência
do perigo da felicidade. De não conseguir cunhar
a devorar.
o ouro do pote encontrado atrás do arco-íris.
Medo de despertar o Dragão do Querer e não
saciá-lo as vontades. Mas, sobretudo, medo de
4.
sermos repetitivos, não reinventarmo-nos e não
Partimos. A casa ficava a algumas quadras termos outros sonhos, novos sonhos. De chegar ao
dali. A nossa disposição foi naturalmente cume e ter de descer.
arranjada, acho. Ela ficou no meu, a amiga
Como o caminho não merecia a introspecção
tomou a direita, restando para eu a esquerda.
à qual nos detínhamos, resolvi puxar assunto
Predestinação ou aleatoriedade? Não sei.
com a amiga, afinal, se tudo desse certo essa
Sou um cara ateu, mais supersticioso, mas não
noite… “Você também faz música?” “faço sim”
com essas superstições de senso-comum, que
ela respondeu, sem me olhar. “Deve ser um curso
envolvem gato-preto e escada. Crio as minhas
que enriquece muito. Culturalmente…” “mais
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ou menos… a faculdade atrapalha os nossos seu mapa-astral em mente e, como gato,
estudos...”. Uso de jargão, ponto negativo. brincando com o rato. Mas me provou ter sua
“É mesmo”, concordei e inclinei meu corpo estrutura, sim; ter personalidade esférica e
tentando olhá-la, para que ela pudesse ver não plana. Tinha-lhe por ponte, mas era
meu sorriso… Continuei: “Hoje pela manhã uma gruta, e quando meu entendimento
escutei música clássica e me lembrei de você, chegou à essa entrada fiquei feliz, sorri
coloquei Paul Muriat…” “Existem lendas em ante o novo desafio.
pedagogia?”, ela me interrompeu. “Lendas?”
Caminhávamos calados novamente. Ela
“é, lendas, tipo… termos que o senso-comum se
ainda mantinha um meio sorriso no rosto,
utiliza inapropriadamente?… falácias”. Olhei
vitorioso e satisfeito, desses que imprime na
para amiga e essa matinha um meio sorriso no
face pensamentos não tão inocentes, não.
rosto e olhava para baixo como que prevendo
Bem sei. A pretexto de frio, deu os braços à
o discurso, e como eu mantinha uma cara de
amiga, encolheram e se apertaram. Olhou-
interrogação, ela prosseguiu com o raciocínio.
me, e eu, que tinha trocado ao sorriso
“Por que música clássica foi feita no período
pela dúvida, tive meu braço envolvido e
clássico, com padrões estéticos clássicos…
apertado pelo dela. Virei o rosto e senti
Mozart não é clássico por ter sido muito bom,
o cheiro do seu cabelo e do pescoço.
ou tocar música instrumental (sinfônica, no caso),
Não usava perfume. Acho muito piegas
mas por ter produzido no estilo da época, ter
descrever o que esse tipo de incentivo
preocupação em expressar suas emoções de
instiga, mas as partículas voláteis que seu
uma maneira refinada e educada. Bach era
corpo emanava tomaram de tal forma meu
barroco e assim por diante. Beethoven romântico,
órgão olfativo, que a percepção deles
por exemplo.” Ainda estava bem atordoado e
manifestou sensações tão diversas que fui
reinou um certo silêncio. “Ah, então segue mais
derrotado, suspirei para retomar o ar que
ou menos o mesmo padrão da literatura, por
não viera na respiração anterior, e desejei
exemplo?” “Isso…” e sorriu. Enfim algo de
acordar todos os dias sentindo-o.
inteligente a se dizer. Estava atordoado não
pela quebra do conceito sobre história da Conversavam. Falavam sobre a maior
música; mas principalmente pelo conceito que dificuldade de se fazer graduação
tinha eu formado sobre ela. Já estava com musical especialidade em piano, que era
Blozine | Hiper-Link | 34
necessariamente possuir um piano. Mas e abro, nos sentamos à mesa. Copos americanos.
faziam planos de comprá-lo em sociedade. A conversa se desenvolve despretensiosamente. A
Compartilhar um piano, é compartilhar a mistura vinho e cerveja começa a fazer o esperado
vida, pensei. efeito.

“Por que você está sorrindo assim?” “Por nada Chamei para nos acomodarmos no recinto da
não… acabamos de chegar em casa”. Abri o luxuria, sorrindo devido ao vinho e à eminência
portão. “Vocês não tem cachorro nessa casa do grande feito. Coloquei o DVD enquanto elas
grande?”, perguntou a amiga. “Temos, mas se arrumavam no colchão de casal que estava no
ela é muito boba e não late para visitas.” chão e esticavam o cobertor. Ela ficou no meio e
“Por que Limbo?” “e porque a frase: deixai a amiga na direita novamente. Deitei olhando-a e
sorrindo, ela já estava alegre,
toda a esperança, ó vós que
mas irradiou-se. Começou o
entrais.”. Elas perguntaram
filme.
ao lerem os escritos nas “Destaque para a parte do sentimento
sem sentir e para as sensações que esse
paredes do alpendre. conto pode provocar as 5h da manhã Filmes do Godard instigam a
de uma noite não dormida. E ah, leia
“É porque a república “O Caso Morel”, do Rubem Fonseca. foder, e são para se ver depois
Passei por aqui :)”
se chama ‘Dantesca’, Cláudia Linck de foder, para dar vontade
em alusão ao Inferno de de foder mais. Vê-los sozinho
Dante. Daí os fundadores entristece o que, por definição,
colocaram cada cômodo já é triste. Dão vontade de
da casa como sendo um dos foder porque dão vontade de
círculos infernais, aqui é o limbo por que ele viver, e viver é sentir, acho. E sentir é diferente
não faz propriamente parte do inferno…” de ter sentimento: o sentimento é uma força, um
Entramos na casa. “A sala é o segundo, onde substantivo que remete sempre a um objeto… se
os luxuriosos sofriam com ventos vulcânicos”. já o sentir é o movimento a que essa força impele,
“Nossa, que criativos… e tem uma janela a ação. O sentimento apenas, sem sentir, sem a
grande aqui… e com o calor que faz nessa ação, represado, leva, possivelmente, á loucura.
cidade…” “pois é, e aqui é o lugar da luxuria,
Pediram mais vinho, que foi prontamente atendido,
da descontração… a cozinha, venham cá, é
pois a garrafa estava do meu lado. Quando o
o terceiro, onde os glutões ficavam expostos
casal, depois de um denso diálogo no bar, foi
à chuva ácida” Pego o vinho na geladeira
Blozine | Hiper-Link | 35
jogar fliperama, por debaixo do cobertor três quartos (um álibi para a poligamia). Daí
passei a mão na perna dela, protegida pelo seria muito bom se as duas engravidassem ao
jeans. Apertei (o máximo que poderia me mesmo tempo… A vida a três seria perfeita,
acontecer era ela mandar tirar a mão dali, elas são melhores amigas, e um homem ligado
ou afastar o corpo; calculei), mas com o pé, a somente uma delas enfraqueceria esse elo.
roçou o meu e ficamos assim. Satisfeito de ter Também no casamento, o difícil para o homem
apertado sua perda, fui subir para a barriga e é ser ‘amiga’ da mulher e se portar, às vezes,
possivelmente descer por dentro da calça, mas como tal. Enquanto eu assistiria futebol, ou faria
encontrei ai a mão da amiga, que apertou a minhas pesquisas acadêmicas, elas brincariam,
minha e entrelaçamos os dedos. Ela já estava daí eu chegaria e completaríamos a festa. O
de olhos fechados e um pouco ofegante. Desatei principio moral de monogamia deve ter sido
meus dedos dos da amiga e procurei os pelos advogados e implementado pelos fracos que
pubianos, mas o Monte de Vênus estava liso. viam grupos de fêmeas defendidos por poucos
Beijei o ombro dela, depois o pescoço e elas já machos destemidos.
estavam se beijando.
Matei o cigarro e estava duro novamente. Entrei
O que se passou depois, contarei sucintamente, no quarto e fechei a porta da varanda, pois
pois foi apenas o xeque-mate. Como no jogo de as meninas estavam descobertas. Ela dormia
xadrez, o final é o menos passível de explicações na minha cama e amiga num colchão no chão.
e táticas: um rei, uma
Subi na cama a abri
dama e uma torre
as pernas dela, que
facilmente derrotam “Muito bom o desfecho, mas me desapaixonei. Você foi
bem sutil ao descrever o momento a trois dos personagens. dormia de barriga
o rei oposto solitário Agora, acho que ele não ia achar muito bom que as duas
engravidassem ao mesmo tempo... rs. Seria como pedir para para cima e apenas
(metaforicamente, o as duas terem tpm na mesma época. Ainda bem que é um
conto! hehehehehe de camisa. Umedeci
esse rei era o pudor Bjo querido!”
*LIli* meus dedos de saliva
ou algo que o valha).
e lubrifiquei o local
Restam, então, três
peças. da invaginação, onde me introduzi. Olhava-a
atentamente, não queria perder o momento
Agora, aqui na varanda fumando o cigarro
exato de vê-la acordar. Seu despertar começou
da amiga penso única e exclusivamente em
com tremulação das pálpebras e depois dos
me casar com as duas. A casa teria de ter
músculos da região ocular. Eu já fazia um leve
Blozine | Hiper-Link | 36
movimento pendular com meu corpo. Logo ela de uma expressão severa, e sorriso novamente.
suspirou e depois relaxou, um sorriso reluziu e o Colocou a mão na cabeça de sua benfazeja
lábio inferior foi mordido. O abdômen contraído, e massageou seus cabelos. Eu cumpria com os
o lençol apertado. Intensifiquei o movimento. movimentos pendular.
Ainda de olhos fechados, sua mão procurou o
O dia começou como terminou.
meu rosto e beijei-lhe a palma; depois segurou
o meu pescoço como se tivesse empunhando Penso em me casar, ter filhos e um emprego.
uma espada e o polegar roçava o pomo-de- Uma vida normal, enfim. Nessa vaga procura
adão. Abriu os olhos, sorriu e gemeu. por quem seremos, defrontamos o espelho,
olhos nos olhos, e vemos quem está lá dentro e
“E ela?” perguntou, sussurrando. “Está no
este também nos olha, desvendando, sempre,
colchão”. “Vamos acordá-la assim também…”
as faces ocultas pelas máscaras. O espelho
De fato se amam, são eternamente responsáveis
mostra-nos quem de fato somos (um medo do
uma pela outra. Desmontamo-nos e fomos para
futuro), quem não somos (este que veste ternos
o chão. Ela abriu as pernas na amiga e colocou
ou usa colares) e remete a quem gostaríamos
a cabeça entre elas para despertá-la, se pondo
de ser. Este é o monstro que libertei e que irá
de quatro. Lubrifiquei-a novamente e entrei. A
me devorar.
amiga acendeu com um sorriso, que se seguiu

Blozine | Hiper-Link | 37
FOTOS:
página1: capa http://www.deviantart.com/

página 4: poema http://www.deviantart.com/

página 10: dinâmica dos fluidos http://www.imageafter.com/index.php

página 16: filmes http://www.imageafter.com/index.php

página 18: crônica http://www.deviantart.com/

página 19: espelho http://www.imageafter.com/index.php

página 15: bunners http://www.deviantart.com/

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