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impressão
Jorge Bacelar∗
Universidade da Beira Interior
berg, as inovações chinesas nas tintas, im- amente. A necessidade de documentação au-
pressão xilográfica e impressão com carac- mentava com o desenvolvimento do comér-
teres móveis de argila, tinham já prestado o cio, assim como com o aumento da com-
seu contributo para a divulgação da palavra plexidade dos processos de governo e admi-
impressa. Apesar de ter demorado séculos nistração política e religiosa. Por seu lado,
a chegar à Europa, o seu impacto cultural os processos comerciais mais sofisticados e
só aqui se fez efectivamente sentir. O uso o número de funcionários necessários para
desta tecnologia de caracteres móveis na es- manter em funcionamento as crescentes bu-
crita chinesa, que emprega milhares de ideo- rocracias políticas, religiosas e comerciais,
gramas, implicava um esforço e um dispên- criaram a necessidade de um sistema de en-
dio de recursos materiais insuportável. As- sino que produzisse esses mesmos funcio-
sim, o seu impacto na eficácia da produção nários. Para tal era necessária a existência
só se viria a verificar no ocidente, pela fácil e disponibilidade de material escrito. Du-
adequação e adaptação dos 26 caracteres do rante séculos, os monges copistas garanti-
alfabeto latino a esta tecnologia. Algumas ram a manutenção e a reprodução dos textos
teses na historiografia afirmam que o carác- sagrados, mas o mundo secular emergente
ter normalizado, sequencial e linear da tipo- criou a sua própria versão de copista, sur-
grafia se adaptou admiravelmente ao particu- gindo o amanuense profissional. Os novos
larismo ocidental, direccionado para o pro- scriptoria ou lojas de escrita que surgiram,
gresso técnico e para a conquista caracterís- empregariam virtualmente qualquer clérigo
ticas que favorecem a mudança rápida e in- letrado que procurasse trabalho.
tensiva. Apesar do seu rápido aumento, os ama-
nuenses não conseguiam dar resposta à cres-
cente procura comercial de livros. Outro po-
2 Gutenberg e o momento
tencial campo de negócio era a venda de in-
histórico na Europa ocidental dulgências, folhas de papel oficial da Igreja,
As rápidas mudanças culturais que se faziam concedendo o perdão pelos pecados cometi-
sentir na Europa desde o início do século dos, emitidas a troco de fundos destinados à
XV estimularam uma crescente procura (e construção de edifícios e a outros projectos
a necessária produção) de documentos es- dirigidos para a expansão do seu domínio.
critos mais baratos. Desde a sua introdu- De facto, tiragens de 200.000 exemplares já
ção na Europa, no século XII, o papel foi-se eram vulgares pouco depois das indulgências
afirmando como alternativa viável ao vellum manuscritas se tornarem obsoletas.
e ao pergaminho, que constituíam à época Gutenberg, ourives na cidade de Mainz,
os meios convencionais de para o registo e pressentiu o potencial de lucro duma tecno-
transporte da informação escrita. O papel de logia que pudesse dar resposta a estes pro-
farrapo foi-se tornando cada vez mais barato blemas e, para o efeito, contraiu um emprés-
e abundante e, simultaneamente, a alfabeti- timo que lhe permitisse desenvolvê-la. Para
zação expandia-se. Em parte, os dois pro- tal, desenvolveu e adaptou características das
cessos aceleraram por se estimularem mutu- tecnologias têxtil, papeleira e de prensagem
de uvas já disponíveis na época, mas a ino-
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vação mais significativa reside no estabele- trolar a actividade dos impressores do que ti-
cimento dos processos de moldagem e fundi- nha sido controlar os copistas, tanto religio-
ção de tipos móveis metálicos. Cada letra era sos como seculares, durante séculos. A pro-
gravada no topo de um punção de aço que era dução e distribuição de uma variedade ex-
posteriormente martelado sobre um bloco de plosiva de textos tornou-se rapidamente im-
cobre. Essa impressão em cobre era inse- possível de conter. Cópias impressas das te-
rida num molde, e uma liga de chumbo, an- ses de Lutero foram rapidamente divulgadas
timónio e bismuto era aí vertida, originando e distribuídas, desencadeando as discussões
uma imagem invertida da letra que era en- que viriam a iniciar a oposição à ideia do pa-
tão montada numa base de chumbo. A lar- pel da Igreja como único guardião da ver-
gura dessa base variava com a dimensão da dade espiritual. Bíblias impressas em lin-
letra (por exemplo, a base da letra i não che- guagens vernáculas, em alternativa ao latim,
garia a metade da largura da base da letra alimentaram as asserções da Reforma Pro-
w). Esta característica permitiu enfatizar o testante que questionavam a necessidade da
impacto visual das palavras e dos conjuntos Igreja para interpretar as Escrituras - uma re-
de palavras, evitando o efeito individualiza- lação com Deus podia ser, pelo menos em
dor das letras, característico do monoespace- teoria, directa e pessoal.
jamento. Com este princípio estabeleceu-se No plano da fixação das normas da lin-
uma norma de elegância estética e sofistica- guagem (ou pelo menos, da escrita) pode-
ção para a perfeita e impecável regularidade se referir o papel desempenhado por William
de uma página impressa. Caxton, que, em 1476, estabeleceu em Ingla-
Gutenberg produziu uma Bíblia impressa terra a primeira tipografia. Caxton tinha sido
em latim, que viria a ser o seu trabalho de um tradutor prolixo, e viu na tecnologia da
consagração. Uma tiragem de cerca de 300 imprensa de caracteres móveis um excelente
exemplares em dois volumes, vendidos a 30 veículo para a promoção e divulgação da lite-
florins cada, ou seja, cerca de três anos do ratura popular. Verificando que o Inglês pa-
salário de um sacerdote, não foi suficiente, decia de tantas variações regionais que mui-
apesar do sucesso da sua invenção, para pa- tas pessoas eram incapazes de comunicar
gar as dívidas contraídas. A sua oficina foi com outras, mesmo dentro do mesmo país,
penhorada, as suas técnicas tornaram-se pú- Caxton editou, imprimiu e distribuiu uma
blicas e para os credores foi transferida a pro- variedade de livros, determinando e contro-
priedade dos direitos comerciais relativos às lando a soletração e a sintaxe em todos os tí-
Bíblias de Gutenberg. tulos produzidos na sua oficina, contribuindo
Passadas as resistências iniciais, o clero assim largamente para a estandardização da
viu as vantagens do poder da impressão. língua inglesa, vindo estes procedimentos a
Indulgências impressas, textos teológicos e ser gradualmente adoptados em todos os paí-
mesmo manuais de instruções para a condu- ses onde a tipografia se ia estabelecendo.
ção de inquisições, tornaram-se instrumen-
tos comuns para a disseminação da influên-
cia da Igreja. Mas o reverso da moeda tam-
bém se fez sentir: era muito mais difícil con-
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