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edilson.giffhorn@gmail.com, ensslin@deps.ufsc.com.br,
wpwilliam@hotmail.com
1. Introdução
O ambiente competitivo brasileiro foi reformulado a partir da década de 1990 com o fim
das leis de reserva de mercado e a privatização de empresas estatais. Como
conseqüência, as empresas se viram forçadas a se reestruturarem para melhor atenderem
às demandas do mercado. Para isto, duas técnicas de gestão tiveram sua adoção
impulsionada, o Gerenciamento de Projetos e a Terceirização. Com a adoção das
práticas de Gerenciamento de Projetos estruturaram-se os esforços em torno do
atendimento aos requisitos de custos, qualidade e prazo estipulados. A Terceirização
por sua vez, foi utilizada com o objetivo de focar na redução de custos, maior agilidade,
flexibilidade e concentração de esforços nas atividades com maior valor agregado.
Inicialmente, as técnicas foram adotadas de forma independente uma da outra.
Porém, para atender à demanda cada vez maior por rapidez no desenvolvimento e
implantação de soluções, uma integração entre as duas técnicas passou a ocorrer, ou
2. Terceirização de Projetos
Originalmente o conceito de Terceirização consistia na transferência de partes do
sistema produtivo objetivando a redução de custos. No entanto, este conceito migrou
para a obtenção de vantagens competitivas devido ao aperfeiçoamento da eficiência
organizacional e maior agilidade na gestão da inovação [Xavier and Filho 2001].
Guedes e Guadagnin (2003) diferenciam duas formas de terceirização: (i) por
serviço; (ii) por projeto. Na terceirização de serviços a empresa contratante é
responsável direta pela gestão dos recursos disponibilizados pela empresa prestadora
dos serviços. Na terceirização por projetos, a empresa cliente contrata outra para o
desenvolvimento de um projeto claramente definido, e, neste caso, estabelece prazos,
recursos e custos para a execução das atividades de execução do projeto, cujo
pagamento fica atrelado a um cronograma físico-financeiro. A empresa contratada por
sua vez, fica com a responsabilidade pelo gerenciamento das atividades de execução do
projeto propriamente ditas.
4. Estudo de Caso
Este item apresenta o Estudo de Caso desenvolvido e está dividido em subseções,
conforme as fases do modelo MCDA-C.
4.1 Estruturação
O Estudo de Caso foi realizado em uma empresa do sistema de telecomunicações do
Brasil. Nessa empresa, a execução dos projetos de expansão dos sistemas de
comunicações de dados é realizada por empresas terceirizadas homologadas pelo
Gerente de Projetos. Porém, o mesmo não possuía um processo estruturado que
evidenciasse quais quesitos eram relevantes para avaliar as empresas, ou seja, o aceite
das mesmas era realizado como um processo de seleção natural que, ao longo do tempo,
fazia com que as empresas mais capacitadas continuassem prestando os serviços.
Nesse contexto, estão os atores do processo decisório: decisor - Gerente de Projetos;
facilitador – autores; intervenientes - técnicos das empresas terceirizadas; agidos -
clientes da empresa de telecomunicações.
Com o objetivo de manter o foco nas principais preocupações do decisor é
elaborado um rótulo que caracterize o problema, que no presente caso é: construir um
processo que avalie o desempenho das empresas que executam os projetos terceirizados.
Por meio da realização de entrevistas em que o decisor é solicitado a discorrer
sobre o problema, são identificados os Elementos Primários de Avaliação (EPAs). Os
EPAs correspondem aos elementos com presença obrigatória no modelo de avaliação,
segundo a percepção do decisor. A seguir, os EPAs são orientados para as ações que
sugerem, com a correspondente identificação do pólo oposto. O Quadro 1 ilustra alguns
EPAs com os respectivos Conceitos.
EPA Conceito
Gerente de Projetos na Possuir Gerente de Projetos... ter atritos com terceirizada pelo
terceirizada recebimento de informações incorretas
Posicionamento dos Realizar a instalação no local designado pelo projeto... ter conflitos por
equipamentos e acessórios espaço com outros departamentos
Utilizar o cabo especificado no projeto... gerar defeitos devido uso de
Tipo de cabo usado
cabo não adequado
Haver disponibilidade de meios de comunicação entre o gestor de projetos
Comunicação Gestor –
e os técnicos... técnicos atrasarem obras por não conseguirem se
Técnicos
comunicar com gestor
Quadro 1 – Alguns EPAs e Conceitos do Estudo de Caso.
A seguir os Conceitos são agrupados em áreas afins e estabelecidas relações de
causa-efeito para cada um, cujo resultado são os Mapas Meios-Fins. Um Mapa de
Atender os padrões de
instalação... ter problemas
internos e com a Anatel Atendimento de
Padrões
19. Seguir padrões normativos
24. Seguir padrões
internos
Anatel... receber
... atrasar pagamento por
multas da Anatel
pendências
Assegurar que 14. 13. Assegurar 39. Ter 40. 38. Realizar 43. Não utilizar 42. Agilizar a
o local Assegurar que o auditores em Divulgar os a vistoria espaço reservado instalação para
demarcado na que o aterramento é quantidade padrões eficienteme para outros garantir
planta ao equipament adequado... suficiente para Anatel para nte... iniciar equipamentos utilização do
fazer o projeto o está bem ter retrabalho vistoriar... os a instalação sem consulta... ter espaço
não está fixado... ter devido atrasar ou não terceirizado sem vistoria bloqueio de demarcado...
ocupado... ter retrabalho aterramento verificar a s... deixar prévia pagamento devido perder o espaço
retrabalho para corrigir em local não identificação que eles a instalação em reservado por
para fixação propício (etiquetagem) definam local incorreto atraso no início
realocação da instalação
4.2. Avaliação
A fase da Avaliação inicia-se com a construção das Funções de Valor, que quantificam
3º Congresso Brasileiro de Gerenciamento de Projetos, 22 a 24 de Outubro de 2008, Porto Alegre - RS
a intensidade de preferência entre os diferentes níveis do descritor. Sua construção se
fez com o auxílio do software M-MACBETH [Costa, Corte and Vansnick 2008]. Sua
escolha se deu por permitir que o decisor expresse os juízos de valor por meio de
escalas semânticas. Para isto, o decisor deve identificar a diferença de atratividade de
ações potenciais para cada intervalo do descritor. Essas informações compõem a Matriz
de Julgamento do Descritor, e uma vez inseridas no software resultam em escalas
cardinais para cada descritor.
A Figura 2 exibe a Matriz de Julgamento para o Descritor Interpretação,
juntamente com as escalas fornecidas pelo M-Macbeth.
Descritor Interpretação
Excelência
Nível Bom 100 100 100 100 100 100 100
Competitivo
Nível Neutro 0 0 0 0 0 0 0
Comprometedor
4.3. Recomendações
A última fase de construção do modelo multicritério pela metodologia MCDA-C
consiste na fase de elaboração de Recomendações. A identificação das ações é realizada
pelo facilitador em conjunto com o decisor. Algumas das ações geradas foram:
• Adequar os contratos para que a parcela de pagamento seja uniformemente
distribuída pela quantia de eventos de pagamentos, para que a última parcela,
referente à retirada total de pendências, seja financeiramente importante;
• Coerência quanto ao atendimento dos prazos de instalação e a integridade
física/saúde dos colaboradores;
• Elaborar o cronograma das obras considerando um prazo que contemple as
parcelas de trabalho da terceirizada, da contratante, prazos de obtenção de
licenças governamentais e prestação de serviços por parte de empresas públicas;
• Fornecer Relatório Final de Avaliação da Terceirizada, baseado nos critérios de
avaliação e padrões inicialmente apresentados, apontando lições aprendidas com
o projeto e evidenciando os pontos críticos da avaliação que requerem uma
melhora no desempenho;
• Haver programas que reconheçam e premiem as empresas terceirizadas que
melhor se destacarem em suas atuações.
5. Considerações Finais
O presente artigo abordou a avaliação do desempenho de empresas que executam
projetos terceirizados visando construir um modelo personalizado a um Gestor de
Projetos.
Para tanto, foi empregada a Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão –
Construtivista. Em sua fase de Estruturação o problema decisional foi contextualizado e
os valores relevantes ao decisor foram explicitados. A hierarquização e agrupamento em
Clusters dos Conceitos nos Mapas Meios-Fins permitiram a identificação dos critérios
de avaliação. Na fase de Avaliação foram construídas escalas cardinais e calculadas as
Taxas de Substituição. Com isso, foi possível traçar o perfil de impacto que avaliou o
desempenho de empresas em projetos terceirizados. A análise do perfil de impacto
permitiu identificar em quais pontos de vista cada empresa apresenta a melhor
performance e aqueles que possuem as melhores oportunidades de aperfeiçoamento. Já
o entendimento do contexto proporcionado ao Gestor de Projetos permitiu que
Recomendações de ações potenciais visando o aperfeiçoamento da gestão das empresas
fossem geradas.
Com isto, o uso da metodologia MCDA-C permitiu ao Gerente de Projetos
dispor de um instrumento cuja utilização oportuniza a melhoria contínua na gestão do
desempenho das empresas que executam os projetos terceirizados, aberto a ações
criativas e inovadoras para prover um maior alinhamento entre os objetivos estratégicos.
Devido à construção personalizada do modelo de avaliação tratar-se de uma
característica da MCDA-C, para outros contextos que se deseje avaliar o desempenho
de empresas que executem projetos terceirizados, o processo deve ser refeito desde seu
princípio.
Referências