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A NEW
LIFE
EDITORIAL
Devolvemos as páginas da revista às cidades. Na ruas elas andaram CAPA
sozinhas, conheceram pessoas, absorveram lixo e porcaria e coisas Public
boas. Cirandaram na penumbra, chamaram nomes aos que passaram ilustração de Adam Larson
e juntaram-se ao grupo para beberem nas esquinas. Dobraram-se
todas para lá chegar, sujaram-se com pó e desfizeram-se nas poças
de água. E voltaram. Hoje. Velhas. Encardidas. Com coisas novas para FICHA TÉCNICA
dizer. Pedaços tirados aos objectos, aos prédios, às portas, às folhas
de outros que não as largaram. Alinham-se, agora, envergonhadas. Director de Arte e Conteúdos
Presas a si próprias e àquilo em que as transformaram. Ricardo Galésio
Agradecimentos
Adam Larson
Albertina Ribeiro
Joël Tettamanti
Lomografia Portugal
Pep Karsten
O DESIGN texto de Sara Toscano
Envie uma história, uma frase, uma fotografia e receba esse momento ou o seu conto
convertido num acessório de design de desperdício. Porque se as histórias da nossa
vida são bem mais do que acessórias, os acessórios da nossa vida não devem ser
menos que isso… histórias.
frida.chew@yahoo.gr
ON THE
STREET fotos de Karina Alves
URBAN ART
YOTI
AMADEO texto de Ricardo Galésio
KNOCK KNOCK
E se alguém perguntar como se chama, ela diz “Eu sou Carmen, Carmen Miranda”.
Assim ditavam os Cool Hipnoise às três da manhã, num elevador de um prédio meio
novo no centro de Royafo. Yoti estava sozinho. Tinha a mala preta nas mãos. Suadas.
E o pensamento de que aquela noite não poderia acabar bem. O elevador parou no
sexto. Onde estava a campainha? Não há campainha? Bateu à porta sem alternativa.
Sataj abriu. Mal disposto com a força das pancadas no seu maciço de carvalho, indicou
a Yoti o corredor que ia dar à cozinha. Yoti entrou na cozinha, de um estilo sueco
muito comum. Abriu a mala rapidamente, tirou o seu revólver da Ladra, e disparou
três vezes. Uma das balas foi parar, precisamente, a uma das narinas de Amadeo. As
outras duas acertaram, alternadamente, no microondas, no mármore da bancada e na
Bimbi. Efeitos do ricochete. Yoti, a transbordar de suor, atirou o revólver para dentro
do lava-loiças de porcelana, fechou a mala preta e saiu a correr pela porta de serviço.
Nunca tinha sido tão difícil executar um trabalho destes. Normalmente chegava a
fazer dois e três por noite. Daquela era diferente. Amadeo dizia-lhe muito. Tinha sido
percursor em diversas áreas. Abusava dos sentidos e gostava. E Yoti gostava disso.
Ao descer as escadas lembrou-se que ainda o poderia salvar. Voltou a subir numa
golfada, bateu à porta desenfreadamente. Sataj abriu novamente e nem sequer teve
tempo de dizer nada. Levou um soco mesmo em cheio no meio da boca. Soube-
se, depois, que perdeu seis dentes com essa brincadeira. Yoti debruçou-se sobre
Amadeo, ainda ensanguentado. Pegou-o ao colo e fugiu com ele. Sentou-o no lugar
do morto. No caminho para o hospital, Amadeo não resistiu e esvaiu-se em azul,
lona e óleo. Yoti despistou-se e embateu com toda a força num pinásio de trânsito
condicionado. Na rádio tocava, por ironia, um sucesso de Falco. “Amadeus, Amadeus,
oh oh Amadeus”.
MAR
DE MEMÓRIAS texto de Pedro Palrão
Segui-te no teu caminho para casa. Depois do que me disseste senti-me desabar… morto. O sol ainda estava quente por isso os vidros abertos deixavam entrar o calor,
senti perder o que me mantinha intacto…revi o teu olhar a destruir o meu e aquilo aumentando a minha sede de mar…a minha vontade de a matar de um só trago com
que eu nele espelhava e que sentia por ti. um mergulho.
Queria ir ter contigo. Olhar-te e forçar-te a olhar-me para que me visses no meu Quando cheguei ainda estavam algumas pessoas, embora a mim me parecessem
desgosto…um vagabundo por dentro a transpirar nos poros da pele a amargura que apenas estátuas de pedra sem vida no meio da minha paisagem de solidão e dor.
me preenchia…a derramar pelos olhos o fel do teu desdém, a vaguear sem rumo por Larguei a toalha enrodilhada no meio da areia e fiquei em tronco nu, receoso, no
se ver privado de ti. entanto, que por entre a minha pele se notassem as feridas que me corroíam o interior.
A memória adocicada dos teus lábios amargava-me a boca, e engoli-la incendiava-me Apressei-me assim para o mar, que chamava por mim com pequenas ondas…que
como um trago de aguardente. O leve vislumbre da recordação do teu olhar tornava- dizia o meu nome no seu rebolar lânguido por entre os grãos de areia e as pernas de
me o coração em estilhaços que eu sentia torturarem-me as entranhas enquanto me quem se mantinha à sua beira.
sangravam cá dentro. Entrei de rompante e mergulhei, pouco me importando com a agressividade com
O meu corpo contorcia-se em dor, sentia o impulso de espernear que continha a todo que o frio me ensopava até aos ossos quentes do calor da superfície. Deixei-me ficar,
o custo…sentia-me perdido de tudo e de mim próprio…envolto em nuvens de dor e salgando o mar com as últimas lágrimas que jurei derramar por ti.
dúvida naufraguei naquela rua que tão bons ventos me havia trazido. Emergi ao sol de final de tarde como se tivesse renascido. Vi os pequenos pedaços
Ali me deixei ficar, esquecendo-te, deixando-te desaparecer da minha vista. O vento rasgados das memórias tuas a boiarem na água límpida, enquanto as ondas as
fustigava-me o corpo e a cara secando-me as lágrimas violentamente. O frio que tragavam e arrastavam para a areia afastando-as de mim…
me percorria o corpo a descoberto pela roupa de verão soava a um cortante e gélido Deixei-me ficar e olhei o horizonte antes de voltar, pronto para deixar secar as últimas
sopro de inverno, enquanto ali continuava… gotas de ti no meu corpo.
Num instante entrei no carro. De olhos mortos e rígidos conduzi até à praia lembrando-
te à distância, vendo no canto do olho a tua silhueta recortada a névoa no lugar do
texto e fotos de Tiago Brás
Vagueei pelas ruas de Lisboa à procura das pessoas que a habitavam. Deparei-me,
no Campo das Cebolas, com uma casa sem infra-estruturas. Era quase completa: sem
tecto, casa-de-banho ou privacidade, no entanto, tinha um móvel que funcionava
como arrecadação, um relógio de parede pendurado numa árvore, uma mesa e
cadeiras onde se faziam jantares de “família”, um garrafão de água que servia de
torneira, um tapete no chão sobre a terra seca, e uma horta com pequenas plantações.
Relembrando-a, esta casa insere-se mais na cena de um filme do que na vida real.
Um mundo que está tão perto mas de todo desconhecido até então. Convivi com
aqueles que sentem o amanhecer tocar-lhes na pele, um grupo de pessoas que
comigo partilharam a sua casa e me “convidaram” a deitar no seu papelão. Pessoas
simples e modestas em que a mera possibilidade de ter dinheiro suficiente para
comprar um Pall Mall lhes proporcionava um dia mais “requintado”. Ideias como
consumismo, capitalismo, estética, cultura, hábitos/regras sociais já não lhes faz
sentido, sendo banalizadas e por vezes, até inexistentes.
Leão, um dos sem-abrigo que fazia parte desta “família”. Foi o último elemento a
juntar-se ao grupo, devido aos problemas com o álcool e vítima do desemprego.
Augusto “O Grande” como era conhecido é arrumador de carros há 18 anos. É o único
que não partilha o mesmo “tecto”.
Interviewer: So after seven years, one degree and two masters you found your
thing.
Alex: Not exactly. I mean acting is great. You can easily become famous and everybody
knows you and yes that is great. But the thing is that I am too young to decide what
I will do for the rest of my life. Too young to get a serious job and make my own
money. It is too much pressure for me.
Interviewer: And you, do you help your government or do you break the law?
Alex: What do you mean?
Interviewer: One last question. Do you ever think of changing the world?
Alex: Of course. All the time.
Interviewer: Oh my god!!!!
TETTAMANTI fotos de Joël Tettamanti
HARAJUKU
Fotógrafo suiço. Apanhámo-lo entre uma viagem à Índia e uma outra à América
do Sul. Gostou de nos conhecer. Enviou-nos algumas fotografias que tirou no
Japão. Gostámos. Muito.
Lançou um livro há pouco tempo. LOCAL STUDIES. Pediu-nos para divulgar.Com
todo o gosto.
www.tettamanti.ch
FUSE
WITH ME texto e foto de Juliana Reis
DO TEXAS AO LUX
A primeira vez que o vi estava eu atrás da cabine, as mãos nos discos de Calibre, a
suar de tanto calor que fazia no Texas Bar. A primeira coisa que vi foi o seu polegar
a apontar para o céu, neste caso, a apontar para o tecto. De tanto em tanto tempo,
aproximava-se outra vez da cabine aquiescente, dançante e sorridente. O Texas
estava um autentico hammam e até teria sabido bem, esse calor húmido, se não
estivéssemos no pico do Verão. A hora do fim aproximava, já estava há mais de três
horas a praticar a Arte de fazer girar discos com batidas staccato broken beats que
fazem dançar e libertar as aves mais raras que andam pelos passeios da cidade ah
yeah! Encharcados estávamos todos os que se encontravam dentro deste hammam
clandestino, improvisado e degradado dos últimos dias do mítico Texas e a sua “Estrela
de Vidro” que hoje já não é passível de ser contemplada no mesmo lugar. O João
pintava a tela suspensa contra o muro de pedra, com as suas misturas de imagens
cinéticas. Na pista explosiva sentia-se a fusão e a sintonia de almas libertinas em
busca do tempo perdido. Os copos devoravam aleatoriamente o espaço que nos
albergava. Alguns entornados deixavam rastos na memória do presente alimentado.
Eram horas de algarismo miúdo. Larguei a cabine de cansaço e suor realizado dos
sinais propagados. Na ponta do bar estava ele apoiado ao balcão de vasta dimensão
incerta. A conversa, partilhada por gosto comum pela produção de Ritmo, batidas e
cadências, não se estendeu. Nestas alturas, a culpa é sempre do ponteiro da mente.
Ontem inverteram-se as posições. Era ele que estava no centro das atenções
acompanhado por vários magnatas do som, e eu, ouvinte, espectadora, dançante,
cinestésica. Fiquei de pé, ali, no meio, em frente, expectante. O cartel de palavras
soltas das letras ressonavam no underground luxiano e reflectiam problemáticas do
quotidiano expressando as suas emoções nas produções que ele ia cruzando. Em 70
lapsos de Tempo, seguiram-se cadências furtivas que só os ouvidos mais curiosos
conseguiram perceber. Atrás, era o Paulo desta vez que pintava o palco e seus
músicos de formas e cores cinéticas. À frente, a Patrícia guardava no seu instrumento
gravador, imagens para a posterioridade, enquanto celebrava simultaneamente o
dia em que tudo começou. Ao meu lado, uma mulher comentava os dons prováveis
do atleta de voz de pele escura e despida, músculos firmes, dreadlocks, poder e
Emoção. “Esse deve ser bom na cama” disse-me ela. Continuámos nós, público, a
fluir no espaço saboreando cada nota, cada tom, cada som, cada Luta. Esperando
desconcertados, únicos não certamente, ansiando a chegada daquela música que
vive pelas recordações de Liberdade que sugere.
fotos de Ângelo Fernandes
Quando alguém fala sobre ti, preferes que ela se refira a ti como um fotógrafo, Dos artistas que eu conheço pessoalmente, eu sei que isso é extremamente raro.
um designer ou um músico?
Um termo mais genérico: “artista”. Também gosto da expressão francesa “plasticien” Os trabalhos artísticos são muito influenciados pelo meio envolvente? Por
que significa artista visual. Eu não quero estar reduzido a um meio específico. O meio exemplo, achas que a criatividade francesa é diferente da portuguesa?
é simplesmente um suporte. Claro que sim, porque nós não estamos fisicamente rodeados pelas mesmas coisas,
pela mesma cultura, mas cada vez menos devido aos meios de comunicação. Estou
Então, tu acreditas que “design” pode ser “arte”? Que o público-alvo do designer convencido que haverá sempre uma diferença (relacionada com os nossos diferentes
pode ser ele próprio? passados), mas é cada vez menos perceptível... e sinto-me muito contente em
Sim, acredito. O problema, na minha opinião, é o tempo que se leva para que uma relação a isso. A internet está a ligar diferentes culturas para criar uma (a CRU A é
nova forma de arte seja aceite pela maioria... o público e o mundo artístico (como um exemplo disso), ainda segmentada, cada vez menos a nível geográfico e muito
os museus, até mesmo os artistas). Pensa no tempo que foi necessário para que a mais consoante as diferentes sensibilidades. Eu sinto que esta cultura emergente é
fotografia fosse realmente considerada arte. mais pura. Eu nunca me senti francês, talvez porque nunca me tenha interessado por
Durante um festival de arte, um famoso artista contemporâneo, ao observar o meu política; no entanto sinto-me europeu, não apenas em termos artísticos, também na
trabalho exposto (uma espécie de vídeo com grafismos computadorizados), disse-me minha relação com as coisas. Pode parecer infantil, mas eu adoraria sentir-me um
que, definitivamente, não estávamos a fazer o mesmo tipo de trabalho (uma maneira homem do mundo ao invés de só europeu.
“politicamente correcta” de dizer que o que eu fazia não era arte): eu continuo a não
concordar com ele. Mas o problema não é a globalização mas sim a homogeneização, nós estamos
Como o meu objectivo sempre foi comunicar para o maior número de pessoas possível, a perder a nossa cultura específica, a nossa identidade. Como disseste, agora
tenho vindo a desenvolver trabalhos cada vez mais próximos da fotografia, apenas estamos segmentados pela nossa sensibilidade. Será o suficiente?
próximos. Muitas pessoas pensam que os meus trabalhos parecem publicidade. Eu percebo o que queres dizer, mas na minha opinião ganhamos mais do que
Eu gosto disso, parte do meu objectivo, em termos visuais, é que se pareçam com perdemos. Além do mais, o passado pode ser apagado facilmente, mas a nossa
anúncios. cultura específica permanecerá (pelo menos por um longo período de tempo), mas
de uma forma muito mais subtil. Eu não sinto isso como um problema. Eu penso até
Tu falaste de um famoso artista contemporâneo. Tens algum ídolo no mundo que não vejo nenhum problema na total homogeneização, talvez devesse, mas só o
artístico, uma referência para ti? Em que pessoa pensas quando se fala de tempo o dirá.
arte?
Se tu estás a falar de trabalhos, há imensas pessoas que me inspiram, podia encher Sendo o teu trabalho influenciado pelo meio envolvente, o que é que te
páginas com nomes; estranhamente não há assim tantos fotógrafos, mas centenas inspira?
de pintores, músicos, realizadores. Se eu tivesse que escolher um, eu escolheria o Para além do trabalho de outros artistas, quase tudo. Eu penso que existem duas
primeiro que me abriu os horizontes, quando eu ainda era criança: Caravaggio. categorias de coisas que me inspiram em termos visuais. A primeira é a natureza,
Contudo, se falamos de artistas com estilos de vida que eu sonharia em ter, eu tudo o que visualmente ela cria; principalmente a luz natural e o modo como se
escolheria a vida de Jeff Koons. Eu não conheço muito acerca da vida dos artistas comporta. A segunda são as criações humanas não-artísticas. Elas são extremamente
(porque eu prefiro ver os trabalhos deles do que ler as biografias), mas um dia eu inspiradoras para mim. Especialmente os produtos de consumo, e muitas outras
vi, por acaso, uma entrevista do Jeff Koons que me fez pensar: “esta é a vida que eu pequenas coisas.
quero viver”. Ele tem toda uma empresa que o ajuda a produzir os seus trabalhos, Também me inspiram algumas situação que acontecem comigo, pessoas com quem
conseguindo assim manter um alto nível de produtividade e, o mais importante, eu me relaciono de diferentes maneiras, pensamentos, sonhos... coisas boas e más.
ele continua a ter tempo para a mulher e para os filhos. Tudo isto sem problemas É uma pena que as coisas más sejam mais inspiradoras.
financeiros, como é óbvio.
E falando de outro tipo de “arte”, que música ouves, que filmes vês?
Achas que uma brilhante carreira artística é incompatível com uma vida familiar A música é essencial para mim, eu costumo passar todo o meu tempo a fazer música.
“normal”? Eu adoro música pela sua forma abstracta, mais visível do que em qualquer outra
Mesmo que não seja assim tão brilhante e mesmo que não seja no mundo das arte. Eu gosto de todos os tipos de música, existem boas coisas em qualquer género,
artes, quando tu tens uma forte paixão é difícil gerir prioridades... eu tenho muito desde a música clássica ao techno, do rock ao hip hop. O meu estado de espírito
dificuldade em encontrar um equilíbrio, por isso invejo quem consegue atingi-lo. influencia o tipo de música que ouço. Está muitas vezes relacionado com o género
de ambientes em que estou a trabalhar no momento. Como disse anteriormente,
poderia dizer centenas de nomes, mas se tivesse que escolher alguns, escolheria os
Radiohead, Metric, Blonde Redhead, Tricky, Royksopp, Autechre, Morritz von Oswald
(também conhecido como Maurizio, ou Rhythm and Sound, ou Basic Channel ou muitos
outros nomes), Daft Punk, Danny Elfman, Beethoven, Mad Professor... Se quisermos
encontrar alguma coisa que os una, talvez seja a sua abordagem romântica.
O cinema também foi sempre essencial para mim, agora ainda mais por causa da
fotografia. Nesta área também não tenho um género preferido. Posso dizer alguns
filmes de culto: Paris Texas (o meu favorito do Wim Wenders), Edward Scissorshands
(o meu favorito do Tim Burton), Alien 1 (e mais alguns filmes do Ridley Scott), Lost
Highway (e muitos outros do David Lynch), Apocalypse Now (a versão original), The
Lord of the Rings Trilogy (director’s cut), Dead Man, Solaris, Princess Mononoke, the
City of the Lost Children. Também aqui fiz uma selecção muito romântica.
Auto-retrato
Selecção da série “Comme un ange”
Selecção da série “P999”
Capa de CD da banda Xnoybis
Selecção da série “Construction”
Selecção da série “Generation”
Selecção da série “Force”
Selecção da série “Manufacture”
Selecção da série “Construction”
Selecção da série “Force”
Selecção da série “Comme un ange”
The Heart of my Heart
www.pepkarsten.com
SEETADINO texto de Ana Elisa
ROSTOS DA CIDADE
Alfarrabista é aquele que vende livros antigos. Esta casa tem 44 anos, eu trabalho B.I.
aqui há trinta e tal. Eu, o meu marido e uma empregada. Hoje em dia temos poucos Albertina Ribeiro
clientes. A Estação do Rossio estar assim em obras afectou muito o negócio. Os livros 68 anos
em geral já não se vendem muito, e nós aqui...está difícil. Hoje em dia recorre-se Alfarrabista
muito aos computadores. Antigamente vinha-se aqui comprar livros de estudo, agora
os professores só mandam ler uma ou duas páginas e toda a gente vê na Internet. Az do livro
Temos todo o tipo de clientes, mas há clientes regulares. Procuram livros que não Calçada do Duque, nº11
encontram noutros sítios, por exemplo agora tem-se procurado muito a “Montanha Livraria do Duque
Mágica” que tem andado esgotado. Vendemos muitos esotéricos, livros técnicos e livros de banda desenhada.
romances. Eu não leio muito. O meu marido sim, lê muito. Mas eu gostei, muito...
até tenho vergonha. Porque é literatura cor-de-rosa...”Duas vidas, um amor”. Mas
também gostei muito do “Grande industrial”.
Gosto de trabalhar nesta loja e de estar entre livros com história, usados. Mas tenho
alergias, isto deixa-me o nariz húmido. É do pó.
Antigamente isto era uma sapataria, por isso é que tem as prateleiras largas para pôr
as caixas dos sapatos.
Hoje em dia não há muitos alfarrabistas. Há aqui três, na Calçada do Combro há
mais uns dois ou três. Não há muitos. Agora também muitos vendem em feiras de
Antiguidades.
Mas está difícil. A Estação assim...as pessoas vinham cá antes, agora não. E ainda
temos que esperar mais um ano até que a Estação esteja pronta. Agora são as obras
lá dentro.
Sei lá, uns dez clientes por dia, por aí. E trabalhamos das 9h às 19h. Muito menos, ao
Sábado não vem cá ninguém.
Muitos não sabem os títulos dos livros, dizem tudo ao contrário. E uma vez veio cá
uma mulher que queria comprar só a lombada de um livro antigo, para preencher um
espaço na prateleira...a sério...queria só uma capa.
Estes livros são de pessoas que vêm cá vender, não encomendamos, é o que vai cá
aparecendo.
Não gosto de Lisboa. Faltam jardins, árvores, relva. Há muito movimento. Sim, do rio
gosto. Ao Domingo apanho o comboio no Cais do Sodré até Cascais, só para ir ao lado
do mar. Passo assim a tarde. Sabe bem. Quem é português gosta do mar. Sim, das
pessoas gosto.
Designer gráfico e ilustrador norte-americano, Adam Larson acaba de abrir a
sua prórpia agência. Falou connosco acerca disso e de outras coisas também.
E também nos cedeu alguns dos seus trabalhos. E também achou piada à
brincadeira das bombas de Boston. É lá que vive. Também.
www.adamncompany.com
Achas que os clientes são o maior obstáculo à tua criatividade? Tens alguns artistas favoritos? Alguém que te inspire?
A maior parte das vezes não, os clientes funcionam mais como um veículo para a Eu costumo ser apreensivo quando falo da minha maior influência porque ele tem
criatividade do que como um obstáculo, porque são eles que te pagam e te permitem sido extremamente comercializado/banalizado. Mas o Salvador Dali foi, realmente,
fazer o teu trabalho. Portanto, dizer que eles são um obstáculo não me parece correcto. um dos meus artistas favoritos quando eu era mais novo. Um dia recebi um livro dele
É claro que os projectos nem sempre correm como planeaste. Os clientes podem fazer como presente e costumo folhe-á-lo quase todos os dias. Tudo aquilo faz sentido para
pedidos que nem sempre são os mais imaginativos, mas tu tens que tentar sempre mim. E o trabalho dele, quer a nível comercial quer a um nível mais artístico, abriu-
fazer o melhor. Trabalhar com bons clientes, aqueles que confiam em ti e que te me os olhos para essa possibilidade. Eu serei sempre um seu admirador.
respeitam, aqueles que te contratam para fazeres o que sabes fazer, são esses com E Robert Rauschenberg. Ele é outro que sempre me fascinou, sempre a reinventar e
quem eu procuro trabalhar. É essa colaboração que produz o verdadeiro trabalho a desafiar com o seu trabalho.
criativo.
Trocarias Boston por alguma outra cidade?
Eu adoraria viver noutra cidade. O meu irmão vive em Los Angeles por isso já pensei
PORTO
EXPOSIÇÃO
Fotocópia
Esta exposição aborda a electrografia como ferramenta da criação e da reprodução.
Até 1 de Abril, na Biblioteca da Fundação Serralves
SHANGAI
EXPOSIÇÃO
Art in Motion
Retrata, pelos olhos de trinta artistas chineses, as transformações ocorridas na
sociedade contemporânea na China.
Até 25 de Fevereiro, no MOCA Shangai (Museum of Contemporary Arts)
BUENOS AIRES
EXPOSIÇÃO
Arte latino-americana do séc. XX
A Colecção Constantini apresenta um conjunto de obras de arte contemporânea de
importantes artistas da América do Sul.
Expoisção Permanente, no MALBA Buenos Aires