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Tirei a foto acima há pouco mais de um mês, ao passar pelo município de Nossa
Senhora das Dores, interior do Estado de Sergipe. Como trabalharia com meus alunos
os casos de concordância verbal e nominal na língua portuguesa, julguei oportuno
utilizar o exemplo acima para suscitar as primeiras discussões.
Não há o que se discutir mais sobre a concordância do verbo que inicia essa frase.
Segundo os estudos lingüísticos atuais, não há um problema de concordância nesse
REFLETINDO SOBRE CONCORDÂNCIA
enunciado, uma vez que na língua falada no Brasil aconteceu uma resignificação da
sintaxe de frases assim. O falante de nossa língua não considera que haja, em frases
como essa, uma voz passiva pronominal, mas sim um sujeito indeterminado, o que
justifica o verbo no singular. Para Bagno (1999, p.98) “O que a gramática normativa
insiste em classificar como sujeito, a gramática intuitiva do brasileiro interpreta como
objeto direto”. Isso pode ser comprovado no segundo enunciado, pois, embora seu autor
tenha modificado a organização e flexão de alguns termos, a flexão do referido verbo
permaneceu inalterada. O motivo que o teria levado a reestruturar sua mensagem não foi
esse, certamente.
Pelo visto, tudo leva a crer que a intenção do comerciante era a de melhorar a
publicidade seu produto. Não se sabe, no entanto, se a modificação foi sugerida pelo
profissional da propaganda, pelos clientes de nosso amigo ou por sua própria
consciência. O fato é que a frase publicitária foi alterada justamente no momento em
que o comércio passava por uma reforma.
Apresentei essa questão aos meus alunos do 3º ano do Ensino Médio e lhes
perguntei:
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JORGE HENRIQUE VIEIRA SANTOS
Parece que, para os alunos, e também para o nosso novo comerciante, quando se
diz “ovos e galinha de capoeira”, o adjunto adnominal “de capoeira” não se refere a
“ovos”, mas apenas a “galinha”. Como se tivéssemos:
Além disso, como explicar que o segundo enunciado tenha prevalecido sobre o
primeiro?
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REFLETINDO SOBRE CONCORDÂNCIA
Numa frase como essa, o falante entende que tanto a camisa quanto a calça são da
cor branca.
Ainda assim, continuaríamos a entender que tanto as camisas quanto as calças são
de linho.
Acredito que como a locução adjetiva fica invariável, portanto no singular, parece
que, no entendimento de meus alunos e do comerciante, houve uma associação do
adjunto adnominal do enunciado 01 apenas com o substantivo “galinha”, que também
está no singular, e não com o substantivo “ovos”, que nos dois enunciados se encontra
no plural. Observem:
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JORGE HENRIQUE VIEIRA SANTOS
O restante da frase ficou em letras menores e com menos destaque, uma vez que
se tratava de uma informação adicional e não, necessariamente, essencial, pois o que
importava para o comerciante era deixar claro para seus clientes que tanto as galinhas
quanto os ovos vendidos eram de capoeira. Os dois adjetivos do final do enunciado
passaram então para o plural por influência do termo “ovos”, do qual ficaram mais
próximos. Mesmo assim, mantiveram o gênero feminino, pois se referem à “galinha”,
não a “ovos”.
Publicado em 14/08/09.
REFERÊNCIAS