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Prometeu e Epimeteu

Ailton Siqueira - (Coordenador) - e-mail: ailtonsiqueira@uol.com.br


Prometeu e Epimeteu são duas figuras míticas. São dois deuses gregos. Prometeu
furtou de Zeus, o deus dos deuses, a arte do fogo e a luz do saber técnico em
benefício da humanidade. Ficar acorrentado por toda a eternidade em um rochedo e
ter seu fígado comido todas as manhãs por um abutre foi o castigo que Prometeu
recebeu. Prometeu em grego significa, literalmente, "pré-pensador", aquele que
pensa, analisa, aquele que conhece antes de fazer, que pensa antes de agir.
Portanto, é prudente, racional.
Epimeteu, irmão simétrico de Prometeu, compartilha no universo um outro destino:
de ficar solto, errante no mundo, de vagar aleatoriamente. Epimeteu em grego
significa "pós-pensador", aquele que faz e depois pensa, aquele que age antes de
pensar. Ao contrário da prudência de seu irmão, a base motivacional de Epitemeu
está nas suas pulsões, instintos, paixões. Em si mesmo Epimeteu é a voluptuosidade
do desejo, a exuberância da vida diante do racionalismo técnico de Prometeu.
Na disputa de poder entre os deuses, em alguns momentos há os que se impõem mais
fortemente. Assim, Prometeu pode controlar vidas humanas e expandir seu poder para
além do Olimpo. Em certos momentos, ele pode se tornar mais forte do que Epimeteu
(ou vice-versa) no exercício de seu poder sobre os mortais.
Os humanos seguidores de Prometeu são pessoas prudentes, racionais e dominadoras
de várias técnicas. Pensam no futuro e por isso antecipam a solução para possíveis
problemas. Mas são pessoas que se privam de inúmeros prazeres, que não sabem se
lambuzar no mel cuja fonte desconhece.
Os humanos seguidores de Epitemeu são seres improvidentes, não calculam nem
projetam o futuro, preferem o que seja aprazível no momento. Na verdade, são
pessoas amantes e inconseqüentes, conhecem pouco as causas das coisas, mas se
alimentam das coisas como elas são, se alimentam de sonhos perdidos, esperanças e
paixões repentinas. Alem disso, são seres alegres e servos inconseqüentes de si
mesmos, de seus instintos e pulsões. Embriagam-se em prazeres intensos e fugazes.
São soltos. Vivem ao "deus-dará" e a vida sempre dá: dá dor e prazer, tristezas e
alegrias. A vida sempre dá e dará. Sozinho no mundo, Epimeteu sofre com o seu
destino.
Prometeu e Epimeteu poderiam ser vistos, aqui, como duas imagens metafóricas da
condição do ser. Não é à toa que eles são irmãos. Eles representam a unidualidade
da natureza humana: homo sapiens/demens, faber/loquem, prosaico/poético.
Prometeu e Epimeteu é a contradição complementar um do outro. No mundo antigo, o
fígado era considerado o lugar de todas as paixões, desejos, lugar das chamas
vivas e dos impulsos selvagens. Fenômeno interessante é que, de acordo com a
narrativa mítica, o fígado de Prometeu é regenerado à noite. Por quê? Talvez
porque seja à noite, quando o silêncio paira e a mente vacila, que as paixões e as
fortes emoções afloram. É à noite, quando a consciência conscienciosa pede férias
de si mesma, que a regeneração subjetiva do ser acontece em segredo. Nessa
perspectiva, Epimeteu seria parte da vida prometeica, seria responsável pela
regeneração do fígado de Prometeu. Epimeteu poderia ser visto aqui como o "pré-
pensamento", como o que fica "por trás do pensamento" de Prometeu. Em uma palavra:
Epimeteu não é o fígado, mas o ser ou a substância que faz a cada dia o fígado do
irmão se regenerar.
Poderíamos dizer que o abutre que devora o fígado de Prometeu não é outro ser
senão sua própria racionalidade técnica, suas cobranças, seu autocontrole. Para
Prometeu se orgulhar de sua técnica e astúcia, de sua inteligência e capacidade,
ele paga o preço de cortar ou matar, mesmo que dolorosamente, suas próprias
paixões, seus instintos e desejos para ser o Deus da técnica e da prudência. Mas
os deuses também padecem, padecem por serem perfeitos e estarem condenados à
condição de imortabilidade e imutabilidade de si. Ora, só suporta o padecimento
aquele que é maior que sua própria dor. Somente os defeitos podem ser concertados.
A perfeição é o limite da mutabilidade. A transmutação de si ou sua capacidade de
se auto-regenerar é o dom humano que nem os deuses têm.
Na narrativa mítica, o fígado pode representar a subjetividade de Prometeu,
subjetividade que ele mesmo não pode viver enquanto que o abutre representa a
tecnicidade que devora o ser, a vida, a subjetividade. É essa tecnicidade que
prende o homem, ou os prometeicos, às demandas da eficácia tecnológica do mundo. O
pensamento racional/técnico de Prometeu o prende, rasga, pune e devora seu fígado,
lugar de sua subjetividade.
Prometeu é o espírito do homem maduro, do pensamento domesticado que tenta tudo
classificar para tudo conhecer e controlar. Portanto, os seguidores de Prometeu
sonegam a si mesmos, sonegam os pequenos e engrandecedores prazeres que podem ter
uma criança ao brincar com a vida. Isto porque eles se torturam, se dilaceram para
alcançar seus objetivos, pois sonhos são abstratos demais para eles. Não deixam de
ser pessoas medrosas, pois tem medo do fracasso, já que o fracasso é uma das
experiências mortais, uma experiência dos não preparados. Eles não admitem a falha
e o fracasso porque sabem que um deus pode tudo. Só não podem fugir de seu destino
e condição cósmicos.
Na verdade, os prometéicos são seres inquietos porque buscam sua realização
mental, cognitiva. Mas sua realização é a conquista do ideal. Eles esquecem que
mesmo em uma experiência fracassada e em um ato impensado pode existir emoções
indefiníveis, momentos de satisfação absoluta e reconhecimento do que se é. Os
prometéicos desenvolvem a mente, enquanto o fígado vai sendo comido. Enchem a
cabeça, mas ficam com o coração vazio.
Epimeteu é o espírito aventureiro da criança ou o símbolo do pensamento selvagem
que conhece as coisas ao vivê-las para depois classificá-las. Seu destino também é
cruel, viver como ele vive é seu padecimento. Epimeteu, diferentemente, brinca e
cansa, deita e rola, corre e rasteja, distraidamente goza, confia o futuro ao
futuro.
O mito pode ser uma metáfora da vida. Somos seres uniduais. Somos metade Prometeu,
metade Epimeteu. Somos razão e desrazão. Somos mortais e semideuses. Viver bem é
aceitar a vida como ela é. É se aceitar. A vida prometeica é dolorida. A vida
epimeteica é sofrida. A vida não deve negar a si mesma. A vida tem suas dores e
delícias. Negar um lado de si é negar-se todo. Quem se nega não vive. Assumir o
contrário de si que o constitui é abraçar-se e viver em plenitude.
SOBRE O AUTOR:
É coordenador desta coluna, prof. (Ms) do Departamento de Ciências Sociais,
pesquisador do Grupo de Estudos da Complexidade (GRECOM/UFRN/UERN)

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