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QUARTA-FEIRA
Comentando esta passagem do Evangelho, Santo Ambrósio diz que “desde
o começo da Igreja Jesus já buscava a multidão. E por quê? Porque [...], para
curar, não há tempo nem lugar determinados. Em todos os lugares e tempos se
háde aplicar o remédio”3. Ao mostrarnos a infatigável actividade de Cristo, o
Evangelho ensinanos qual o caminho que devemos seguir com os que vivem
afastados da fé, com tantas e tantas almas que ainda não se aproximaram
d’Ele para serem curadas.
Devemos servir a todos, tratálos como Cristo os trataria no nosso lugar, com
o mesmo apreço, com o mesmo respeito, a cada um individualmente, tendo em
conta as suas circunstâncias peculiares, o seu modo de ser, a situação em que
se encontram, sem aplicar a todos a mesma receita. São pessoas que vêm ao
nosso encontro por motivos profissionais, de vizinhança, de interesse, ou por
termos gostos comuns. E outras que vamos buscar lá onde se encontram para
leválas até Deus, “como o médico busca o doente. Com a salvação de uma só
alma por mediação de outro, pode obterse o perdão de muitos pecados”5.
II. O SENHOR ESPERA os nossos amigos, os nossos colegas de estudo ou
de trabalho, os nossos filhos ou irmãos... como fazia quando estava na terra:
um a um. Devemos ter em conta as circunstâncias peculiares, a idade, a
saúde, etc. de cada um deles. Devemos saber avaliar cada um pelo preço
infinito do Sangue redentor com que foram resgatados.
Ao acompanhálos até Jesus, chocaremos com resistências, talvez durante
muito tempo; são consequência da dificuldade dos homens em secundar o
querer de Deus, dadas as sequelas que o pecado original deixou na alma, e
que se agravaram depois pelos pecados pessoais. Noutros casos, essa
passividade será consequência da ignorância ou do erro em que estão. Seja
como for, temos a grata obrigação de rezar e oferecer mortificações, horas de
trabalho ou de estudo por eles, de intensificar a amizade..., tanto mais quanto
maior for a resistência que opuserem.
Todo o apostolado exige uma atitude paciente, que nunca é desleixo ou
indolência, mas parte da virtude da fortaleza. A paciência implica uma
perseverança tenaz em conseguir os frutos desejados. Muitas vezes será
necessário caminhar pouco a pouco, “como que por um plano inclinado”, sem
nunca desanimar por nos parecer que os nossos amigos não avançam ou
retrocedem. O Senhor já conta com essas situações e dá as graças oportunas.
Ele já impôs as mãos sobre cada um desde o momento em que decidimos
junto do Sacrário leválos até Ele.
Nos casos difíceis e lentos, é salutar recordarmos a paciência que Deus teve
connosco, considerar quanto nos perdoou, quantas vezes o fizemos esperar.
Que esperas as do nosso Deus! Quantas vezes teve de bater à porta da nossa
alma! Se nos tivesse abandonado quando não respondemos à sua primeira
chamada, ou à segunda, ou à sétima..., que longe d’Ele estaríamos agora! O
nosso empenho nunca será estéril, porque o apostolado perseverante nos leva
pessoalmente a amar mais a Deus, e porque é sempre eficaz, mais cedo ou
mais tarde.
III. HOJE SÃO MUITOS os que nada sabem de Cristo. E o Senhor põe em
nosso coração a urgência de combater tanta ignorância, difundindo por toda a
parte a boa doutrina, com iniciativas e por meios bem diversos. “Esta missão –
recordanos o Papa João Paulo II – não é exclusiva dos ministros sagrados ou
do mundo religioso, mas deve abarcar o âmbito dos leigos, da família, da
escola. Todo o cristão deve participar da tarefa de formação cristã. Deve sentir
a urgência de evangelizar, que não é glória para mim, mas necessidade (1 Cor
9, 16)”7. Só se olharmos para Cristo, porém, só se o amarmos, é que
venceremos a preguiça e o comodismo, e sairemos da torre de marfim que
cada um tende a construir à sua volta.
Olhemos para Cristo na nossa oração e contemplemos também os que nos
rodeiam: o que fizemos até agora para aproximálos do Senhor? Olhemos para
a nossa família, para os colegas de trabalho ou de estudo: não teremos
desperdiçado muitas ocasiões de lhes dar a conhecer a figura e a doutrina de
Cristo? Não nos teremos cansado de tentar fazêlo?
Naquela tarde, foram muitos os que receberam a cura e uma palavra de
alento, um gesto de compreensão por parte do Mestre: Posto o sol, todos
quantos tinham enfermos de várias moléstias lhos traziam, e Ele, impondo as
mãos a cada um, curava os. Que alegria para os doentes... e para os que os
tinham aproximado de Jesus! O apostolado, com toda a carga de sacrifício que
traz consigo, é ao mesmo tempo uma tarefa imensamente alegre. Que grande
missão não é levar os amigos até Jesus para que Ele lhes imponha as mãos e
os cure!
“És, entre os teus, alma de apóstolo, a pedra caída no lago. – Provoca, com
o teu exemplo e com a tua palavra, um primeiro círculo...; e este, outro... e
outro, e outro... Cada vez mais largo.
“Compreendes agora a grandeza da tua missão?”8
(1) Lc 4, 3844; (2) cfr. Mc 1, 33; (3) Santo Ambrósio, Tratado sobre a virgindade, 8, 10; (4)
Josemaría Escrivá, Forja, n. 901; (5) São João Crisóstomo, em Catena Aurea, vol. V, pág. 238;
(6) Ti 5, 78; (7) João Paulo II, Discurso em Granada, 15XI1982; cfr. Exort. Apost.
Christifideles laici, 30XII1988, n. 33; (8) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 831.