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TEMPO COMUM. VIGÉSIMA SEGUNDA SEMANA.

QUARTA-FEIRA

87. IMPUNHA-LHES AS MÃOS


– Ajudar a todos, tratar a cada um como Cristo o teria feito no nosso lugar.

– Pacientes e constantes no apostolado.

– Difundir por toda a parte a doutrina de Cristo.

I.  RELATA­NOS   O   EVANGELHO  da   Missa1  que,   tendo­se   posto   o   sol, 


começaram   a   trazer   à   presença   de   Cristo   numerosos   doentes   para   que   os 
curasse. É bem possível que aquele dia fosse um sábado, pois ao cair do sol o 
descanso   sabático,   tão   escrupulosamente   observado   pelos   fariseus,   já   não 
obrigava. Os doentes eram muito numerosos. São Marcos2  frisa que  toda a  
cidade se tinha reunido diante da porta. São Lucas, por sua vez, acrescenta um 
detalhe singular ao dizer­nos que o Senhor os curou impondo as mãos sobre 
cada  um  –  singulis  manus  imponens  –.  Repara   atentamente  nos  doentes   e 
dedica a cada um toda a sua atenção, porque qualquer pessoa é única para 
Ele.

Comentando esta passagem do Evangelho, Santo Ambrósio diz que “desde 
o começo da Igreja Jesus já buscava a multidão. E por quê? Porque [...], para 
curar, não há tempo nem lugar determinados. Em todos os lugares e tempos se 
há­de aplicar o remédio”3. Ao mostrar­nos a infatigável actividade de Cristo, o 
Evangelho ensina­nos qual o caminho que devemos seguir com os que vivem 
afastados da fé, com tantas e tantas  almas que ainda não  se  aproximaram 
d’Ele para serem curadas.

“Nenhum   filho   da   Igreja   Santa   pode   viver   tranquilo   sem   experimentar 


inquietação   perante   as   massas   despersonalizadas:   rebanho,   manada,   vara, 
escrevi   certa   vez.   Quantas   paixões   nobres   não   existem   na   sua   aparente 
indiferença! Quantas possibilidades!

“É   necessário   servir   a   todos,   impor   as   mãos   sobre   cada   um   –   «singulis 


manus imponens», como fazia Jesus –, para devolvê­los à vida, para iluminar 
as suas inteligências e robustecer as suas vontades, para que sejam úteis!”4

Devemos servir a todos, tratá­los como Cristo os trataria no nosso lugar, com 
o mesmo apreço, com o mesmo respeito, a cada um individualmente, tendo em 
conta as suas circunstâncias peculiares, o seu modo de ser, a situação em que 
se encontram, sem aplicar a todos a mesma receita. São pessoas que vêm ao 
nosso encontro por motivos profissionais, de vizinhança, de interesse, ou por 
termos gostos comuns. E outras que vamos buscar lá onde se encontram para 
levá­las até Deus, “como o médico busca o doente. Com a salvação de uma só 
alma por mediação de outro, pode obter­se o perdão de muitos pecados”5.

Aprendamos   neste   tempo   de   oração   a   ter   pelo   nosso   próximo   o   mesmo 


interesse   que   tinham   os   que   se   reuniam   à   porta   da   casa   onde   Jesus   se 
encontrava, levando­lhe os doentes para que os curasse. Vejamos junto d’Ele 
se os tratamos com a mesma solicitude – singulis manus imponens – com que 
Jesus os atendia.

II. O SENHOR ESPERA os nossos amigos, os nossos colegas de estudo ou 
de trabalho, os nossos filhos ou irmãos... como fazia quando estava na terra: 
um   a   um.   Devemos   ter   em   conta   as   circunstâncias   peculiares,   a   idade,   a 
saúde,   etc.   de   cada   um   deles.   Devemos   saber   avaliar   cada   um   pelo   preço 
infinito do Sangue redentor com que foram resgatados.

Ao acompanhá­los até Jesus, chocaremos com resistências, talvez durante 
muito   tempo;   são   consequência   da   dificuldade   dos   homens   em   secundar   o 
querer de Deus, dadas as sequelas que o pecado original deixou na alma, e 
que   se   agravaram   depois   pelos   pecados   pessoais.   Noutros   casos,   essa 
passividade será consequência da ignorância ou do erro em que estão. Seja 
como for, temos a grata obrigação de rezar e oferecer mortificações, horas de 
trabalho ou de estudo por eles, de intensificar a amizade..., tanto mais quanto 
maior for a resistência que opuserem.

Todo   o   apostolado   exige  uma   atitude   paciente,   que   nunca   é   desleixo   ou 
indolência,   mas   parte   da   virtude   da   fortaleza.   A   paciência   implica   uma 
perseverança   tenaz   em   conseguir   os   frutos   desejados.   Muitas   vezes   será 
necessário caminhar pouco a pouco, “como que por um plano inclinado”, sem 
nunca   desanimar   por   nos   parecer   que   os   nossos   amigos   não   avançam   ou 
retrocedem. O Senhor já conta com essas situações e dá as graças oportunas. 
Ele já impôs as mãos sobre cada um desde o momento em que decidimos 
junto do Sacrário levá­los até Ele.

Nos casos difíceis e lentos, é salutar recordarmos a paciência que Deus teve 
connosco, considerar quanto nos perdoou, quantas vezes o fizemos esperar. 
Que esperas as do nosso Deus! Quantas vezes teve de bater à porta da nossa 
alma! Se nos tivesse abandonado quando não respondemos à sua primeira 
chamada, ou à segunda, ou à sétima..., que longe d’Ele estaríamos agora! O 
nosso empenho nunca será estéril, porque o apostolado perseverante nos leva 
pessoalmente a amar mais a Deus, e porque é sempre eficaz, mais cedo ou 
mais tarde.

Alguns   chegarão  à   presença  do   Senhor   depois   de  uns   dias   de   contacto, 


outros depois de não poucos anos. Uns, na primeira conversa; outros, depois 
de uma longa espera. Uns poderão correr desde o princípio, outros mal terão 
forças para dar um pequeno passo. Devemos tratar cada um de acordo com a 
sua   situação   humana   e   sobrenatural,   sem   nos   cansarmos,   sem   fórmulas 
gerais.   O   médico   não   utiliza   a   mesma   receita   para   todos,   nem   o   alfaiate   o 
mesmo corte ou o mesmo modelo.  Perseverai pois com paciência, irmãos  – 
aconselha   o   Apóstolo   São   Tiago   –,  até   à   vinda   do   Senhor.   Vede   como   o  
lavrador   espera   o   precioso   fruto   da   terra,   aguardando   com   paciência   até  
receber a chuva temporã e a serôdia. Aguardai também vós com paciência e  
fortalecei os vossos corações6.

Com   prudência   sobrenatural,  e   portanto   sem  falsas   prudências   humanas, 


sem adiamentos nem receios covardes, insistiremos com os nossos amigos, 
parentes   e   colegas,   usando   ao   mesmo   tempo   de   uma   grande   caridade   e 
compreensão. Se os inimigos de Deus porfiam tanto em afastá­los d’Ele, como 
não havemos nós de ser perseverantes, nós que só queremos fazer­lhes bem? 
Senhor, tu sabes que só queremos o melhor para eles!

III. HOJE SÃO MUITOS os que nada sabem de Cristo. E o Senhor põe em 
nosso coração a urgência de combater tanta ignorância, difundindo por toda a 
parte a boa doutrina, com iniciativas e por meios bem diversos. “Esta missão – 
recorda­nos o Papa João Paulo II – não é exclusiva dos ministros sagrados ou 
do   mundo   religioso,   mas   deve   abarcar   o   âmbito   dos   leigos,   da   família,   da 
escola. Todo o cristão deve participar da tarefa de formação cristã. Deve sentir 
a urgência de evangelizar, que não é glória para mim, mas necessidade (1 Cor 
9,   16)”7.   Só   se   olharmos   para   Cristo,   porém,   só   se   o   amarmos,   é   que 
venceremos a preguiça e o comodismo, e sairemos da  torre de marfim  que 
cada um tende a construir à sua volta.

Olhemos para Cristo na nossa oração e contemplemos também os que nos 
rodeiam: o que fizemos até agora para aproximá­los do Senhor? Olhemos para 
a   nossa   família,   para   os   colegas   de   trabalho   ou   de   estudo:   não   teremos 
desperdiçado muitas ocasiões de lhes dar a conhecer a figura e a doutrina de 
Cristo? Não nos teremos cansado de tentar fazê­lo?
Naquela tarde,  foram muitos  os que  receberam a cura  e  uma  palavra  de 
alento,   um   gesto   de   compreensão   por   parte   do   Mestre:  Posto   o   sol,   todos  
quantos tinham enfermos de várias moléstias lhos traziam, e Ele, impondo as  
mãos a cada um, curava­ os. Que alegria para os doentes... e para os que os 
tinham aproximado de Jesus! O apostolado, com toda a carga de sacrifício que 
traz consigo, é ao mesmo tempo uma tarefa imensamente alegre. Que grande 
missão não é levar os amigos até Jesus para que Ele lhes imponha as mãos e 
os cure!

Ajudar­nos­á  a  fazer   um   apostolado   incessante   a   consideração   de   que   o 


bem que realizamos tem sempre um efeito multiplicador. Os que viram naquela 
tarde   que   Cristo   se   detinha   junto   deles   e   lhes   impunha   as   mãos   divinas 
perceberam que as suas vidas já não podiam ser como antes. Converteram­se 
em novos apóstolos, que iriam difundindo por toda a parte a boa nova de que 
existia  o Caminho,  a Verdade  e a Vida, e de que eles  o  tinham conhecido. 
Foram­no   apregoando   por   todos   os   lugares   aonde   iam.   Isso   é   o   que   nós 
devemos fazer:

“És, entre os teus, alma de apóstolo, a pedra caída no lago. – Provoca, com 
o teu exemplo e com a tua palavra, um primeiro círculo...; e este, outro... e 
outro, e outro... Cada vez mais largo.

“Compreendes agora a grandeza da tua missão?”8

(1) Lc 4, 38­44; (2) cfr. Mc 1, 33; (3) Santo Ambrósio, Tratado sobre a virgindade, 8, 10; (4) 
Josemaría Escrivá, Forja, n. 901; (5) São João Crisóstomo, em Catena Aurea, vol. V, pág. 238; 
(6) Ti 5, 7­8; (7) João Paulo II, Discurso em Granada, 15­XI­1982; cfr. Exort. Apost. 
Christifideles laici, 30­XII­1988, n. 33; (8) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 831.

(Fonte: Website de Francisco Fernández Carvajal AQUI)

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