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EDITORIAL

VOCAÇÃO E MISSÃO
SUMÁRIO
abril 2008/03

"V
ocações a serviço da Igreja – missão” é o tema
da mensagem que Bento XVI escreveu para
o 45º Dia Mundial de Oração pelas Vocações,
marcado para 13 de abril. Nela o papa afirma
que “a Igreja é missionária em toda a sua dimen-
são e em todos os seus membros”, pois pelos
sacramentos do Batismo e Confirmação, “todo cristão é chamado
a testemunhar e a anunciar o Espírito”, desenvolvendo a “dimen- 1 - Indígena Kayapó da Aldeia
são missionária”, mas, que assume “especial ligação à missão do Kikretum, Pará.
Foto: Antônio Cruz/ABr
sacerdócio”. A mensagem recorda dos homens e mulheres que
dedicam a sua vida a Deus, “aqueles que são chamados, são es- 2 - Marino Alvarado Betancourt.
colhidos e enviados em Seu nome, na missão de serem profetas e Foto: Jaime C. Patias
sacerdotes”. Entre os que dedicam sua vida a
Divulgação

Cristo, “há um grupo particular de padres, os


administradores dos Sacramentos, em espe-  Mural-----------------------------------------------------04
cial da Eucaristia e Reconciliação, dedicados Congresso Missionário Nacional
aos doentes, aos que sofrem, aos pobres e  OPINIÃO--------------------------------------------------05
àqueles que atravessam tempos complica- 46ª Assembléia Geral da CNBB
José Carlos Stoffel
dos”. O papa enaltece também o papel dos
que seguem a Vida Religiosa, professando  COMEMORAÇÃO---------------------------------------06
votos de castidade, pobreza e obediência, 42º Dia Mundial das Comunicações
Redação
e conclui referindo-se ao papel das famílias
cristãs e das comunidades. “Para que a Igreja possa continuar a  PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
desenvolver sua missão e para que nunca faltem os evangelizadores Defensores da Vida
Rosa Clara Franzoi
que o mundo precisa, as comunidades cristãs não devem parar
de comprometer e apostar numa educação cristã de seus filhos e  VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08
Notícias do Mundo
filhas e desenvolver a fé dos adultos”, pois o “dom do cristão é ser Fides / Zenit
chamado a contribuir para a evangelização”.
Nesse contexto encontra-se a vocação dos leigos missionários,  ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10
São Paulo: apóstolo e missionário
homens, mulheres, casados ou solteiros, adultos ou jovens, adoles- Giovanni Crippa
centes e até crianças que, respondendo ao chamado de Deus para
a Santidade pelo Batismo, assumem a missão com maior seriedade  TESTEMUNHO-------------------------------------------12
As surpresas da vocação
porque entendem que todo batizado é discípulo missionário. Cresce Rosanna Marchetti
no mundo os grupos e associações de leigos e leigas que se dedicam
 FÉ E POLÍTICA -------------------------------------------14
à causa missionária no interior e além-fronteiras de suas comunida- Palavras de Fé e Política
des. Muitos pedem para participar do carisma, da espiritualidade e Humberto Dantas
da missão dos Institutos e Congregações missionárias Ad Gentes.
 FORMAÇÃO MISSIONÁRIA----------------------------15
À luz do Documento de Aparecida, a realização do 2º Congresso Missão para a humanidade
Missionário Nacional, de 1 a 4 de maio, deve avaliar a missão da Estevão Raschietti
Igreja e propor caminhos para passar “do Brasil de batizados ao  Juventude missionária ----------------------------19
Brasil de discípulos missionários sem fronteiras”. O evento nos pre- Insatisfação
para para o 3º Congresso Missionário Americano (CAM 3–Comla 8). Patrick Gomes Silva
Nessa linha de reflexão, publicamos nesta edição o artigo sobre a  DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20
Missão Ad Gentes como “missão para a humanidade”, uma visão da Povos indígenas ameaçados
sociedade mundial como “família humana universal”. Ajudar a Igreja José Rosha
a perceber-se como assembléia dos vocacionados e vocacionadas  AÇÃO SOCIAL ------------------------------------------22
para a missão universal é resgatar a sua verdadeira identidade. Na Evangelizar resgatando a dignidade
origem de seu nome, Ecclesia, está indicada sua íntima fisionomia Rosa Clara Franzoi
vocacional, porque é verdadeiramente “convocação”, “Assembléia  infância missionária ------------------------------24
dos Chamados”. A vocação e a Missão estão profundamente inter- Dá uma carona aí, tio!
Roseane de Araújo Silva
ligadas: a vocação ao discipulado missionário é convocação para
a comunhão na Igreja (DA, 171) e a comunhão é essencialmente  ENTREVISTA MARINO ALVARADO--------------------26
missionária. Nenhum chamado é dispensado do envio e todo Direitos Humanos na Venezuela
Jaime Carlos Patias
enviado deve antes ser convocado, vocacionado. Neste sentido,
Aparecida nos lembrou que, para o batizado, a Missão não é fator  ATUALIDADE----------------------------------------------28
opcional. Isso diz respeito à identidade íntima da Igreja, que é, “por Tempo de incertezas no Timor Leste
Leonídio Paulo Ferreira
sua natureza, missionária” (AG 2). Discipulado e Missão, chamado
e envio, seguimento e anúncio, constituem uma dimensão essencial  volta ao brasil---------------------------------------30
Cimi / CNBB / Notícias do Planalto
da natureza cristã, do mistério da Igreja. 

- Abril 2008 3
Mural do Leitor
Ano XXXV - Nº 03 Abril 2008 Revista Missões lise do Documento de Aparecida e outros
temas contidos na revista têm sido uma
Diretor: Jaime Carlos Patias Deixo aqui meu depoimento do quanto fonte de informação, ajudado muito nos
tem sido importante a revista Missões para encontros na comunidade e contri­buído para
Editor: Maria Emerenciana Raia mim, minha família e, por extensão, a co- elaboração do nosso subsídio “A Palavra
munidade à qual pertenço. Foi uma bela de Deus na Vida do Povo” utilizado em
Equipe de Redação: Patrick Gomes descoberta, quando fui presenteado com um nossa diocese de São José dos Campos,
Silva, Cristina Ribeiro Silva, Rosa Clara de seus exemplares em um encontro das SP, na reflexão dos grupos das CEBs que
Franzoi, Júlio César Caldeira, Michael CEBs. Pude então verificar a profundidade se reúnem nas casas.
de seu conteúdo, linguagem acessível, de Por tudo isso, posso afirmar que Mis-
Mutinda e Corrado Dalmonego
fácil entendimento e a beleza das ilustra- sões tem sido uma grande oportunidade
ções que me levam a refletir, além do bom de sermos presença ativa e transformadora
Colaboradores: José Tolfo, Vitor
gosto na escolha das capas. Esta revista na sociedade em que vivemos, nos pro-
Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz
tem sido um despertar e um chamamento porcionando atualizar o conhecimento da
Balsan, Roseane de Araújo Silva, Hum-
à Missão, pois não tem sentido dizer que realidade e colocar em prática o testemunho
berto Dantas, Luiz Carlos Emer, Dirceu
somos Igreja se não houver de nossa parte de tantos homens e mulheres que fizeram
Benincá e Ricardo Castro
uma ação missionária. A partir do momento de suas vidas uma missão. “Eu vim para
que me tornei assinante, o entendimento do que todos tenham vida e a tenham em
Agências: Adital, Adista, CIMI,
que é ser missionário, do estar em Missão, abundância” (Jo 10,10).
CNBB, Fides, IPS, MISNA, Radioagência passou a se fazer mais presente, percebi Um abraço fraterno à toda equipe e
Notícias do Planalto e Vaticano a urgência de ir ao encontro do outro, de aos leitores de Missões.
sair do mundinho em que vivemos e nos
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires lançarmos ao largo, desafiando as barreiras Luiz Marinho, animador de comunidade
do comodismo e do individualismo. A aná- Paróquia Coração de Jesus, São José dos Campos, SP.
Jornalista responsável:
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532)
2º Congresso Missionário Nacional
Administração: Eugênio Butti avalia a Missão da Igreja no Brasil
Sociedade responsável: Com o tema “do Brasil de batizados, um número proporcional de sacerdotes e
Instituto Missões Consolata ao Brasil de discípulos missionários sem religiosas para cada Regional, três semi-
(CNPJ 60.915.477/0001-29) fronteiras”, Aparecida recebe, de 1 a 4 de naristas maiores e leigos empenhados na
maio, o 2º Congresso Missionário Nacional. vida e na animação missionária de suas
Impressão: Edições Loyola A iniciativa é das Pontifícias Obras Missio- comunidades. As inscrições são limitadas
Fone: (11) 6914.1922 nárias – POM, Comina, CNBB e CRB, e e estão sendo efetuadas através dos
situa-se no caminho de preparação para o ­Coordenadores dos Conselhos Missio-
Colaboração anual: R$ 45,00 3º Congresso Missionário Americano CAM nários Regionais (Comires).
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 3-Comla 8, marcado para Quito, Equador, de Entre os objetivos específicos estão:
Instituto Missões Consolata 12 a 17 de agosto. Em sintonia com o lema: “refletir sobre o projeto missionário da Igreja
(a publicação anual de Missões é de 10 números) “Igreja do Brasil: escuta, segue e anuncia”, no Brasil em todas as suas dimensões; aco-
o evento torna-se um momento privilegiado lher experiências missionárias significativas;
Missões é produzida pelos para refletir sobre o percurso missionário fortalecer as comunidades missionárias e
Missionários e Missionárias da Consolata que o país deve empreender e celebrar as os Conselhos Missionários (Comires); (ver
Fone: (11) 2256.7599 - São Paulo/SP graças recebidas, agradecendo pela vida artigo “Missão para a humanidade”, nesta
(11) 2231.0500 - São Paulo/SP de testemunhas da fé nesse chão. edição, páginas 15 a 18).
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR O objetivo do Congresso é “assumir a Os Meios de Comunicação interessados
nossa ‘natureza missionária’, guiados pelo em fazer a cobertura do evento ou publicar
Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Espírito e a serviço do Reino de Deus, à luz matérias sobre os temas em discussão,
Missionária Latino-Americana) e da UCBC do Documento de Aparecida, tendo em vista podem contatar o assessor de imprensa do
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social) o CAM 3–Comla 8”. A organização prevê a Congresso, padre Jaime Carlos Patias, tel.:
participação de 500 pessoas representando (11) 2256.8820. Todo o material referente
Redação os 17 regionais da CNBB que durante o
Congresso serão acolhidas pelas famílias
ao Congresso encontra-se disponível no
site: www.revistamissoes.org.br
Rua Dom Domingos de Silos, 110
02526-030 - São Paulo de Aparecida e Guaratinguetá.
Fone/Fax: (11) 2256.8820 De cada Regional participam o bispo Secretaria do 2° Congresso Missionário Nacional
Site: www.revistamissoes.org.br responsável pela dimensão missionária, A/c Regina Araújo
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br representantes dos Conselhos Missioná- Tel.: (12) 3928-3912
rios, da Infância e Juventude Missionárias, E-mail: centpast@diocesesjc.org.br

4 Abril 2008 -
46ª Assembléia
Assessoria de Imprensa CNBB

OPINIÃO
Geral da CNBB

Bispos reunidos na 45ª Assembléia, 2007, Itaici, SP.

As esperanças e desafios de uma Igreja missionária.


de José Carlos Stoffel -, deverão ser retomadas a partir da Missão, não como tarefa
opcional, mas parte integrante da identidade cristã (DA 144).
A perspectiva missionária orientará a evangelização nos seus

U
diferentes níveis: a) pessoa – formar discípulos missionários, a
ma grande expectativa em relação à 46ª Assembléia partir do encontro pessoal com Cristo, valorizando a dimensão da
Geral dos Bispos, a ser realizada neste mês de subjetividade, porém, sem cair no subjetivismo fragmentário da
abril, é a aprovação das novas Diretrizes da Ação sociedade pós-moderna; b) comunidade – transformar nossas
Evangelizadora da Igreja no Brasil. Estávamos em paróquias e comunidades em verdadeiros centros de irradiação
compasso de espera, por causa da V Conferência missionária e c) sociedade – radicalizar a opção pelos pobres
Geral do CELAM, que é o farol a iluminar a nossa como sujeitos de mudança e transformação de sua situação
ação. Assim como a Palavra de Deus na Bíblia precisa da her- (DA 394), partindo do princípio de que o “encontro com Jesus
menêutica, isto é, ser lida e interpretada a partir da realidade Cristo nos pobres é uma dimensão constitutiva de nossa fé em
em que vivemos e da comunidade crente, também o Magistério Jesus Cristo” (DA 257).
Eclesiástico precisa disso. Senão, caímos no erro do funda- Para essa gigantesca tarefa, há que priorizar a formação dos
mentalismo dogmático. Os contextos mudam, e por isso, muda discípulos, especialmente dos agentes leigos como protagonistas
a leitura que se faz das orientações da Igreja, em cada país. O da evangelização. Esperamos que em Itaici, se tenha a cora-
Brasil, de língua portuguesa, tem seus próprios desafios e uma gem dessa inversão radical de prioridades e posturas, quando
multifacetada realidade social, cultural e religiosa e uma Igreja vemos tantos sinais de retrocessos, de fuga para as sacristias
Católica com forte presença profética. Os bispos, começando (sem nenhum espírito missionário), quando a realidade plural
por eles mesmos, nos orientarão quanto à necessária conver- abala os conceitos e modelos pastorais e a sociedade cada vez
são pastoral (DA 366), à superação de estruturas arcaicas que mais secular, fragmentada e esvaziada de sentido cria os seus
sustentam uma pastoral de conservação e como uma espirituali- ídolos. Estejamos alertas para que também não sucumbamos à
dade de comunhão missionária vai animar todos os organismos tentação de fazer nossos “bezerros de ouro” diante dos desafios.
eclesiais (DA 203). O discípulo missionário deve ser um ministro da esperança como
nos pede o papa Bento XVI (Spe Salvi, 34). 
Igreja missionária
O Documento de Aparecida nos desafia a sermos uma Igreja José Carlos Stoffel, fpm, é Mestre em Telogia e membro da Fraternidade Palavra e Missão. Pesquisador
realmente missionária. As exigências intrínsecas da evangeli- de temas ecumênicos. Pároco em Guaianases, São Miguel Paulista, SP, Paróquia São Francisco de
zação: testemunho de comunhão - serviço, diálogo e anúncio Assis. Autor do livro Ecumenismo de Justiça, Editora Oikos - São Leopoldo, RS, 2006.

- Abril 2008 5
42º Dia Mundial
das Comunicações
"O
s media: na encruzilhada entre protagonismo e dos fatos e a difusão do saber: por exemplo, contribuíram de
serviço. Procurar a Verdade para compartilhá-la”, é modo decisivo para a alfabetização e a socialização, como
o tema da mensagem do papa Bento XVI para o 42º também para o avanço da democracia e do diálogo entre os
Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado povos”, afirma o Pontífice.
no Domingo da Ascensão do Senhor, que neste ano Ao longo dos tempos, os meios de comunicação têm contribuído
de 2008 será no dia 4 de maio. A comemoração foi para o diálogo e a paz, garantindo o acesso à informação e promo-
instituída pelo Concílio Vaticano II, com o decreto Inter Mirifica vendo os “ideais de solidariedade e justiça social”. A mensagem
(Entre as coisas maravilhosas), sobre as Comunicações Sociais, argumenta que “os media, no seu conjunto, não servem apenas
em 4 de dezembro de 1963. para a difusão das idéias, mas podem e devem ser também instru-
Na sua mensagem, Bento XVI convida a refletir sobre o pa- mentos a serviço de um mundo mais justo e solidário”.
pel dos meios de comunicação, em referência ao perigo de que O papa chama a atenção para o risco de os meios se
deixem de ser exclusivamente utilizados a serviço da verdade, transformarem em sistemas que visam submeter o ser humano
destacando “como é importante o papel destes instrumentos a lógicas ditadas pelos interesses de momento. “É o caso de
na vida das pessoas e da sociedade”. Com a evolução tecno- uma comunicação usada para fins ideológicos ou para a venda
lógica, “os referidos meios foram adquirindo potencialidades de produtos de consumo mediante uma publicidade obsessiva.
extraordinárias, ao mesmo tempo em que levantavam novas e Com o pretexto de se apresentar a realidade, de fato tende-se
inéditas interrogações e problemas. É inegável a contribuição a legitimar e a impor modelos errados de vida pessoal, familiar
que podem dar para a circulação das notícias, o conhecimento ou social. Além disso, para atrair os ouvintes, por vezes não se
hesita em recorrer à transgressão, à vulgaridade e à violência”,
além de aumentar a desigualdade entre países ricos e pobres.
Bento XVI recorre à Encíclica Spe Salvi, voltando ao tema da
ambigüidade do progresso, que, segundo ele, “oferece inéditas
potencialidades para o bem, mas ao mesmo tempo abre possibili-
dades abissais de mal que antes não existiam (cf. n. 22). O papa
chama a atenção para a capacidade que a comunicação tem
hoje de “não só apresentar a realidade, mas também determinar.
Constata-se, por exemplo, que em certos casos os media são
utilizados não para um correto serviço de informação, mas para
“criar” os próprios acontecimentos”, sublinha a mensagem. (...)
“No setor das comunicações sociais estão em jogo dimensões
constitutivas do homem e da sua verdade”.
Bento XVI finaliza a mensagem afirmando: “é preciso evitar
que os media se tornem o megafone do materialismo econômico
e do relativismo ético, verdadeiras pragas do nosso tempo. Pelo
contrário, eles podem e devem contribuir para dar a conhecer a
verdade”. Ante a sede da verdade o ser humano deve buscá-la,
nas “muitas publicações, programas ou filmes de qualidade, onde
são reconhecidas e bem apresentadas a verdade, a beleza e a
grandeza da pessoa, incluindo a sua dimensão religiosa. Jesus
disse: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,
32). Contudo “a Verdade que nos torna livres é Cristo”.
O Decreto Ad Gentes considera os meios de comunicação
indispensáveis na evangelização e recomenda o seu uso para
criar uma consciência missionária (AG 26). A evangelização é
comunicação e, portanto, devemos ter em conta os meios em
todos os aspectos na transmissão da Boa Nova. Como vemos,
comunicação e missão têm tudo a ver. Neste sentido, celebrar
no dia 4 de maio, o 42º Dia das Comunicações Sociais no en-
cerramento do 2º Congresso Missionário Nacional, transforma-se
numa oportunidade para a Igreja do Brasil levar mais a sério a
comunicação a serviço da evangelização. 

6 Abril 2008 -
Defensores da Vida

pró-vocações
Sem metas definidas, é ilusão querer ter êxito.

Cecília de Paiva
de Rosa Clara Franzoi

A
Campanha da Fraternidade 2008 com o tema: "Fra-
ternidade e defesa da vida" e o lema: "Escolhe, pois,
a vida" (Dt 30,19), nos dá o ensejo de, mais uma vez,
debruçar nossa atenção sobre um assunto de suma
importância, qual seja, a vida em todas as suas di-
mensões. Ela é o mais valioso dos dons que o Criador
deu ao ser humano para que ele pudesse ser feliz e realizado.
Mas, será que todos acreditam nesta afirmação? Constatamos
muitas vezes, que não vemos nem sentimos a vida como um
dos principais fundamentos que marcam o nosso existir e de-
terminam o nosso agir. O tema proposto pela CF chega em boa
hora, conclamando todos a uma séria tomada de consciência.
Pensa-se pouco nesta realidade: a vida é uma só e se não a
desenvolvemos com responsabilidade, estamos traindo a nossa
vocação de pessoas chamadas pelo Criador a realizá-la em
plenitude, para que alcance o seu fim. Daí, o primeiro passo a
ser dado desde a infância é o de descobrir e dar à própria vida Lília, da Paróquia São Pedro e Márcia Freitas, da Paróquia Nossa Senhora da Glória,
um sentido, uma direção. Sem metas bem definidas é ilusão em abertura da CF 2008, Campo Grande, MS.
querer alcançar um objetivo. A realização pessoal - vocacional amor, o carinho, a união, incomodam; e por isso, impelidos pela
e profissional - deve ser bem pensada e planejada. força do mal, agridem, violentam e destroem. Também fazem
parte dos caminhos de morte as ameaças ao meio ambiente. O
Caminhos de morte e de vida desenvolvimento tecnológico e as grandes descobertas propor-
A CF sugere a escolha entre dois caminhos: o que conduz ao cionaram ao ser humano grandes poderes sobre a natureza e
mal, à morte, e o que conduz ao bem, à vida. A escolha pareceria sobre o meio ambiente. Porém, o mau uso destes poderes está
fácil e lógica, mesmo porque ninguém quer ser infeliz. Acontece, acarretando graves consequências para a espécie humana e
porém, mesmo conhecendo todas as consequências nefastas para todos os seres vivos sobre a terra. Entre essas ameaças
que recaem sobre quem escolhe os caminhos escusos do mal, estão o efeito estufa e o aquecimento global. Daí, a nossa res-
da mentira, da violência e de tudo o que ofende a dignidade ponsabilidade, atenção e carinho para com o nosso semelhante
humana, muitos adolescentes, jovens e adultos vivem a vida e para com a nossa mãe-terra.
inteira atolados no mal, com sérios prejuízos para si e para toda
a sociedade. Estas situações geram uma cultura de morte, sem O primado da vida humana
Deus, sem lei, alimentada pelos ídolos do poder, do ter sempre Mas, a CF nos indica outra meta: a Cultura da Vida. Vida que
mais, do prazer sem controle, criando uma cultura que adora gera e desenvolve em plenitude a existência humana, em sua
destruir... Temos a impressão que, para certos indivíduos, o dimensão pessoal, familiar, social e cultural. No livro do Gênesis,
bem-estar, a paz, a tranqüilidade e o sossego, o entendimento, o o ser humano – homem e mulher – é colocado no cume da ação
criadora de Deus, como coroamento do processo que vai do caos
indefinido até a criatura mais perfeita. Assim, a vida humana
Quer ser um missionário/a? tem um primado sobre tudo o que existe. Tudo foi entregue à
nossa responsabilidade, de maneira que devemos fazer uso com
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli sabedoria e respeito, jamais subjugando nossos semelhantes
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui nem tentando reduzi-los a "coisas". O convite dessa Quaresma
02611-001 - São Paulo - SP 2008 deve prevalecer para sempre: Convertei-vos em convictos
Tel. (11) 2231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br defensores da vida. 
Centro Missionário “José Allamano” - padre Patrick Gomes Silva
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
Para refletir:
02636-030 - São Paulo - SP Leia o texto do livro de Dt 30, 11-20 e tente responder:
Tel. (11) 2232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br 1. Que preceitos Deus colocou diante do homem e da mulher
quando os criou, pedindo para que escolhessem?
Missionários da Consolata - padre César Avellaneda 2. O que Deus promete aos que escolhem a vida? Isto diz alguma
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 coisa para você? O quê?
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 3624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.

- Abril 2008 7
chinês dois sacerdotes da paróquia de Xiao Ba La Gai,
da diocese de Bao Tou, importante cidade da Mongólia,
organizaram o primeiro Congresso da Evangelização
local, realizado de 13 a 21 de fevereiro. Mais de 1.300
fiéis do lugar e das áreas vizinhas se reuniram sob o
signo da comunhão, percorrendo a difícil e dolorosa
história da comunidade católica local e confirmando
a vontade de prosseguir no caminho da reencontra-
da comunhão à luz do ensinamento de Bento XVI.
Durante a solene Procissão Eucarística para a vigília
do Congresso, mais de 2.000 fiéis acompanharam o
Santíssimo Sacramento da capela provisória para a
igreja grande. No passado, esta comunidade viveu
páginas gloriosas da história da evangelização, que
Roma vem de 1300-1400, com um grande desenvolvimento
Morre Chiara Lubich no século XIX, graças aos missionários de Scheut
Faleceu no dia 14 de março, em sua residência de (CICM). Infelizmente, tudo foi destruído durante a re-
Rocca di Papa, perto de Roma, aos 88 anos, Chiara volução cultural. Quando foi possível reabrir a igreja,
Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, cujo a primeira coisa que fez um sacerdote recém-saído da
VOLTA AO MUNDO

nome oficial é Obra de Maria. É considerada uma das prisão foi celebrar a Santa Missa a céu aberto, sob a
figuras femininas mais importantes do cristianismo neve. Desde essa época, ao longo dos últimos 20 anos
das últimas décadas. de caminho, infelizmente, conflitos, incompreensões e
Chiara nasceu em 22 de janeiro de 1920 e iniciou divergências afetaram a vida da comunidade. Graças
o Movimento na década de 40, quando era professora à oração, à efusão do Espírito Santo e às indicações
do Ensino Fundamental, com um pouco mais de vinte contidas na Carta do papa, os católicos das diversas
anos, em Trento (Itália). comunidades estão novamente juntos, sem rancores,
Divulgação

Havia se matriculado na nem acusações recíprocas. O amor e a comunhão


Faculdade de Filosofia da foram respirados a plenos pulmões durante o Primeiro
Universidade de Veneza, Congresso de Evangelização.
pois queria chegar à ver-
dade mais profunda das Bolívia
coisas e da vida. Mas ha- V Congresso Missionário Nacional
via começado a Segunda “Hoje vivemos um período de graça (DA 548),
Guerra Mundial. Em meio Aparecida nos oferece um programa muito belo para
às bombas, descobriu a nossa vocação missionária, que se segue ao man-
que o único ideal que não dato recebido para ‘ir e fazer discípulos’. O desejo é
se derruba é Deus. Foi crescendo em seu interior o despertar no nosso continente ‘um grande impulso
desejo de ser toda Dele e em 7 de dezembro de 1943, missionário’. Precisamos de um novo Pentecostes,
em solidão e em uma capela de sua cidade, se con- ir ao encontro das pessoas”. Conscientes destas
sagrou por toda a vida. Esta data marca oficialmente necessidades, e dando continuidade aos Congres-
o início do Movimento dos Focolares. Sua casa foi sos Missionários anteriores na Bolívia, dom Sérgio
destruída em 13 de maio de 1944, durante um dos Gualberti, presidente da Comissão Episcopal para as
mais violentos bombardeios que Trento sofreu. Sua Missões e da Área de Evangelização da Conferência
família buscou amparo nas montanhas próximas. Episcopal, dom Tito Solari, arcebispo de Cochabamba,
Chiara decidiu ficar na cidade. Abraçando entre os e padre Eugênio Scarpellini, Secretário-Executivo
escombros uma mãe enlouquecida pela morte de para as Missões e Diretor Nacional das Pontifícias
seus quatro filhos, sentiu que deveria abraçar a dor da Obras Missionárias, convocaram o V Congresso
humanidade, e assim, entre os pobres de sua cidade, Missionário Nacional, que será celebrado na cidade
junto com outros companheiros que a seguiram em de Cochabamba de 16 a 20 de abril. O tema será
sua decisão, ela procurou viver o Evangelho ao pé da “Bolívia com Cristo escuta, aprende e anuncia”. O
letra, como Palavra vivida. Ao fazê-lo, descobriu a mais objetivo é valorizar o trabalho missionário de toda a
poderosa revolução social, capaz de incendiar tudo Igreja boliviana e despertar a consciência missionária
com um só fogo: o amor. O Movimento dos Focolares em todos os âmbitos da Igreja Católica. Segundo os
hoje se encontra difundido em 182 países, com mais organizadores, aguarda-se a participação de cerca
de dois milhões de adeptos. de 500 delegados das 18 jurisdições eclesiásticas da
Bolívia. Os objetivos do Congresso são: “continuar o
China processo e os trabalhos realizados nos Congressos
Frutos da Carta do papa Missionários macro regionais; estudar o Instrumento
A Carta do papa Bento XVI aos bispos, aos pres- de Trabalho e o Documento final da V Conferência
bíteros, às pessoas consagradas e aos fiéis leigos da de Aparecida, para se preparar para o Congresso
Igreja Católica na República Popular da China está Missionário Americano (CAM 3-Comla 8) de Quito
colhendo frutos no campo da evangelização em toda a e iniciar a fase de preparação da Grande Missão
China continental. A comunidade católica da Mongólia, Continental sugerida por Aparecida”. 
graças à Carta, reencontrou a comunhão após 20 anos
de incompreensão e de divisão. Durante o Ano Novo Fonte: Fides, ZENIT.
8 Abril 2008 -
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
Para que, cada vez mais, os futuros

José Tolfo
presbíteros das igrejas jovens sejam formados
cultural e espiritualmente para evangelizar
suas nações e o mundo inteiro.
de Vitor Hugo Gerhard

P
edro, nos Atos dos Apóstolos (At 10, 34-48), nos deixa
cinco indicações preciosas para o ministério sacerdotal:
1. A dimensão antropológica do ministério orde-
nado: ao iniciar seu discurso, ele abre a perspectiva
antropológica da missão sacerdotal, ao afirmar que o
Ordenação de Arley e Boniface, R.D. Congo, maio de 2004.
Evangelho não faz acepção de pessoas. A universalidade da
missão assim o exige e, para ser fiel ao mandato de Jesus, é desejam estar junto? Como podemos excluir, se a lógica de
preciso reconhecer que o Espírito Santo sopra onde quer. No Deus é a inclusão? Essas e outras perguntas são respondidas
Projeto de Deus, estão incluídos todos os povos e todas as no Pentecostes sempre atual e atuante. É o Espírito Santo que
gentes. Por isso, a missão é necessária e sempre atual. Ela nos aponta o caminho da comunhão. É Ele que nos mostra a
tira o manto que encobre o Evangelho escondido no bojo de identidade comum de todos os que foram tocados por Deus.
todas as culturas. 2. A dimensão teológica do ministério A Santíssima Trindade é a melhor comunidade e, na Sua di-
ordenado: Pedro renova sua profissão de fé e mais uma vez reção, todos somos convocados. Ninguém é missionário em
nos defrontamos com o esquema fundamental do que é pri- nome próprio, ninguém evangeliza por si mesmo, ninguém é
mordial, isto é, a afirmação de Jesus histórico (aquele que vós discípulo fora da comunhão com os irmãos. 5. A dimensão
crucificastes e matastes), a afirmação do Cristo da fé (Deus existencial do ministério ordenado: o apóstolo Pedro, numa
O ressuscitou e O constituiu Salvador) e a continuidade do pequena frase, no versículo 48b deste discurso, parece querer
mistério (nós somos testemunhas disso). Toda a missão parte nos dizer que a vontade do Pai é que estejamos juntos como
da cristologia e nela tem seu fim. Não há outro Nome no qual numa grande família. É uma frase de tipo existencial, assim como
somos salvos. 3. A dimensão escatológica do ministério outras tantas que aparecem na Bíblia (“é bom estarmos aqui”,
ordenado: conduzir a humanidade para a Jerusalém celeste diz Pedro no dia da Transfiguração... “que todos sejam um” diz
é tarefa e o fim último da missão. Nós somos discípulos de Jesus no Evangelho de João... “eram todos um só coração e
Jesus, seus seguidores na fé, na esperança e na caridade uma só alma” nos conta Lucas no início dos Atos dos Apóstolos...
e, por Ele, com Ele e Nele encontramos nossa identidade, e assim por diante). A humanidade caminha impulsionada pelo
nosso ser e nosso agir. Nossas entranhas estão impregnadas desejo incontido de comunhão fraterna. Já passamos por tantos
definitivamente pela possibilidade de nos configurar a Cristo percalços na história humana. O aprendizado da fraternidade
e participar da plenitude de Deus. Sem essa perspectiva, o é lento e requer muita paciência. Somos pessoas de cabeças
ministério sacerdotal e toda a missão perde seu sentido e é duras para entender que a harmonia do dia de sábado, quando
melhor voltar para casa, gastando nossos dias num horizonta- Deus “viu que tudo era bom”, ainda é um horizonte a ser buscado,
lismo que se basta a si mesmo. 4. A dimensão eclesiológica um sonho a tornar-se realidade, um caminho a ser trilhado. 
da missão: tudo isso acontece numa comunidade de fé, em
comunhão com os irmãos. Como podemos deixar fora os que Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.

Crescimento da Igreja Católica no mundo


Foi apresentado ao papa Bento XVI o Anuário Pontifício na Ásia e na América, e levemente inferior à tendência geral na
2008. A leitura do volume permite deduzir novidades relativas África, Europa e Oceania. O número de sacerdotes, diocesa-
à Igreja Católica no mundo em 2007. No ano passado, o papa nos e religiosos, passou de 406.411 em 2005 para 407.262 em
erigiu oito novas Sedes Episcopais e uma Prefeitura Apostólica, 2006, com uma variação total de 0,21%. Este número aumentou
foram construídas duas Sedes Metropolitanas e um Vicariato progressivamente de 2000 a 2006. Observando a distribuição
Apostólico. No total, foram nomeados 169 novos bispos. No por continentes, nota-se a redução da presença sacerdotal na
mundo, os católicos passaram, de 2005 a 2006, de 1.115 para Europa e na América, a favor de África e Ásia. Os alunos de
1.131 milhões, com um aumento relativo de 1,4%. De 2005 a Filosofia e Teologia em seminários diocesanos ou religiosos
2006, o número de bispos passou de 4.841 para 4.898, com são 115.480, 0,9% a mais em relação ao ano anterior. Destes,
um aumento relativo de 1,2%. O incremento é constatado em 24.034 estão na África, 37.150 nas Américas, 30.702 na Ásia,
todos os continentes, embora a variação relativa se acentue 22.618 na Europa e 976 na Oceania. Fonte: Vaticano

- Abril 2008 9
Paulo
espiritualidade

apóstolo e missionário
O papa Bento XVI propôs a celebração de um “ano jubilar especial” para comemorar o
nascimento do apóstolo Paulo. O “Ano Paulino” terá início em 28 de junho de 2008, festa
litúrgica de seu martírio, e será prolongado até 29 de junho de 2009.

de Giovanni Crippa seguro de si, convicto da sua fé judaica, a Deus numa idéia, na Lei, mas agora

O
da sua cultura grega, do prestígio de ser encontra o rosto de Deus nos cristãos que
apóstolo Paulo nasceu em cidadão romano. Auto-suficiente, artífice ele mesmo perseguia. O caminho para
Tarso, na região da Cilícia, da sua própria salvação, obtida através encontrar a Deus é o Filho crucificado e
Ásia Menor, atual Turquia (At da observância da Lei. Intransigente com vencedor da morte. O Cristo crucificado é
9, 11; 21, 39; 22, 3; cf. 9, 30; tudo aquilo que afetava suas certezas. o centro da sua pregação: “Nós, pelo con-
11, 25), entre os anos 7 e 10 Lutava por uma idéia: o conceito que trário, anunciamos um Cristo crucificado,
depois de Cristo. Pertencente tinha de Deus. Este lado negativo, porém, que é escândalo para os judeus e loucura
a uma família judaica da Diáspora (desde manifestava uma sinceridade profunda e para os pagãos” (1 Cor 1, 23).
o VI século antes de Cristo, houve inúme- um desejo de totalidade. “Quando fui ao encontro de vocês –
ras emigrações de judeus para fora da Depois de Damasco, Paulo não se escreverá aos Coríntios – eu não quis
Palestina), foi criado dentro das “tradições baseia mais naquilo que é ou faz, mas no saber outra coisa a não ser Jesus Cristo,
paternas” (Gl 1, 14). Estes dois ambientes amor fiel de Deus. Paulo se sente amado e Jesus Cristo crucificado” (1 Cor 2, 2).
marcaram sua vida de tal maneira que ele gratuitamente por Deus, apesar de sua No Cristo crucificado, Paulo descobre um
teve dois nomes: o judaico, Saulo, (At 7, vida e do seu pecado. “Onde o pecado se Deus diferente, um Deus que ama até o
58), e o grego, Paulo (At 13, 9). multiplicou, a graça de Deus se multiplicou fim, até morrer. É o amor que salva!
No caminho de Damasco aconteceu muito mais” escreve na carta aos Romanos “Conhecer Cristo” para Paulo não é
um encontro – estamos por volta do ano somente conhecer a verdade de Cristo,
36 d.C. – que mudou a vida de Paulo.
Estava indo contra Cristo e naquele
“Anunciar o Evangelho não é isto é, a sua morte e ressurreição, mas
é, sobretudo, a descoberta de um amor
momento fez a experiência de Jesus título de glória para mim; pelo sem limites. O apóstolo conhecia o amor
que veio ao seu encontro: "Saulo, Saulo, que Deus tinha reservado para com o seu
por que você me persegue? Quem és contrário, é uma necessidade povo, conhecia as palavras com as quais
tu, Senhor? Eu sou Jesus, a quem você
está perseguindo” (At 9, 4-5). que me foi imposta. Ai de o Deuteronômio, Isaías, Oséias, Jeremias
e Ezequiel cantavam este amor. Mas em
Ele mesmo resumiu esta experiência,
o sentido da sua vocação e da sua mis-
mim se eu não anunciar o Cristo morto e ressuscitado por nós, Paulo
descobre um amor que ultrapassa radical-
são: “Deus, porém, me escolheu antes de Evangelho!” (1Cor 9, 16) mente a sua imaginação (cf Gl 2, 20).
eu nascer e me chamou por sua graça,
quando Ele resolveu revelar em mim o seu (5, 20). Escrevendo a Timóteo, descreve O anúncio e o serviço
Filho, para que eu O anunciasse entre os o caminho da sua conversão: “... obtive O amor de Cristo tornou-se a força
pagãos” (Gal 1, 15-16). misericórdia porque eu agia sem saber, motivadora de toda a ação evangelizadora
longe da fé. Sim, ele me concedeu com e missionária paulina. De fato, como os
A primazia da fé e da graça maior abundância a sua graça, junto com homens poderiam ter o amor de Cristo
Paulo tem a certeza que o caminho da a fé e o amor que estão em Jesus Cristo” sem alguém que o anunciasse ou teste-
fé não significa conquistar a Deus, mas, (1 Tm 1, 13-14). munhasse? (cf Rm 10, 13-15).
pelo contrário, ser conquistado por Ele. A Anunciar o Evangelho é uma ordem
fé é um render-se a Deus que se revela: A centralidade de Cristo e uma necessidade interior, existencial,
“fui conquistado por Jesus Cristo” (Fl 3, O homem que nasce no caminho de que exige a dedicação de toda a vida.
12). A conversão não foi fácil. Homem Damasco passa pela cruz. Paulo procurava Na primeira carta aos Tessalonicenses,

10 Abril 2008 -
Andrei Rublev
a carta que Paulo escreveu por primeiro,
ele afirma “Queríamos tanto bem a vocês,
que estávamos prontos a dar-lhes não
somente o Evangelho de Deus, mas até
a nossa própria vida” (1Ts 2, 8). Depois
de sua “conversão”, Paulo atravessa parte
da Ásia Menor (atual Turquia), da Síria e
da Arábia (atual Jordânia), até Jerusalém,
antes de se dirigir para a Europa, indo até
a Grécia e, enfim, a Roma.
Por causa de Cristo, Paulo torna-se
missionário, renuncia à carreira, pade-
ce perseguições e dificuldades até o
martírio. “Sou um crucificado por Cristo.
Eu vivo. Mas não mais eu: Cristo é que
vive em mim” (Gl 2, 19-20). “Anunciar
o Evangelho não é título de glória para
mim; pelo contrário, é uma necessidade
que me foi imposta. Ai de mim se eu não
anunciar o Evangelho!” (1Cor 9, 16).
Paulo se torna apaixonado por Cristo:
“Quem nos poderá separar do amor de
Cristo?” (Rm 8, 35-39). Apóstolo por
vocação (cf Rm 1, 1-15), Paulo é, antes
de tudo, o servo da Palavra. Sua preo-
cupação primária não é batizar (1Cor 1,
10), mas fundar comunidades animadas
pelos vários ministérios missionários. Sua
metodologia missionária se adapta aos
diferentes ouvintes: aos judeus apresenta
Jesus como o herdeiro das promessas
feitas a Israel; sua pregação aos gregos
concentra-se na apresentação do Deus
único e da iminente volta de Cristo na
Parusia.
A exemplo do Mestre, Paulo se torna
um crucificado por amor, que oferece a
vida, um servidor: servo de Deus (2Cor 6,
4); servo de Jesus Cristo (Rm 1, 1); servo
do Evangelho (Ef 3, 7); servo da Igreja (Cl
1, 25); servo de todos (1Cor 9, 19).

O testamento
Escrevendo a Timóteo, seu compa-
nheiro e fiel colaborador, Paulo deixa um
testamento que é um programa de vida
para todo missionário: “Lembre-se de
que Jesus Cristo, descendente de Davi,
ressuscitou dos mortos. Esse é o meu
Evangelho, por causa do qual eu sofro,
a ponto de estar acorrentado como um
malfeitor. Mas a palavra de Deus não está
algemada. É por isso que tudo suporto por
causa dos escolhidos, para que também
eles alcancem a Salvação que está em
Jesus Cristo, com a glória eterna. Estas
palavras são certas: se com Ele morremos,
com Ele viveremos; se com Ele sofremos,
com Ele reinaremos. Se nós O renegamos,
também Ele nos renegará. Se lhe formos
infiéis, Ele permanece fiel, pois não pode
renegar a si mesmo” (2Tm 2, 8-13). 

Giovanni Crippa, imc, é doutor e professor em História, pároco


em Feira de Santana, BA, Paróquia Santíssima Trindade.

- Abril 2008 11
As surpresas
testemunho

da vocação de Rosanna Marchetti

A
Fotos: Arquivo Missionárias da Imaculada

A italiana Rosanna Marchetti, Missionária história da minha vocação mis-


sionária é muito simples. Porém,
da Imaculada, PIME (Pontifício Instituto das nesta simplicidade, eu vejo a
ação de Deus que vai transfor-
Missões), relata o surgimento de sua vocação mando o coração daqueles que
chama, respeitando sempre o
religiosa e seu trabalho no Brasil. estilo de vida e o ambiente de cada um.
Nasci numa pequena cidade do norte da
Itália, San Damiano. Vivi a minha infância
com serenidade, movimentando-me apenas
entre a casa, a escola e a paróquia. Ainda
adolescente, com a idade de 12 anos, eu já
era membro atuante do coral paroquial. Mais
adiante, ingressei no Grupo Jovem, que era
ativo e dinâmico, formado por membros de
diversas idades entre 17 e 23 anos. Além
das atividades comuns que todo grupo de
jovens desenvolve, o nosso se dedicava
ao teatro. Passávamos grande parte do
nosso tempo fora da escola, preparando e
ensaiando peças e encenações, que depois,
apresentávamos à comunidade.

Males que vêm para o bem


Com 18 anos, comecei a trabalhar
numa firma em Milão. O trabalho não me
impedia de continuar a minha intensa ati-
vidade no Grupo. O interessante, porém,
é que, embora tão envolvida na Igreja,
nunca passou pela minha cabeça a idéia
de vir a ser uma religiosa, ainda que o
nosso Grupo fosse assessorado por um
padre diocesano e houvesse a presença de
irmãs na comunidade, com quem tínhamos
um diálogo aberto. Aconteceu que nesse
tempo a minha família estava passando
por um sério momento de crise. Meus pais
começaram a se desentender e isso me
causava grande sofrimento. Pessoalmente,
andava bastante desmotivada. Deus parecia
estar muito distante e as afirmações: “Ele
é amor, é nosso irmão e companheiro de
caminhada...” me pareciam irreais e pouco
verdadeiras. Mas, mesmo naquela situa-
ção tão sofrida, acabei tirando proveito.

12 Abril 2008 -
Comecei a refletir seriamente sobre as
razões da minha existência, da minha fé e
do meu relacionamento com o Senhor. Em
meio àquela crise me propus um caminho
de oração, como busca daquele Deus tão
falado, e a nós proposto como ideal pelos
assessores. Um dia, durante a celebração
eucarística, senti o Seu amor como uma
realidade viva dentro de mim, e com ele
experimentei uma intensa alegria. Daquele
dia em diante, a Eucaristia começou a ser,
e continua sendo até hoje, a força que me
ajuda a enfrentar os problemas. As dúvidas
a respeito da existência de Deus foram
aos poucos se dissipando. Fiz também a
descoberta da comunidade, como o lugar
do encontro com Ele e com os irmãos e
irmãs e onde, juntos, procurávamos viver
com entusiasmo o nosso compromisso
cristão: a fé.

Sinais da vocação
Dentro de mim crescia o desejo de
uma vivência do Evangelho de maneira Ir. Rosana (esq.) e Ir. Rosângela Ratti em visita às comunidades pelo Rio Amazonas.
mais profunda. Crescia a minha atração
pela oração. Nos confrontos da minha anos em Maués, uma cidade no interior do diferente, valorizando o positivo que
vida, conversando com um sacerdote, ele do estado, pertencente à diocese de Pa- ele tem e que me oferece através de
me ajudou a perceber que aqueles eram rintins. Andei muito ao longo dos rios, pequenos e simples gestos de atenção
sinais de uma possível vocação religiosa. visitando as comunidades ribeirinhas. e cuidado.
A princípio isto me assustou, mas, devagar Atuei na ­coordenação da Paróquia Nos-
os horizontes foram se abrindo e fui en- sa Senhora da Conceição. Acompanhei A itinerância do missionário
tendendo também o aspecto da vocação muitos jovens, nas pastorais Vocacional e Em 2006 fui transferida para Manaus.
missionária. O Senhor me chamava para da Juventude. Foi uma experiência muito Hoje atuo na coordenação das irmãs da
ir além, para lugares onde a necessidade rica, mesmo porque os desafios também Província Brasil Norte. Confesso que foi
de evangelização era maior. Procurei saber foram muitos; e com eles a gente cresce. difícil deixar Maués, que já sentia como
mais sobre o trabalho missionário e as Como acontece com todo missionário ou minha segunda família. Se eu tivesse
exigências necessárias para chegar lá. missionária, tive que passar pelo paciente que sintetizar a experiência missionária
Nisto tive a ajuda do PIME e de algumas processo de adaptação. Aprender a subir destes dez anos, poderia dizer que a pa-
missionárias leigas. nas pranchas, viajar de barco, dormir na lavra chave seria: graça. A graça de Deus
rede; até que isso não foi o mais difícil. me acompanhou em cada instante e se
Nem todos entendem... Depois, havia o belíssimo contexto natural: manifestou em todas as pessoas que se
É o próprio Jesus que alerta, quando a majestosa floresta amazônica, o murmú- ofereceram para me ensinar como se vive
fala do chamado: “nem todos são capazes rio dos rios, a alegria do gorjeio e do vôo na Amazônia. A graça favoreceu em mim
de entender..." Se para mim, a consagração dos pássaros coloridos, tudo favorecia a a abertura e a capacidade de ir além das
e a Missão, já estavam sendo realidades reflexão e o encontro com o Deus-Criador. palavras pronunciadas e poder entender
claras que me empolgavam, como iria O povo do Amazonas, acolhedor e cari- melhor este povo; aproximar-me dele como
falar desta minha opção aos membros de nhoso me carregou simbolicamente nos nos aproximamos de um terreno sagrado
minha família? Como poderia ajudá-los a braços e me acompanhou neste processo que exige respeito e atenção. Sou muito
entender e aceitar esta minha escolha? Ser de aculturação, no qual eu me sentia grata ao Senhor pela graça da vocação
religiosa, até que podiam compreender; frágil. Era forçoso olhar para o outro para missionária que me abriu ao mundo que vai
mas, missionária? Partir para longe? Não poder entender os costumes locais, como além das nossas idéias, além dos nossos
seria tão simples, como de fato não foi. comer certas frutas desconhecidas, cami- passos, além dos nossos projetos. Com a
Mas, a graça de Deus abriu os caminhos. nhar na floresta, aproximar as pessoas e Missão, novos horizontes e novas perspec-
Foi um processo lento de amadurecimento relacionar-me com o povo. Um aprender tivas foram abertos. Isto me fez descobrir
e crescimento na fé, de ambas as partes e constante, que mesmo depois de dez anos sempre mais a novidade que é Deus e a
que finalmente, me levaram a tomar uma não acabou. Aprendi a partilhar, a acolher necessidade de proclamar a todo mundo o
decisão. Deixei a minha casa, os meus e a amar esta natureza que clama por infinito amor do Pai e de seu Filho Jesus,
familiares e iniciei uma nova aventura numa respeito e cuidado. Aprendi a caminhar amor que liberta e salva. Posso dizer que
congregação exclusivamente missionária: ao ritmo do povo sem me preocupar com sou uma pessoa feliz. E esta felicidade e
as Missionárias da Imaculada. o relógio e com o tempo, especialmente alegria vão crescendo sempre mais dentro
nas longas viagens. Aprendi que é mais de mim, porque procuro estar aberta e
Crescemos com os desafios importante encontrar, conversar e escutar disponível à vontade Dele. 
Passados seis anos após os meus as pessoas, que viver num eficientismo
primeiros votos, fui enviada ao Brasil, que deixa no coração uma grande solidão. Rosanna Marchetti, Misssionária da Imaculada (PIME), é
Amazonas. Tive a graça de trabalhar oito Aprendi a contemplar a beleza do outro, Superiora Provincial em Manaus, AM.

- Abril 2008 13
fé e política

Palavras de Fé e Política
Julio Szymanski (Foto Repórter AE)

O papel da Igreja é o de zelar


por valores que transcendam
as diferenças entre os partidos.
Sua capacidade de defender
bens universais a coloca em
posição política destacada no
cenário de nosso país.
Tomada de posse de dom Mauro Aparecido dos Santos, 25/01/2008, arcebispo de Cascavel, PR.

de Humberto Dantas

E
m maio do ano passado, as palavras de Bento XVI capacidade de defender bens universais a coloca em posição
deixaram uma mensagem muito especial aos cidadãos política destacada no cenário de nosso país. Em recente pes-
brasileiros que abraçam a missão da relação entre Fé e quisa sobre religiosidade no planeta, a América Latina registrou
Política. Incompreendido por alguns, que interpretaram quase metade dos católicos do mundo. Se a Igreja, nesse
ser o papa contrário à participação cidadã do povo de importante território, assumir seu papel edificador, certamente
Deus, o ponto mais especial de seu discurso, já comen- teremos a capacidade de construir uma sociedade mais justa.
tado aqui nesse espaço, foi a necessária neutralidade partidária Tal afirmação está respaldada na capilaridade da Igreja, que
dos religiosos. Somada a essa posição, destaca-se o incentivo a faz chegar onde, por vezes, o Estado não se faz presente.
à participação dos leigos na construção de nossa democracia. Diante desse desafio, e de palavras inspiradas, devemos assu-
Ou seja: somos os responsáveis pelo mundo em que vivemos, e mir nosso papel na busca pela conscientização. A capacidade
devemos partilhar a construção de nossa realidade pautados em de a Igreja educar politicamente, por exemplo, é louvável. Não
valores cristãos. A isso costumamos dar o nome de democracia. são poucas as ações que figuram nas paróquias, centros de
A despeito de tal orientação, devemos lembrar que os Sumos educação e meios de comunicação. Diante desse compromisso,
Pontífices são chefes de Estado do Vaticano, ou seja, ocupam como uma organização poderia orientar, se veste a camiseta
um cargo político relevante. E tal posto vitalício, é decorrente da de um candidato? Se abraça um símbolo de legenda? E se
escolha realizada pelo colégio de cardeais denominado Conclave, lança nomes em busca de votos? Vamos ficar atentos ao papel
reunião que os elege. As relações com os preceitos políticos da neutro de nossa Igreja em tempos de eleições.
maioria dos países são mínimas, mas o papa não pode se furtar Mas se o direito canônico afirma que “os clérigos são proi-
ao fato de ser também ele, um agente político. bidos de assumir cargos públicos que implicam participação no
exercício do poder civil”, e alguns bispos reforçam a questão,
Papel da Igreja o que fazem aqueles que ocupam cargos eletivos atualmente?
Em absoluta consonância com os dizeres de nosso líder E os religiosos que enxergam a política como vocação? Existe
maior, em fevereiro desse ano o arcebispo de Cascavel, Pa- a possibilidade de licença de suas funções eclesiásticas, mas
raná, dom Mauro Aparecido dos Santos, proibiu a participação devemos estar atentos à disseminação dos valores católicos. E
eleitoral de religiosos sob sua responsabilidade. Sob a ameaça mais: devemos tomar cuidado com as tentações do mundo político,
de penas firmes, o discurso de Bento XVI foi adotado ao pé aquelas que tomam as páginas dos jornais diariamente. Esse
da letra. O que poderia ser um ato de total distanciamento, não é o caminho mais indicado pela Igreja, e existem exemplos
mostrou sintonia com o que pensa parte expressiva daqueles de religiosos e candidatos apoiados por grupos católicos que
que ouviram o papa. Em matéria publicada no jornal O Estado se envolveram em crimes. O papel do eleitorado se reforça,
de S. Paulo, o bispo afirmou: “vamos incentivar os leigos a pois o voto é exercício de consciência e não de paixão, como
participarem da vida política. A arquidiocese fará um trabalho já comentamos aqui em 2006. Fique atento! 
de orientação nas eleições. O primeiro ponto é a ética”. Diante
de tal decisão, a Igreja assume o nobre papel de zelar por Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universitário São Camilo. Co-autor do
valores que transcendam às diferenças entre os partidos. Sua livro Introdução à Política Brasileira, Paulus, 2007.

14 Abril 2008 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

2º Congresso Missionário Nacional

Missão para
a humanidade
Iniciamos nesta edição uma série de artigos sobre o tema do
2º Congresso Missionário Nacional, em vista do CAM 3-Comla 8.

Jaime C. Patias
de Estevão Raschietti

N
esse ano de 2008, dois
grandes eventos missioná-
rios serão realizados. De 12
a 17 de agosto em Quito,
no Equador, acontecerá o
3º Congresso Americano
Missionário, que corresponde ao 8º Con-
gresso Missionário Latino-Americano.
Sua sigla: CAM 3 – Comla 8. Delegações
de todos os países da América Latina e
da América do Norte estarão presentes
na capital equatoriana para debater so-
bre a Igreja em discipulado missionário,
à luz da Conferência de Aparecida em
vista da Missão Ad Gentes.
Em preparação a esse grande
evento continental, será celebrado o
2º Congresso Missionário Nacional, de
1 a 4 de maio, em Aparecida, no mesmo
lugar onde houve a V Conferência do Procissão da Palavra representando a evangelização da humanidade. Santuário Sta. Terezinha, São Manuel, SP.
Episcopado Latino-Americano no ano
passado. Naquela ocasião falou-se do Medellín (1968) e Puebla (1979), e a sentido de comunhão, universalidade e
nexo “discípulos missionários”. Desta inculturação e a opção pelos outros de abertura servidora, dialogadora; escuta
vez, o tema será complementado pelo Santo Domingo (1992), colocando-as os sinais da presença do Verbo em
acontecimento da missão “contextual no centro de suas atividades pastorais. toda cultura e no caminho geral dos
universal”, aqui e (contemporanea- Agora o CAM 3 – Comla 8 quer oferecer povos” (Instrumento de trabalho do
mente) no mundo inteiro. O tema será: um corte específico, abrindo para essa CAM 3–Comla 8, p.189).
“do Brasil dos batizados, ao Brasil de interessante interpretação da missão
discípulos missionários sem fronteiras”, Ad Gentes: “a Missão é para o Reino Um novo humanismo
e o lema: “Igreja no Brasil: escuta, de Deus e para a humanidade inteira e De onde surge essa missão Ad
segue e anuncia”. seu futuro. Como a Igreja, a Missão é Gentes entendida como “missão para a
A realização do CAM 3–Comla 8 convocada dentre toda a humanidade humanidade”? O documento da Igreja
convoca todas as Igrejas do continente e posta para toda ela; está marcada que está impregnado deste conceito,
para “um processo de reflexão e análise indelevelmente de universalidade. Na do qual o texto-base do CAM 3–Comla
missionária que responda a esta época atual mudança de época e de para- 8 traz inspiração e fundamento, é a
de mudança de paradigmas, na qual digmas, entrega-se a realizar o Plano Constituição Pastoral Gaudium et Spes
Missão Ad Gentes é a Missão para a de Deus, anunciando Jesus, que nos (GS) do Concílio Vaticano II. Neste
humanidade” (Instrumento de Trabalho foi revelado. A Missão abarca-O todo. documento a comunidade cristã se
do CAM 3 – Comla 8). Aparecida convida Hoje a Missão Ad Gentes é equivalente faz testemunha e porta-voz do “nascer
a repensar a Igreja a partir da Missão, as- à ‘Missão para a humanidade’. A fim de um novo humanismo, no qual o ser
sumindo a caminhada latino-americana de que Jesus Cristo seja hoje ‘Luz das humano se define, antes de mais nada,
pós-conciliar, a opção pelos pobres de Nações’ (cf. Lc 2, 32), abre-se com um pela sua responsabilidade com relação

- Abril 2008 15
aos seus irmãos e à história”. Esse

Jaime C. Patias
novo humanismo tem como tarefa a
construção de “um mundo melhor, na
verdade e na justiça” (GS 55).
A Gaudium et Spes é um texto re-
ferencial e decisivo para a doutrina da
Igreja por ter introduzido, de maneira
marcante e fundamental, um olhar sobre
a humanidade no discurso magisterial
e na preocupação pastoral da Igreja.
O papa Paulo VI, em sua belíssima
homilia de encerramento do Vaticano
II, quis explicitar esse espírito e essa
postura com as seguintes palavras:
“A Igreja do Concílio ocupou-se muito,
além de si mesma e da relação com
Deus que a une, do homem qual hoje Grupo de missionários da Consolata de cinco nacionalidades trabalham em Caracas, Venezuela.
na realidade se apresenta (...) A antiga fim supremo que transcende todas as a grupos ou classes sociais, nem às
história do samaritano foi o paradigma realidades humanas”. sociedades específicas pré ou pós-
da espiritualidade do Concílio. Uma industrializadas: ele tem “diante dos
simpatia imensa permeou-o por inteiro. A A família universal olhos” a “família humana universal”.
descoberta das necessidades humanas Com esse espírito a Igreja conciliar Essa contemplação da sociedade mun-
absorveu a atenção do nosso Sínodo (...). dispõe-se a entrar em diálogo, a servir dial como “família” diz respeito ao projeto
Reconheçam o nosso novo humanismo: e a ser solidária com a história da hu- de Deus sobre a humanidade, a qual
nós também, nós mais do que todos manidade inteira, dirigindo-se a todas é chamada a tornar-se uma só “famí-
somos cultores do homem”. E ainda: “O as pessoas. O mundo com o qual ela lia de Deus” (GS 32). Nos contextos
nosso humanismo faz-se cristianismo e quer dialogar, antes de ser o mundo em que recorre a imagem da “família
o nosso cristianismo faz-se teocêntrico; moderno, é “o mundo dos homens, humana”, emerge constantemente a
tanto que podemos também dizer: para ou seja, a inteira família humana, com dimensão da fraternidade, do amor,
conhecer Deus é necessário conhecer todas as realidades no meio das quais da solidariedade, da caridade, do bem
o homem (...) Amar o homem não como vive” (GS 2). comum, do diálogo, da pluralidade das
instrumento, mas como primeiro fim, O Concílio fala pouco da pessoa culturas e, finalmente, da paz.
através do qual podemos alcançar o humana como indivíduo, não se dirige A forte imagem da família, forma
mais espontânea e estrita de sociabili-
Álvaro Pacheco

dade e de responsabilidade recíproca,


aponta para a relação intencional de
fraterno e gratuito dom de si a todos os
outros. Isso porque o ser humano foi
“criado à imagem de Deus” e, portanto,
“não pode se encontrar plenamente a
não ser no sincero dom de si mesmo”
(GS 24), porque é criatura capaz de
amar, já que Deus é amor.
A “família humana universal” é,
por isso, não um ideal abstrato, mas o
grande projeto histórico de Deus para
com a humanidade, a qual encontra
no mistério trinitário o seu fundamento,
o seu modelo e o seu último fim: “o
próprio Deus” (GS 24).

Dois princípios
A Igreja declara não ter respostas às
grandes questões da humanidade. Ela
só pode enxergar a realidade “à luz do
Evangelho e da experiência humana” e
oferecer perspectivas que “dirigirão os
cristãos e iluminarão todas as pessoas
na busca da solução para problemas
tão complexos” (GS 46). A primeira
Delegação de Laos no 1º Congresso Missionário da Ásia, Tailândia. perspectiva é a defesa obstinada da

16 Abril 2008 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

dignidade da pessoa humana, “fulcro

Eliane Costa Santana


de toda nossa exposição: ser humano
uno e integral, corpo e alma, coração
e consciência, inteligência e vontade”
(GS 3); “centro e ponto culminante” (GS
12) de tudo o que há na terra; “cujos
direitos e deveres são universais e
invioláveis” (GS 26). A pessoa criada “à
imagem de Deus” não é vista, porém,
somente como ente individual, mas é
considerada na sua relação com os
outros: “o ser humano é, com efeito, por
sua natureza íntima, um ser social” (GS
12). Portanto, “que cada um respeite o
próximo como outro eu, sem excetuar
nenhum”; e, “sobretudo nos nossos
tempos, temos a imperiosa obrigação de
nos tornarmos próximos de qualquer ser Irmã Elenice Buoro visita famílias no povoado de Laclubar, Manatuto, Timor Leste.
humano indistintamente” (GS 27). direitos e deveres que dizem respeito de interesses particulares e nacionais.
Para a Gaudium et Spes, a pessoa a todo o gênero humano. Cada grupo As pessoas não podem contentar-se
humana é valor absoluto tanto na sua deve ter em conta as necessidades e mais com uma ética puramente indi-
subjetividade como na sua relação com legítimas aspirações dos outros grupos vidualista e o amor à pátria deve ser
os outros, numa profunda interdepen- e mesmo o bem comum de toda a cultivado “sem estreiteza de espírito,
dência entre essas duas dimensões, família humana” (GS 26). de maneira que, ao mesmo tempo, (os
que chega a abraçar o mundo inteiro: “a Introduz-se, dessa maneira, a se- cidadãos) tenham sempre presente o
interdependência, cada vez mais estreita gunda grande perspectiva para a hu- bem de toda a família humana, que
e progressivamente estendida a todo o manidade, que é a suprema missão de deriva das várias ligações entre as
mundo, faz com que o bem comum – ou realizar o “bem comum de toda a família raças, povos e nações” (GS 75).
seja, o conjunto das condições da vida humana”. O conceito de bem comum,
social que permitem, tanto aos grupos até então, era aplicado apenas à so- Missão para a paz
como a cada membro, alcançar mais ciedade civil de uma nação soberana. Querendo atingir este objetivo, a
plena e facilmente a própria perfeição Agora esta soberania é colocada em Gaudium et Spes aponta para uma
– se torne hoje cada vez mais univer- questão, em nome de um “bem comum instância que, de fato, pode ser con-
sal e que, por esse motivo, implique universal” que prevalece sobre a defesa siderada chave, ponto culminante e
central dos propósitos mais profundos
da teologia conciliar: o tema da paz.
Divulgação

A família humana universal chegou,


realmente, a um momento sumamente
decisivo de sua maturidade: ela não
conseguirá construir um mundo mais
humano se “os homens todos não se
converterem com ânimo renovado à
verdadeira paz” (GS 77).
A “verdadeira e nobilíssima natureza
da paz” (GS 77) não corresponde so-
mente à simples ausência de guerra e a
uma boa ordem entre os seres humanos:
“com toda a exatidão e propriedade, ela
é chamada obra da justiça (Is 32,7)” e
“fruto do amor” (GS 78). Trata-se da
visão bíblica da paz, da perspectiva
do Shalom que atravessa o Antigo e
o Novo Testamento, da harmonia das
relações no universo das criaturas
que reflete o próprio projeto divino. A
pura realização de uma ordem social,
como fato externo às pessoas que
nesta ordem devem viver, não é ainda
a paz. Pode ser constrangimento, pode
ser medo, pode ser opressão. A paz
nasce de uma empatia da consciência

- Abril 2008 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

pode haver reconhecimento (ou su-


Jaime C. Patias

posto tal) sem solidariedade.


Diante do ardente apelo à paz mun-
dial, o Concílio aponta com decisão para
um caminho de mão dupla: o engaja-
mento contra toda forma de domínio
sobre o outro, e a “prática assídua” de
solidariedade e cooperação recíproca
como expressão de uma nova lógica
de convivência universal.

Compromisso com todos


É nesse sentido que o Instrumento
de Trabalho para o CAM 3–Comla 8
aponta para a missão da humanidade:
construir um mundo mais fraterno, uma
família humana universal, envolvendo
todos os cristãos como também “todos
os homens de boa vontade, em cujos
corações a graça opera ocultamente”
(GS 22). “Não se pode ser missionário
– afirma o texto-base – sem escutar o
Partilha do pão, alimento para todos, durante o 6º Encontro Nacional de Fé e Política, Nova Iguaçú, RJ. clamor das vítimas deste mundo. Dia-
dos indivíduos com a intenção e o A Gaudium et Spes, nessa pas- riamente nos interpela o sofrimento de
espírito do valor absoluto da pessoa sagem muito importante, apresen- tanta gente, sobretudo, dos indefesos:
humana e da necessidade de instaurar ta duas instâncias de engajamento das mães abandonadas, das crianças,
o bem comum universal. Ela não é um fundamentais em relação aos sujei- dos não-nascidos e dos inocentes (...)
sentimento, mas é um apelo interior à tos em si (indivíduos e povos) e ao Devemos ser missionários compene-
vontade humana que surge do coração, direito-dever deles de sociabilidade: “a trados e movidos pela experiência da
se torna busca contínua e compromisso vontade firme de respeitar a dignidade misericórdia de Deus (cf. DA 399) para
histórico (cf. GS 78). dos outros” e “a prática assídua da com as vítimas e os crucificados deste
“Esta paz não se pode alcançar fraternidade”. São duas direções es- mundo. É necessário oferecer espe-
na terra a não ser que se assegure o senciais, extremamente interconexas, rança, dignidade e alegria, a partir da
bem das pessoas e que os homens e que apelam para o reconhecimento vida e do amor, do Evangelho de Jesus,
mulheres compartilhem entre si livre e do outro e, ao mesmo tempo, para partilhado, feito humanismo sincero e
confiadamente as riquezas do seu espí- o dever de solidariedade. Não são solidário, além das simples palavras ou
rito criador. Absolutamente necessárias duas faces da mesma moeda, ou obras limitadas” (DA 201 – 202).
para a edificação da paz são ainda a seja, o reconhecimento do outro não Essa é a verdadeira fé. E essa fé
vontade firme de respeitar a dignidade implica imediatamente a solidariedade não pode ter fronteiras. Por isso, a
dos outros seres humanos e povos e a com ele e vice-versa. De fato, nos missão não pode ser só continental:
prática assídua da fraternidade. A paz processos de dominação, as duas ela é mundial. O horizonte do bem
é assim também fruto do amor, o qual perspectivas não se cruzam: pode comum da “família humana universal”
vai além do que a justiça consegue haver solidariedade (ou suposta tal) é concreto e irreversível, marco divisor,
alcançar” (GS 78). sem reconhecimento, como também critério fundante que hoje questiona o
sentido, a finalidade e a qualidade de
nossa missão e a relevância da nossa fé.
Arquivo

Esse horizonte convida decididamente as


pessoas, as comunidades e as Igrejas a
saírem de si e a avançar pelas estradas
do mundo: “a graça da renovação não
pode crescer nas comunidades, a não
ser que cada uma dilate o campo da
sua caridade até aos confins da terra
e tenha igual solicitude pelos que são
de longe, como pelos que são seus
próprios membros” (AG 37). 

Estevão Raschietti, SX, mestre em Teologia Dogmática


com concentração em Missiologia. Assessor do Comina
e membro da equipe do Centro Cultural Guido Maria
Padre Arlei Pivetta durante celebração em Massinga, Inhambane, Moçambique. Conforti, Curitiba, PR.

18 Abril 2008 -
Insatisfação
Roteiro de Encontro
Tema do mês: “Insatisfação”
a) Acolhida
b) Invocação do Espírito Santo
c) Dinâmica
d) Apresentação do tema,
questionamentos e debate
e) Compromisso mensal
f ) Oração conclusiva O desejo de mudança é natural no jovem,
de Patrick Gomes Silva
que deve sempre ser crítico com relação à
sociedade que o cerca.

S
egundo o dicionário Aurélio, a palavra insatisfação signi-

Néo Monteiro
fica falta de satisfação, de contentamento; desagrado. A
insatisfação é uma característica própria da juventude,
no fundo, revela uma não-aceitação daquela que é a
situação que se está vivendo. A história tem dado exem-
plos do poder desta insatisfação da juventude. Recordo
apenas dois: os protestos da juventude francesa em meados
de 1968, que resultou no famoso Maio de 68, e mais perto de
nós, as manifestações dos jovens contra as ditaduras militares,
que perduraram em todo o continente latino-americano entre as
décadas de 60 e 80. A insatisfação daqueles jovens levou-os a
tomarem atitudes que podemos considerar revolucionárias, que
tiveram um efeito considerável na sociedade que somos.

E hoje?
Creio que a juventude continua sendo tão sonhadora e in-
satisfeita como aquela do passado, porém, hoje vemos poucas
manifestações de insatisfação, de desagrado. Talvez tenhamos
nos tornado mais céticos de que é possível mudar, preferimos ir
passear no shopping, colocar a música do nosso Ipod nas orelhas,
atualizar nosso blog, deixar uns scraps no Orkut... e esquecer o
mundo em que vivemos. Nossos quartos se tornaram quartéis
generais de onde comandamos o nosso mundo, mas, tantas
vezes se trata de um mundo paralelo. E como fica a insatisfação
que temos dentro de nós? Ou será que estamos satisfeitos com
o mundo em que vivemos? A alienação não é a resposta aos
nossos anseios. Sonhamos colaborar na construção de um mundo
melhor. O Fórum Social Mundial tem trazido até nós o lema: um
Jovens demonstram sua insatisfação, Grito dos Excluídos, SP.
outro mundo é possível. Estou perfeitamente convencido de que
é possível sim! Não poderemos continuar por muito mais tempo por aquilo que os meios de comunicação nos dizem, por aquilo
fazendo de conta que estamos satisfeitos, de que este mundo que alguns querem que acreditemos, que algumas vezes não é
consumista em que vivemos nos satisfaz, de que a visita ao propriamente a verdade, mas apenas uma parte que lhes inte-
shopping é o ponto central de toda uma semana vivida. ressa revelar. Jesus pela sua maneira de ser franco, tornou-se
A este propósito recordo o texto de Paulo aos Romanos: uma ameaça para as autoridades do seu tempo, não porque
“Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela tinha um exército capaz de derrotar o poder local, mas porque
renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é as suas palavras se tornaram incômodas, eram palavras que
a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é denunciavam a maneira injusta de viver. Assim, temos que olhar
perfeito” (Ro 12, 2). Para nós, jovens cristãos, este texto deve mais para o nosso Mestre e nos tornar também nós, jovens
servir de mote: não devemos nos “conformar com este mundo”, incômodos, jovens que denunciam as injustiças. O caminho
isto é, não temos que aceitar as coisas como elas estão, mas não é fácil, porém, o fato de sonharmos que um outro mundo é
somos convidados a nos transformarmos para discernir o que possível já nos ajuda a viver melhor o dia de hoje. 
é bom aos olhos de Deus. Assim, o jovem cristão,é aquele que
não aceita tudo pacificamente, mas ao contrário, é crítico. Este Patrick Gomes Silva é missionário, membro da equipe de formação do Centro Missionário José
é talvez um dos maiores problemas de hoje. Somos dominados Allamano, SP. E-mail: patrisilva@gmail.com

Para refletir:
1. Você se considera uma pessoa satisfeita ou insatisfeita com o mundo em que vive? O que o Compromisso Mensal:
satisfaz e o que o deixa insatisfeito? Sonhar e lutar para construir
2. Considera que é possível construir um outro mundo? Como? um mundo melhor.
3. Você participa de movimentos que ajudam a melhorar o mundo em que vive? Quais?

- Abril 2008 19
Povos indígenas
Destaque do mês

ameaçados
Construção de usinas hidrelétricas e agronegócio podem levar à extinção
cerca de 60 povos na Região Norte do país. Mais um desafio a ser discutido
na Semana dos Povos Indígenas, que se realiza neste mês.
de José Rosha eles correm risco de serem aniquilados
Fotos: Arquivo Cimi

pelo agronegócio, pelo desmatamento e


pelos grandes projetos”, alerta.

P
Os Suruaha são vítimas de outro tipo
rojetos governamentais e em- de ameaça. Jemerson Azevedo, membro
presariais podem causar a ex- da equipe do Cimi que atua junto àquele
tinção de cerca de 60 povos povo, conta que eles vivem muito bem,
indígenas ainda sem contato com alguma autonomia frente à socieda-
com a sociedade dos não-índios. de envolvente, mas têm sido objeto da
Em Rondônia, quatro povos ação de igrejas evangélicas. Ali atuam
estão ameaçados pela construção das missionários da organização "Jovens
hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, obras com uma missão" (Jocum), que, na opi-
integrantes do Programa de Aceleração do nião de Jemerson, tem por finalidade,
Crescimento (PAC), do governo federal. O através da religião, mudar os costumes
Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dos indígenas e facilitar a absorção da
juntamente com organizações indígenas, cultura da sociedade nacional. “Eles (os
tem alertado a Fundação Nacional do Índio missionários do Jocum), trabalham no
(Funai), para o risco de desaparecimento sentido de integrar os índios à sociedade
desses povos. nacional”, conclui.
O antropólogo Gunter Kroemer aponta
a região do rio Purus, no Amazonas como Ação do Cimi
local onde vivem povos em situação de O Cimi elegeu algumas áreas como
isolamento e risco. Dos 60 povos dos prioridade para buscar vestígios da exis-
quais se tem conhecimento por meio de tência de povos indígenas sem contato
vestígios ou por informações a partir de para, a partir de dados concretos, instigar
outros indígenas, existem 18 sobre os quais a Funai a tomar providências para protegê-
pairam ameaças concretas, em perigo los. Gunter Kroemer explica que “estamos
de extinção, devido ao avanço da frente fazendo um levantamento em todas as áreas
econômica. Kroemer cita como exemplo possíveis, começando pela região do rio
o caso dos Katawixi, no rio Mucuim, entre Purus e seus afluentes. Nosso problema,
os municípios de Lábrea e Canutama, no agora, é qualificar a informação, chegar mais
sul do estado do Amazonas. Ele integrou a perto possível das indicações da presença
equipe do Cimi que, no início dos anos 80, indígena. Estaremos sempre junto com os
fez contato com os Suruaha, povo que vive representantes das comunidades indígenas,
na mesma região dos Katawixi. Segundo porque as indicações geralmente vêm deles.
Kroemer, muitos desses povos rejeitam Às vezes as comunidades acham que os
qualquer aproximação com não-índios, isolados são parentes que historicamente
devido aos traumas sofridos em anos se separaram e não querem mais contato”.
anteriores no contato com as frentes eco- No caso dos isolados que habitam a área
nômicas. “A experiência de contato deles a ser inundada pelas hidrelétricas em
foi dramática e traumática. Eles sofreram Rondônia, Gunter informa que “o Cimi e
violências que desarticularam seu sistema as organizações indígenas deverão ir até
social, político, econômico e cultural, e os os locais onde há evidências de presença
levaram a uma situação de escravidão indígena e apresentar relatórios para a
Indígena do povo Mayoruna, Terra Indígena Vale do
Javari, AM. e dependência”, explica Kroemer. “Hoje Funai. Depois, se não houver alguma ini-

20 Abril 2008 -
Indígena do povo Matis, Terra Indígena do Vale do Javari, AM.

ciativa, iremos fazer denúncias nacionais mambuhã. Kroemer explica que os nomes Quando me vi entre os Suruaha, senti
e internacionais contra a inundação dessa desses povos estão associados ao local que aquela situação era muito diferente
área que coloca em risco a vida de quatro onde foram vistos. Ele diz ainda que há um do que eu pensava. O Cimi havia feito
povos indígenas”. grande número no norte do Mato Grosso, contato com aquele povo fazia 20 anos.
na área do rio Pardo e no Guaporé, onde Eu supunha que a vida entre eles não
Seminário foi descoberto o único sobrevivente do era diferente dos Apurinã. Mas, não dá
Nos dias 14 e 15 de fevereiro, o Cimi povo Tanaru que ficou conhecido como o para comparar a cultura dos dois povos.
Norte I (AM/RR), realizou um seminário homem do buraco. O último Tanaru rejeitava De início, os Suruaha não simpatizam
para definir sua ação junto aos povos em qualquer aproximação com não-indígenas com aqueles que não são do seu povo.
situação de isolamento e risco. O Amazonas e refugiava-se dentro de um buraco cavado É preciso mostrar serviço para adquirir
concentra grande parte dessa população, em sua choupana. a sua confiança. Isso é coisa que faz
segundo explicou Kroemer. No extremo diferença: a maneira de se relacionar,
oeste do estado, fronteira com o Peru, Povo de pouco contato de não estar ali apenas por curiosidade,
na terra indígena Vale do Javari, vivem O missionário Pedro da Silva Souza, interferindo na vida da comunidade. Cada
pelo menos 15 povos sem contato com 31, conta como foi sua experiência junto um tem de descobrir as coisas do seu
a sociedade envolvente. O povo Korubo aos Suruaha. Ele é membro do Conselho jeito, mais na observação. Isso foi o que
é bastante conhecido por reagir energi- Indigenista Missionário (Cimi), Regional me chamou a atenção. Só com cerca de
camente a toda tentativa de aproximação Norte I (AM/RR), desde 1997, e atuou junto dois meses que eu estava lá começou um
de não-indígenas. Membros desse povo àquele povo de 2002 a 2006: “no início, laço de amizade, de confiança. Eu tinha
já tiveram experiência de contato que achei um pouco complicada a minha pre- a vantagem de não precisar deles para
lhes deixou muitos traumas. Em 1989, sença junto a um povo sem contato com me ensinar como sobreviver na floresta.
três indígenas foram massacrados por os não-indígenas. Sou amazonense, de Pelo fato de ser amazonense, de já ter
moradores não-indígenas das cercanias Tapauá, município da região do Rio Purus, trabalhado com os Apurinã, dominava muito
do território onde costumavam transitar. onde vivem os Suruaha. É uma área muito bem a geografia da área. Isso facilitou o
Na região do rio Purus, entre os municípios extensa do ponto de vista territorial. Na entrosamento. A partir daí começamos a
de Pauini, Tapauá, Canutama e Lábrea, verdade, imaginei uma situação, mas, construir uma relação de amizade”. 
há informações da presença de oito po- quando cheguei lá, deparei-me com outra
vos, dentre eles Katawixi, rio Mucuim; totalmente diferente. Trabalhava no Cimi José Rosha é jornalista, assessor do Conselho Indigenista
Jacareuba, Koreketê, Itaparaná e Igarapé há cinco anos, primeiro junto aos Apurinã. Missionário (Cimi) em Manaus, AM.

- Abril 2008 21
Promover a Vida

João Sinhori
Projetos Sociais - IMC - MC

O
Instituto Missões Consolata e o Instituto Irmãs Missionárias
de Nossa Senhora Consolata, fundados pelo Bem-aventurado
José Allamano, em Turim, Itália, em 1901 e 1910, respecti-
vamente, têm por finalidade a evangelização e a promoção Evangelização nas periferias.
humana como expressão do carisma missionário. Padres,

Lírio Girardi
irmãs, irmãos e leigos missionários trabalham em 23 países
de quatro continentes, privilegiando situações humanas menos favorecidas. No
Brasil, desenvolvem projetos com a colaboração de amigos e benfeitores.

Nas periferias
A grande maioria dos missionários está prestando serviço nas periferias
das cidades, como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, onde a violência, a
falta de emprego, a moradia precária e a insegurança são grandes desafios.
Evangelização e promoção humana através de obras sociais nas áreas da
saúde, educação e formação profissional proporcionam, principalmente aos Jacir de Souza e dom Aldo Mongiano, Maturuca, RR.
jovens e mulheres, uma vida mais digna.

Arquivo
Apoio à causa indígena
Desde 1948, o IMC colabora com outros organismos na defesa e promoção
dos direitos dos povos indígenas, particularmente na Região Amazônica. Como
muitas lideranças, alguns missionários deram a própria vida por esta causa.
Entre ameaças, invasões, raptos e mortes, juntos conquistaram algumas im-
portantes vitórias: a demarcação das terras indígenas e a sua autogestão.

Pastoral Afro
Curso em Salvador, BA.
O Brasil tem a maior população de origem africana do mundo. No entanto,
pesquisas revelam que, entre os menos favorecidos do país, além de sofrer

Jaime C. Patias
com o racismo, os afrodescendentes são os mais excluídos da educação, da
saúde e do mercado de trabalho. A Pastoral Afro tem por missão resgatar a
dignidade deste povo apoiando ações afirmativas para sua inserção na uni-
versidade e no mercado de trabalho.

Creche Padre Bernardo Gora


Obra social do Instituto Missões Consolata, localizada no bairro Jardim
Peri, Zona Norte de São Paulo atende 100 crianças de 3 a 5 anos. A Paróquia
Nossa Senhora da Penha administrada pelos missionários, no mesmo bairro, Crianças da Creche Bernardo Gora.
mantém outras três creches que atendem juntas cerca de 350 crianças, con-

Arquivo: Centro Comunitário Consolata


tribuindo para a sua educação e formação.

Centro Comunitário Consolata


Criado pelas irmãs missionárias em 2004, na periferia dos municípios de
Itapevi e Jandira, em São Paulo, o Centro Comunitário Nossa Senhora Con-
solata dedica-se à promoção completa da pessoa: humana, social, cultural
e religiosa. O Centro está transformando a qualidade de vida, a cultura e a
prática religiosa de uma numerosa população. As missionárias acreditam no
potencial das obras sociais que desenvolvem em lugares mais carentes como
uma oportunidade para promover a vida. (ver matéria completa na pág. 23). Centro Comunitário Consolata.

Centro Comunitário Nossa Senhora Aparecida


Ávaro Pacheco

Fundado em 1979 pelas missionárias da Consolata, no bairro do Jardim


Peri, Zona Norte de São Paulo, o Centro Comunitário Nossa Senhora Apa-
recida – CCNSA administra nove projetos sociais: Creche Consolata, Núcleo
Socioeducativo, Agente Jovem, Ação Família, Movimento de Alfabetização de
Adultos, Núcleo de Proteção Psicosocial Especial, Núcleo do Idoso, Fábrica de
Cultura e Programa Aprendiz Trabalhador-BB. Atendendo 2.010 pessoas de
todas as idades, o CCNSA administra ainda cursos de corte e costura, padaria
comunitária, salão de beleza e marcenaria. O objetivo é formar líderes que
assegurem a continuidade no atendimento à população, priorizando a inclusão Crianças da Creche Consolata, CCNSA, Jd. Peri.
e o acesso às políticas públicas. 

22 Abril 2008 -
Evangelizar

Arquivo: Centro Comunitário Consolata


resgatando a dignidade

Acreditar é o primeiro passo para o êxito.


de Rosa Clara Franzoi los Pachin, no início, do pároco atual, padre Alexandre Douglas
Crispin, e à generosidade de benfeitores abençoados e pessoas
amigas, tocadas por Deus. A Providência Divina fez a sua parte

E
de maneira surpreendente, desde a aquisição do terreno e de
ra apenas um aglomerado de barracos crescendo todo o necessário para a organização e a construção do Centro
desordenadamente sem nenhuma infra-estrutura. Comunitário Nossa Senhora Consolata.
Duas comunidades: Santa Cecília e Vila Dolores E o tempo foi passando. Uma luta difícil trouxe-nos ao ano
Paschoalim, situadas nas periferias dos municípios de 2007. Embora a construção não esteja ainda concluída, no
de Itapevi e de Jandira, em São Paulo. Irmã Elvira andar térreo e em espaços adjacentes, cedidos por moradores
Pessim, missionária da Consolata - que depois so- voluntários, o Centro está desenvolvendo seus projetos em
mou forças com irmã Erminângela - ao observar aquele povo parceria com várias entidades. Eis alguns: Pastoral da Criança
em total abandono, sentiu que era urgente fazer alguma coisa (de zero a seis anos) e creche; Programa Agente Jovem e curso
em termos humanitários e de evangelização. Se “acreditar é de informática; Pastoral da Sobriedade; curso de alfabetização;
o primeiro passo do êxito” (Ives Vae), mãos à obra. Em 2004, horta orgânica; corte e costura; reforço escolar; oficinas pro-
com a ajuda do grupo da Infância e da Adolescência Missionária fissionalizantes (11 a 16 anos); coleta seletiva; Educação pelo
(IAM) da Paróquia Nossa Senhora Aparecida de Jandira, irmã Esporte; várias oficinas para pessoas da Melhor Idade.
Elvira iniciou um trabalho de aproximação e conhecimento dos O Centro Comunitário conta com uma capela que foi dedicada
moradores. Orientadas por ela, as crianças, em duplas, ou de a Consolata. Ali, a comunidade se reúne para a celebração da
três em três, atravessavam o córrego e passavam de casa em Eucaristia, reflexão da Palavra de Deus, catequese para crianças
casa deixando – como elas diziam – uma mensagem de Jesus. e adolescentes, encontros de jovens e outras atividades que
Aquele gesto teve uma repercussão incrível. As pessoas jamais ajudam o crescimento da fé cristã da comunidade.
haviam recebido uma visita daquele tipo. Resultado: crianças Não obstante todos os desafios e dificuldades, passa-
e adultos começaram a alimentar a esperança de que algo das, presentes e que ainda estão por vir, nós continuaremos
de novo estava começando a acontecer - alguém havia se apostando nesse tipo de trabalho, que é a nossa vocação
lembrado deles. A proposta das irmãs era simples e despre- missionária. Vemos que o nosso povo pobre sofre muito. Tudo
tensiosa: encontrar ali um espaço, onde as pessoas pudessem o que pudermos fazer no sentido de caminhar lado a lado com
se encontrar, se conhecer, discutir seus problemas e procurar ele colaborando para que ele consiga se tornar agente da sua
soluções à luz da Palavra de Deus. Com isso, já estaria dado o própria história, estará de acordo com o que o próprio Jesus
primeiro passo. E assim foi feito, devagar, ao ritmo e no tempo fez. Ele veio ao mundo “para que todos tenham vida e a tenham
do povo. Mas, depois, veio um segundo, um terceiro e muitos em abundância” (Jo 10, 10). 
outros passos que se seguiram graças à resposta positiva da
própria comunidade, ao apoio das missionárias, do pároco Car- Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.

- Abril 2008 23
Infância
Dá uma carona aí, tio!

Divulgação
Missionária

“Deus companheiro entendeu nossa prece [...]


Florou na gente a certeza e a união [...] pra
vencer o opressor”. (Babi Fonteles)

de Roseane de Araújo Silva

N
esse mês de abril celebramos o Dia Contra a Pros-
tituição Infantil e nos sentimos um tanto impotentes
no combate a este problema que parece não ter fim.
Por que ainda falamos dessa questão que aflige
tantos pequeninos? Em 2007 foram identificados
937 municípios e localidades brasileiras com fortes
indícios de prostituição infanto-juvenil, a maior parte
deles nas Regiões Nordeste (31,8%) e Sudeste (25,7%). Dados
da Secretaria Especial de Direitos Humanos informam que as
Regiões Sul, Centro-Oeste e Norte registraram respectivamente,
17,3%, 13,6% e 11,6% dos casos. Reforçamos que este não é um
problema identificado apenas nos grandes centros, mas falamos de
redes de exploração sexual de crianças e adolescentes organizadas
desde municípios com cinco mil até 100 mil habitantes, tendo nos
caminhoneiros os principais usuários dos seus serviços.
De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal e a
Organização Internacional do Trabalho, o número de crianças na
Sugestão para o grupo prostituição varia entre 100 mil e 500 mil. Nesse mesmo levanta-
mento foram identificados 1.819 pontos vulneráveis à exploração
Acolhida sexual infanto-juvenil. Desse montante, as crianças e adolescentes
Motivação (objetivo): vamos discutir juntos sobre um grave
mais atingidos estão na faixa etária de 10 a 17 anos, vivendo em
problema que ocorre com muitas crianças e adolescentes em
nosso país, que é a exploração sexual infanto-juvenil, suas famílias com menos de meio salário-mínimo de renda mensal per
causas e conseqüências. Isso impede que as nossas crianças capita. Outros fatores de risco são o desemprego, a desnutrição e
e adolescentes vivam com dignidade. a fome, a desestruturação da família, a baixa escolaridade familiar
Oração: Senhor da Vida, abençoai a todas as crianças e e as crianças e adolescentes fora da escola. Nos últimos anos
adolescentes do nosso país e particularmente as que sofrem há um enfrentamento maior desta situação, através de ações
com a exploração sexual, sendo vítimas de uma sociedade integradas entre órgãos governamentais e não-governamentais,
que despreza a vida humana e valoriza o lucro.
com campanhas e distribuição de renda visando o fim desta
Partilha dos compromissos semanais
Leitura da Palavra de Deus: Mateus 5, 13-16 A força do realidade (Bolsa-Família, por exemplo). O que fazer diante deste
testemunho quadro tão desanimador? O que nosso chamado de missionárias
Compromissos missionários: Jesus nos apresenta as condi- e missionários nos impulsiona a fazer?
ções para colaborar na construção do Reino do Pai, convidando- No Evangelho de Mateus, Jesus nos propõe um olhar amoroso
nos a ser sal e luz em nossa sociedade, pelo testemunho e desprovido de preconceito para com o próximo. Ele nos ensina
missionário diário. Organizar na comunidade ou na paróquia a agir sem julgar os outros, sem nos sentirmos superiores ou
próxima uma visita do grupo da IAM, para falar da Infância
Missionária e de como é importante tornar outras crianças
inferiores, sentando à mesa com os cobradores de impostos (Mt
amigas de Jesus. Uma sugestão é avisar na celebração da 9, 9-13). Assim, Jesus nos mostra que a justiça do Reino do Pai
semana anterior ou ainda visitar algumas crianças em suas caminha lado a lado com a verdade e a defesa da vida. Seguindo o
casas, reforçando o convite. exemplo de Jesus, estaremos testemunhando positivamente junto
Momento de agradecimento a Maria, Mãe de Deus e nossa às crianças e adolescentes, incentivando-os a tomarem atitudes
mãe e aos nossos padroeiros pelo testemunho que nos for- solidárias e humanizadoras, reafirmando o 10º Compromisso da
talece, animando-nos a ser sal e luz em nossa comunidade. Criança Missionária: “A criança Missionária sempre pensa em
Abençoai Deus Pai as crianças e adolescentes impedidas de
ter uma vida plena e feliz.
nós”. De todas as crianças do mundo – sempre amigas! 
Canto e despedida.
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

24 Abril 2008 -
- Abril 2008 25
Direitos Humanos
Entrevista

na Venezuela
O coordenador geral do
Programa Venezuelano de
Educação-Ação em Direitos
Humanos, Marino Alvarado
Betancourt, advogado,
concedeu entrevista à
Missões e analisou o
governo de Hugo Chávez.
Texto e fotos de Jaime Carlos Patias

E
Marino Alvarado exibe o último relatório do PROVEA.
m dezembro de 2007, Hugo Chá-
vez Frías completou oito anos de reféns em poder das Forças Armadas que representa a inclusão dos menos favo-
à frente do governo da Vene- Revolucionárias da Colômbia (Farc). No recidos. A distribuição de riqueza através
zuela, procurando implementar dia 1º. de março, mais de 15 membros das das “missões” (programas sociais) e outras
o Socialismo do Século XXI, Farc foram mortos no Equador, entre eles, políticas reduziu a pobreza de 42% para
na República Bolivariana. Para Raúl Reyes, o número dois da organiza- 39% com impacto positivo sobre os DH.
avaliar sua gestão, entrevistamos Marino ção. A violação da soberania equatoriana Constatamos também avanços no terreno
Alvarado, advogado e coordenador geral pela Colômbia foi duramente repudiada da educação, da saúde e da segurança
do Programa Venezuelano de Educação- por líderes latino-americanos e abriu uma social. O governo iniciou a reforma agrária
Ação em Direitos Humanos - PROVEA, séria crise entre os dois países e a Ve- com a distribuição de quase quatro milhões
que há 19 anos publica relatórios sobre a nezuela. Com os esforços diplomáticos de hectares e avançou na democratização
situação dos Direitos Humanos no país. do Brasil, Chile e Argentina, as partes da propriedade urbana através da regula-
Encontramos o doutor Marino em Caracas, chegaram a um acordo, mas o episódio rização da terra; melhorou a assistência
em fevereiro de 2008, quando falou a um revelou o grau de instabilidade na região aos aposentados e pensionistas e incen-
grupo de missionários da Consolata que e pôs fim à atuação de Chávez à frente tivou a tolerância nos protestos pacíficos,
atua em diversas frentes no país. Chávez das negociações com as Farc. ampliando a liberdade de expressão,
sempre ganhou destaque na mídia inter- mesmo com riscos e ameaças; promoveu
nacional pelos discursos inflamados, pelas Dr. Marino, na sua opinião, quais os a participação dos cidadãos em assuntos
críticas ao imperialismo norte-americano principais avanços do governo Chávez em de interesse público como comitês de
e, ultimamente pela atuação na libertação relação aos Direitos Humanos (DH)? terra, de água e outros que, ao mesmo
No aspecto jurídico, houve avanços tempo, converteram-se em instrumentos
consideráveis, ainda que os problemas de campanha política.
estruturais persistam ou tenham até se
agravado. O governo freou as políticas O último relatório do PROVEA mostra
de privatizações na saúde, educação e também problemas graves?
segurança social com um discurso inclusivo A pesar dos avanços, a pobreza con-
e políticas públicas em favor de setores tinua sendo a violação mais grave dos
mais pobres. Chávez faz um discurso em DH. Nesses oito anos, verifica-se o fra-
favor da soberania e da autodeterminação casso da política habitacional. Não houve
dos povos, despertando o nacionalismo. variações significativas nesta área, pois
Sede do PROVEA em Caracas.
Ele tornou-se, de certa forma, um símbolo em nenhum ano o governo conseguiu

26 Abril 2008 -
cumprir as metas que traçou. Em 2004, foram ocupados por eles, basta ver que, do petróleo, o que permite ao governo
por exemplo, chegou a realizar apenas dos 27 ministros, nove são militares. O fazer muitos investimentos, só que com
17% do programado. O sistema tradicional discurso belicista instaurou-se nos diversos pouca organização. Ao aceitar a derrota
de saúde, em permanente crise, após oito níveis do governo, incrementando-se os no dia 2 de dezembro de 2007, Chávez
anos continua o mesmo. Foram cons­ gastos militares. reconheceu que é preciso resolver a buro-
truídos um pouco mais de 1.900 dos 8.000 cracia, a corrupção e a ineficiência. Surge
hospitais prometidos. O povo começa Quais os maiores desafios que o uma nova elite de burguesia constituída
a desconfiar dos programas sociais do governo Chávez deve enfrentar a curto em torno da corrupção. Chávez não tem
governo que, em termos legislativos, não prazo? um Conselho de Ministros para pensar
logrou aprovar a lei de saúde e segurança Combater a pobreza com políticas e parece governar num sistema que se
social. A meu ver o governo comete um integrais e sustentáveis a longo prazo - as chama “se me ocurrió” - “ocorreu-me uma
erro ao criar instituições paralelas. Por “missões” (programas sociais) revelaram- idéia”, algo espontâneo e imediatista. Até
exemplo, se a missão “Barrio Adentra” não se insuficientes e o investimento foi grande; hoje não se tem claro o que seja o projeto
se integrar ao sistema nacional de saúde, fortalecer as instituições democráticas do Socialismo do Século XXI.
não resolverá os problemas estruturais. garantindo uma ação eficiente e indepen-
Apenas 20% do que foi construído funciona dente dos poderes constitucionais; criar A Venezuela enfrenta escassez de
bem. A situação dos indígenas continua um clima apropriado para o diálogo, para produtos básicos como açúcar, óleo,
preocupante: altos níveis de pobreza, administrar conflitos de forma democrática; arroz e farinha. Como explicar esse
abandono e violação de seus direitos combater a impunidade, implementando desabastecimento?
mesmo com a criação do Ministério dos um Plano Nacional de Direitos Humanos Acontece que agora os pobres têm
Povos Indígenas. A discriminação política (melhorar o respeito aos DH significaria poder aquisitivo maior, com mais distri-
transforma-se em política de estado, até fortalecer o sistema democrático e criar buição de renda através dos diferentes
mesmo a Defensoria Pública converteu-se condições para o desenvolvimento eco- programas sociais. O consumo da po-
em órgão político. Percebe-se um discur- nômico e social); criar condições e me- pulação pobre aumentou quase 40% e
so de desqualificação das instâncias do canismos para garantir a participação da a cadeia de produção não conseguiu
sistema internacional de proteção aos população nos assuntos públicos; gerar responder a essa demanda. O governo
Direitos Humanos, especialmente da cidadania e garantir a autonomia das optou por importar, mas ainda não con-
Comissão Interamericana. organizações sociais. seguiu equilibrar as pontas. A economia
venezuelana depende dos Estados Unidos
Como o senhor avalia a situação de As maiores críticas ao governo e da Colômbia. As relações conturbadas
violência e criminalidade no país? Chávez são a burocracia, a corrupção com esta última agravaram o desabasteci-
No sistema carcerário houve um grande e a ineficiência... mento. Um segundo aspecto está voltado
fracasso. 2.358 presos morreram de forma Até o ano de 2004, o governo tinha se para o futuro econômico. Os impostos e
violenta entre 1999 e 2005, uma média dedicado mais à política do que ao social. o petróleo seguirão injetando no governo
de 336 por ano. Esses dados colocam Foi quando lançou as “missões”, ou seja, somas fabulosas. Pena que esse poder
as prisões venezuelanas como as mais os programas sociais. Em 2006, todas as seguirá controlado pelo governo.
violentas do mundo. No mesmo período, pesquisas mostravam que o governo tinha
contabiliza-se 1.245 vítimas de violações uma rejeição de 60%, mas Chávez tinha Quais recomendações o senhor faria
dos Direitos Humanos, uma média de o apoio de quase 60%. Hoje, o governo à Igreja que está na Venezuela?
177 por ano. Os grupos de extermínio se tem uma rejeição de quase 80% pela sua Historicamente a Igreja sempre foi vista
fortaleceram e se expandiram. Aumentou ineficiência. Não consegue resolver quase como uma instituição capaz de mediar con-
o número de pessoas detidas que não nada, e o apoio a Chávez caiu. Essa ine- flitos. Na Venezuela, a hierarquia cometeu
aparecem, nem vivas, nem mortas. Ca- ficiência se deve às constantes mudanças um grande erro ao colocar-se ao lado da
racas tornou-se a cidade mais perigosa que não garantem a continuidade dos pro- oposição. Com isso, perdeu a capacida-
da América Latina, com 12.600 homicí- jetos. Somente o Ministério da Habitação, de e a oportunidade de mediação. Além
dios por ano. Os militares ganharam um em oito anos, teve sete ministros. Chávez disso, faltou um bom porta-voz. Quando
excessivo protagonismo na vida política regulamentou a lei dos impostos, com os o cardeal George Urosa assumiu, parecia
e social do país. Muitos cargos políticos quais arrecada mais do que com a venda que surgiria uma luz, mas isso logo se
apagou. O cardeal não tem sido propositivo
e ao mesmo tempo se deixou encurralar
pelo governo, rebatendo por rebater. A
minha recomendação aos religiosos é que
procurem não polarizar, como se tudo o
que viesse de um lado fosse bom e o que
viesse do outro fosse ruim. Devemos ter a
capacidade de reconhecer o bom e o mau,
tanto vindo da parte do governo, quanto
da oposição. Em segundo lugar, precisa-
mos dizer sempre a verdade. Temos que
fazer críticas ao sistema para melhorá-lo.
Por fim, precisamos ter a capacidade de
propor alternativas viáveis. 

Jaime Carlos Patias é missionário, mestre em comunicação e


diretor da revista Missões.
Carapita, bairro na periferia de Caracas, capital da Venezuela.

- Abril 2008 27
Tempo de incertez
Atualidade

de Leonídio Paulo Ferreira

N
o dia 11 de fevereiro, um grupo
de militares renegados feriu
gravemente o presidente ti-
morense, José Ramos Horta e
tentou assassinar o primeiro-
ministro, Xanana Gusmão. O
líder dos militares, Alfredo Reinado, foi
morto na ação, mas o seu número dois
conseguiu fugir. O mais interessante é que
este ataque ocorreu depois de quase dois
anos de tolerância das atividades rebeldes
de Reinado por parte do governo e que,
mesmo depois do duplo atentado, o antigo
major foi celebrado como um herói por Razões do atentado Com a expulsão dos “peticionários”
muitos timorenses. Mais de um mês após o duplo atentado, veio uma onda de violência que provo-
Foi uma manhã de pânico em Dili, as motivações de Reinado continuam pouco cou em toda a ilha 37 mortos e mais
capital do país. Tiros na casa do presidente claras. A tese mais provável é que tenha de 150 mil desalojados. A comunidade
Ramos Horta, que foi alvejado quando feito o ataque num momento de desespero, internacional teve então de intervir e a
regressava de sua corrida matinal. Mais pensando que as autoridades timorenses Austrália destacou tropas para o Timor
tiros, desta vez contra o carro onde se- estavam finalmente decididas a capturá- Leste, enquanto Portugal enviava a GNR
guia o primeiro-ministro Xanana Gusmão. lo. A hipótese de um golpe de Estado é para ações, sobretudo, de manutenção e
E finalmente uma operação da Guarda pouco provável, porque os renegados segurança em Dili.
Nacional Republicana (GNR) portuguesa não tinham condições para assegurar o Da crise militar e social à crise política foi
para resgatar a mulher de Xanana e os controle do país, tanto mais que existem um pequeno passo, com o então presidente
três filhos pequenos, que estavam cerca- forças internacionais no Timor Leste, com Xanana Gusmão mostrando certa simpatia
dos por um grupo de renegados. Balanço destaque para os mil militares australianos pelos renegados e demitindo o governo da
final: Ramos Horta gravemente ferido e (agora reforçados por mais 200) e para Fretilin (Frente Revolucionária do Timor
transferido de avião para um hospital na os 350 agentes da GNR. Certo é que se Leste Independente), do primeiro-ministro
Austrália e Alfredo Reinado morto. tratou de mais um episódio da crise política Mari Alkatiri, acusado de ter agravado a
iniciada em maio de 2006 e que também crise ao ser inflexível com os “peticionários”.
nunca ficou esclarecida. Xanana, casado com uma australiana,
Fotos: Lusa

Há pouco menos de dois anos, um chegou a ser acusado de servir aos inte-
grupo de 600 militares reclamou por ser resses estrangeiros, descontentes com a
discriminado pelas Forças Armadas, em dureza de Alkatiri nas negociações sobre
especial por ser preterido em relação ao o petróleo do Mar de Timor. Seguiram-se
lorosae, pessoas oriundas da parte mais então vários episódios estranhos, incluindo
oriental do país. Os renegados, que ficaram as acusações de que o ministro do Interior,
conhecidos como o grupo dos “peticioná- Rogério Lobato, teria distribuído armas para
rios”, eram do ocidente do país e, portanto, matar adversários políticos (foi condena-
loromonu e o seu líder, o tenente Gastão do e preso, mas fugiu). A Igreja Católica,
Salsinha. Foram considerados desertores que é uma força decisiva no país, tomou
e por isso entraram em conflito aberto com também posição na crise, afastando-se
os militares fiéis ao governo. Em seu apoio de Mari Alkatiri, cuja formação marxista
veio o então comandante da Polícia Militar o levara a tentar uma certa laicização do
Timorense, o major Alfredo Reinado, e um Estado, incluindo o fim da obrigatoriedade
grupo de seguidores. Ao mesmo tempo, das aulas de religião.
muitos jovens, sobretudo da região de Dili,
elegeram os rebeldes como seus heróis. Tolerância do governo
Reinado, em especial, era idolatrado por Ramos Horta, entretanto, passou de
grupos de desempregados que se dedica- ministro dos Negócios Estrangeiros a
José Ramos Horta, presidente da República. vam às artes marciais e à delinqüência. primeiro-ministro e depois, nas eleições

28 Abril 2008 -
zas no Timor Leste
realizadas em maio de 2007, assumiu Atentado contra o presidente José Ramos Horta e Xanana Gusmão
a presidência. Paralelamente, Xanana
Gusmão, o herói da luta da independência em fevereiro, é mais um capítulo da crise política no país.
contra a Indonésia, dava o dito pelo não
dito de desistir da política e fundava um mostraram uma enorme tolerância com
novo partido para enfrentar a Fretilin nas Reinado e seu grupo. O major chegou a
eleições legislativas de junho. Como a vitória ser capturado, mas teve ajuda para fugir
do partido de Alkatiri foi insuficiente, uma da prisão, e desde então se movia com
coligação liderada por Xanana Gusmão relativa segurança pelo território, apesar
assumiu o governo. Durante todo este dos mandados de captura emitidos pelo juiz
tempo, tanto Ramos Horta como Gusmão português Ivo Rosa. Aliás, chegou a haver

Independente no século XXI


1560 - A ilha de Timor é descoberta pelos portugueses.
1749 - Holandeses ocupam metade ocidental da ilha.
1942 - Invasão japonesa e combates com tropas australianas.
1945 - Japoneses derrotados, Portugal reassume o controle da sua colônia.
1975 - Portugal retira-se do Timor Leste e é proclamada a independência. A
Indonésia invade o país e anexa-o como a sua 27ª província. Portugal não
reconhece a anexação e convence a ONU a adotar a mesma posição.
Xanana Gusmão, primeiro-ministro.
1981 - Xanana Gusmão assume a liderança da guerrilha timorense.
1991 - Tropas indonésias disparam sobre uma multidão de timorenses que encontros de Reinado tanto com Xanana,
como com Ramos Horta. Este último,
assistia ao funeral de um independentista no cemitério de Santa Cruz, em Dili.
sobretudo, acreditava ser possível uma
Imagens do massacre correm o mundo e alertam para a ocupação indonésia
anistia para Reinado de modo a pacificar
no Timor.
o país. O que torna ainda mais ilógica toda
1992 - Xanana Gusmão é capturado e condenado à prisão perpétua.
a sucessão de acontecimentos naquela
1996 - O bispo de Dili, dom Ximenes Belo, e o porta-voz independentista José
manhã de 11 de fevereiro. E dá vazão a
Ramos Horta recebem o Prêmio Nobel da Paz.
todo o tipo de especulação, desde Reinado
1998 - Crise econômica leva à demissão do presidente Suharto, que em 1975
ter desconfiado que afinal iria ser traído por
ordenara a invasão do Timor Leste. O seu sucessor, Habibie, admite um esta-
Ramos Horta e Xanana e capturado, até
tuto especial para o país.
que alguém teria montado uma armadilha
1999 - Portugal e Indonésia assinam um acordo para um referendo de auto-
para ele e, inclusive, contra toda a razão,
determinação no Timor Leste, com o patrocínio da ONU. 78% dos timorenses
que tudo teria sido planejado pela Fretilin,
optam pela independência, mas milícias pró-Indonésia lançam campanha de
partido que está na oposição porque a
violência. Xanana Gusmão é libertado. Força Internacional comandada pela revolta de Reinado serviu de pretexto para
Austrália impõe a paz no território. ONU passa a administrar o país. destituir o governo de Alkatiri. Surgiram
2001 - Timor Leste e Austrália assinam acordo sobre futura partilha do petró- folhetos com essa acusação em Dili.
leo e gás natural existente no Mar de Timor. 90% dos rendimentos serão para Por trás de todas as dúvidas, uma
os timorenses. Eleições legislativas ganhas pela Fretilin, com 55 deputados única certeza: o Timor Leste é um país
eleitos, num total de 88. jovem que em 20 de maio celebrará o seu
2002 - Xanana Gusmão vence as eleições presidenciais. Em 20 de maio o sexto aniversário e continua frágil. Existem
Timor Leste torna-se independente, com a presença da presidente indonésia demasiadas divisões dentro da sociedade e
Megawati Sukarnoputri nas celebrações em Dili. na classe política e isso obriga a presença
2006 - Austrália e Timor Leste negociam rendimentos dos hidrocarbonetos. da comunidade internacional para garantir
Deserções nas Forças Armadas timorenses levam a onda de violência com a estabilidade. Mas os vários países que
intervenção de tropas australianas e de militares da GNR portuguesa. Crise ajudam o Timor Leste também defendem os
política leva à demissão do primeiro-ministro Mari Alkatiri. Ramos-Horta é no- seus interesses estratégicos, seja Portugal,
meado para chefiar o governo. que quer preservar o português, seja a
2007 - Ramos Horta ganha as eleições presidenciais. Nas legislativas, a Fretilin Austrália, que tem interesse nos recursos
ganha, mas a oposição forma aliança liderada por Xanana Gusmão, que se energéticos da ilha vizinha. 
torna primeiro-ministro.
2008 - Duplo atentado contra Ramos Horta e Xanana Gusmão. Ramos Horta, Leonídio Paulo Ferreira, jornalista do Diário de Notícias em
gravemente ferido, é transferido para um hospital na Austrália. Portugal. Publicado pela revista Fátima Missionária, março
de 2008.

- Abril 2008 29
Brasília - DF Roraima - RR
Nota da CNBB sobre as Católicas pelo Povos Indígenas realizam Assembléia
Direito de Decidir De 6 a 10 de março realizou-se a 37ª Assembléia
Têm chegado à sede da Conferência Nacional dos Povos Indígenas de Roraima, dentro da terra
dos Bispos do Brasil – CNBB – inúmeras consultas Raposa Serra do Sol. Apesar das agressões sofridas
sobre a ONG denominada “Católicas pelo Direito de durante o encontro, os indígenas saíram decididos
Decidir”, uma vez que em seus pronunciamentos há a agir para que a desintrusão da área, homologada
vários pontos contrários à doutrina e à moral cató- em 2005, seja concluída definitivamente. “Estamos
licas. Esclarecemos que se trata de uma entidade acreditando que desta vez vai acontecer a desintru-
feminista, constituída no Brasil em 1993, e que atua são”, disse o coordenador do Conselho Indígena de
em articulação e rede com vários parceiros no Brasil e Roraima, Dionito de Souza. Ele também afirma que
no mundo, em particular com uma organização norte- os fazendeiros estão tentando provocar uma retirada
americana intitulada Catholics for a Free Choice. Sobre violenta. “Só lamento, porque eles ficam na cidade e
esta última, a Conferência dos Bispos Católicos dos mandam na frente, para defender o bolso deles, as
Estados Unidos já fez várias declarações, destacando famílias pobres que vivem na periferia”, completou.
que o grupo tem defendido publicamente o aborto e Segundo Dionito, a Assembléia foi muito importante
distorcido o ensinamento católico sobre o respeito e a para fortalecer a organização dos povos de Roraima,
proteção devidos à vida do nascituro indefeso; é con- apesar das agressões que ocorreram neste período.
trário a muitos ensinamentos do Magistério da Igreja; Diversos pistoleiros ficaram circulando pela região
VOLTA AO BRASIL

não é uma organização católica e não fala pela Igreja do Surumu, onde o encontro se desenvolveu. “Che-
Católica. Essas observações se aplicam, também, garam a estourar uma bomba de fumaça perto do
ao grupo que atua em nosso país. A Campanha da local da Assembléia”, disse Dionito. Além desse fato,
Fraternidade deste ano de 2008 reafirma nosso com- no dia 8 de março, seis casas de indígenas foram
promisso com a vida, especialmente, com a vida do destruídas na comunidade de Mutum, também na
ser humano mais indefeso, que é a criança no ventre terra Raposa Serra do Sol. “A gente sabe que são
materno, e com a vida da própria gestante. Políticas ameaças dos invasores tentando intimidar, mas a
públicas realmente voltadas à pessoa humana são gente não vai se deixar dominar por eles”, destacou
as que procuram atender às necessidades da mulher Dionito. Os participantes do encontro, no documento
grávida, dando-lhe condições para ter e a criar bem os final também declararam sua posição contrária à
seus filhos, e não para abortá-los.“Escolhe, pois, a vida” exploração mineral nas terras indígenas do estado
(Dt 30,19). Ainda que em determinadas circunstâncias e denunciaram os problemas de saúde que atingem
se trate de uma escolha difícil e exigente, reafirmamos os povos de Roraima.
ser a única escolha aceitável e digna para nós que
somos filhos e filhas do Deus da Vida. Curionópolis - PA
Major Curió tem mandato cassado
Privatização da Vale O prefeito de Curionópolis, Sebastião Curió
O jornal britânico Financial Times em sua edição (PMDB), teve o mandato cassado pelo Tribunal
de 11 de março deu destaque à mineradora Vale do Superior Eleitoral (TSE) no dia 4 de março. Ele
Rio Doce, ao falar de empresas latinas que começam foi acusado de compra de votos e abuso de poder
a dominar os mercados dos seus setores no mundo. nas eleições de 2004. Em maio de 2006, o Tribunal
Recentemente, a Vale fez uma oferta de aproximada- Regional Eleitoral do Pará (TRE) já havia cassado
mente R$ 150 bilhões para comprar a mineradora suíça seu mandato, mas Curió ainda governava por força
Xstrata. A concretização do negócio pode deixar a Vale de liminar. A cidade de Curionópolis foi fundada pelo
no maior grupo de empresas de mineração do mundo. próprio Curió em 1989. Sebastião Rodrigues de Moura,
Porém, para um dos coordenadores do plebiscito pela conhecido como major Curió, é odiado pela esquerda
anulação da venda da Vale, Luís Bassegio, a matéria brasileira por ser um ícone da repressão iniciada
do jornal britânico só olha a mineradora do ponto de pela ditadura militar em 1964. Curió foi treinado no
vista empresarial, não abordando os prejuízos do povo Panamá pelo governo dos Estados Unidos, assim
brasileiro com sua venda. Ele lembra que a oferta de como outros militares que sustentaram ditaduras
R$ 150 bilhões, feita para comprar a mineradora ­suíça, latino-americanas no período. O militar coordenou a
comprova como o valor de venda da Vale, cerca de Operação Sucuri, em 1973, que sufocou a guerrilha
três bilhões de reais, foi um crime contra a nação. do Araguaia, organizada pelo Partido Comunista
“Na verdade, todas as razões que se alegam eram do Brasil (PCdoB). Cerca de 60 militantes sumiram
justamente para privatizar e para que uma pequena depois da operação. Curió também comandou a inter-
minoria se apropriasse daquilo que é um patrimônio venção militar em um dos primeiros acampamentos
nacional. E do ponto de vista ético, o patrimônio na- do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra
cional pertence ao povo e não pode pertencer a um (MST), em 1981, época em que ele ainda estava se
pequeno grupo. Por que não ser uma empresa estatal, formando, em Ronda Alta, RS. O prefeito cassado
gerenciada de forma ética, de forma competente, que exerceu anteriormente o mandato de deputado fe-
dê lucro e que este lucro seja destinado para saúde e deral de 1983 a 1987, rivalizando no plenário com o
educação?” Atualmente, o Superior Tribunal de Justiça ex-guerrilheiro do Araguaia, José Genoíno. À época,
(STJ) está julgando a procedência de dezenas de ações a ditadura negava a existência do conflito. 
populares que colocam em dúvida a privatização da
companhia.
Fontes: Cimi, CNBB, Radioagência Notícias do Planalto.
30 Março 2008 -
V
ivemos em uma sociedade do espetáculo, onde,
obedecendo às regras do mercado, a notícia
é vendida juntamente com outros produtos de
consumo e a informação, ao invés de gerar
conhecimento, proporciona entretenimento para
distrair. Hoje, mais do que nunca precisamos
comunicar para informar os cidadãos na sua capacidade de
refletir e entender a realidade.
Quando falamos de comunicação na Igreja não devemos
pensar apenas nos meios. Entendemos de maneira especial
o processo de comunicação nos espaços de reflexão para as
comunidades, as pastorais, os grupos, os movimentos, nas
diversas iniciativas que criam interação entre pessoas movidas
pelos valores do Evangelho.
A revista MISSÕES, editada pelos missionários e missionárias
da Consolata no Brasil, é um meio de informação e formação
que visa contribuir com a construção de um mundo mais justo
e solidário através de subsídios pastorais, espirituais, sociais
e culturais. Seu público alvo são as lideranças e os cidadãos
em geral, as famílias, os jovens e os agentes de pastoral das
comunidades cristãs. Neste sentido, MISSÕES apresenta
matérias sobre:

• Atualidade da sociedade e movimentos sociais


• Espiritualidade e temas pastorais
• Articulação de projetos sociais e ambientais
• Estudos sobre os desafios para a missão da Igreja
• Subsídios para uma pastoral missionária
• Testemunhos de vida e de experiência
• Reflexões para a juventude
• Trabalhos didáticos para as crianças, e muito mais.

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