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O outro fato que merece nossa atenção está estampado na edição de sexta-feira do
site da Bloomberg. A SEC, outra agência regulatória do governo americano e responsável pelo
mercado de títulos em geral, contratou um respeitado professor universitário para ser o
responsável pela análise de risco nas operações sob sua supervisão. "Nós estamos criando um
novo foco na análise de riscos para podermos identificar as áreas da indústria de títulos
financeiros que podem representar riscos para os investidores" disse o presidente da SEC à
agência de notícias. É preciso lembrar que, nos anos Bush, a SEC foi um dos centros do
movimento pela liberdade total dos mercados.
Quem acompanha o dia a dia dos mercados financeiros sabe que o pensamento
ultraliberal em relação à regulação dos mercados financeiros foi dominante desde a década de
1980, mas especialmente a partir do governo Clinton. Bush deu continuidade a essa visão. Os
perigos associados a essa postura ficaram ainda maiores em função do aparecimento de uma
série de inovações financeiras que criaram segmentos do mercado sem nenhum
acompanhamento pelos órgãos reguladores. Além desses espaços sem lei, instrumentos
legítimos de busca de eficiência das instituições financeiras e que funcionaram adequadamente
durante muito tempo foram sendo desvirtuados. Como não havia a disposição das autoridades
de acompanhar os movimentos das instituições financeiras, os riscos associados a essa
evolução também não foram identificados com antecedência.
Outra lição da crise atual e que será certamente incorporada no desenho de um novo
sistema de regulação é que, no mundo integrado que existe hoje, o sistema de regulação e
controle das operações financeiras não pode estar restrito às fronteiras nacionais. Uma das
causas da crise recente foi exatamente a existência de espaços vazios de regulação entre um
país e outro e que foi aproveitado por várias empresas para fugir da regulação. O exemplo
mais claro dessa esperteza é o da AIG, que criou uma empresa em Londres para fugir da
supervisão dos órgãos americanos no mercado de companhia de seguros.
Usando aqui a imagem dos movimentos de um pêndulo, podemos dizer que o risco
agora passa a ser o de exagero na regulação. Os custos associados à liberdade excessiva dos
mercados financeiros foram tão grandes que existe hoje um clima de caça às bruxas. Por isso
o papel das cabeças mais lúcidas neste momento é o de evitar exageros, pois a liberdade
legítima dos mercados precisa ser preservada para manter sua eficiência.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do
BNDES e ministro das Comunicações