A2 ESPAÇO ABERTO QUINTA-FEIRA, 3 DE SETEMBRO DE 2009

O ESTADO DE S.PAULO

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Benefícioscomprometidos Essecrime
eadiados chamadojustiça
RobertoMacedo DemétrioMagnoli

Por razões ideológicas, políti-
cas e eleitorais, o modelo que o
governo Lula quer na explora-
ção de petróleo na camada do
pré-sal substitui o atual, de
concessão, por um de partilha
à brasileira, adiante explicado.
Um de seus traços mais impor-
tantes é o imenso papel atribuí-
do à Petrobrás na gestão do no-
vo modelo.
Recorde-se que na conces-
são as empresas interessadas
participam de um leilão e ven-
ce quem se dispõe a pagar à
União o maior valor pela área li-
citada. A produção é da conces-
sionária, a qual também paga a
entes governamentais, na for-
ma de “royalties”, uma compen-
sação pelo que retirou dos po-
ços. Esses entes ainda recebem
uma “participação especial” no
caso dos poços mais rentáveis.
Na partilha, o petróleo conti-
nuará da União e as empresas
operadoras são compensadas
pelo seu investimento. Mas, di-
ferentemente da partilha de ou-
tros países, aqui uma empresa,
a Petrobrás, poderá ser contra-
tada sem licitação. Mesmo que
outras empresas sejam chama-
Só a Petrobrás e
sua gente é que
sairão ganhando
já com o pré-sal
das, ela será necessariamente
uma sócia.
Esse modelo à brasileira
traz dois grandes problemas,
dos quais decorrem sérias con-
sequências. O primeiro é o enor-
me poder dado à Petrobrás,
que terá condições próximas de
um monopólio. O segundo vem
porque ela não dispõe de dinhei-
ro para toda a empreitada, em
razão do que terá de recorrer à
União para capitalizá-la.
O que significa essa capitali-
zação, até aqui muito mal expli-
cada à Nação? Seu valor é
imenso, com cifras, nos jornais,
variando entre R$ 50 bilhões e
R$ 100 bilhões, enquanto a Pe-
trobrás diz que qualquer cifra
é mera especulação, pois nem
ela ainda sabe o valor. Só se sa-
be que será enorme.
A engenharia financeira do
novo modelo tem o seguinte ro-
teiro – e para entendê-la, bem
como para chegar às suas con-
sequências, foi muito útil a en-
trevista do consultor Marco Ta-
vares, da Gas Energy, ontem
neste jornal (página B4): 1) A
Petrobrás não tem todo o di-
nheiro de que precisa; 2) a
União também não tem; 3) esta
emitirá títulos da dívida públi-
ca, pelos quais pagará juros (já
gastando por conta...), e os en-
tregará à Petrobrás, subscre-
vendo suas ações; 4) a União
também vai se endividar mais
para capitalizar o BNDES quan-
do este, também acionista,
subscrever sua parte da capita-
lização, para não perder poder muito da competência do A jornalista Helena Chagas, di- em instância inferior. Uma frá- creditável Cezar Peluso. O juiz
na empresa; 5) em seguida, a Congresso para fazer altera- retora de O Globo em Brasília gil maioria, de cinco contra qua- destroçou a tese da defesa,
Petrobrás pagará à União, com ções substantivas na propos- (hoje na TV Brasil), soube por tro juízes, alinhou o Judiciário mas, antes da conclusão lógica,
os próprios títulos que recebe- ta, pois a atual legislatura até seu jardineiro de um depósito com o paradigma do Executivo, imaginou a hipótese de que Mat-
rá dela, um valor atribuído a 5 agora não disse bem a que de vulto na conta do caseiro expresso por Lula: no Brasil, o toso não seguia uma instrução
bilhões de barris de reservas veio. E o que vazou é mais pa- Francenildo Costa e passou a Estado distingue os “homens in- do ministro ao quebrar o sigilo
do pré-sal, ficando com elas; 6) ra lamentar. Ela está tam- informação ao senador Tião comuns” dos “homens comuns”. de Francenildo. A sua hipótese
no final, portanto, a Petrobrás bém pressionada pelo regime Viana (PT-AC), que a transmi- A maioria que livrou de pro- altamente improvável talvez pu-
terá essa reserva e o governo fi- de urgência dos projetos pré- tiu ao ministro da Fazenda, cesso o “homem incomum” se desse sustentar uma absolvição
cará com ações da empresa. É sálicos que recebeu e pelo ca- Antônio Palocci. Então, Paloc- orientou pelo relatório de Gil- de Palocci ao final de um proces-
engenhoso, como tudo o que lendário eleitoral que se apro- ci convocou ao Planalto Jorge mar Mendes, o presidente do so. Mas bastou-lhe para rejeitar
vem da Petrobrás. xima, no qual liberações de Mattoso, presidente da Caixa STF. Mendes é um defensor in- a abertura do próprio processo
Nas sérias consequências, en- verbas têm valor político ain- Econômica Federal (CEF). Na- cansável de que a Justiça não se que a escrutinaria. Peluso suce-
tra em cena o “compromisso” da maior. quele dia, Mattoso tirou um ex- pode submeter ao “clamor das derá a Mendes à frente do STF,
governamental de que sua parti- Entretanto, há esperança trato da conta de Francenildo. ruas” e do princípio do Estado no ano que vem. A minha hipó-
cipação nos ganhos do pré-sal enquanto há vida e congres- À noite, 23 horas, reuniu-se de Direito de que ninguém deve tese é de que ele decidiu contra
irá para um tal Fundo Social sistas ainda dignos do nome. com Palocci na casa do minis- ser punido sem a existência de seus próprios argumentos, sa-
que dará recursos para a educa- O que se espera deles é que fa- tro, num encontro a três, no provas capazes de arrostar a crificando a justiça para estabe-
ção, a redução da pobreza, o de- çam o Congresso superar es- qual estava Marcelo Netto, as- presunção de inocência. Não há lecer uma jurisprudência infor-
senvolvimento científico-tecno- se obstáculo do regime de ur- sessor de imprensa do Minis- nos autos prova acima de dúvi- mal de submissão dos juízes ao
lógico, obras de infraestrutura gência – que parece viável na tério. No dia seguinte, o mes- da razoável de que Palocci te- voto do presidente do tribunal
e a uma política industrial para visão de vários –, estendendo mo extrato que circulou na nha ordenado a quebra de sigilo. nos casos de valor político estra-
o setor de petróleo. Como itens a discussão do assunto para reunião foi publicado no site O STF, contudo, não julgava a tégico. A ordem tradicional que
incluídos à última hora vieram tornar transparente o que o da revista Época. culpa ou inocência do ministro. organiza o mundo não pode ser
a cultura e a proteção ao meio governo está propondo, para O enredo acima não é uma Julgava apenas o acolhimento violada – eis a mensagem inscri-
ambiente. Com isso a lista de ficarem claros para o povo tese, mas uma narrativa fac- da denúncia, ou seja, a deflagra- ta no voto de Peluso.
prioridades já parece uma rela- brasileiro as perdas e os ga- tual, comprovada material- ção de um processo. Para isso A maioria configurada na de-
ção de vários Ministérios. nhos desse imenso negócio e mente pelas investigações da bastam indícios convincentes fesa dessa ordem tradicional re-
Como o petróleo para o Fun- para – que Deus nos ouça – to- Polícia Federal, que está nos de participação em ato crimino- legou Francenildo ao papel de
do Social só chegará num hori- mar medidas corretivas. autos da denúncia apresenta- so. Os cinco juízes que negaram espectador silencioso da soleni-
zonte que contempla esta déca- Do jeito que está, na Petro- da ao STF. A defesa alegou tal estatuto ao relato comprova- dade de consagração de uma im-
da, a próxima e até mais, o que brás a sua gente já deve es- não existirem indícios robus- do nos autos condenam a Nação punidade tão absoluta que impe-
se constata é que reservas do tar cantando música muito tos sobre a autoria da trans- a conviver com a impunidade le- de a própria instauração de pro-
pré-sal serão mesmo prioritá- difundida por Ivete Sangalo missão do extrato à revista e gal dos poderosos. Eles come-
ria e antecipadamente usadas e cujos versos finais, aqui pa- argumentou que o crime de tem um crime contra a justiça.
para capitalizar a Petrobrás! rodiados, ficariam assim: quebra de sigilo bancário só fi- Nunca, desde o encerramen- Condenaram a
Se fosse mantido o sistema de “Que vai/ que vai rolar a festa/ cou caracterizado no momen- to da ditadura militar, o Estado
concessões a empresas que já vai rolar!/ O povo da Petro- to da publicação do extrato. O brasileiro violou tão profunda- Nação a conviver
dispõem de seu próprio capital, brás/ mandou avisar...” ● STF derrubou o argumento mente a ordem democrática com a impunidade
a União poderia desde já iniciar central da defesa, identifican- quanto na hora em que Matto- legal dos poderosos
e fortalecer seu fundo com os Roberto Macedo, economista do indício de crime na transfe- so selecionou, entre os milhões
aportes dos leilões de conces- (USP e Harvard), professor rência do extrato de Mattoso de correntistas da CEF, o nome
são. Além disso, a exploração associado à Faap, é para Palocci. Mas só admitiu de Francenildo, uma testemu- cesso. Essa maioria assistiu, tal-
seria distribuída a um número vice-presidente da Associação a denúncia contra Mattoso, nha da CPI que investigava o vez levemente constrangida, ao
maior de empresas, o que ante- Comercial de São Paulo que responderá a processo poderoso ministro. No mesmo espetáculo ignóbil proporciona-
ciparia a produção mais in- dia em que o presidente da do pelo advogado de Palocci, Jo-
tensa do pré-sal, supondo que CEF acessava o extrato “sus- sé Roberto Batochio, que asso-
o petróleo esteja mesmo lá. peito”, mas não o transmitia mou à varanda de sua Casa-
Essa é uma suposição que
o modelo proposto toma co-
SINAIS PARTICULARES ao Conselho de Controle de
Atividades Financeiras
Grande ideológica para apontar
o caseiro como um “singelo qua-
mo certa, e confiava-se mui- LOREDANO (Coaf), guardando-o para Pa- se indigente”. Quando proferi-
to na previsão governamen- locci, Tião Viana prometia ram seus votos, os cinco juízes
tal da riqueza do pré-sal, aos jornalistas “uma grande enxergaram um semelhante
mas recentemente vieram surpresa”. O poder que faz is- não em Francenildo, mas em Pa-
notícias de poços secos. Aí so não conhece limites. Seu locci. Eles votaram na sua cas-
há uma outra questão: por horizonte utópico é o Estado ta, deixando as impressões digi-
que não diluir os riscos da policial: a administração pú- tais do persistente patrimonia-
empreitada com muitas ou- blica convertida em aparelho lismo brasileiro nos registros
tras empresas? de intimidação permanente da Corte constitucional.
Em síntese, os benefícios dos cidadãos, por meio da in- Francenildo sou eu, somos
do Fundo Social para a socie- vasão da privacidade e da nós todos, potenciais testemu-
dade brasileira estarão com- chantagem pessoal. nhas de desvios de conduta das
prometidos e adiados. Com- “A corda acabou estouran- altas autoridades políticas. A
prometidos porque esses 5 bi- do do lado mais fraco, como decisão proferida por um STF
lhões de barris irão para capi- sempre”, diagnosticou o juiz diminuído equivale a uma men-
talizar a Petrobrás, quando a Marco Aurélio Mello, referin- sagem destinada aos cidadãos
União poderia recebê-los em do-se ao voto da maioria de comuns. Eles estão dizendo
dinheiro se outorgados no re- seus colegas. Os cinco juízes que o silêncio vale ouro: o privi-
gime de concessão. Adiados decidiram que o crime inomi- légio a uma privacidade que
porque a Petrobrás deverá le- nável só pode ser reconheci- não figura como um direito for-
var mais tempo para operar do com a condição de que a te aos olhos da Corte devotada
os campos do que num regi- responsabilidade por ele re- a interpretar a Lei das Leis. Es-
me aberto à participação de caia apenas no agente direto tão condenando a Nação a ca-
várias empresas licitantes. E da operação ilegal. O paralelo lar quando se trata dos homens
vale lembrar que monopólios é inevitável: esses juízes abri- de poder. Como nem todos cala-
e quase monopólios usualmen- riam processo contra um ra- rão por todo o tempo, estão con-
te levam a custos e lucros to dos porões da tortura, mas denando o País a ter novos
mais elevados do que quando absolveriam de antemão os al- Francenildos. É o preço que co-
prevalece uma forte competi- tos oficiais que comandavam bram pela absolvição do cida-
ção entre empresas. Assim, a máquina de interrogar e tor- dão mais que comum. ●
vencerá a Petrobrás, o que in- turar da ditadura militar.
clui também sua gente: seus O relatório de Gilmar Men- Demétrio Magnoli é sociólogo
acionistas privados e sua ati- des pendeu sobre o abismo e doutor em Geografia
va e engenhosa corporação. Antonio Palocci por algum tempo, até ser res- Humana pela USP. E-mail:
Infelizmente, duvida-se gatado da derrota por um ina- demetrio.magnoli@terra.com.br

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Tragédiaem Heliópolis
A tragédia que resultou na morte
da jovem Ana Cristina Macedo –
vítima de uma bala perdida em
meio à troca de tiros entre guar-
das civis de São Caetano do Sul e
dois assaltantes – e na transfor-
mação das redondezas da Favela
Heliópolis em praça de guerra,
com o protesto dos moradores,
remete à questão do ominoso des-
respeito à Constituição ao se per-
mitir que guardas civis atuem co-
mo policiais, que não são. A famí-
lia da vítima deve processar não
só o Estado por danos morais,
mas, criminalmente, autoridades
que permitem, quem sabe até in-
centivem, a guardas civis – de ou-
tro município! – perseguir veícu-
los, usurpando função pública po-
licial, quando o máximo que pode-
riam fazer seria acionar a Polícia
Militar ou a Civil. Num Brasil em
que a Constituição não raro é so-
lenemente pisoteada, tolerar es-
se precedente é atitude arriscada.
LUIZ M. LEITÃO DA CUNHA
luizleitao@ebb.com.br
São Paulo
● Enquanto as pessoas das comu-
nidades carentes não se mobili-
zarem para expulsar bandidos e
traficantes que vivem como seus
vizinhos, tragédias com balas
perdidas continuarão a matar ino-
centes. Se elas conseguem orga-
nizar-se para queimar ônibus, o
que falta para limpar o pedaço,
sem medo, por denúncia anôni-
ma? Esse trabalho é de todos, go-
verno, polícia e comunidade.
PRISCILA SCATENA
priscilascatena@terra.com.br
São Paulo
● Cuidado, Kassab e Serra, fi-
quem atentos, segurança é mais
importante para a população
do que fazer obras para ganhar
eleições e os senhores se esque-
ceram dessa missão.
VALDIR SAYEG
valdirsayeg@uol.com.br
São Paulo
Jogopolítico
O governo de São Paulo precisa
começar a ficar mais esperto.
O PT joga sujo, baixo, rasteiro.
Ninguém do PT quer deixar o po-
der, pois todos se dão bem em
pouco tempo. Podem crer que de
agora em diante, até as eleições
de 2010, qualquer coisa será moti-
vo de greves, baderna, protestos
com violência, incêndio de ôni-
bus, etc., para desacreditar e fragi-
lizar o governo paulista perante o
País. Claro que por trás de todo o
esquema estão “companheiros”,
oferecendo até cesta de alimen-
tos a quem participar. O que preo-
cupa mesmo é que canais impor-
tantes da mídia eletrônica fazem
parte desse aparelho/esquema já
em operação no País em prol da
candidatura da ministra Dilma.
VITOR DE JESUS
vitordejesus@uol.com.br
São Paulo
Acadêmico
Fernando Collor membro da
Academia Alagoana de Letras?
É “ilário”, como escreveu certa
vez o hoje imortal...
FLÁVIA DE CASTRO LIMA
lgcastrolima@uol.com.br
São João da Boa Vista
Produtividaderural
Se o novo índice de produtivi-
dade rural tiver como base
as abobrinhas que produz o
presidente Lulla e as maracu-
taias do seu governo, adeus,
agronegócios!
ALBERT HENRY HORNETT
hornettalbert@hotmail.com
São Paulo
● A Igreja Católica devia se
preocupar em pagar os im-
postos devidos e as leis traba-
lhistas. É muito fácil palpitar
na vida dos outros, mas cum-
prir as nossas responsabili-
dades é bem diferente.
SERGIO PEDREIRA DE FREITAS
serpedreira@terra.com.br
Arceburgo (MG)
Pré-sal
Notícia ótima é que as reservas
são fantásticas. Notícia boa é que
pertencem ao Brasil. Notícia não
tão boa é que o poder lullista quer
tirar proveito. Notícia ruim é sa-
ber que ao povo restará o sal. No-
tícia péssima é ter a certeza de
que não vai haver sal para todos.
A. FERNANDES
standyball@hotmail.com
São Paulo
Históriaantiga
Essa história do pré-sal me lem-
bra uma outra, mais antiga: por
muitos e muitos anos, os políticos
prometiam água para o desen-
volvimento do Nordeste e muitos
deles, com essa retórica dema-
gógico-eleitoreira, conseguiram
seus intentos e até hoje permane-