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BAHIA

COMISSÃO EDITORIAL
Alessandra Masullo - Diaconia
Bart Vetsuypens - Volens
Mathieu Orfinger - Volens/Gacc
Osmar Rufino Braga - Visão Mundial

EQUIPE DE SISTEMATIZAÇÃO
Alessandra Masullo - Diaconia, Arlene Freire - ABRAÇO SISAL, Bart Vetsuypens - Volens,
Daniele Xavier - Conexão de Saberes, Fernando Filho - ACOPAMEC, David Junior - CCJ,
Gerinelson Lima Gonçalves - REFAISA-BA, Maria Micinete - ESCUTA, Mathieu Orfinger - Volens/Gacc,
Osmar Rufino Braga - Visão Mundial, Sandro Silva de Lima - Conexão de Saberes

DIAGRAMAÇÃO E ARTE
Karine Raquel

CAPA
Apoena da Silva

EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA
José Cleiton (Carbonel)

REVISÃO
Gerson Flávio

FOTOS
Carlos Alberto, David Junior, Gilmar Raimundo, José Cleiton (Carbonel), Francisco Bomy e Bart Vetsuypens.

APOIO
CESE (Brasil), Tearfund, Christian Aid (Inglaterra), Norwegian Church Aid / OD (Noruega), DISOP, Volens, Zuiddag (Belgica)

IMPRESSÃO
8 de Março Gráfica e Editora

PRODUÇÃO
CCJ - Centro de Comunicação e Juventude
Assessoria de Produção - Karine Raquel

SITE
www.caravanadecomiunicacao.org.br

SITE DE VOLENS
www.volens.be
www.volensamerica.org

C262 Caravana de Comunicação e Juventudes : uma experiência de mobilização,


comunicação e formação das juventudes no contexto social do Nordeste /
comissão editorial Alessandra Masullo ... (et al.) . fotos Carlos Alberto ...
(et al.). – Recife : Centro de Comunicação e Juventude. 2009.
60p. : il.

Inclui referências.

1. MOVIMENTOS SOCIAIS – BRASIL. (NORDESTE). 2. MOBILIDADE


SOCIAL. – BRASIL. (NORDESTE). 3. CARAVANA DE COMUNICAÇÃO E
JUVENTUDES – BRASIL (NORDESTE) – ASPECTOS EDUCACIONAIS. 4.
CARAVANA DE COMUNICAÇÃO E JUVENTUDES – BRASIL. (NORDES-
TE) – ASPECTOS CULTURAIS. 5. COMUNIDADE – BRASIL (NORDESTE)
- ASSISTÊNCIA SOCIAL. 6. MOVIMENTO DA JUVENTUDE – BRASIL
(NORDESTE). 7. DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO. 8. POLÍTI-
CAS PÚBLICAS. 9. VETSUYPENS, BART – ENTREVISTA. 1. Masullo. Ales-
sandra. 11. Alberto. Carlos.

CDU 316.344.56
CDD 305.5

PeR – BPE 09-0337


Dedicamos este trabalho ao Pastor Arnulfo Barbosa, ex-diretor executivo da
Diaconia, falecido em agosto de 2008, que tanto sonhou e incentivou a realização
da Caravana de Comunicação e Juventudes. A ele, nossa saudosa gratidão.
O projeto da Caravana de Comunicação e Juventudes foi feito
com muitas mãos... por isso nossos agradecimentos a:
Michael Mc Laughlin, Joseilton Evangelista, Mara Manzoni Luz, Graça Elenice, Verônica Maciel, Alexandre
Botelho Merrem, Gerson Flávio, Erika Miguel de Jesus, Kris Fierens, Michel Lataer, Eric Gijssen, John
Erbuer, Leon e Martha Vetsuypens Vandiest, Mércia Assunção, Celia Rique, Daltro Paiva, Sofia Graciano,
Roberta, Ilma Bitencourt, Kris Jansen, Francisco Dantas, Simão Neto, Maria Auxiliadora Cabral, Diglane
Galvão, Christian Schoien, André Bilsen, Jefferson Vasconselhos, Gerard Vanderelst, Marc Storms, Dimas
Galvão,Valdenio Sabino, Omar Rocha, Katrien Vandepladutse, Pedro Mendes, Alexandre Cardoso, Felix
Guedes Aureliano da Silva, Raimundo Oliveira Cajá, Ita Porto, Nathan Kamliot, Maria Hortência Mendes,
Socorrinha Silva, Professora Socorro, Thiago Esperandio, Cássia Bechara, Beatriz Tibiriçá, IRPAA, Sicoob
– Pintadas e Valente, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pintadas e Neuza Cadore, Tatiane dos Santos
e Silva, Francisca Edvânia Freitas da Silva, Killvio Souza, Claudiney Souza de Arruda, Francisco
Wandeberg, Joana D´arc da Silva Feitosa, Celene Maria da Costa Pereira, Francisco Cristiano Sabino
Gabriel, Verônica Patrícia Pereira da Silva, Edcarlos Gonçalves Bezerra, Pablo Wanderson Andrade da
Silva, Inácio Alves de Sá, José Willian Ferreira, Luiz Rufino da Silva Neto, Edgleison Vieira Rodrigues,
Francisco Juan Araújo, Ana Paula Alves, Valcivania Oliveira Santos, Lucineide Vieira da Silva, Francisco
Ricardo de Sousa, Francisco José da Silva Soares, Antonio Hélio Roque da Silva, Edenisio da Silva, Maria
Micinete de Lima, Josineide Luz de Freitas, Charles Willian Farias Gomes, Jamieson Simões, Maria
Pinheiro do Nascimento, Antonia Aurinelda da Silva, Osmar Rufino Braga, Mac Thiago Barbosa, Ramon
Bonfim Barros, Thiago Silva de Santana, Alessandra Sávia da Costa Masullo, Francisco Cristiano Alves,
Artur Rodrigues da Silva Santos, Gleyson Gonçalo de Oliveira, Francisco Danilo Silva Mariano, Elenilda
Carlos de Melo (Elen), Mathieu Orfinger, Maria Wanderlúcia Lopes do Nascimento, Francisca Márcia
Fernandes de Morais, Josivan Cosmo da Silva, Mateus Ferreira de Freitas, Lucas Pinheiro de Queiroz,
Aurilene Pereira de Jesus, Claudeci Corpi Moraes, Sandro Silva de Lima, Danielle Xavier de Santana,
David Carlos Silva Santos Júnior, Francisco da Silva Cruz, Bart Vetsuypens, Natália Lopes Wanderley,
Carine Haesen, Carlos Alberto Gomes de Lima, Jailton Ferreira da Silva, José Caique Rago Ferreira,
Raquel de Melo Santana, Joselito Coutinho Costa, Célio Meira Sá, Ethel Ramos de Oliveira, Martina
Marzagalli, Talynne Lopes de Souza, Ingvild Lundeby Kirkebak, Einar Seilskjær, Juliana Joana da Silva,
Josiclébio Bastos, Alexsandra Marinho da Silva, Marília Gabriela Guilherme Nascimento dos Santos, José
Cleiton Severino de Lima, Zoé Maus e família, Leonildo de Moura Souza, Francisco Boony Pereira de
Amorim, Anderson Agide Albuquerque Moura, Alexsandra Rodrigues de Lima, José Severino da Silva,
Péricles Chagas Farias, Aldigleide Ferreira da Silva, Jessyka Alves da Silva, Paulo Ricardo do Nascimento,
Robson Ramos dos Santos, Gilmar Raimundo da Silva, Emerson Patrício da Silva, Alexsandro de Oliveira,
Jonas de Melo Silva, Johnatan Fernandes da Silva, Alcidésio Silva dos Santos Jr., Geovane Marcelino dos
Santos, Gisele da Silva Falcão, Adriana Gomes de Freitas, Romário Henrique Silva de Almeida, Francilene
Menezes dos Santos, Givanildo de Araújo Braz, André Nilton Carneiro da Conceição, Arlene Cristina Freire
Araújo, Kivia Maria da Silva Carneiro, Alcione Bispo dos Santos, Silvano Manoel Oliveira dos Santos, José
Valdo Santos de Pinho, Nilson Pereira de Souza Júnior, Miguel Elísio Teles Pereira, Jocivaldo dos Anjos,
Evandro da Conceição Soares, Gil Brás, Osmário Daniel dos Santos, Cristovão de Jesus Santana, Antoniel
da Silva Brito, Jucelino, Gerinelson Lima Gonçalves, Derivânio Pereira Lima, Ronivea Oliveira de Lima,
Adriano Alves dos Santos, Fernando dos Santos Pinheiros, Pedro dos Santos, Sérgio Sildagio Cantor,
Fernando Carneiro dos Santos Filho, Suemys Luize Tavares Pancene, Patrick de Menezes Brasileiro,
Ronildo Sacramento dos Santos, Alessandro Chineles, Nayara, Dânica Silvana Teles Santos, Alessandra,
Manuela Correia do Vale, Sirlene, Filipe de Morais Mota, Bruno Sousa Santos, Vanessa Sena de Almeida,
Com os pés na estrada...............................................................................................................................7

Entrevista - Uma idéia que virou Projeto....................................................................................................9

A Condição Juvenil no Nordeste...............................................................................................................13

A Mobilização Social na Caravana de Comunicação e Juventudes: significações, aprendizagens e


impactos...................................................................................................................................................17

O mundo é da cor que a gente pinta........................................................................................................25

Movimentos Sociais e a Democratização da Comunicação.....................................................................29

Oficinas da Caravana da Comunicação..............................................................................................30/31

Flashes das Oficinas................................................................................................................................32

A força dos/das jovens na Caravana de Comunicação e Juventudes......................................................33

Percursos juvenis: uma reflexão sobre a percepção e a experiência dos/das jovens na Caravana de
Comunicação e Juventudes.....................................................................................................................35

A arte como mobilização política e cultural na Caravana de Comunicação e Juventudes .....................46

CARAVANA DE COMUNICAÇÃO
E JUVENTUDES:A Realização de um sonho que virou História..............................................................47

Caravana de Comunicação e Juventudes: ponte entre o Jovem e o Mundo...........................................49

O aprendizado da participação política e seus resultados.......................................................................51

Carta da Caravana de Comunicação e Juventudes às Autoridades de Crateús......................................53

Entidadades Realizadoras da Caravana de Comunicação e Juventudes................................................55

Apoio ........................................................................................................................................................56

Encaminhamentos da Audiência Pública da Caravana de Comunicação e Juventudes..........................57

Cordel da Caravana..................................................................................................................................58

Referências Bibliografias..........................................................................................................................59
Chegou o dia. Bagagens prontas, listas de nomes conferidas, muito riso e
brincadeira pelos corredores dos veículos, adrenalina em alto grau! Enfim, todos e
todas a postos para a saída dos ônibus. Em um dos estados, o motorista, ainda
tímido, pergunta: 'tudo ok?' 'Tudo ok', alguém da coordenação responde, 'podemos
ir!'. Para umas pessoas, expectativa e ansiedade, para outras, cuidado e atenção,
mas um sentimento era comum: alegria e empolgação de sair pela estrada
chamando as juventudes para construir um outro mundo possível e real para o
Nordeste brasileiro.
Na mala, havia de tudo: coisas pessoais, livros, textos, gravuras, gravadores,
máquinas fotográficas, figurinos, maquiagens, materiais de divulgação das
entidades, um diário para registrar os acontecimentos e as emoções, computadores,
impressoras, filmadoras, letras de músicas, poesias, violão, alfaia, pandeiro,
triângulo e outros instrumentos, cd´s, dvd´s, faixas, pincéis, fita gomada, cartazes,
papel (muito papel - papel madeira, ofício, crepom, celofane, jornal, cartolina... ufa!).
Mas tinha também biscoitos, sucos, bombons, frutas, água, chicletes, pratos,
canecos, torradeira, sanduicheira, garrafa térmica, mergulhão para ferver a água,
protetor solar, repelente de mosquitos, medicamentos diversos, cartões telefônicos,
rádios de comunicação, aparelhos de som, barracas, colchonetes e rede! Tinha
mesmo de tudo, até um bichinho de pelúcia, o Furão!
Cada detalhe não podia ser esquecido, mas quando era, todos e todas assumiam
coletivamente e o problema era então resolvido. Ali não havia mais “cada um ou cada
uma que se cuide”, todos e todas eram responsáveis por si e pelo coletivo. Acordos
foram construídos, responsabilidades compartilhadas e a Caravana de Comunicação e
Juventudes, ousadamente partiu, saindo dos pontos de apoio na Bahia, Pernambuco e
Ceará, mas levando gente de quase todos os estados nordestinos, e de outras partes
do mundo: Bélgica e Noruega.
O sonho de transformar o mundo, que já era vivenciado no cotidiano de cada jovem
e de cada entidade ali presente, ganhava a estrada. Foram mais de 4.000km animados
por cortejos, oficinas educativas, apresentações culturais, festas, cine-debates,
mobilizações, panfletagem, seminário, visitas às comunidades, entrevistas, audiências
públicas, denúncias, grafitagens nos muros das cidades, registros áudio-visuais,
depoimentos, fotos... No fim do caminho, a última parada, o Fórum Social Mundial, em
Belém do Pará.
Foram 18 dias de muito sol e muita chuva, dias de calor e noites de frio! Momentos
de cansaço e euforia! Tempo de reflexões, debates políticos, de capacitações, de
planejamentos, de avaliações, de busca de recursos financeiros, de descobertas de
limites e possibilidades, de medo e de coragem, de dúvidas e certezas. Mas, sobretudo
foram momentos de muitos aprendizados, aprendizados estes que gostaríamos de
compartilhar aqui, com vocês. Por isso, apresentamos esta revista, cujo conteúdo está
organizado em artigos elaborados por integrantes da Caravana que, a partir de um
processo coletivo de sistematização, compartilham textos, poesias, fotos, ilustrações e
reflexões teóricas sobre as experiências vividas antes, durante e depois da Caravana
de Comunicação e Juventudes.
Esperamos que a leitura seja inspiradora e reveladora do potencial das juventudes
e que os saberes construídos nessa experiência possam continuar embalando nossos
sonhos e nosso projeto de um outro mundo possível.

Comissão Editorial
9

BART VETSUYPENS é cooperante de ação da ONG belga


VOLENS e trabalha no Brasil há sete anos. A VOLENS atua no
Brasil há 40 anos e mais recentemente no Nordeste, onde mantém
parcerias com cerca de dez organizações sociais. É uma entidade
não-governamental que apoia projetos sociais em duas linhas de
ação: educação contextualizada e economia solidária. Esta ONG e
sua rede de parceiros lançaram a proposta da Caravana de
Comunicação e Juventudes, abraçada depois por outras
organizações, redes e movimentos juvenis com atuação no
Nordeste.
Aqui reproduzimos uma entrevista com Bart, onde destacamos
como nasceu a idéia e como foi implementado o projeto da
Caravana de Comunicação e Juventudes, realizado em janeiro e
fevereiro de 2009, envolvendo 200 jovens de seis estados do
Nordeste. A Caravana tornou-se uma metodologia de mobilização
social das juventudes nordestinas.

Como nasceu a idéia da Caravana de Comunicação e Juventudes?


BART – Tudo começou em março de 2008, durante
um encontro de planejamento da VOLENS e seus
parceiros, realizado em Fontainha, Aracati (CE). A idéia
foi apresentada neste encontro e aos poucos foi
ganhando força e apoio dos parceiros.
A primeira proposta nasceu no Centro de
Comunicação e Juventude (CCJ) de Recife (PE), ligada à
idéia de fazermos uma feira itinerante nos bairros, que
tinha a ver com a formação em comunicação alternativa,
criando conteúdo local.
O novo jeito da VOLENS se organizar, de fazer uma
ação em rede junto aos vários parceiros que atuam no
Brasil. Colocamos a idéia no programa da VOLENS, que
acabou ganhando dimensão mais ampla, conectando-se
depois com o Fórum Social Mundial. Assim a Caravana
se transformou numa ação integrada entre os diversos
parceiros no início de um novo Programa.
Colocamos a idéia no programa da VOLENS, que estava com um novo jeito de se organizar, fazendo uma ação em rede
junto aos vários parceiros que atuam no Brasil. A idéia acabou ganhando uma dimensão mais ampla, conectando-se depois
com o FSM.

Qual o objetivo maior da Caravana?


10

Como foi a acolhida do Projeto junto as outras organizações?


BART – Lembro das nossas primeiras reuniões em Recife e em Fortaleza com organizações locais, para
apresentarmos o projeto da Caravana. Ouvimos coisas do tipo “faz tanto tempo que a gente não faz uma mobilização social
tão ampla, articulando várias entidades de outros estados”... A partir dessa constatação, muitas entidades foram trazendo
contribuições ao projeto, fazendo acréscimos, transformando o projeto em uma ação de todo o Nordeste. Em geral todo
mundo se animava para engajar-se e fazer parte da Caravana. Ninguém queria ficar de fora.

Como foi a construção/elaboração do projeto da Caravana?


Que passos foram dados?
BART – No primeiro momento, apresentamos a proposta inicial no plano da VOLENS, o que implicou na liberação de
recursos para o projeto, como contrapartida inicial, e no envolvimento dos Cooperantes. No segundo momento, esse
projeto se estendeu para as entidades de Fortaleza e Recife, e depois Salvador, e esses estados construíram juntos o
projeto político-pedagógico e financeiro. As entidades contribuíram na articulação e mobilização de parcerias.

Como a juventude se envolve


com o projeto da Caravana?
BART – Foi uma exigência
apresentada nas primeiras
reuniões sobre a
Caravana, de que os jovens
estivessem a frente no seu processo
de organização. O envolvimento dos
jovens se deu na construção coletiva
da proposta pedagógica, discutindo os
temas e a metodologia da Caravana,
as estratégias de comunicação, a
mobilização de recursos, as regras de
convivência, os critérios de
participação. Enfim, os jovens foram
os protagonistas do projeto através
das entidades que integraram os
comitês estaduais.
Como foi feita a captação de recursos?
BART – Este era um grande desafio, a gente estava preocupado no início, especialmente diante da
conjuntura de crise das ONGs no Brasil.
Neste contexto, podemos ver dois níveis de aportes importantes na Caravana, sendo que um não pode ser
desvinculado do outro: no primeiro nível, tivemos o aporte técnico, de infra-estrutura e de articulação de apoio local; no
segundo nível, tivemos a mobilização de recursos financeiros.
No primeiro nível, tivemos um grupo de ONGs de referência, como VOLENS, DIACONIA, EQUIP, MST, SERTA, Visão
Mundial, DISOP Brasil, Obra Kolping, GACC , que intensificaram a preparação dos grupos, a articulação e apoio dos
diferentes parceiros nos estados. Visão Mundial articulou Teresina (PI) e Crateús (CE) para organizar a hospedagem e
alimentação. DISOP articulou os participantes do Estado da Bahia. Diaconia facilitou a articulação da ONG CAATINGA , em
Ouricuri (PE), como local de nossa primeira parada, com hospedagem e alimentação. O GACC passou contatos
estratégicos em Belém (PA), que possibilitaram a estadia na cidade e boa articulação junto à organização do Fórum Social
Mundial, através do GACC Belém e CEPEPO. O MST contribuiu com o debate, ajudando a Caravana a cumprir o seu papel
político durante o caminho e no Fórum Social Mundial. O GAJOP colaborou para a viabilização do convênio com o Governo
do Estado de Pernambuco e com a aquisição do transporte que levou os jovens pernambucanos para Belém (PA).
Destacamos também o apoio da Prefeitura de Crateús, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da Paróquia dessa
cidade, bem como do Governo do Estado do Piauí, todos ofereceram apoio na hospedagem e alimentação durante a
passagem da Caravana. No que se refere à mobilização de recursos, destacamos o apoio da CESE- Salvador e de várias
organizações internacionais, como a VOLENS, a ajuda da Igreja da Noruega, Christian Aid, DISOP, Tearfund e a Campanha
dos Estudantes da Bélgica-ZUIDDAG. A EQUIP assumiu também a contabilidade dos recursos financeiros.
12

"A Caravana foi um grande


momento de formação onde
eu aprendi sobre vários temas
que eu não tinha grande
conhecimento e formou bons
facilitadores ". (Charles Gomes)

"A Caravana foi uma enorme forma de


aprendizagem, vivenciando a realidade
dos jovens em diversas regiões dos
estados e a troca de experiências".
(Killvio Sousa)

Conheci um mundo de
informações nos livros
que estavam em
exposições nos
estandes do FSM.
(Alessandro Chinelles)

A melhor coisa que me aconteceu


nesta área: a participaçãp no FSM,
mas não foi o FSM que me deixou
feliz , foi a Caravana de
Comunicação e Juventudes.
Simplesmente não vamos deixar
que a caravana acabe por aqui que
siga a essa caminhada por muito
tempo.
(Arthur Rodrigues da Silva Santos)
11

Como se deu a relação entre a Caravana e o Fórum Social Mundial 2009?


BART – No começo discutimos que a Caravana deveria acontecer somente entre os estados. Depois, surgiu
a idéia de fazer a Caravana para o FSM, e por último de fazer da Caravana um tipo de “Fórum Social Mundial
itinerante”, levando suas temáticas para algumas cidades do Nordeste, e essa idéia nunca mais desapareceu. Foi
essa idéia que “fez brilhar os olhos” de muitos apoiadores da Caravana, inclusive financiadores, visto que o Fórum
Social Mundial seria um excelente espaço de formação para os jovens.

Quais as maiores dificuldades, destaques para a execução desse projeto?


BART – BART – Tivemos dificuldade na comunicação entre os comitês de cada estado, sendo que o Comitê de
Pernambuco teve que centralizar as questões de comunicação, trazendo mais trabalho para esse comitê. Alguns estados
não organizaram a comissão de comunicação.
Outra dificuldade foi o processo de captação de recursos, bastante difícil, pois não chegava nenhum recurso. As
organizações tinham outras prioridades. Nesse caso, uma pessoa foi liberada para atuar diretamente junto aos possíveis
apoiadores, com a confiança dos parceiros. O custo total do projeto foi alto, mas por causa da articulação das entidades e
parceiros, tivemos um grande movimento de solidariedade e foi possível realizar a Caravana. Vemos que, quando se tem
ação em conjunto, tudo é possível. A articulação fluiu facilmente, não tivemos problemas interinstitucionais. Mas, o maior
destaque, foi a participação dos jovens, que colocaram suas habilidades, seus talentos e potenciais na preparação e
realização da Caravana. `` Foi isso que nos fez brilhar os olhos´´.
13

Por Osmar Rufino Braga

A Caravana de Comunicação e Juventudes,


durante 18 dias dos meses de janeiro e fevereiro de
2009, percorreu algumas cidades do Nordeste,
conhecendo e problematizando a condição juvenil,
compartilhando sonhos e projetos com os/as
jovens, bem como soluções para os problemas que
os afligem. Nesse sentido, vários temas e questões
foram trazidos à tona: direito à educação e à saúde,
juventude e trabalho, gênero, sexualidade e etnia,
desenvolvimento sustentável, protagonismo
político e identidade juvenil, dentre outros.
O propósito deste texto é compartilhar
algumas informações e reflexões acerca da
condição juvenil no Brasil e, principalmente no
Nordeste, dialogando com algumas investigações
acadêmicas, pesquisas de órgãos governamentais
e de entidades da sociedade civil, ligadas às
organizações juvenis da região.

No total foram 200 jovens, divididos equilibradamente entre homens e mulheres, de faixa etária entre
16 a 29 anos, oriundos e oriundas das áreas rurais e urbanas dos Estados do Ceará, Pernambuco, Bahia,
Alagoas, Rio Grande do Norte e Piauí, engajados e engajadas em projetos sociais, ONGs, movimentos,
redes e organizações juvenis1. Na sua maioria, os/as jovens participantes da Caravana possuíam ou
estavam cursando o ensino médio.

1. Os/as jovens de que estamos falamos pertencem ou estão ligados e ligadas a Movimentos de Juventudes – Grupo Jovem Geração
Futuro, Grupo de Jovens Fala Sério (Ceará), Rede de Jovens do Nordeste - RJNE, Pastoral de Juventude do Meio Popular, Rede de
Resistência Solidária, Centro Popular de Cultura e Comunicação (Fortaleza-CE), Coletivo Gambiarra Imagens, IntegraSol, Projeto
Crescendo no Morro, Projeto Peixearte, Grupo Pé no Chão, Caranguejo Uca; a Entidades Ambientalistas e pela reforma agrária –
Movimento dos Sem Terra – MST; a Organizações Não-Governamentais, Centros de Defesa dos Direitos Humanos e entidades de
defesa do direito à comunicação – Escola de Formação Quilombo dos Palmares - EQUIP, Grupo de Apoio às Comunidades Carentes -
GACC, Obra Kolping do Nordeste (Ceará e Piauí), Visão Mundial (Ceará, Alagoas e Rio Grande do Norte), Centro de Comunicação da
Juventude - CCJ, Diaconia (Ceará e Pernambuco), Volens, MSD/ASD; a Entidades ligadas ao mundo do trabalho – Sindicato dos
Trabalhadores Rurais (STR), Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA; a Redes Sociais – Rede de Jovens do Nordeste, Rede de
Resistência Solidária; a Organizações de Mulheres e organizações pela livre orientação sexual – Movimento de Mulheres
Trabalhadoras Rurais do Nordeste - MMTR-NE; a Organismos governamentais ligados aos setores populares – Programa
Conexões de Saberes (projeto de extensão comunitária da UFPE);
14

Nas andanças pelas cidades nordestinas, tivemos contato e mergulhamos de cheio nas situações de
exclusão vivida pelos/pelas jovens. Conhecemos e debatemos as condições sociais em que vive a maioria
dos/das jovens das periferias e das áreas rurais da região. Muitos dos problemas sociais que caracterizam a
condição social das juventudes foram tematizados pelos/pelas jovens da Caravana nas oficinas, mobilizações e
atividades realizadas. Dialogando com algumas pesquisas, compartilhamos alguns desses temas e questões
abordadas durante o percurso da Caravana.
Compartilhamos da visão de Abad (2002), quando defende que, em toda a análise sobre a juventude,
devemos considerar as diferenças entre condição e situação juvenil. O autor explica que, na condição juvenil,
encontramos a multiplicidade de formas com as quais a sociedade pensa e configura o ciclo da vida chamado
“juventude”, tomando-a sob a visão biológica, muitas vezes descontextualizando o viver juvenil. É na situação
juvenil, segundo ainda o mesmo autor, que encontramos as questões especificas que se somam à vida dos/das
jovens, destacando-se: os conflitos de classe social, a construção social das relações de gênero, as
particularidades étnicas, os contextos regionais, diferenças de estilos de vida, inclusive entre jovens que vivem
nas áreas urbanas e rurais.
As populações juvenis, no Nordeste, na faixa etária de 15 a 24 anos, segundo dados do PNAD/2005, totalizam
10.511.736, representando 21% da população do Brasil. Considerando-se os dados do IBGE/2000, que trabalha
com a faixa etária de 15 a 29 anos, temos então no Nordeste 13.916.033 jovens, sendo 49,5% homens e 50,5%
mulheres. A maior parte das populações juvenis vive nas áreas urbanas, pois somente 29% dos/das jovens vivem
nas áreas rurais.
O Nordeste, no Brasil, ainda figura como a região mais desigual do país, segundo dados da Pesquisa de
Orçamentos Familiares (POF), divulgados recentemente. Na região, os ricos ganham mais de 11,8 vezes que os
pobres, acima da média do Brasil, que é de 10 vezes mais.
Essa realidade se reflete na condição e situação dos/das jovens, onde 5% se encontram nas classes
socioeconômicas A e B; 16% estão na C; e a grande maioria, 79%, nas classes D e E, ou seja, 11 milhões de
jovens encontram-se nas classes D e E.

A segregação social dos/das jovens do Nordeste, em grande medida, vai impactar o viver juvenil,
determinando sua condição e situação socioeconômica, política e cultural. É o que constatamos durante todo o
percurso da Caravana quando verificamos o viver juvenil nas áreas de saúde, educação, trabalho e renda, cultura
e lazer.
Uma das coisas que se constata é que os/as jovens estão mudando o seu comportamento, buscando novos
valores, referências e construindo novas trajetórias, porém essa autonomia não significa independência total,
visto que prolongam sua permanência no espaço familiar. Já a saúde juvenil é algo preocupante e envolve um
conjunto de relações e direitos: sexuais e reprodutivos, assistência médico-hospitalar, situações de violência,
práticas de lazer, esportes, cuidados com o corpo, práticas de risco, consumo de álcool, fumo e outras drogas,
dentre outras. Mas, não há estatísticas e estudos oficiais que articulem todas essas situações. Um aspecto muito
particular e importante diz respeito à saúde sexual e reprodutiva, onde é constatado um crescimento da
fecundidade juvenil em relação à fecundidade total no país, com reflexos nos índices de maternidade nas idades
de 15 a 19 anos
Um dos grandes problemas que marca a juventude brasileira é o analfabetismo, que atinge 11,1% da
população de mais de 15 anos de idade. No Nordeste, o índice chega a ser cinco vezes maior, comparado com
outras regiões do centro-sul do país. No total, são quase 550 mil analfabetos jovens, a maior parte concentrada
nos estados do Ceará, Pernambuco, Bahia e Maranhão. Os dados mostram que estes jovens vivem nas áreas
rurais da região, pertencem a famílias também analfabetas e de baixo poder aquisitivo.

2. PNAD/2005 – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.


15

Na faixa etária dos 15 a 24 anos, mais da


metade (53,1%) dos jovens estão fora da
escola, sem falar que, quando estão na escola,
o nível de ensino desses jovens não
corresponde a sua idade cronológica. No
Nordeste, 55% dos/das jovens interromperam
seus estudos e não voltaram a estudar. Outra
situação preocupante é que, ao contrário
dos/das jovens do Sul e do Sudeste, os/as
jovens do Norte e Nordeste possuem uma
média de anos de estudo baixa. Dados
mostram que os/as jovens brancos possuem
uma média de estudo acima dos/das jovens
negros e os anos de estudo diminuem na
medida em que os/as jovens pertencem a
famílias de baixo poder aquisitivo.
A baixa qualidade talvez seja o principal
problema na área educacional do país. O Brasil
está situado praticamente no último lugar ou
nas últimas posições, quando comparado a
outros países. Mais de 90% dos alunos não
tiveram uma formação adequada em
matemática e em língua portuguesa, sendo que
aqui também o desempenho dos brancos é
maior que o desempenho dos/das jovens
negros/as.
A renda dos/das jovens caiu nos últimos
anos e menos de 50% tem alguma renda. Nas
regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste a
situação de renda dos/das jovens é melhor. No
Nordeste, os/as jovens que estão inseridos no
mercado, estão inseridos de forma precária,
visto que a maioria dos/das jovens
empregados não gozam de nenhum tipo de
benefícios previstos em lei como direito social.
Metade dos/das jovens nordestinos está
buscando emprego, índice alarmante, sem
falar das exigências para o ingresso no
mercado: a experiência e boa escolaridade, requisitos que deixam os/as jovens nordestinos/nas em situação de
desvantagem.
Estudos mostram que a saúde do jovem brasileiro está se deteriorando, não por motivo natural, mas porque a
juventude é vítima de acidentes, homicídios e suicídios. As mortes dos segmentos juvenis estão associadas à
violência (conflitos armados), aos suicídios e aos acidentes de trânsito, causas que respondem por 72,8% da
mortalidade juvenil de 15 a 24 anos no país. No Nordeste, os jovens morrem de causas externas, principalmente
homicídios, acidentes de trânsito e armas de fogo. Mas morrem também por causas internas associadas à má
qualidade de vida (condições de moradia, saneamento, esgoto), precariedade dos mecanismos de assistência à
saúde, desigualdade no acesso aos serviços, fragilidade ou ausência de trabalhos preventivos e educativos
relacionados à saúde etc.

3. Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), gerido pela Secretaria de Vigilância da Saúde do Ministério da
Saúde (2005).
16

Quase 80% dos jovens estão excluídos do acesso


às tecnologias de comunicação e informação, como o
computador, a TV, o celular e a internet. As pesquisas
revelam também que no Brasil, principalmente no
Nordeste, os jovens não têm acesso às políticas de
lazer e de ocupação do tempo livre. O que existem são
ações pontuais, principalmente nas capitais litorâneas
da região, cujos espaços são bastante precários e não
atendem as demandas dos/das jovens.

‘‘A Caravana foi uma experiència muito


positiva, tanto em relação a metodologia
como em relação aos seus objetivos. A
Caravana teve um grande impacto por
onde passou pelo seu potencial de
mobilização política e a força dela reside
na faculdade de ligar linguagem artistica
(provocadora) e a discussão política’’.
Mattieu Orfinger - Volens/GACC

"Na oficina sobre Juventude e Trabalho


pude observar que a juventude quer
mudanças e muitas vezes não sabe
como buscá-las. A Caravana foi o
incentivo que eles precisavam para
buscar essas mudanças". (Thiago Silva -
PDA Novo Chão).

No presente trabalho, de forma bastante resumida, procuramos apresentar e refletir sobre a condição juvenil
no Brasil e no Nordeste, socializando e compartilhando informações e análises dos problemas sociais vividos
pelas juventudes nordestinas, dialogando com as pesquisas mais recentes, voltadas para as questões e
interesses desses segmentos.
Na Caravana de Comunicação e Juventudes tivemos a oportunidade de conhecer e compartilhar as situações
e os problemas apresentados neste trabalho. Debatendo e analisando essas situações e problemas com as
juventudes nordestinas, é possível apontar algumas conclusões que elas sugerem e desafiam: que é grave a
condição de segregação em que vivem os/as jovens nordestinos/nas, materializada no alto índice de
analfabetismo e no grande número de jovens que abandonaram a escola para trabalhar; no crescente número de
desempregados/das, estrangulando a situação familiar e impedindo a construção da independência juvenil; no
alto índice de violência, cuja situação, além de criminalizar os jovens, indica a existência de um etnocídio das
juventudes pobres das periferias das cidades nordestinas; na exclusão digital.
Apesar dessa situação, com esperança pudemos verificar que os/as jovens têm um potencial político, criativo
e artístico-cultural muito grande, através do qual podem refazer sua condição e (re)construir novos projetos de
vida, reinventando as relações sociais estabelecidas na sociedade.
A Caravana, através de um jeito inovador de resgate, mobilização e promoção da participação juvenil,
mostrou que os/as jovens têm poder para reverter esse quadro, fortalecendo as diversas formas de diálogo com a
sociedade e com o estado, superando e vencendo preconceitos, afirmando os direitos das juventudes,
construindo políticas de/com/para as juventudes.
17

Por Alessandra Masullo

A mobilização social (MS) foi um dos importantes eixos estruturadores da Caravana de Comunicação e
Juventudes e, como tal, precisa ser refletida, analisada de modo a extrairmos os seus significados e
impactos. O presente texto propõe-se a fazer uma reflexão sobre o processo de mobilização social da
Caravana, explicitando seus significados, a fim de compreendê-lo na sua concepção e prática.
O texto está organizado em duas partes: na primeira, procuramos caracterizar a MS na e da Caravana,
destacando seus aspectos teórico-práticos; na segunda, apresentamos alguns de seus impactos,
principalmente na vida dos/das jovens e das comunidades visitadas. Na conclusão, elencamos alguns
significados e aprendizagens, extraídos das reflexões feitas na primeira e na segunda parte do trabalho.

Observando os contextos, os processos, as


atividades e os resultados da preparação e realização
da Caravana, percebemos que ela, na verdade, foi um
jeito de fazer mobilização social de/com/para as
juventudes. Aos poucos, fomos identificando que ela
tinha:
Um tema/eixo mobilizador: “ajunta aí, meu
povo, outro mundo é possível”;
Princípios: o/a jovem como protagonista, a
valorização das experiências, do saber e da
cultura popular, o respeito às singularidades e à
diversidade, o diálogo como base para a ação
educativa;
Um propósito: mobilizar as juventudes do
Norte e Nordeste do país para a reflexão e
discussão sobre a realidade social, na
perspectiva de construção de outro mundo
possível;
18

Um(a) sujeito(a) mobilizador(a): os jovens nordestinos e as jovens nordestinas, principais protagonistas


desta ação;
Um contexto social: as potencialidades e as situações de exclusão social dos/das jovens das
comunidades nordestinas;
Uma metodologia de participação das pessoas e comunidades: “ver e sentir (escutar os jovens, as
comunidades, conhecer sua realidade, identificar seus gritos, insatisfações, problemas e esperanças);
analisar e refletir (ajudar os jovens, as comunidades a entenderem, refletirem e analisarem as causas de
seus problemas); agir e propor (construir os caminhos e as soluções, apontar rumos na construção de outro
Brasil e de outro Mundo); festejar e comunicar (celebrar, festejar e comunicar a vida, o potencial criativo e a
força das juventudes, das comunidades, as conquistas e os direitos)”;
Um sentimento de unidade na diversidade: a MS teve configurações e dinâmicas próprias, visto que a
Caravana foi construída coletivamente, envolvendo três grandes pólos da região Nordeste, concentrados
nos estados do Ceará, Pernambuco e Bahia. Porém, todas as organizações, redes e movimentos
envolvidos estavam voltados para os mesmos objetivos. Nesses pólos, foram organizados três comitês
mobilizadores. Portanto, as ações de mobilização social adquiriram configurações e intencionalidades
políticas e organizativas próprias, sendo os jovens e as jovens os/as grandes protagonistas dessas ações.
Uma conclusão básica neste processo reflexivo foi a de que a MS não pode ser confundida com
manifestações públicas, ocupação de praças/ruas e caminhadas de reivindicação. Ela supõe essa dimensão,
mas não se restringe a ela. Constatamos, na sistematização, que a concepção e a prática de MS vivenciadas na
Caravana de Comunicação e Juventudes apontavam para cinco dimensões importantes: 1) sensibilização e
mobilização das organizações, redes e movimentos juvenis; 2) construção coletiva do projeto de captação de
recursos financeiros e de apoio político; 3) preparação temática e metodológica dos/das jovens; 4)
implementação das ações educativas e mobilizadoras, segundo os propósitos da Caravana, encerrando-se no
Fórum Social Mundial; 5) avaliação e sistematização da experiência.
A seguir, explicitamos cada uma das dimensões, fazendo referência à visão dos/das próprios/as jovens.

Consistiu na realização de visitas, encontros e reuniões com as


organizações, movimentos e redes juvenis ou que atuam com esses
segmentos no Nordeste, onde discutimos e apresentamos a
necessidade de uma ampla mobilização e participação dos/as jovens,
visando sua intervenção nas questões sociais locais, particularmente das
juventudes, tendo como desfecho maior o Fórum Social Mundial.
Nesses momentos e processos, fomos construindo e tomando
consciência do próprio tema e objeto da mobilização social, identificando
os desafios que teríamos que enfrentar ao longo da organização e
preparação da Caravana. Da mesma forma, foram ficando mais definidos
os propósitos da Caravana, portanto do processo de mobilização social.
Nesta etapa, foram sendo organizados nos estados do Ceará,
Pernambuco e Bahia, os Comitês Mobilizadores da Caravana, os quais
passaram a organizar localmente todas as atividades desta ação. Os
comitês foram formados por representantes juvenis e apoiadores das
organizações, redes e movimentos juvenis. Cada comitê estruturou-se em comissões (infra-estrutura,
metodologia, comunicação, sistematização, mobilização de recursos, dentre outras), as quais passaram a
assumir as atividades de organização e preparação em cada estado.
19

Após a etapa da sensibilização e mobilização, aventuramo-nos na construção do projeto político da Caravana


e na captação de recursos para sua viabilização. Os comitês estaduais procuraram discutir e elaborar projetos de
captação de recursos e buscar apoio político, tanto no âmbito de suas organizações, redes e movimentos, como
junto a empresas, instituições e órgãos públicos.
A discussão do projeto político da Caravana, além do aspecto financeiro, priorizou as questões político-
pedagógica e metodológica. Nesse sentido, foi-se vivenciando uma dinâmica de construção e debate coletivo em
torno dos temas, da abordagem desses temas, dos procedimentos didático-pedagógicos e dos instrumentos
metodológicos mais adequados a este amplo processo de mobilização social.


Os preparativos para a execução das atividades da
Caravana se iniciaram em 2008, com um ano de
antecedência. Várias entidades, ONGs, movimentos, etc.,
aderiram à ideologia da Caravana e apoiaram a mesma.
No período de formação da juventude que estaria
protagonizando a Caravana, realizamos várias reuniões;
debatemos sobre temas que estariam sendo abordados
nos pontos de parada (cidades); e qual metodologia
seria utilizada. Além de identificarmos o perfil da
juventude e o que se faria para sua participação efetiva”
(Joana D´arc).

O depoimento desta jovem é significativo do que representou esta etapa da mobilização social. Vimos que
os/as jovens integrantes da Caravana sabiam que estavam ali com uma missão, uma tarefa político-pedagógica:
debater os temas e as questões juvenis e levar os olhares, os gritos e esperanças dos/das jovens até o Fórum
Social Mundial.
Vários momentos foram criados, nos estados, visando discutir temas como: protagonismo, participação
política e identidade juvenil; trabalho e juventudes; sexualidade, gênero e etnia; direito à educação; meio
ambiente e desenvolvimento sustentável, dentre outros. Da mesma forma, foram realizadas várias oficinas de
preparação e vivência desses temas nas comunidades dos jovens, pois era preciso experimentar a discussão,
fazer o exercício pedagógico e metodológico, enfim, era necessário preparar-se bem para mergulhar nas
realidades e contextos das cidades nordestinas, pontos de paradas da Caravana, e facilitar/mediar as discussões
e reflexões.
20

As ações educativas, realizadas de diferentes formas e linguagens, foi o ponto alto da MS na e da Caravana
de Comunicação e Juventudes. Esta dimensão da MS articulou quatro aspectos muito importantes: a inserção
comunitária nas realidades locais; a discussão política e comunitária dos temas da Caravana a partir do contexto
local; a socialização e a partilha coletiva; a entrega de um “produto” à comunidade.
A inserção comunitária nas realidades locais
Os/as jovens se dividiram e, em grupos, mergulharam no contexto local, momento em que visitaram as
famílias, outros e outras jovens, crianças, organizações. Foi o momento do “ver a realidade”, escutar os clamores
das pessoas, identificar suas potencialidades, sua força organizativa e suas fraquezas/problemas. Foi o
momento de “tirar o véu” da realidade, de “deixar-se invadir” pela cultura local, compartilhar a vida dos/das jovens
e do povo do lugar.
A discussão política e comunitária dos temas da Caravana a partir do contexto local
As realidades conhecidas e vividas pelos jovens e pelas jovens naquele momento, viraram temas nas oficinas
e os temas da Caravana ganharam contextualização a partir dos problemas detectados na inserção na vida das
comunidades. Um jovem da Caravana relata sua experiência nas oficinas:

No dia 20/01/2009 todos os grupos da Caravana fizeram suas visitas (inserção na comunidade) e
facilitaram as oficinas. À noite, todos se reuniram na praça para fazer a socialização das oficinas.
No dia 21/01/2009, logo pela manhã, fizemos o “mural da juventude”, onde a Caravana deixou um
muro todo grafitado. Em seguida, seguimos para um encontro com as autoridades locais. Pela
parte da tarde, fizemos a avaliação da Caravana (Joana D´arc).

Foi um momento de muita troca e de partilha entre os/as jovens e as comunidades. Aqui, a MS cumpre um
papel fundamental: ajudar as pessoas e suas comunidades a discutirem suas realidades, a problematizar sua
condição, a valorizarem suas potencialidades, a afirmarem a importância de sua presença no mundo. O
depoimento dessa jovem é esclarecedor do que representou este momento:

(...) Aconteceram com sucesso. O público que atingimos, foi além da juventude, chegando até as
crianças, adultos, idosos... E, através dessas oficinas, conseguimos visualizar as problemáticas da
juventude local. Após a oficina, plantamos uma árvore, representando “a muda da mudança”. À
noite, os jovens apresentaram para a cidade os resultados das oficinas na Praça da Matriz, através
de dramatizações, textos, poemas, músicas e relatos. Eles externaram o que estavam sentindo e
vivenciando em suas comunidades. (Joana D´arc)

A socialização e a partilha coletiva


A ação educativa e mobilizadora
supõem socialização, partilha do saber,
das descobertas e a valorização do
encontro, do diálogo entre as pessoas e
grupos. Foi isto que aconteceu durante
toda a Caravana, em alguns lugares.
Os/as jovens se reuniram na praça da
cidade para socializarem suas
descobertas, partilharem suas reflexões
e seus aprendizados; para anunciarem
suas propostas.
21

A entrega de um “produto” à comunidade


No Ceará, a MS na e da Caravana culminou com
intervenção concreta na realidade, materializada na
entrega de um “produto” à comunidade. A ação
mobilizadora dos jovens caravaneiros e das jovens
caravaneiras culminou com a realização de uma
audiência pública, para a qual foram convidados os
representantes do governo local, onde os/as jovens, as
lideranças locais apresentaram a situação de exclusão
vivida pela população e as soluções para enfrentá-las.
A fala deste jovem é reveladora do quanto a MS da
Caravana foi importante para as comunidades:

Elaboramos uma carta com as reivindicações da juventude, participamos de uma audiência


com autoridades e entregamos ao prefeito de Crateús as reivindicações dos grupos do interior
e da cidade. (Joana D´arc).

As oficinas educativas realizadas pelos jovens e pelas jovens foram ricas de produção de idéias e propostas,
construídas coletivamente e socializadas em forma de “produtos”.

Esta é a quinta dimensão da MS da Caravana de


Comunicação e Juventudes. Foram criados vários
momentos para avaliação das atividades desenvolvidas
pelos jovens e pelas jovens. Mais do que discutir aspectos
positivos e negativos das atividades, a MS na e da Caravana
assumiu outra perspectiva: a de atribuir sentido e significado
para o fazer juvenil nesta experiência, para o encontro, para
as relações intersubjetivas construídas e vividas pelos
jovens e pelas jovens.
Nos momentos de reflexão crítica sobre a participação
de cada um e de cada uma, sentimos o quanto é importante,
em um processo de MS, escutar as pessoas, criar espaços
para explicitarem sua subjetividade, suas descobertas, suas
dificuldades, seus aprendizados.
Observamos, principalmente nos momentos de auto-
avaliação, que muita coisa “atravessou” a vida dos/das
jovens da Caravana, produzindo inquietações, conflitos,
quebrando preconceitos, limites, provocando
amadurecimento humano e social. Percebemos e
aprendemos o quanto é fundamental, em um processo
educativo, deixar as pessoas descobrirem sua vocação
ontológica, como dizia Paulo Freire, que é ser, tornarem-se
e se sentirem cada vez mais humanas, na sua singularidade
e diferença.
Nesse sentido, o momento da avaliação na MS da
Caravana caracterizou-se pela construção e vivência de
relações intersubjetivas e de grandes aprendizados.
Algumas falas demonstram o que estamos afirmando aqui:
22

Bom, eu posso confirmar que vou levando para


minha cidade uma mala cheia de novas
experiências... Isso me garantiu o poder da
curiosidade, de buscar mais informações, mesmo
fora das paredes daquela universidade; isso foi,
sem dúvida, muito bom para mim, também ampliei
minha visão sobre o que é ser jovem e, às vezes,
ouvir a verdade ou ser questionado, é muito ruim
(Edcarlos Gonçalves).
(...) Fiz o que deveria ser feito: vesti a camisa da
Caravana e contribui para o desenvolvimento
humano e social do país e do mundo
(Cristiano Sabino).
Aprendi a ouvir, a compreender e a respeitar
outras opiniões, a mobilizar jovens para pensarem,
construir caminhos, soluções para os problemas
de cada comunidade por onde nós passamos. Nas
comunidades, deixamos e levamos muitas
aprendizagens. Troquei minhas experiências e
adquiri novos conhecimentos
(jovem da Caravana).

Aprendemos que toda MS causa algum tipo de impacto na vida das pessoas e na realidade comunitária, enfim
na vida social. Não foi diferente com a MS na e da Caravana.
Podemos dizer que os processos mobilizadores da Caravana impactaram não só a vida dos jovens e das
jovens que participaram desta ação, mas a realidade das comunidades por onde a Caravana passou.
Os principais impactos foram os seguintes:
23

Neste texto, procuramos refletir sobre a MS na e da Caravana de Comunicação e Juventudes,


trazendo à tona suas características, dimensões e impactos.
As reflexões aqui compartilhadas revelam que a MS na e da Caravana teve vários significados,
aprendizagens e impactos para os jovens e as jovens, para suas organizações, redes e movimentos. A
título de conclusão, destacamos o seguinte:
24

Entendemos que a MS não depende só de uma quantidade grande de pessoas, organizações e


movimentos, isso é muito importante. Além de gente que “faça parte”, precisa de gente que “tome parte”.
Assim, a MS precisa de qualidade na sua organização/planejamento, na execução de suas ações, na
avaliação e monitoramento dessas ações, no compartilhamento e celebração dos seus resultados;
Compreendemos que a MS não pode ficar só no barulho, na reivindicação, na discussão
momentânea dos problemas sociais. Precisa, sim, fixar-se em um projeto de longo prazo, de modo a
manter elevada a mística, a animação e a luta popular, uma vez que lutamos por transformações
estruturais e não só conjunturais;

A MS na e da Caravana nos ensinou que, para atingir a população juvenil e as comunidades


excluídas do desenvolvimento, é necessário deslocar-se até a elas, conhecer e sentir suas
situações, despertar suas potencialidades, problematizar suas realidades de exclusão, sua baixa auto-
estima e construir com elas as soluções, valorizando seus saberes e experiências. Além disso,
aprendemos que, para atingir as massas que estão nos grotões das cidades nordestinas, é preciso usar
a comunicação, mas uma comunicação alegre, criativa, politizadora, informativa, esperançosa,
que resgate e atualize os saberes, símbolos e memórias das populações locais.

A MS na e da Caravana assumiu o imaginário de algo mais amplo e nos pôs em processo de mobilização,
colocou-nos na construção de um outro mundo, despertou-nos para a busca e construção de novas formas de
intervenção sociopolítica e cultural. Ensinou-se que é urgente irradiar esperança, energia e amor aos
excluídos/excluídas de nosso país, invisíveis para os poderes públicos e para muitas ONGs, movimentos e
instituições.
Concluímos este texto, apresentando uma frase de um jovem caravaneiro, cujo conteúdo nos remete à força e
ao poder da MS vivenciada na Caravana de Comunicação e Juventudes: “Sozinhos, somos fracos e frágeis, mas,
unidos, somos a força e a decisão do país” (Luis Rufino Neto).
25

Por Zoé Maus


Quando a Caravana de
Comunicação e Juventudes saiu de
várias cidades do Nordeste, em janeiro
2009, era para levar as vozes e as
demandas dos jovens nordestinos para o
“mundo”, fazendo diversas paradas antes de se
juntar em Teresina, de onde pegaram a estrada para
Social Mundial que ocorreu em Belém-PA.
O forte da Caravana foi a diversidade de lutas e de modos de expressar
as reivindicações políticas e sociais dos jovens nordestinos. A bordo da
Caravana estavam 200 jovens de horizontes bem diferentes e com histórias, acúmulos e práticas
políticas diversas. Se cada um tinha uma mensagem que queria trazer ao mundo, os seus jeitos de
comunicar esta mensagem eram diversos. Embora a diversidade às vezes trouxesse dificuldades,
sempre foi um aprendizado. O mais importante nesse processo é reconhecer os jovens como seres
autônomos, que têm linguagens e modos de interagir próprios e que não podem encaixar-se dentro de
uma só categoria. Se todos queriam gritar ao mundo a sua existência, a sua opinião e a sua realidade,
os modos de fazer foram bem diferentes. Como o coloca Vandinha, de Crateús-CE, a Caravana
permitiu aos jovens “perceber o quanto a juventude precisa acordar para a alienação em que
atualmente vivemos” e que era “preciso voltar com o nosso grito nas ruas, para as pessoas saberem o
que queremos, e quem somos.”
A ocupação do espaço público foi uma das grandes vitórias da Caravana, sendo com os cortejos
que invadiram as cidades atravessadas (mas também o próprio terreno do Fórum Social Mundial), os
grafites que os jovens deixaram nas ruas de Belém ou as ondas que a Rádio Livre-se ocupou em
Soinho-MA. Como o diz Ricardo, de Fortaleza-CE, lembrando o poeta “o que temos não é um novo
caminho, mas sim uma nova forma de caminhar” e esta ocupação do espaço público é uma nova
forma de caminhar para jovens, a quem muitas vezes é negada a condição de ator político, com
vontade e reivindicações próprias. Mas não é suficiente ocupar. Também é preciso comunicar. E foi
isso que os jovens fizeram, tomando a arte ou as mídias alternativas como expressão de suas
reivindicações: grafite, teatro, fotografia, música, circo, fanzines, rádios livres ou ainda vídeos ou blogs.
Além da diferença de meios de expressão, a palavra comum era “a ocupação dos espaços, ocupação
das cores, gêneros, dos tudos, dos nadas, dos amores, dos abraços, dos tempos, dos silêncios, dos
gritos” (Micinete, Fortaleza-CE)
26

Quando os jovens saíram nas ruas de Caxias-MA ou


de Ouricuri-PE para irem ao encontro do povo, eles se
re-apropriaram do espaço público como lugar de
reivindicação política e social. Como o diz Loro, de
Fortaleza-CE, “Ocupe! A rua é sua!”. Não é por acaso,
não foi à toa o fato da Caravana ter organizado várias
saídas nas ruas. O mundo das mídias tende a concentrar
as lutas políticas dentro de lugares fechados, de difíceis
acessos: parlamento, prefeitura, instituições, etc. A
imagem que prevalece da política é que tem que se ter
um grande expert e que não é assunto para qualquer
pessoa, propondo um modelo fechado, onde existem
poucas possibilidades de se expressar fora dos canais
oficiais. Organizando cortejos, a Caravana conseguiu
chamar o povo onde passava, conseguiu atrair a
atenção sobre o fato do espaço político pertencer a
todos e da urgência de retomar posse dele. Fazer um
cortejo festivo é mostrar a possibilidade de reconstituir
os espaços públicos, coletivos, os grupos e a nova
sociedade. E mostrar também que não se tem que
esperar ser chamado para poder ter uma atuação
política. E dizer, como a Lucineide de Fortaleza-CE:
“não, a gente não quer que seja assim, quer que mude as
coisas, quer ter vez e voz.”

No mesmo sentido é o que quiseram fazer os jovens que se


expressaram com o grafite. Além de grafitar os seus modelos,
eles deram oficinas sobre as técnicas e o significado de pintar
os muros da cidade. O grafite é o perfeito exemplo de uma
expressão artístico-política. Ele se comunica através de
territórios apropriados em que pessoas, que não têm voz nem
vez, se colocam, demonstrando que estão e pertencem a
sociedade, mesmo que expressando a sua insatisfação. Mas
também o grafite pode ser entendido como arte pura, daqueles
que estão à “margem” da sociedade. Considerando que todos
têm capacidade para se expressar artisticamente, os
desenhos revelam, dentre outras coisas, significados
enigmáticos e o poder da resistência, do resistir à dominação e
à desigualdade social em que vivem, na maioria das vezes,
pichadores e grafiteiros1.
Entre os jovens da Caravana, nem todos fazem grafite com
conteúdo diretamente político, mas todos consideram que o
fato de grafitar é um ato político em si. Para eles, é importante
se re-apropriar das paredes, dos muros, das ruas, como
espaço de vida, e também como espaço de criatividade.

1. Territórios simbólicos e de resistência na cidade: grafias da pichação e do grafite in Revista Terra Plural, vol. 2 num. 2 (2008)
27

Ao utilizar meios alternativos de


comunicação, os jovens enviaram uma
mensagem clara às grandes mídias: estão fartos
de ser invisíveis e de não ter voz. Além de querer
se expressar e mostrar a sua desconfiança em
relação às mídias tradicionais, os jovens
mostraram muita criatividade. Quando iniciam
jovens e crianças na arte de fazer um blog ou um
fanzine, os participantes da Caravana
demonstram que é possível expressar-se de um
modo alternativo, com poucos recursos. A
utilização da internet como modo de transmitir as
informações que eles consideram importantes
também mostra a ocupação de um espaço
político, o da Web, que é um espaço sem começo
nem fim, que permite alcançar um grande número
de pessoas, colocando um conteúdo livre num
suporte livre.
Do mesmo jeito, quando a Rádio Livre-se se
instalou em Ouricuri-PE ou em Soinho-MA, ou na
Aldeia Alternativa do Fórum Social Mundial, quis
mostrar que as ondas não pertencem só às
grandes redes de mídias, mas que cada um tem
direito a utilizar estas ondas para difundir um
conteúdo de qualidade, próximo aos cidadãos e
cidadãs, e sem propósito comercial.

Utilizando a ocupação das ruas, das paredes, e dos meios


de comunicação para levar as vozes dos jovens do Nordeste,
a Caravana mostrou que no coletivo e na diversidade pode-se
encontrar um novo modo de caminhar. Pode-se dizer que na
sua multiplicidade, tanto em relação ao perfil dos jovens como
nas atuações que eles tiveram, a Caravana se aproximou ao
que Deleuze chamava de rhizome2. O rhizome é uma planta
de crescimento horizontal, crescendo e desbordando pelo
meio, sem centro hierarquizado e, sobretudo, pontos de
entrada e saída múltiplos, sem prevalência de um ponto sobre
o outro. Sem início nem fim, com ramificações que permitem a
sua persistência depois de uma ruptura. A Caravana não foi
uma mera ação, mas um processo múltiplo de
conhecimentos, (...) um processo de muitas atuações
formadoras e atuações políticas de mudanças para um outro
mundo. Um mundo que é e será da cor que os jovens
pintaram.

2. Gilles Deleuze, Félix Guattari, Mille plateaux. Capitalisme et schizophrénie 2, Paris, Éd. de Minuit, 1985.
28

Uma história diferente, com muitas energias,


alegrias, brigas, resistência, amor, manifestações,
construção coletiva de jovens do Ceará, Bahia e
Pernambuco. Essa foi e sempre será a cara da
Caravana de Comunicação e Juventudes. Nós
estamos em coletivos, para fazer as melhores
coisas para o próximo. Embora nem sempre seja
assim, nós podemos! Isso aconteceu em forma de
diálogo, comunicação, áudio visual, grafite,
ferramentas que a Caravana de Comunicação e
Juventudes usou para mostrar que podemos
mudar. Basta querer, sonhar, conquistar uma forma
diferente, que nos faça acreditar que é possível
fazer um mundo melhor, aonde o respeito e o amor
vêm sempre na frente, caminhando lado a lado.
Como elementos que buscam um sonho que é
difícil, mas não impossível. Com base no que foi
construído durante FSM, pode-se ver um outro
mundo que não conhecemos, que está ao nosso
lado e não vemos! ou não queremos enxergar.
(José Cleiton - Carbonel - Coletivo Manguecrew/CCJ)

...pois éramos observados por cerca


de quinze jovens com olhares
curiosos, dispostos a mudança
através das provocações causadas
pela oficina de Salvador, sobre
"Juventude no século XXI",
estimulando através de
contextualização sobre os movimentos
políticos e culturais para instigar a luta
e mudança em uma comunidade
carente de informações, esta
passagem pela cidade de Timon,
mostrou uns dos pontos mais
inesquecíveis de todo o trajeto
do CCJ.
29

Por Arlene Freitas, Bart Vetsuypens, David Junior

Tradicionalmente, o conhecimento e as informações


produzidas por um povo refletem as concepções mais
elitizadas da sociedade, visto que o acesso aos meios de
comunicação é controlado pelas forças do capital. O uso
das tecnologias é a grande arma para afirmar conceitos e
determinar condutas políticas. Ao mesmo tempo, o campo da
comunicação é o grande espaço de construção de significados e idéias,
cabendo ao conjunto dos movimentos sociais e das classes populares
criarem condições de ocupação desses espaços e instrumentos que
lhes permitam disputar os interesses da maioria excluída, pautando
suas reais necessidades e apontando caminhos na direção da
democratização dos meios de comunicação e de construção
de políticas públicas.
Com esse caráter, a Caravana de Comunicação e Juventudes levou as comunidades nordestinas
a debaterem as temáticas pouco freqüentes no cotidiano das pessoas, apresentando formas
alternativas e mais acessíveis que possibilitem massificar toda a produção intelectual popular acerca
dessas questões numa perspectiva juvenil.
Como mola que impulsiona a transformação, a comunicação ocupou espaço de destaque durante todo o
processo da Caravana, desde a sua concepção até o Fórum Social Mundial, visto que os diferentes meios e
ferramentas de comunicação estão concentrados nas grandes cidades e nas mãos das classes médias, sem
falar que o acesso e a produção de conteúdo de Internet ainda é bastante dominado pelo mundo empresarial.
Na Caravana, foi bastante diverso e criativo o uso de ferramentas e formas populares de comunicação,
destacando-se os cortejos, as músicas, as danças, a utilização das tecnologias sociais de comunicação como
blogs, vídeos, rádio novela, veiculação de spots, rádio comunitária, fanzine, site, tecnologia web 2.0, dentre
outras. Foi através dessas ferramentas que as juventudes trocaram saberes e experiências. Fizeram ecoar
seus gritos aos quatros cantos das cidades nordestinas.
Além disso, na Caravana, os jovens elaboraram um plano de comunicação, criando algumas frentes de
trabalho para dar conta da comunicação interna, da assessoria de imprensa, e da divulgação, dentre outras
tarefas. Nesse sentido, foi fundamental o apoio técnico e logístico do Centro de Comunicação da Juventude de
Recife (PE) que disseminou o uso de ferramentas alternativas nas comunidades.
O diferencial da prática de comunicação levada pela Caravana às comunidades foi o seu caráter de denúncia
das mazelas que afligem a população nordestina e o anúncio de um outro mundo possível, sem falar na
propagação das ações e mobilizações em torno de uma outra lógica de sociedade.
A Caravana permitiu enxergar a comunicação presente nas diferentes expressões e produções juvenis. Foi
possível perceber que ela faz parte do nosso cotidiano e que pode ser utilizada para reivindicar, denunciar,
refletir coletivamente, apresentar nossas opiniões e disputar significados na sociedade. Mostrou que não
há, por parte da grande mídia, valorização das nossas lutas e que, atualmente, sua preocupação
é a exploração da degradação das estruturas sociais (violência, mortes), explorando o desejo das
pessoas na perspectiva do consumo capitalista. Evidenciou também que os grupos populares e os
movimentos sociais precisam avançar na produção de comunicação pública e alternativa,
lutando por mais recursos para potencializá-la e fortalecer as ações que visam à democratização da
comunicação no Brasil, principalmente no Nordeste.
30

Aqui estão relacionadas todas as Oficinas da Caravana de Comunicação e Juventudes que foram
realizadas durante o caminho e no FSM. Todos os seus facilitadores e facilitadoras foram jovens
integrantes da Caravana. Elas são uma mostra da riqueza de abordagens potencializada pela
Caravana, junto às organizações do meio popular, por onde ela passou.

Educação: Quem define a qualidade?


Objetivo: Refletir sobre a situação nas escolas
públicas no Brasil e a qualidade do ensino. O
valor das organizações sociais no processo
educativo do aluno.

Uso Estratégico da Internet


Objetivo: Introduzir participantes nas
ferramentas de Web 2.0 através de uma
demonstração e uso de gerenciador de
conteúdo Joomla e a tecnologia Wiki.

Roda de Diálogo sobre Comunicação


Livre e Comunitária
Objetivo: Promover uma mostra de
experiências em comunicação alternativa e
debater sobre a comunicação convencional e
meios alternativos de fazer mídia.

Preparando Comunicadores Sociais


Objetivo: Conhecer a experiência de rádios comunitárias, agentes de comunicação e o potencial da rádio comunitária.
Seminário Geral da Caravana de Comunicação e Juventudes
Objetivo: Socializar e avaliar a experiência, dos diferentes estados, através do material produzido pela Caravana ao
longo do caminho.

Desenvolvimento Sustentável através do Teatro de Mobilização


Objetivo: Mostrar a utilidade do teatro como mídia de sensibilização sobre os assuntos do desenvolvimento sustentável.
Identidade e Protagonismo Juvenil
Objetivo: Conhecer a realidade da juventude no Brasil e sua inserção nos projetos sociais, na formação de grupos
juvenis, através de vários textos e material audiovisual.

Rádio- Novela
Objetivo: Aprender as técnicas de montar uma rádio novela. Produzir uma rádio novela sobre um dos temas da
Caravana.

Fotografia como Meio de Transformação


Objetivo: Usar a fotografia como ferramenta para mudança. Um olhar sobre a cidade com foco nas imagens do que tem
de bom e o que queremos mudar.

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