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1.

INTRODUÇÃO

“13 Cascaes” é livro organizado por Salim Miguel e Flávio José Cardozo.
A coletânea de contos em homenagem a Franklin Cascaes, com ilustrações de
Tércio da Gama, faz parte da programação do centenário de nascimento do
etnólogo e desenhista.
A hipótese de que alguma bruxaria teria impedido a publicação,
planejada desde 2003, é levantada com humor pelos organizadores devido às
inúmeras negativas de editoras e órgãos públicos. O encanto quebrou-se
quando a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes (FCFFC)
assumiu o projeto de levar aos leitores as histórias de 13 Cascaes, narrativas
curtas escritas por 13 escritores catarinenses - além de Salim e Cardozo,
Adolfo Boos Jr., Amilcar Neves, Eglê Malheiros, Fábio Brüggemann, Jair
Francisco Hamms, Júlio de Queiroz, Maria de Lourdes Krieger, Olsen Jr.,
Péricles Prade, Raul Caldas Filho e Silveira de Souza.
Nos contos, Franklin Cascaes entra para a ficção como protagonista ou
figurante, numa concepção literária que revela uma espécie de extensão do
trabalho do folclorista, que morreu em 1983. Cascaes ilustrava em suas obras
a literatura oral relacionada a bruxas, feiticeiras, lobisomens e fenômenos
encantados que faziam parte do universo ilhéu. O seu legado deu a
Florianópolis o título de “Ilha da Magia”, influenciou outros artistas e mexeu
com o imaginário dos escritores, como se vê nesta caprichosa edição
coordenada por Dennis Radünz.

2. NOTA SOBRE O LIVRO – por DENNIS RADÜNZ

O que tens aqui, leitor, ao alcance das mãos não é apenas um livro.
Despede os teus olhos do papel impresso, desenho e palavra apenas, e segue
ao supraterreno da ficção. Atravessa o espaço semidescoberto. E lê. Praças.
Descampados. Praias. Ou ninhos de boitatás. São treze os “lugares de
linguagem” em que se pode descobrir essa realidade mitopoética nascida em
Franklin Joaquim Cascaes (1908 – 1983), o guardador maior da cultura popular
da Ilha de Santa Catarina e dos litorais de ascendência açoriana, o etnólogo e
o mitólogo, escultor, fabulista, desenhista.
São treze os escritores catarinenses aqui mudados em “cascaes”, no
possível plural poético do substantivo cascal, que é o amontoado de conchas,
casqueiro, o sambaqui ancestral. A mitologia local como antídoto a toda
mitomania “global”.
“O livro é uma extensão da memória e da imaginação”, disse Jorge Luis
Borges. Este livro, “13 Cascaes”, objeto de imaginação, objeto de memória, é
uma coleção de contos que se conjugam com as pesquisas públicas e as
procuras pessoais de Franklin. Mesmo a memória da coisa vivida (como a
ausência crônica da mulher, Elisabeth, no conto Dois Bandolins) alcança a
condição do que é vivo no terreno do imaginado. Ou, no caso contrário, a
imaginação tem memórias – em que tempo e lugar se passa o conto Mistério
no Miramar?
“13 Cascaes”, mais que um fascículo de ficções, é uma evocação. Mas
evocação com ironia fina, como quando uma ‘oitava filha’ interpela Franklin e
advoga sua condição de não-bruxa (Talvez a primeira e última carta) ou
quando bruxas desenham, em uma aparição feérica, o apavorado ‘perguntador’
da cidade (O Folheto). Ou as bruxas são erotizadas na maternidade de seres
imaginários (Uma noite de profunda insônia solitária) ou assumem a
condição de mulher autônoma no patriarcado das famílias: quem se rebela é
bruxa? (História praiana). E havia, em outra época, a mulher-bruxa que se
emancipasse, como no conto O diário da virgem desaparecida.
O conflito entre as tradições ilhoas e o seu apagamento sob a pletora
urbana está presente também no presépio de Cascaes estranhamente
dessacralizado (O presépio), na conjuração de bruxas que imprecam contra a
moderna medicina (O abençoado), ou no relacionamento animoso e amoroso
entre a antropóloga incrédula e o defensor do que é nativo (Noites de
encantamento). Pesca de arrastão como portrait antropológico (Ao
Entardecer) ou a antiga embarcação como pretexto para a realidade paralela (
O “Minha Querida”) são parte deste percurso. E a memória de uma infância,
na Ilha antiga, encontra áreas de profundidade humana (Branco assim da cor
da lua).
“13 Cascaes” está presente: treze são as suas carnações. E treze as
encruzilhadas que, leitor, deves cruzar... Leva contigo um ramo de ervas, os
olhos acesos, duas ou mais descobertas. Treze é o número do que é fadórico.
2.1 – AINDA SOBRE O LIVRO
São 13 (na melhor adequação buxólico-cabalística) os contistas que
integram e constroem esse autêntico relicário da mitologia ilhoa, dado à vida
pelo bruxólogo Franklin Cascaes, ou então recompõem, em corpo amplo, o
grande mito-mitólogo Franklin Cascaes, de incomensuráveis méritos para a
tradição açoriana. De leitura tão agradável quanto enriquecedora, os 13 contos,
desdobram facetas múltiplas do gênio bruxo e a herança que nos legou,
entrelaçando com habilidade ficção e realidade.
Os mestres do conto catarinense assumiram um desafio inusitado:
incorporar à ficção a conhecida personalidade real de Franklin Cascaes,
prestando-lhe digna homenagem. Se não é habitual nem conveniente submeter
o artista a assunto encomendado, saíram-se os escritores de maneira digna de
aplauso.
(texto adaptado de http://floripamanha.org, acessado em 20/01/2009)

3. CONHEÇA FRANKLIN CASCAES


Franklin Joaquim Cascaes nasceu na localidade de Itaguaçu, quando
ainda pertencia ao município de São José da Terra Fime, em 16 de outubro de
1908. Cresceu em contacto com a pesca e com a pequena agricultura desse
lugar habitado por açorianos.
Para este povo, o ano estava dividido em épocas: época de pescar, de
preparar a terra, de colher, de trabalhar no engenho de farinha de mandioca
conjugado com o de cana – de – açúcar.
Faleceu na Ilha de Santa Catarina, terra tão venerada por ele, no dia 15
de março de 1983. Fez estudos nas escolas de Aprendizes de Artífices, depois
Escola Industrial de Santa Catarina, onde chegou a ser professor. Como
artista, foi autodidata.
Utilizou todo o seu talento para registrar com a escrita, o desenho, a
escultura, o artesanato, todo o universo legado pelos antigos colonos açorianos
através dos seus descendentes, dos quais foi um dos seus maiores
representantes. O grande acervo deixado por Franklin Cascaes dá-nos a
certeza de que foi um dos maiores defensores da tradição popular ilhoa. Na
sua paciente pesquisa, desenvolvida ao longo de trinta anos, conseguiu salvar
a memória da cultura popular de Santa Catarina.
Cascaes foi um estudioso atento da cultura popular de raiz açoriana na
Ilha de Santa Catarina, com destaque para o imaginário bruxólico que resistiu
até meados do século XX.
O bruxo do bairro Itaguaçu registrou traços da cultura popular ilhoa por
meio de desenhos, esculturas e textos. Boa parte desses artefatos culturais foi
reproduzida no livro “O fantástico na Ilha de Santa Catarina” (Editoria da
UFSC), organizado, entre outros, por Gelcy José Coelho – o Peninha.
Além de ter sido estudioso da cultura popular, Franklin Joaquim Cascaes
foi professor de ensino industrial básico na Escola Industrial de Florianópolis –
hoje Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina (CEFET/SC).

4. OS CONTOS

4.1 – O PRESÉPIO – Adolfo Boos Jr.

Tema central: O conflito entre as tradições ilhoas e o seu apagamento sob o


excesso de urbanidade no presépio de Cascaes que é estranhamente
dessacralizado.

Lentamente chega o caminhão, que carrega um idoso condutor e três


homens. Chegam perto da figueira e descarregam, peça por peça, o presépio.
Começa a montagem e os passantes começam a atrapalhar o trabalho e
o moço da montagem pede aos seguranças que tirassem o povo dali.
O jovem deveria montar o presépio de acordo com a fotografia do ano
anterior, mas deu um toque pessoal, mudando a posição de um dos carneiros,
“estética, meu amigo, estética”.
Quando chega a noite, o jovem decide mudar tudo de posição, afinal
ficaria muito melhor, mas para seu espanto, no outro dia de manhã, todas as
peças voltaram ao lugar correto.
Estética New age e o moço insiste nas modificações, não adianta o povo
reclamar. Surge o encarregado do museu que fica horrorizado com a situação
ordena que tudo volte ao lugar de origem, “... São José foi apeado do camelo e
porque Baltazar largou a mão de Maria, deixou de ameaçá-lo com o cajado,
tiraram a camisa do Avaí de Gaspar, recolocaram a capa nos ombros de
Melchior que, por sua vez, desistiu de tourear a vaquinha.” (p.27)
O moço reclama que todos os dias colocava Jesus sobre uma árvore e
de manhã ele estava novamente na manjedoura e alguém lembra que se o
Professor Cascaes fosse vivo...ai deles...
Um velhinho sai andando, feliz, dizendo “Eu sabia!” (p.27)
A montagem de O Presépio, de Adolfo Boos Jr., em tempos natalinos,
sob a figueira da Praça, apresenta o processo mais importante do que o
processado, talvez exatamente porque está ausente a figura de Cascaes.
Distante modelo original perdido, o criador sempre em renovação, todos
exigem seu direito de opinião “estética”, como em futebol todos se julgam
técnicos. É o implícito que clama!

4.2 – UMA NOITE DE PROFUNDA INSÔNIA – Amilcar Neves

Tema central: Bruxas são erotizadas na maternidade de seres imaginários.

“Foi numa sexta-feira, numa noite de profunda insônia solitária.” (p.29)


O narrador diz que mora ocasionalmente na Ilha 19 e que encontrou seu
vizinho que mora na Ilha Júlio Moura, 31, o primeiro é solteiro e o segundo,
Franklin Cascaes, é casado e eles estão nos distantes anos 60 ou setenta.
A rua está deserta, um ou outro cachorro perdido e os dois se encontram
e caminham despreocupados até a Lagoinha do Jacaré do Rio Tavares onde
acredita-se ser uma “maternidade tatarina”, um “ninho de boitatás”.
A noite é perfeita e o Franque declama uma quadrinha:
Ilha das velhas faceiras
E, também, das moças prosas
As bruxas dos teus encantos
São lindas que nem as rosas

Confessa o narrador acreditar que as bruxas da Ilha são absolutamente


horríveis e Mestre Francolino afirma: “- Quase isso. Na verdade, apenas
metade desse pessoal todo é que insiste em atestar que as bruxas são do jeito
que descreveres. Apenas aquela metade diretamente interessada no assunto:
as mulheres, as nossas mulheres, que temem a concorrência imbatível.” (p.32)
Logo avistam um grupo de mulheres, que abanam o rabo para o vizinho
do narrador: “Franculino, meu lobisomenzinho de estimação!” (p.32)
Uma linda bruxa negra aproxima-se, dá um beijo em Cascaes, nota o
narrador que todos estão nus.
Ao retornarem para casa, pela Mauro Ramos, fala Franklin:
“- A vida é assim mesmo, meu jovem amigo. Por diversos motivos não temos
como compartilhar com os outros os nossos melhores momentos. Nem mesmo
sendo um escritor de ficção: primeiro porque ninguém vai acreditar em ti e, se
tiveres a intenção de falar a sério , corres um riso considerável de ver a tua
reputação arruinada sem remédio.” (p.33)
Neste conto, o autor reconstrói um encontro com o próprio Franque,
colocando em xeque variadas questões: Bruxa existe ou não? Escritor terá “a
intenção de falar sério”? O que é a verdade? A ficção engloba personagens
reais, ou a realidade se compõe de personagens ficcionais? Criador e criatura
podem conviver?

4.3 – HISTÓRIA PRAIANA – EGLÊ MALHEIROS

Tema central: Bruxas assumem a condição de mulher autônoma no patriarcado


das famílias, então, quem se rebela é bruxa?

“Partos a termo tinham sido doze, criou cinco.” Docelina é mulher de


pescador, está casada há 20 anos, já passou muita fome, está feia, pelancuda
e seu marido é absolutamente controlador: não permite ‘modernices’, como ir
ao Posto de Saúde e ele é o guardião do título de eleitor desta mulher
sofredora.
Ele, o marido, chamado Armando, é dado à bebedeiras, bailões e bate
na esposa.
Entretanto, nos últimos tempos, aos sábados, Docelina tem comparecido
ao posto de saúde para umas palestras sobre a valorização da mulher e seu
trabalho.
À noite, os homens comentam no bar que as bruxas estavam virando a
cabeça das mulheres; diz um dos homens: “- Bruxas é que elas são. Aquele
professor da Escola de Artífices, que vivia escutando essas histórias, devia sair
do túmulo para conhecer as verdadeiras, as dele não assustam mais
ninguém.”(p.38)
“Tudo culpa das bruxas que vieram da cidade bagunçar as idéias de
nossas mulheres. A Docelina ontem me enfrentou, se eu for para o bailão e
encher a cara ela vai embora; pior, vai querer abrir inventário da herança do pai
e pedir sua parte no terreno.” (p.38)
Armando afirma gritando “Os da antiga tinham razão, bruxas, bruxas,
existem e são de assustar.” (p.39)
Enfim, Eglê Malheiros, retrata neste conto Docelina e seus 12 filhos,
reduzidos a cinco, ou a quatro e meio, consolando-se com seus “anjinhos,
almas puras”, sem deixar, porém, de refletir “por que só filho de pobre vira
anjinho?”. Enquanto as “modernices” a aliciam, seu marido Armando lança a
contrapartida: nessas “modernices” estão as “bruxas”, “da pior espécie”, como
diria, se presente estivesse, Aquele professor da Escola de Artífices!
Certamente ficaria estarrecido.

4.4 – O “MINHA QUERIDA” – Fábio Brüggemann

Tema central: Antiga embarcação como pretexto para a realidade paralela.

O rapaz estava começando a se despedir de uma vida muito dura de


garçom . “Agora, além de dar adeus ao “Minha Querida”, não tem que adivinhar
mais, pela cara, roupa e conversa do freguês, o quanto será a féria, extraída
dos mal contados dez por cento, no fim da noite, às vezes começo da
manhã”.”(p.41)”.
Não precisaria mais comprar terno de brechó, podia dar adeus às lojas
de um e noventa e nove onde comprava a decoração de sua casa depois que
os pais morreram no naufrágio do “Amália”; aliás, após a morte da esposa do
armador, ele comprara um novo barco com o nome “Minha querida Amália”,
mas pouco depois, casou-se novamente e mudou o nome para “Minha
Querida”.
Mas o que deixava nosso jovem mais feliz com sua nova vida era não
passar mais em frente ao cemitério que ele jurava ter visto assombrações.
“Um dia, quando ainda trabalhava no restaurante, chegou para jantar o
seu Francolino.” (p.43)
O garçom pediu para o patrão apresentá-lo ao professor que ouviu a
história do rapaz e achou graça, mas afirmou que iria até o cemitério para
mostrar a farsa das almas penadas.
Seu Francolino mostrou que “o barulho era de uma árvore que
balançava quando havia vento e raspava os galhos no muro. E a imagem era a
sombra da mesma árvore no mesmo muro branco, iluminada pela mesma luz
de um poste.” (p.44)
Depois da explicação, o professor foi embora e o rapaz foi com uma
moça ao cemitério e visitaram uma lápide bem iluminada pela mesma luz que
assombrava o muro e acharam a inscrição: “aqui jaz Amália Rodrigues da
Silva (1921-1974)” (p.44)
O rapaz concluiu que era a dona Amália do Minha Querida, e no sábado
seguinte comprou o bilhete 1921 e ficou rico.
Mudou de vida, casou-se com a moça, e agora vai todos os sábados ao
túmulo de dona Amália, que nasceu, para a sorte do rapaz, em 1921.
Examinada criticamente a história do marido de Amália (no naufrágio do
“Amália”), insinua-se a história do cemitério assombrado, quando o seu
Francolino mais desfaz crendices do que recolhe causos.

4.5 – DOIS BANDOLINS – Flávio José Cardozo

Tema central: A memória da coisa vivida (a ausência crônica da mulher,


Elisabeth).
“Amanhã não venho trabalhar”, o professor disse ao auxiliar Peninha no
final do expediente, “amanhã... tu bem sabes...”, e as palavras pararam, mas
nem foi preciso dizê-las: Peninha botou a mão no ombro dele e bastou isso
para mostrar que se lembrava muito bem de que amanhã, 30 de abril, eram
mai um aniversário da morte de Dona Beth”. (p.47)
O professor dormiu pensando em passar aquele dia especial entre seus
desenhos, escritos, esculturas e os crochês, músicas e flores de sua amada
falecida mulher que adorava tocar uma modinha de bandolim quando viva e
moradores daquela mesma casa da Júlio Moura.
Nas o professor decidiu que seria melhor trabalhar no Museu, lá Beth
seria mais viva. O dia foi normal e após o expediente, o professor saiu sem
pressa com seu TL verde.
À noite, sua fiel empregada Ana pôs a mesa, ele sentou no sofá e
começou a pensar em bruxas: a Irinéia das Dores, a Virgilina e as três filhas,
Demetra, Canda Mandioca, Nica Besuga, Sinhá Bidica e outras.
Pelas onze e meia ouviu sons, sim era música... e de bandolim!!! Foi
para fora de casa ver o que era.
Quem tocava o instrumento não era Beth. “Seca como um longo graveto,
murcha e feia que nem os sete pecados capitais, quem tocava o bandolim não
era Beth, não, diabolicamente não, quem tocava não era outra senão a bruxa
bandolinista da Orquestra Selenita Bruxólica que certa noite, conforme o
professor numa andança pela Ilha e depois fixou numa de suas histórias
assombrosas, apareceu ao pescador Geraldo Sem Medo no Retiro da Lagoa.”
(p.50)
A bruxa horrorosa gritava para que Franklin esquecesse sua Beth, que
ela estava morta.
O professor não sabia se invoca contra a megera segredos exorcísticos
ou deixava a bruxa ali mesmo. Optou pela segunda.
Quando entrou em casa apareceu-lhe sua amada esposa, tocando a
Ave-Maria de Schubert em seu bandolim.
“Um vento, um bafo, pela Júlio Moura afora foi aquele desarvorado vôo
de bruxa, sobre o qual o professor, discreto, nunca escreveu – que um outro
curioso por casos raros o fizesse...” (p.51)
Enfim, em tom poético, sensual e transfigurador, o conto restitui-nos um
dia de ausências, saudades, revivências de um Cascaes de certa forma já
desprendido do solo rude e entremostrando dimensões sublimadas, nos seus
amores com Beth, amores que, se foram estéreis em relação a filhos,
multiplicaram-se na afeição mútua, a ponto de, falecida ela, somente salvá-lo
da solidão o “bendito Museu da Universidade”, nesses “quatro anos sem Beth e
sempre com ela”, cena plenificada com a bruxa bandolinista sublimada e
fundida na “soberana” Beth, “bandolim silencioso na mão direita”.
4.6 – BRANCO ASSIM DA COR DA LUA – Jair Francisco Hamms

Tema central: A memória de uma infância, na Ilha antiga, encontra áreas de


profundidade humana.

“-Sabe quem morreu? O Orlandinho, filho da dona Zenilda. (...) O seu


Orlando saiu agorinha para comprar um caixãozinho. Ele e o professor Franklin
Cascaes, que assim que soube, correu para lá. (...) O Orlandinho por quem a
mamãe lamentava era albino.” (p.54)
Este menino viveu seus poucos 11 anos sofrendo, ora contra a
bronquite, ora com asma. Era filho do negro Orlando da Purificação e da dona
Zenilda, linda negra.
O narrador que confessa ter sido seu vizinho, conta das perseguições ao
menino, inclusive quando o chamavam de “barata descascada” e na escola
Orlandinho não saía para o recreio para não ser mais humilhado ainda e ficava
desenhando.
Certo dia apareceu a professora dona Florentina com um homem até
então desconhecido, era o professor Franklin Cascaes, que viera conhecer o
Orlandinho e seus desenhos.
O professor ficou muito impressionado com a qualidade dos desenhos e
prometeu matricular o menino na escola particular da professora Jurema
Cavallazzi e no ano seguinte na Escola Industrial onde ele lecionava.
Pela primeira vez o menino sorria e parecia feliz. A escola era longe e
quando o menino se cansava seu pai o levava no cangote. Na hora do recreio,
Orlandinho desenhava os colegas ou heróis dos quadrinhos e era um sucesso.
Mas esta felicidade só durou três meses, pois no dia 10 de julho,
Orlandinho morria, vítima de insuficiência respiratória.
O narrador descreve a sala e os que estão no velório como o Tércio da
Gama e o Adolfo Boos e a parteira dona Vicentina e lembra que foi ali, “... há
pouco mais de 11 anos, ali mesmo, num quartinho ao lado da sala, à luz de um
lampião, fora a primeira pessoa a ver e a segurar ‘aquele menininho branco
branco branco, branco assim da cor da lua’.” (p.57)
O escritor, em cena de bastante intimismo poético, concentrada na
morte do menino Orlandinho, filho da negra dona Zenilda, Branco assim da cor
da lua, fazendo várias “personagens”, além de Cascaes (de ares ponderados e
humanitários), transitarem do real para a ficção: Tércio da Gama, Adolfo Boos,
o próprio autor-narrador - todos “rapazes pequenos”, moradores a Rua
Bocaiúva, há décadas passadas.

4.7 – O ABENÇOADO – Júlio de Queiroz

Tema central: Conjuração de bruxas que amaldiçoam a moderna medicina.

“Malina olhou ao longe. – Há mil anos que venho recomendando a


Pestina para aprender a chegar na hora combinada. Peste de bruxa que
sempre se atrasa! – comentou com o gato preto empoleirado no seu ombro
esquerdo.” (p.59)
As bruxas começaram a se reunir, algumas contando as malvadezas
que estavam aprontando. Ao total eram sete, como deveria de ser.
Malina, convocando as bruxas, apresenta o motivo da convocação
daquela reunião: “com essa história de progresso, de médicos aos montes e
uma farmácia em cada canto e em cada farmácia mil remédios para tudo, nós
estamos ficando mais que desmoralizadas.” (p.60)
As bruxas concordam e apresentam exemplos de jovens que não
acreditam mais em benzeduras e que preferem buscar a solução médica.
Decidem então, que na próxima reunião, trarão soluções para o
problema.
“Uma lua depois, caindo um Vento Sul fortíssimo, as bruxas começaram
a chegar. Malina não foi a primeira, mas também não foi a última. Como só
faltava a Pestina, Malina deu a sessão por aberta e quis saber o que é que
suas irmãs haviam elaborado.” (p.61)
Pestina chega toda alvoroçada e diz que se atrasou porque viu em um
lugarejo chamado São José um marido e uma mulher “...querendo fazer
aquelas coisas” (p.62) e que estavam lá três fadas disfarçadas de rolinhas e
estavam abençoando o fruto daquele amor, afirmando que nasceria um menino
no dia 16 de outubro de 1908, que chamar-se-ía Franklin e que ele preservaria
a cultura daquele lugar, bem como as histórias de bruxas.
Uma das bruxas apressou-se em dizer que era necessário matarem o
menino, mas Malina, a bruxa chefe diz: “- Não seja burra!...A gente não queria
ser lembrada? Pois aí está o menino que vai cuidar para que a gente não
morra na memória das pessoas.” (p.63)
As outras bruxas concordaram e cada uma foi embora para seu destino.
Então, este conto acaba colocando em foco um autêntico congresso
bruxólico, com o objetivo de se tomarem resoluções eficazes para deter o
crescente descrédito com que as bruxas vêm sendo tratadas, tudo “culpa do tal
de progresso”, bem como projetando, entrementes, as malignidades por elas
forjadas, a bruxa Pestina relata cena ocorrida em São José, onde três fadas
comentavam a concepção e o nascimento futuro de um menino que registrará
todas as estórias, lendas, costumes, bruxas e bruxedos da região…

4.8 – AO ENTRARDECER – Maria de Lourdes Krieger

Tema central: Pesca de arrastão como retrato antropológico


“A chuva bate nas costas desnudas dos pescadores a puxarem os cabos
da rede do arrastão.” (p.65)
Veranistas pedem por peixes, assim como Onofre, pescador já velho,
mas que atua como olheiro em busca de cardumes.
Ele não gostava muito das mudanças que trazia o verão: turistas, os
corpos desnudos, o alarido e os costumes estranhos e seu amigo avisa que
aquela destruição toda traria sérias conseqüências.
Este amigo aparecia sempre com folhas de papel e lápis numa pasta de
couro e com ele Onofre aprendeu a valorizar o chão em que vivia.
O alvoroço da chegada das embarcações termina e Onofre agora volta a
procurar cardumes e lembra de seu amigo Franklin:”vejam os manguezais..”
(p.67) e El sorri, pois sabe que este amigo deve estar contando histórias
fantásticas para aquela a quem ele rendia homenagens: Nossa Senhora do
Desterro.
Este conto condensa uma cena ou instantâneo na vida praieira: a
chegada dos pescadores com seu escasso produto, que é vendido para a
divisão dos lucros, enquanto o “olheiro” Onofre lembra o amigo (não será
preciso dar seu nome!) que tanto advertira sobre mudanças nefastas do
progresso sobre essa ilha “embruxada pelo capitalismo e pelos gananciosos”.

4.9 – O DIÁRIO DA VIRGEM DESAPARECIDA – Olsen Jr.

Tema central: A mulher é bruxa quando se emancipa

“Tenho o hábito de recortar matérias de jornal que possuam qualquer


coisa de singular, inusitado, insólito, original, curioso, enfim, algo capaz de
compor a natureza humana além da mesmice cotidiana.” (p.69)
O narrador conta que leu uma manchete na véspera do Natal de 1978 –
Adolescente desaparece sem deixar vestígios – ela era uma estudante na
lagoa da Conceição e o pai, indignado, afirmava que a filha tinha sumido na
mesma data que um estranho gringo fizera também o mesmo.
A história não teria nada de especial, mas dez dias depois foi
apresentado um diário, pela amiga da jovem que desaparecera. Este diário
chamou a atenção do narrador que foi até a casa da moça e pediu uma
entrevista com a mãe.
Conseguiu ele ver a caderneta, mas não havia como emprestá-la e ele
resolveu copiar as informações, cerca de dezessete anotações de página e
meia cada, com apenas uma data: dia 4 de novembro.
Quando já havia terminado, chega o pai da moça, aparentemente
embriagado e joga a caderneta no fogo, afirmando tratar-se de um ritual para
libertar a filha do embruxamento ou como dizia o professor Franklin Cascaes,
do fado bruxólico.
Descobre-se então que o nome do gringo era Raphael Constanzo
Flores, alto, moreno, espadaúdo, gostava de fazer pães e era vizinho da moça.
Ele havia decidido ser professora e com o tempo, aproximou-se
naturalmente do jovem e a amizade transformou-se em paixão.
Um dia acontece o inevitável e os dois fazem amor. No mês seguinte, a
menstruação não veio e Raphael não se mostrou surpreso e acertou que os
dois iriam para Curitiba.
No dia 04 de novembro ela recebe uma folha de jornal com uma edição
especial a respeito de Franklin Cascaes. Ela lê a notícia e vê o desenho de
uma galinha choca.
A reportagem apresentava informações sobre as bruxas da ilha: que
elas tinham uma vida melhor se comparadas àquelas perseguidas pela
Inquisição e que todas elas acreditavam que podiam voar, que possuíam poder
sobrenaturais, poderes de curar, matar, de mudar as condições
climáticas...”também se ufanavam de ter relações sexuais com os demônios
íncubos e súcubos. Ìncubo (por cima) e súcubo (por baixo). Os demônios se
transformavam oram em homem (íncubo) oram em mulher (súcubo). Para a
transformação o demônio deveria roubar o esperma humano, o que conseguia
durante o sono, através da masturbação. As bruxas reclamavam que este
esperma era muito frio, que eles tinham um membro muito ereto, mas sem
sabor, porque frio.” (p.75)
A mesma reportagem ainda fala sobre uma galinha que perseguiu um
pescador e ele bateu nela, quebrando-lhe o braço e no outro dia apareceu
Merência, com uma tipóia no braço. Então deram um surra naquela mulher e
lhe jogaram água e sal, para tirar o fado bruxólico.
Depois disso, a moça tem alguns sonhos com bruxas e decide pela sua
fuga na véspera do Natal.
“O diário terminava ali, Ah! Quase esqueço! O filho da Sibele (este é o
nome da moça que fugiu) com Raphael, um rapaz moreno de olhos verdes
chama-se Nathan, tem quase vinte e cinco anos, cursa engenharia e até acha
graça quando associam o seu nascimento a um forte cheiro de enxofre no ar, é
o sinal dos tempos, afirma, embora hoje ninguém acredite mais em bruxas;
mas que elas existem, existem.” (p.77)
Assim, retomando em boa ótica a crendice bruxólica nesta Ilha da
Magia, bem como um fato nada estranho às tradições açorianas (a fuga - rapto
de adolescente), um caso de “fado bruxólico” se corporifica no sintético diário,
astuciosamente reconstituído por ardis do narrador, que vai desfiando os fios
dessa meada de aparência policialesca.
4.10 – TALVEZ A PRIMEIRA E ÚLTIMA CARTA – Péricles Prade

Tema Central: Uma ‘oitava filha’ interpela Franklin e advoga sua condição de
não-bruxa.
O conto, em modelo de carta começa assim: “Desterro, 14 de março de
1983. Seu Franklin...” (p.79)
A moça chamada Benta diz-se indignada, pois após uma afirmação em
“Bruxas Gêmeas”, conto do livro “O Fantástico na Ilha de Santa Catarina”
datado de 1950 ela tem passado por bruxa, apesar de nunca ter feito nenhum
mal a ninguém e que seu único gostinho é ficar nua, assim como gostam as
bruxas quando é sábado.
Benta relata que é gêmea de Santa e que seus pais já tinham seis filhos
e que todos sabem que quando nasce o sétimo, se for menina, será bruxa.
Seu pai, quando soube que a parteira, Custódia do Chico Pelego,
esqueçera de marcar quem era a sétima, para chamar de Benta e livrá-la do
mal, decidiu recorrer a Candinha Miringa, benzedeira e curandeira, mas de
nada adiantou, pois seu Manoel Braseiro, não sabia responder quem era a filha
bruxa. A benzedeira, então, pediu ajuda de Lúcifer, seu chefe. O problema é
que Belzebu apontou Benta como bruxa e como ele sabia que ninguém
acreditava nele, acabaram por desfazer o mal em Santa, o que de nada
adiantou.
Ao final, Benta acha graça da armadilha do demo e pede que o Sr.
Cascaes mude o seu texto, caso contrário “Se até amanhã, dia 15, eu não for
atendida, mudando o que deve ser mudado, morrerá para jamais voltar a
cometer equívocos dessa natureza. E para aprender que não só as bruxas
fazem mal.” (p.81)
O criador (ou compilador) não fugia do poder das criaturas!

4.11 – NOITES DE ENCANTAMENTO – Raul Caldas Filho

Tema central: Relacionamento animoso e amoroso entre a antropóloga


incrédula e o defensor do que é nativo.

Um menino ouve, na noite que avança, histórias fantásticas de


monstros, bruxas lobisomens até que sua mãe ordena que ele vá dormir.
O menino brinca de modelas na areia aquelas noites de encantamento,
ele é Franklin, 10 anos.
Após um mês da morte de Franklin Cascaes em maio de 1983, Ricardo
recebeu um telefonema de uma jornalista carioca querendo uma entrevista
sobre nosso professor
Seu nome era Natasha, uma bela mulher, de seios pontudos e corpo
esguio.
Ricardo levou-a até o Museu para apresentar as pinturas, desenhos,
livros, pequenas esculturas de cerâmica e falou sobre as velhas crenças
açorianas e principalmente sobre bruxas e como elas nascem.
Natasha parecia desdenhar das histórias e Ricardo acha que ela é uma
“...racionalista-cartesiana, chata e presunçosa.” (p.85) e quanto mais conhecia
do trabalho de Cascaes mais ela achava tudo aquilo crendice de baixo extrato,
sem o menor valor para antropologia.
Ricardo lembrou-se de Sinhá Vitelina, uma velha curandeira e levou
Natasha para conhecê-la. A velha afirmou: “ bruxaria é a maldade que ainda
domina o mundo e se aloja na cabeça das pessoas. É o ódio, a inveja, o
despeito, a luxúria, a violência, a maledicência...” (p.86)
Natasha e Ricardo voltaram para o carro e ficaram um bom tempo sem
falar. Ela pediu que ele parasse em uma enseada, às margens da baía Sul.
Começaram a trocar carícias mais que picantes e foram caminhar por um
descampado.
Natascha interrompeu Ricardo e disse: “ Meus pais vieram da Ucrânia
para o Brasil, fugindo dos horrores da Segunda guerra Mundial.
Estabeleceram-se no Rio de Janeiro e tiveram sete filhas. Eu fui a sétima.
Interrompeu-se mais uma vez e acrescentou, enigmática: sou então uma
bruxa.” (p.87)
Noites de encantamento, de Raul Caldas Filho, confirma que bruxas não
povoam apenas a Ilha de Santa Catarina, pois, cerca de um mês após a morte
de Cascaes, veio à Ilha Natasha, sétima filha de um casal que viera ao Rio de
Janeiro, fugindo dos horrores da Segunda Guerra Mundial na Ucrânia. E veio
com todos os direitos.
4.12 – MISTÉRIO NO MIRAMAR – Salim Miguel

Tema central: A imaginação tem memórias

“Atravessou correndo a Praça, ofegante e trêmulo entrou na cozinha


adentro, onde a mãe preparava o café, e mal conseguiu murmurar: - Ma-mãe-
o-cor-po-o-som...” (p.89)
O menino contou que estava no Miramar e viu um corpo e uma voz
insistindo para ele falar com o Franklin.
O corpo foi levado ao necrotério e o Dr. Luís Delfino vai fazer a autópsia
e já no outro dia os jornais noticiavam “MISTÉRIO NO MIRAMAR. “
Ninguém sabia quem era o homem que estava sem dinheiro,
documentos, apenas um lenço no bolso e uma pasta de couro, com as letras
JCS, amarrada ao pulso.
O pai e o menino foram até a delegacia, pois o pai conhecia o
comissário Várzea. O garoto recontou o que ouviu sobre falar com o Franklin e
Virgílio, o escrivão, disse que havia o professor da Escola Industrial.
O professor não sabia de nada, apesar do menino Ernani ouvir seu
nome e o cadáver possuir um desenho que poderia ser seu.
Subitamente Cascaes revela que alguns dias atrás um homem lhe fizera
um pedido estranho de um desenho: “...suas bruxas, com inteira liberdade, a
única exigência é nas caras, uma deve lembrar Cruz e Sousa, outra a noiva
Pedra, a terceira a esposa Gavita, a quarta, com cinco cabeças: Julieta,
Carolina, Cruz, Gavita, Pedra.” (p.93)
Franklin explicou que o rapaz só buscou o primeiro desenho e quando
Ernani viu o segundo desenho tomou um susto, dizendo que era aquele ser
que o perseguiu no Miramar.
Também lembrou-se nosso professor que o nome do indivíduo era João,
que tinha estado em um hotel, mas que ninguém sabia de seu paradeiro e que
quando foi ao Hotel La Porta só encontrou nomes como (repare que são de
poetas):Andrade Muricy, Tasso, Alceu, Alphonsus, Abelardo, Raymundo,
Roger.
Cascaes afirma ao delegado que estas coisas misteriosas são típicas,
“... são tudo coisas desta Ilha misteriosa e embruxada.” (p.94)
O comissário Várzea e o escrivão Virgílio continuaram suas buscas,
falam com o motorista do caminhão-do-lixo Santos Lostada, mas nada
encontraram.
O menino Ernani, certo dia, quando lia Broquéis, de Cruz e Sousa, viu
passar uma bruxa enorme de cinco cabeças, ela deu um vôo rasante pela
Praça XV e se perdeu pelos lados da Ponte Ercílio Luz.
Lembrou-se do professor Franklin: “Neste mundo absconso, como disse
o Poeta, há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã
filosofia.” (p.95)
Neste conto, Franklin Cascaes participa, como personagem, de vários
relatos. Mistério no Miramar, de Salim Miguel, aparenta ingredientes policiais,
concentrado num corpo misterioso recolhido nas águas junto ao Miramar. Há
um sutil refinamento que aponta para prodigiosa riqueza intertextual dos nomes
das personagens, a partir dos traços essenciais de Franklin Cascaes, da figura
de JCS (João da Cruz e Sousa) e do seu círculo de amigos: Virgílio Várzea,
Araújo Figueredo, Santos Lostada, Oscar Rosa, Luís Delfino (alguns
desdobrados), seus pais Carolina e Guilherme e suas amadas Pedra e Gavita,
além da angelical Julieta (dos Santos), aos quais se somam os admiradores e
estudiosos do Cisne Negro: Nestor (Vítor), Andrade Muricy, Tasso (da Silveira),
Alphonsus (de Guimaraens), Abelardo (Montenegro), Raymundo (Magalhães),
Roger (Bastide).

4.13 - O FOLHETO – Silveira de Souza

Tema central: Bruxas desenham, em uma aparição feérica, o apavorado


‘perguntador’ da cidade.

“Tudo aconteceu no final dos ano 50 ou início dos anos 60, não lembro
muito bem.” (p.97)
O narrador possui uma pequena gráfica e leciona matemática para
sobreviver.
O amigo Maurício apareceu com a idéia de fazer um folheto de 16 páginas
sobre as bruxas de Franklin, imprimiriam 200 exemplares e rachariam a venda.
O narrador lecionava no mesmo colégio do professor Franklin e em um
intervalo de aula apresentou seu projeto e emprestou algumas de suas
anotações e passou o endereço de um amigo, o Zeferino, de Pontas das
Canas.
“- Mas o senhor, professor Franklin, acredita em bruxas?
-Eu acredito na mente das pessoas, que cria tudo o que elas acreditam.
(...) meu trabalho é o de apenas anotar as histórias que esse povo conta.”
(p.99)
Maurício achou ótimas as histórias e a idéia de visitar no sábado à tarde
o Zeferino, mas o narrador foi sozinho, pois seu amigo foi para Curitiba.
Zeferino era um homem simples que recebeu muito bem o entrevistador,
o problema foi que começou a cair uma chuva forte. “ – O senhô vai ficá nesta
casa até a chuva passá, mesmo que dure três dia – falou Zeferino.” (p.101)
A conversa dentro da casa foi trivial até que Zeferino foi perguntado
sobre duas réstias de alho penduradas na parede da sala e sua esposa
informou que eram proteção contra as bruxas e que ele deveria ficar também
com um dente de alho.
Relataram ao narrador que o filho deles, o menino Pedro, já estivera
embruxado e que dona Luiz Benzedera conseguira salvá-lo com uma reza
assim:
Treze raio tem o sóli/treze raio tem a lua./Sarta diabo pro inferno/ qu’esta
alma não é tua./tosca marosca, rabo de rosca/ (...) (p.103
A conversa seguiu até a hora de dormirem e a noite foi de pernilongos e
já pelas cinco e meia da manhã o narrador estava de pé.
Ele se despediu e foi pelo lado da praia e pelo caminho encontrou uma
baleeira com um abrigo e ficou aterrorizado ao ver “...três velhotas dentro da
baleeira, muito altas, magras e feias, que fingiam remar remos invisíveis e
faziam uma tremenda algazarra. Um pouco adiante, a dois passos da baleeira,
numa árvore enorme e de tronco grosso, outra velhota do mesmo tipo ia e
vinha, sentada num balanço preso por cordas trançadas e amarradas a um dos
galhos.” (p.105)
As bruxas ameaçaram: “- Lá vai o istepô de bundinha branca! Tá
dizendo por aí que vai falá da gente! (...) – Vamo enfiá um remo no rabo desse
maroto!” (p.105)
O folheto nunca foi publicado, Maurício não voltou de Curitiba e só
agora, anos mais tarde, Silveira de Souza confessa ter coragem de contar o
ocorrido e reza para que ninguém acredite.

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