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6 a 9 de novembro de 2006
Universidade Federal de Uberlândia
RESUMO
O presente trabalho consiste numa análise teórico-conceitual sobre um processo inicial
de reestruturação urbana em uma cidade média. Essa reestruturação está sendo
pautada em processos espaciais de centralização e descentralização das atividades
produtivas (comerciais, turísticas e de lazer) na formação de novas centralidades no
espaço intra-urbano do município de Petrópolis. No distrito de Itaipava, observamos o
desabrochar de uma centralidade urbana calcada no consumo, apresentando uma forte
segmentação sócio-espacial. Esta centralidade de consumo é caracterizada pela
presença de grandes empreendimentos comerciais e de serviços, que vem redefinindo a
relação centro-periferia na estruturação urbana petropolitana.
Palavras-chave: cidade média; centralidade urbana; Petrópolis-RJ.
RESUMEN
El presente trabajo consiste en una análisis teórico-conceptual sobre uno proceso inicial
de reestructuración urbana en una ciudad intermedia. Esa reestructuración se está
haciendo pautado en procesos espaciales de centralización e descentralización de las
actividades productivas (comerciales, turisticas e de ocio) en la formación de nuevas
centralidades en lo espacio intraurbano de lo municipio de Petropólis-RJ. En lo distrito
de Itaipava, es observado lo florecer de esta nueva centralidad urbana fundamentada en
lo consumo, presentando una fuerte segmentación socioespacial. Esta centralidad de
consumo es caracterizada por la presencia de grandes equipamientos comerciales e de
servicios, que tem generado a redefinición de la relación centro-periferia en la
estructuración urbana petropolitana.
Palavras-chave: ciudad intermédia; centralidad urbana; Petrópolis-RJ.
Nosso trabalho pretende abordar as seguintes questões: (i) qual a natureza da centralidade
na época da formação e consolidação do Centro Histórico; (ii) quais os principais fatores que
contribuíram para o surgimento dessa estrutura policentral do município em tempos recentes; e (iii)
qual a natureza desses possíveis novos centros? E, enfim, como seu surgimento transforma também
a antiga centralidade do núcleo histórico?
Entendendo a cidade como um produto e reflexo da sociedade, tem-se que o espaço urbano
é instável, complexo e mutável a partir de processos de natureza e ritmos diferenciados (CORREA,
2003). Segundo Pires (2003), “a cidade é um imbricado histórico e sua lógica espacial constitui uma
totalidade de relações (culturais, políticas, econômicas e sociais)”. Corrêa acrescenta que “as
relações espaciais integram, ainda que diferentemente, as diversas partes da cidade, unindo-as em
um conjunto articulado cujo núcleo de articulação tem sido, tradicionalmente, o centro da cidade”
(2003, p. 08).
Para Sposito (1998), a centralidade urbana pode ser abordada em duas escalas territoriais: a
intraurbana e a da rede urbana. No primeiro nível, é possível enfocar as diferentes formas de
expressão dessa centralidade tomando como referência o território da cidade ou da aglomeração
urbana, a partir de seu centro ou centros. No segundo nível, a análise toma como referência a cidade
ou aglomeração urbana principal em relação ao conjunto de cidades de uma rede, essa por sua vez
podendo ser vista em diferentes escalas e formas de articulação e configuração, de maneira a que se
possam compreender os papéis da cidade central.
Na sociologia urbana, o termo centro urbano designa ao mesmo tempo um local geográfico e
um conteúdo social, no qual o conteúdo social assim definido será localizado num certo ponto ou em
vários, o que equivale a uma fixação do conteúdo social da centralidade considerada em si mesma
fora de toda relação com o conjunto da estrutura (CASTELLS, 1983).
O filósofo Henri Lefebvre discutiu o conceito apresentando que, na maioria dos casos, o
“centro urbano implica e propõe a concentração de tudo o que se dá no mundo, na natureza e no
cosmos: produtos da terra, produtos industriais, obras humanas, objetos e instrumentos, atos e
situações, signos e símbolos” (1999, p. 46).
Castells (1983) indica que a centralidade urbana proveio, em primeiro lugar, da expressão em
nível de espaço do que os estudiosos chamam, há algum tempo, de divisão social do espaço. Quer
dizer, à medida que há distintas atividades e distintos níveis sociais ligados a estas atividades, esta
divisão se espacializa e, ao espacializar-se, tem, a um só tempo, elementos de diferenciação, tanto
em nível social como espacial. Os centros urbanos são a “expressão desta coordenação necessária
das atividades e categorias sociais em sua dimensão espacial. Isto é, os centros urbanos são a
organização espacial da configuração, do intercâmbio e da coordenação, na sua relação com o
processo da divisão social do trabalho” (CASTELLS, 1983, p. 65).
(...) o centro não está necessariamente no centro geográfico, e nem sempre ocupa
o sítio histórico onde esta cidade se originou, ele é antes de tudo o ponto de
convergência/divergência, é o nó do sistema de circulação, é o lugar para onde
todos se dirigem para algumas atividades e, é o ponto de onde todos se deslocam
para a interação destas atividades aí localizadas com as outras que se realizam no
interior da cidade ou fora dela. Esta qualidade pressupõe, provoca e reforça os
traços concentradores desta área, permitindo dizer que mesmo que a dimensão ou
As áreas centrais constituem uma atração, expressando centralidades urbanas, que podem
ser múltiplas numa mesma cidade e devem ser entendidas a partir dos fluxos de pessoas,
automóveis, capitais, decisões, informações e, sobretudo, mercadorias (SILVA, 2003), e é um produto
da economia de mercado levado ao extremo pelo capitalismo industrial (CORREA, 2003).
Assim, na compreensão da estrutura interna das cidades, é preciso uma atenção especial
com este processo caracterizado por uma contínua transformação, utilizando-se sempre a expressão
‘reestruturação urbana’, que seria entendida aqui como um processo de mudança no conjunto de
usos e formas urbanas na escala intraurbana das cidades, resultado de uma reorganização das
atividades no espaço associado à compreensão das novas lógicas locacionais e pelo sistema de
mercado. A idéia deste processo fundamenta-se no que Davidovich conceitua: “[são] transformações
territoriais que decorrem do processo de valorização capitalista do espaço, enquanto movimento de
continua construção/destruição/reconstrução de criação e recriação [de formas e usos nas cidades]”
(1993, p. 37).
A área central caracterizada pelo núcleo concentrador, monopolizador das atividades e ponto
de convergência/divergência dos fluxos, impregnado pela ideologia e de valor simbólico, passa a
sofrer os efeitos de uma redefinição da centralidade urbana no interior das cidades. Analisando o
processo de urbanização no século XX, verifica-se que um dos fenômenos mais marcantes dentre as
transformações por que passaram e passam as cidades é o da multiplicação e diversificação de
áreas de concentração de atividades comerciais e de serviços.
Segundo Sposito,
Segundo Sposito (1991, p. 09), até meados da década de 70, as cidades brasileiras até um
determinado porte tinham praticamente um centro único e monopolizador, com forte concentração de
atividades comerciais e de serviços. O crescimento populacional destas cidades levava estas áreas
centrais a um processo de expansão, através da absorção de áreas/setores limítrofes ao centro,
através do afastamento de sua população residencial e a transformação de seu uso de solo em
comercial e de serviços, via demolição de construções residenciais e construções de novas
edificações adequadas ao comércio e/ou serviços.
Na década de 1970 nas áreas metropolitanas, e nos anos 80 nas cidades médias, inicia-se
um processo de generalização de uma tendência à localização de atividades terciárias tipicamente
centrais, ao longo de vias de maior circulação de veículos, traduzindo-se na configuração de eixos
comerciais e de serviços importantes. Este processo é denominado por desdobramento da área
central (CORDEIRO, 1980). O desdobramento diferencia-se da expansão da área central, ou da
emergência de subcentros, pelos seguintes pontos, de acordo com Sposito:
a) não são áreas contínuas ao centro principal ou aos subcentros, não podendo,
portanto, ser caracterizadas como de expansão geográfica das mesmas; b)
caracterizam-se pela localização de atividades tipicamente centrais, mas de
forma especializada. Ou seja, nelas não se reproduz a alocação de todas as
atividades tradicionalmente centrais, mas selecionadamente de algumas
destas. Daí, a caracterização do processo como de desdobramento da
centralidade (ao invés de reprodução da localização das atividades centrais em
menor escala, como o que se observa nos subcentros), como se o centro se
multiplicasse, desdobrando-se especializadamente em outros eixos da
estrutura urbana; c) o nível de especialização destes eixos de desdobramento
da centralidade é funcional e/ou socioeconômico. Em muitos casos, neles
alocam-se predominantemente estabelecimentos ligados a um tipo de
atividade; d) Esta especialização se traduz na procura dos segmentos de maior
poder aquisitivo do mercado, que progressivamente abandonam o comércio e
os serviços do centro tradicional (1991, pp. 10-11).
Outra forma de relocalização das atividades tradicionalmente centrais, que no Brasil emergiu
reestruturando os espaços urbanos das metrópoles a partir dos anos 70 e se generalizou (inclusive
para as cidades de porte médio) na década de 80, foram os shoppings centers (SPOSITO, 1991). As
atividades que se desenvolvem nos shoppings buscam a constituição da reprodução, em nova
localização, de atividades que tradicionalmente ocupavam o centro principal e/ou outros eixos
comerciais no interior das cidades. O shopping center pode ser identificado como expressão da
centralidade, como produção de nova centralidade, na medida em que através da concentração de
um conjunto de estabelecimentos voltados ao comércio e aos serviços, em uma nova localização,
recria-se a centralidade, ou seja, reúnem-se em outro lócus as mesmas qualidades de concentração
que se encontram ao centro, associadas a um novo modelo de acessibilidade, já que os shoppings
são alocados próximos a vias expressas e conjugam grandes áreas de estacionamento.
O surgimento dessas novas centralidades pode ser engendrado, muitas vezes, segundo
Sposito (2001), pela expansão urbana acelerada, que leva à produção de tecidos descontínuos e
fragmentados, e por interesses imobiliários na construção de novos equipamentos comerciais e de
serviço. Esta última idéia também é compartilhada por Corrêa:
Para Silva, à medida que vão se formando novas áreas periféricas, com a permanência de
vazios urbanos, amplia-se a fragmentação do espaço urbano, pois com o aumento do grau de
dispersão da centralidade, surge uma tendência à interrupção das relações sociais entre camadas
diferentes, desaparecendo a conexão entre as diferentes partes do tecido urbano, cujo papel de
articulação, em tese, seria desempenhado pelo Centro Tradicional (2003, p. 11).
renda, sendo Itaipava o distrito que melhor expressa esta nova tendência. Formaram-se, assim,
novas áreas atraentes para atividades e fluxos, gerando novas centralidades. Ou seja, como
resultado de um processo, estas novas “áreas centrais”, ao apresentarem novas tendências e
vocações, vêm reestruturando o espaço urbano petropolitano, conforme analisaremos mais adiante.
Segundo o Censo de 2000 do IBGE, a população do município era de 286.537, sendo que
94,46% moram na área urbana, e 5,54% na área rural, marcada pela olericultura e produtos
“orgânicos”. As atividades econômicas de maior destaque são as indústrias de vestuário, mobiliária,
de bebidas e a recente implantação de um setor industrial de alta tecnologia, além de um setor de
serviços privilegiado baseado no turismo e no lazer.
O município possui uma posição geográfica excelente, principalmente pela proximidade com
a área metropolitana. Petrópolis apresenta uma boa acessibilidade e conectividade, garantida pela
rodovia BR-040, que liga o Rio de Janeiro (RJ) até Belo Horizonte (MG) e se constitui no principal
acesso à cidade. Além da Estrada União-Indústria, que durante o auge da economia do café no Vale
do Paraíba, servia como um importante caminho para o interior; e da Estrada da Serra Velha,
construída em 1815, que ligava Raiz da Serra, em Magé, ao bairro Alto da Serra, em Petrópolis,
apesar do seu péssimo estado de conservação. A integração de Petrópolis com Teresópolis e o
restante da Região Serrana foi garantida pela construção da rodovia BR-495 (Teresópolis –
Itaipava/Petrópolis) e do acesso facilitado a BR-116, Rio-Bahia e RJ 130 que liga Teresópolis a
Friburgo. Ainda o entroncamento da BR 393, em Três Rios, garante o acesso a São Paulo e também
para o nordeste do país. Uma ligação rápida a Petrópolis possibilita não só um maior fluxo de
veranistas como é fundamental para atrair mão-de-obra qualificada temporária ou permanente para a
região.
A ocupação inicial do município de Petrópolis ocorreu por volta de 1720, quando se abriu o
atalho Caminho Novo, variante do caminho Rio-Minas, em direção ao Sitio de Garcia Rodrigues, atual
Paraíba do Sul (GONÇALVES E GUERRA, 2001). Porém, só em 1843, ocorre a colonização de
Petrópolis. Neste momento, D. Pedro II inicia a construção de seu palácio de verão, atualmente
Museu Imperial, e solicita ao Engenheiro Major Koeler, a elaboração de um projeto urbanístico para a
construção da cidade (RABAÇO, 1985). O plano, que tinha uma forma tentacular, foi feito seguindo o
curso dos três principais rios da cidade: Palatinato, Quitandinha e Piabanha. O sistema viário
acompanhava o curso dos rios (RABAÇO, 1985).
Fonte: http://www.compuland.com.br/genealogia_monken/mapapet.html .
O projeto previa que os lotes da Vila Imperial, em torno do Palácio, fossem aforados a
homens de negócio de diplomatas que criaram as condições de sobrevivência da população ao
engendrarem a vida econômica e política. Enquanto isso, os alemães foram alocados nos quarteirões
coloniais, que receberam os nomes das localidades de onde procediam os colonos, como Bingen,
Darmstadt, Ingelheim, Mosela, Renânia, Westphalia, Worms, dentre outros. De acordo com o censo
de 1845, a população total era de 2.293 habitantes, em sua maioria colonos alemães (GONÇALVES
E GUERRA, 2001).
Souza (1995) faz algumas observações sobre o plano: a existência de indicações claras de
zoneamento, hierarquização viária, normas de ocupação e construção, parcelamento diferenciado,
abastecimento de água e recolhimento de esgoto, além de proteção do meio ambiente. Preocupado
com o equilíbrio entre o crescimento e a preservação da cidade, Major Koeler, segundo Gonçalves e
Guerra, “segue um modelo orgânico, culturalista de cidades, onde o espaço é irregular, assimétrico e
ligado à natureza (com áreas verdes), dividindo áreas limitadas, de baixa densidade”. (2001:199).
Sobre o plano, Souza expõe, da seguinte forma:
Petrópolis nasce assim, com um traçado que não segue o padrão urbanístico geral
(tabuleiro de xadrez), nem o português colonial (irregular, com rios ao fundo dos
lotes), adotados à época e não é conseqüência de centralização administrativa,
Durante a década de 70, a indústria do estado do Rio de Janeiro como um todo entra em
decadência pela concorrência com as indústrias paulistas e da região sul. A grave crise que ocorre na
cidade do Rio de Janeiro tem forte impacto sobre a economia petropolitana. Esta crise se dá em
função da entrada de novos atores na produção têxtil provenientes do sul de Minas Gerais e do
interior do estado de São Paulo, e da obsolescência da indústria têxtil e a falta de investimentos na
sua modernização. Para Costa, “só a articulação com um centro dinâmico, maior e mais
desenvolvido, possibilitaria uma complementação capaz de preencher as lacunas da economia
petropolitana e podem garantir o contínuo desenvolvimento econômico, conforme ocorreu desde o
século XIX” (2005: 53).
expansão urbana passa a se dar também através de invasões em áreas públicas ou em terrenos não
ocupados, até por apresentarem maior declividade e/ou se constituírem áreas sob legislação da APA
de Petrópolis, convertendo-se em áreas de risco. “[Em] Cascatinha (2º distrito), existe uma clara
tendência de expansão desordenada, com a ocupação cada vez maior de encostas e os topos dos
morros, reforçada com a conurbação com o distrito-sede Petrópolis” (GONÇALVES E GUERRA,
2001, p.196).
Além do aspecto populacional, observamos que atividades que antes ocupavam o Centro
Histórico passam a se relocalizar. Ou seja, a partir de meados da década de 80, assiste-se a uma
multiplicação e diversificação de áreas de concentração de atividades comerciais e de serviços, como
os bairros de Araras e Nogueira, e os distritos de Pedro do Rio e, especialmente Itaipava.
4. Considerações finais
O desafio deste trabalho foi a realização de uma análise teórico-conceitual sobre a produção
e a transformação das centralidades no município de Petrópolis em dois momentos históricos, o
primeiro relativo à origem e formação do centro histórico de Petrópolis e o segundo a possível
formação de novas centralidades em áreas não-centrais (distrito de Itaipava). A discussão sobre a
descentralização das formas urbanas é relevante, levando-se em consideração que o espaço urbano
está permeado pelo sentido da centralidade, conseqüência dos sentimentos, das relações
econômicas, culturais e sociais ocorrentes no interior das cidades, transformando tal espaço
dinâmico, fragmentado e, em alguns casos, pouco articulado.
Como já foi dito, a localização de atividades do setor terciário em áreas não centrais só
favorece a produção espacial de locais de moradia no entorno das novas áreas centrais. Neste caso,
não existe a intenção de afirmar que a centralidade inicia-se pela atuação das atividades terciárias,
mas sim que no transcorrer da ocupação as atividades produtivas vão se especializando de acordo
com o tipo de demanda por produtos e serviços, afirmando deste modo à nova centralidade.
A natureza dos possíveis novos centros estão relacionadas a uma série de fatores, como o
interesse governamental em descentralizar e desconcentrar as atividades econômicas e os grupos
populacionais, a perda de amenidades, os congestionamentos, melhores serviços e opções variadas
Referências bibliográficas