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EM DEFESA DE UM

MUNDO SUSTENTÁVEL
SEM TRANSGÊNICOS

Grupo de Ciência Independente


EM DEFESA DE UM
MUNDO SUSTENTÁVEL
SEM TRANSGÊNICOS

Grupo de Ciência Independente

EDITORA
EXPRESSÃO POPULAR
Copyright © 2004, by Editora Expressão Popular

Título original em inglês: The Case For A GM-Free Sustainable World

Tradução: Maria Almeida e Camila Moreno


Revisão Técnica: Edna
Revisão: Geraldo Martins de Azevedo Filho
Projeto gráfico, capa e diagramação: ZAP Design
Ilustração da capa:
Impressão e acabamento: Cromosete

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada
ou reproduzida sem a autorização da editora.

1ª edição: maio de 2004

EDITORA EXPRESSÃO POPULAR


Rua Bernardo da Veiga, 14
CEP 01252-020 - São Paulo-SP
Fone/Fax: (11) 3112-0941
Correio eletrônico: vendas@expressaopopular.com.br
www.expressaopopular.com.br
SUMÁRIO

NEM VASSALOS, NEM IRRESPONSÁVEIS ........................................................ 7


APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 9
PREFÁCIO ......................................................................................................... 13
RESUMO EXECUTIVO ...................................................................................... 15

PARTE 1 - NÃO HÁ FUTURO PARA OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS


1. POR QUE NÃO AOS TRANSGÊNICOS? ........................................................ 31
2. INTENSIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS NO CAMPO ....................................... 37

PARTE 2 - OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS NÃO SÃO SEGUROS


3. CIÊNCIA E PRECAUÇÃO ............................................................................... 49
4. TESTES DE SEGURANÇA DOS ...................................................................... 57
ALIMENTOS TRANSGÊNICOS ....................................................................... 57
5. OS PERIGOS DO TRANSGENE ...................................................................... 63
6. OS CULTIVOS TERMINATOR PROPAGAM A ............................................... 67
ESTERILIDADE MASCULINA ........................................................................ 67
7. OS PERIGOS DOS AGROTÓXICOS ............................................................... 71
8. A TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL DE GENES ............................................. 77
9. O PROMOTOR CAMV 35S ........................................................................... 81
10. MAIOR PROBABILIDADE DE PROPAGAÇÃO ............................................ 87
DE DNA TRANSGÊNICO .............................................................................. 87
11. A TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL ............................................................. 91
DE DNA TRANSGÊNICO .............................................................................. 91
12. OS PERIGOS DA TRANSFERÊNCIA ............................................................. 101
HORIZONTAL DE GENES ............................................................................. 101
13. CONCLUSÃO DAS PARTES 1 E 2 ................................................................ 105

PARTE 3 - OS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS DA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


14. POR QUE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL? ................................................ 111
15. PRODUTIVIDADE E RENDIMENTOS .......................................................... 115
MAIORES OU COMPARÁVEIS ................................................................... 115
16. MELHORES SOLOS ..................................................................................... 125
17. UM AMBIENTE MAIS LIMPO ..................................................................... 131
18. REDUÇÃO DE AGROTÓXICOS ................................................................... 135
SEM AUMENTO DE PRAGAS ...................................................................... 135
19. APOIANDO A BIODIVERSIDADE E ............................................................ 139
UTILIZANDO A DIVERSIDADE .................................................................... 139
20. SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL ............................................................. 147
E ECONÔMICA ........................................................................................... 147
21. DIMINUINDO IMPACTOS INDUTORES ...................................................... 151
DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS .................................................................... 151
22. PRODUÇÃO EFICIENTE E RENTÁVEL ........................................................ 155
23. MAIOR SEGURANÇA ALIMENTAR E ......................................................... 159
BENEFÍCIOS PARA AS COMUNIDADES LOCAIS ........................................ 159
24. ORGÂNICOS PELA SAÚDE ......................................................................... 167
25. CONCLUSÃO DA PARTE 3 ......................................................................... 173

APÊNDICE ......................................................................................................... 189


DECLARAÇÃO DO GRUPO DE CIÊNCIA INDEPENDENTE ............................... 189
PRONUNCIADA EM 10 DE MAIO DE 2003, EM LONDRES. ............................ 189
O GRUPO DE TRANSGÊNICOS DO ISP ............................................................ 191
GRUPO DE TRANSGÊNICOS DO ISP – LISTA DE MEMBROS ........................... 193
NEM VASSALOS, NEM IRRESPONSÁVEIS

O Governo do Paraná, a Editora Expressão Popular e a Acción


Ecológica divulgam, para o conhecimento dos brasileiros, esta
coletânea de textos de cientistas de todo o mundo contra os
transgênicos. É mais uma contribuição para o debate do tema.
Especialistas das mais diversas áreas fazem aqui alertas dramáti-
cos e propõem uma agricultura e um mundo ambientalmente
sustentáveis.
A minha posição sobre os transgênicos é de todos conhecida.
De um lado, a resistência a que nos transformemos em vassalos
das multinacionais que detêm as patentes das sementes genetica-
mente modificadas. Além do que, firma-se como estultice (ou
então o mais desbragado entreguismo) aceitar a contaminação
de nossa agricultura com sementes transgênicas, quando cresce a
cada dia a demanda mundial pelos produtos puros.
De outro, a prudência. Permitir o plantio e o consumo em
larga escala de organismos geneticamente modificados, sem uma
séria e profunda avaliação dos riscos, para a saúde e para o meio
ambiente, é irresponsabilidade. O princípio da precaução deve
nortear as ações de todo governo. O Protocolo de Cartagena não
pode ser, como tantos outros protocolos e tratados, mera retórica.
Isso não quer dizer oposição às pesquisas. Pelo contrário. No
setor agropecuário, por exemplo, o Paraná é hoje um dos Esta-
dos que mais avanços científicos acumulou, trazendo para nos-
sos agricultores e nossa economia importantes conquistas.
A todos, uma boa leitura. Que os textos aqui agrupados pos-
sam contribuir para o debate e trazer os esclarecimentos e as in-
formações que todos buscamos.

Roberto Requião
Governador do Paraná
APRESENTAÇÃO

No ano de 2003, o país assistiu a uma das maiores ofensivas


das multinacionais do setor de sementes e agrotóxicos contra a
legislação brasileira, para conseguir, a qualquer custo, a liberação
dos cultivos transgênicos. Amparadas por parcelas da comuni-
dade científica que atuam na área de biotecnologia, as corporações
que dominam o setor bombardearam a opinião pública com
matérias publicadas nos mais variados meios de comunicação,
passando a mensagem de que ser contra os produtos transgênicos
é uma atitude atrasada e anticientífica. Na esfera governamental,
o presidente da República, ministros e vários parlamentares pas-
saram a repetir publicamente que a decisão seria “técnica” e não
ideológica, fazendo eco à mensagem publicitária das empresas
de biotecnologia. Infelizmente, as vozes dissonantes no meio cien-
tífico nacional tiveram pouco espaço na imprensa ou pouca co-
ragem para se expor publicamente.
Este livro, tradução do original em inglês publicado em ju-
nho de 2003 por um grupo de renomados cientistas de várias
nacionalidades, vem preencher uma lacuna da literatura sobre o
10 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

tema disponível em língua portuguesa. Trata-se de uma compi-


lação de informações geradas por várias disciplinas científicas, a
grande maioria delas publicadas em periódicos internacionais,
permitindo aos leitores tomar conhecimento que há controvér-
sias no meio científico em relação à segurança dos organismos
geneticamente modificados. Como os leitores poderão ver, as
informações aqui apresentadas vêm confirmar a importância es-
tratégica do princípio de precaução adotado pela Convenção de
Diversidade Biológica através do Protocolo de Cartagena, des-
mascarando a falsa ambigüidade entre ciência e princípio de pre-
caução que as grandes corporações e seus súditos de plantão vêm
tentando disseminar no país.
O livro está organizado em duas seções. A primeira delas traz
12 capítulos, cada um deles discutindo os diversos aspectos rela-
cionados aos perigos potenciais que a engenharia genética traz
para o meio ambiente e para a saúde de consumidores, tanto
humanos quanto animais. Os autores alertam sobre a precarie-
dade de testes sobre a segurança de alimentos transgênicos, o
aumento do uso de agrotóxicos nos países que têm adotado essa
tecnologia e sobre a instabilidade genética observada em orga-
nismos transgênicos. A segunda seção descreve uma série de ini-
ciativas exitosas desenvolvidas em várias partes do mundo volta-
das à promoção de uma agricultura sustentável, demonstrando
que há formas mais criativas, mais baratas, socialmente apropria-
das e ambientalmente seguras de produzir alimentos. As análises
apresentadas no conjunto do livro apoiam-se em farta bibliogra-
fia, totalizando 224 citações listadas na parte final.
Ainda que a maioria das citações refira-se a experiências desen-
volvidas em outros países, é sabido que o Brasil destaca-se mundial-
mente como um dos centros de referência em agroecologia. São
milhares de famílias anônimas de pequenos produtores espalha-
Grupo de Ciência Independente 11

dos nos diversos ecossistemas brasileiros que, praticamente sem


apoio de políticas públicas, vem convertendo os seus sistemas de
produção para bases agroecológicas. Estes se somam aos milhões
de outras famílias que não abandonaram seus sistemas de produ-
ção tradicional, originalmente agroecológicos. São estes guardiães
da agrobiodiversidade os mais ameaçados com a leviandade do
governo em ceder às pressões das corporações transnacionais do
setor de sementes e agrotóxicos e adotar uma atitude imprudente
em relação à liberação de cultivos transgênicos no país.
É importante lembrar que o governo ignorou a Constituição e
a legislação ambiental ao liberar a colheita da safra de soja
transgênica plantada ilegalmente na safra de 2002/2003, refor-
çando a cultura de impunidade que vigora no país. Fez-se surdo às
reivindicações dos movimentos populares e de outros segmentos
da sociedade civil organizada quando mais uma vez desrespeitou a
legislação vigente e liberou o plantio de soja transgênica na safra
2003/2004. O mesmo rumo seguiu a maioria dos parlamentares
da Câmara dos Deputados ao aprovar um projeto de lei de
biossegurança que relaxa todos os procedimentos necessários para
garantir a aplicação do princípio de precaução. Diante de tanta
capitulação, é necessário retomar o debate e exigir que o Governo
reveja sua posição sobre os transgênicos e não trate da mesma for-
ma cultivos em que o país guarda importante diversidade biológica
e conhecimento tradicional associado, como é o caso do milho e
do algodão, alvos certos das empresas de biotecnologia.
Em um país no qual o poder econômico controla a maior
parte das informações veiculadas e que a produção científica está
cada vez mais subordinada aos interesses das grandes corporações,
a iniciativa da Editora Expressão Popular de publicar este livro é
de extrema importância. Contribuiu para desmascarar a falsida-
de ideológica daqueles que usam em vão o nome da ciência para
impor modelos tecnológicos de dominação. A compilação de
dados apresentada neste livro oxigena o debate e agrega elemen-
tos que permitem uma reflexão crítica por parte de todos os inte-
ressados nos rumos da agricultura brasileira, na conservação da
biodiversidade que o país abriga e na garantia de alimentos lim-
pos e seguros com justiça social.

Maio de 2004

Angela Cordeiro
Enga. Agrônoma
M.Sc. Conservation of Plant Genetic Resources,
University of Birmingham, UK
PREFÁCIO

Os membros do Grupo de Ciência Independente (Independent


Science Panel, ISP) sobre organismos transgênicos tiveram a opor-
tunidade de analisar numerosas evidências científicas e outras
evidências registradas nas últimas décadas sobre a engenharia
genética. Muitos dos membros do ISP estão entre os mais de
600 cientistas de 72 países que assinaram a “Carta aberta dos
cientistas do mundo a todos os governos” [1], uma campanha
iniciada em 1999 que pedia moratória à liberação, no meio am-
biente, de organismos geneticamente modificados (OGMs), a
proibição de patentes sobre processos vivos, organismos, semen-
tes, linhagens de células e genes, e a realização de uma extensa
pesquisa pública sobre o futuro da agricultura e da segurança
alimentar.
Os fatos ocorridos desde 1999 na ciência e em outros âmbi-
tos confirmaram nossas preocupações sobre a segurança da en-
genharia genética, os cultivos transgênicos e a segurança alimen-
tar. Ao mesmo tempo, o sucesso e os benefícios das diferentes
14 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

formas de agricultura sustentável são inegáveis. As evidências aqui


sistematizadas representam fortes justificativas para a proibição
mundial à liberação, no meio ambiente, de cultivos transgênicos,
como caminho para uma ampla mudança dirigida à agroecologia,
agricultura sustentável e produção orgânica.
As evidências sobre as razões pelas quais os cultivos
transgênicos não são uma opção viável para um futuro sustentá-
vel são apresentadas nas partes 1 e 2; enquanto que na parte 3
são apresentadas evidências dos bons resultados e dos benefícios
das práticas agrícolas sustentáveis.

NOTA
Este relatório é o resumo de uma vasta bibliografia. Incluí-
mos a maior quantidade possível de fontes primárias; porém,
muitos dos documentos citados na lista de referência bibliográfi-
ca são, por sua vez, extensas resenhas de bibliografia científica e
outros materiais, submetidos a diversos organismos nacionais e
internacionais.
Na elaboração do Relatório do ISP, os membros são respon-
sáveis pelos campos nos quais têm competência específica e ao
aval geral do relatório em seu conjunto. Cada membro individual
do ISP reconhece a perícia e a autoridade de outros membros
nas áreas em que não tenha competência específica.
Grupo de Ciência Independente 15

RESUMO EXECUTIVO

POR QUE LIVRE DE TRANSGÊNICOS?


1. Os cultivos transgênicos não produziram os benefícios
prometidos
Evidências consistentes, oriundas de pesquisas independen-
tes e de estudos de campo realizados desde 1999, mostram que
os cultivos transgênicos não trouxeram os benefícios prometidos
de aumentar significativamente as produtividades ou de reduzir
a utilização de herbicidas e outros agrotóxicos. Estima-se que os
cultivos transgênicos tenham custado aos Estados Unidos cerca
de 12 bilhões de dólares em subsídios agrícolas, perdas nas ven-
das e recolhimento de produtos devido à contaminação
transgênica. Na Índia, nos cultivos de algodão Bt resistentes a
insetos, foram registradas perdas “massivas” que chegaram a
100%.
Desde 2000, as empresas de biotecnologia sofreram rápido
declínio e os consultores de investimento prevêem que elas não
terão futuro no setor agrícola. Enquanto isso, a resistência mun-
dial aos transgênicos alcançou seu clímax em 2002, quando a
16 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Zâmbia, apesar da ameaça de fome no país, recusou o milho


transgênico enviado como ajuda alimentar.

2. Os cultivos transgênicos intensificam


os problemas no campo
A instabilidade das linhagens transgênicas é, desde o início,
um problema para a indústria e pode ser responsável por uma
cadeia de grandes fracassos nas colheitas. Em 1994, um estudo
afirmava que: “Embora existam alguns exemplos de plantas que
demonstram expressão estável de um transgene, essas podem
provar que são as exceções à regra. Em uma pesquisa informal
com mais de 30 empresas envolvidas na comercialização de cul-
tivos trangênicos (...) quase todos os entrevistados indicaram que
haviam observado um certo grau de inação do transgene. Mui-
tos entrevistados indicaram que a maioria dos casos de inatividade
do transgene nunca chegou à literatura especializada”.
No Canadá já podem ser encontradas, amplamente distribuí-
das, plantas de canola espontâneas, com tripla tolerância a
herbicidas, provenientes da combinação entre plantas transgênicas
e não transgênicas dessa espécie. Nos Estados Unidos surgiram
plantas espontâneas e invasoras com similar tolerância múltipla
a herbicidas. Nos Estados Unidos ervas daninhas com tolerância
ao glifosato infestam os campos de algodão e de soja transgênicos
e a atrazina, um dos herbicidas mais tóxicos, teve de ser utilizada
para o milho transgênico tolerante ao glufosinato.
Características do biopesticida Bt ameaçam criar, simultanea-
mente, superervas daninhas e pragas resistentes ao Bt.

3. A inevitável contaminação transgênica extensiva


Uma vasta contaminação transgênica ocorreu em cultivos de
espécies crioulas de milho, cultivadas em regiões remotas do
Grupo de Ciência Independente 17

México, apesar da moratória oficial em vigor naquele país desde


1998. Altos índices de contaminação também têm sido encon-
trados no Canadá; em um teste com 33 amostras de sementes de
canola certificada, 32 estavam contaminadas.
Novas pesquisas revelam que o pólen transgênico, caído di-
retamente no solo ou espalhado pelo vento e depositado em outros
lugares, é uma fonte importante de contaminação transgênica.
Em geral, a contaminação é reconhecida como inevitável, por-
tanto, “não pode haver coexistência de cultivos transgênicos e
não transgênicos”.

4. Os cultivos transgênicos não são seguros


Ao contrário das afirmativas de seus proponentes, os cultivos
transgênicos não têm provado serem seguros. As bases para sua
regulamentação foram totalmente falhas, desde as origens, pois
se baseou em um enfoque de antiprecaução escolhido para obter
a aprovação rápida dos produtos em detrimento das considera-
ções sobre segurança.
O princípio de “equivalência substancial”, sobre o qual se
baseia a avaliação do risco, é intencionalmente vago e mal defi-
nido, garantindo desta forma às empresas completa permissão
para declarar os produtos transgênicos como “substancialmente
equivalentes” aos não transgênicos e, portanto, “seguros”.

5. Os alimentos transgênicos levantam preocupações sérias


sobre segurança
Existem poucos estudos confiáveis sobre a segurança dos ali-
mentos transgênicos. Contudo, os resultados disponíveis já dão
motivos para preocupação. Na única pesquisa sistemática sobre
alimentos transgênicos, realizada no mundo até o presente, fo-
ram encontrados, no estômago e no intestino delgado de ratos
18 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

jovens, efeitos “semelhantes aos de fatores de crescimento”, que


não foram inteiramente devidos ao produto transgênico, e, por-
tanto, foram atribuídos ao processo da transgênese ou à constru-
ção transgênica e, como tal, “poderiam ser efeitos gerais e co-
muns a todos os alimentos transgênicos”.
Há pelo menos dois outros estudos, mais limitados, que tam-
bém levantaram sérias preocupações quanto à segurança dos
transgênicos.

6. Produtos genéticos perigosos são incorporados aos


cultivos
As proteínas Bt, incorporadas a 25% dos cultivos
transgênicos do mundo, foram consideradas nocivas para uma
grande quantidade de insetos benéficos, e algumas dessas pro-
teínas são, também, imunógenos e alérgenos potentes. Uma
equipe de cientistas advertiu sobre a liberação de cultivos Bt
para uso humano.
Os cultivos alimentares são cada vez mais utilizados para
produzirem fármacos e medicamentos, incluindo as citocinas,
conhecidas por reprimir o sistema imunológico, causar doen-
ças e toxidez ao sistema nervoso central; o alfa interferon, co-
nhecido como causador de demência, neurotoxicidade e efei-
tos colaterais cognitivos e de comportamento; e as vacinas e
seqüências virais como o gene da proteína spike do coronavírus
do porco, pertencente à mesma família do vírus SARS associa-
do com a atual epidemia mundial. O gene gp120, da
glicoproteína do vírus HIV-1 da AIDS, incorporado ao milho
transgênico como uma “vacina oral, comestível e barata”, é outra
bomba-relógio biológica, já que pode interferir no sistema
imunológico e se recombinar com vírus e bactérias para gerar
patógenos novos e imprevisíveis.
Grupo de Ciência Independente 19

7. Os cultivos terminator propagam a esterilidade


masculina
Os cultivos manipulados com genes “suicidas”, para obter a
esterilidade masculina nas plantas, têm sido promovidos como
uma forma de “conter”, ou seja, de impedir a propagação de
transgenes. Na realidade, os cultivos híbridos vendidos aos agri-
cultores propagam, através do pólen, tanto os genes suicidas da
esterilidade masculina quanto os genes da tolerância a herbicida.

8. Herbicidas de amplo espectro são altamente tóxicos


para seres humanos e outras espécies
O glufosinato de amônio e o glifosato são utilizados em cul-
tivos transgênicos tolerantes a herbicidas, que, atualmente, re-
presentam 75% de todos os cultivos transgênicos espalhados no
mundo. Ambos os produtos são venenos metabólicos sistêmicos
com uma ampla gama de efeitos nocivos previstos, que têm sido
confirmados.
O glufosinato de amônio está associado às toxicidades neu-
rológica, respiratória, gastrointestinal e hematológica, bem como
a defeitos congênitos em seres humanos e mamíferos. É tóxico
para borboletas e numerosos insetos benéficos, larvas de mexi-
lhões e de ostras, crustáceo Daphnia, conhecido como pulga
d’água, e certos peixes de água doce, em especial para a truta
arco-íris, além de inibir o desenvolvimento de bactérias e fungos
benéficos do solo, especialmente os organismos que fixam nitro-
gênio.
O glifosato é a causa mais freqüente de reclamações e casos
de envenenamentos na Inglaterra. Foram registrados numero-
sos transtornos fisiológicos após exposições a níveis normais de
uso. A exposição ao glifosato praticamente duplicou o risco de
abortos espontâneos, e os filhos nascidos de pessoas que utili-
20 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

zam o glifosato com freqüência apresentaram um elevado índice


de transtornos de neurocomportamento. O glifosato provocou
atraso no desenvolvimento do esqueleto fetal em ratos de labo-
ratório.
O glifosato inibe a síntese de esteróides e é um agente
genotóxico em mamíferos, peixes e sapos. A exposição de mi-
nhocas às doses habitualmente aplicadas no campo provocou
mortalidade de, pelo menos, 50% e lesões intestinais importan-
tes entre as sobreviventes. O Roundup provocou alterações no
processo de divisão celular, as quais podem estar associadas com
alguns tipos de câncer em seres humanos.
Os efeitos conhecidos tanto do glufosinato quanto do glifosato
são suficientemente graves para que seja suspensa a utilização
desses herbicidas.

9. A engenharia genética cria supervírus


De longe, os perigos mais graves da engenharia genética são
inerentes ao próprio processo, o qual aumenta enormemente o
alcance e a probabilidade de transferência horizontal de genes e a
recombinação, que é a via principal para a criação de vírus e
bactérias que provocam enfermidades epidêmicas. Isso ficou cons-
tatado em 2001, com a criação “acidental” de um vírus letal para
o rato, no curso de uma experiência de engenharia genética apa-
rentemente inocente.
As mais novas técnicas, como as que envolvem transferências
de seqüências de DNA de um local para outro (“DNA shuffling”),
estão permitindo, aos geneticistas, criar no laboratório, em ques-
tão de minutos, milhões de vírus recombinantes que nunca exis-
tiram ao longo de milhares de milhões de anos de evolução.
Os vírus e bactérias causadores de doenças e seus materiais
genéticos são materiais e ferramentas predominantes para a en-
Grupo de Ciência Independente 21

genharia genética, tanto quanto o são para a fabricação intencio-


nal de armas biológicas.

10. O DNA transgênico em alimentos absorvidos por


bactérias no intestino humano
Já existem evidências experimentais de que o DNA
transgênico de plantas tenha sido absorvido por bactérias no solo
e no intestino de voluntários humanos. Os genes marcadores de
resistência a antibiótico podem se espalhar dos alimentos
transgênicos para bactérias patogênicas, tornando as infecções
muito difíceis de tratar.

11. O DNA transgênico e o câncer


É sabido que o DNA transgênico sobrevive à digestão no
intestino e que é capaz de saltar para o genoma de células de
mamíferos, aumentando a possibilidade para o desencadeamento
de câncer. Não se pode excluir a possibilidade que alimentar ani-
mais com produtos transgênicos, como o milho, acarrete riscos,
não apenas para os animais, mas também para os seres humanos
que consomem os produtos animais.

12. O promotor CaMV 35S aumenta a transferência


horizontal de genes
Evidências indicam que as construções transgênicas que con-
têm o promotor CaMV 35S podem ser particularmente instá-
veis e propensas à transferência horizontal e à recombinação de
genes, com todos os riscos decorrentes: mutações genéticas devi-
das à inserção aleatória, câncer, reativação de vírus latentes e ge-
ração de novos vírus. Esse promotor está contido, atualmente,
na maior parte dos cultivos transgênicos plantados com fins co-
merciais.
22 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

13. Uma história de distorção e supressão de evidências


científicas
Há uma longa história de distorção dos fatos e omissão de
evidências científicas, especialmente no que se refere à transfe-
rência horizontal de genes. Experimentos fundamentais não fo-
ram realizados, ou foram realizados de forma incorreta e tiveram
seus resultados distorcidos. Muitos experimentos não tiveram
acompanhamento posterior, como é o caso do promotor CaMV
35S, sobre o qual não se investigou se ele era responsável pelos
efeitos semelhantes ao de fatores de crescimento observados em
ratos jovens alimentados com batatas transgênicas.

Concluindo, os cultivos transgênicos não trouxeram os be-


nefícios prometidos e colocam problemas cada vez maiores para
os agricultores. A contaminação transgênica é hoje amplamente
reconhecida como inevitável e, portanto, não pode haver coexis-
tência de cultivos transgênicos e não transgênicos. O mais im-
portante é que não se provou que os cultivos transgênicos sejam
seguros; ao contrário, surgiram evidências suficientes para susci-
tar graves preocupações sobre sua segurança, que, se forem igno-
radas, poderão significar danos irreversíveis à saúde e ao meio
ambiente. Os cultivos transgênicos devem ser energicamente re-
jeitados hoje.

POR QUE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL?


1. Maior produtividade e rendimento, especialmente no
Terceiro Mundo
Cerca de 8,98 milhões de agricultores em 28,92 milhões de
hectares da Ásia, América Latina e África adotaram práticas agrí-
colas sustentáveis. Dados confiáveis de 89 projetos mostram maior
produtividade e rendimentos: aumento de 50 a 100% nas co-
Grupo de Ciência Independente 23

lheitas de cultivos pluviais e de 5% a 10% nos cultivos irriga-


dos. Entre as experiências melhor sucedidas estão: Burkina Faso,
que passou de um deficit na produção de cereais de 644 kg por
ano para um superavit anual de 153 kg; Etiópia, em que 12.500
domicílios se beneficiaram de um aumento de 60% nas colhei-
tas; e Honduras e Guatemala, onde 45 mil famílias aumenta-
ram o rendimento de suas colheitas de 400-600 kg /ha a 2.000-
2.500 kg /ha.
Estudos de longo prazo em países industrializados mostram
rendimentos de colheitas de lavouras orgânicas equivalentes aos
de lavouras da agricultura convencional e, algumas vezes, supe-
riores.

2. Melhores solos
As práticas agrícolas sustentáveis tendem a reduzir a erosão
do solo, como também a melhorar a estrutura física do solo e sua
capacidade de retenção de água, dois elementos cruciais para evitar
a perda de colheitas nos períodos de seca.
Várias práticas agrícolas sustentáveis mantêm ou aumentam
a fertilidade do solo. Os estudos revelam que os níveis de matéria
orgânica e de nitrogênio existentes no solo são mais elevados nas
lavouras orgânicas do que nas convencionais.
Constatou-se que a atividade biológica é maior nos solos
manejados organicamente. Neles há mais minhocas, artrópodes,
micorrizas e outros fungos e microorganismos, todos eles be-
néficos para a reciclagem dos nutrientes e para a supressão de
doenças.

3. Meio ambiente mais limpo


A agricultura sustentável utiliza pouco ou nenhum insumo
químico poluente. Além disso, as pesquisas revelam que, nos solos
24 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

orgânicos, ocorre menos lixiviação de nitrato e fósforo para as


águas subterrâneas.
Os sistemas orgânicos têm melhores taxas de infiltração de
água, sendo, portanto, menos propensos à erosão e capazes de
contribuir menos para a contaminação da água de escoamento
superficial.

4. Menos agrotóxicos sem aumento de pragas


A agricultura orgânica proíbe a aplicação rotineira de
agrotóxicos. O manejo integrado de pragas reduziu o número de
pulverizações de agrotóxicos, no Vietnã, de 3,4 para 1 por safra;
no Sri Lanka, de 2,9 para 0,5 por safra; e na Indonésia, de 2,9
para 1,1 por safra.
Um estudo sobre a produção de tomate na Califórnia mos-
trou que não houve aumento de perdas por pragas, apesar da
retirada dos agrotóxicos.
É possível controlar as pragas sem utilizar agrotóxico,
revertendo as perdas de cultivos, pela utilização, por exemplo, de
“cultivos-armadilha” para atrair as pragas. Outros benefícios da
exclusão de agrotóxicos surgem da utilização das complexas inter-
relações entre as espécies de um ecossistema.

5. Apoiando a biodiversidade e utilizando a diversidade


A agricultura sustentável promove a biodiversidade agrícola,
que é vital para a segurança alimentar e para a vida no meio
rural. A agricultura orgânica também pode promover uma di-
versidade biológica muito maior, favorecendo espécies que te-
nham diminuído de maneira significativa.
Os sistemas biodiversos são mais produtivos do que os de
monocultivo. Em Cuba, os sistemas agrícolas integrados são de
1,45 a 2,82 vezes mais produtivos que os monocultivos. Milhares
Grupo de Ciência Independente 25

de rizicultores chineses duplicaram o rendimento de suas colheitas


e praticamente eliminaram a enfermidade mais devastadora, sim-
plesmente combinando a plantações de duas variedades.
A diversidade biológica do solo aumenta com as práticas or-
gânicas, proporcionando efeitos benéficos, tais como a recupera-
ção e reabilitação de solos degradados, melhorias na estrutura do
solo e na infiltração da água.

6. Ambiental e economicamente sustentável


Uma pesquisa sobre a sustentabilidade ambiental e econômi-
ca em sistemas de produção de maçã classificou, em primeiro
lugar, o sistema orgânico; em segundo lugar, o sistema integra-
do; e, em último, o sistema convencional. As maçãs orgânicas
foram mais rentáveis devido ao melhor preço ligado à qualidade
de produto orgânico, ao retorno mais rápido do investimento e à
recuperação rápida dos custos.
Um estudo realizado em toda a Europa demonstrou que a
agricultura orgânica apresenta melhores resultados do que a agri-
cultura convencional, na maioria dos indicadores ambientais.
Uma análise realizada pela Organização das Nações Unidas para
a Alimentação e a Agricultura (FAO) concluiu que a agricultura
orgânica bem administrada conduz a mais condições favoráveis
em todos os aspectos ambientais.

7. Diminuindo os impactos na mudança climática por


redução direta e indireta do uso de energia
A agricultura orgânica utiliza a energia de maneira muito mais
eficiente e reduz grande parte das emissões de dióxido de carbo-
no (CO2) em comparação com a agricultura convencional, tan-
to no consumo direto de energia em combustível e petróleo,
quanto no consumo indireto de fertilizantes e agrotóxicos.
26 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A agricultura sustentável restaura o conteúdo de matéria orgâ-


nica do solo, aumentando a retenção de carbono no plano subter-
râneo e recuperando, assim, um importante dreno de carbono. Os
sistemas orgânicos demonstraram ser capazes de absorver e reter
carbono, aumentando a possibilidade de práticas agrícolas susten-
táveis auxiliarem na redução do impacto do aquecimento global.
A agricultura orgânica tem a probabilidade de emitir menos
óxido nitroso (N2O), outro importante gás de efeito estufa e, tam-
bém, uma das causas da diminuição do ozônio na estratosfera.

8. Produção eficiente e rentável


Qualquer diminuição do rendimento na agricultura orgâni-
ca é mais do que compensada pelos ganhos ecológicos e em efi-
ciência. As pesquisas têm demonstrado que a proposta orgânica
pode ser comercialmente viável, em longo prazo, produzindo
maior quantidade de alimentos por unidade de energia ou de
recursos.
Os dados mostram que os pequenos agricultores produzem
muito mais por unidade de superfície do que as grandes planta-
ções características da agricultura convencional. Embora o ren-
dimento por unidade de superfície de um cultivo possa ser me-
nor em uma pequena propriedade do que em um grande
monocultivo, a produção total por unidade de superfície – em
geral, composta por mais de uma dezena de cultivos e por diver-
sos produtos animais – pode ser muito maior.
Os custos de produção da agricultura orgânica são
freqüentemente menores do que os da agricultura convencional,
resultando em lucros líquidos equivalentes ou maiores, mesmo
sem considerar o melhor preço dos produtos orgânicos. Se fo-
rem computados os “preços-prêmio”, os sistemas orgânicos são
quase sempre mais rentáveis.
Grupo de Ciência Independente 27

9. Melhor segurança alimentar e benefícios para as


comunidades locais
Uma análise de projetos de agricultura sustentável em países
em desenvolvimento demonstrou que a produção média de ali-
mentos por núcleo familiar aumentou 1,71 toneladas por ano
(um aumento de 73%) para 4,42 milhões de agricultores em
3,58 milhões de hectares, garantindo segurança alimentar e be-
nefícios para a saúde.
Foi demonstrado que aumentar a produtividade agrícola tam-
bém amplia a disponibilidade de alimentos e aumenta a renda,
diminuindo assim a pobreza, ampliando o acesso aos alimentos,
reduzindo a desnutrição e melhorando a saúde e as condições de
vida e de sustento.
As estratégias de agricultura sustentável baseiam-se ampla-
mente no conhecimento local e tradicional e dão ênfase à expe-
riência e à capacidade de inovação dos agricultores. Assim, ca-
racterizam-se por utilizar recursos locais apropriados, de baixo
custo e facilmente acessíveis, bem como por melhorar a posição
social e a autonomia dos agricultores, fortalecendo as relações
sociais e culturais dentro das comunidades locais.
Os meios locais de venda e distribuição podem gerar mais
dinheiro para a economia local. Por £1 que se gasta em um siste-
ma de cesta básica de produtos orgânicos de Cusgarne Organics
(Inglaterra) são geradas £2,59 para a economia local; porém, por
£1 que se gasta em um supermercado são geradas apenas £1,40
para a economia local.

10. Alimentos de melhor qualidade para a saúde


Os alimentos orgânicos são mais seguros porque a agricultu-
ra orgânica proíbe a aplicação rotineira de agrotóxicos e resíduos
químicos perigosos são raramente encontrados.
28 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A produção orgânica também proíbe a utilização de aditivos


artificiais, como gorduras hidrogenadas, ácido fosfórico,
aspartame e glutamato monossódico, que têm sido associados
com diversos problemas de saúde, tais como patologias cardía-
cas, osteoporose, enxaquecas e hiperatividade.
Alguns estudos demonstraram que, em média, os alimentos
orgânicos têm maior conteúdo de vitamina C, maiores níveis de
minerais e maior conteúdo de substâncias fenólicas – compostos
vegetais que podem combater câncer e doença cardíaca, assim
como combater alterações neurológicas relacionadas com a idade
– e concentrações significativamente menores de nitrato, um
composto tóxico.

As práticas agrícolas sustentáveis provaram-se benéficas em


todos os aspectos relevantes à saúde e ao meio ambiente. Além
disso, trazem segurança alimentar e bem-estar social e cultural a
comunidades locais de todas as partes do mundo. Há uma ne-
cessidade urgente de uma ampla mudança, em nível mundial,
direcionada para todas as formas de agricultura sustentável.
Grupo de Ciência Independente 29

PARTE 1

NÃO HÁ FUTURO PARA OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS


1. POR QUE NÃO AOS TRANSGÊNICOS?

OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS NÃO SÃO NECESSÁRIOS


NEM DESEJADOS
Quase não existem mais dúvidas de que os cultivos
transgênicos não são necessários para alimentar o mundo e de
que a fome é provocada pela pobreza e pela desigualdade, e não
por uma produção insuficiente de alimentos. Segundo estimati-
vas da FAO, há produção suficiente para alimentar todo o plane-
ta “utilizando somente cultivos convencionais”, e essa situação se
manterá nos próximos 25 anos e provavelmente mais além no
futuro [2].
Além disso, segundo argumentaram Altieri e Rosset, mes-
mo que a fome seja devida à defasagem entre a produção de
alimentos e o crescimento da população, os cultivos transgênicos
atuais não são concebidos para aumentar as colheitas ou para o
benefício dos agricultores pequenos e pobres [3]. Como a ver-
dadeira causa estrutural da fome é a desigualdade, qualquer
método para aumentar a produção de alimentos que aprofunde
a desigualdade está destinado a fracassar no combate à fome
32 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

[4]. Em um relatório recente, a Action Aid conclui que: “A


adoção generalizada de cultivos transgênicos parece mais pro-
pensa a exacerbar as causas subjacentes da insegurança alimen-
tar, levando a aumentar, em vez de diminuir, o número de pes-
soas com fome” [5].
Mais importante ainda, os cultivos transgênicos não são de-
sejados por boas razões. Os cultivos transgênicos não têm pro-
duzido os benefícios prometidos, estão causando a intensifica-
ção de problemas no campo e, apesar da destacada falta de pes-
quisas sobre segurança, acumulam-se evidências sobre os graves
perigos que eles representam. Ao mesmo tempo, têm surgido
amplas evidências sobre o sucesso da agricultura sustentável, o
que deixa claro qual deve ser a opção racional para cada nação.
O mercado mundial de cultivos transgênicos tem diminuído
simultaneamente ao aumento drástico da superfície cultivada
desde 1994, quando se plantou nos Estados Unidos o primeiro
cultivo transgênico do tomate Flavr Savr, um fracasso comercial,
rapidamente retirado do mercado. Entre 1996 e 2002, a superfí-
cie mundial de cultivos transgênicos aumentou de 1,7 milhões
para 58,7 milhões de hectares, mas em 2002 apenas quatro paí-
ses eram responsáveis por 99% da superfície mundial de cultivos
transgênicos: os Estados Unidos plantaram 39 milhões de hecta-
res (66% do total mundial); a Argentina, 13,5 milhões de hecta-
res; o Canadá, 3,5 milhões de hectares, e a China, 2,1 milhões de
hectares [6].
A resistência mundial aos transgênicos alcançou seu ponto
mais alto no ano passado, quando a Zâmbia, apesar da ameaça
de fome, recusou o milho transgênico que seria enviado como
ajuda alimentar. Desde então, a Zâmbia tem reafirmado sua de-
cisão, mesmo depois que uma delegação importante foi convi-
dada a visitar vários países, entre os quais Estados Unidos e In-
Grupo de Ciência Independente 33

glaterra, para dirimir dúvidas. Enquanto esse relatório estava sen-


do redigido, iniciava-se uma greve de fome nas Filipinas, em pro-
testo pela aprovação comercial do milho Bt da Monsanto.
Processos de inclusão social e de democracia participativa,
como os tribunais populares, foram organizados na Índia, no
Zimbábue e no Brasil, para permitir que os pequenos agricultores
e as comunidades rurais marginalizadas pudessem avaliar os ris-
cos e a conveniência dos cultivos transgênicos em relação aos
seus próprios critérios e noções de bem-estar.
Os resultados mostram que, nos casos em que esses eventos
foram promovidos de maneira idônea, confiável e não tendencio-
sa, os pequenos agricultores e as populações locais recusaram os
cultivos transgênicos sob o argumento de que não necessitam
deles, que a tecnologia de manipulação genética não está valida-
da e não atende às suas necessidades [7,8].
O setor agrícola liderou a drástica queda da indústria de
biotecnologia, antes do auge alcançado em 2000, em função do
projeto do genoma humano. O Instituto da Ciência na Socieda-
de (ISIS, por Institute of Science in Society) resumiu as evidên-
cias em um documento apresentado à Unidade de Estratégia sobre
Transgênicos do primeiro-ministro da Inglaterra, em resposta à
consulta pública sobre o potencial econômico dos cultivos
transgênicos [9]. Desde então, a situação piorou para a indústria
como um todo [10].
Um informe publicado em abril de 2003, pela consultoria
Innovest Strategic Value Advisors [11], situou a empresa
Monsanto na mais baixa posição possível, dando a entender que
a biotecnologia agrícola é uma indústria de alto risco, na qual os
investimentos não são recomendáveis, a menos que o foco seja
modificado fora da engenharia genética, sinônimo de
transgênicos. O informe declara:
34 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

“O dinheiro transferido das empresas de engenharia genética


aos políticos, bem como a freqüência com que os funcionários
dessas empresas passam a trabalhar nas agências reguladoras dos
Estados Unidos (e vice-versa), cria um grande potencial de com-
prometimento e reduz a capacidade dos investidores em confiar
nas afirmações do governo americano sobre a segurança dos
transgênicos. Isso também esclarece porque o governo dos Esta-
dos Unidos não adotou uma postura de precaução em relação à
engenharia genética e continua impedindo a rotulagem, mesmo
com a pressão majoritária da opinião pública para que isso ocor-
ra. Com desastres como o da Enron, a comunidade financeira
aparentemente comprou a versão das empresas, sem olhar muito
sob a superfície...”. O informe conclui dizendo: “A Monsanto
pode ser outro desastre iminente para os investidores”.

OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS NÃO TROUXERAM OS


BENEFÍCIOS PROMETIDOS
Os cultivos transgênicos não trouxeram os benefícios pro-
metidos. Esse é o resultado de várias pesquisas independentes e
estudos de campo nos Estados Unidos desde 1999 [12, 13], or-
ganizadas pelo agrônomo Charles Benbrook e corroborada por
outros estudos [14].
Milhares de ensaios controlados de soja transgênica registra-
ram uma redução importante da produção, de 5% a 10%, che-
gando em algumas localidades a uma redução entre 12% e 20%
comparada à soja não transgênica. Existem relatos de quedas se-
melhantes no rendimento, ocorridas na Grã-Bretanha, com a
canola de inverno e a beterraba açucareira transgênicas, em cam-
pos experimentais.
Os cultivos transgênicos não resultaram em reduções signifi-
cativas do uso de agrotóxicos. A soja Roundup Ready (RR) re-
Grupo de Ciência Independente 35

quereu de 2 a 5 vezes mais herbicidas que outros sistemas de


controle de ervas daninhas. De maneira similar, os dados do
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos indicam que,
em 2000, o milho RR foi tratado com 30% mais herbicida do
que o milho não transgênico.
A análise dos dados oficiais do Departamento de Agricultura
dos Estados Unidos sobre a utilização de agrotóxicos em um
período de quatro anos mostra um panorama bem claro [13].
Enquanto o algodão Bt reduziu o uso de agrotóxicos em vários
Estados, o milho Bt teve muito pouco impacto, se tanto, na
redução do uso de agrotóxicos. Os dados oficiais demonstram
que a aplicação de agrotóxicos específicos para uma praga do
milho (European corn borer) aumentou, de 4% de área tratada
em 1995, para cerca de 5% em 2000.
O custo maior das sementes transgênicas, o aumento da uti-
lização de agrotóxicos, a queda da produtividade, os royalties so-
bre as sementes e a perda de mercados se somam e representam
perda de renda para os agricultores. A primeira análise econômi-
ca das lavouras de milho Bt nos Estados Unidos revelou que,
entre 1996 e 2001, a perda líquida para os agricultores foi de 92
milhões de dólares, aproximadamente 3,23 dólares por hectare.
O informe de setembro de 2002 da Associação de Solos da
Inglaterra (UK Soil Association) [15] estimou que os cultivos
transgênicos custaram aos Estados Unidos 12 bilhões de dólares
em subsídios agrícolas, perda de vendas e recolhimento de pro-
dutos devido à contaminação transgênica:
“As evidências que apresentamos sugerem que (...) pratica-
mente não se cumpriram nenhum dos benefícios anunciados
pelos cultivos transgênicos. Ao contrário, os agricultores relatam
menores rendimentos, contínua dependência de agrotóxicos,
perda de acesso a mercados e, o mais grave, rentabilidade reduzi-
36 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

da, tornando a produção de alimentos mais vulnerável aos inte-


resses das empresas de biotecnologia e mais dependente de sub-
sídios”.
Esses estudos não levaram em conta os fracassos nos cultivos
transgênicos em outras partes do mundo, como ocorreu na Ín-
dia em 2002 [16], onde perdas generalizadas de até 100% nos
cultivos de algodão transgênico foram relatadas em vários Esta-
dos indianos, em função de sementes que não germinaram, raízes
que apodreceram e de ataques da lagarta americana Helicoverpa
armigera, para a qual o algodão Bt deveria ser resistente.
Grupo de Ciência Independente 37

2. INTENSIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS NO CAMPO

A INSTABILIDADE TRANSGÊNICA
Os fracassos generalizados do algodão transgênico na Índia,
assim como de outros cultivos transgênicos em diversos lugares,
se devem muito provavelmente ao fato de que os cultivos
transgênicos são extremamente instáveis, questão destacada pri-
meiramente no estudo de Finnegan e McElroy [17] em 1994:
“Embora existam alguns exemplos de plantas que mostram
expressão estável de um transgene, isso poderia provar que são as
exceções à regra. Em uma pesquisa informal que abarcou mais
de 30 empresas envolvidas na comercialização de cultivos
transgênicos (...) quase todos os entrevistados indicaram que
haviam observado certo grau de inação do transgene. Muitos
indicaram que a maioria dos casos de inatividade do transgene
nunca chegou a ser registrado na literatura especializada”.
No entanto, existe uma importante bibliografia científica
sobre a instabilidade transgênica [18, 19]. Sempre que foram
aplicadas as ferramentas moleculares apropriadas para investigar
o problema, invariavelmente constatou-se a instabilidade, e isso
38 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

ocorreu mesmo nos casos em que se afirmava a “estabilidade”


transgênica. Uma publicação [20] em cujo resumo está descrito
que “a expressão transgênica foi estável nas linhagens de todos os
genótipos do arroz”, os dados apresentados mostram que, “no
máximo 7 de 40 (18%) linhagens poderiam ser estáveis à gera-
ção de R3” [21]. Esse artigo, como muitos outros, cometeu o
erro comum de afirmar existir herança mendeliana ou estabili-
dade genética em casos em que não houve diferença significativa
dos dados em relação a proporções mendelianas preestabelecidas.
Isso consiste num erro tão elementar de estatística e genética a
ponto de reprovar estudantes em exames.
Há duas grandes causas da instabilidade transgênica. A pri-
meira tem a ver com os mecanismos de defesa que protegem a
integridade do organismo, que “silenciam” ou desativam os genes
estranhos integrados ao genoma para que esses não se expressem
mais. O silenciamento dos genes foi inicialmente descoberto em
conexão com transgenes integrados, no início dos anos de 1990,
e hoje se sabe que fazem parte da defesa do organismo contra as
infecções virais.
A segunda grande causa de instabilidade tem a ver com a
instabilidade “estrutural” das próprias construções transgênicas,
sua tendência a fragmentar-se, romper-se no curso nas uniões
artificiais fracas e a recombinar-se incorretamente, em geral com
outro DNA que esteja próximo. Isso talvez seja o mais grave na
perspectiva da segurança, já que aumenta a transferência hori-
zontal de genes e a recombinação (ver mais adiante).
Recentemente descobriu-se outra fonte de instabilidade [18].
Parece existirem certos locais preferenciais para a integração
transgênica no DNA genômico, tanto de vegetais quanto de
humanos. Esses locais receptivos preferenciais podem ser tam-
bém “sítios de recombinação preferenciais”, com tendência à
Grupo de Ciência Independente 39

quebra e à ligação, o que, também, aumentaria a probabilidade


de que os transgenes inseridos tornassem a se soltar, a recombinar
ou a invadir outros genomas.
As pesquisas também demonstram que a instabilidade
transgênica pode surgir em gerações posteriores e que não neces-
sariamente se expressa nas primeiras gerações. Isso pode resultar
em rendimentos baixos e inconsistentes dos cultivos transgênicos
no campo, um problema que tende a não ser devidamente regis-
trado por agricultores que aceitem o pagamento de uma com-
pensação em troca da cláusula da “mordaça”.

STOP PRESS
Um relatório recentemente publicado [204] revela que o pro-
blema associado à integração incontrolável e imprevisível dos
transgenes é mais grave do que parece, e que os organismos
transgênicos de maneira alguma podem ser equiparados aos ob-
tidos por melhoramento convencional ou por mutagênese.
Os autores destacam que a maioria das linhagens transgênicas,
produzidas por bombardeio de microprojéteis (técnica de
biobalística), possui “loci complexos de transgênico, compostos
de múltiplas cópias do DNA inserido, inteiro, truncado e
reordenado, freqüentemente organizado como repetições diretas
ou invertidas, entremeadas com fragmentos variáveis de DNA
genômico”. Destacam, ainda, que o DNA inserido se integra aos
genomas vegetais, principalmente através de “recombinação ile-
gítima associada ao reparo da ruptura da dupla cadeia [dupla-
hélice (DSB em inglês)], um processo também envolvido na
integração do DNA-T em genomas de levedura e de vegetais”.
“Alguns dos traços característicos da recombinação ilegítima
nos loci do transgene, produzidos pela introdução direta de DNA,
incluem a mistura das seqüências do transgene através da
40 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

recombinação de fragmentos não contíguos do DNA inserido,


tanto grandes quanto pequenos, a incorporação freqüente de
seqüências de DNA genômico no locus do transgene e o rearranjo
no DNA genômico adjacente ao locus do transgene”.
Freqüentemente, os sítios-alvo de inserção não podem ser
totalmente identificados em função das translocações e deleções
no DNA genômico adjacente. Isso significa que não é sequer
possível identificar, no genoma, o lugar no qual o transgene se
integrou, mesmo quando se conhece a seqüência inteira do
genoma receptor.
Os pesquisadores determinaram a seqüência completa de al-
guns loci do transgene na aveia transgênica que pareciam ser “sim-
ples” e, portanto, poderiam estar mais próximos de terem a or-
dem dos genes e as seqüências adjacentes normais.
Lamentavelmente, os três loci “simples” possuem regiões de
pequenos fragmentos com seqüências misturadas do DNA inse-
rido e do genômico. Todos os loci também exibiram, ou DNA de
preenchimento misturado (de origem desconhecida) adjacente
ao DNA do transgene, ou evidências de deleção do DNA do
sítio-alvo da inserção.
Uma das linhagens transgênicas estudadas foi caracterizada
previamente e demonstrou ter um único locus principal com uma
extensão estimada de aproximadamente 15 kb. No entanto, a
progênie T1 analisada pela técnica de southern blot executada com
tempos de exposição mais longos e com maiores concentrações
de DNA genômico, apresentou dois novos loci menores do
transgene.
As análises southern blot demonstraram que o DNA genômico,
adjacente a ambos os lados de um dos loci, era altamente
repetitivo. O alinhamento do DNA do locus do transgene, obti-
do pela técnica da reação em cadeia da polimerase (PCR), com o
Grupo de Ciência Independente 41

DNA do tipo silvestre, mostrou que haviam desaparecido 845


pares de bases de DNA genômico durante a integração do
transgene ao genoma silvestre, e que pedaços de DNA genômico
de origem desconhecida integraram-se ao locus, como DNA de
preenchimento, em ambos os lados do DNA do transgene.
Os sítios-alvo dos outros dois loci não puderam ser identifi-
cados porque o DNA genômico continha seqüências muito mis-
turadas. Os autores também mencionaram que “hoje aceita-se
que as estimativas do número de loci do transgene baseadas em
proporções de segregação fenotípica são imprecisas devido a per-
turbações da expressão do transgene, através do silenciamento
do transgene ou pelos rearranjos dos loci nos transgênicos”. De-
pendendo da sonda utilizada, os loci pequenos, não funcionais,
simplesmente não são detectados.
Os sítios de integração são mais que aleatórios. Há provas de
que o DNA transgênico costuma se introduzir em regiões ricas
em genes e em regiões propensas a quebras da dupla cadeia. O
primeiro aumenta o potencial de ativação/inativação dos genes;
e o último aumenta a instabilidade estrutural dos transgenes e
das linhagens transgênicas.

PLANTAS ESPONTÂNEAS E ERVAS DANINHAS


A presença de plantas espontâneas de canola com tolerância
tripla a herbicidas foi detectada, pela primeira vez, em 1998, em
Alberta, no Canadá, apenas dois anos após o plantio de cultivos
transgênicos com tolerância única a herbicidas [22]; um ano
depois, essas plantas espontâneas com tolerância tripla foram
encontradas em outros 11 campos [23]. Os Estados Unidos so-
mente começaram o cultivo de canola transgênica tolerante a
herbicidas em 2001. Uma pesquisa realizada na Universidade de
Idaho constatou que ocorreram situações similares de inserções
42 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

múltiplas de genes em campos experimentais em um período de


dois anos e que, durante esse período, foram encontradas ervas
daninhas com dois traços de tolerância a herbicidas; desde en-
tão, outros problemas foram identificados com as ervas dani-
nhas (resumidas na ref. 24).
Em 2002, no Oeste do Tennessee, nos Estados Unidos,
mais de 200 mil hectares de algodão, o que representa 36% de
toda a superfície plantada com esse cultivo no Estado, foram
infestados com a planta invasora Conyza canadensis resistente
a glifosato; outros 800 mil hectares de soja também foram
afetados. O problema com as plantas espontâneas e ervas da-
ninhas tolerantes a herbicidas é tal que as empresas têm reco-
mendado a aplicação adicional de herbicidas. Os agrônomos
estadunidenses revelam que entre 75% e 90% dos produtores
de milho transgênico estão utilizando um produto denomi-
nado Liberty ATZ – uma mistura do herbicida da Aventis,
glufosinato de amônio, com a atrazina, um herbicida tradicio-
nalmente utilizado nos cultivos de milho e que tem sido um
agrotóxico problemático há décadas [25]. A atrazina está na
“lista vermelha” da Europa e na “lista prioritária” por provo-
car alterações hormonais nos animais; o glufosinato, por sua
vez, também está longe de ser benigno (ver mais adiante).
Os cultivos Bt também estão tendo problemas com a alta
probabilidade de gerar resistência nas pragas combatidas (ver
abaixo). Uma nova proposta de patente da Monsanto baseia-se
no uso de dois agrotóxicos com seus cultivos Bt, argumentando
que os cultivos Bt poderiam produzir novas linhagens resistentes
de pragas de insetos e “numerosos problemas permanecem... nas
atuais condições de campo”.
Pesquisas recentes revelam que o cruzamento de transgenes
do girassol Bt com parentes silvestres tornou esses últimos mais
Grupo de Ciência Independente 43

resistentes e prolíficos, com a possibilidade de se tornarem


superinvasoras ou superervas daninhas [26].

RESISTÊNCIA AO Bt
Os cultivos Bt são manipulados geneticamente para produ-
zirem proteínas agrotóxicas derivadas de genes da bactéria Bacillus
thuringiensis (Bt). A probabilidade de as pragas combatidas dos
cultivos Bt desenvolverem rapidamente resistência às toxinas Bt
é tão grande que, nos Estados Unidos, são adotadas estratégias
para gerenciar a resistência, as quais envolvem a plantação de
“refúgios” de cultivos não Bt e o desenvolvimento de cultivos Bt
com altos níveis de expressão, ou múltiplas toxinas no mesmo
cultivo.
Infelizmente, as pragas têm adquirido resistência a múltiplas
toxinas ou resistência cruzada a diferentes toxinas [27]. Pesqui-
sas recentes revelam que variantes resistentes são capazes de ob-
ter valor nutricional adicional a partir da toxina, o que possivel-
mente as transforma em pragas mais sérias do que antes.

CONTAMINAÇÃO TRANSGÊNICA EXTENSIVA


Os fitogeneticistas Ignacio Chapela e David Quist, da Uni-
versidade da Califórnia-Berkeley, publicaram, em novembro de
2001, um relatório na revista Nature [28] apresentando evidên-
cias de que espécies crioulas de milho, cultivado em regiões re-
motas do México, haviam sido contaminadas com transgênicos,
embora estivesse em vigor no país uma moratória oficial ao cul-
tivo de milho transgênico.
Isso desencadeou um ataque articulado entre cientistas pró-
biotecnologia, o qual, alega-se, teria sido orquestrado pela
Monsanto [29]. Em fevereiro de 2002, a revista Nature retirou
seu apoio ao relatório, ato sem precedentes na história da publi-
44 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

cação científica, para um documento que não era incorreto e


nem havia sido contestado em sua conclusão principal. Investi-
gações subseqüentes, realizadas por cientistas mexicanos, confir-
maram os resultados, demonstrando que a contaminação era
muito mais extensa do que o que se havia inicialmente suspeita-
do [30]. Estavam contaminados 95% dos locais de onde foram
recolhidas as amostras, com graus de contaminação variando de
1% a 35%, com média de 10% a 15%. As empresas envolvidas
negaram-se a fornecer informação molecular ou sondas para a
pesquisa, o que permitiria identificar as partes responsáveis pelos
danos causados. A revista Nature negou-se a publicar esses resul-
tados confirmatórios.
Um fator importante que condenaria a Monsanto, citado no
informe da Innovest (abaixo), são as perdas significativas para o
investidor, resultantes da contaminação transgênica não intencio-
nal. “A contaminação é inevitável, diz o informe, e poderia cau-
sar a falência da Monsanto e de outras empresas de biotecnologia,
deixando que o restante da sociedade resolvesse o problema.”
De acordo com Ignacio Chapela, que ainda se encontra en-
volvido numa controversa polêmica relacionada à sua efetivação
no cargo da Universidade, a contaminação no México ainda está
crescendo.
A extensão da contaminação das sementes não transgênicas é
alarmante. Um porta-voz da Dow Agroscience teria declarado
que “todo o sistema de sementes está contaminado”, no Canadá
[31]. O Dr. Lyle Friesen, da Universidade de Manitoba, pesquisou
33 amostras representando 27 variedades de sementes de canola,
constatando que 32 estavam contaminadas [32].
Os testes no fluxo do pólen revelaram que o pólen do trigo
permanece no ar por no mínimo uma hora, o que significa que
pode espalhar-se por grandes distâncias, dependendo da veloci-
Grupo de Ciência Independente 45

dade do vento. O pólen da canola é ainda mais leve e pode per-


manecer no ar por de 3 a 6 horas. Ventos de 50 km por hora não
são raros, o que “torna uma piada que a distância de separação
entre cultivos seja de dezenas ou centenas de metros”, comentou
Percy Schmeiser, famoso agricultor canadense, condenado pela
corte canadense a indenizar a Monsanto por “danos”, apesar de
haver argumentado que o cultivo transgênico do seu vizinho havia
contaminado seus campos. Schmeiser perdeu a apelação no Tri-
bunal Federal, mas obteve recentemente o direito a ser ouvido
no Supremo Tribunal do Canadá.
Os agricultores orgânicos de Saskatchewan também inicia-
ram uma ação judicial contra a Monsanto e a Aventis por conta-
minação de seus cultivos e pela perda de seu status de produtores
orgânicos.
A Comissão Européia, em maio de 2000, encomendou ao
Instituto de Estudos de Prospecção Tecnológica (IPTS em inglês),
do Centro Comum de Pesquisas (JRC) da União Européia, o
estudo sobre a coexistência de cultivos transgênicos e não
transgênicos. O estudo foi realizado e entregue à Comissão
Européia em janeiro de 2002, com a recomendação de que não
se tornasse público. O conteúdo do estudo vazou e chegou ao
Greenpeace [33], confirmando o que já se sabe: “a coexistência
da agricultura transgênica e não transgênica ou orgânica é
impossível em muitos casos”. Mesmo nos casos em que a
coexistência é tecnicamente possível, seriam necessárias medidas
com altos custos para evitar a contaminação, o que aumentaria
os custos da produção para todos os agricultores, especialmente
os pequenos.
A contaminação transgênica não se limita à polinização cru-
zada. Novas pesquisas demonstram que o pólen transgênico, es-
palhado pelo vento e depositado em diferentes lugares ou direta-
46 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

mente no solo, é uma fonte importante de contaminação


transgênica [34]. Esse tipo de DNA transgênico foi encontrado
até em campos onde nunca haviam sido plantados cultivos
transgênicos e demonstrou-se que amostras de solo contamina-
das com pólen transferem DNA transgênico às bactérias do solo
(ver mais adiante).
Por que a contaminação é um assunto tão importante? A res-
posta imediata é a de que os consumidores não a estão aceitan-
do, porém a razão mais importante refere-se a preocupações ex-
tremas quanto à segurança.
Grupo de Ciência Independente 47

PARTE 2

OS CULTIVOS TRANSGÊNICOS NÃO SÃO SEGUROS


3. CIÊNCIA E PRECAUÇÃO

PRECAUÇÃO, BOM SENSO E CIÊNCIA


Somos informados de que não há evidências científicas de
que a manipulação transgênica seja prejudicial. Deveríamos per-
guntar se ela é segura. Onde algo pode provocar um dano grave
e irreversível, é correto e apropriado que os cientistas exijam
evidências que demonstrem que a manipulação genética é se-
gura, “mais além da dúvida razoável”. A isso se costuma cha-
mar de “princípio da cautela” ou “princípio da precaução”, o
que, para os cientistas e para a opinião pública, é somente bom
senso [35-37].
As evidências científicas não diferem das evidências comuns,
e deveriam ser entendidas e julgadas da mesma forma. Deve-se
pesar e combinar evidências de diferentes fontes e de diferentes
tipos, para orientar as decisões e ações políticas. Isso é boa ciên-
cia, assim como bom senso.
A engenharia genética envolve recombinação, isto é, união
de DNA de diferentes fontes em novas combinações e a inserção
dessas novas combinações nos genomas de organismos que pas-
50 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

sam a ser “organismos geneticamente modificados”, OGMs, ou


“transgênicos” [38].
Os transgênicos não são naturais, não apenas porque têm
sido produzidos no laboratório, mas porque muitos deles “só”
podem ser feitos no laboratório, muito diferente do que a natu-
reza tem produzido no curso de bilhões de anos de evolução.
Assim, é possível introduzir novos genes e produtos genéti-
cos – muitos deles de bactérias, vírus e outras espécies, ou mes-
mo genes produzidos inteiramente no laboratório – em cultivos,
inclusive em cultivos alimentares. Nós nunca havíamos antes
ingerido esses novos genes e produtos de genes, nem eles jamais
fizeram parte de nossa cadeia alimentar.
As construções artificiais são introduzidas nas células por
métodos invasivos que resultam na integração aleatória ao
genoma, ocasionando efeitos imprevisíveis, aleatórios, inclusive
de anormalidades importantes, tanto em animais quanto em plan-
tas, bem como ocasionando o aparecimento de toxinas e alérgenos
inesperados nos cultivos alimentares. Em outras palavras, não há
possibilidade de realizar um controle de qualidade. Esse proble-
ma se agrava com a grande instabilidade das linhagens
transgênicas, o que torna praticamente impossível realizar a ava-
liação de risco.

UMA AVALIAÇÃO DO RISCO ANTIPRECAUÇÃO


Se os regulamentadores da avaliação de risco a tivessem leva-
do a sério, muitos dos problemas teriam sido identificados. Po-
rém, como destacaram Ho e Steinbrecher [39], o procedimento
de avaliação da segurança alimentar continha falhas fatais desde
o princípio, tal como foi formulado no Relatório FAO/OMS
(Organização Mundial da Saúde) sobre Biotecnologia e Segu-
rança Alimentar, resultante de uma consultoria a especialistas,
Grupo de Ciência Independente 51

ocorrida em Roma entre 30 de setembro e 4 de outubro de 1996,


e que tem servido como referência desde então.
Esse relatório foi criticado por:
· Fazer afirmações questionáveis sobre os benefícios da
tecnologia.
· Não assumir responsabilidades pela segurança alimentar
ou abordar aspectos importantes sobre a mesma, tais como
a utilização de cultivos alimentares para a produção de
fármacos e produtos químicos industriais, bem como ques-
tões de rotulagem e controle.
· Restringir o alcance das considerações sobre segurança para
excluir perigos já conhecidos, tais como a toxidade dos
herbicidas de amplo espectro.
· Afirmar erroneamente que a engenharia genética não dife-
re do melhoramento convencional.
· Utilizar um “princípio da equivalência substancial” arbi-
trário e não científico para a avaliação do risco.
· Não considerar os impactos em longo prazo na saúde e na
segurança alimentar.
· Ignorar os resultados científicos existentes sobre os perigos
identificáveis, em especial os que resultam da transferência
horizontal e da recombinação de DNA transgênico.
Tudo isso configura uma “avaliação da segurança” oposta à
precaução, destinada à rápida aprovação de produtos às custas de
considerações sobre segurança.

O PRINCÍPIO DA “EQUIVALÊNCIA SUBSTANCIAL” É


VERGONHOSO EM TERMOS DE AVALIAÇÃO DE RISCO.
As maiores falhas encontram-se no princípio da “equivalên-
cia substancial”, que se supõe servir como espinha dorsal da ava-
liação de risco. O relatório afirma que:
52 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

“A equivalência substancial incorpora a idéia de que, se novos


alimentos ou componentes alimentícios são reconhecidos como
substancialmente equivalentes a um alimento ou componente ali-
mentício já existente, esse novo alimento pode ser tratado da mes-
ma forma, com respeito à segurança, isto é, pode-se concluir que o
alimento ou o componente alimentício é tão seguro quanto o ali-
mento ou o componente alimentício convencional”.
O princípio é vago e está mal definido; os termos abaixo es-
clarecem que o propósito é que este seja o mais flexível, maleável
e aberto à interpretações possível:
“O estabelecimento de uma equivalência substancial não é
uma avaliação da segurança propriamente dita, mas sim um exer-
cício analítico, dinâmico, na avaliação da segurança de um ali-
mento novo com relação a um alimento existente. A compara-
ção pode ser uma tarefa simples ou muito longa, dependendo do
acervo de conhecimento disponível e da natureza do alimento
ou do componente alimentício em consideração. Os traços de
referência para as comparações de equivalência substancial de-
vem ser flexíveis e mudarão com o tempo de acordo com as ne-
cessidades de mudança dos fabricantes e dos consumidores e com
a experiência”.
Em outras palavras, não haveria testes exigidos ou específicos
para estabelecer a equivalência substancial (ES). As empresas es-
tariam livres para comparar o que for mais rápido para obter a
ES e realizar os testes menos reveladores de alguma diferença
substancial.
Na prática, o princípio da ES tem permitido às empresas:
· Fazer testes menos precisos, tais como composições brutas
de proteínas, carboidratos e lipídios, aminoácidos e deter-
minados metabolitos.
· Evitar a caracterização molecular detalhada do transgênico
Grupo de Ciência Independente 53

inserido para estabelecer a estabilidade genética, os perfis


de expressão genética, os perfis metabólicos etc., que reve-
lariam a presença de efeitos não desejados.
· Argumentar que a linhagem transgênica é substancialmente
equivalente à linhagem não transgênica, exceto pelo pro-
duto do transgene, e realizar a avaliação de risco exclusiva-
mente sobre o produto do transgene, ignorando, de novo,
toda e qualquer alteração não intencional.
· Evitar a comparação da linhagem transgênica com seu as-
cendente não transgênico cultivado sob as mesmas condi-
ções ambientais.
· Comparar a linhagem transgênica com qualquer varieda-
de dentro da espécie ou mesmo com uma entidade abstra-
ta criada através da composição de características
selecionadas do total de variedades dentro da espécie, de
modo que a linhagem transgênica poderia ter os piores tra-
ços de todas as variedades e continuaria sendo considerada
equivalente substancial.
· Comparar diferentes componentes de uma linhagem
transgênica com espécies diferentes, como no caso da canola
transgênica manipulada geneticamente para produzir áci-
do láurico. Porém, “outros componentes de ácidos graxos
são reconhecidos geralmente como seguros quando são
avaliados individualmente, porque estão presentes em ní-
veis similares em outros azeites de consumo corrente”.
Sem surpresa, o relatório continua dizendo que:
“Até o momento, e provavelmente também no futuro, houve
poucos exemplos, se acaso houve algum, de alimentos ou compo-
nentes de alimentos produzidos mediante modificação genética que
pudessem ser considerados como não sendo substancialmente equi-
valentes aos alimentos ou componentes de alimentos existentes”.
54 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A instabilidade transgênica torna ainda mais ridícula a regula-


mentação baseada neste princípio de equivalência substancial. Um
documento apresentado há um ano em uma oficina da OMS [40]
afirmava: “A principal dificuldade associada à avaliação da
biossegurança dos cultivos transgênicos é a natureza imprevisível
da transformação. A imprevisibilidade motiva preocupação de que
as plantas transgênicas se comportarão de maneira inconsistente
quando forem cultivadas comercialmente”. Neste entendimento,
batatas transgênicas que em áreas experimentais “mostraram
marcadas deformações na morfologia do broto com um baixo ren-
dimento, apresentando um pequeno número de tubérculos mal
formados”, “não apresentaram praticamente nenhuma alteração
na qualidade do tubérculo” segundo os testes aplicados, sendo,
assim, aprovadas como “substancialmente equivalentes”.
Portanto, em contrário ao que se argumenta, os alimentos
transgênicos nunca passaram por qualquer dos testes que pode-
riam ter estabelecido que eram seguros para o consumo. A Admi-
nistração de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos
(FDA, em inglês) decidiu, ainda em 1992, que a engenharia ge-
nética era simplesmente uma extensão do melhoramento con-
vencional e, portanto, não era necessário realizar avaliações em
matéria de segurança. Embora o primeiro cultivo transgênico, o
tomate Flavr Savr, tenha sido submetido a uma avaliação de ris-
co (no qual não foi aprovado, ver adiante), todos os cultivos sub-
seqüentes submeteram-se a procedimentos voluntários de con-
sulta.
Belinda Martineau, a cientista que conduziu os estudos de
segurança do tomate Flavr Savr, na empresa Calgene, publicou
um livro [41] no qual ela declara que “o tomate da Calgene não
deveria servir como um padrão de segurança para essa nova
indústria, assim como nenhum outro produto individual
Grupo de Ciência Independente 55

manipulado geneticamente não deveria servir”. Martineau


censura severamente a falta de dados sobre os impactos dos
cultivos transgênicos na saúde e no meio ambiente. “Declarar
simplesmente que ‘esses alimentos são seguros e não há evidências
científicas do contrário’, não é o mesmo que dizer que foram
realizados numerosos testes e aqui estão os resultados”.
A Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos
lançou um relatório, em fevereiro de 2002, no qual criticava o
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, em
inglês) por não proteger adequadamente o meio ambiente dos
riscos das plantas transgênicas [42], apontando que os processos
de avaliação do USDA carecem de justificação científica e não
são aplicados de maneira uniforme; a avaliação dos riscos
ambientais, particularmente das plantas manipuladas genetica-
mente para serem resistentes a insetos, foi considerada “geralmente
superficial” e que o processo “dificulta a avaliação externa e a
transparência” ao manter as avaliações ambientais em caráter
confidencial, como segredos comerciais. O relatório pede que o
USDA torne seu processo de avaliação “substancialmente mais
rigoroso e transparente”, que possibilite que cientistas especialistas
externos avaliem seus resultados e que solicite maiores contri-
buições da opinião pública.
Existem, na verdade, poucos estudos independentes dedica-
dos à segurança dos cultivos transgênicos com respeito à saúde e
ao meio ambiente. Contudo, existe suficiente acúmulo de evi-
dências indicando que os cultivos transgênicos não são seguros.
Já estamos muito avançados no período inicial de cuidado
no qual o bom senso ou a aplicação do princípio de precaução
ainda pode evitar e minimizar os desastres que provavelmente
virão em longo prazo [43].
4. TESTES DE SEGURANÇA DOS
ALIMENTOS TRANSGÊNICOS

ESCASSEZ DE DADOS PUBLICADOS


É notória a escassez dos dados publicados com relação à se-
gurança dos alimentos transgênicos. E a qualidade científica do
que é publicado, na maioria dos casos, não chega aos níveis ge-
ralmente esperados do que se entende por boa ciência.
Em resposta à recente pesquisa do Parlamento escocês acerca
dos impactos dos cultivos transgênicos na saúde [44], Stanley
Ewen, histopatologista do Hospital Universitário de Grampian
e chefe do Programa Piloto de Pesquisa do Câncer de Cólon em
Grampian, resume a situação da seguinte forma:
“É lamentável que poucos experimentos em animais utili-
zando alimentos transgênicos para consumo humano estejam
disponíveis, tanto para o público quanto na bibliografia científi-
ca. Segue-se que os alimentos transgênicos não demonstraram a
ausência de risco e os resultados científicos experimentais de que
se dispõem são motivo de preocupação”.
Dois informes anteriores a 1999 revelaram efeitos nocivos
em animais alimentados com transgênicos. O primeiro foi um
58 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

informe apresentado à FDA estadunidense sobre ratos alimenta-


dos com tomates transgênicos Flavr Savr. Vários ratos apresenta-
ram princípios de úlcera no revestimento do estômago, similares
às identificadas no estômago de humanos adultos causadas pela
aspirina ou medicação similar. Nos seres humanos, esse princípio
de úlcera pode causar hemorragias com risco de vida.
O segundo documento, publicado em uma revista, submeti-
da à análise por um corpo editorial, era sobre a alimentação de
ratos machos de um mês de idade com batatas transgênicas cruas.
Os resultados revelaram um processo de proliferação celular no
intestino delgado inferior [45].

O ESTUDO DE PUSZTAI E SEUS COLABORADORES


Nenhum estudo importante sobre os impactos dos
transgênicos na saúde havia sido realizado até que o Escritório
Escocês do Departamento de Agricultura, Meio Ambiente e Pesca
(SOAEFD, em inglês) financiou um projeto dirigido por Arpad
Pusztai no Instituto Rowett, para realizar uma ampla pesquisa
sobre os possíveis riscos para o meio ambiente e para a saúde,
causados pelas batatas transgênicas que haviam sido transforma-
das, por cientistas britânicos, utilizando-se um gene retirado de
bulbos da planta Galanthus nivalis [46].
Os estudos revelaram que as duas linhagens transgênicas de
batatas modificadas geneticamente – originadas do mesmo ex-
perimento e ambas resistentes ao ataque de pulgões – “não” eram
substancialmente equivalentes em sua composição a batatas da
mesma linhagem ascendente (parental) nem entre si. O conceito
rudimentar mal definido e anticientífico de “equivalência subs-
tancial”, no qual se baseiam os que definem regras para análise
de risco, tem sido criticado pela forma em que foi concebido
(ver mais adiante).
Grupo de Ciência Independente 59

Mais importante foi que os resultados demonstraram que


dietas contendo batatas transgênicas haviam interferido, em al-
guns casos, no crescimento de ratos jovens e no desenvolvimen-
to de alguns dos seus órgãos vitais, induzindo mudanças na es-
trutura e função dos intestinos e reduzindo a resposta imunológica
a antígenos nocivos. Ao contrário, animais alimentados com uma
dieta que continha as batatas parentais não transgênicas ou bata-
tas complementadas com o produto genético, não tiveram os
mesmos efeitos. Desde então alguns resultados foram publica-
dos [47-51], sendo o último documento [51] um amplo estudo
sobre testes de segurança com os alimentos transgênicos, que
inclui experimentos não publicados com tomates transgênicos,
apresentados à FDA estadunidense, descritos anteriormente.
Os resultados encontrados por Pusztai e sua equipe foram
atacados por vários integrantes da comunidade científica, porém
nunca foram rebatidos mediante uma repetição da pesquisa e
publicação dos resultados em revistas com corpo editorial de re-
visores. As pesquisas demonstraram que é possível realizar estu-
dos toxicológicos e que a segurança dos alimentos transgênicos
deve ser estabelecida para curto e longo prazo de alimentação, de
estudos metabólicos e de resposta imunológica em animais jo-
vens, que são mais vulneráveis e mais propensos a responder e a
manifestar qualquer tensão nutricional e metabólica que afete o
seu desenvolvimento. Esse entendimento é compartilhado por
outros cientistas.
A análise estatística multivariada dos resultados, realizada
de maneira independente pelo Serviço Escocês de Estatísticas
Agrícolas, indicou que os principais efeitos potencialmente
nocivos das batatas transgênicas foram apenas parcialmente
causados pela presença do transgene da lectina da planta
Galanthus nivalis, e que o método de manipulação genética e/
60 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

ou as alterações do genoma da batata também contribuíram


nas mudanças verificadas.
O artigo de Ewen e Pusztai, publicado na revista The Lancet
[48] provocou enorme controvérsia e, ainda hoje, membros da
Sociedade Real continuam tentando desqualificar Pusztai.
Ewen e Pusztai mediram o revestimento do intestino del-
gado que produz células novas e descobriram que o compri-
mento do compartimento das células novas havia aumentado
significativamente nos ratos alimentados com transgênicos, o
que não ocorreu em ratos do grupo de controle alimentados
com batatas não transgênicas. O aumento da produção de
células devia ser o resultado do efeito de um fator de cresci-
mento induzido pela modificação genética dentro das batatas
(fatores de crescimento são proteínas que promovem o cresci-
mento e a multiplicação celular, que, se descontrolados, pro-
vocam câncer). Efeitos similares foram observados no revesti-
mento do estômago [51].
Análises estatísticas posteriores revelaram que o efeito do fa-
tor de crescimento não foi devido à expressão da proteína
transgênica de lectina da Galanthus nivalis, e, sim, à construção
genética inserida no DNA do genoma da batata. De outra for-
ma, as batatas não transgênicas misturadas com a lectina sim-
plesmente não tiveram o mesmo efeito.
A construção genética inclui o gene novo, mas, também, genes
marcadores e um poderoso promotor do vírus do mosaico da
couve-flor (CaMV), que está no centro de um grande debate
com relação à sua segurança (ver mais adiante).
Ewen [44] destacou que, embora o vírus inteiro e intacto
pareça inócuo, já que há milhares de anos comemos vegetais do
tipo da couve-flor, “a utilização em separado da parte infecciosa
do vírus não foi testada em animais”.
Grupo de Ciência Independente 61

Outros possíveis efeitos indesejados poderiam envolver a res-


posta do fígado humano ao vírus da hepatite, já que o vírus do
mosaico da couve-flor e o vírus da hepatite B pertencem à mes-
ma família de pararetrovírus, com genomas muito semelhantes e
um ciclo de vida característico.
Esses e outros perigos potenciais do promotor do vírus CaMV
serão tratados em detalhe adiante.
5. OS PERIGOS DO TRANSGENE

AS TOXINAS Bt
A questão mais óbvia quanto à segurança é a introdução do
transgene e seu produto nos cultivos transgênicos, já que são
novos para o ecossistema e para a cadeia alimentar de animais e
seres humanos.
As toxinas Bt do Bacillus thuringiensis, incorporadas aos cul-
tivos alimentares e não alimentares, representam cerca de 25%
do total de cultivos transgênicos plantados atualmente em todo
o mundo. Descobriu-se que essas toxinas são nocivas para a ca-
deia alimentar dos ratos, das borboletas e dos crisopídeos (inse-
tos benéficos da ordem dos neurópteros) [27], assim como para
os insetos da ordem dos coleópteros (besouros, gorgulhos), que
conta com cerca de 28.600 espécies. As plantas Bt secretam a
toxina no solo através das raízes, o que tem um impacto potenci-
almente grande na ecologia e na fertilidade dos solos.
As toxinas Bt podem ser alérgenos reais e potenciais para os
seres humanos. Alguns trabalhadores rurais expostos à aplicação
de Bt experimentaram irritação cutânea alérgica e produziram
64 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

anticorpos IgE e IgG. Um grupo de cientistas alertou contra a


liberação de cultivos Bt para a utilização humana. Demonstra-
ram que a protoxina recombinante Cry1Ac do Bt é um potente
imunógeno sistêmico e das mucosas, tão potente quanto a toxina
do cólera [52].
Uma cepa do Bt, que causou graves necroses (morte de teci-
dos) em humanos, provocou a morte de ratos em 8 horas por
síndrome de comoção tóxica [53]. Tanto a proteína Bt quanto a
batata Bt foram nocivas para os ratos submetidos a experimen-
tos de alimentação, causando lesões no íleo (parte do intestino
delgado) [45]. Os ratos apresentaram mitocôndrias anormais,
com sinais de degeneração e deterioração das microvilosidades
(projeções microscópicas que emergem da membrana de uma
célula) na superfície de revestimento do intestino.
Como o Bacillus thuringiensis – Bt – e o Bacillus anthracis
(antraz utilizado em armas biológicas) estão estreitamente relacio-
nados entre si e com o Bacillus cereus, eles podem intercambiar
rapidamente plasmídeos (moléculas de DNA circular que con-
têm origens de replicação que permitem a replicação indepen-
dente do cromossoma) transportando genes de toxinas [54]. Se
o B. anthracis captasse genes Bt dos cultivos Bt, através da trans-
ferência horizontal de genes (ver mais adiante), novas cepas de
B. anthracis com propriedades imprevisíveis poderiam surgir.

CULTIVOS “FARMACÊUTICOS”
Outros genes, bactérias e seqüências virais perigosas são in-
corporados aos cultivos alimentares e não alimentares em forma
de vacinas e produtos farmacêuticos nos cultivos transgênicos
“de nova geração” [55-62]. Esses cultivos incluem os que expres-
sam citoquinas, conhecidas por suprimir o sistema imunológico,
induzir enfermidades e a intoxicação do sistema nervoso central,
Grupo de Ciência Independente 65

assim como o interferon alfa, apontado como causador de de-


mência, neurotoxicidade e efeitos colaterais de transtornos de
comportamento e alterações cognitivas. Alguns desses cultivos
contêm seqüências virais tais como o gene da proteína spike do
coronavírus de porco, da mesma família que o vírus SARS vin-
culado com a atual epidemia mundial [63,64].
O gene da glicoproteína gp120 do vírus HIV-1 da AIDS,
incorporado ao milho transgênico como uma “vacina oral, co-
mestível e barata”, é outra bomba-relógio biológica. Há muitas
evidências de que esse gene pode interferir no sistema
imunológico, pois tem homologia com as regiões variáveis de
ligação dos antígenos das imunoglobulinas, e tem sítios de
recombinação do antígeno similares aos das imunoglobulinas.
Além disso, esses sítios de recombinação também são semelhan-
tes àqueles encontrados em vários vírus e bactérias, com os quais
o gene gp120 pode se recombinar para gerar patógenos letais
[65-68].

DNA BACTERIANO E VIRAL


Uma fonte de risco até agora subestimada nos cultivos
transgênicos, porém não na terapia genética, onde é tida como
algo a ser evitado, é o DNA das bactérias e seus vírus, os quais
têm alta freqüência de dinucleotídeos CpG [24]. Esses temas
CpG são imunogênicos e podem provocar inflamação e artrite
séptica, criar o linfoma da célula B e doença auto-imune [69-
73]. Ainda, muitos genes introduzidos em organismos
transgênicos provêm de bactérias e seus vírus, e esses, também,
podem apresentar riscos (ver mais adiante).
6. OS CULTIVOS TERMINATOR PROPAGAM A
ESTERILIDADE MASCULINA

GENES “SUICIDAS” PARA CRIAR A ESTERILIDADE


Por cultivos terminator designamos qualquer cultivo
transgênico manipulado com um gene “suicida” para provocar
esterilidade masculina, feminina ou da semente, para impedir
que os agricultores guardem e replantem as sementes, ou para
proteger características patenteadas.
A primeira vez que a opinião pública tomou conhecimento
da tecnologia terminator foi com as patentes conjuntas do USDA
e da empresa Delta and Pine Land Company. Após grandes pro-
testos em todo o mundo, a Monsanto, que havia adquirido os
direitos de patente do Delta and Pine Land, abandonou o desen-
volvimento dos cultivos terminator “descritos nessa patente em
particular”. No entanto, como Ho e Cummins vieram a saber,
há muitas formas de construir a esterilidade e cada uma delas é
objeto de uma patente específica.
Soube-se que cultivos terminator experimentais ocorreram na
Europa, Canadá e Estados Unidos, desde o começo da década de
1990, e muitos já haviam sido colocados à venda na América do
68 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Norte [74]. A canola transgênica, nas variedades de primavera e


de inverno, que constitui a maior parte das avaliações agrícolas
em escala de campo, na Inglaterra, é construída para ter esterili-
dade masculina.

A CANOLA TRANSGÊNICA É UM CULTIVO TERMINATOR


O sistema de esterilidade masculina dessa canola transgênica
é composto por três linhagens.
A “linhagem de esterilidade masculina” é mantida em um
estado hemizigoto, ou seja, com uma só cópia do gene “suicida”,
denominado barnase, unido a um gene de tolerância ao
glufosinato. O gene barnase é conduzido por um promotor (in-
terruptor genético) que é ativado unicamente na antera ou parte
masculina da flor. A expressão do gene barnase na antera dá lu-
gar à proteína barnasa, uma ribonuclease (RNAse – enzima que
quebra o RNA) que é um potente veneno para a célula. A célula
morre e detém o desenvolvimento da antera, de modo que não
se produz o pólen. Essa linha de androesterilidade ou esterilida-
de masculina se obtém no estado hemizigoto mediante cruza-
mento com uma variedade não transgênica e utilizando
glufosinato de amônio para matar a metade das plantas da gera-
ção seguinte que não tenham uma cópia do transgene H-barnase
ligado a ele.
A “linhagem restauradora masculina” é homozigota (com duas
cópias) para o gene “restaurador da esterilidade”, barstar, tam-
bém unido ao gene de tolerância ao glufosinato. O gene barstar
é colocado sob o controle do promotor especial que se ativa na
antera. Sua expressão resulta na proteína barstar, que é um inibidor
específico do barnase, que assim tem sua atividade neutralizada.
Cruzando a linha de esterilidade masculina com a linha res-
tauradora masculina obtém-se um híbrido F1, no qual o barnase
Grupo de Ciência Independente 69

é neutralizado pelo barstar, restaurando assim o desenvolvimento


da antera para produzir pólen.
Pode ser demonstrado que o híbrido F1 propaga em seu pólen
tanto o gene de tolerância a herbicida quanto o gene suicida para
a esterilidade masculina, com efeitos potencialmente devastadores
para a agricultura e a biodiversidade. A promoção que os governos
da Inglaterra e dos Estados Unidos fazem dessas plantas como sen-
do uma forma de “conter” ou “impedir” a propagação de transgenes
é uma farsa, pois o verdadeiro propósito desse tipo de engenharia
terminator é proteger as patentes das empresas.
7. OS PERIGOS DOS AGROTÓXICOS

QUEM GANHA COM OS HERBICIDAS


Mais de 75% dos cultivos transgênicos plantados atualmente
em todo o mundo são manipulados geneticamente para serem tole-
rantes à herbicidas de amplo espectro, fabricados pelas mesmas em-
presas que obtêm a maioria do seu lucro da venda de herbicidas.
Esses herbicidas de amplo espectro não apenas matam plantas
indiscriminadamente, mas também são perigosos para praticamente
todas as espécies de animais silvestres e para os seres humanos.

GLUFOSINATO DE AMÔNIO
O glufosinato de amônio, ou fosfinotricina, está associado a
casos de toxicidade neurológica, respiratória, gastro-intestinal e
hematológica, bem como a defeitos congênitos em seres huma-
nos e mamíferos [75]. É tóxico para as borboletas e vários insetos
benéficos, para as larvas de mexilhões e ostras, para a pulda d’água
Daphnia e para alguns peixes de água doce, especialmente a truta
arco-íris. No solo, também inibe fungos benéficos e bactérias
que fixam o nitrogênio.
72 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A perda de insetos e plantas teria efeitos devastadores para a


vida de pássaros e pequenos animais.
Além disso, foi constatado que alguns fitopatógenos são alta-
mente resistentes ao glufosinato, enquanto os organismos anta-
gonistas a esses patógenos foram afetados de modo grave e ad-
verso, o que poderia ter efeitos catastróficos na agricultura.
As plantas tolerantes ao glifosinato contêm o gene pat (acetil
fosfinotricina transferase), que desativa a fosfinotricina agregan-
do-lhe um grupo acetil, para fabricar acetil fosfinotricina. Esse
último se acumula na planta transgênica e é um metabolito com-
pletamente novo para o cultivo, bem como para a totalidade da
cadeia alimentar que chega até os seres humanos, cujos riscos
não têm sido considerados.
Dados fornecidos por AgrEvo (que em seguida se transfor-
mou em Aventis e agora em Bayer CropScience) mostram que os
microorganismos do intestino dos animais de sangue quente
podem eliminar o grupo acetil e regenerar o herbicida tóxico. A
fosfinotricina inibe a enzima glutamina sintetasa, que transfor-
ma o aminoácido essencial, ácido glutâmico, em glutamina. O
resultado final da ação do glufosinato é que o amoníaco e o
glutamato se acumulam às expensas da glutamina. É o acúmulo
de amoníaco que promove a ação letal nas plantas.
Nos mamíferos, as conseqüências da inibição da glutamina
sintetase estão mais associadas com o aumento dos níveis de
glutamato e à diminuição dos níveis de glutamina. O amoníaco
circulante é eliminado no fígado pelo ciclo da uréia. No entanto,
o cérebro é extremamente sensível aos efeitos tóxicos do amoní-
aco e a eliminação do excesso de amoníaco depende de sua in-
corporação em glutamina. O glutamato é um importante
neurotransmissor e é muito provável que uma alteração tão grande
de seu metabolismo tenha repercussões na saúde.
Grupo de Ciência Independente 73

Esses efeitos conhecidos já são suficientes para suspender,


imediatamente, os cultivos experimentais de transgênicos, até
que sejam completamente respondidas as questões cruciais sobre
o metabolismo, armazenamento e reconversão da N-acetil
fosfinotricina, para todos os produtos que contêm genes pat.

O GLIFOSATO
O glifosato é o outro herbicida muito utilizado em conjunto
com os cultivos transgênicos [76].
O glifosato mata as plantas inibindo a enzima 5-enolpiruvil-
shiquimato-3-fosfato sintetase (EPSPS), fundamental para a
biossíntese de aminoácidos aromáticos tais como a fenilalanina, a
tirosina e o triptofano, vitaminas e numerosos metabolitos secun-
dários, como folatos, ubiquinona e naftoquinona [77]. A via do
shiquimato ocorre nos cloroplastos dos vegetais verdes. A ação le-
tal do herbicida requer que a planta esteja em período de cresci-
mento e exposta à luz.
Os cultivos transgênicos modificados para serem tolerantes à
formulação de glifosato da Monsanto, denominada Roundup
Ready, são modificados com dois genes principais. Um gene fa-
vorece a diminuição de sensibilidade ao glifosato e o outro per-
mite que a planta degrade o glifosato. A expressão de ambos os
genes é dirigida aos cloroplastos, o local de ação do herbicida,
pela agregação de seqüências codificadoras de um “peptídeo de
transporte” derivado da planta.
O primeiro gene codifica uma versão derivada de bactéria da
enzima da planta envolvida na via bioquímica do shiquimato.
Diferentemente da enzima da planta, que é sensível ao glifosato
e provoca o fim do crescimento da planta ou sua morte, a enzima
bacteriana é insensível ao glifosato. O segundo gene, também
bacteriano, codifica para uma enzima que degrada o glifosato e
74 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

sua seqüência codificadora foi alterada para aumentar a atividade


de degradação do glifosato.
A via shiquimato-corismato não é encontrada em seres huma-
nos e mamíferos e, como tal, representa “um novo alvo” , embora
esteja presente em uma variedade de microorganismos. Contudo,
o glifosato atua impedindo a união do metabolito fosoenol piruvato
(PEP) ao sítio da enzima [78]. O PEP é um metabolito central, pre-
sente em todos os organismos, incluindo os seres humanos. O
glifosato, então, tem o potencial de alterar muitos sistemas
enzimáticos importantes que utilizam PEP, inclusive o metabolismo
energético e a síntese de lipídeos da membrana, necessários às células
nervosas.
O glifosato é a causa mais freqüente de reclamações e envenena-
mento na Inglaterra [79]. Casos de suicídio têm ocorrido com apenas
100 mililitros de uma solução com concentração de 10% a 20%. Há
informações de transtornos generalizados de vários sistemas do orga-
nismo depois das exposições a níveis de uso normais; esses transtor-
nos incluem alterações no equilíbrio, vertigens, diminuição da capa-
cidade cognitiva, convulsões, lesões na visão, olfato, audição e paladar,
dores de cabeça, pressão sangüínea baixa, crispação e tiques em todo
o corpo, paralisia muscular, neuropatia periférica, perda da coordena-
ção motora, sudorese excessiva e fadiga severa [80].
Um estudo epidemiológico de populações rurais de Ontário
demonstrou que a exposição ao glifosato praticamente duplicou
o risco de aborto espontâneo tardio [81]. Constatou-se que os
filhos de pessoas usuárias de glifosato apresentavam um grau ele-
vado de alterações de neurocomportamento [82]. O glifosato
provocou o desenvolvimento retardado do esqueleto fetal em ratos
de laboratório [83].
Outros experimentos e estudos com animais indicam que o
glifosato inibe a síntese de esteróides [84] e é genotóxico em
Grupo de Ciência Independente 75

mamíferos [85, 86], peixes [87, 88] e sapos [89, 90]. A exposi-
ção de minhocas a doses de campo provocou mortalidade de
50%, no mínimo, e lesões intestinais importantes nas sobrevi-
ventes [91]. Um artigo recente informou que o Roundup provo-
cou alterações na divisão celular que podem estar associadas a
certos tipos de câncer em humanos [92].
Como foi analisado na referência 76, a bactéria simbiôntica
fixadora de nitrogênio na soja transgênica e não transgênica é sen-
sível ao glifosato, e a aplicação precoce de glifosato conduz a uma
diminuição da biomassa do cultivo e do nitrogênio. A aplicação
de glifosato em temperaturas elevadas, aproximadamente 35ºC, à
soja Roundup Ready provocou dano ao meristema, que está rela-
cionado ao aumento de transporte do herbicida ao meristema.
A aplicação de glifosato no controle convencional de ervas
daninhas provoca a destruição e extinção local de espécies vege-
tais ameaçadas de extinção. Nos ecossistemas florestais, reduz,
significativamente, briófitas e líquens.
O tratamento de plântulas de feijão com glifosato resultou
em aumento de patógenos do solo que causam tombamento, em
curto prazo.
A aplicação de glifosato para controlar espécies invasoras em
zonas ribeirinhas sujeitas a enchentes ocasionou efeitos secundários
imprevistos. Após a aplicação, o herbicida de sedimento se redu-
ziu a 88%, enquanto que em pastagem perene aumentou 59%,
ficando depositado nos rizomas. O glifosato persiste no solo e na
água subterrânea, sendo encontrado em poços de água localizados
nas proximidades de áreas que sofreram aplicação do herbicida.
Existem muitos estudos científicos já publicados mostrando
que o aumento “massivo” do uso de glifosato em conjunto com
os cultivos transgênicos representa uma ameaça importante para
a saúde humana e animal, bem como para o meio ambiente.
8. A TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL DE GENES

A TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL DE GENES E AS EPIDEMIAS


A transferência horizontal de genes, isto é, a transferência dire-
ta de material genético aos genomas dos organismos, sejam da
mesma espécie ou de espécies não relacionadas, é, de longe, a ques-
tão de segurança mais grave, exclusiva da engenharia genética [93].
Desde 11 de setembro de 2001, o mundo foi tomado por
uma histeria acerca de ataques terroristas e “armas de destruição
em massa”. Os governos querem proibir a publicação de resulta-
dos de pesquisa científica estratégica e um grupo de editores e
autores de publicações sobre as ciências da vida estão de acordo.
Alguns cientistas até sugerem a criação de um organismo inter-
nacional de vigilância das pesquisas e publicações [65].
Poucos, porém, reconheceram que a engenharia genética pro-
priamente dita seja intrinsecamente perigosa, como foi inicial-
mente assinalado pelos pioneiros da engenharia genética, na
Declaração de Asilomar, em meados dos anos de 1970, e como,
recentemente, alguns de nós vêm lembrando ao público e às au-
toridades [94, 95].
78 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

O que chamou a atenção da grande imprensa foi o relato, em


janeiro de 2001, da forma como alguns pesquisadores australia-
nos, no curso da manipulação de um vírus inócuo, criaram “aci-
dentalmente” um vírus letal de rato que matou todas as suas
vítimas. O título do artigo publicado na New Scientist anunciava
que no processo havia ocorrido um desastre e que um vírus de
rato manipulado geneticamente nos deixava a um passo da mais
nova arma biológica. O editorial foi menos moderado: “A bruxa
está solta; a biotecnologia teve uma surpresa desagradável. A pró-
xima vez poderá ser catastrófica”.
Esse fato, mais a atual epidemia SARS, nos lembra que a
transferência horizontal de genes e a recombinação criam novos
vírus e bactérias que causam doenças e, se a engenharia genética
faz algo, o faz aumentando, em muito, o alcance e a tendência à
transferência e à recombinação horizontal de genes.

A ENGENHARIA GENÉTICA AUMENTA O ALCANCE E A


PROPENSÃO À TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL DE GENES.
Em primeiro lugar, a engenharia genética leva à recombinação
profusa de material genético procedente de fontes muito diver-
sas que, do contrário, teriam tido muito pouca oportunidade de
se misturar e recombinar na natureza. Algumas das técnicas mais
novas, que envolvem o embaralhamento de seqüências de DNA
(DNA shuffling) [96, 97], poderão criar, em questão de minutos,
milhões de novos recombinantes em laboratório, que nunca ha-
viam existido antes nos bilhões de anos de evolução. Não há
limite para as fontes de DNA que podem ser misturadas dessa
forma.
Em segundo lugar, os vírus e as bactérias causadores de doen-
ças e seu material genético são materiais e ferramentas predomi-
nantes na engenharia genética, assim como na fabricação inten-
Grupo de Ciência Independente 79

cional de armas biológicas. Essas incluem os genes de resistência


a antibióticos, que tornam mais difícil o tratamento das infec-
ções.
E, por último, as construções artificiais criadas pela enge-
nharia genética são concebidas para atravessar as barreiras entre
as espécies e saltar para dentro dos genomas, isto é, para aumen-
tar e acelerar ainda mais, não só a transferência horizontal de
genes, mas também a recombinação. Hoje, ambos os mecanis-
mos são reconhecidos como o principal caminho para criar no-
vos agentes de enfermidades, possivelmente muito mais impor-
tantes que as mutações pontuais que modificam bases isoladas
no DNA.
Isso, somado à instabilidade inerente ao DNA transgênico,
acima mencionada, que o torna mais provável a romper e a
recombinar, nos faz entender porque não precisamos de
bioterroristas se temos engenheiros genéticos.
9. O PROMOTOR CaMV 35S

“SÍTIOS PREFERENCIAIS PARA RECOMBINAÇÃO”


Algumas construções transgênicas são menos estáveis do que
outras, como é o caso das que contêm o promotor do vírus do
mosaico da couve-flor (CaMV) 35S.
O CaMV infecta as plantas da família das Crucíferas (cou-
ve, repolho). Um dos seus promotores, o 35S, tem sido ampla-
mente utilizado em cultivos transgênicos, desde o começo da
engenharia genética de vegetais, antes que algumas de suas ca-
racterísticas preocupantes tivessem sido descobertas. A mais
grave é a existência de um “sítio preferencial para recombinação”,
onde ele tende a recombinar com outro DNA, embora as evi-
dências definitivas sobre isso não tenham surgido senão muito
mais tarde.
Desde o início da década de 1990, surgiram grandes dúvidas
sobre a segurança dos genes de vírus incorporados aos cultivos
transgênicos para torná-los resistentes a ataques virais. Muitos
desses genes virais tendiam a recombinar com outros vírus, ge-
rando novos vírus e, por vezes, vírus superinfecciosos.
82 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Em 1999, surgiram evidências definitivas sobre a existência


de sítios preferenciais para recombinação no promotor CaMV
35S, publicadas independentemente por dois grupos de pesqui-
sa. Isso foi muito importante face às descobertas de Ewen e
Pusztai, já citadas, indicando que as lesões nos ratos jovens ali-
mentados com batata transgênica poderiam ser devidas ao pro-
cesso de transformação propriamente dito ou à construção
transgênica.
Ho et alii pesquisaram as implicações sobre a segurança do
promotor CaMV 35S, destacando que seu sítio preferencial para
recombinação está ladeado por múltiplas seqüências envolvidas
em recombinação e que são similares a outros sítios preferenciais
para recombinação, inclusive aos das bordas do vetor construído
com DNA-T de Agrobacterium, mais freqüentemente utilizado
na fabricação de plantas transgênicas. O suspeito mecanismo da
recombinação, em que há ruptura do DNA de dupla hélice se-
guido de sua reparação, requer pouca ou nenhuma homologia
de seqüências de DNA e tem sido amplamente demonstrado
pela ocorrência de recombinação entre transgenes virais e vírus
infecciosos. Além disso, o promotor CaMV 35S funciona eficien-
temente em todas as plantas, bem como em algas verdes, levedura
e E. coli. Tem uma estrutura modular com partes comuns e
intercambiáveis com as de promotores de muitos outros vírus de
plantas e animais.
Essas conclusões indicaram que as construções transgênicas
com o promotor CaMV 35S poderiam ser especialmente instá-
veis e propensas à transferência horizontal e à recombinação de
genes, com todos os riscos decorrentes: mutações genéticas devi-
do à inserção aleatória, câncer, reativação de vírus latentes e ge-
ração de novos vírus, alguns dos quais poderiam explicar as ob-
servações descritas por Ewen e Pusztai [44, 46, 48, 51].
Grupo de Ciência Independente 83

Quando os resultados da pesquisa de Ho et alii [98] foram


aceitos para publicação, a revista Microbial Ecology in Health and
Disease publicou um comunicado na imprensa em sua página da
Internet, qualificando-o de “tema quente”. Um dia depois, alguém,
com o nome de Klaus Amman, organizou pelo menos nove críti-
cas que circularam na Internet e que oscilavam do ofensivo e con-
descendente ao relativamente moderado. Soube-se depois que Klaus
Amman é uma figura fundamental no que concerne ao estabeleci-
mento (ou, a nosso ver, à solapa) de normas de biossegurança no
cenário internacional, ocupando vários cargos em organizações fi-
nanciadas pela indústria de biotecnologia.
Ho et alii, responderam a todas as críticas em um documen-
to que circulou na Internet e foi posteriormente publicado na
mesma revista científica. Até hoje os críticos não replicaram.
Lamentavelmente, os comentários mais ofensivos foram in-
corporados em um artigo de “análise” de um editor de Nature
Biotechnology dentro da seção “Business and regulatory news”
(Notícias comerciais e de regulamentação) [99]. Essa “análise”,
elaborada a partir de rumores e opiniões, continha declarações
tão difamatórias e caluniosas que a revista teve de dar a Ho et alii
o direito de resposta. A resposta foi finalmente publicada, vários
meses depois [100], junto com as “desculpas” do editor por não
haver citado a réplica dos autores, mas que foi, na realidade, um
outro ataque. Dessa vez, a Nature Biotechnology negou, a eles, o
direito de resposta.
Todas as críticas científicas de importância apareceram final-
mente em um trabalho publicado na revista onde havia apareci-
do o documento original, com a co-autoria de Roger Hull e Phil
Dale, membro do Comitê Consultor sobre Alimentos e Proces-
sos Novos (ACNFP, em inglês) – da Inglaterra [101]. Suas prin-
cipais críticas se resumiam ao seguinte:
84 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Em primeiro lugar, as pessoas vêm comendo o vírus em re-


polhos e couves-flores infectados há muitos anos sem terem so-
frido nenhum dano; portanto, por que deveriam se preocupar
com o promotor CaMV 35S? Em segundo lugar, as plantas já
contêm seqüências de pararetrovírus, não diferentes do CaMV;
portanto, por que deveria aí representar algum risco?
As críticas foram inteiramente refutadas em um artigo mais
extenso que o original, publicado pouco depois na mesma revis-
ta [102], que não recebeu nenhuma resposta. De fato, os críticos
nunca mencionaram essa réplica.
Apontou-se, dentre outras coisas, que as pessoas “não” têm
ingerido o promotor CaMV 35S fora do seu contexto genético e
evolutivo geral, nem incorporado ao DNA transgênico.
O fato de que as plantas estejam “carregadas” de seqüências
pararetrovirais similares ao CaMV e a outros elementos potencial-
mente móveis apenas torna a situação pior. Os pararetrovírus
são vírus que utilizam a transcriptase reversa, mas não depen-
dem da integração ao genoma hospedeiro para replicação. Os
pararetrovírus pertencem a uma família que contém o vírus da
hepatite B. O promotor CaMV 35S poderia ativar vírus latentes
como o da hepatite B, que também é conhecido por se haver
integrado a alguns genomas humanos e pareceu estar associado
com a enfermidade.
Todos, ou quase todos, os elementos integrados ao genoma
teriam sido “domesticados” no curso da evolução e, por isso, já
não seriam móveis. Porém, a integração das construções
transgênicas contendo o promotor 35S poderia mobilizar os ele-
mentos. Esses poderiam, por sua vez, prover funções de “auxílio”
para desestabilizar o DNA transgênico e, também, servir como
substratos na recombinação para gerar mais elementos invasivos
exóticos.
Grupo de Ciência Independente 85

Desde então, têm surgido evidências de que a integração de


genes estranhos ao genoma, associada à modificação genética,
pode realmente ativar transposons e seqüências provirais, provo-
cando a desestabilização do genoma [103]. Assim, Ho et alii não
estavam tão longe do correto.
No transcurso do debate com os críticos, Ho e seus colabora-
dores descobriram evidências ainda mais irrefutáveis [104]. Mes-
mo que o vírus CaMV infecte apenas as plantas da família das
Crucíferas, seu promotor 35S é promiscuamente ativo em outras
espécies do mundo vivo, não apenas em bactérias, algas, fungos
e plantas, mas também em células animais e humanas, como foi
revelado num artigo científico de 1990. Os fitogeneticistas que
incorporaram o promotor CaMV 35S a praticamente todos os
cultivos transgênicos comerciais de hoje, aparentemente, não
sabiam disso e continuam, ainda, sem admiti-lo publicamente.
O Comitê Consultivo de Licenças Ambientais da Inglaterra
(ACRE, em inglês) não têm desculpa para omitir essa informação
em seu último relatório [105], no qual reitera que “não há provas de
dano”, como Ho chamou a atenção para ela, em várias apresentações
escritas e nos relatos de evidências em diversas audiências públicas.
No entanto, por trás dos bastidores, silenciosamente, o promotor
CaMV 35S foi retirado e já não aparece na maioria dos cultivos
transgênicos que estão sendo desenvolvidos.
A controvérsia em torno da contaminação transgênica das
variedades mexicanas não é tanto sobre a ocorrência da contami-
nação em si, mas sobre a possibilidade de que as construções
transgênicas poderiam, devido à sua instabilidade, segundo um
crítico [106], “fragmentar-se e espalhar-se promiscuamente por
todos os genomas”. Todas as construções de milho transgênico,
que podem ter sido responsáveis pela contaminação, continham
o promotor CaMV 35S, razão pela qual pode-se utilizá-lo para
86 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

testar a contaminação transgênica. Sabe-se que a fragmentação e


o espalhamento de DNA instável por todo o genoma ativa os
provírus adormecidos e transposons (ver acima), causando
reordenamento de DNA, eliminações, translocações e outras al-
terações que poderiam desestabilizar os genomas das variedades
crioulas, levando-as à extinção.
Grupo de Ciência Independente 87

10. MAIOR PROBABILIDADE DE PROPAGAÇÃO


DE DNA TRANSGÊNICO

DNA TRANSGÊNICO VERSUS DNA NATURAL


O DNA transgênico é diferente do DNA natural em muitos
aspectos, os quais contribuem para sua maior propensão à trans-
ferência horizontal aos genomas de organismos não relaciona-
dos, onde também podem recombinar-se com novos genes (Qua-
dro 1) [93].

QUADRO 1
O DNA transgênico tem mais probabilidade de
propagar-se horizontalmente
· O DNA transgênico costuma conter novas combinações
de material genético que nunca existiram antes.
· O DNA transgênico tem sido construído para “saltar” para
dentro de genomas.
· As construções artificiais de genes tendem a ser estrutural-
mente instáveis e, portanto, propensas a romperem-se, uni-
rem-se ou recombinarem com outros genes.
· Os mecanismos que permitem que as construções de genes
88 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

estranhos saltem para dentro do genoma também lhes permi-


tem saltar para fora de novo e reinstalarem-se em outro local
ou em outro genoma. Por exemplo, a enzima integrase, que
catalisa a inserção de DNA viral no genoma hospedeiro, tam-
bém funciona como uma des-integrase, catalizando a reação
reversa. Essas integrases pertencem a uma superfamília de
enzimas similares que estão presentes em todos os genomas,
de vírus e bactérias até as plantas superiores e animais. As
recombinases de transposons são similares.
· As bordas do vetor mais comumente utilizado para as plan-
tas transgênicas – o DNA-T de Agrobacterium – são sítios
preferenciais para recombinação (sítios que tendem a rom-
per e unir). Além disso, um sítio preferencial para
recombinação também está associado ao promotor do ví-
rus do mosaico da couve-flor (CaMV) e a vários terminators
(sinais genéticos para finalizar a transcrição), o que signifi-
ca que o conjunto ou as partes do DNA integrado terão
uma maior propensão para transferência horizontal secun-
dária de genes e recombinação.
· Evidências recentes indicam que as construções de genes
estranhos tendem a se integrar aos sítios preferenciais para
recombinação do genoma, o que, de novo, tenderia a au-
mentar as chances de desintegração e transferência hori-
zontal do DNA transgênico.
· Freqüentemente, o DNA transgênico tem outros sinais
genéticos, como as origens de replicação deixadas pelo
plasmídeo vetor. Esses também são sítios preferenciais de
recombinação e, além disso, com facilidade, podem per-
mitir que o DNA transgênico se replique independente-
mente como um plasmídeo, que é prontamente transferido
horizontalmente entre as bactérias.
Grupo de Ciência Independente 89

· O estresse metabólico do organismo hospedeiro provocado


pela contínua superexpressão dos genes estranhos, vinculada
a promotores agressivos como o CaMV 35S, também
aumentará a instabilidade do DNA transgênico, facilitando,
com isso, a transferência horizontal de genes.
· O DNA transgênico é, tipicamente, um mosaico de se-
qüências de DNA provenientes de diferentes espécies e seus
parasitas genéticos; essas homologias implicam que ele terá
propensão a se recombinar e, com sucesso, se transferir aos
genomas de numerosas espécies, bem como a seus parasi-
tas genéticos. A recombinação homóloga normalmente
ocorre de mil a um milhão de vezes mais freqüentemente
do que a recombinação não homóloga.

EVIDÊNCIAS DE QUE O DNA TRANSGÊNICO É DIFERENTE


Somente um estudo completo foi realizado, até hoje, para
testar a hipótese de que os transgenes são iguais (ou não) aos
mutantes induzidos por meios convencionais (mutagênese), tal
como a exposição a raios X e mutágenos químicos, que causam
alterações na seqüência de bases do DNA.
Bergelson e seus colegas [107] obtiveram um mutante para
tolerância a herbicida mediante mutagênese convencional em
uma cepa de laboratório de Arabidopsis e criaram linhagens
transgênicas, introduzindo, nas células da planta hospedeira, o
gene mutante inserido num vetor.
Em seguida, compararam a proporção com a qual as plantas
mutantes transgênicas e não transgênicas propagavam a caracte-
rística de tolerância a herbicida às plantas normais de tipo silves-
tre que cresciam nos arredores. Assim descobriram que os
transgenes das plantas transgênicas tinham até 30 vezes mais
possibilidades de escaparem e de se espalharem do que os mes-
90 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

mos genes obtidos por mutagênese.


Os resultados são difíceis de serem explicados em termos de
simples polinização cruzada. Teria isso ocorrido porque a intro-
dução do transgene, mediante um vetor, leva a vários tipos de
efeitos inesperados? As plantas transgênicas produziram mais
pólen, ou pólen mais viável? O pólen das plantas transgênicas
foi mais atrativo para as abelhas?
Outra possibilidade para a maior propagação de transgenes é
a transferência horizontal de genes, através dos insetos que visi-
tam as plantas em busca de pólen e néctar, ou, simplesmente, da
alimentação de seiva ou outras partes, de sucessivas plantas
transgênicas e silvestres. Bergelson afirmou que eles não tiveram
evidências de transferência horizontal de genes, mas não pude-
ram descartá-la. Eles, contudo, não continuaram a investigar tal
possibilidade.
Independentemente da maneira como os transgenes se pro-
pagaram, o experimento demonstrou que o DNA transgênco
não se comporta da mesma maneira que o DNA não transgênico.
Grupo de Ciência Independente 91

11. A TRANSFERÊNCIA HORIZONTAL


DE DNA TRANSGÊNICO

EXPERIMENTOS QUE DEMONSTRAM A TRANSFERÊNCIA


HORIZONTAL DE DNA TRANSGÊNICO
A transferência horizontal de transgenes e genes marcadores
de resistência a antibióticos, de cultivos manipulados genetica-
mente para bactérias e fungos do solo, foi demonstrada, em la-
boratório, em meados da década de 1990. A transferência de
transgenes para fungos foi conseguida, simplesmente, cultivan-
do os fungos com a planta transgênica; e a transferência às bacté-
rias foi conseguida pela aplicação de DNA total da planta
transgênica a culturas de bactérias.
No final da década de 1990, foram obtidas transferências
bem sucedidas de um gene marcador de resistência à canamicina
para a bactéria do solo Acinetobacter, com DNA total extraído de
folhas homogeneizadas em várias plantas transgênicas [108]:
Solanum tuberosum (batata), Nicotiana tabacum (tabaco), Beta
vulgaris (beterraba açucareira), Brassica napus (canola) e
Lycopersicon esculentum (tomate). Estimou-se que para transfor-
mar, com sucesso, uma bactéria bastavam aproximadamente
92 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

2.500 cópias de genes de resistência à canamicina (do mesmo


número de células vegetais), mesmo na presença de um excesso
de 6 x 106 vezes de DNA vegetal. Os resultados de transferência
horizontal de genes foram positivos, nesse sistema, até mesmo
com apenas 100 microlitros de uma solução da folha macerada
da planta adicionada à bactéria.

OBSCURECIMENTO E DISTORÇÃO DOS FATOS


Porém, desde o princípio, prevaleceu o obscurecimento e a
distorção dos fatos. Apesar do enganoso título de um documento
de Schluter, Futterer e Potrykus, o qual afirma que a transferência
horizontal de genes em seu experimento “ocorre, se chega a ocor-
rer, com uma freqüência extremamente baixa” [109], os dados
demonstraram uma elevada freqüência de transferência genética,
de 5,8 x 10-2 por bactéria receptora, sob condições ótimas.
No entanto, os autores em seguida passaram a calcular uma
freqüência teórica de transferência de genes de 2,0 x 10-17, ou
próxima a zero, sob “condições naturais” extrapoladas. Fizeram-
no assumindo que diferentes fatores atuavam independentemente
e inventando as “condições naturais”, que são, em grande medi-
da, desconhecidas e imprevisíveis. Conforme admitiram os pró-
prios autores, não podem ser ignorados os efeitos sinérgicos das
combinações de fatores.
Esse documento foi posteriormente amplamente citado para
demonstrar que não ocorre transferência horizontal de genes.

EXPERIMENTOS DE CAMPO OFERECEM


PROVAS PRIMA FACIE
Em 1999, pesquisadores na Alemanha [110] já haviam in-
formado sobre o primeiro, e ainda único, experimento de cam-
po monitorado que proporcionou evidências prima facie de que
Grupo de Ciência Independente 93

o DNA transgênico havia sido transferido dos restos de plantas


de beterraba açucareira às bactérias do solo. Ho divulgou uma
análise detalhada dessa evidência e apresentou-a devidamente aos
conselheiros científicos do governo da Inglaterra, que, além de
descartarem a evidência, citaram-na como evidência de que a
transferência horizontal de genes não ocorreu.
O DNA não apenas persiste no ambiente externo, tanto no solo
quanto na água, como também não se degrada suficientemente rá-
pido no sistema digestivo para evitar que o DNA transgênico seja
transferido a microorganismos residentes nos intestinos dos animais.

TRANSFERÊNCIA DE DNA TRANSGÊNICO NA BOCA


A transferência poderia começar na boca. Mercer et alii in-
formaram, em 1999 [111], que um plasmídeo manipulado ge-
neticamente tinha de 6% a 25% de possibilidades de sobreviver
intacto após 60 minutos de exposição à saliva humana. Além
disso, o plasmídeo de DNA parcialmente degradado foi capaz
de transformar o Streptococcus gordonii, uma das bactérias que
normalmente estão presentes na boca e na faringe humanas. A
freqüência de transformação baixou exponencialmente com o
tempo, porém continuou sendo ainda significativa, após 10 mi-
nutos. A saliva humana, na verdade, contém fatores que promo-
vem transformação nas bactérias residentes na boca.
Essa pesquisa foi feita em tubo de ensaio e os autores afirma-
ram claramente que “é necessário realizar mais pesquisas para
estabelecer se a transformação da bactéria oral pode ocorrer in
vivo com freqüências significativas”. Contudo, desde então, não
se efetuou nenhum estudo desse tipo, o que é difícil de entender
“na medida em que a pesquisa original foi encomendada pelo
governo da Inglaterra, como parte do Programa de Alimentos
Novos”.
94 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Outro grupo da Universidade de Leeds, no entanto, obteve


recursos da então recém-criada Agência de Normas Alimenta-
res (Food Standards Agency – FSA) para investigar a possibili-
dade de transferência horizontal de genes no estômago dos ru-
minantes [112], onde o alimento permanece durante longos
períodos. Os pesquisadores descobriram que o DNA transgênico
se degradava rapidamente nos fluidos do rúmen e da silagem,
mas que, no entanto, a transferência horizontal poderia ocor-
rer antes que o DNA transgênico fosse completamente degra-
dado.
Eles também descobriram que o DNA transgênico demo-
rava muito em degradar-se na saliva e, portanto, a boca pode-
ria ser um local importante para a transferência horizontal de
genes. Isso confirmou os resultados obtidos por Mercer et alii
[111]. Porém, uma vez mais, nenhum trabalho de acompa-
nhamento foi realizado em animais vivos. Foi esse um caso
no qual se evitou fazer os experimentos óbvios por medo de
serem obtidos resultados positivos que seriam mais difíceis de
descartar?

TRANSFERÊNCIA DE DNA TRANSGÊNICO ATRAVÉS DA


PAREDE DO INTESTINO E DA PLACENTA
Há mais informações sobre o alcance da transferência hori-
zontal de genes, como revela a bibliografia científica existente.
Desde o início dos anos de 1990, o grupo de Döerfler's, na
Alemanha, tem realizado uma série de experimentos acerca do
destino do DNA estranho nos alimentos.
Alimentando ratos com DNA, tanto isolado da bactéria
do vírus M13, quanto do gene clonado para a proteína verde
fluorescente inserida em um plasmídeo, eles descobriram que
uma porcentagem pequena, porém significativa, de DNA viral
Grupo de Ciência Independente 95

e de plasmídeo não apenas escapou da degradação completa


no intestino, mas também conseguiu atravessar sua parede e
ingressar na corrente sanguínea, até introduzir-se em alguns
glóbulos brancos e em células do baço e do fígado, tornando-
se incorporado ao genoma celular do rato [113]. O DNA es-
tranho, ao ser fornecido como alimento a ratas prenhes, foi
encontrado em algumas células dos fetos e dos animais re-
cém-nascidos, demonstrando que havia atravessado a placen-
ta [114].
Esse trabalho põe de manifesto os perigos de todos os tipos
de DNA “desprotegido” criados pela indústria da engenharia
genética, em especial os genomas virais, sobre os quais o virologista
norueguês Terje Traavik [115] científico do governo da Norue-
ga, e outros [94, 95], chamaram a atenção.
Em um documento publicado em 1998, Döerfler e
Schubbert disseram [114] que: “Ainda não foram investigadas
as conseqüências da absorção de DNA estranho para a
mutagênese [que gera mutações] e para a oncogênese [que pro-
voca câncer]”. A importância dessa constatação é relevante face
aos casos de câncer identificados dentre aqueles que receberam
terapia genética, em fins de 2002 [116], pois fundamenta que
a exposição ao DNA transgênico representa os mesmos riscos,
seja através da terapia genética, seja dos alimentos transgênicos.
A terapia genética implica na modificação genética de seres hu-
manos e utiliza construções muito similares àquelas da modifi-
cação genética de plantas e animais.

A OMISSÃO DE EXPERIMENTOS DEFINITIVOS


Um relatório publicado em 2001 [117] apresentou a compa-
ração do destino do DNA obtido das folhas da soja comum com
o de DNA plasmídeo transgênico, confirmando resultados ante-
96 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

riores: o DNA transgênico invadiu as células de numerosos teci-


dos.
Porém, como a maioria dos projetos de pesquisa resenha-
dos, esse também parece ter ficado aquém da obtenção de re-
sultados mais claros e definitivos, que poderiam ter sido conse-
guidos simplesmente alimentando-se os ratos com soja
transgênica e monitorando o destino do DNA transgênico e
do DNA próprio da planta. Isso significaria um avanço para
resolver o assunto que Ho e Cummins têm colocado,
reiteradamente: o DNA transgênico pode ser mais invasivo das
células e dos genomas do que o DNA natural.
Na verdade, como destaca Ewen [44], não se pode excluir a
possibilidade de que alimentar os animais com produtos
transgênicos, como o milho, também traz riscos. O leite de
vaca pode conter derivados transgênicos e inclusive um bife de
carne bovina pode conter material transgênico ativo, já que o
DNA é extraordinariamente estável e, em geral, não é destruído
pelo calor. Recentemente recuperou-se DNA de sedimentos de
solo com idade entre 300 mil e 400 mil anos [118]. Há infor-
mações que o renomado pesquisador Alan Cooper, da Univer-
sidade de Oxford, em visita à Nova Zelândia, teria declarado
que [119] “A capacidade do DNA de persistir no solo durante
tanto tempo foi completamente subestimada... e ilustra o quão
pouco sabemos” e “que é necessário pesquisar muito mais antes
que possamos prever o efeito da liberação das plantas
transgênicas no meio ambiente”.

DNA TRANSGÊNICO EM ALIMENTOS TRANSFERIDO PARA


BACTÉRIAS DO INTESTINO HUMANO
O governo da Inglaterra acabou encomendando pesquisas
sobre a transferência horizontal de genes para as bactérias do
Grupo de Ciência Independente 97

intestino de seres humanos voluntários “e encontrou resultados


positivos”.
A pesquisa em questão é a parte final do projeto da Agência de
Normas Alimentares (FSA), da Inglaterra, para a avaliação dos
riscos dos organismos transgênicos nos alimentos humanos [120].
Não é, de maneira alguma, inesperado que o DNA
transgênico se transfira às bactérias do intestino humano. Atra-
vés de pesquisas anteriores referidas aqui, já se sabia que o DNA
persiste no intestino e que as bactérias podem absorver rapida-
mente DNA estranho. Por que então os agentes responsáveis pela
regulamentação esperaram tanto tempo para pedir essa pesqui-
sa? E quando o fizeram, de a impressão de que os cientistas haviam
planejado o experimento de modo a coletar probabilidades for-
temente contra um resultado positivo [121].
Por exemplo, o método para detectar DNA transgênico de-
pendia da amplificação de uma pequena parte, 180 bp, do total
do inserto de DNA transgênico, que era pelo menos dez ou vin-
te vezes mais longo. Dessa maneira não seria possível detectar a
presença de outros fragmentos do DNA inserido, ou outros frag-
mentos que não coincidissem com o total dos 180 bp amplifica-
dos, ou fragmentos que houvessem se reordenado. A possibilida-
de de se obter um resultado positivo é muitíssimo menor, com
5% no melhor dos casos. “Assim, um resultado negativo obtido
com esse método de detecção muito provavelmente não indica-
ria ausência de DNA transgênico”.
Apesar disso, chegou-se a um resultado positivo, imediata-
mente mascarado e descartado pela FSA, que teria afirmado que
“os resultados haviam sido avaliados por vários especialistas do
governo, que asseguraram que não havia risco para os seres hu-
manos”. Em uma declaração em sua página na Internet, a FSA
disse que o estudo havia concluído que “é muito improvável”
98 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

que os genes transgênicos possam ir parar no intestino das pes-


soas que os tenham ingerido.

O VETOR AGROBACTERIUM, UM VEÍCULO PARA O ESCAPE DE


GENES
Evidências recentes indicam, com grande segurança, que o
método mais comumente usado para criar plantas transgênicas
pode também servir como uma via rápida para transferência
horizontal de genes [122, 123].
A Agrobacterium tumefaciens – a bactéria do solo que causa
tumores em várias plantas na junção do caule com a raiz e por
isso chamada de “galha da coroa” – foi desenvolvida como um
vetor principal de transferência genética na produção de plantas
transgênicas. Os genes estranhos geralmente são inseridos na parte
DNA-T de um plasmídeo de A. tumefaciens, denominado Ti
(indutor de tumor), que se integra no genoma da célula da plan-
ta que, logo depois, desenvolve um tumor. Isso era conhecido,
pelo menos, desde 1980.
Porém, pesquisas ulteriores revelaram que o processo pelo
qual a Agrobacterium injeta DNA-T nas células vegetais se pare-
ce muito à “conjugação”, ou “reprodução sexuada” entre células
bacterianas.
A conjugação, conseguida com a mediação de certos
plasmídeos bacterianos, requer que o DNA a ser transferido con-
tenha uma seqüência chamada origem de transferência (oriT).
As demais funções podem ser supridas a partir de outras fontes,
às quais se faz referência como “funções de ação-trans” (ou tra).
Portanto, os plasmídeos “desarmados”, que não têm funções de
ação-trans, podem ser transferidos mediante plasmídeos “auxilia-
res” que transportam genes codificadores para as funções de ação-
trans. E essa é a base de um complicado sistema de vetores, que
Grupo de Ciência Independente 99

foi concebido utilizando-se o DNA-T de Agrobacterium e com o


qual tem se produzido numerosas plantas transgênicas.
Porém, rapidamente, veio à tona que as bordas esquerda e
direita do DNA-T são semelhantes a oriT e podem ser substituí-
das pela mesma. Além disso, o DNA-T desarmado, carente das
funções de trans-ação (genes de virulência que contribuem para
enfermidade), pode ser ajudado por genes similares que perten-
cem a muitas outras bactérias patogênicas. Parece que a transfe-
rência de genes “entre reinos”, pela Agrobacterium, bem como os
sistemas de conjugação de bactérias, estão relacionados ao trans-
porte de macromoléculas, não somente de DNA, mas também
de proteínas.
Isso significa que as plantas transgênicas criadas pelo sistema
de vetor DNA-T têm uma via rápida para o escape horizontal de
genes, através da Agrobacterium, ajudada pelos mecanismos de
conjugação comuns de outras bactérias causadoras de enfermi-
dades, que estão presentes no meio ambiente.
De fato, a possibilidade de que a Agrobacterium possa servir
como um veículo para o escape horizontal de genes foi levantada
pela primeira vez, em 1997, em um estudo patrocinado pelo
governo da Inglaterra [124], que mostrou ser muito difícil
eliminar a Agrobacterium utilizada no sistema de vetor depois da
transformação. O tratamento com uma bateria de antibióticos e
reiterados subcultivos, por mais de 13 meses, não conseguiu
eliminar a bactéria. Além disso, 12,5% da Agrobacterium restante
continuava contendo o vetor binário (DNA-T e plasmídeo
“auxiliar”) e, portanto, “continuavam sendo plenamente capazes
de transformar outras plantas”. Essa pesquisa foi posteriormente
publicada em uma revista científica [125].
Várias outras observações apontam o escape de genes, atra-
vés da Agrobacterium, como ainda mais provável. Além de trans-
100 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

ferir genes às células das plantas, existe a possibilidade de ocor-


rer uma “retrotransferência” de DNA da célula vegetal para a
Agrobacterium [126].
A existência de índices elevados de transferência genética está
associada com o sistema radicular da planta e a semente em ger-
minação, onde a conjugação é mais provável [127]. Nesses lo-
cais, a Agrobacterium poderia multiplicar-se e transferir DNA
transgênico a outras bactérias, bem como ao próximo cultivo a
ser plantado. Essas possibilidades ainda têm de ser pesquisadas.
Por último, a Agrobacterium se adere a várias linhagens de
células humanas e as transforma geneticamente [128]. Em célu-
las HeLa (uma linhagem de células epiteliais humanas, derivada
originalmente de um paciente com câncer), transformadas esta-
velmente, a integração de DNA-T ocorreu na borda direita, exa-
tamente da mesma forma que se transferido ao genoma de uma
célula vegetal. Isso sugere que a Agrobacterium transforma as cé-
lulas humanas através de um mecanismo similar ao que utiliza
para transformar células vegetais.
Grupo de Ciência Independente 101

12. OS PERIGOS DA TRANSFERÊNCIA


HORIZONTAL DE GENES

UM RESUMO
Como fica claro nos capítulos anteriores, os perigos que pode-
riam surgir da transferência horizontal de DNA transgênico são
exclusivos da engenharia genética e estão resumidos no Quadro 2.

QUADRO 2
Perigos em potencial da transferência horizontal de genes
provocada pela engenharia genética
· Geração de novas espécies cruzadas de vírus que causam
enfermidades.
· Geração de novas bactérias que causam enfermidades.
· Propagação de genes com resistência a antibióticos e a
medicamentos entre os patógenos virais e bacterianos,
inviabilizando o tratamento de infecções.
· Inserção aleatória nos genomas de células, provocando efei-
tos nocivos como o câncer.
· Reativação e recombinação com vírus em estado de latência
(presentes em todos os genomas) para gerar vírus infecciosos.
102 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

· Propagação de genes novos e construções de genes perigo-


sos que nunca existiram anteriormente.
· Desestabilização de genomas aos quais forem transferidos
os transgenes.
· Multiplicação dos impactos ecológicos em função do acima
referido.

EXPERIMENTOS APARENTEMENTE EVITADOS ATÉ AGORA


Em um documento apresentado em uma reunião aberta, or-
ganizada pelo Comitê Consultor sobre Alimentos e Processos
Novos (ACNFP), foram apresentadas, ao Comitê Consultivo de
Licenças Ambientais (ACRE), as críticas abaixo, junto a uma
série de experimentos óbvios que a FSA deveria encomendar
[129]. O quadro 3 as apresenta de forma ligeiramente revisada.

QUADRO 3
Experimentos ausentes sobre segurança dos alimentos e
cultivos transgênicos
A seguir, estão alguns experimentos definitivos que propor-
cionariam informações sobre a segurança dos alimentos e culti-
vos transgênicos. Provavelmente, até agora, tenham sido inten-
cionalmente evitados.
1. Experimentos de alimentação, com animais, similares aos
que foram realizados pela equipe de Pusztai, com ração de
soja e/ou milho transgênicos bem caracterizados, seguido
de monitoramento adequado e imparcial do DNA nas fe-
zes, sangue e células sanguíneas, além de exames histológicos
post-mortem que incluam o rastreamento da transferência
de DNA transgênico ao genoma das células. Como um
controle extra, deveria também ser monitorado o DNA
não transgênico do mesmo exemplar alimentado com ali-
Grupo de Ciência Independente 103

mentos transgênicos. Além disso, deveria ser investigado o


papel do promotor CaMV 35S na produção de efeitos “tipo
fator de crescimento”, em ratos jovens.
2. A realização de testes de alimentação em voluntários hu-
manos, utilizando soja e/ou milho transgênicos bem ca-
racterizados, com um monitoramento adequado e imparcial
do DNA transgênico e de transferência horizontal de genes
na boca e nas fezes, sangue e células sanguíneas, tendo,
como um controle adicional, o monitoramento de DNA
não transgênico da mesma mostra de voluntários alimen-
tados com transgênicos.
3. A pesquisa da estabilidade das plantas transgênicas em su-
cessivas gerações de cultivo, especialmente as que contêm
o promotor CaMV 35S, utilizando técnicas moleculares
quantitativas apropriadas.
4. A caracterização molecular completa de todas as linhagens
transgênicas, para estabelecer uniformidade e estabilidade
genética das inserções de DNA transgênico, e sua compa-
ração com os dados originais apresentados pela empresa
biotecnológica para conseguir a aprovação dos experimen-
tos de campo ou para a venda.
5. A realização de testes sobre a persistência da bactéria e dos
vetores em todas as plantas transgênicas criadas pelo siste-
ma do vetor Agrobacterium DNA-T. O solo, no qual cres-
ceram as plantas transgênicas, deveria ser monitorado para
pesquisar se houve algum escape de genes para as bactérias
do solo. Também deveria ser monitorado, cuidadosamen-
te, o potencial de transferência horizontal de genes ao cul-
tivo subseqüente, através da germinação da semente e do
sistema radicular.
13. CONCLUSÃO DAS PARTES 1 E 2

O amplo exame das evidências convenceu-nos de que os cul-


tivos transgênicos não são necessários nem desejados, que não
cumpriram as promessas feitas e, ao contrário, estão trazendo
problemas crescentes ao campo. Não há possibilidade realista da
coexistência da agricultura transgênica com a não transgênica,
como resulta evidente do grau e extensão da contaminação
transgênica que já ocorreu, mesmo em um país como o México,
que aplica uma moratória oficial desde 1998.
Ainda mais importante: os cultivos transgênicos são inaceitáveis
porque não são seguros. Têm sido introduzidos sem as necessárias
salvaguardas e avaliações de segurança, através de um sistema de regu-
lamentação profundamente defeituoso, baseado no princípio de
“equivalência substancial”, cujo propósito é dar rápida aprovação aos
produtos, em vez de realizar uma avaliação séria de sua segurança.
Apesar da falta de dados sobre testes de segurança dos ali-
mentos transgênicos, os resultados disponíveis já dão motivos
para preocupações acerca da segurança do próprio processo
transgênico, que não têm sido levadas em consideração.
106 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Ao mesmo tempo, descobriu-se que os produtos genéticos


introduzidos nos alimentos e em outros cultivos, como
biopesticidas, que representam 25% de todos os cultivos
transgênicos do mundo, são fortes imunógenos e alérgenos e que
produtos farmacêuticos perigosos e vacinas estão sendo introdu-
zidos em cultivos alimentares, em campos experimentais.
Sob a desculpa de uso para a contenção do transgene, culti-
vos estão sendo manipulados geneticamente com “genes suici-
das” que provocam a esterilidade masculina da planta. Na reali-
dade, esses cultivos propagam, através do pólen, tanto os genes
de tolerância ao herbicida, quanto os genes suicidas da esterili-
dade masculina, com conseqüências potencialmente devastado-
ras para a biodiversidade agrícola e natural.
Aproximadamente 75% dos cultivos transgênicos plantados
no mundo são tolerantes a um ou a outro dos dois herbicidas de
amplo espectro: o glufosinato de amônio e o glifosato. Ambos
são venenos metabólicos sistêmicos que podem produzir uma
ampla gama de efeitos nocivos nos seres humanos e em outros
organismos vivos, efeitos que hoje estão confirmados.
O glufosinato de amônio está associado com toxicidade neu-
rológica, respiratória, gastrointestinal e hematológica, e com de-
feitos congênitos em seres humanos e outros mamíferos.
O glifosato é a causa mais freqüente de reclamações e enve-
nenamentos na Inglaterra e casos de transtornos de diversas fun-
ções do organismo têm sido registrados após ocorrer exposição a
níveis normais de uso. A exposição ao glifosato praticamente
duplicou o risco de aborto espontâneo tardio e os filhos de pes-
soas que haviam utilizado glifosato apresentaram um grau eleva-
do de alterações de neurocomportamento. O glifosato provocou
o desenvolvimento retardado do esqueleto fetal em ratos de la-
boratório. Ele inibe a síntese de esteróides e é genotóxico em
Grupo de Ciência Independente 107

mamíferos, peixes e rãs. A exposição de minhocas a doses de


campo provocou, no mínimo, a mortalidade de 50% e causou
lesões intestinais importantes nas sobreviventes. O Roundup
provoca alterações na divisão celular que poderiam estar associa-
das com certos tipos de câncer em seres humanos.
Esses efeitos conhecidos são suficientes para reivindicar que
se suspenda qualquer tipo de uso desses herbicidas.
De longe, os perigos mais graves da engenharia genética são
os inerentes ao próprio processo, que aumenta enormemente o
alcance e a probabilidade da transferência horizontal de genes e a
recombinação, que é a via principal para a criação de vírus e
bactérias que provocam enfermidades epidêmicas. Técnicas no-
vas, como as que envolvem misturas de seqüências de DNA,
permitem que geneticistas criem, no laboratório, milhões de ví-
rus recombinantes que nunca existiram antes, em questão de
minutos. Os vírus e bactérias causadores de enfermidades, e seu
material genético, são os principais materiais e ferramentas da
engenharia genética, bem como da criação intencional de armas
biológicas.
Existem evidências experimentais de que o DNA transgênico
vegetal tem sido absorvido por bactérias do solo e do intestino
de voluntários humanos. Os genes marcadores com resistência a
antibiótico podem propagar-se de alimentos transgênicos para
bactérias patogênicas, dificultando enormemente o tratamento
de infecções.
Sabe-se que o DNA transgênico sobrevive à digestão no in-
testino e salta para o genoma das células dos mamíferos, aumen-
tando a possibilidade de aparecimento de câncer.
As evidências indicam que as construções transgênicas que
incluem o promotor CaMV 35S, presente na maioria dos cul-
tivos transgênicos, devem ser especialmente instáveis e propensas
108 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

à transferência horizontal de genes e à recombinação, com to-


dos os riscos implicados: mutações genéticas devido à inserção
aleatória, câncer, reativação de vírus latentes e geração de no-
vos vírus.
Há uma longa história de distorção dos fatos e supressão de
provas científicas, especialmente sobre a transferência horizontal
de genes. Experimentos-chave não foram realizados ou foram
feitos de forma incorreta e depois se deturparam os resultados.
Muitos experimentos não tiveram prosseguimento, como aque-
les para investigar se o promotor CaMV 35S é responsável pelos
efeitos similares a fatores de crescimento, observados em ratos
jovens alimentados com batatas transgênicas.
Por todas essas razões, os cultivos transgênicos deveriam ser
energicamente rejeitados como opção viável para o futuro da
agricultura.
Grupo de Ciência Independente 109

PARTE 3

OS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS DA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


14. POR QUE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL?

A NECESSIDADE DE UMA AGRICULTURA


ALTERNATIVA
A agricultura “moderna” se caracteriza pela monocultura em
grande escala e depende de altas quantidades de insumos quími-
cos e mecanização intensiva.
Embora seja produtiva, se tomada em termos uni-
dimensionais de “rendimento” de um único cultivo, sua de-
pendência extrema de agrotóxicos químicos traz uma série de
impactos negativos na saúde e no meio ambiente: riscos para a
saúde dos trabalhadores do campo, resíduos químicos nocivos
nos alimentos, redução da biodiversidade, deterioração da qua-
lidade do solo e da água e maior risco de enfermidades nos
cultivos. O monocultivo “moderno” também marginaliza os
pequenos agricultores, particularmente os dos países em de-
senvolvimento, que são a maioria dos agricultores do mundo.
Os cultivos transgênicos, agora incluídos no pacote, estão ame-
açando ainda mais a saúde e o meio ambiente (ver Parte 2).
112 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

DIVERSAS PRÁTICAS DE AGRICULTURA SUSTENTÁVEL


Em contraste, os enfoques da agricultura sustentável enfatizam
a diversidade dos recursos naturais e a autonomia local dos agri-
cultores para decidir o que cultivar e como melhorar sua produ-
ção e subsistência.
A agricultura é sustentável quando é ecologicamente respon-
sável, economicamente viável, socialmente justa, culturalmente
apropriada, humanista e baseada em um enfoque holístico. O
Quadro 4 apresenta um resumo dos critérios fundamentais, ela-
borados por Pretty e Hine [130].
O enfoque da agricultura sustentável pode apresentar-se sob
vários nomes – agroecologia, agricultura sustentável, agricultura
orgânica, agricultura ecológica, agricultura biológica – mas pos-
sui esses critérios em comum.
A agricultura orgânica, por exemplo, exclui amplamente o
uso de agrotóxicos. Em vez disso, adota um enfoque ecossistêmico
que coordena os processos ecológicos e biológicos, tais como as
relações da cadeia alimentar, o ciclo dos nutrientes, a manuten-
ção da fertilidade do solo, o controle natural das pragas e a diver-
sificação de cultivos e criação de animais. Baseia-se em recursos
renováveis derivados do local ou da lavoura, mantendo-se viável
ambiental e ecologicamente.
Embora nos países desenvolvidos muitos possam ter familia-
ridade com a produção orgânica certificada, isso representa ape-
nas a ponta do iceberg em termos da terra organicamente mane-
jada, porém não certificada como tal.
A agricultura orgânica de fato, ou não certificada, costuma
predominar em regiões com escassez de recursos ou zonas margi-
nais em termos agrícolas, onde as populações locais têm pouca
inserção na economia monetária [131]. Os agricultores depen-
dem nesses casos de recursos naturais locais para manter a ferti-
Grupo de Ciência Independente 113

lidade do solo, combater as pragas e doenças. Possuem sistemas


sofisticados baseados no conhecimento tradicional para a rota-
ção de cultivos, o manejo do solo e o controle de pragas.
Da mesma forma, a agroecologia baseia-se em tecnologias
baratas, acessíveis, não arriscadas e produtivas em condições de
estresse ambiental; que melhoram a saúde ecológica e humana e
que são cultural e socialmente aceitáveis [132]. A agroecologia
coloca ênfase na biodiversidade, na reciclagem dos nutrientes,
na sinergia entre os cultivos, a criação de animais, os solos e ou-
tros componentes biológicos, bem como na regeneração e na
conservação dos recursos. A agroecologia baseia-se no conheci-
mento local da agricultura, incorpora tecnologias modernas de
baixos insumos para diversificar a produção, combina princípios
ecológicos e recursos locais para o manejo dos sistemas agrícolas,
oferecendo assim uma forma ambientalmente responsável e eco-
nomicamente acessível para que os pequenos agricultores inten-
sifiquem a produção em regiões menos favoráveis.
As alternativas agroecológicas podem solucionar, de forma
socialmente mais justa e ambientalmente mais harmoniosa, os
problemas da agricultura que os cultivos transgênicos preten-
dem resolver [3]. Existem vários estudos e pesquisas científicas
que documentam os sucessos e os benefícios da agricultura sus-
tentável, incluindo a agricultura orgânica, que foram avaliados
recentemente pela FAO [133] e pelo ISIS [134].
Resumimos as evidências de algumas das vantagens da
agroecologia, da agricultura sustentável e da agricultura orgâ-
nica para o meio ambiente e para a saúde, bem como para a
segurança alimentar e o bem-estar social dos agricultores e das
comunidades locais. Essas evidências justificam uma ampla
mudança para a agricultura sustentável no lugar dos cultivos
transgênicos.
114 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

QUADRO 4
A agricultura sustentável
· Faz melhor uso dos bens e serviços da natureza integrando
processos naturais e regenerativos como o ciclo dos nutrien-
tes, a fixação do nitrogênio, a regeneração do solo e os ini-
migos naturais das pragas.
· Minimiza o uso de insumos não renováveis (agrotóxicos e
fertilizantes) que prejudicam o meio ambiente ou são no-
civos para a saúde humana.
· Baseia-se no conhecimento e nas capacidades dos agricul-
tores, melhorando sua auto-estima e confiança.
· Promove e protege o capital social – a capacidade das pes-
soas para trabalharem juntas na solução dos problemas.
· Depende de práticas adaptadas localmente para inovar
frente a incertezas.
· É multifuncional e contribui com os bens comuns como a
água limpa, a vida silvestre, a retenção de carbono nos so-
los, a proteção contra as inundações e a qualidade da pai-
sagem.
Grupo de Ciência Independente 115

15. PRODUTIVIDADE E RENDIMENTOS


MAIORES OU COMPARÁVEIS

OLHANDO MAIS DE PERTO OS “RENDIMENTOS”


Uma das críticas mais comuns à agricultura orgânica é afirmar
que ela tem rendimentos mais baixos comparada à monocultura
convencional. Embora esse possa ser o caso nos países industriali-
zados, essa comparação é equivocada porque não considera os cus-
tos da monocultura convencional com relação à degradação da
terra, da água, da biodiversidade e de outros serviços ambientais
dos quais depende a produção sustentável de alimentos [133].
Na avaliação simplificada dos rendimentos de apenas um
único cultivo, como fazem os críticos em geral, são omitidos
outros indicadores de sustentabilidade e de maior produtividade
por unidade de área, especialmente em sistemas agroecológicos
que têm maior diversidade de cultivos, árvores e animais juntos
na área [135] (ver “Produção eficiente e rentável”). Em geral, é
possível obter o máximo rendimento de um cultivo plantando-o
em monocultura, que, embora possa permitir o alto rendimento
de um único cultivo, não produz nada mais para o consumo do
agricultor [136].
116 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Em todo o caso, devido aos danos causados pela agricultura


convencional, torna-se necessário um período de transição para
recuperar a terra e obter os benefícios plenos da agricultura sus-
tentável. Após a restauração do sistema, obtêm-se rendimentos
comparáveis ou maiores. Com a agricultura tradicional, de bai-
xos insumos, a conversão ao modelo sustentável é normalmente
acompanhada de um aumento imediato dos rendimentos.
De fato, a mera redução do tamanho médio das propriedades
na maioria dos países já estimularia o aumento da produção muito
além das projeções mais otimistas da indústria biotecnológica para
os cultivos transgênicos. As pequenas propriedades são mais pro-
dutivas, mais eficientes e contribuem mais para o desenvolvimen-
to econômico do que as grandes propriedades características da
monocultura convencional [136]. Os pequenos agricultores tam-
bém administram melhor os recursos naturais.
Pesquisas em diversos lugares do mundo demonstram que as
pequenas propriedades são de duas a dez vezes mais produtivas por
hectare do que as grandes propriedades rurais, que tendem a ser
vastos monocultivos ineficientes. Os aumentos de produtividade
são obtidos com o uso de tecnologias baseadas nos princípios
agroecológicos, que enfatizam a diversidade, a sinergia, a reciclagem
e a integração; e em processos sociais, que enfatizam a participação e
o aumento de poder da comunidade. Como as dimensões médias
das propriedades rurais têm, em sua grande maioria, produtividade
ineficiente, uma reforma agrária genuína propicia a oportunidade
de aumentar a produção e, ao mesmo tempo, reduzir a pobreza.

ÊXITOS DESTACADOS EM PAÍSES


EM DESENVOLVIMENTO
O êxito da agricultura sustentável foi demonstrado concreta-
mente em um exame de 208 projetos e iniciativas em 52 países
Grupo de Ciência Independente 117

[130]. Aproximadamente 8,98 milhões de agricultores adota-


ram práticas de agricultura sustentável em 28,92 milhões de hec-
tares na África, Ásia e América Latina.
Dados seguros sobre mudanças no rendimento em 89 proje-
tos mostram que os agricultores alcançaram aumentos impor-
tantes na produção de alimentos por hectare, entre 50% e 100%
para os cultivos pluviais e entre 5% e 10% para os cultivos irriga-
dos (apesar de geralmente partir de uma base absoluta mais alta
de rendimento). Esses projetos incluíram sistemas orgânicos cer-
tificados, não certificados, integrados e quase orgânicos. Em to-
dos os casos, para os quais havia dados seguros disponíveis, veri-
ficou-se que houve aumento da produtividade por hectare nos
cultivos alimentares e se mantiveram os rendimentos existentes
nos cultivos de fibra [133].
Alguns exemplos específicos do aumento dos rendimentos:
· Sistemas de conservação de solo e água nas terras secas de
Burkina Faso transformaram terras anteriormente degra-
dadas. A família média deixou de ter um deficit de cereais
de 644 kg por ano (equivalentes a 6,5 meses de escassez de
alimentos), para produzir um excedente anual de 153 kg.
· Através do Projeto Cheha de Desenvolvimento Rural In-
tegrado (Cheha Integrated Rural Devlopment Project) na
Etiópia, cerca de 12.500 domicílios adotaram a agricultu-
ra sustentável, resultando em um aumento de 60% no ren-
dimento dos cultivos.
· Em Madagascar, um sistema de intensificação do arroz
melhorou os rendimentos de aproximadamente 2 t/ha a 5,
10 ou 15 t/ha, sem recorrer à compra de agrotóxicos ou
fertilizantes.
· Em Sri Lanka, cerca de 55 mil domicílios, em aproxima-
damente 33 mil hectares, adotaram a agricultura sustentá-
118 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

vel, com reduções significativas no uso de agrotóxicos. Os


rendimentos aumentaram entre 12% e 44% para o arroz e
entre 7% e 44% para os vegetais.
· Em Honduras e na Guatemala, 45 mil famílias aumenta-
ram os rendimentos de seus cultivos de 400-600 kg/ha
para 2.000-2.500 kg/ha utilizando a adubação verde, cul-
tivos de cobertura, faixas de pasto em curvas de nível,
cultivo mínimo em faixas, muros de pedra e esterco de
animais.
· No Brasil, os Estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Gran-
de do Sul têm garantido a conservação do solo e da água
utilizando cordão vegetal em curvas de nível, aração em
nível e adubação verde. Os rendimentos do milho aumen-
taram cerca de 67%, de 3 a 5 t/ha; e a soja, cerca de 68%,
de 2,8 a 4,7 t/ha.
· As regiões altas das montanhas da Bolívia estão entre as
áreas mais difíceis do mundo para o cultivo e, apesar disso,
os agricultores triplicaram o rendimento da batata, princi-
palmente pelo uso da adubação verde para enriquecer o
solo.
Outros estudos de caso sobre as práticas orgânicas e
agroecológicas demonstram aumentos drásticos nos rendimen-
tos, bem como benefícios para a qualidade do solo, redução de
pragas e enfermidades e melhoria geral do sabor e do conteúdo
nutritivo [13]. Por exemplo:
· No Brasil, o uso de adubação verde e de cultivos de cober-
tura aumentou os rendimentos de milho entre 20% e
250%.
· Em Tigray, Etiópia, os rendimentos dos cultivos de parce-
las com compostagem foram de 3 a 5 vezes mais elevados
que os tratados unicamente com produtos químicos.
Grupo de Ciência Independente 119

· As lavouras do Nepal que adotaram práticas agroecológicas


tiveram um aumento de 175% na produção.
· No Peru, a recuperação dos terraços incas tradicionais pro-
duziu aumentos de 150% para uma série de cultivos de
montanha. Os agricultores podem produzir abundantes
cultivos apesar das inundações, das secas e das geadas seve-
ras, comuns em altitudes de quase 4 mil metros [135].
· No Senegal, projetos envolvendo quase 2 mil agricultores
promoveram a criação de gado em estábulo, sistemas de
fabricação de compostagem, adubação verde, sistemas de
recolhimento de água e fosfato de rocha. Os rendimentos
de milheto e amendoim aumentaram drasticamente, entre
75% e 195% e entre 75% e 165%, respectivamente. Devi-
do à maior capacidade que os solos têm de reterem água,
as flutuações dos rendimentos são menores entre os anos
de chuvas abundantes e escassas.
· No Brasil, em Santa Catarina, foram empregadas técnicas
de conservação do solo e da água, utilizando cordão vege-
tal em curvas de nível, aração em nível e adubação verde.
Cerca de 60 espécies diferentes de leguminosas e não
leguminosas foram intercaladas ou plantadas, durante os
períodos de descanso. Tais cultivos tiveram forte impacto
nos rendimentos, na qualidade do solo, nos níveis de ativi-
dade biológica e na capacidade de retenção da água. Os
rendimentos do milho e da soja aumentaram 66%.
· Em Honduras, as práticas de conservação e fertilização
orgânica do solo determinaram rendimentos triplicados ou
quadruplicados.
A plantação do feijão mucuna, como adubo verde, melhorou
o rendimento dos cultivos em ladeiras íngremes e facilmente su-
jeitas à erosão das encostas, com solos esgotados [137]. Os agri-
120 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

cultores plantam primeiro o mucuna, que tem um crescimento


vigoroso sufocando as ervas daninhas. Quando os feijões são cor-
tados, o milho é plantado sobre a cobertura morta resultante.
Posteriormente, os feijões e o milho são cultivados juntos. Mui-
to rapidamente, à medida que o solo melhora, os rendimentos
são duplicados e até triplicados (ver “Melhores solos”). Isso ocor-
re porque o feijão mucuna produz grande quantidade de matéria
orgânica, criando solos ricos e friáveis. Ele produz, também, seu
próprio fertilizante, fixando nitrogênio atmosférico e armaze-
nando-o no solo para outras plantas.
Essa tecnologia simples também foi adotada na Nicarágua,
onde mais de mil camponeses recuperaram terra degradada, na
bacia de San Juan, em apenas um ano. Esses agricultores reduzi-
ram o uso de fertilizantes químicos de 1.900 para 400 kg por
hectare, tendo, por sua vez, aumentado os rendimentos de 700
para 2.000 kg por hectare. Seus custos de produção são, aproxi-
madamente, 22% mais baixos que os dos agricultores que utili-
zam fertilizantes químicos e monoculturas [135].
O fósforo (P) é o nutriente mais importante (depois do
nitrogênio) do qual freqüentemente carecem os solos da África
tropical. Diferentemente do nitrogênio, o fósforo não pode ser
incorporado ao solo por fixação biológica. Portanto, a
disponibilidade de fósforo a partir de fontes orgânicas e
inorgânicas é fundamental para maximizar e manter um alto
potencial produtivo dos cultivos.
Estudos na região ocidental do Quênia compararam os efei-
tos dos fertilizantes orgânicos e inorgânicos [138]. Os cientistas
concluíram que rendimentos razoáveis do milho poderiam ser
obtidos em sistemas de pequenas propriedades, utilizando quan-
tidades adequadas de matéria orgânica de alta qualidade como
fonte de fósforo.
Grupo de Ciência Independente 121

COMPARAÇÕES EM PAÍSES INDUSTRIALIZADOS


A agricultura orgânica também se compara favoravelmente
com a monocultura convencional nos países industrializados.
Uma análise dos resultados de pesquisas, realizadas em sete uni-
versidades nos Estados Unidos e dos dados obtidos em dois cen-
tros de pesquisa, ao longo de dez anos, demonstra que os rendi-
mentos por cultivo dos sistemas orgânicos e a monocultura con-
vencional são comparáveis [130].
· Milho: em um total de 69 colheitas, os rendimentos dos
cultivos orgânicos foram 94% do milho produzido de for-
ma convencional.
· Soja: dados de cinco Estados diferentes de 55 colheitas
mostraram que os rendimentos dos cultivos orgânicos eram
94% dos convencionais.
· Trigo: duas instituições com dados de 16 anos de colheitas
demonstraram que o trigo orgânico atingiu 97% do rendi-
mento obtido com cultivos convencionais.
· Tomates: 14 anos de pesquisa comparativa com tomates
mostraram não haver diferenças em matéria de rendimento.
Estudos recentes, comparando a produtividade das práticas
orgânicas com as da agricultura convencional, foram analisados
por Vasilikiotis [140] que, avaliando os Sistemas de Agricultura
Sustentável (SAFS, em inglês) e o estudo Rodale, discutidos mais
adiante, concluiu que “as práticas de agricultura orgânica po-
dem produzir maiores rendimentos que os métodos convencio-
nais”. Além disso, “uma conversão mundial à produção orgânica
tem o potencial de aumentar os níveis de produção de alimentos
– sem mencionar a reversão do processo de degradação dos solos
agrícolas – e aumentar a fertilidade e sanidade do solo”.
Os resultados dos primeiros 15 anos de um experimento, de
longo prazo e em larga escala, realizado pelo Instituto Rodale,
122 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

demonstrou que, depois de um período de transição de quatro


anos, os cultivos nos sistemas orgânicos (baseados em animais e
leguminosas) tiveram um rendimento similar e, por vezes, me-
lhor, do que os cultivos convencionais [141]. Além disso, os sis-
temas orgânicos superaram, em rendimento, o sistema conven-
cional, quando as condições estiveram abaixo das ótimas, por
exemplo, nas épocas de estiagem (ver “Melhores solos”).
Os rendimentos iniciais mais baixos foram atribuídos em parte
à disponibilidade insuficiente de nitrogênio, ao tempo que leva
a atividade microbriana do solo para se estabilizar (os solos geral-
mente continham um total de nitrogênio suficiente, mas não
ainda em uma forma utilizável) e ao maior crescimento de ervas
daninhas. Tudo isso pode ser resolvido através de um manejo
apropriado e pelo tempo dado ao sistema para se ajustar à mu-
dança para a agricultura orgânica.
Um estudo de quatro anos, parte de um projeto maior e de
longo prazo do SAFS na Universidade da Califórnia-Davis, com-
parou os sistemas de agricultura convencional e alternativa para
os tomates [142]. Os resultados indicaram que a produção orgâ-
nica e de baixos insumos externos resultou em rendimentos com-
paráveis aos dos sistemas convencionais. A disponibilidade de
nitrogênio foi o fator de limitação do rendimento mais impor-
tante nos sistemas orgânicos, mas pôde ser resolvido com um
manejo adequado. A adição de nitrogênio associado com eleva-
dos insumos de carbono criou matéria orgânica no solo, aumen-
tando a fertilidade em longo prazo. Finalmente, os níveis de
matéria orgânica do solo se estabilizaram e requisitaram menos
insumo de nitrogênio.
Os resultados dos primeiros oito anos do projeto SAFS de-
monstraram que os sistemas orgânicos e com baixos insumos
tiveram rendimentos comparáveis aos dos sistemas convencio-
Grupo de Ciência Independente 123

nais em todos os cultivos testados – tomate, falso-açafrão


(Carthamus tinctorius), milho e feijão – e, em alguns casos, os
rendimentos foram maiores que os dos sistemas convencionais
[143]. O rendimento do tomate no sistema orgânico foi menor
nos primeiros três anos, mas em seguida se igualou ao do sistema
convencional, superando-o no último ano do experimento (80
t/ha comparado com 68 t/ha em 1996). Tanto o sistema orgâni-
co quanto o de baixos insumos externos aumentaram o conteú-
do de carbono orgânico do solo e armazenaram nutrientes, am-
bos elementos fundamentais para a fertilidade do solo em longo
prazo. Quando os níveis de matéria orgânica do solo se estabili-
zaram nos dois últimos anos do experimento, resultando em
maior disponibilidade de nitrogênio, foram registrados maiores
rendimentos nos cultivos orgânicos. Comprovou-se que os siste-
mas orgânicos eram mais rentáveis no caso do milho e do toma-
te, principalmente devido ao preço-prêmio pago por produtos
de alta qualidade.
Outro experimento comparou batatas e milho doce orgâni-
cos e convencionais durante três anos [144]. Não houve diferen-
ças quanto ao rendimento e ao conteúdo de vitamina C nas ba-
tatas. Enquanto uma variedade de milho convencional teve maior
produção do que a variedade orgânica, não houve diferenças em
outra variedade quanto ao rendimento ou aos conteúdos em vi-
taminas C ou E nos grãos de milho. Os resultados sugeriram que
a aplicação em longo prazo de compostagem produz um aumen-
to da fertilidade do solo e um crescimento equiparável da planta.
16. MELHORES SOLOS

CONSERVAÇÃO DO SOLO
A maioria das práticas agrícolas sustentáveis reduz a erosão
do solo e melhora sua estrutura física, o conteúdo da matéria
orgânica, a capacidade de retenção de água e o balanço de nutrien-
tes. A fertilidade do solo é mantida nas áreas onde existe e é
restaurada nas áreas degradadas.
Um bom exemplo é o dos agricultores nas fronteiras do Saara,
na Nigéria, Níger, Senegal, Burkina Faso e Quênia, que realizam
uma agricultura produtiva sem provocarem a destruição dos so-
los, mesmo em zonas secas. A agricultura integrada, os cultivos
mistos e os métodos tradicionais de conservação do solo e da
água estão aumentando muito a produção de alimentos per capta
[145, 146].
Os sistemas de agricultura sustentável ajudam a conservar e
melhorar o recurso mais precioso dos agricultores: a superfície
do solo. Para fazer frente aos problemas de compactação, perda
de nutrientes e erosão, os agricultores orgânicos do Sul estão uti-
lizando árvores, arbustos e leguminosas para estabilizar e alimentar
126 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

o solo; adubo animal e compostagem para agregar nutrientes,


bem como construindo terraços ou diques de contenção para
impedir a erosão e conservar a água subterrânea [131].

RESTABELECENDO A FERTILIDADE DO SOLO


O plantio de feijão mucuna na América Latina tem restaurado
a fertilidade de solos esgotados [137]. O feijão mucuna produz
100 toneladas de matéria orgânica por hectare, criando solos ricos
e friáveis, em uns poucos anos. O feijão produz, também, o seu
próprio fertilizante, fixando nitrogênio atmosférico e estocando-o
no solo para ser utilizado por outras plantas. Na medida em que o
solo melhora, os rendimentos dobram e até triplicam.
Um dos experimentos agrícolas mais antigos, em curso por
mais de 150 anos, do qual se tem registro é o experimento de
Broadbalk, na Estação Experimental de Rothamsted. Os ensaios
comparam um sistema agrícola fertilizado por esterco animal com
um sistema fertilizado por produtos químicos sintéticos. Os ren-
dimentos de trigo são, em média, levemente maiores nas parce-
las fertilizadas organicamente do que nas parcelas que recebem
fertilizantes químicos e, mais importante ainda, é que a fertilida-
de do solo, medida em níveis de nitrogênio e matéria orgânica
no solo, aumentou 120% ao longo de 150 anos nas parcelas
orgânicas, comparado a um aumento de somente 20% nas par-
celas fertilizadas quimicamente [147].
Outro estudo comparou as características ecológicas e a pro-
dutividade de 20 propriedades rurais comerciais na Califórnia
[148]. Os rendimentos do tomate foram bastante similares nas
lavouras orgânicas e convencionais. Os danos por pragas de inse-
tos também foram similares. Foram encontradas diferenças sig-
nificativas em indicadores de saúde do solo, como o potencial de
mineralização do nitrogênio e a abundância e diversidade
Grupo de Ciência Independente 127

microbiana, que foram maiores nas lavouras orgânicas. O po-


tencial de mineralização do nitrogênio foi três vezes maior nas
lavouras orgânicas do que nas convencionais, sendo que as áreas
orgânicas também apresentaram 28% a mais de carbono orgâni-
co. O aumento da saúde do solo teve, como resultado, uma di-
minuição considerável da incidência de doenças. O grau de se-
veridade da enfermidade mais freqüente durante o estudo, a po-
dridão da raiz, foi significativamente mais baixa nas lavouras
orgânicas.

MELHORANDO AS RELAÇÕES ECOLÓGICAS NO SOLO


O experimento mais antigo no mundo e em curso, compa-
rando a agricultura orgânica com a convencional, declarou o
sucesso do modelo orgânico [149, 150]. Esse estudo suíço, que
já se estende por 21 anos, constatou que os solos tratados com
adubo orgânico eram mais férteis e mais produtivos para uma
dada quantidade de insumo de nitrogênio ou outro fertilizante.
O maior benefício foi a melhoria da qualidade do solo culti-
vado organicamente. Os solos orgânicos tinham até 3,2 vezes
mais biomassa e abundância de minhocas, o dobro de artrópodes
(predadores importantes e indicadores da fertilidade do solo) e
40% mais fungos de micorrizas colonizando as raízes vegetais.
Os fungos micorrízicos ajudam as raízes a obterem mais nutrien-
tes e água do solo [151]. A crescente diversidade das comunida-
des microbianas em solos orgânicos transformou o carbono dos
dejetos orgânicos em biomassa com menores custos energéticos,
criando uma biomassa microbiana maior, a qual, sendo mais
diversificada, utiliza mais eficientemente os recursos. O aumen-
to da fertilidade do solo e a maior biodiversidade dos solos orgâ-
nicos reduzem a dependência de insumos externos e propiciam
benefícios ambientais de longo prazo.
128 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Os experimentos de campo realizados em lavouras de verdu-


ras orgânicas, sendo três orgânicas e três convencionais, em 1996-
1997, examinaram os efeitos de correções de solo por fertilizan-
tes sintéticos e alternativos, incluindo a compostagem [152]. As
densidades de propágulos das espécies Trichoderma (fungos be-
néficos do solo que são agentes de controle biológico de fungos
patogênicos para as plantas) e microorganismos termofílicos (den-
tre eles, em maior quantidade, Actinomycetes, que controlam
Phytophthora) foram maiores em solos orgânicos. Por outro lado,
as densidades de Phytophthora e Pythium (ambos organismos
patogênicos) foram menores nos solos orgânicos.
Embora o estudo tenha registrado maior quantidade de bac-
térias entéricas nos solos orgânicos, os cientistas enfatizaram que
isso não era problema, já que os índices de sobrevivência, no
solo, são mínimos. Os críticos da agricultura orgânica afirmam,
falsamente, os possíveis efeitos sobre a saúde quando da utiliza-
ção do esterco como adubo. Porém, o esterco sem tratamento
não é permitido na agricultura orgânica certificada, e o esterco
tratado (conhecido amplamente como compostagem) é seguro e
utilizado na agricultura orgânica. Diferentemente do regime con-
vencional (onde se pode utilizar esterco sem tratamento), os or-
ganismos de certificação orgânica inspecionam as propriedades
rurais para assegurar o cumprimento das normas [153].
Poucas diferenças significativas foram observadas entre os
rendimentos alcançados nos solos com reparação alternativa e
nos solos com fertilizantes sintéticos, independentemente do sis-
tema de produção. Em 1997, quando todos os produtores plan-
taram tomates, os rendimentos foram maiores nas lavouras com
histórico de produção orgânica, independentemente do tipo de
reparação do solo, devido aos benefícios em longo prazo das prá-
ticas de reparação orgânica. As concentrações minerais foram
Grupo de Ciência Independente 129

maiores nos solos orgânicos e a qualidade do solo nas lavouras


convencionais melhorou substancialmente devido ao fertilizan-
te orgânico. Os pesquisadores concluíram que “os dados que
coletamos não sustentam o argumento [dos críticos] de que a
agricultura orgânica equivale a uma agricultura de baixo rendi-
mento” (pág. 158).

MELHORIA DA QUALIDADE GERAL DO SOLO, EVITANDO A


PERDA DE COLHEITAS EM ÉPOCA DE ESTIAGEM
O estudo realizado pelo Instituto Rodale durante 15 anos
comparou três agroecossistemas de milho/soja [141, 154, 155]:
o primeiro era um sistema convencional, no qual foram utiliza-
dos fertilizantes com nitrogênio mineral e agrotóxicos; os outros
dois sistemas foram manejados de maneira orgânica. Um dos
sistemas orgânicos foi tratado à base de adubo animal, no qual
gramíneas e leguminosas, cultivadas como parte da rotação de
cultivo, foram destinadas a alimentar o gado. O adubo animal
proporcionou nitrogênio para a produção de milho. O outro
sistema não tinha gado, porém foram incorporados ao solo cul-
tivos de leguminosas de cobertura, como fonte de nitrogênio.
Constatou-se que as técnicas orgânicas melhoraram significa-
tivamente a qualidade do solo, avaliada pela estrutura, matéria
orgânica total do solo (uma medida da fertilidade do solo) e ativi-
dade biológica [141]. A melhor estrutura do solo criou, também,
um melhor ambiente na zona da raiz para as plantas cultivadas e
permitiu ao solo absorver e reter melhor a umidade, o que, além
dos benefícios nos períodos de escassez de chuvas, reduziu o po-
tencial de erosão, durante a ocorrência de chuvas fortes.
Os solos orgânicos demonstraram níveis maiores de ativida-
de microbiana e uma diversidade maior de microorganismos.
Essas mudanças, de longo prazo, nas populações do solo, podem
130 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

contribuir para a saúde das plantas e afetar, positivamente, a for-


ma pela qual nutrientes, tais como carbono e nitrogênio, são
disponibilizados para as plantas e são ciclados no solo.
Surpreendentemente, os rendimentos médios do milho, em
dez anos, apresentaram menos de 1% de diferença entre os três
sistemas, que foram quase igualmente rentáveis [154, 155]. Os
dois sistemas orgânicos demonstraram cada vez maior presença
de nitrogênio disponível, enquanto que, no sistema convencio-
nal, esses níveis se reduziram. Isso indica que os sistemas orgâni-
cos são mais sustentáveis, em termos de produtividade, em longo
prazo [141].
Os sistemas de produção de soja foram, também, altamente
produtivos, alcançando 2.900 kg/ha. Em 1999, durante uma
das piores estiagens da história, o rendimento da soja orgânica
foi de 2.175 kg/ha, comparado com apenas 1.160 kg/ha da soja
cultivada de maneira convencional. As práticas orgânicas não
somente levaram o solo a manter a umidade de maneira mais
eficiente do que o solo manejado convencionalmente, como tam-
bém o maior conteúdo de matéria orgânica tornou o solo orgâ-
nico menos compacto, permitindo que as raízes pudessem pene-
trar, mais profundamente, até encontrar umidade.
Os resultados destacaram os benefícios da agricultura orgâ-
nica para a qualidade do solo e seu potencial para evitar a perda
de colheitas. “Nossos experimentos demonstram que melhorar a
qualidade do solo através de práticas orgânicas pode ser a dife-
rença entre fazer uma colheita ou passar por privações em épocas
de estiagem”, disse Jeff Moyer, administrador agrícola do Insti-
tuto Rodale [156].
Grupo de Ciência Independente 131

17. UM AMBIENTE MAIS LIMPO

MENOS INSUMOS QUÍMICOS, MENOS LIXIVIAÇÃO E


ESCOAMENTO SUPERFICIAL
Os sistemas agrícolas sustentáveis que utilizam pouco ou ne-
nhum agrotóxico representam um nítido benefício para o ambiente
(ver a próxima seção). Os sistemas agrícolas convencionais são
freqüentemente associados com problemas tais como a lixiviação
de nitrato e a contaminação da água subterrânea. A aplicação de
fertilizantes fosfatados acima das necessidades da planta provoca o
acúmulo de fósforo disponível na superfície do solo e crescentes
perdas para água de superfície. A eutrofização da água é um dos
resultados mais nefastos da sua contaminação por nitrogênio e
fósforo. As altas concentrações de nutrientes estimulam o apareci-
mento de algas que bloqueiam a luz do Sol, provocando a morte
da vegetação aquática, destruindo habitat, alimentos e refúgios
valiosos para a vida aquática. Quando as algas morrem e se de-
compõem, o oxigênio se esgota em prejuízo da vida aquática.
Na Califórnia, no Vale do Sacramento, de 1994 a 1998 foram
avaliados quatro sistemas agrícolas para tomate e milho: orgânico,
132 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

de baixos insumos, convencional com quatro anos de rotação e


convencional com dois anos de rotação [157]. Os sistemas orgâni-
co e o de baixos insumos demonstraram ter, respectivamente, 112%
e 36% mais reservas de nitrogênio potencialmente mineralizável
do que os sistemas convencionais. Contudo, como utilizavam cul-
tivos de cobertura, houve uma liberação mais lenta e contínua de
nitrogênio mineral ao longo da época de crescimento.
Ao contrário, os sistemas convencionais proporcionaram ni-
trogênio mineral em intervalos, a partir de fertilizantes sintéti-
cos, com índices de mineralização do nitrogênio 100% maiores
do que os do sistema orgânico e 28% maiores do que no sistema
de baixos insumos externos. Isso desmonstrou que havia maior
probabilidade de lixiviação do nitrogênio e de problemas associa-
dos de contaminação nos sistemas convencionais.
Os rendimentos médios do tomate e do milho, durante um
período de cinco anos, não foram significativamente diferentes
entre os distintos sistemas agrícolas. Os pesquisadores concluí-
ram que o menor risco potencial de lixiviação do nitrogênio de-
vido a taxas menores de mineralização do nitrogênio, nos siste-
mas orgânico e de baixos insumos, parece melhorar a
sustentabilidade agrícola e a qualidade ambiental, além de, ao
mesmo tempo, manter rendimentos similares aos dos sistemas
convencionais.
O já referido estudo suíço, conduzido por 21 anos [149, 150],
também avaliou até que ponto as práticas agrícolas orgânicas afe-
tariam a acumulação do fósforo total e o disponível no solo, em
comparação com as práticas convencionais [158]. Foram anali-
sadas amostras de solo tomadas de um controle não fertilizado,
de dois cultivos convencionais e de dois cultivos orgânicos.
Os gastos médios anuais de fósforo dos dois sistemas agríco-
las orgânicos foram negativos para cada um dos períodos de ro-
Grupo de Ciência Independente 133

tação e para os 21 anos de experimentação no campo. Isso indi-


cou que a quantidade de fósforo removida através das colheitas
excedeu a de fósforo adicionada como fertilizante. O solo culti-
vado convencionalmente, que recebeu fertilizantes minerais e
adubo da própria lavoura, apresentou um gasto positivo nas três
rotações. Além disso, a disponibilidade de fósforo inorgânico na
superfície do solo diminuiu notadamente em todos os cultivos
durante o ensaio de campo, exceto no tratamento convencional.
Assim, o potencial de contaminação de fósforo dos sistemas or-
gânicos se reduziu.
Os experimentos realizados pelo Instituto Rodale, ao longo
de 15 anos, demonstraram que o sistema convencional teve maio-
res impactos ambientais, apresentando, em um período de cinco
anos, 60% mais de nitrato lixiviado na água subterrânea do que
os sistemas orgânicos [154-155]. Os solos do sistema convencio-
nal também apresentaram níveis relativamente elevados de car-
bono solúvel em água e, portanto, vulneráveis à lixiviação. Os
melhores índices de infiltração de água dos sistemas orgânicos os
tornaram menos vulneráveis à erosão e com menos chances de
contribuírem para a contaminação da água pelo escoamento de
superfície.
18. REDUÇÃO DE AGROTÓXICOS
SEM AUMENTO DE PRAGAS

MENOS AGROTÓXICOS
A agricultura orgânica proíbe a aplicação rotineira de
agrotóxicos. Segundo a Associação de Solos, na Inglaterra, cerca
de 430 ingredientes ativos de agrotóxicos sintéticos são
permitidos na agricultura convencional, comparados a apenas
7 na agricultura orgânica. Os agrotóxicos utilizados na
agricultura orgânica podem ser utilizados somente como último
recurso para o controle das pragas, quando todos os outros
métodos falharam. Eles são produtos naturais ou produtos
simples que se degradam rapidamente, sendo que três deles
requerem autorização para o uso.
Muitos projetos de agricultura sustentável relatam grande
redução no uso de agrotóxicos após adotarem o manejo integra-
do de pragas. No Vietnã, os agricultores reduziram o número de
aspersões de 3,4 para 1,0 por estação; no Sri Lanka, de 2,9 para
0,5 por estação; e na Indonésia, de 2,9 para 1,1 por estação. Em
termos gerais, no Sudoeste asiático, 100 mil pequenos produto-
res de arroz, que adotaram um manejo integrado de pragas, au-
136 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

mentaram substancialmente os rendimentos, ao mesmo tempo


em que eliminaram o uso de agrotóxicos [130].

CONTROLE DE PRAGAS SEM AGROTÓXICOS E SEM PERDA


DE CULTIVOS
Como o procedimento orgânico exclui a utilização de
agrotóxicos, os críticos afirmaram que as perdas causadas por
pragas aumentariam. No entanto, pesquisas sobre a produção de
tomate californiano contradisseram essa afirmativa. [159]. Não
houve diferença significativa nos níveis de danos ocasionados
por pragas em 18 estabelecimentos rurais comerciais, dos quais a
metade eram sistemas orgânicos certificados e a outra metade,
convencionais. A média da biodiversidade de artrópodes foi um
terço maior nas lavouras orgânicas do que nas lavouras conven-
cionais. Não houve diferenças significativas entre os dois siste-
mas no que se refere à abundância de herbívoros (pragas).
No entanto, os inimigos naturais das pragas foram mais abun-
dantes nas lavouras orgânicas, com maior riqueza de espécies de
todos os grupos funcionais (herbívoros, predadores, parasitóides).
Assim, qualquer espécie de praga, nas lavouras orgânicas, estaria
associada a uma maior variedade de herbívoros (ou seja, se dilui-
ria) e sujeita a controle por uma variedade mais ampla e mais
abundante de parasitóides e predadores potenciais.
Ao mesmo tempo, a pesquisa revela que é possível alcançar o
controle de pragas sem uso de agrotóxicos, revertendo, de fato,
as perdas de cultivos. Na região Leste da África (onde está locali-
zado o Quênia), o milho e o sorgo enfrentam duas grandes pra-
gas: a lagarta do talo e a Striga, uma planta parasita. Nas margens
da lavoura são plantados “cultivos armadilhas”, como a gramínea
Napier e a gramínea do Sudão, que atraem a lagarta do talo. A
gramínea Napier é uma planta local que produz uma substância
Grupo de Ciência Independente 137

pegajosa e que mata a lagarta [160]. Intercalados com os culti-


vos, são plantados o desmodio prateado (Desmodium uncinatum)
e duas plantas leguminosas. As leguminosas fixam o nitrogênio,
enriquecendo o solo. O Desmodium também repele as lagartas
do talo e a Striga.
Em 1995, começou um projeto, em Bangladesh, para pro-
mover meios não químicos de controle de pragas do arroz, que
se baseia nos inimigos naturais e na capacidade da planta do
arroz para compensar os danos provocados por inseto. Não tem
havido impacto negativo em termos de rendimento [161], mas,
ao contrário, os agricultores que não utilizam agrotóxicos têm
habitualmente maiores rendimentos do que os que os utilizam.
Como os participantes do projeto também modificaram outras
práticas além de abandonar os agrotóxicos, não se pode dizer
que o aumento do rendimento se deva inteiramente à ausência
destes. Isso demonstra, porém, que os agrotóxicos não são neces-
sários para obter aumentos no rendimento. Os participantes do
projeto obtêm lucros líquidos maiores do que os que utilizam
agrotóxicos: em 1998, a média de lucros líquidos, para os parti-
cipantes do projeto, foi de 5.373 takas (R$321,00) por agricul-
tor por estação, comparada com 3.443 takas (R$207,00) para os
que utilizavam agrotóxicos.

OUTRAS VANTAGENS COM O


NÃO USO DE AGROTÓXICOS
Além do benefício óbvio de não utilizar agrotóxicos perigosos,
pesquisadores coreanos relataram que a não utilização de
agrotóxicos nos arrozais favorece o desenvolvimento da carpa orien-
tal (Misgurnus mizolepis), que efetivamente controla os mosquitos
responsáveis pela disseminação da malária e da encefalite japonesa
[162]. Os campos nos quais não se utilizaram agrotóxicos apre-
138 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

sentavam uma maior variedade de insetos. Contudo, os peixes são


predadores vorazes de larvas do mosquito.
No Japão, um agricultor orgânico inovador iniciou um siste-
ma de cultivo do arroz que converte as ervas daninhas e as pragas
em recursos para criação de patos [163]. Os patos comem inse-
tos-praga e o caracol dourado (Pomacea canaliculata), que ataca
as plantas do arroz, e também comem sementes e plântulas das
ervas daninhas. Utilizando suas patas para desenterrar plântulas
de ervas daninhas, os patos ventilam a água e propiciam um
mecanismo de estimulação mecânica para que o caule do arroz
se torne forte e fértil. Essa prática tem sido adotada por cerca de
10 mil agricultores no Japão e por agricultores da Coréia do Sul,
Vietnã, Filipinas, Laos, Camboja, Tailândia e Malásia. Muitos
agricultores aumentaram seu rendimento entre 20% e 50% ou
mais, durante o primeiro ano.
Sistemas como esses, que são característicos de propostas agrí-
colas sustentáveis, fazem uso das complexas interações entre di-
ferentes espécies e demonstram quão importante é a relação en-
tre a biodiversidade e a agricultura (ver capítulo seguinte).
Os benefícios para a saúde com o não uso de agrotóxicos são
discutidos brevemente em “Orgânicos pela saúde”.
Grupo de Ciência Independente 139

19. APOIANDO A BIODIVERSIDADE E


UTILIZANDO A DIVERSIDADE

A BIODIVERSIDADE AGRÍCOLA É CRUCIAL PARA A


SEGURANÇA ALIMENTAR
Manter a biodiversidade agrícola é vital para a segurança ali-
mentar em longo prazo. Pimbert estudou as múltiplas funções
da biodiversidade agrícola e sua importância para a subsistência
no meio rural [164]. A biodiversidade agrícola contribui para a
segurança alimentar e para o sustento, para a produção eficiente,
para a sustentabilidade ambiental e para o desenvolvimento ru-
ral; regenera os sistemas alimentares locais e as economias rurais.
As populações rurais têm meios de subsistência dinâmicos e com-
plexos que, geralmente, dependem da diversidade de espécies
vegetais e animais, tanto silvestres quanto domesticadas. A di-
versidade “dentro” das espécies (as variedades crioulas) também
é importante entre as espécies domesticadas de cultivos e produ-
ção de animais e resulta da inovação das populações rurais. Essa
diversidade agrícola é uma segurança fundamental contra o
surgimento de enfermidades na lavoura e nas criações de ani-
mais e melhora a capacidade da subsistência no meio rural, de
140 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

longo prazo, frente às adversidades e perturbações. A


biodiversidade agrícola está cada vez mais ameaçada pela adoção
de cultivares e variedades uniformes e de alto rendimento da
monocultura “moderna”.
Os informes de uma reunião da FAO, realizada em 2002 –
“A biodiversidade e o enfoque ecossistêmico na agricultura, no
manejo florestal e na pesca” (Biodiversity and the Ecossystem
Approach in Agriculture, Forestry and Ficheries) – destacaram a
inter-relação existente entre biodiversidade e agricultura [165].
Os informes apresentaram exemplos específicos de como as ino-
vações dos agricultores aumentam a biodiversidade, bem como
sobre a importância da biodiversidade para a agricultura. Um
documento avaliou 16 estudos de casos de 10 países da Ásia,
América Latina, Europa e África, mostrando como a agricultura
orgânica aumenta a diversidade de recursos genéticos para a ali-
mentação e para a agricultura [166]. Em todos os casos, existe
uma estreita relação entre os sistemas orgânicos e a manutenção
da biodiversidade e a melhora das condições socioeconômicas
dos agricultores.
Os estudos de um sistema agrícola orgânico comunitário em
Bangladesh, o cultivo ladang de espécies orgânicas na Indonésia
e a produção de café orgânico no México, demonstram como o
manejo tradicional e realizado pela comunidade pode reabilitar
ecossistemas agrários abandonados e degradados. Esses sistemas
de policultivos se caracterizam por ecossistemas e biodiversidade
agrícola altamente diversificados, que oferecem não somente ali-
mentos, mas também outros serviços para a comunidade. Os
estudos de caso do cacau orgânico, no México, e do algodão
orgânico naturalmente pigmentado, no Peru, são exemplos de
agricultura orgânica bem sucedida que têm contribuído para
conservação in situ e utilização sustentável em centros de diversi-
Grupo de Ciência Independente 141

dade, proporcionando, ao mesmo tempo, benefícios econômi-


cos para as comunidades locais.
A agricultura orgânica salvou da extinção espécies e variedades
tradicionais e subutilizadas do Peru (quinoa sem glúten), Itália
(grão Sarraceno, feijão Zolfino, trigo farro – Triticum aestivum
subsp. spelta) e Indonésia (variedades locais de arroz). Quatro es-
tudos de caso, da Alemanha, Itália, África do Sul e Brasil, ilustram
como a agricultura orgânica tem recuperado numerosas varieda-
des e linhagens tradicionais, que são melhor adaptadas às condi-
ções ecológicas locais e são resistentes a doenças. Como os autores
concluem, a agricultura orgânica contribui para a conservação,
restauração e manutenção local da biodiversidade agrícola.

CONSERVANDO E SUSTENTANDO A BIODIVERSIDADE


A agricultura sustentável desempenha outra função impor-
tante na conservação da biodiversidade natural. Geralmente, as
lavouras orgânicas, em comparação com as convencionais, exi-
bem maior biodiversidade natural, com mais árvores, uma maior
diversidade de cultivos e distintos predadores naturais, que con-
trolam as pragas e ajudam a prevenir doenças [131].
Pesquisas, realizadas na Colômbia e no México, encontra-
ram 90% menos espécies de pássaros nas plantações de café cul-
tivadas ao sol do que naquelas de café orgânico cultivado à som-
bra, imitando o habitat natural da floresta [167]. O cultivo à
sombra é recomendado pelas normas orgânicas, já que aumenta
a fertilidade do solo, controla as pragas e enfermidades e amplia
as opções de produção de cultivo. Um estudo da Fundação Bri-
tânica de Ornitologia (BTO, em inglês) revelou maiores densi-
dades de reprodução da cotovia-do-céu (Alauda arvensis), uma
espécie de ave ameaçada de extinção, nas lavouras orgânicas do
que nas convencionais. A diversidade floral, que também tem
142 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

sido ameaçada pelo crescente uso de herbicidas na produção agrí-


cola, tende a se beneficiar dos sistemas orgânicos, que não per-
mitem o uso de agrotóxicos. Estudos, na Grécia e na Inglaterra,
demonstram que a diversidade e abundância de flores é efetiva-
mente maior nos sistemas orgânicos do que nos convencionais.
Outros estudos mostram aumento na diversidade e abundância
de invertebrados nos sistemas orgânicos.
Um relatório da Associação de Solos [168] da Inglaterra re-
sumiu os resultados de nove estudos (sete da Inglaterra, dois da
Dinamarca) e reuniu os resultados fundamentais de outros ca-
torze estudos sobre a biodiversidade apoiada pela agricultura or-
gânica. O relatório concluiu que a agricultura orgânica, em ter-
ras baixas, contém um nível maior de biodiversidade (tanto em
abundância quanto em diversidade das espécies) do que os siste-
mas agrícolas convencionais, inclusive de espécies que têm dimi-
nuído de maneira significativa, como é o caso de plantas silves-
tres em campos aráveis; de pássaros e a reprodução de cotovias-
do-céu; de invertebrados, incluindo artrópodes que constituem
o alimento das aves; de borboletas benéficas e aranhas. As pro-
priedades rurais orgânicas também demonstraram uma redução
importante do ataque pelos áfideos e nenhuma mudança na po-
pulação de lepidópteros maléficos (borboletas). A qualidade do
habitat foi mais favorável nas propriedades rurais orgânicas, tan-
to em termos de habitat das fronteiras do campo quanto nos
cultivos.
Foram identificadas numerosas práticas benéficas da agricul-
tura orgânica, tais como rotações dos cultivos com pradarias tem-
porais, semeadura mista de primavera e outono, aumento de
pastos permanentes, não aplicação de agrotóxicos e utilização de
adubo verde. Essas práticas podem reverter a tendência de declínio
da biodiversidade associada à agricultura convencional. Em ge-
Grupo de Ciência Independente 143

ral, as melhorias na biodiversidade foram encontradas tanto nas


zonas cultivadas quanto nas margens do campo. O informe tam-
bém indicou que provavelmente os benefícios mais importantes
ocorram nas terras altas.
O uso reduzido ou inexistente de agroquímicos na agricultu-
ra orgânica e sustentável, também permitirá o crescimento de
plantas silvestres, entre as quais há um número crescente de er-
vas que são utilizadas em medicamentos tradicionais. A Organi-
zação Mundial de Saúde estima que entre 75% e 80% da popu-
lação mundial faz uso de plantas medicinais, seja de partes ou da
planta inteira, para cuidados com a saúde. Algumas dessas espé-
cies estão em vias de extinção e é necessário concentrar esforços
para sua conservação local e, ao mesmo tempo, assegurar que
sua coleta no meio silvestre seja sustentável e continue contribu-
indo para o sustento das populações locais [169]. As plantas e
animais silvestres também fazem parte de um importante reper-
tório de alimentos e medicamentos para numerosas comunida-
des agrícolas [164].

A DIVERSIDADE AUMENTA A RODUTIVIDADE


AGRÍCOLA
A biodiversidade é parte importante e integral das propostas
de agricultura sustentável. Cada espécie de um agroecossistema
faz parte de uma rede de relações ecológicas conectada por fluxos
de materiais e de energia. Neste sentido, os diversos componen-
tes da agrobiodiversidade são multifuncionais e contribuem para
a resiliência dos sistemas de produção, enquanto oferecem servi-
ços ambientais, embora algumas espécies possam desempenhar
papel-chave, como promotoras desse processo [164]. Os servi-
ços ambientais proporcionados pela biodiversidade agrícola in-
cluem decomposição da matéria orgânica do solo, ciclagem dos
144 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

nutrientes, eficiência na produção e no rendimento da biomassa,


conservação do solo e da água, controle de pragas, polinização e
dispersão, conservação da biodiversidade, funções climáticas, ciclo
da água e influência na estrutura da paisagem.
As evidências empíricas de um estudo, iniciado em 1994,
demonstram que os ecossistemas biodiversificados são de duas a
três vezes mais produtivos do que os monocultivos [170, 171].
Nas parcelas experimentais, tanto a biomassa total quanto a da
superfície do solo aumentaram significativamente com o núme-
ro de espécies. As parcelas com alta diversidade foram bastante
resistentes à invasão e ao crescimento das ervas daninhas, porém
isso não ocorreu da mesma forma com os monocultivos e com as
parcelas de baixa diversidade. Por conseguinte, os sistemas
biodiversificados são mais produtivos e menos propensos à inva-
são de ervas daninhas.
Milhares de produtores chineses de arroz demonstraram, com
resultados surpreendentes, que o plantio de cultivos diversifica-
dos é vantajoso (comparado com os monocultivos), pois eles
duplicaram os rendimentos e praticamente eliminaram a enfer-
midade mais devastadora do arroz, sem utilizar produtos quími-
cos ou aumentar os gastos [172, 173]. Um grupo de cientistas
trabalhou em conjunto com agricultores de Yunnan, que
implementaram uma prática simples, que restringiu radicalmente
o fungo da brusone do arroz (causado por Pyricularea grisea),
que destrói milhões de toneladas de arroz e custa aos agricultores
perdas anuais da ordem de vários bilhões de dólares.
Em vez de plantar grandes extensões com um único tipo de
arroz, como é o habitual, os agricultores plantaram uma mistura
de duas variedades: um arroz híbrido Standard, que geralmente
não sucumbe ao fungo da brusone, e um arroz muito mais valio-
so pelo seu conteúdo de material glutinoso, ou mais “pegajoso”,
Grupo de Ciência Independente 145

conhecido por ser muito suscetível à praga. As variedades de ar-


roz de grande diversidade genética foram cultivadas em todas as
lavouras de cinco municípios (812 ha), em 1998, e de dez muni-
cípios (3.342 ha), em 1999.
As variedades suscetíveis à doença, ao serem plantadas com
variedades resistentes, tiveram um aumento de 89% em seu ren-
dimento, e o ataque do fungo da brusone foi 94% menos severo
do que nas lavouras de monocultura. Ambas as variedades de
arroz, glutinoso e híbrido, apresentaram menor grau de infec-
ção. A hipótese, para o arroz glutinoso, é bastante clara. Se uma
variedade é suscetível a uma doença, quanto mais concentrados
estejam esses tipos suscetíveis, mais facilmente se propaga a doen-
ça, o que é menos provável quando as plantas suscetíveis crescem
entre plantas resistentes à doença (ou seja, ocorre o efeito de
diluição). As plantas de arroz glutinoso, que crescem acima do
arroz híbrido mais curto, também se beneficiaram de condições
mais ensolaradas, mais quentes e mais secas, que refrearam o cres-
cimento dos fungos. A redução da doença na variedade híbrida
pode ser devido ao fato de o arroz glutinoso ser mais alto, blo-
queando os esporos do fungo transportados pelo ar, e a uma
maior resistência induzida (devido a diversos campos manterem
diversos patógenos sem uma única cepa dominante). O valor
bruto por hectare das misturas foi 14% maior do que dos
monocultivos híbridos e 40% maior que o dos monocultivos
glutinosos.
Em Cuba, os sistemas agrícolas integrados ou policultivos, tais
como mandioca-feijão-milho, mandioca-tomate-milho e batata-
doce-milho, têm produtividades de 1,45 a 2,82 vezes maiores do
que os monocultivos [135]. Além disso, as leguminosas melho-
ram as características físicas e químicas do solo e rompem efetiva-
mente o ciclo de infestações de pragas de insetos.
146 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Em Bangladesh, o cultivo de hortaliças, integradas aos siste-


mas de cultivos de arroz, plantadas sobre diques, não afetou o
rendimento do arroz, apesar da superfície destinada às escava-
ções, que não foram utilizadas para cultivos [161]. Ao contrário,
as hortaliças propiciaram mais nutrientes às famílias. O exce-
dente foi compartilhado com vizinhos, amigos e parentes ou foi
vendido, gerando um valor adicional de 14%.
A integração de peixes, ao sistema de arroz inundado, também
não causou redução significativa nos rendimentos do arroz, ten-
do, em alguns casos, aumentado. Os lucros líquidos da venda de
peixes alcançaram uma média de 7.354 takas (R$440,00) por agri-
cultor, por estação, mais que o lucro obtido com o arroz. Da mes-
ma forma que ocorreu com as hortaliças, os agricultores que culti-
varam arroz combinado com cultivo de peixes comeram peixe com
maior freqüência e doaram grande parte às suas redes sociais.
A biodiversidade do solo também tem papel crucial na pro-
moção de uma agricultura sustentável e produtiva, e as práticas
orgânicas ajudam a aumentá-la [174]. A cobertura morta aplica-
da com moderação em superfícies de solo degradadas e endure-
cidas, na região árida de Burkina Faso, desencadeou a atividade
de cupins, que facilitou a recuperação e reabilitação de solos de-
gradados. Os cupins, que transportaram ou se alimentaram com
a cobertura morta aplicada à superfície, melhoraram a estrutura
do solo e a infiltração de água, aumentando com isso a liberação
de nutrientes no solo. O crescimento e o rendimento do feijão-
caupi (Vigna unguiculata) foi muito maior nas parcelas com cu-
pins do que nas sem cupins. Na Índia, os fertilizantes orgânicos
e as minhocas, criadas para esse fim e aplicadas em trechos entre
as fileiras de chá, aumentaram os rendimentos entre 76% e 239%,
comparados com a fertilização inorgânica convencional. Os lu-
cros aumentaram na mesma proporção.
Grupo de Ciência Independente 147

20. SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL


E ECONÔMICA

PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL
Pesquisas publicadas na revista Nature estudaram a
sustentabilidade dos sistemas orgânico, convencional e integra-
do (que combina ambos os métodos) na produção de maçãs, em
Washington, de 1994 a 1999 [175, 176]. O sistema orgânico
ocupou o primeiro lugar em termos de sustentabilidade ambiental
e econômica; o sistema integrado, o segundo; e o sistema con-
vencional, o último. Os indicadores utilizados foram a qualida-
de do solo, o desempenho da horticultura, a rentabilidade dos
pomares, a qualidade ambiental e a eficiência energética.
As avaliações da qualidade do solo, em 1998 e 1999, para os
sistemas orgânico e integrado foram significativamente maiores
do que para o sistema convencional, devido à adição de
compostagem e cobertura morta com biomassa. Os três sistemas
deram rendimentos similares, sem diferenças observáveis em
matéria de alterações fisiológicas ou prejuízos provocados por
pragas e enfermidades. Nos três casos houve níveis satisfatórios
de nutrientes. Uma pesquisa entre os consumidores indicou que
148 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

as maçãs orgânicas eram menos ácidas, no momento da colheita,


e mais doces do que as maçãs convencionais, depois de armaze-
nadas durante seis meses.
As maçãs orgânicas foram mais lucrativas por terem preços-
prêmio de venda e um retorno mais rápido do investimento.
Embora a receita inicial, nos três primeiros anos, tenha sido
menor, em função do tempo que levou para a conversão ao siste-
ma orgânico certificado, nos três anos subseqüentes, o preço-
prêmio foi, em média, 50% acima dos preços convencionais.
Em longo prazo, o sistema orgânico recuperou seus custos mais
rapidamente. O estudo projetou que o sistema orgânico pagaria
o investimento após 9 anos, o sistema convencional, somente
após 15 anos; e o sistema integrado, depois de 17 anos.
O impacto ambiental foi avaliado por um índice para deter-
minar os possíveis impactos adversos dos agrotóxicos e caldas de
raleio químico: quanto mais alto o índice, maior o impacto ne-
gativo. A qualificação do sistema convencional foi 6,2 vezes maior
que a do sistema orgânico. Embora necessite de mais mão-de-
obra, o sistema orgânico gastou menos energia em fertilizantes,
controle de ervas daninhas e controle biológico de pragas, carac-
terizando-se como o de maior eficiência energética.
Outro estudo avaliou os aspectos financeiros e ambientais da
sustentabilidade dos sistemas orgânico, integrado e convencio-
nal, aplicando um indicador integrado econômico e ambiental a
três propriedades rurais de Toscana, Itália [177]. Em termos dos
resultados financeiros, as margens brutas dos sistemas estáveis de
produção orgânica foram maiores do que as margens brutas cor-
respondentes dos sistemas agrícolas convencionais. Os sistemas
orgânicos tiveram melhores resultados do que os sistemas inte-
grados e convencionais, no que se refere a perdas de nitrogênio,
riscos por agrotóxicos, biodiversidade de plantas herbáceas e a
Grupo de Ciência Independente 149

maioria dos outros indicadores ambientais. Os resultados pro-


porcionaram evidências de que a agricultura orgânica melhora
potencialmente a eficiência de numerosos indicadores ambientais,
além de ser remunerável. Embora não seja plenamente conclusi-
vo que a agricultura orgânica seja mais sustentável, o resultado
dos sistemas agrícolas orgânicos foi melhor que o dos sistemas
agrícolas convencionais.

AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL
Um estudo realizado em todo o continente europeu avaliou
os impactos no meio ambiente e a utilização de recursos pela
agricultura orgânica, em comparação com a agricultura conven-
cional [178]. O estudo mostrou que os resultados da agricultura
orgânica foram melhores do que os da agricultura convencional,
em relação à maioria dos indicadores ambientais utilizados. Em
nenhuma das categorias a agricultura orgânica apresentou resul-
tados inferiores à agricultura convencional.
Por exemplo, a agricultura orgânica teve melhores resultados
que a agricultura convencional em termos da diversidade da flo-
ra e da fauna, conservação da vida silvestre e diversidade de habitat.
A agricultura orgânica também promoveu uma melhor conser-
vação da fertilidade do solo e da estabilidade do sistema, em com-
paração com os sistemas convencionais. Além disso, o estudo
mostrou que a agricultura orgânica resulta em índices de lixiviação
de nitratos melhores ou similares aos da agricultura integrada ou
convencional e que não apresenta qualquer risco de contamina-
ção da água subterrânea ou de superfície, decorrente de
agrotóxicos.
O estudo da FAO [133] concluiu: “Como avaliação final, pode-
se estabelecer que a agricultura orgânica bem manejada cria condi-
ções mais favoráveis em “todos” os aspectos ambientais” (pág. 62).
150 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

A avaliação demonstrou que o conteúdo de matéria orgânica


em geral é maior nos solos orgânicos, indicando maior fertilida-
de, estabilidade e capacidade de retenção da umidade, o que re-
duz o risco de erosão e desertificação. Os solos orgânicos têm
atividade biológica e massa de microorganismos significativamen-
te maiores, acelerando a reciclagem de nutrientes e melhorando
a estrutura do solo.
O estudo revelou que a agricultura orgânica não apresenta
riscos de contaminação da água por agrotóxicos e que os índices
de lixiviação de nitrato, por hectare, são significativamente mais
baixos, quando comparados aos dos sistemas convencionais. Em
termos de utilização da energia, a agricultura orgânica tem me-
lhores resultados do que a convencional (ver a próxima seção).
A análise constatou que os recursos genéticos, incluindo in-
setos e microorganismos, aumentam quando a terra é cultivada
de maneira orgânica, ao mesmo tempo em que a flora e a fauna,
no interior e nos arredores das propriedades rurais orgânicas, são
mais diversificadas e abundantes. Ao oferecer recursos alimenta-
res e refúgio para os artrópodes e pássaros benéficos, a agricultu-
ra orgânica contribui para o controle natural das pragas. Tam-
bém contribui para a conservação e sobrevivência dos
polinizadores.
Grupo de Ciência Independente 151

21. DIMINUINDO IMPACTOS INDUTORES


DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

ENERGIA EFICIENTE, REDUÇÃO DO USO DIRETO E


INDIRETO DE ENERGIA
A agricultura “moderna” tem muito a responder sobre sua
contribuição para mudança climática, que é, de longe, o proble-
ma mais perigoso que a humanidade já enfrentou. Esse sistema
de produção tem aumentado as emissões de óxido nitroso e de
metano, que são potentes gases de efeito estufa; requer a utiliza-
ção intensiva de energia de combustível fóssil e contribui para a
perda de carbono do solo para a atmosfera [179].
As práticas de uma agricultura sustentável podem oferecer
benefícios sinérgicos para diminuir o impacto da mudança cli-
mática. A FAO considera que a agricultura orgânica melhora os
ecossistemas, permitindo que se adaptem melhor aos efeitos da
mudança climática, e tem maior potencial para reduzir as emis-
sões de gases de efeito estufa [133]. O relatório conclui que “A
agricultura orgânica tem melhores resultados que a agricultura
convencional considerada em escala por hectare, tanto no que se
refere ao consumo direto de energia (combustível e petróleo),
152 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

quanto ao indireto (fertilizantes sintéticos e agrotóxicos)”, com


alta eficiência no uso de energia (pág. 61).
Os experimentos do Instituto Rodale revelaram que a utili-
zação de energia no sistema convencional foi 200% maior do
que em cada um dos sistemas orgânicos [141]. Pesquisas realiza-
das na Finlândia mostraram que, embora a agricultura orgânica
tenha utilizado mais horas de trabalho com máquinas do que a
agricultura convencional, o consumo total de energia foi, ainda
assim, menor nos sistemas orgânicos [180]. Nos sistemas con-
vencionais, mais da metade da energia consumida na produção
de centeio foi gasta na fabricação de agrotóxicos.
Na produção de maçãs, a agricultura orgânica foi mais efici-
ente em matéria de energia do que a agricultura convencional
[175, 176]. Estudos realizados na Dinamarca compararam a agri-
cultura orgânica e convencional na produção de leite e de grãos
de cevada [181]. A energia total utilizada, por quilograma de
leite produzido, foi menor na fazenda orgânica de leite do que
na convencional, enquanto que a energia total utilizada para
cultivar um hectare de cevada orgânica de primavera foi 35%
menor do que a utilizada na convencional, na mesma unidade
de área. No entanto, o rendimento da cevada orgânica foi me-
nor; portanto, a energia utilizada para produzir um quilograma
de cevada foi apenas marginalmente menor na orgânica do que
na convencional.
Na Europa, calculou-se que as emissões de dióxido de carbo-
no (CO2) foram de 48% a 66% menores, por hectare, em siste-
mas de agricultura orgânica [133, 178], e isso foi atribuído às
características da agricultura orgânica, isto é, nenhum uso de
fertilizantes com nitrogênio mineral de alto consumo de ener-
gia, menor utilização de rações, menor uso de fertilizantes mine-
rais (P e K) e eliminação de agrotóxicos.
Grupo de Ciência Independente 153

Além disso, como a agricultura sustentável está baseada na


produção, consumo e distribuição local, desperdiça-se menos
energia no transporte dos produtos, particularmente no aéreo.
Segundo um estudo realizado em 2001, as emissões de gases de
efeito estufa, associadas ao transporte de alimentos de uma pro-
priedade rural local para um mercado local de agricultores, fo-
ram 650 vezes menores do que as emissões associadas com a ven-
da média de alimentos em supermercados [citado em 179].

MAIOR RETENÇÃO DE CARBONO


Os solos são um importante sorvedouro de CO2 atmosférico,
porém as práticas convencionais de utilização das terras agrícolas
os têm depauperado cada vez mais. A agricultura sustentável, no
entanto, ajuda a contrabalançar a mudança climática, restauran-
do o conteúdo da matéria orgânica do solo (ver “Melhores so-
los”), já que aumenta a fixação de carbono sob o solo. A matéria
orgânica se recupera pela adição de adubos animais, compos-
tagem, cobertura morta e cultivos de cobertura.
Pretty e Hine indicam que os 208 projetos avaliados por eles
acumularam cerca de 55,1 milhões de toneladas de carbono (C)
[130]. O projeto SAFS revelou que o conteúdo de carbono orgâ-
nico do solo aumentou em ambos os sistemas: orgânico e de
baixo insumos externos [143], enquanto que, na Califórnia, o
estudo de 20 propriedades rurais comerciais revelou que os cam-
pos orgânicos tinham 25% mais carbono orgânico [148].
O mesmo foi comprovado no estudo de 15 anos do Instituto
Rodale, segundo o qual os níveis de carbono no solo aumenta-
ram nos dois sistemas orgânicos, mas não no sistema convencio-
nal [141]. Os pesquisadores concluíram que os sistemas orgâni-
cos demonstraram uma capacidade importante de absorver e re-
ter carbono, aumentando a possibilidade de que práticas agrícolas
154 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

sustentáveis possam auxiliar na redução do impacto de aqueci-


mento global.

MENOS EMISSÕES DE ÓXIDO NITROSO


A FAO também considerou que a agricultura orgânica au-
menta a possibilidade de emitir menos óxido nitroso (N2O) [133],
um outro gás importante que contribui para aumentar o efeito
estufa e, também, uma causa da diminuição do ozônio
estratosférico. Isso se deve a menores insumos com nitrogênio,
menores teores de nitrogênio proveniente do adubo orgânico
devido à baixa densidade de animais, maior razão entre quanti-
dades de carbono e nitrogênio (C/N) de adubo orgânico aplica-
do e menos nitrogênio mineral disponível, no solo, como uma
fonte de desnitrificação, e captação eficiente do nitrogênio mó-
vel nos solos, devido a cultivos de cobertura.
Grupo de Ciência Independente 155

22. PRODUÇÃO EFICIENTE E RENTÁVEL

AUMENTO DA PRODUTIVIDADE
Qualquer diminuição da produção na agricultura orgânica é
mais do que compensada pelos ganhos em eficiência e os benefí-
cios ecológicos que proporciona, e pelos menores custos que a
tornam um empreendimento rentável. O estudo suíço revelou
que o insumo de fertilizantes e energia foi reduzido entre 34% e
53%, e o insumo de agrotóxicos em 97%, enquanto o rendi-
mento médio do cultivo diminuiu apenas 20% nos 21 anos, o
que indica uma eficiente produção e uso dos recursos [149, 150].
O enfoque orgânico foi comercialmente viável em longo prazo,
produzindo mais alimentos por unidade de energia ou recursos.
Os dados demonstram que as propriedades rurais menores
produzem muito mais por unidade de superfície do que as pro-
priedades rurais maiores (em geral, monoculturas, típicas da agri-
cultura convencional) [136]. Embora o rendimento por unidade
de superfície de um cultivo possa ser menor em uma pequena
propriedade do que em uma grande monocultura, a produção
total por unidade de superfície, em geral composta de mais de
156 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

uma dezena de cultivos e diversos produtos animais, pode ser


muito mais elevada. As pequenas propriedades são, também, mais
eficientes do que as grandes em termos de uso da terra e do “fa-
tor total da produtividade”, uma média da eficiência do uso de
todos os diversos fatores que integram a produção, incluindo
terra, mão-de-obra, insumos, capital etc.
Os estudos realizados na Bolívia demonstram que, embo-
ra a produtividade seja maior nas lavouras de batata fertiliza-
das com produtos químicos e trabalhadas com maquinário,
os custos de energia são maiores e os benefícios econômicos
líquidos são menores do que quando se utilizam leguminosas
nativas, como cultivos de rotação [135]. As pesquisas indi-
cam que os agricultores preferem este último recurso alterna-
tivo porque ele otimiza a utilização de recursos escassos, de
mão-de-obra e de capital disponível, e é acessível, inclusive,
aos produtores pobres.

CUSTOS MENORES, LUCROS MAIORES


Dois experimentos, realizados em Minnesota, avaliaram uma
rotação de milho-soja de dois anos e uma rotação de milho-soja-
aveia/alfafa-alfafa de quatro anos, sob quatro estratégias de ma-
nejo: insumo zero, baixa quantidade de insumos, alta quantidade
de insumos e insumos orgânicos [182]. Ao longo de sete anos
(de 1993 a 1999), as produtividades de milho e soja (média de
dois ensaios), na estratégia orgânica de quatro anos, correspondeu
a 91% e 93%, e a 81% e 84%, respectivamente, da estratégia de
dois anos com alta quantidade de insumos. No entanto, as pro-
dutividades da aveia foram similares para as estratégias de quatro
anos, tanto orgânica quanto com alta quantidade de insumos.
As produtividades da alfafa, na estratégia orgânica de quatro anos,
corresponderam a 92% das obtidas na estratégia de alta quanti-
Grupo de Ciência Independente 157

dade de insumos de quatro anos, num ensaio, sendo que num


segundo ensaio as produtividades foram as mesmas.
Apesar da leve redução dos rendimentos do milho e da soja,
a estratégia orgânica teve menores custos de produção do que a
estratégia da alta quantidade de insumos. Por conseguinte, o lu-
cro líquido, sem considerar o preço-prêmio do orgânico, por sua
condição de produto de qualidade, foi equivalente nas duas es-
tratégias. Os cientistas indicaram que os sistemas de produção
orgânica podem ser competitivos com os convencionais.
Um amplo levantamento de vários estudos comparativos da
produção de cereais e soja, realizado desde 1978, conduzido por
seis universidades do Meio-Oeste dos Estados Unidos, revelou
que, em geral, a produção orgânica era equivalente e, em alguns
casos, melhor do que a convencional [183]. Os sistemas orgâni-
cos tiveram rendimentos maiores do que os sistemas convencio-
nais, que, tipicamente, têm produção contínua de cultivos (ou
seja, sem rotação), e rendimentos iguais ou menores do que os
sistemas convencionais, que incluíram rotações de cultivos. Nos
climas mais secos, os sistemas orgânicos tiveram rendimentos
maiores, já que foram mais resistentes à estiagem do que os siste-
mas convencionais.
Os sistemas de cultivo orgânico foram, sempre, mais rentá-
veis do que os sistemas convencionais mais comuns, se for
contabilizado o melhor preço pela condição de orgânico. Quan-
do o preço extra não foi contabilizado, os sistemas orgânicos fo-
ram igualmente mais produtivos e rentáveis na metade dos estu-
dos. Isso foi atribuído aos menores custos de produção e à capa-
cidade dos sistemas orgânicos de superarem os convencionais
em zonas mais secas, ou durante os períodos de estiagem. O autor
concluiu que “os sistemas de produção orgânica são competiti-
vos com respeito aos sistemas de produção convencionais mais
158 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

comuns” e afirma que, “se os agricultores obtêm maiores preços


no mercado por cereais e soja orgânicos de alta qualidade, sua
produção orgânica geralmente lhes proporciona maiores lucros
do que a produção não orgânica de cereais e soja” (pág. 2).
Os resultados de 15 anos de estudos do Instituto Rodale de-
monstraram que, depois de um período de transição com rendi-
mentos mais baixos, os sistemas orgânicos foram financeiramen-
te competitivos com relação ao sistema convencional [141].
Embora haja maiores probabilidades de que os custos da transi-
ção afetem o aspecto financeiro geral da propriedade rural por
alguns anos, os lucros projetados variaram de um pouco abaixo
até substancialmente acima daqueles do sistema convencional,
mesmo quando as análises econômicas não levaram em conta o
maior preço pago aos produtos orgânicos. Os lucros mais eleva-
dos das propriedades rurais orgânicas vieram, em grande medi-
da, dos maiores rendimentos do milho, que quase duplicaram,
depois do período de transição. Quando os preços ou os rendi-
mentos foram baixos, os agricultores orgânicos sofreram menos
do que os convencionais e tiveram menores flutuações em suas
rendas, já que tinham diversos cultivos, além do milho, para ven-
der. Os gastos das propriedades orgânicas foram significativa-
mente menores do que os da convencional. Essa última gastou
95% a mais em fertilizantes e agrotóxicos. Os custos gerais de
produção, nas propriedades orgânicas, foram 26% menores.
Grupo de Ciência Independente 159

23. MAIOR SEGURANÇA ALIMENTAR E


BENEFÍCIOS PARA AS COMUNIDADES LOCAIS

MAIOR PRODUÇÃO LOCAL DE ALIMENTOS


Embora a produção mundial de alimentos seja adequada,
muitos passam fome porque uma maior quantidade de alimen-
tos não significa, automaticamente, maior segurança alimentar.
O que importa é quem produz os alimentos, quem tem acesso à
tecnologia e ao conhecimento para produzi-los e quem tem o
poder aquisitivo para comprá-los [130]. Os agricultores pobres
não podem pagar pelas tecnologias “modernas” de altos custos
que, teoricamente, aumentam a produtividade.
Muitos agricultores apresentam “atrasos na produtividade”, não
porque careçam das sementes “milagrosas” que contêm seu pró-
prio agrotóxico ou toleram enormes doses de herbicida, mas, sim,
porque foram empurrados para terras marginais, irrigadas unica-
mente pela chuva e porque enfrentam políticas macroeconômicas
e estruturas construídas sobre desigualdades históricas e que se
opõem, cada vez mais, à produção de alimentos por pequenos agri-
cultores [184].
Como tal, sua agricultura é melhor caracterizada como “com-
160 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

plexa, diversa e propensa ao risco” [185], pelo fato de os agricul-


tores terem adaptado tecnologias agrícolas às suas circunstâncias
variáveis, porém únicas, em termos de clima local, topografia,
solos, biodiversidade, sistemas de cultivo, recursos etc. São esses
agricultores, já propensos ao risco, os que serão mais prejudica-
dos pelos riscos dos cultivos transgênicos [184].
As propostas da agricultura sustentável devem, pois, permitir
aos agricultores melhorarem a produção local de alimentos com
tecnologias e insumos de baixo custo, que sejam facilmente aces-
síveis, sem causarem danos ao ambiente. Esse foi o caso, como
indicado nos estudos de Pretty e Hine [130]. A maioria dos pro-
jetos e das iniciativas de agricultura sustentável resultou em au-
mentos importantes na produção doméstica de alimentos; para
alguns, na melhoria do rendimento; para outros, como aumento
da intensidade do cultivo ou da diversificação dos produtos.
As evidências mostraram que:
· A produção média de alimentos por família aumentou 1,71
tonelada por ano (até 73%), para 4,42 milhões de agricul-
tores, em 3,58 milhões de hectares.
· O aumento da produção de alimentos foi de 17 toneladas
por ano (um aumento de 150%), para 146 mil agriculto-
res, em 542 mil hectares de cultivo de tubérculos (batata,
batata-doce e mandioca).
· A produção total aumentou 150 toneladas por família (um
aumento de 46%), nas propriedades rurais maiores na
América Latina (com 90 ha, em média).
O estudo revelou que, na medida em que a provisão de ali-
mentos aumentou, também aumentou o consumo doméstico,
com benefícios diretos à saúde, em especial para mulheres e crian-
ças. Além disso, 88% dos 208 projetos fizeram uma melhor uti-
lização dos recursos naturais disponíveis no lugar, e 92% deles
Grupo de Ciência Independente 161

melhoraram o capital humano, através de programas de forma-


ção. Em mais da metade dos projetos, as pessoas trabalharam
coletivamente.

APRENDENDO COM OS AGRICULTORES


As propostas da agricultura sustentável reconhecem o valor
do conhecimento local e tradicional, bem como a experiência e a
inovação dos agricultores. A importância e o valor de se apren-
der com os agricultores e das pesquisas agrícolas participativas
conduzidas por agricultores estão bem estabelecidos em concei-
tos tais como “primeiro o agricultor” [185, 186].
Os estudos de caso e as experiências de inovações agroecológicas
bem sucedidas na África, América Latina e Ásia [187] oferecem
evidências de que a agricultura de baixos insumos externos, utili-
zando práticas agroecológicas, poderia dar uma contribuição im-
portante para alimentar o mundo, ao longo dos próximos 30 a 50
anos. Por depender principalmente dos recursos e dos conheci-
mentos locais, os agricultores podem aumentar substancialmente
a produtividade, às vezes duplicando ou triplicando a produção.
Para citar um exemplo, na África, na zona árida de Mali, as
práticas de conservação do solo e da água e de agrofloresta têm
aumentado o rendimento dos cereais, em alguns casos, de 300
kg para 1.700 kg por hectare, quase o dobro do nível necessário
para satisfazer as necessidades alimentícias básicas. Também se
deu prioridade à conservação das variedades tradicionais de se-
mentes e da biodiversidade, através da avaliação realizada pelo
agricultor e pelos bancos genéticos comunitários ou locais.
As pesquisas da FAO destacam a importância das contribui-
ções realizadas pelos agricultores pobres em todo o mundo [133].
A agricultura orgânica não certificada, praticada por milhões de
povos indígenas, camponeses e pequenos agricultores familiares,
162 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

tem dado uma contribuição fundamental à segurança alimentar


regional: na América Latina, ela representa mais de 50% da pro-
dução de milho, feijão, mandioca e batata; na África, a maioria
dos cereais, raízes e tubérculos; na Ásia, a maior parte da produção
de arroz.
Estudos de caso na Índia, Brasil, Irã, Tailândia e Uganda de-
monstram como o conhecimento tradicional, a inovação e as
propostas agroecológicas têm trazido numerosos benefícios: maior
produtividade, melhor saúde ambiental e fertilidade do solo,
maior biodiversidade, benefícios econômicos, segurança alimen-
tar, melhores relações sociais dentro das comunidades e recupe-
ração das práticas tradicionais e sustentáveis de agricultura [133].
Agricultores da Etiópia estão adotando medidas para garan-
tir sua segurança alimentar, baseando-se em seus próprios co-
nhecimentos [188]. Em Ejere, os agricultores voltaram a plantar
suas próprias variedades de trigo local, teff (um cereal nativo da
da Etiópia – Eragrotis abyssinica) e cevada, depois que as chama-
das “variedades modernas de alto rendimento”, de fato, resulta-
ram em menores rendimentos e mais problemas. Na zona de
Butajira, os agricultores estão demonstrando que é possível cul-
tivar de maneira intensiva e sustentável, para obterem uma quan-
tidade de alimentos suficiente que satisfaça as necessidades da
população. Eles têm conseguido isso, utilizando cultivos locais
selecionados para resistir às enfermidades, suportar as estiagens e
muitas outras características desejáveis, intercalando cultivos e
integrando o manejo de gado. Em Worabe, os agricultores man-
têm um sistema agrícola complexo, sustentável e indígena, que
garante sua segurança alimentar. O sistema baseia-se no enset
(Ensete ventricosum, planta da mesma família da banana e do-
mesticada por agricultores da Etiópia), uma planta local de múl-
tiplas utilidades e muito resistente às secas.
Grupo de Ciência Independente 163

MELHORES RENDAS, MAIOR SEGURANÇA ALIMENTAR


As evidências apresentadas por centenas de projetos de
desenvolvimento local demonstram que o aumento da
produtividade agrícola, pelas práticas agroecológicas, não apenas
aumenta a quantidade de alimentos, mas também aumenta a
renda, reduzindo assim a pobreza, melhorando o acesso aos
alimentos, reduzindo a desnutrição e melhorando a vida das
populações pobres [189]. Os sistemas agroecológicos promovem
níveis de produção total mais estáveis, por unidade de superfície,
do que os sistemas que requerem grande quantidade de insumos;
para os pequenos agricultores e suas famílias, os sistemas orgânicos
representam taxas de retorno mais favoráveis, melhor
remuneração do trabalho e obtenção de outras vantagens que
lhes permitem uma vida digna, assim como, também, asseguram
a proteção e conservação do solo e melhoram a biodiversidade
agrícola [190].
Os sistemas de produção integrada e as propriedades rurais
diversificadas têm ajudado os agricultores da região Centro-Sul
do Chile a conseguirem auto-suficiência alimentar durante todo
o ano, enquanto recuperam a capacidade produtiva da terra [135].
Foram instalados pequenos sistemas de granjas-modelo, que con-
sistem em policultivos e seqüências de rotação de forragem e
cultivos alimentícios, bosques e árvores frutíferas, e a incorpora-
ção da criação de animais.
A fertilidade do solo melhorou e não apareceram problemas
de pragas ou enfermidades. As árvores frutíferas e os cultivos de
cobertura obtiveram rendimentos maiores do que a média, e a
produção de leite e ovos excedeu amplamente a das propriedades
rurais convencionais de altos insumos. Para uma família média
típica, esses sistemas produziram, a mais: 250% de proteínas,
entre 80% e 550% de vitaminas A e C, respectivamente, e 330%
164 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

de cálcio. Vendendo toda a produção agrícola, aos preços de ata-


cado, uma família poderia gerar um ingresso mensal líquido 1,5
vez maior do que o salário mínimo mensal do Chile, dedicando
à lavoura apenas poucas horas por semana. O tempo livre pode-
ria ser utilizado em outras atividades geradoras de renda.
A agricultura orgânica pôde melhorar a renda, a lucratividade
e o retorno do trabalho: eliminando ou reduzindo a necessidade
de aquisição de insumos; com a diversificação (em geral, incor-
porando um novo elemento produtivo) e otimização da produ-
tividade; mantendo ou melhorando a biodiversidade na proprie-
dade e fora dela, permitindo aos agricultores comercializarem
cultivos não plantados, insetos e animais; e pelas vendas em um
mercado que pague melhor, pela condição de orgânico [191].
Um estudo de caso, no Senegal, demonstrou que a produtivida-
de pôde ser aumentada várias vezes e houve menores variações
entre um ano e outro, com conseqüentes melhoras na segurança
alimentar familiar. Da mesma forma, uma cooperativa mexicana
de café, que participa no comércio justo e que adotou práticas
orgânicas, permitiu que os pequenos produtores de café superas-
sem as desvantagens da degradação do solo e o baixo rendimen-
to, obtendo acesso a um mercado de produtos especiais.

GERANDO DINHEIRO PARA A ECONOMIA LOCAL


A circulação de dinheiro de um projeto de cestas de produtos
orgânicos de Cusgarne Organics (Inglaterra) demonstrou as van-
tagens obtidas pela compra local para a comunidade como um
todo [192]. A análise econômica acompanhou o percurso dos
ingressos do projeto, monitorando exatamente onde foi gasto o
dinheiro, quanto desse dinheiro foi destinado a gastos “locais” e,
em seguida, o rastreou até a etapa seguinte de gastos.
Calculou-se que para cada libra gasta em Cusgarne Organics
Grupo de Ciência Independente 165

foram geradas 2,59 libras para a economia local. Ao contrário,


um estudo, no qual estavam envolvidos os grandes supermerca-
dos Asda e Tesco, revelou que, para cada libra gasta em um su-
permercado, gerava-se somente 1,40 libra para a economia local.
O estudo conclui: “Os dados demonstram que o efeito líquido,
para a economia local, dos gastos realizados em Cusgarne
Organics quase duplica o efeito da mesma quantia gasta em
empresas não locais e nacionais” (pág. 16).
24. ORGÂNICOS PELA SAÚDE

MENOS RESÍDUOS QUÍMICOS


Um extenso levantamento de pesquisas científicas, realizadas
pela Associação de Solos da Inglaterra, demonstrou que, em mé-
dia, os alimentos orgânicos são melhores que os não orgânicos
[193]. Em primeiro lugar, são mais seguros, já que a agricultura
orgânica proíbe a aplicação rotineira de agrotóxicos, de modo que
muito raramente são encontrados resíduos químicos. Ao contrá-
rio, os alimentos não orgânicos têm probabilidades de estarem
contaminados com resíduos, que costumam ocorrer em combina-
ções potencialmente perigosas. A Sociedade de Alergia e Medicina
Ambiental e Nutricional da Grã-Bretanha (British Society for
Allergy, Environmental and Nutritional Medicine), comentando
sobre o relatório, afirma: “Faz muito tempo que pensamos que as
deficiências de micronutrientes, que comumente observamos em
nossos pacientes, têm sua origem no esgotamento mineral dos so-
los, como conseqüência da agricultura intensiva, e suspeitamos
que as exposições aos agrotóxicos estão contribuindo para o au-
mento alarmante de alergias e outras enfermidades”.
168 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Neurotoxicidade, alteração do sistema endócrino, carcinoge-


nicidade e supressão do sistema imunológico (ver também “Peri-
gos dos herbicidas”) são alguns dos efeitos negativos dos
agrotóxicos sobre a saúde. É menos fácil estabelecer quais são os
impactos da exposição a resíduos de agrotóxicos, através de ali-
mentos, nos níveis que ocorrem dentro e sobre eles, mas é neces-
sário adotar um critério de cautela. Embora haja níveis de segu-
rança recomendados para os agrotóxicos, os estudos do próprio
governo da Inglaterra têm demonstrado que os níveis médios de
resíduos nos alimentos podem estar subestimados.
Uma pesquisa também revelou que a exposição aos agrotóxicos
afeta a função reprodutiva masculina, provocando a diminuição
da capacidade de fertilização do esperma e uma queda nos índi-
ces de fertilização [194]. Da mesma forma, os membros de uma
associação de agricultores orgânicos dinamarqueses, cujo consu-
mo de produtos lácteos orgânicos era, pelo menos, 50% do con-
sumo total de produtos lácteos, tinham maior densidade de es-
perma [195]. Em outro estudo, a concentração de esperma foi
43,1% mais elevada entre homens que consumiam alimentos
produzidos orgânicamente [196].
As crianças, em especial, poderiam se beneficiar dos alimen-
tos orgânicos. Alguns cientistas monitoraram crianças de pré-
escola em Seattle, Washington, para avaliar a exposição a
agrotóxicos organofosforados (OP), através dos alimentos em sua
dieta [197]. A concentração total de metabolito de dimetil foi,
aproximadamente, seis vezes maior nas crianças com dietas con-
vencionais do que naquelas que tinham uma dieta orgânica. As
estimativas das doses calculadas sugerem que o consumo de fru-
tas, hortaliças e sucos orgânicos pode reduzir os níveis de exposi-
ção das crianças, até situá-los abaixo dos recomendados pelas
diretrizes da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos
Grupo de Ciência Independente 169

(EPA), mudando, assim, a exposição de um patamar de risco


incerto para um patamar de risco mínimo. O estudo concluiu
que o consumo de produtos orgânicos poderia ser uma forma
relativamente simples para os pais reduzirem a exposição das crian-
ças aos agrotóxicos organofosforados.

MAIS SAUDÁVEIS E MAIS NUTRITIVOS


Adicionalmente, a produção de alimentos orgânicos proíbe
a utilização de aditivos artificiais, tais como gorduras
hidrogenadas, ácido fosfórico, aspartame e glutamato
monossódico, que têm sido associados a problemas de saúde
tão diversos, como enfermidades cardíacas, osteoporose, enxa-
quecas e hiperatividade [193].
Além disso, enquanto os vegetais absorvem uma ampla gama
de minerais do solo, os fertilizantes artificiais substituem apenas
alguns dos principais minerais. Há um nítido decréscimo, em
longo prazo, no conteúdo de traços de minerais de frutas e vege-
tais, a exigir pesquisas mais profundas sobre a influência das prá-
ticas agrícolas neste sentido. O estudo da Associação de Solos
[193] revelou que, em geral, os alimentos orgânicos, em compa-
ração com os convencionais, têm maior quantidade de vitamina
C, maiores níveis de minerais e maior quantidade de
fitonutrientes, componentes dos vegetais que podem combater
o câncer (ver mais adiante).
Os produtos convencionais também tendem a ter maior quan-
tidade de água do que os produtos orgânicos, que contêm mais
matéria seca (em média, 20% a mais) no peso total [193]. Desse
modo, o custo mais elevado de produtos orgânicos frescos em
parte está compensado pela diferença na quantidade de nutrien-
tes, já que, quem compra produtos convencionais está pagando
um peso extra de água e obtém somente 83% da quantidade de
170 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

nutrientes que geralmente se encontra nos produtos orgânicos.


O maior conteúdo de água também tende a diluir o conteúdo
em nutrientes.
Os ensaios com humanos e animais alimentados com
produtos orgânicos demonstram que há uma diferença real para
a saúde e que os tratamentos alternativos para o câncer têm
conseguido bons resultados, recomendando o consumo exclusivo
de alimentos orgânicos. O estudo [193] faz referências a evidências
clínicas recentes, obtidas por médicos e nutricionistas que, após
administrarem tratamentos alternativos para o câncer, observaram
ser essencial uma dieta completamente orgânica para a obtenção
de bons resultados. As terapias nutricionais para o câncer evitam
as substâncias poluentes e as toxinas, tanto quanto possível,
promovendo consumo exclusivo de alimentos cultivados
organicamente e aumentos no consumo de nutrientes. Testes com
a alimentação em animais também têm demonstrado uma maior
saúde reprodutiva, melhor crescimento e melhor recuperação das
enfermidades.
Um levantamento bibliográfico de 41 estudos e 1.240 com-
parações [198] encontrou diferenças estatisticamente significati-
vas, entre os cultivos orgânicos e convencionais quanto ao con-
teúdo em nutrientes. Isso foi atribuído, em primeiro lugar, às
diferenças no manejo da fertilidade do solo e seus efeitos na eco-
logia do solo e no metabolismo das plantas. Os cultivos orgâni-
cos continham uma quantidade significativamente maior dos
nutrientes vitamina C, ferro, magnésio e fósforo; e significativa-
mente menor de nitratos (um componente tóxico), quando com-
parados aos cultivos tradicionais. Houve tendência não signifi-
cativa mostrando menor quantidade de proteínas nos cultivos
orgânicos. No entanto, esses cultivos eram de melhor qualidade
e tinham maior conteúdo em minerais importantes, do ponto
Grupo de Ciência Independente 171

de vista nutricional, com menor quantidade de alguns metais


pesados, comparados com os convencionais.

AJUDANDO A COMBATER O CÂNCER


Os produtos fenólicos vegetais (flavonóides) são metabolitos
secundários, que protegem as plantas contra a predação por in-
setos, a infecção por bactérias e fungos e a fotooxidação. Desco-
briu-se que esses produtos químicos vegetais são eficazes na pre-
venção do câncer e das enfermidades cardíacas, bem como no
combate a disfunções neurológicas, relacionadas com o envelhe-
cimento. Um artigo científico recente [199, 200] comparou o
conteúdo fenólico total (TP) de amoras pretas (marionberries),
morangos e milho cultivados organicamente e por outros méto-
dos sustentáveis, com as mesmas espécies cultivadas com práti-
cas agrícolas convencionais. A análise estatística dos resultados
indicou níveis significativamente mais elevados de TP nos ali-
mentos cultivados organicamente do que nos produzidos pela
agricultura convencional.
Um estudo anterior comparando os componentes antioxidantes
de pêssegos e pêras, orgânicos e convencionais, constatou uma me-
lhora no sistema de defesa antioxidante das plantas, ocorrida como
conseqüência das práticas de cultivo orgânico [201]. Isso, provavel-
mente, confere proteção contra possíveis danos ao fruto, quando a
planta é cultivada sem agrotóxico. Portanto, a agricultura orgânica,
ao eliminar a utilização rotineira de agrotóxicos e fertilizantes quí-
micos, poderia criar condições favoráveis para a produção de fenólicos
vegetais, que contribuem para melhorar a saúde.
Esses e muitos outros benefícios à saúde, oferecidos pelos ali-
mentos orgânicos, têm sido usados para chamar a atenção do go-
verno da Inglaterra [201, 203]. Entre os temas colocados estão os
custos ocultos da agricultura convencional, que não são
172 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

contabilizados no preço. Se os custos ocultos fossem considerados,


os alimentos produzidos de maneira convencional demonstrariam
ser mais caros que os alimentos orgânicos. Por exemplo, o impedi-
mento da epidemia de encefalopatia espongiforme bovina (“doença
da vaca louca”), pela agricultura orgânica, teria poupado 4,5 bi-
lhões de libras (ou aproximadamente 23,5 bilhões de reais). Ne-
nhum animal, nascido e criado em uma gleba orgânica, contraiu
encefalopatia espongiforme bovina, na Inglaterra.
Grupo de Ciência Independente 173

25. CONCLUSÃO DA PARTE 3

Os modelos e métodos de agricultura sustentável podem tra-


zer, com baixo custo, um aumento substancial na produção de
alimentos, além de serem econômica, ambiental e socialmente
viáveis e contribuírem, positivamente, para o sustento local, para
a melhoria da saúde e do meio ambiente.
Na medida em que a desigualdade entre países e povos é a
verdadeira causa estrutural da fome, qualquer método que im-
plique em aumentar a produção de alimentos, aprofundando
esta desigualdade, está destinado ao fracasso em reduzir a fome.
Ao contrário, somente as tecnologias que tenham efeitos positi-
vos na distribuição de riqueza, ingressos e recursos podem redu-
zir verdadeiramente a fome [4]. Felizmente, essas tecnologias já
existem em propostas sustentáveis para a agricultura.
A agroecologia, a agricultura sustentável e a produção orgâ-
nica funcionam não apenas para os agricultores do mundo de-
senvolvido, mas especialmente para os agricultores dos países em
desenvolvimento. Como demonstra o estudo da FAO [133],
existe uma boa base para construir e intensificar esforços tanto
174 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

para a agricultura orgânica certificada, quanto para a não certifi-


cada. As tecnologias e os processos sociais para as melhorias lo-
cais estão cada vez mais testados e consolidados, já mostrando
benefícios, em termos de maior produtividade. Os exemplos
apresentados aqui são, apenas, uma mostra de inumeráveis expe-
riências bem sucedidas de práticas agrícolas sustentáveis em es-
cala local. Representam incontáveis demonstrações de talento,
criatividade e capacidade científica de diversas comunidades ru-
rais [132].
Existe, então, a necessidade urgente de concentrar os esfor-
ços, a pesquisa, os recursos e o apoio de políticas públicas para a
agroecologia, para a agricultura sustentável e para a agricultura
orgânica, particularmente fortalecendo a produção pelos próprios
agricultores, para atendimento às necessidades locais. O desafio
é ampliar e multiplicar os casos de sucesso, bem como torná-los
acessíveis de forma ampla e eqüitativa. É necessário questionar o
modelo da agricultura “moderna” e os cultivos transgênicos, tão
freqüentemente nas mãos de poucas corporações gigantes. É ne-
cessário que se eliminem os subsídios e as políticas de incentivo
para os sistemas convencionais, que fazem uso de produtos quí-
micos e de transgênicos, e que sejam aplicados freios na drena-
gem de recursos, para longe das alternativas [4]. Também é ne-
cessário estar prevenido diante da possibilidade de que os inte-
resses poderosos se apropriem da agricultura orgânica, devendo-se,
portanto, apoiar todo tipo de agricultura sustentável, especial-
mente a dos pequenos agricultores.
Grupo de Ciência Independente 175

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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para a liberação de organismos transgênicos e o apoio à agricultura sustentável orgâ-
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APÊNDICE

DECLARAÇÃO DO GRUPO DE CIÊNCIA


INDEPENDENTE
PRONUNCIADA EM 10 DE MAIO DE 2003, EM LONDRES.

O Grupo de Ciência Independente (ISP) está constituído por


um grupo de cientistas de diversas disciplinas, comprometidos com:

1. Promover a ciência para o bem público, mantendo-se in-


dependente de interesses comerciais ou outros interesses especiais,
ou de controle governamental.
Cremos firmemente que a ciência deve prestar contas à socie-
dade civil; que todos e todas – independentemente de seu sexo,
idade, grupo étnico, religião ou social – e todos os setores da
sociedade civil deveriam participar na adoção de decisões acerca
de todos os temas relacionados com a ciência, desde a pesquisa
científica até políticas relativas à ciência e às tecnologias.
Cremos que a opinião pública deve poder ter acesso, em tempo
e em forma, a uma informação científica precisa, sem ser media-
da pela tergiversação nem pela cesura.
2. Conservar a máxima integridade e imparcialidade na ciência.
Subscrevemos os princípios da honestidade, abertura e plura-
lismo na prática da ciência. Deveria haver uma revisão inter pares
aberta dos trabalhos publicados, e respeito e proteção para aque-
les cujas pesquisas questionem o paradigma convencional ou da
opinião majoritária. É necessário que as discrepâncias científicas
sejam discutidas de maneira aberta e democrática.
Comprometemo-nos a apoiar as normas mais exigentes da
pesquisa científica e a assegurar que os fundos para pesquisa não
sejam desviados ou distorcidos por imperativos comerciais ou
políticos.
3. Avançar naquelas ciências que tendam a um mundo sus-
tentável, eqüitativo e pacífico, e que melhore a vida de todos os
seus habitantes.
Respeitamos o sentido sagrado da vida humana, buscamos
reduzir ao mínimo os danos à qualquer criatura viva e protege-
mos o ambiente. Afirmamos que a ciência deve contribuir para o
bem-estar físico, social e espiritual de todos e todas, em todas as
sociedades.
Comprometemo-nos a ter uma perspectiva ecológica que leve
devidamente em conta a complexidade, a diversidade e a
interdependência de toda a natureza.
Subscrevemos o princípio de precaução: quando há uma sus-
peita razoável de prejuízo grave ou irreversível, não se deve utilizar
da falta de consenso científico para postergar ações preventivas.
Rejeitamos os produtos científicos que servem a fins milita-
res agressivos, promovam o imperialismo comercial ou lesem a
justiça social.
O GRUPO DE TRANSGÊNICOS DO ISP

O Grupo de Transgênicos do ISP está integrado por cientis-


tas que trabalham em genética, ciências biológicas, toxicologia e
medicina, e por representantes da sociedade civil preocupados
com as conseqüências nocivas das modificações genéticas de plan-
tas e animais e com as tecnologias vinculadas, e sua rápida
comercialização na agricultura e na medicina sem o devido pro-
cesso de uma adequada avaliação científica e de consulta e con-
sentimentos públicos.
Consideramos que os seguintes aspectos são especialmente
lamentáveis e inaceitáveis:
· Falta de informação pública crítica sobre a ciência e a
tecnologia da modificação genética.
· Falta de responsabilidade ante o público por parte da co-
munidade científica dedicada à engenharia genética.
· Falta de investigação científica independente e desinteres-
sada dos riscos e da avaliação dos transgênicos.
· Atitudes parciais de organismos regulamentadores e vin-
culados com a informação pública, que parecem mais in-
teressados em difundir propaganda das empresas do que
oferecer informação vital.
· Conflitos de interesses comerciais e políticos que permeiam
tanto a investigação quanto a regulamentação dos
transgênicos.
· A exclusão e a difamação dos cientistas que tentam trans-
mitir ao público informação resultante de pesquisas, que
são consideradas lesivas para a indústria.
· A negação e a omissão permanente de abundantes provas
científicas sobre os riscos dos transgênicos para a saúde e o
meio ambiente por parte de quem propõe a modificação
genética e de organismos assessores e de regulamentação,
supostamente desinteressados.
· As constantes afirmações das empresas de biotecnologia
acerca dos benefícios oferecidos pelos transgênicos, e a rei-
teração dessas afirmações por parte do establishment cien-
tífico, frente à abundância de provas de que os transgênicos
têm fracassado, tanto no campo quanto no laboratório.
· A renúncia em reconhecer que as empresas já têm diminuí-
do o financiamento de pesquisas econômicas no campo
dos transgênicos, e que as multinacionais da biotecnologia
(e seus acionistas), bem como os consultores em matéria
de investimento, questionam a conveniência do “negócio
dos transgênicos”.
· Ataques e descarte sumário das profusas provas existentes
que destacam os benefícios de diversas abordagens agríco-
las sustentáveis para a saúde e para o meio ambiente, bem
como para a segurança alimentar e o bem-estar social dos
agricultores e de suas comunidades locais.
GRUPO DE TRANSGÊNICOS DO ISP – LISTA DE
MEMBROS

Professor Miguel Altieri – Professor de Agroecologia da Univer-


sidade de Califórnia, Berkeley, EUA.
Dr. Michael Antoniou – Professor titular da Cátedra de Genéti-
ca Molecular, Escola de Medicina GKT, King’s College, Lon-
dres.
Dra. Susan Bardocz – Bioquímica, ex-integrante do Instituto de
Pesquisa Rowett, Escócia.
Professor David Bellamy OBE – Botânico de renome internacio-
nal, ambientalista, comunicador, autor e ativista; recebeu nume-
rosos prêmios; presidente e vice-presidente de várias organiza-
ções ecologistas e ambientalistas.
Dra. Elizabeth Bravo V. – Bióloga, pesquisadora e ativista em te-
mas de biodiversidade e transgênicos; co-fundadora da Ação Eco-
lógica; professora da Universidade Politécnica Salesiana, Equador.
Professor Joe Cummins – Professor emérito de Genética, Uni-
versidade de Western Ontário, Canadá.
194 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Dr. Stanley Ewen – Histopatologista consultor no Grampian


University Hospitals Trust; ex-professor agregado de Patologia, Uni-
versidade de Aberdeen; Histopatologista-chefe da seção Grampian
do Colorectal Cancer Screening Pilot Project da Escócia.
Edward Goldsmith – Recebeu, entre outras distinções, o prê-
mio “Right Livelihood”; ambientalista, acadêmico, autor e edi-
tor fundador de The Ecologist.
Dr. Brian Goodwin – Acadêmico residente, Schumacher College,
Inglaterra.
Dra. Mae-Wan Ho – Co-fundadora e diretora do Instituto Ciên-
cia em Sociedade, editora da revista Science in Society; assessora
científica da Rede do Terceiro Mundo e integrante da Lista de
Especialistas do Protocolo de Cartagena sobre Segurança da
Biotecnologia.
Professor Malcolm Hooper – Professor emérito da Universida-
de de Sunderland; ex-professor de Química Médica, Faculdade
de Ciências Farmacêuticas, Politécnico de Sunderland; Assessor
científico principal dos Veteranos da Guerra do Golfo.
Dr. Vyvyan Howard – Histopatologista com qualificação médi-
ca, Grupo de Toxicopatologia para o Desenvolvimento, Depar-
tamento de Anatomia Humana e Biologia celular, Universidade
de Liverpool, membro do comitê assessor sobre pesticidas do
governo do Reino Unido.
Dr. Brian John – Geomorfologista e cientista ambientalista; fun-
dador e presidente durante vários anos do Eco Centre de Gales
Ocidental; um dos grupos coordenadores do GM Free Cymru.
Professor Marijan Jost – Professor de Fitogenética e Produção
de Sementes, Faculdade de Agronomia de Krizevci, Croácia.
Grupo de Ciência Independente 195

Lim Li Ching – Pesquisadora, Instituto Ciência em Sociedade e


Rede do Terceiro Mundo; editora adjunta da revista Science in
Society.
Dra. Eva Novotny – Astrônoma e ativista em temas sobre
transgênicos para Cientistas pela Responsabilidade Mundial
(SGR, em inglês).
Professor Bob Orskov OBE – Ex-integrante do Instituto de Pes-
quisa Rowett, Aberdeen, Escócia; Diretor da Unidade Internacio-
nal de Recursos Alimentícios; membro da Sociedade Real de
Edimburgo (FRSE, em inglês); membro da Academia Polaca de
Ciências.
Dr. Michel Pimbert – Ecologista agrário e sócio principal do
Instituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvi-
mento.
Dr. Arpad Pusztai – Assessor particular; ex-membro pesquisa-
dor principal do Instituto de Pesquisa Rowett, Bucksburn,
Aberdeen, Escócia.
David Quist – Ecologista microbiano; divisão de Ciências
Ecossistêmicas, Ciências Ambientais, políticas e gestão, Univer-
sidade da Califórnia, Berkeley, EUA.
Dr. Peter Rosset – Ecologista agrário e especialista em desenvol-
vimento rural; co-diretor do Instituto de Políticas de Alimenta-
ção e Desenvolvimento (Food First), Oakland, Califórnia, EUA.
Professor Peter Saunders – Professor de Matemáticas Aplicadas
do King’s College, Londres.
Dr. Veljko Veljkovic – Virólogo de AIDS, Centro de Engenharia
e Pesquisas Multidisciplinares, Instituto de Ciências Nucleares,
VINCA, Belgrado, Iugoslávia.
Professor Oscar B. Zamora – Professor de Agronomia, Departa-
mento de Agronomia, Universidade das Filipinas, Faculdade de
Agronomia Los Baños (UPLB-CA), Faculdade, Laguna, Filipinas.
GLOSSÁRIO

ÁCIDOS GRAXOS
São compostos orgânicos, pertencentes ao grupo dos lipídeos,
com funções, por exemplo, na estruturação das membranas ce-
lulares, na constituição de derivados com ação hormonal, ou,
ainda, como substrato para liberação de energia para o trabalho
celular. O ácido láurico é um exemplo de ácido graxo saturado,
com aplicações nas indústrias alimentícias e não alimentícias. É
encontrado, em grandes quantidades, no óleo do côco e da amên-
doa do dendê. O gene que ativa a biossíntese desse ácido graxo
foi utilizado na construção da canola transgênica com alto teor
de ácido láurico. As sementes do loureiro da Califórnia
(Umbellularia californica) chega a ter 58% de ácido láurico.

Agrobacterium tumefasciens
Bactéria, em forma de bacilo, Gram-negativa, encontrada no
solo, com linhagens contendo, além do DNA cromossômico,
um plasmídeo portador de genes que promovem condições para
estabelecimento de colônias em plantas. Esses genes constituem
198 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

o denominado DNA-T, que possui seqüências capazes de pro-


moverem sua incorporação ao genoma da célula vegetal e provo-
car, na planta, profundas alterações metabólicas, inclusive a sín-
tese de aminoácidos específicos ao metabolismo da bactéria e a
formação de um tumor (galha) com aspecto de coroa (galha da
coroa). Uma das técnicas da engenharia genética de plantas
transgênicas consiste na utilização desse mecanismo de transfor-
mação, que os cientistas “aprenderam” com a agrobactéria.

ALELOS
Seqüências de DNA alternativas para o mesmo gene, que
ocupam um mesmo lócus (locus) no mapa genético. Um orga-
nismo homozigoto para um determinado gene tem o mesmo
alelo no locus correspondente e um organismo heterozigoto tem
alelos diferentes para esse gene. Nos organismos diplóides (2n),
isto é, que possuem duas coleções de genes, provenientes, cada
uma, de um dos progenitores, podem existir muitos alelos do
gene distribuídos entre os diferentes membros da população (ver
cromossomos).

ANTICORPO
Proteína (imunoglobulina) sintetizada, por células animais
(linfócitos B), em resposta a uma substância estranha ao organis-
mo (antígeno). Cada anticorpo tem afinidade específica pelo
antígeno que estimulou sua síntese: proteínas, poliosídeos
(glicídeos), ácidos nucléicos e outros. As imunoglobulinas G (IgG)
são os anticorpos mais abundantes no soro. As imunoglobulinas
E (IgE) conferem proteção a parasitas e são causadoras das rea-
ções alérgicas, pois desencadeiam uma série de eventos que libe-
ram a histamina, responsável pela contração de músculos e estí-
mulo à secreção de muco.
Grupo de Ciência Independente 199

ATRAZINA
É um dos muitos herbicidas existentes, que atuam como
inibidores do fotossistema II, bloqueando a formação do
plastoquinol, nos cloroplastos. Inibe também o centro de reação
fotossintético de bactérias púrpuras. É utilizado, intensivamen-
te, no Brasil, nas plantações de cana e milho. Sua meia vida, no
solo, é de 20 a 385 dias e, na água, de 2 a 300 dias, sendo um
contaminante potencial devido a sua hidrólise lenta e solubilida-
de em água.

Bacillus cereus
Bactéria, em forma de bastonete, Gram-positiva, aeróbica
facultativa, vive no solo e provoca intoxicação alimentar pela
produção de dois tipos de toxinas.

Bacillus thuringiensis (Bt)


Bactéria, em forma de bastonete, Gram-positiva, que causa
infecções e morte em insetos, através da síntese, nos esporos, de
glicoproteínas sólidas, denominadas cristais de toxina ou toxina
Bt, e que alteram a permeabilidade das paredes intestinais do
inseto. O gene dessa toxina foi inserido no genoma de algodão
(Algodão Bt), milho (Milho Bt), girassol (Girassol Bt) e outras
plantas cultivadas, como estratégia para obtenção de resistência
ao ataque de insetos, como os da classe dos lepidópteros (borbo-
letas).

BIOBALÍSTICA – BOMBARDEIO DE MICROPROJÉTEIS


Técnica que utiliza, desde a década de 1980, um aparelho
acelerador de micropartículas de ouro ou tugstênio a velocidades
superiores a 1.500 km/h, às quais são aderidas moléculas de DNA
contendo o transgene desejado, fazendo-as incidirem sobre as
200 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

células/tecidos a serem transformadas. As micropartículas pene-


tram na parede e membrana celular sem matar a célula e locali-
zam-se aleatoriamente nas organelas. Tanto a quantidade de DNA
inserido quanto os locais de inserção, portanto, são imprevisíveis,
porém essa técnica permite a introdução e a expressão de genes
em qualquer tipo de célula. A freqüência de transformação é
aumentada quando o alvo é um tecido meristemático apical, ao
qual se adiciona um hormônio indutor de multibrotação.

Bp (base pairs)
Abreviação de pares de bases.

CITOQUINAS
Substâncias de natureza protéica, produzidas pelos linfócitos
T, que estimulam a proliferação de células do sistema
imunológico.

CROMOSSOMO
Estrutura celular portadora de muitos genes, constituída de
uma longa cadeia de ácido nucleico (na maioria dos organismos
ácido desoxirribonucléico – DNA), associada a proteínas básicas.
o Os genes são trechos desse DNA responsáveis pelas carac-
terísticas hereditárias dos organismos. Os diferentes genes
são distribuídos, linearmente, ao longo dos cromossomos,
ocupando, cada um deles, um local definido no mapa
cromossômico, denominado lócus genético (locus).
o Comparando as diferentes espécies de organismos, quanto
ao número de genes e de cromossomos, observa-se uma
grande variedade de situações. No entanto, para cada es-
pécie, o número de cromossomos é constante.
o O conjunto de todos os genes, responsáveis pelas caracte-
Grupo de Ciência Independente 201

rísticas hereditárias de uma espécie, ocupa lócus genéticos


(loci plural de locus) específicos nos cromosssomos, que,
dentro de cada espécie, se mantêm em número constante.
o Os cromossomos homólogos têm os mesmos lócus genéti-
cos e numa célula diplóide existem 2 cópias de cada
cromossoma homólogo, cada uma proveniente de um pro-
genitor.
o Um gene (cistron), de célula eucarionte, representa todo o
contínuo trecho de DNA, envolvido na produção de um
polipeptídeo, isto é, que inclui a região codificadora pro-
priamente dita, as demais que precedem (líder) e seguem
(trailler) essa região, bem como as que se intercalam e são
retiradas (introns) durante o processamento da mensagem
transcrita em RNA.

DNA – ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLÉICO; ADN,


MESMO QUE DNA.
Macromolécula responsável pelo conteúdo e perpetuação da
informação genética da maioria dos seres vivos, em evolução no
planeta há, pelo menos, 4,5 bilhões de anos.
o Tem estrutura física em forma de “escada” torcida em héli-
ce, cujos “degraus” se formam pela atração, aos pares, de 4
tipos de bases nitrogenadas: adenina (A) com timina (T) e
citosina (C) com guanina (G).
o Tem tamanho variado e pode ser medido pelo número de
pares de bases. Os diferentes seres vivos têm moléculas de
DNA com número de pares de bases e seqüências diferen-
tes dessas bases: o DNA de bactérias tem 2 x 106 pares de
bases; o das plantas superiores, 2,3 x 109 pares de bases; e o
dos mamíferos, 5,5 x 109 pares de bases.
202 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

DNA – T
Trecho do DNA de um plasmídeo da Agrobacterium
tumefasciens, que, na natureza, é responsável pela sua integração
a genomas vegetais, muito utilizado na construção de vetores de
genes para transformar plantas. (ver Agrobacerium).

DNAASE – DESOXIRRIBONUCLEASE
Enzima que promove a clivagem hidrolítica das ligações en-
tre os desoxirribonucleotídeos do DNA. A reação de hidrólise
parcial gera múltiplos fragmentos de diversos tamanhos.

“DNA SHUFFLING” (EMBARALHAMENTO DO DNA)


Método que utiliza uma desoxirribonuclease (DNAase),
uma enzima que hidrolisa a molécula de DNA, em sítios ao
acaso, gerando inúmeros fragmentos de diferentes tamanhos,
a partir do DNA alvo de sua ação. Esses fragmentos são sub-
metidos à técnica do PCR (ver adiante), pela qual são unidos
uns aos outros, como iniciadores (primers), terminando por
gerar recombinantes aleatórios, a serem avaliados quanto à
qualidade dos produtos gerados no interior de células. As duas
técnicas assim associadas vêm permitindo a criação de genes
novos produzidos em laboratório, que nunca existiram na
natureza.

FENÓTIPO
Características de um organismo que resultam da interação
da sua constituição genética com o ambiente.

Galanthus nivalis
Planta ornamental bastante comum na Europa, pertencente
à família das Liliáceas, que se reproduz por meio de bulbos.
Grupo de Ciência Independente 203

GENE BARNASE
Gene codificador de uma enzima, a barnasa, que hidrolisa
RNA e é inibida pelo produto do gene barstar, a proteína barstar.

GENE MARCADOR
Genes que são necessários para a detecção do gene de interes-
se, nas etapas de construção de organismos transgênicos, por te-
rem expressão fenotípica de fácil detecção. Os genes marcadores,
mais comumente usados, são os codificadores de resistência a
antibióticos.

GENE TERMINATOR
Gene introduzido, durante a construção das plantas
transgênicas, que impede a propagação das sementes por elas
produzidas. Ao final de cada safra, o agricultor precisará renovar
todo o seu estoque de sementes. O gene terminator é também
conhecido como exterminator ou exterminador.

GENÓTIPO
Constituição genética de um organismo.

GLICOPROTEÍNA
É um tipo de proteína conjugada que tem, como grupo
prostético, um glicídio.

GLIFOSATO (N-[FOSFONOMETIL] GLICINA)


Herbicida de amplo espectro de ação, que é um inibidor com-
petitivo de uma enzima chave para a biossíntese de aminoácidos
aromáticos e de outros produtos do metabolismo secundário das
plantas, a 5-Enolpiruvilshiquimato-3-fosfato (EPSP) sintetase.
A ligação do glifosato à enzima bloqueia a sua atividade e impe-
204 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

de o transporte da EPSP sintetase-shiquimato 3-fosfato para o


cloroplasto.

GLUFOSINATO DE AMÔNIO = FOSFINOTRICINA


Herbicida de amplo espectro de ação, que inibe uma impor-
tante enzima do metabolismo nitrogenado, a glutamina sintetase.
A ligação de um grupo acetil, pela enzima fosfinotricina
transferase, inativa o produto.

INICIADOR (PRIMER)
Seqüência curta de nucleotídeos, que necessita ser pareada
à extremidade 5’de uma cadeia simples de DNA, para que se
inicie a polimerização da cadeia complementar, pela DNA
polimerase.

KB ( QUILOBASE)
Abreviação que designa uma seqüência de 1.000 pares de bases
de DNA ou 1.000 bases de RNA.

LECTINAS
Grupo de proteínas que se ligam a receptores específicos exis-
tentes na superfície das células e estimulam os processos de divi-
são e diferenciação celular. Nesse grupo estão incluídas: a
concanavalina de feijões, a fitohemaglutinina (promove
aglutinação de glóbulos vermelhos) do trigo, por exemplo.

LINHAGENS DE CULTIVOS
Variedades cultivadas que apresentam grande número de ca-
racterísticas semelhantes, como conseqüência de trabalhos de
melhoramento genético.
Grupo de Ciência Independente 205

LINHAGENS TRANSGÊNICAS
Plantas transformadas em laboratório e suas gerações descen-
dentes.

LINHAGENS DE BACTÉRIAS
População constituída de bactérias geneticamente idênticas,
que apresentam algumas diferenças em relação a outra popula-
ção, dentro da mesma espécie.

LÓCUS (LOCUS / LOCI)


Posição de um gene no cromossoma que só pode ser ocupada
pelas formas alternativas desse gene (alelo) (ver cromossomos).

METABOLISMO
Conjunto de reações bioquímicas, em sua quase totalidade
catalizadas por enzimas, caracterizado por uma ação integrada,
nos aspectos materiais e energéticos, entre vias de síntese e de-
gradação de compostos orgânicos, sob o controle de complexos
mecanismos da expressão gênica, em constante modificação e
evolução, face às modificações ambientais.

METABOLITO
Qualquer composto orgânico integrante do processo de trans-
formações químicas ocorridas nos organismos vivos.

MUTAÇÃO
Qualquer alteração na seqüência de bases nitrogenadas do
DNA.
• Mutações espontâneas – Podem ocorrer, em freqüências
muito baixas, devido a erro nas reações enzimáticas da cé-
lula, que replicam ou reparam o DNA. A DNA polimerase
206 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

conta com um mecanismo revisor, a cada passo da


polimerização, que diminui em muito a probabilidade de
ocorrerem erros.
• Mutações induzidas – Resultam da exposição do DNA a
agentes mutagênicos. Podem ocorrer, por exemplo, devi-
do à exposição a fatores físicos, como as reações provocadas
pela exposição excessiva aos raios ultravioletas; ou quími-
cos, como a exposição a substâncias químicas, como vene-
nos, toxinas, agrotóxicos etc.
• Mutações silenciosas – São alterações na seqüência do DNA
que não modificam o produto do gene.

PCR – REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE


Técnica que permite ampliar, em mais de 106 vezes, o núme-
ro de moléculas de DNA, existente em diminutas quantidades
(da ordem de 10-9 g) numa amostra. Através de sucessivos ciclos
de variações de temperatura, promove, em cada ciclo: a)
desnaturação do DNA; b) hibridização do DNA com 2 inicia-
dores (primers) da reação da polimerase, que delimitam o trecho
da cadeia de DNA a ser amplificada; e c) extensão dos iniciado-
res, seguindo o molde do DNA, por uma DNA polimerase
termoestável.

PCR PROPENSA A ERROS


Metodologia empregada para indução de mutações quando
do emprego da técnica de PCR. Consiste numa variação da rea-
ção em cadeia da polimerase, em cujo meio de reação são adici-
onados íons de manganês, com o objetivo de gerar erros, duran-
te a amplificação do DNA. Além das cópias iguais à original, a
presença do manganês provoca a formação de cópias alteradas
ou mutantes do gene. Essa técnica tem sido utilizada para gera-
Grupo de Ciência Independente 207

ção de variabilidade para os estudos no campo da evolução


dirigida. As cópias alteradas são ligadas a um vetor e inseridas em
células receptoras para análise do tipo de produto formado pelo
gene que sofreu mutação. Através da seleção daqueles que geram
produtos desejáveis, dentre os muitos que são ou inativos ou com
propriedades não desejadas, pode-se proceder, ainda, a uma ou-
tra técnica (ver “DNA shuffling”), que envolve processos de
recombinação in vitro visando a seleção de formas que acumu-
lem mutações favoráveis.

PLANTAS “REFÚGIO”
Plantas não transgênicas, cultivadas em proximidade a culti-
vos transgênicos, como estratégia para redução dos riscos da
emergência de resistência, nos insetos.

PLASMÍDEO
DNA circular extracromossômico, presente em bactérias e
alguns organismos eucariontes, em tamanho e número variáveis,
que se replica independentemente.

PROMOTOR
Região do DNA, reconhecida pela RNA polimerase, para
início do processo de transcrição do gene.

RECOMBINAÇÃO GENÉTICA
Sítios preferenciais de recombinação
Importante processo criador de biodiversidade que envolve a
quebra e a reunião de duas moléculas de DNA, através do qual
mutações favoráveis e desfavoráveis são testadas em novas com-
binações.
o Recombinação homóloga ou generalizada
208 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

Recombinação (troca de trechos de DNA) precisa que ocor-


re entre seqüências correspondentes (homólogas) de DNA.
Ocorre na formação de gametas masculino e feminino dos
eucariontes (crossing over).
o Recombinação heteróloga
Recombinação entre seqüências não relacionadas, como
ocorre com grande freqüência nas transformações de célu-
las vegetais e animais.
o Recombinação sítio específica
Recombinação comum entre curtos trechos de seqüências
virais e de bactérias homólogas, que envolvem enzimas es-
pecíficas para um sítio específico de entrada e saída do ví-
rus no genoma bacteriano.

RETROTRANSFERÊNCIA
Processo que envolve a ação da enzima transcriptase reversa,
presente nos retrotransposons, por exemplo, que converte rever-
sivelmente DNA em RNA.

SÍTIO PREFENCIAL “SÍTIO QUENTE” (HOT SPOTS)


Sítio de elevada ocorrência de eventos: mutações ou
recombinações.

SOJA RR = SOJA ROUNDUP READY


Soja transgênica resistente ao herbicida Roundup.

SILENCIAMENTO GÊNICO
Mecanismo que desativa ou diminui os níveis de transcrição
de um gene. Vários fatores podem determinar o silenciamento
de um gene, nas várias etapas de sua expressão. O silenciamento
pode ser devido à ligação de uma proteína repressora a ele ou a
Grupo de Ciência Independente 209

seqüências adjacentes, ou pela interrupção de etapas anteriores


ao completo processamento do RNA mensageiro (silenciamento
transcricional), ou em etapas posteriores (silenciamento pós-
transcricional).

SONDAS MOLECULARES
Moléculas de DNA, RNA ou de proteína, às quais são liga-
dos compostos que facilmente podem ser detectados, em labora-
tório, utilizando-se diversas técnicas, como exposição à luz
ultravioleta ou exposição a um filme fotográfico (autoradiografia)
etc. Cada uma desses tipos de sondas é capaz de indicar, ao pes-
quisador, dentre vários fragmentos de DNA ou RNA ou várias
proteínas, quais são os que têm relação com o material da sonda
conhecida.

SOUTHERN BLOTTING
Técnica comumente empregada em laboratório de Biologia
Molecular, que utiliza um fluxo constante de uma solução para
transferir fragmentos de DNA desnaturado, separados por
eletroforese em gel de agarose, para um filtro de celulose. A mem-
brana é incubada, sob condições específicas de tempo, tempera-
tura, e outras variáveis da técnica, com uma solução que contém
uma sonda de ácido nucléico conhecido, previamente, marcado
quimicamente ou com um isótopo radioativo. Nesse último caso,
uma autoradiografia da membrama permite identificar, dentre
os vários fragmentos do gel, aquele que apresenta homologia com
a sonda radioativa.

TRANSCRIÇÃO
Processo pelo qual a informação genética é transmitida do
DNA para o RNA mensageiro.
210 Em defesa de um mundo sustentável sem transgênicos

TRANSGENE
Construção molecular que contém um gene, geralmente pro-
veniente de organismos de outras espécies, modificado pela
tecnologia de DNA recombinante. À seqüência que codifica para
o produto gênico são ligadas outras seqüências de DNA estra-
nhos ao genoma vegetal, mas necessárias aos procedimentos de
construção do transgene em laboratório. São elas, por exemplo:
a) a seqüência de nucleotídeos do promotor 35S, proveniente do
vírus do mosaico da couve-flor, o CaMV, destinada a promover
um aumento da expressão do gene; e b) a seqüência dos genes de
resistência a antibióticos, provenientes de plasmídeos bacterianos,
que funciona como um marcador da efetiva inserção do transgene
na planta.

TRANSGÊNICO = ORGANISMO GENETICAMENTE


MODIFICADO (OGM)
Organismo portador de genoma alterado pela inserção de cons-
truções genéticas de laboratório, contendo seqüências de genomas
de vÍrus e de diversos outros organismos vivos, cujas influências
sobre os mecanismos de controle da expressão do genoma recep-
tor e sobre os demais organismos da Biosfera, ainda não foram
adequadamente estudadas e avaliadas, pela ciência.

TRANSPOSONS
São seqüências de DNA que se movem de um sítio
cromossômico para outro, sem qualquer relação de seqüência
com o lócus de inserção. Eles carregam informações genéticas,
apresentando padrões bastante conservados de organização e
modos de executar a transposição, indicando um possível papel
importante na organização dos genomas. Eles são bastante abun-
dantes em gramíneas e outros genomas, inclusive o humano.
Grupo de Ciência Independente 211

RETROTRANSPOSONS
Transposons que se movem na forma de RNA produzido por
transcrição, posteriormente transcrito reversamente a DNA. A
transposase é a enzima que participa da inserção do transposon
ao novo sítio.
PUBLICAÇÕES DA EXPRESSÃO POPULAR

VIDA E OBRA:
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4 Josué de Castro – Vida e obra (Bernardo Mançano e Carlos Walter) ... Esgotado
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revolucionário (Mário Maestri e Luigi Candreva) ................................. R$ 10,00
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na revolução (Cecília S Luedemann) ...................................................... R$ 15,00
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ECONOMIA, POLÍTICA, PEDAGOGIA, FILOSOFIA


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17 Che Guevara: contribuição ao pensamento
revolucionário (Manolo Monereo Pérez) .............................................. Esgotado
18 A hora obscura – testemunhos da repressão política
(Julius Ficik – Henri Alleg – Victor Serge .............................................. R$ 13,00
19 Marx e o socialismo (César Benjamin – org ) ........................................ R$ 8,00

REALIDADE BRASILEIRA
20 Sociologia política da guerra camponesa de Canudos (Clóvis Moura) Esgotado
21 Brasil: crise e destino – entrevistas com pensadores contemporâneos
(org César Benjamin e Luiz Antonio Elias) ........................................... Esgotado
22 A história da luta pela terra e o MST (Mitsue Morissawa) ................... R$ 15,00
23 História e natureza das Ligas Camponesas (João Pedro Stedile – org.) R$ 10,00
24 A linguagem escravizada (Florence Carboni e Mário Maestri) ............. R$ 6,00
25 A ação política e o MST (Bruno Konder Comparato) .......................... R$ 8,00
26 Soberania sim, ALCA não! – análises e documentos
(Campanha Nacional contra a ALCA – org.) ......................................... R$ 5,00
27 História das idéias socialistas no Brasil (Leandro Konder) .................... R$ 12,00
28 ALCA: integração soberana ou subordinada? (Emir Sader – org.) ....... Esgotado.

LITERATURA
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30 Contos (Jack London) ............................................................................. R$ 8,00
31 Assim foi temperado o aço (Nicolai Ostrovski) ..................................... R$ 15,00
32 Os mortos permanecem jovens (Anna Seghers) .................................... R$ 18,00
33 Week-end na Guatemala (Miguel Angel Astúrias) ................................. R$ 13,00
34 Aqui as areias são mais limpas (Luis A Betancourt) ............................... R$ 13,00

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cubana (Hernando C Ospina e K Declerq) ............................................ R$ 8,00

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do Poder Empresarial (Pat Roy Mooney) ............................................... R$ 10,00
37 Desafios da luta pelo socialismo (Plinio Arruda Sampaio – org ) ......... R$ 5,00
38 Sementes – Patrimônio do povo a serviço da humanidade
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TRABALHO E EMANCIPAÇÃO
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41 O ano vermelho – A Revolução Russa e seus reflexos no Brasil
(Luiz Alberto Moniz Bandeira) ............................................................... R$ 15,00
42 O avesso do trabalho (Ricardo Antunes e
Maria Aparecida Moraes Silva – orgs ) ................................................... R$ 13,00
O IMPERIALISMO ESTADUNIDENSE
43 Guerra e globalização – Antes e depois de 11 de setembro de 2001
(Michel Chossudovsky) ........................................................................... R$ 8,00

CADERNOS DE EXPRESSÃO POPULAR


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46 As três fontes (Lenin) ............................................................................... R$ 4,00
47 A História me absolverá (Fidel Castro) .................................................. R$ 4,00

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48 Marx – Vida e Obra (Leandro Konder) .................................................. R$ 5,00
49 O massacre da fazenda Santa Elmira (Frei Sérgio A Görgen) ............... R$ 5,00
50 A Revolução de Outubro sob o olhar da História
(Osvaldo Coggiola – org ) ....................................................................... R$ 5,00
51 Crise e trabalho no Brasil – Modernidade ou volta ao passado?
(Carlos A B de Oliveira e Jorge E L Mattoso – orgs ) ............................ R$ 10,00
52 De JK a FHC – A reinvenção dos carros
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53 Tiradentes, um presídio da ditadura
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