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Instituto de Letras

Departamento de Ciências da Linguagem


Teoria da Literatura I
Prof. Luis Filipe Ribeiro

A LITERATURA E A VIDA
Mário Vargas Llosa 1

Muitas vezes me aconteceu, em férias de livros e de livraria que


um senhor me abordasse com um dos meus livros nas mãos me pedisse um
autógrafo, afirmando: "É para minha mulher, ou minha filha, ou minha
irmã, ou minha mãe ela, ou elas são grande leitoras e adoram literatura".
Eu pergunto, de imediato: "E o senhor, não? Não gosta de ler?" A resposta
raramente falha: "Bem sim, claro que gosto, porém sou uma pessoa muito
ocupada, o senhor sabe". Sim, sei muito bem, porque ouvi essa explicação
dezenas de vezes: esse senhor, esses milhares de milhares de senhores
iguais a ele, têm tantas coisas importantes, tantas obrigações e
responsabilidades na vida que não podem desperdiçar seu precioso tempo
passando horas concentrados num romance, num livro de poemas ou num
ensaio literário. Segundo essa disseminada concepção, a literatura é uma
atividade prescindível, um entretenimento, seguramente elevado e útil para
o cultivo da sensibilidade e das maneiras, um adorno que pode se permitir
quem dispõe de muito tempo para a recreação, e que deveria ser afiliado
entre os esportes o cinema, o bridge ou o xadrez, porém, que pode ser
sacrificado sem escrúpulos na hora de estabelecer uma ordem de
prioridades nos afazeres e nos compromissos indispensáveis da luta pela
vida.
É verdade que a literatura passou a ser, cada vez mais, uma
atividade feminina: nas livrarias, nas conferências ou palestras de escritores
e, evidentemente, nos departamentos e faculdades das universidades
dedicados às letras, as saias derrotam as calças por goleada. A explicação
que se tem dado é que, nos setores sociais médios, as mulheres lêem mais
porque trabalham menos horas que os homens e, também, que muitas

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Vargas Llosa, Mário – A verdade das mentiras. Trad. Cordelia Magalhães. São Paulo:
Editora Arx, 2004. P. 377-395.
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delas tendem a considerar mais justificado que os homens o tempo


dedicado à fantasia e à ilusão. Sou um tanto alérgico a essas explicações
que dividem homens e mulheres em categorias rígidas, e que atribuem a
cada sexo virtudes e deficiências coletivas, de maneira que não subscrevo
de todo essas afirmações. No entanto, não há dúvida, temos cada vez
menos leitores literários em geral, e, dentre eles, as mulheres prevalecem.
Acontece em quase todo o mundo. Na Espanha, uma pesquisa recente
organizada pela SGAE (Sociedade Geral de Autores Espanhóis) chegou a
uma conclusão alarmante: que metade dos cidadãos deste país jamais
havia lido um livro. A pesquisa revelou, também, que na minoria leitora, o
número de mulheres que confessam ler supera o dos homens em 6,2%, e
que a tendência é o aumento dessa diferença. Considero que essa
proporção se repita em muitos países e, provavelmente agravado, também
no meu. Eu me alegro muito pelas mulheres, é claro, mas lamento pelos
homens e por aqueles milhões de seres humanos que, podendo ler,
renunciaram a fazê-lo. Não somente porque não sabem o prazer que
perdem, mas, de uma perspectiva menos hedonista, porque estou
convencido de que uma sociedade sem literatura, ou na qual a literatura foi
relegada, como certos vícios inconfessáveis, às margens da vida social e
convertida pouco menos que num culto sectário, está condenada a se
barbarizar espiritualmente e a comprometer sua liberdade.
Gostaria de formular algumas razões contra a idéia da literatura
como um passatempo de luxo e a favor de considerá-la, além de um dos
mais enriquecedores afazeres do espírito, como uma atividade insubstituível
para a formação do cidadão numa sociedade moderna e democrática, de
indivíduos livres, e que, por isso mesmo, deveria ser inculcada nas famílias
desde a infância e fazer parte de todos os programas de educação como
uma disciplina básica. Já sabemos que acontece o contrário, que a literatura
tende a se encolher e, inclusive, desaparecer do currículo escolar como
ensinamento prescindível.
Vivemos numa era de especialização do conhecimento devido ao
prodigioso desenvolvimento da ciência e da técnica e à sua fragmentação
em numerosas avenidas e compartimentos, ao viés da cultura, que somente

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pode se acentuar nos anos vindouros. A especialização traz, sem dúvida,


grandes benefícios, pois permite aprofundar na exploração e na
experimentação, e é o motor do progresso. No entanto, tem também uma
conseqüência negativa: vai eliminando esses denominadores comuns da
cultura, graças aos quais os homens e as mulheres podem coexistir,
comunicar-se e se sentir, de alguma maneira, solidários. A especialização
conduz à incomunicabilidade social, ao esquartejamento do conjunto dos
seres humanos em assentamentos ou guetos culturais de técnicos e de
especialistas, aos quais uma linguagem, códigos e uma informação
progressivamente setorizada e parcial confinam naquele particularismo
contra o que nos alertava o velhíssimo refrão: não se concentrar tanto no
ramo ou na folha como para esquecer que são parte de uma árvore, e essa,
de um bosque. De ter consciência cabal da existência do bosque depende,
em boa medida, o sentimento de pertencer que mantém unido o todo social
e o impede de se desintegrar numa miríade de particularismos solipsistas. E
o solipsismo - de povos ou indivíduos - produz paranóias e delírios, essas
desfigurações da realidade que, com freqüência, geram o ódio, as guerras e
os genocídios. Ciência e técnica já não podem cumprir aquela função
cultural integradora em nosso tempo, precisamente por causa da infinita
riqueza de conhecimentos e da rapidez de sua evolução que as levaram à
especialização e ao uso de vocabulários herméticos.
A literatura, ao contrário, diferentemente da ciência e da técnica,
é, foi e continuará sendo, enquanto existir, um desses denominadores
comuns da experiência humana, graças ao qual os seres vivos se
reconhecem e dialogam, não importa o quão distintas sejam suas
ocupações e desígnios vitais, as geografias e as circunstâncias em que
existem, e, inclusive, os tempos históricos que determinam seu horizonte.
Nós, leitores de Cervantes ou de Shakespeare, de Dante ou de Tolstoi,
entendemo-nos e nos sentimos membros da mesma espécie porque, nas
obras que criaram, aprendemos aquilo que compartilhamos como seres
humanos, o que permanece em todos nós, sob o amplo leque de diferenças
que nos separam. E nada defende melhor o ser vivo contra a estupidez dos
preconceitos, do racismo, da xenofobia, das afirmações caipiras do

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sectarismo religioso ou político, ou dos nacionalismos excludentes, como


essa comprovação incessante que sempre aparece na grande literatura: a
igualdade essencial dos homens e mulheres de todas as geografias e a
injustiça que é estabelecer, entre eles, formas de discriminação, sujeição ou
exploração. Nada ensina melhor que a literatura a ver, nas diferenças
étnicas e culturais, a riqueza do patrimônio humano e a valorizá-las como
uma manifestação da sua múltipla criatividade. Ler boa literatura é se
divertir, sim; porém, também, aprender dessa maneira direta e intensa que
é a da experiência vivida através das obras de ficção, o que e como somos
em nossa integridade humana, com nossos atos e sonhos e fantasmas,
separados ou na trama de relações que nos vinculam aos outros, em nossa
presença pública e no secreto de nossa consciência, essa complexíssima
suma de verdades contraditórias – como as chamava Isaiah Berlin — de
que está feita a condição humana. Hoje, esse conhecimento totalizador e ao
vivo do ser humano somente se encontra na literatura. Nem sequer os
outros ramos das humanidades — como a filosofia, a psicologia, a
sociologia, a história ou as artes — puderam preservar essa visão
integradora e um discurso acessível ao profano, pois, sob a irresistível
pressão da cancerosa divisão e subdivisão do conhecimento, sucumbiram
também ao mandato da especialização, a isolar-se em parcelas cada vez
mais segmentadas e mais técnicas, cujas idéias e linguagens estão fora do
alcance da mulher e do homem comuns. Não é nem pode ser o caso da
literatura, mesmo que alguns críticos e teóricos se empenhem em convertê-
la numa ciência, porque a ficção não existe para investigar uma área
determinada da experiência, mas para enriquecer imaginariamente a vida,
a de todos, aquela vida que não pode ser desmembrada, desarticulada,
reduzida a esquemas e fórmulas, sem desaparecer. Por isso, Marcel Proust
afirmou: "A verdadeira vida, a vida por fim esclarecida e descoberta, a
única vida, portanto, plenamente vivida, é a literatura". Não exagerava,
guiado pelo amor a essa vocação que praticou com soberbo talento;
simplesmente queria dizer que, graças à literatura, entende-se e vive-se
melhor a vida, e entender e viver a vida melhor significa vivê-la e
compartilhá-la com os outros.

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O vínculo fraterno que a literatura estabelece entre os seres


humanos, obrigando-os a dialogar e fazendo-os conscientes de uma matéria
comum, de fazer parte de uma mesma linhagem espiritual, transcende as
barreiras do tempo. A literatura nos retroage ao passado e nos irmana com
os que, em épocas idas, forjaram, gozaram e sonharam com esses textos
que nos legaram e que, agora, fazem-nos desfrutar e sonhar também. Esse
sentimento de pertencer à coletividade humana, através do tempo e do
espaço, é a realização mais elevada da cultura, e nada contribui tanto para
renová-lo, a cada geração, como a literatura.
Borges se irritava quando lhe perguntavam: 'Para que serve a
literatura?" Parecia-lhe uma pergunta idiota e ele respondia: "A ninguém
ocorreria perguntar qual é a utilidade do canto de um canário ou dos
arrebóis do crepúsculo!" De fato, se essas coisas belas estão ali e, graças a
elas, a vida, mesmo que seja por um instante, é menos feia e menos triste,
não é mesquinho buscar-lhes justificativas práticas? No entanto, à diferença
do gorjeio dos pássaros e do espetáculo do sol se pondo no horizonte, um
poema, um romance, não estão simplesmente ali, fabricados pelo azar ou
pela Natureza. Eles são uma criação humana, e é lícito indagar como e por
que nasceram, e o que deram à humanidade para que a literatura, cujas
origens remotas se confundem com as da escrita, dure há tanto tempo.
Nasceram, como incertos fantasmas, na intimidade de uma consciência,
projetados nela por forças conjugadas do inconsciente, sensibilidade e
emoções às quais, numa luta às vezes a mancheias com as palavras, o
poeta, o narrador foram dando silhueta, corpo, movimento, ritmo,
harmonia, vida. Uma vida artificial, feita de linguagem e de imaginação,
que coexiste com a outra, a real, desde tempos imemoriais, e à qual
comparecem homens e mulheres — alguns com freqüência, outros de
maneira esporádica — porque a vida que têm não lhes basta, não é capaz
de oferecer-lhes tudo que querem. A literatura não começa a existir quando
nasce, por obra de um indivíduo; somente existe de verdade quando é
adotada por outros e passa a tomar parte na vida social, quando se torna,
graças à leitura, experiência compartida.
Um de seus primeiros efeitos benéficos ocorre no plano da

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linguagem. Uma comunidade sem literatura escrita se expressa com menos


precisão, riqueza de matizes e claridade do que outra, cujo principal
instrumento de comunicação, a palavra, tenha sido cultivado e aperfeiçoado
graças aos textos literários. Uma humanidade sem leitura, não contaminada
de literatura, parecer-se-ia muito com uma comunidade de gagos e de
afásicos, afetada por tremendos problemas de comunicação devido à sua
linguagem grosseira e rudimentar. Isso vale também para os indivíduos,
está claro. Uma pessoa que não lê, ou que lê pouco, ou que só lê lixo, pode
falar muito, porém, dirá sempre poucas coisas porque dispõe de um
repertório mínimo e deficiente de vocábulos para se expressar. Não é uma
limitação somente verbal; é, ao mesmo tempo, uma limitação intelectual e
de horizonte imaginário, uma indigência de pensamentos e de
conhecimentos, porque as idéias, os conceitos, mediante os quais nos
apropriamos da realidade existente e dos segredos da nossa condição, não
existem dissociados das palavras, através das quais a consciência os
reconhece e os define. Aprende-se a falar com correção, profundidade,
rigor e sutileza graças à boa literatura, e somente graças a ela. Nenhuma
outra disciplina, tampouco um ramo das artes pode substituir a literatura
na formação da linguagem com que as pessoas se comunicam. Os
conhecimentos que os manuais científicos e os tratados técnicos nos
transmitem são fundamentais; porém, eles não nos ensinam a dominar
as palavras nem a nos expressar com propriedade: ao contrário, com
freqüência são muito mal escritos e transmitem uma confusão lingüística,
pois seus autores, às vezes indiscutíveis eminências em sua profissão,
são literariamente incultos e não sabem se servir da linguagem para
comunicar os tesouros conceituais que possuem. Falar bem, dispor de
uma fala rica e diversa, encontrar a expressão adequada para cada idéia
ou emoção que se quer comunicar, significa estar mais bem preparado
para pensar, ensinar, aprender, dialogar e, também, fantasiar, sonhar,
sentir e se emocionar. De uma maneira sub-reptícia, as palavras
reverberam em todos os atos da vida, mesmo naqueles que parecem
muito distanciados da linguagem. Esta, à medida que, graças à literatura,
evoluiu até níveis de refinamento e de matização, elevou as possibilidades
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do prazer humano, e, no que se refere ao amor, sublimou os desejos e deu


categoria de criação artística ao ato sexual. Sem a literatura, não existiria o
erotismo. O amor e o prazer seriam mais pobres, careceriam de delicadeza
e de excelência, da intensidade que atingem educados e incitados pela
sensibilidade e pelas fantasias literárias. Não é exagerado dizer que um
casal que leu Garcilaso, Petrarca, Góngora e Baudelaire ama e desfruta
melhor que outro de analfabetos semi-idiotizados pelos programas de
televisão. Num mundo aliterário, o amor e o prazer seriam indiferenciados
dos que saciam os animais, não iriam mais adiante da crua satisfação dos
instintos elementares: copular e engolir.
Os meios audiovisuais tampouco estão em condições de substituir a
literatura na função de ensinar ao ser humano a usar as riquíssimas
possibilidades que a língua encerra, com regularidade e talento. Pelo
contrário, os meios audiovisuais tendem, como é natural, a relegar as
palavras a um segundo plano em relação às imagens, que são sua
linguagem primordial, e a constranger a língua à sua expressão oral, o
mínimo indispensável e o mais distanciado da sua vertente escrita, que, na
tela, pequena ou grande, e nos que falam, resulta sempre soporífera. Dizer
de um filme ou de um programa que é literatura é uma maneira elegante
de chamá-los de entediantes. E, por isso, os programas literários no rádio
ou na televisão raramente conquistam o grande público: que eu saiba, a
única exceção a essa regra tem sido o programa Apostrophes, de Bernard
Pivot, na França. Isso me leva a pensar, também, ainda que nisso admita
certas dúvidas, que não somente a literatura é indispensável para o cabal
conhecimento e domínio da linguagem, mas que a sorte da literatura está
ligada, em casamento indissolúvel, à do livro, esse produto industrial que
muitos declaram obsoleto.
Entre eles, uma pessoa tão importante e a quem a humanidade
deve tanto no domínio das comunicações, como Bill Gates, o fundador da
Microsoft. O senhor Gates esteve em Madri faz alguns meses e visitou a
Real Academia Espanhola, com a qual a Microsoft negociou e fechou as
bases do que, oxalá, seja uma fecunda colaboração. Entre outras coisas,
Bill Gates assegurou aos acadêmicos que se ocupará pessoalmente para

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que a letra 'ñ' não seja jamais retirada dos computadores, promessa que, é
claro, fez-nos dar um suspiro de alívio, os quatrocentos milhões de fala
hispânica dos cinco continentes, para quem a mutilação daquela letra
essencial no espaço cibernético teria criado problemas babélicos. Pois bem,
imediatamente depois dessa amável concessão à língua espanhola e sem
sequer abandonar o local da Real Academia, Bill Gates informou, numa
entrevista à imprensa, que não morrerá sem ter realizado sua maior
ambição. E qual seria essa ambição? Acabar com o papel e, portanto, com
os livros, mercadorias que, na sua opinião, já são de um anacronismo
pertinaz. O senhor Gates explicou que as telas do computador estão em
condições de substituir, com êxito, o papel em todas as funções que este
assumiu até agora, e que, além de ser menos onerosas, tomar menos
espaço e ser mais fáceis de transportar, as informações e a literatura
através da tela, no lugar de jornais, revistas e livros, teriam a vantagem
ecológica de pôr fim à devastação das florestas, cataclismo que é
conseqüência da indústria de papel. As pessoas continuarão lendo,
naturalmente, explicou, porém nas telas dos computadores, e, desse modo,
haverá mais clorofila no meio ambiente.
Eu não estava presente — conheço esses detalhes pela imprensa ,
porém, se tivesse estado, teria vaiado o senhor Bill Gates por anunciar ali,
com total falta de pudor, sua intenção de nos enviar ao desemprego, a mim
e a tantos dos meus colegas, os escritores de livros. Pode a tela substituir o
livro em todos os casos, como afirma o criador da Microsoft? Não estou tão
certo. Digo-o sem desconhecer, em absoluto, a gigantesca revolução que
significou, no campo das comunicações e da informação, o desenvolvimento
de novas técnicas, como a Internet, que a cada dia me presta uma
inestimável ajuda em meu próprio trabalho. Mas, daí a admitir que a tela
eletrônica pode substituir o papel, no que se refere às leituras literárias, há
um caminho que não pode ser cruzado. Simplesmente não consigo aceitar a
idéia de que leitura não funcional nem pragmática, aquela que não busca
uma informação nem uma comunicação de utilidade imediata, possa se
integrar na tela de um computador para o prazer e a fruição da palavra,
com a mesma sensação de intimidade, a mesma concentração e isolamento

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espiritual, com que se faz através do livro. É, talvez, um preconceito,


resultante da falta de prática, da larga identificação na minha experiência
da literatura com os livros de papel, porém, ainda que com gosto navegue
pela Internet, em busca das notícias do mundo, não me ocorreria recorrer a
ela para ler os poemas de Góngora, um romance de Onetti ou um ensaio de
Octavio Paz, porque sei, positivamente, que o efeito dessa leitura jamais
seria o mesmo. Tenho a certeza, que não posso justificar, de que, com o
desaparecimento do livro, a literatura receberia um sério golpe, talvez
mortal. O nome não desapareceria, certamente porém, provavelmente
serviria para designar um tipo de texto tão alienado do que agora
entendemos como literatura, como estão os programas de televisão sobre
fofocas e escândalos sobre os famosos do jet set ou o Big Brother das
tragédias de Sófocles e de Shakespeare.
Outra razão para dar à literatura um lugar importante na vida das
nações é que, sem ela, o espírito crítico, motor da mudança histórica e
melhor avalista de sua liberdade, com que contam os povos, sofreria uma
perda irremediável. Porque toda boa literatura é um questionamento radical
do mundo em que vivemos. Em todo grande texto literário, e, sem que
muitas vezes o tenham querido seus autores, respira uma predisposição
sediciosa.
A literatura não diz nada aos seres humanos satisfeitos com sua
sorte, que se contentam com a vida tal como a vivem. Ela é alimento de
espíritos indóceis e propagadora da inconformidade, um refúgio para aquele
a quem falta algo na vida, para não ser infeliz, para não se sentir
incompleto, sem se realizar em suas aspirações. Sair para cavalgar junto ao
esquálido Rocinante e seu desbaratado ginete pelos descampados de La
Mancha, percorrer os mares em busca da baleia branca com o capitão
Ahab, beber o arsênico com Emma Bovary ou nos converter num inseto
com Gregorio Samsa, é uma maneira inteligente que inventamos para
desagravar a nós mesmos das ofensas e imposições dessa vida injusta, que
nos obriga a ser sempre os mesmos, quando gostaríamos de ser muitos,
tantos quanto exijam para se aplacar os desejos incandescentes de que
estamos possuídos.

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A literatura somente apazigua momentaneamente essa


insatisfação vital, porém, nesse milagroso intervalo, nessa suspensão
provisional da vida na qual nos faz desaparecer a ilusão literária — que
parece nos arrancar da cronologia e da história e nos converter em
cidadãos de uma pátria sem tempo, imortal —, somos outros. Mais
intensos, mais ricos, mais completos, mais felizes, mais lúcidos que na
constrangida rotina da nossa vida real. Quando, fechado o livro,
abandonada a ficção literária, regressamos àquela e a comparamos com o
esplendoroso território que acabamos de deixar, que decepção nos espera.
Quer dizer, essa terrível evidência: que a vida sonhada do romance é
melhor — mais bela e mais diversa, mais compreensível e perfeita que
aquela que vivemos quando estamos acordados, uma vida subjugada pelas
limitações e pela servidão da nossa condição. Nesse sentido, a boa
literatura é sempre mesmo que não o pretenda nem o perceba — sediciosa,
insubmissa, revoltada: um desafio ao que existe. A literatura nos permite
viver num mundo cujas leis transgridem as leis inflexíveis pelas quais
transcorre nossa vida real, libertados do cárcere do espaço e do tempo, na
impunidade para o excesso e donos de uma soberania que não conhece
limites. Como não ficaríamos decepcionados, depois de ler Guerra e paz ou
Em busca do tempo perdido, ao voltar para esse mundo de pequenezas
sem conta, de fronteiras e proibições que nos limitam por toda parte e que,
a cada passo, corrompem nossas ilusões? Essa é, talvez, mais que a de
manter a continuidade da cultura e a de enriquecer a linguagem inclusive, a
melhor contribuição da literatura ao progresso humano: fazer-nos recordar
(sem se propor, na maioria dos casos) que o mundo está malfeito, que
mente quem pretende o contrário — por exemplo, os poderes que o
governam —, e que poderia estar melhor, mais perto dos mundos que
nossa imaginação e nosso verbo são capazes de inventar.
Uma sociedade democrática e livre precisa de cidadãos
responsáveis e críticos, conscientes da necessidade de submeter
continuamente a exame o mundo no qual vivemos para tratar de aproximá-
lo tarefa sempre quimérica daquele no qual gostaríamos de viver; porém,
graças à sua insistência em alcançar aquele sonho inalcançável — casar a

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realidade com os desejos —, a civilização nasceu e avançou, e levou o ser


humano a derrotar muitos — não todos, certamente — demônios que o
avassalavam. E não existe melhor fermento de insatisfação diante do que
existe que a literatura. Para formar cidadãos críticos e independentes,
difíceis de manipular, em permanente mobilização espiritual e com uma
imaginação sempre em brasa, nada como as boas leituras.
Pois bem, chamar de sediciosa a literatura porque as belas obras
de ficção desenvolvem nos leitores uma consciência alerta a respeito das
imperfeições do mundo real não significa, está claro, como crêem as igrejas
e os governos que estabelecem censuras para atenuar ou anular sua carga
subversiva, que os textos literários provoquem imediatas comoções sociais
ou que acelerem as revoluções. Entramos aqui num terreno escorregadio,
subjetivo, no qual convém mover-se com prudência. Os efeitos sócio-
políticos de um poema, de um drama ou de um romance são inverificáveis
porque nunca acontecem de maneira coletiva, mas individual, o que quer
dizer que variam enormemente de pessoa para pessoa. Por isso é difícil,
para não dizer impossível, estabelecer pautas precisas. Por outro lado,
muitas vezes esses efeitos, quando resultam evidentes no âmbito coletivo,
podem ter pouco que ver com a qualidade estética do texto que os produz.
Por exemplo, esse romance medíocre, A cabana do Pai Tomás, de Harriet
Elizabeth Beecher-Stowe, parece ter desempenhado um papel
importantíssimo na tomada de consciência social, nos Estados Unidos, sobre
os horrores da escravidão. No entanto, que esses efeitos sejam difíceis de
identificar não implica que não existam. Mas que eles ocorrem de maneira
indireta e múltipla, através das condutas e das ações dos cidadãos, cuja
personalidade os livros contribuíram para modelar.
A boa literatura, na medida em que apazigua momentaneamente a
insatisfação humana, incrementa-a e, desenvolvendo uma sensibilidade
crítica inconformista diante da vida, faz os seres humanos mais aptos para
a infelicidade. Viver insatisfeito, em luta contra a existência é se empenhar
em procurar três patas no gato, sabendo que tem quatro, é se condenar de
certa forma a travar essas batalhas que travava o coronel Aureliano
Buendía, de Cem anos de solidão, sabendo que as perderia todas. Isso é

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provavelmente verdade; porém também o é que, sem a insatisfação e a


rebeldia contra a mediocridade e a sordidez da vida, nós, seres humanos,
viveríamos ainda num estágio primitivo, a história teria parado, o indivíduo
não teria nascido, nem a ciência nem a tecnologia teriam se desenvolvido,
nem os direitos humanos seriam reconhecidos, nem a liberdade existiria,
pois todos são criaturas nascidas a partir de atos de insubmissão contra
uma vida percebida como insuficiente ou intolerável. Para esse espírito que
desacata a vida como ela é, e busca, com a insensatez de um Alonso
Quijano, cuja loucura, lembremos, nasceu de ler romances de cavalaria,
materializar o sonho e o impossível, a literatura serviu de formidável
combustível.
Façamos um esforço de reconstrução histórica fantástica,
imaginando um mundo sem literatura, uma humanidade que não tivesse
lido poemas nem romances. Naquela civilização ágrafa, na qual
prevaleceriam talvez sobre as palavras os grunhidos e a gesticulação
simiesca, não existiriam certos adjetivos formados a partir de criações
literárias: quixotesco, kafkiano, pantagruélico, rocambolesco, orwelliano,
sádico e masoquista, entre muitos outros. Haveria loucos, vítimas de
paranóias e delírios de perseguição, e pessoas com apetites descomunais e
excessos desaforados, e bípedes que gozariam recebendo ou infligindo a
dor, certamente. No entanto, não teríamos aprendido a ver por trás dessas
condutas excessivas, em desconfiança com a suposta normalidade,
aspectos essenciais da condição humana, quer dizer, de nós mesmos, algo
que somente o talento criador de Cervantes, de Kafka, de Rabelais, de
Sade, ou de Sacher-Masoch nos revelou. Quando apareceu o Quixote, os
primeiros leitores zombavam dessa ilusão extravagante e, da mesma
maneira, dos personagens do romance. Agora sabemos que o esforço do
Cavaleiro da Triste Figura em ver gigantes onde havia moinhos e em fazer
todos os disparates que faz é a mais alta forma da generosidade, uma
maneira de protestar contra as misérias deste mundo e de tentar mudá-lo.
As próprias noções de ideal e de idealismo, tão impregnadas de valor moral
positivo, não seriam o que são — valores diáfanos e respeitáveis — sem se
terem encarnado naquele personagem de romance com a força persuasiva

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que lhe deu o gênio de Cervantes. E o mesmo se poderia dizer desse


pequeno quixote pragmático e com saias que foi Emma Bovary — o
bovarismo não existia, está claro —, que também lutou com ardor para
viver essa vida esplendorosa, de paixões e de luxo, que conheceu pelos
romances e que se queimou nesse fogo como a mariposa que se aproxima
demais da chama.
Como as de Cervantes e de Flaubert, as invenções de todos os
grandes criadores literários, uma vez que nos arrebatam do nosso cárcere
realista e nos levam e trazem por mundos de fantasia, abrem-nos os olhos
sobre aspectos desconhecidos e secretos de nossa condição e nos equipam
para explorar e entender melhor os abismos do humano. Dizer 'borgiano' é
imediatamente sair da rotineira realidade racional e aceder a uma
fantástica, rigorosa e elegante construção mental, quase sempre labiríntica,
impregnada de referências e alusões livrescas, cuja singularidade, no
entanto, não nos é estranha, porque nela reconhecemos recônditos desejos
e verdades íntimas da nossa personalidade, que somente graças às criações
literárias de um Jorge Luis Borges tomaram forma. 0 adjetivo kafkiano vem
naturalmente à nossa mente, como o clarão de uma dessas antigas
câmeras fotográficas com braço de acordeão, cada vez que nos sentimos
ameaçados como indivíduos inermes, por essas máquinas opressoras e
destrutivas que tanta dor, abusos e injustiças causaram ao mundo
moderno: os regimes autoritários, os partidos verticais, as igrejas
intolerantes, as burocracias asfixiantes. Sem os contos e os romances desse
atormentado judeu de Praga, que escrevia em alemão e viveu sempre à
espreita, não teríamos sido capazes de entender, com a lucidez que hoje é
possível fazê-lo, o sentimento de indefensabilidade e de impotência do
indivíduo isolado ou das minorias discriminadas e perseguidas, diante dos
poderes onímodos que podem pulverizá-los e manchá-los, sem que os
verdugos tenham sequer que mostrar as caras.
O adjetivo 'orwelliano', primo-irmão do 'kafkiano', alude a uma
angústia opressiva e à sensação de absurdo extremo que geram as
ditaduras totalitárias do século XX, as mais refinadas, cruéis e absolutas da
história, em seu controle dos atos, das psicologias e até dos sonhos dos

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membros de uma sociedade, Em seus romances mais célebres, A revolução


dos bichos e 1984, George Orwell descreveu, com tintas geladas e de
pesadelo, uma humanidade submetida ao controle do Big Brother, um
senhor absoluto que, mediante a eficiente combinação de terror e de
tecnologia moderna, eliminou a liberdade, a espontaneidade e a igualdade
— nesse mundo alguns são "mais iguais que os outros" —, e converteu a
sociedade numa colméia de autômatos humanos, programados, nem mais
nem menos, como os robôs. Não somente as condutas obedecem aos
desígnios do poder; também a linguagem, o Newspeak [a novilíngua], foi
depurada de toda coloração individualista, de toda invenção e matização
subjetiva, transformada em séries de tópicos e clichês impessoais, o que
referenda a servidão dos indivíduos ao sistema. Mas talvez tenha sentido
falar ainda de indivíduos, em relação a esses seres sem soberania nem vida
própria, nesses membros de um rebanho manipulado do berço até o
túmulo, pelo poder do pesadelo orwelliano? É verdade que a profecia
sinistra de 1984 não se materializou na história real, e que, como havia
acontecido com os totalitarismos fascista e nazista, o comunismo
desapareceu da URSS e começou a se deteriorar depois na China e nesses
anacronismos que ainda são Cuba e Coréia do Norte. No entanto, o
vocábulo 'orwelliano' segue aí, vigente, como lembrete de uma das
experiências político-sociais mais devastadoras sofridas pela civilização, que
os romances e os ensaios de George Orwell nos ajudaram a entender em
seus mecanismos recônditos.
De onde resulta que a irrealidade e as mentiras da literatura são
também um precioso veículo para o conhecimento de verdades profundas
da realidade humana. Essas verdades não são sempre encantadoras; às
vezes, o semblante que se delineia no espelho que os romances e poemas
nos oferecem de nós mesmos é o de um monstro. Acontece quando lemos
as horripilantes carnificinas sexuais fantasiadas pelo divino marquês, ou as
tétricas dilacerações e sacrifícios que povoam os livros malditos de um
Sacher-Masoch ou de um Bataille. Às vezes, o espetáculo é tão ofensivo
que fica irresistível. E, no entanto, o pior dessas páginas não é o sangue, a
humilhação e as abjetas torturas e a ardilosa astúcia que as enfebrecem; é

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descobrir que essa violência e essa desmesura não são alheias, que estão
lastreadas de humanidade, que esses monstros ávidos por transgressão e
por excesso se agacham no mais íntimo do nosso ser, e que, das sombras
onde habitam, aguardam uma ocasião propícia para se manifestar, para
impor sua lei dos desejos em liberdade, que acabaria com a racionalidade, a
convivência e, talvez, a existência. A literatura, não a ciência, foi a primeira
a investigar os abismos do fenômeno humano e a descobrir seu arrepiante
potencial destrutivo e autodestrutivo. Assim, um mundo sem literatura
seria, em parte, cego sobre essas profundezas terríveis, onde, com
freqüência, jazem as motivações das condutas e dos comportamentos
inusitados, e, do mesmo modo, tão injusto contra o que é diferente, como
aquele que, num passado não tão remoto, acreditava que os canhotos, os
vesgos e os gagos eram possuídos pelo demônio e, talvez, seguiria
praticando o perfeccionismo atroz de afogar nos rios os recém-nascidos
com defeitos físicos, como certas tribos amazônicas até pouco tempo atrás.
Incivil, bárbaro, órfão de sensibilidade e torpe de fala, ignorante e
ventral, negado para a paixão e para o erotismo, o mundo sem literatura
desse pesadelo que tento delinear teria, como traço principal, o
conformismo, a submissão generalizada dos seres humanos ao
estabelecido. Também nesse sentido seria um mundo animal. Os instintos
básicos decidiriam as rotinas cotidianas de uma vida fundamentada pela
luta por sobrevivência, medo ao desconhecido, satisfação das necessidades
físicas, na qual não haveria espaço para o espírito, e na qual a monotonia
esmagadora do viver acompanharia, como uma sombra sinistra, o
pessimismo, a sensação de que a vida humana é o que tinha de ser, e que
assim será sempre, e que nada nem ninguém poderá mudá-la.
Quando se imagina um mundo assim, há a tendência de identificá-
lo de imediato com o primitivo e com as tangas, com as pequenas
comunidades mágico-religiosas que vivem à margem da modernidade na
América Latina, na Oceania e na África. A verdade é que o formidável
desenvolvimento dos meios audiovisuais em nossa época, que de um lado
revolucionaram as comunicações, fazendo-nos a todos, homens e mulheres
do planeta, co-participantes da atualidade e que, do outro, monopolizam

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cada vez mais o tempo que os seres vivos dedicam ao ócio e à diversão,
desviando-os e arrancando-os da leitura, permite conceber, como um
possível cenário histórico do futuro mediato, uma sociedade moderníssima,
eriçada de computadores, telas e microfones, e sem livros ou, melhor
dizendo, na qual os livros, a literatura teriam passado a ser o que é a
alquimia na era da física: uma curiosidade anacrônica, praticada nas
catacumbas da civilização midiática por minorias neuróticas. Eu temo muito
que esse mundo cibernético, apesar de sua prosperidade e poderio, de seus
altos níveis de vida e suas façanhas científicas, seja profundamente
incivilizado, letárgico, sem espírito, uma humanidade resignada de robôs
que teriam abdicado da liberdade.
Sem dúvida, é mais que improvável que essa perspectiva terrível
jamais chegue a se concretizar. A história não está escrita, não existe um
destino preestabelecido que tenha decidido por nós o que vamos ser.
Depende inteiramente da nossa visão e da nossa vontade, que aquela
macabra utopia se realize ou se eclipse. Se quisermos evitar que com a
literatura desapareça, ou fique esquecida ou desprezada, essa fonte
motivadora da imaginação e da insatisfação, que nos refina a sensibilidade
e nos ensina a falar corn eloqüência e rigor e que nos faz mais livres e com
vidas mais ricas e mais intensas, temos que agir. Temos que ler bons livros,
e estimular e ensinar a ler os que vêm atrás de nós - nas famílias e nas
aulas, nos meios e em todas as instâncias da vida comum -, como uma
tarefa imprescindível, porque ela impregna e enriquece a todos os demais.

LIMA, 3 DE ABRIL. DE 2001

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