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O REGIME JURÍDICO DE AUTONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DOS

ESTABELECIMENTOS PÚBLICOS DA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR E DOS


ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

Belmiro Ribeiro
(Centro de Formação das Escolas de Gondomar)

CONTEXTO

O referido Projecto de Decreto-lei é mais uma onda da maré-alta legislativa


que tem assolado a costa educativa.
Nos últimos 30 anos temos assistido a um continuum de tentativas
reformistas do ensino cujo fracasso é demonstrado pelos fracos resultados
dos nossos alunos, pela elevada taxa de abandono escolar e pela fraca
qualificação da nossa população.
Na verdade, o nosso atraso relativamente a países nossos parceiros
europeus, que é tão crescente quanto o dos maus alunos relativamente aos
bons, continua a exigir, hoje, reformas corajosas mas consequentes.
Coragem há e pressa também, pelo que só esperamos que o ditado seja
mentiroso e que consigamos fazê-lo “depressa e bem”.
Na verdade, assiste-se hoje em Portugal a um conjunto de mudanças
verdadeiramente revolucionárias. E o termo “revolucionárias” parece-me tão
bem aplicado quanto é algo muito semelhante ao observado aquando do
PREC: com intensidade revolucionária semelhante – nunca tanto se quis
mudar - mas de sentido diferente – em 75 alguns pretendiam recuperar o
atraso provocado pelo isolamento de 48 anos de ditadura, rumando ao leste
da Europa e agora exige-se recuperar da ineficácia que as várias políticas
governativas provocaram, rumando em direcção à União Europeia. Oxalá
não nos venham dizer daqui a uns anos que se enganaram, outra vez, no
rumo.

Relativamente ao referido documento, cumpre-me dizer o seguinte:

Este Projecto-lei contem qualidades genéricas mas também algumas


contradições, no que se refere ao que são, explícita ou implicitamente, as
suas intenções.

1. Não concordo com João Barroso quando considera que “o actual quadro
legislativo não é impeditivo do desiderato pretendido - reforçar o papel
das famílias e comunidades na direcção estratégica dos
estabelecimentos de ensino e favorecer a constituição de lideranças
fortes”. Entendo que a evidência empírica tem demonstrado que as
normas legislativas de largo espectro não asseguram, por si só, os
princípios que lhe são inerentes e podem mesmo promover equívocos
democráticos.

2. Considero que se, frequentemente, a participação cívica das famílias e


das comunidades na escola é considerada deficitária - quantitativa e/ou
qualitativamente – então, mandatar-lhes funções concretas de
responsabilidade pode ser uma boa forma de promover essa
participação, que passa a ser civicamente obrigatória para muitos. É

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essa determinação que vejo no Projecto de Decreto-lei em apreciação,
ao atribuir às famílias maior representatividade mas também maior
responsabilidade, no que se refere à sua função no Conselho Geral ao
qual caberá o papel regulador e ao qual a escola terá de prestar contas
– um misto de Conselho Social e de Conselho Fiscal que bem poderia
continuar a chamar-se Assembleia de Escola.
Não nos esqueçamos que, ao longo dos últimos anos, um número
crescente de pais e encarregados de educação tem demonstrado
interesse pelo processo educativo dos seus filhos na escola, ainda que,
por vezes, apenas como exigentes consumidores de um serviço público.
Este interesse crescente é visível na disseminação de associações de
pais.
Considero que uma escola sem a participação dos pais e restante
sociedade civil pode até ser tanto ou mais eficaz nos resultados
escolares, mas sonega um direito e uma lógica de pertença da escola.
Inevitavelmente, escolas e pais, face ao Projecto de Decreto-lei, têm um
percurso comum a percorrer que não será fácil. Todavia, nem nós, os
professores, poderemos esquecer os pais interessados, evocando
apenas os que nunca aparecem ou que participam tropegamente, nem
os pais participativos podem evocar apenas as escolas e os professores
que limitam a sua participação.

3. A constituição do Conselho Geral, parecendo ter a intenção de


participação paritária dos vários membros da comunidade educativa,
padece de uma contradição. Mais do que o menor grau de
representatividade dos docentes que não me choca, o impedimento de
poderem presidir a este órgão contradiz, de forma aberrante, essa
paridade. Estes obstáculos não impedirão que, em muitos casos e
durante muito tempo, os docentes possam dominar o funcionamento do
Conselho Geral, porque serão os únicos possuidores de conhecimentos
técnicos imprescindíveis para apreciar, por exemplo, o projecto
educativo de escola/agrupamento. Questões que se dissolverão no
tempo, espero.
4. Essas questões vão tornar-se ainda mais visíveis no Conselho
Pedagógico onde, concordando com João Barroso e Natércio Afonso,
penso que não faz o mais pequeno sentido a presença das famílias
neste órgão que deve ser exclusivamente técnico-pedagógico.
Acredito que este ponto venha a ser alterado. Os próprios pais
reconhecerão a insensatez de os sobrecarregar com responsabilidades
que extravasam as suas competências e direitos. A sua participação e
função reguladora cabem bem nas determinadas para o Conselho Geral.
5. Não deixo de lamentar, por isso, que a intenção positiva de promover a
participação das famílias e da comunidade na escola se faça
paralelamente à deliberada desvalorização do papel dos professores em
órgãos fundamentais de decisão estratégica e mesmo pedagógica;
6. Quanto à maior participação dos municípios, esta reflecte o que se tem
observado nas últimas medidas do Ministério da Educação, que tem
vindo a transferir para as autarquias cada vez mais competências sobre
as escolas. Esperemos que o próximo passo não seja transferir também
a tutela dos professores.
7. Concordo com João Barroso e Natércio Afonso quando defendem a
agilização do Conselho Municipal de Educação onde teriam assento os
Presidentes dos Conselhos Gerais do concelho. Esta também me

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parece a forma mais eficaz de potencializar a participação da autarquia
e reabilitar um órgão colegial de cariz cívico já existente e, em vários
concelhos, desvalorizado.
8. A participação dos municípios no C.G., face ao elevado número de
escolas e agrupamentos, deverá ser delegada, em muitos casos, nas
juntas de freguesia. Antevejo que muitos desses representantes
poderão vir a ter que dar um passo maior do que a própria perna se
forem chamados a participar mais activamente no Conselho Geral -
onde poderão vir a ser presidentes - do que participavam nas
Assembleias de Escola. Uma questão que se dissolverá no tempo?
Neste caso não tenho essa convicção.
9. A participação de “instituições, organizações e actividades de carácter
económico, social, cultural e científico” revela uma intenção positiva e
um potencial enorme de aproximação de instituições – a escolar com
outras – cujo único pecado no seu relacionamento tem sido, por vezes,
estarem tão próximas. Não são raras as vezes em que se procuram
soluções longe quando elas estão, muitas vezes, na porta ao lado. Essa
aproximação “obrigatória e conveniente” possibilitará a rentabilização
dos recursos de proximidade: facilitará a aproximação entre o mundo
escolar e o profissional, da escola com as associações culturais e
recreativas, museus e, em alguns casos, até com as instituições do
ensino superior de localização próxima.
10. Será um processo cujo início se prevê naturalmente tortuoso.
Dependendo do dinamismo do movimento associativo e do número de
equipamentos sociais, económicos e culturais, existirão locais em que
uma só associação ou instituição terá de estar presente no Conselho
Geral de várias escolas/agrupamentos. Este será um dos
constrangimentos que pode assolar o Conselho Geral.

11. Concordo, em absoluto, com o fim da gestão colegial dos


estabelecimentos de ensino e a criação da figura do director com
poderes, deveres e autoridade reforçadas.
A democracia na escola não se perderá ou ganhará por alterarmos o
modelo de gestão de colegial para unipessoal. Uma gestão colegial pode
ser, sofregamente ou dissimuladamente, autocrática e uma gestão
unipessoal pode ser devidamente colegial se auscultar, sentir
necessidades, incentivar, em suma, liderar.
12. Quem gere uma escola terá de ser inevitavelmente um docente (nem
posso considerar outra possibilidade), mas com poderes reforçados que
lhe permitam atingir objectivos precisos, de acordo com o projecto
aprovado pelo C.G. para a escola/agrupamento. A gestão unipessoal
poderá contribuir mesmo para uma maior autonomia das escolas -
embora isso não esteja absolutamente dependente delas porque
ganharão maior poder decisório.
13. Neste sentido, o facto do director ser obrigatoriamente o Presidente do
Conselho Pedagógico e dever escolher os vários coordenadores parece-
me implícito ao modelo mas não absolutamente necessário. Considerar-
se-á importante que este tenha o domínio sobre o órgão de gestão
intermédia, impedindo deste modo eventuais forças de bloqueio.
14. É muito importante que o director seja um professor com formação
específica para o cargo com competências na área administrativo-
financeira mas, também e sobretudo, que seja um bom gestor de
recursos humanos - sensível às várias tendências e às competências

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diversificadas das pessoas que gere - com amplos conhecimentos
pedagógicos e sentido de inovação e criatividade.
15. O Ministério da Educação deve garantir a boa qualidade dos cursos de
especialização em gestão e administração escolar e definir o número de
anos ou créditos, conteúdos, formas de avaliação e acreditando
entidades responsáveis por essa formação.
16. Concordo que o cargo de director possa ser desempenhado por um
professor não pertencente a essa escola/agrupamento. Penso que, em
alguns casos, desconhecer o grupo de funcionários docentes e não
docentes de uma escola pode até facilitar a eficácia da acção de quem a
vai dirigir. Por outro lado, o desconhecimento da escola/agrupamento a
que concorre pode condicionar a qualidade do projecto a apresentar em
candidatura. Mas, nesse caso, caberá ao Conselho Geral analisar e dar
o parecer sobre os vários projectos e candidatos a concurso.
17. Considero que perante as novas exigências que se colocarão a quem
vai gerir as instituições escolares, a criação da carreira de gestão
escolar tornar-se-á determinante e imperiosa, a breve prazo.
18. Estas considerações não significam o menosprezo nem a
desvalorização do excelente trabalho de muitos e muitos colegas que,
ao longo destes anos, têm dado muito de si para proporcionar um ensino
de qualidade nas escolas que dirigem. O resultado da avaliação das
escolas confirma isso mesmo.
19. Mas, se há questão que empiricamente se conhece do modelo de
gestão existente, os casos de maior eficácia estão, na maior parte das
vezes, intimamente relacionados com lideranças fortes (não confundir
com lideranças autoritárias). Se este parece ser um dos melhores
indicadores de uma gestão eficaz, então devemos procurar garantir a
disseminação desse modelo de liderança.

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