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N
o mundo contemporâneo, em vertiginosa transfor- evangelização e promoção humana, provenientes de várias
mação, a Missão está cada vez mais exigente e realidades, vieram em busca de “respostas para as novas
desafiadora. Momentos de reflexão são necessários situações e desafios que estão enfrentando na Missão”.
e importantes. Pensando nisso, os missionários da Sob orientação e assessoria, eles estão tendo a oportuni-
Consolata programaram um curso de formação e dade – através do estudo, aprofundamento, reflexão, partilha
atualização permanente para missionários jovens, no de experiências e oração – de ampliar seus conhecimentos e
Centro de Animação José Allamano (CAM), situado na Região adquirir uma visão mais ampla do mundo, da história e da Igreja.
Norte de São Paulo. Essa oportunidade será de muita valia para eles, para a Igreja
O curso começou em agosto e terminará em outubro. Par- missionária à qual pertencem e para a sociedade onde estão
ticipam dele 20 padres, de sete nacionalidades, que trabalham desenvolvendo seus trabalhos.
em 11 países de quatro continentes: Europa, África, Américas
e Ásia. Estes jovens missionários, engajados no trabalho de Ir. Rosa Clara Franzoi, animadora vocacional.
Arquivo CAM Allamano
EDITORIAL
SUMÁRIO
Isto não Vale! setembro 2007/07
O
s conceitos de neoliberalismo e Estado mínimo estão
intimamente ligados, já que o sistema daquele incentiva
a iniciativa privada e reduz o controle deste. A prática da
privatização dos serviços públicos e a exploração dos
recursos naturais é uma característica do neoliberalismo.
No Brasil, as privatizações em cadeia ocorridas nos
últimos tempos devem ser entendidas num contexto mais amplo
1 - Partipantes do Fórum Social
de crise estrutural da economia capitalista, que contabiliza várias Mundial, Porto Alegre, 2005.
“décadas perdidas”, cujas conseqüências são visíveis. As riquezas
de muitos países africanos como, por exemplo, a extração do gás 2 - Celebração durante a
natural em Moçambique enriquece uma minoria e engorda compa- V Conferência, Aparecida, SP.
Fotos: Jaime C. Patias
nhias privadas estrangeiras. Enquanto isso, o povo da região que
deveria usufruir da extração desses bens, deve contentar-se com
a lenha e o carvão para preparar seus alimentos consumidos no
escuro ou à luz de velas. MURAL DO LEITOR--------------------------------------04
Diante desse quadro, não é de se estranhar que resistências Cartas
e alternativas de novos atores sociais e novas práticas surjam um OPINIÃO--------------------------------------------------05
pouco por toda parte do mundo globalizado. Nisso, talvez o maior Aprendizagem para a vida
Marcelo Krokoscz
exemplo hoje seja a Bolívia que elegeu em 2005, Evo Morales Ayma,
o primeiro índio presidente de um país. Com 62% de população indí- PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07
gena, a Bolívia é um dos países Todo problema tem solução
Rosa Clara Franzoi
Divulgação
- Setembro 2007 3
Mural do Leitor
Ano XXXIV - Nº 07 Setembro 2007 Revista Missões
Sou leitor e admirador de Missões.
Diretor: Jaime Carlos Patias Uma revista pode ser definida como uma
publicação periódica, em que se divul-
Editor: Maria Emerenciana Raia gam artigos, reportagens sobre diversos
assuntos, trabalhos já apresentados em dia, alguém me apresentou uma revista
livros ou em outros meios de comunica- missionária. Levei para casa e comecei a
Equipe de Redação: José Tolfo,
ção. Missões, porém, é uma revista que ler. Gostei tanto que logo fiz a assinatura.
Ramón Cazallas, Patrick Gomes Silva e
desde o seu surgimento, continua tendo Atualmente, sou Ministro Extraordinário
Rosa Clara Franzoi
um propósito determinado: tornar conhe- da Eucaristia, contribuo na catequese
cidas as mais variadas mensagens na quando solicitado e estou me engajando
Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard,
área missionária, visando despertar nos num trabalho missionário da paróquia.
Lírio Girardi, Luiz Balsan, Joaquim F.
corações das pessoas a chama da missão, Nestes dias eu estava pensando o
Gonçalves, Roseane de Araújo Silva, razão de ser de quem lhe está à frente. quanto essa revista me ajudou no cresci-
Humberto Dantas, Luiz Carlos Emer, Essa publicação caminha, certamente, mento da minha consciência missionária.
Camilo Solano em conjunto com as demais iniciativas No decorrer desse tempo, ela já mudou
missionárias da Igreja e dos dois Institu- várias vezes de estilo, de diretor, e eu con-
Agências: Adital, Adista, CIMI, tos da Consolata, radicados em dezenas tinuo firme, não só na leitura, mas também
CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA, de países, em quatro continentes. Eles na sua divulgação, porque o que é bom,
Pulsar, Vaticano sabem que as palavras voam, mas os a gente precisa espalhar. Estou falando
escritos perpetuam a mensagem. Mis- com conhecimento de causa, pois são 20
Diagramação e Arte: Cleber P. Pires sões é uma revista que não se conforma anos que conheço Missões. Minha primeira
em ficar descansando nas prateleiras de assinatura foi feita em maio de 1987. Só
Jornalista responsável: uma biblioteca. Ela quer ser porta-voz de tenho que agradecer a Deus e pedir que
Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) milhares de anunciadores da Boa Nova ele continue abençoando todos os que
que utilizam este meio, aparentemente colaboram para que a revista se torne
Administração: Eugênio Butti mudo, mas, extremamente eloqüente, sempre mais divulgadora da Missão.
para penetrar no seio das famílias. Seu
Sociedade responsável: conteúdo interroga e questiona. Ela também Robinson Lourenço da Silva
Instituto Missões Consolata chama a atenção por sua apresentação Paróquia Santa Margarida, Curitiba, PR.
(CNPJ 60.915.477/0001-29) gráfica por sua diagramação artística, por
seu alegre multicolorido; mas, especial- Sinto-me orgulhoso de fazer parte desta
Impressão: Edições Loyola mente, por seu conteúdo, rico e variado, família Consolata e de ver que cada vez
Fone: (11) 6914.1922 atual e convincente. Ela se apresenta crescem mais as iniciativas missionárias.
com um rosto multicultural e planetário, Desde janeiro estou no Noviciado em
Colaboração anual: R$ 40,00 característico de todo missionário, de toda Buenos Aires, Argentina, com outros dez
BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 missionária. Para mim, este é um trabalho noviços do Brasil, Argentina, Colômbia e
Instituto Missões Consolata de perseverança e de teimosia, digno do Venezuela. Escrevo para parabenizar a
(a publicação anual de Missões é de 10 números) mais sincero louvor. Parabéns à equipe vocês pelo excelente trabalho, seja pela
de redação e colaboradores. revista, seja pelo site. Estando em outro
país, acompanho muito do que acontece
Missões é produzida pelos
Dario Paterno no Brasil e em “outras partes” através
Missionários e Missionárias da Consolata
Paróquia Nossa Senhora Consolata, Jardim São Bento, SP. destes meios. Quando chega a revista,
Fone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP
procuro ler “de cabo a rabo”. Realmente as
(11) 6231.0500 - São Paulo/SP
Quando o Senhor me chamou a con- matérias são muito boas como instrumento
(95) 3224.4109 - Boa Vista/RR
tribuir com um pouco do meu tempo e de formação humana e missionária. As
minha capacidade na catequese da minha novas páginas “Juventude Missionária”
Membro da PREMLA (Federação de Imprensa comunidade, prontamente eu disse sim. e “Passatempo” complementam o ótimo
Missionária Latino-Americana) e da UCBC Nunca havia participado ativamente de trabalho que fazem. Gostaria de testemu-
(União Cristã Brasileira de Comunicação Social) nenhuma pastoral. Pensei que falar de nhar que, em especial, nos ajudou muito o
Jesus para as crianças não seria tão difícil; material publicado sobre a V Conferência
Redação mas depois de ter iniciado, fui perceben- do CELAM. Usamos muitas informações
Rua Dom Domingos de Silos, 110 do que a minha bagagem era pouca; eu no Noviciado e alguns artigos, traduzi para
02526-030 - São Paulo precisava de bem mais conhecimentos, e enviar a outras pessoas. Continuem firmes
Fone/Fax: (11) 6256.8820 sai à procura. Participei de vários cursos anunciando “a Missão no plural”.
Site: www.revistamissoes.org.br de formação oferecidos pela paróquia
E-mail: redacao@revistamissoes.org.br e pela diocese; mas sentia que estava Júlio Caldeira
me faltando alguma coisa a mais. Um Noviciado IMC, Buenos Aires, Argentina.
4 Setembro 2007 -
Aprendizagem
OPINIÃO
para a vida
Q
resulta em sistemas pedagógicos orientados para o ensino, o
uando a escola foi instituída pela burguesia no século enfoque de José Allamano privilegia a importância da formação
XVI, manteve a incumbência de educar, isto é, de nos processos educativos.
promover o processo de desenvolvimento integral Trata-se de duas características educacionais importantes
do infante, de sua capacidade física, intelectual e e complementares, que vêm sendo adotadas na proposta do
moral, visando a formação do caráter e da perso- Colégio Consolata, em São Paulo, há 58 anos. A proposta do
nalidade social. Além disso, a escola assumiu como Colégio promove a construção de processos de ensino e apren-
papel, o ensino, isto é, a transmissão do conhecimento adquirido dizagem baseada na concepção pedagógica de desenvolvimento
e acumulado pela humanidade, com o objetivo de formar o ho- de habilidades e competências; e ao mesmo tempo, cultiva a
mem culto capaz de brilhar nas cortes aristocráticas. A partir da formação de valores para a vida, através de atividades que
Revolução Industrial (séc. XVIII), a escola passou a ter também promovem a comunhão e estimulam a missionariedade, como:
a função de instruir tecnicamente seus alunos para atuarem cooperação humana, estímulo à participação social, consciência
no mercado da nascente era capitalista. Podemos destacar a de cidadania e preservação da dignidade da pessoa. São carac-
partir daí, as três principais atividades educativas: Formação, terísticas fundamentadas pedagogicamente em teóricos como
Ensino e Instrução, que em geral, nos programas escolares, Philippe Perrenoud e nas diretrizes nacionais, enriquecidas com
são desenvolvidas através de processos atitudinais (formação), a especificidade dos aspectos formativos de José Allamano.
conceituais (ensino) e procedimentais (instrução). Em suma, como diz a professora Mônica B. Mazzo, coor-
denadora pedagógica, “o Colégio Consolata, procura em sua
Identidade própria e diferenciada proposta, desenvolver uma aprendizagem que faça sentido
Embora o Bem-aventurado José Allamano, fundador da para a vida, estando adequada aos quatro pilares da educação
Obra Missionária da Consolata, nunca tenha elaborado um instituídos pela UNESCO como o grande desafio da educação
modelo pedagógico como os que foram concebidos por pensa- para o século XXI: Conhecer, Fazer, Conviver e Ser”. No traba-
dores como Piaget, Montessori e Paulo Freire, por exemplo, é lho do Consolata, desenvolvem-se o conhecer e o fazer, com o
possível identificar em seus escritos uma grande contribuição respaldo técnico dos sistemas pedagógicos disponíveis; mas o
educacional. Os teóricos citados e muitos outros desenvolve- conviver e o ser são promovidos com base no modelo educativo
ram modelos pedagógicos a partir de pesquisas e reflexões allamaniano; o que faz com que o Colégio tenha uma identidade
acadêmicas sobre o processo de ensino e aprendizagem. Na própria e diferenciada.
reflexão destes pensadores, destaca-se uma natureza epistê-
mica, ou seja, uma preocupação orientada para os processos Marcelo Krokoscz é mestre em Educação, licenciado em Filosofia e Pedagogia, bacharel em
de conhecimento. Diferentemente, o interesse de Allamano é o Teologia e educador do Colégio Consolata, São Paulo.
- Setembro 2007 5
A profecia na Vida Religiosa
E
ntre os dias 16 e 20 de julho, cerca de 500 religiosos morte, ressurreição e ascensão se traduzem para a VRC como
e religiosas do Brasil, representando 50 mil membros, mística e testemunho que propagam ao mundo palavras de
participaram da XXI Assembléia Geral da Conferência vida e de esperança.
dos Religiosos do Brasil (CRB), realizada no Liceu As cinco prioridades elegem pontos de grande importância
Coração de Jesus,Campos Elíseos, São Paulo. Tendo nos dias de hoje, mostrando o compromisso da VRC:
como tema “Vida Religiosa e espaços em transforma- 1. Reafirmar o compromisso da Vida Religiosa Consagrada
ção”, os participantes refletiram sobre diversas questões como: no serviço à vida diante das grandes questões sociais e ambien-
a “Vida Religiosa inserida em meios populares e novos espaços tais, e fortalecer a inserção nos meios populares e em novos
de presença solidária” e a “Missão profética da vida consagrada espaços de solidariedade e cidadania;
face aos espaços em transformação”. A Assembléia teve vários 2. Cultivar uma espiritualidade encarnada e profética, cen-
assessores, entre eles, o jesuíta Inácio Neutzling e frei Luiz trada na Palavra de Deus e na mística do discipulado, aberta à
Carlos Susin, que apresentaram um painel sobre a dimensão diversidade cultural, religiosa e de gênero;
sociocultural e os desafios da vida religiosa na atualidade. O 3. Dinamizar a formação inicial e continuada diante da mu-
padre Oscar Beozzo falou sobre a conjuntura eclesial e mostrou dança de época, de forma integral, humanizante e geradora de
os dados da distribuição dos espaços da Igreja no século XX. novas relações;
Beozzo falou sobre o crescimento do cristianismo na África e 4. Ampliar as alianças intercongregacionais, as redes de
ressaltou a necessidade de se buscar novas formas de ecle- parcerias, na formação e na missão, e intensificar a partilha dos
sialidade. Ir. Vera Ivanise Bombonatto, FSP, apresentou a Vida carismas com leigos e leigas.
Consagrada no documento de Aparecida. 5. Buscar novas formas de aproximação e presença junto
Nos estudos e debates sobre o tema da Assembléia, ficou à juventude.
nítida a preocupação sobre os desafios das grandes mudanças Estas prioridades merecerão um estudo cuidadoso que
atuais à Vida Religiosa Consagrada (VRC), bem como se reafir- desdobre o alcance de seus desafios. E devem gerar projetos
mou a decidida escolha pelo seguimento de Jesus na fidelidade específicos que vão integrar o planejamento de ação deste
evangélica que leva à missão profética. Constatou-se igualmente triênio.
a necessidade de prosseguir em busca da compreensão sobre o Na tarde do dia 18 de julho, a Assembléia elegeu a nova
alcance das mudanças socioculturais e sobre as exigências da presidência para os próximos três anos:
VRC nesses novos
Presidente
Arquivo CRB
6 Setembro 2007 -
Todo problema
pró-vocações
tem solução
De todas as derrotas, a mais desastrosa é o desânimo.
T
nós mesmos e, o que é pior, chegamos a culpar todo mundo, até
odo problema tem solução. É isso mesmo? Quantos o próprio Deus, pelos nossos fracassos. Os velhos e tão conhe-
problemas ficam por aí e acabam desaparecendo, inso- cidos ditos populares, hoje ainda são válidos: “Ajuda-te que Deus
lúveis. Portanto, à primeira vista, a afirmação é um tanto te ajudará”, e, “Deus ajuda quem cedo madruga”. Daí, que nunca
duvidosa. Mas, veja que quem a escreveu foi um entendido devemos entregar os pontos, até não termos esgotado todas as
no assunto. No seu livro “O sucesso - você pode mudar tentativas de solução. Tentar, tentar e outra vez tentar, persistir na
a sua vida”, o Dr. Lair Ribeiro, médico especializado no procura, porque “ninguém é derrotado antes de depor as armas”.
campo da neurolinguística, afirma: “Todo problema traz embutida a
solução”. E diz mais: “Os problemas são nossos melhores amigos”. Persistência e vontade de vencer
Até custa acreditar. Mas, vamos tentar entender como é que isso Conta uma lenda, que um cavalo de estimação caiu num poço. O
funciona. Muitas pessoas passam a vida reclamando que tudo é seu dono, após ter esgotado todos os meios para salvá-lo, chamou
difícil, que ninguém as compreende; vivem chateadas, chegam a alguns homens e pediu que enchessem o poço de terra, sacrificando
cair no desânimo, na depressão. E os culpados são sempre os “pro- assim o animal. E o trabalho começou. Porém, a cada pá de terra
ble-mas...” Mas, podemos perguntar: Como se explica o fato, que que jogavam sobre suas costas, o cavalo, instintivamente a sacudia
alguns, com problemas semelhantes ou até idênticos, conseguem e ela caía. À medida em que a terra ia aumentando, ele levantava
dar a volta por cima e outros ficam reféns, arrastando-os por toda as patas e a terra lhe servia de suporte. Não obstante a posição
incômoda e os ferimentos que o faziam sofrer, o cavalo continuava
a repetir, sem parar, o movimento de sacudir a terra; e enquanto
Quer ser um missionário/a? o poço ia se enchendo, o cavalo ia subindo, até chegar ao topo,
libertando-se da horrível prisão, para a alegria de seu dono e de
Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli todos os que acompanharam sua luta pela vitória.
Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui É apenas uma história; mas, a lição que nos deixa é que, sem
02611-001 - São Paulo - SP perseverança, persistência e garra não chegaremos a solucionar
Tel. (11) 6231-0500 - E-mail: rebra@uol.com.br os problemas que nos atingem.
Diante de tudo o que é motivo de contrariedade que faz sofrer,
Centro Missionário “José Allamano” - Pe. José Tolfo respire fundo e diga a si mesmo: eu, que sou um ser inteligente e
Rua Itá, 381 - Pedra Branca
02636-030 - São Paulo - SP livre, não posso ficar refém desta ou daquela situação; irei procurar
Tel. (11) 6232-2383 - E-mail: secretariamissao@imconsolata.org.br me libertar o quanto antes. Além disso, não deixe de pôr em ação
a fé. Jesus, falando do poder dela e da oração disse: “Quem pede,
Missionários da Consolata - Pe. César Avellaneda recebe; quem busca, acha e a quem bate, ser-lhe-á aberta a porta”
Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 (cfr Mt 7, 7-8).
69072-970 - Manaus - AM
Tel. (92) 624-3044 - E-mail: amimc@ibest.com.br
Rosa Clara Franzoi é missionária e animadora vocacional.
- Setembro 2007 7
Latina e Caribe. Do Brasil participaram: dom Sérgio
Arthur Braschi, bispo de Ponta Grossa, PR, Membro da
Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e
Cooperação Intereclesial da CNBB; padre Daniel Lagni,
Diretor Nacional das Pontifícias Obras Missionárias
(POM) do Brasil; padre Estevão Raschietti, xaveriano,
de Curitiba, PR, Assessor Teológico e Missiológico
do Conselho Missionário Nacional (COMINA) e das
POM do Brasil.
O arcebispo de Aparecida, SP, dom Raymundo seqüestrados nos campos e sofreram humilhações
Damasceno Assis, é o novo presidente do CELAM gratuitas. Percebemos o sofrimento destas crianças e
-Conselho Episcopal Latino-Americano. Ex-secretá- decidimos ajudá-las”. A paróquia conseguiu reintegrar
rio-geral da entidade, dom Raymundo foi eleito na na comunidade local uma centena de ex-combatentes
31ª Assembléia Ordinária do Conselho realizada dia Mai Mai (a milícia local). Agora, é a vez de cerca de
10 de julho, em Havana. Ele substituirá no cargo, o 50 jovens congoleses que foram alistados à força por
cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa, arcebispo um movimento de guerrilha ugandense (Nalu), que
de Santiago do Chile. O último brasileiro a presidir o atua ao longo da fronteira entre Uganda e a Repú-
CELAM foi dom Aloísio Lorscheider, entre 1976 e 1979. blica Democrática do Congo. Durante uma operação
Na mesma Assembléia foram eleitos dom Baltazar do Exército congolês conduzida no ano passado, os
Enrique Cardozo, arcebispo de Mérida, Venezuela, jovens conseguiram escapar de seus seqüestradores
como primeiro vice-presidente e dom Andrés Stanov- e retornar às suas aldeias, tendo sido acolhidos com
nik, bispo de Reconquista, Argentina, como segundo indiferença. Graças ao empenho da paróquia, estes
vice-presidente. Uma das primeiras missões da nova jovens freqüentaram um curso de alfabetização, para
diretoria, cujo mandato vai de 2007 a 2011, será dar prosseguir seus estudos profissionais. Um trabalho
os encaminhamentos finais ao Documento da V Con- nem sempre fácil para os voluntários que assistem
ferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, aos jovens na reintegração social.
realizada em Aparecida.
Filipinas
Equador Estudantes cristãos e muçulmanos
Simpósio prepara o CAM3-COMLA8 Aescola estadual no centro da cidade de Malaybalay,
Realizou-se de 30 de julho a 3 de agosto, em na ilha de Mindanao, é a maior escola primária da capital
Quito, o 2° Simpósio Internacional de Missiologia, com da província de Bukidnon. Dos seus 2.900 estudantes,
o tema geral Antropologia e Pastoral da Missão. O 120 pertencem a famílias cristãs e o restante a famílias
objetivo foi de “aprofundar a Antropologia e a Pastoral muçulmanas. Uma professora, Sahra Khabla, defende
da Missão, para dar uma contribuição à apresentação que para as crianças, sejam muçulmanas ou cristãs,
do 3° Congresso Missionário Americano-8° Congresso é de importância vital aprender os valores de ambas
Missionário Latino-Americano (CAM 3-Comla 8, de 12 as religiões. Um outro professor, que é o marido de
a 17 de agosto de 2008, na capital equatoriana)”. Khabla, Esmail Datu, reitera o mesmo pensamento e
Durante os três dias de trabalhos aprofundaram- as vantagens do programa para uma educação mais
se os temas: Nosso Discipulado Missionário Hoje na completa. Ele acrescenta que tal ensinamento ajuda
Comunidade Local, com a conferência sobre Antropo- os estudantes a adquirir um melhor conhecimento de
logia Missionária, do professor Lucas Cerciño, Bolívia, suas diferenças, para que possam aprender a viver
questionando “o que deve a Igreja assumir da reali- em paz entre si, respeitando-se reciprocamente. Min-
dade antropológica atual”; Levados pelo Espírito nos danao é uma região de maioria muçulmana. A Frente
Encontramos em Missão, com a conferência sobre as Islâmica de Libertação Moro, um grupo separatista,
Perspectivas Missionárias da V Conferência, proferida está em guerra com as tropas do governo há quatro
por padre Paulo Suess, Brasil, visando aprofundar sobre décadas para obter a autonomia da região. No decorrer
“o que propõe a Igreja, discípula e missionária, a partir dos anos, a guerra fez milhares de vítimas. Enquanto
de Aparecida”; Nossa Igreja de Hoje: a partir de uma isso, os chefes islâmicos e os líderes da Igreja Católica
Identidade Discípula e Missionária, com a conferência estão fazendo de tudo para promover a paz na área.
sobre Pastoral Missionária a partir da Comunidade Nas Filipinas, o ensinamento dos valores islâmicos é
Local, do padre Estevão Raschietti, Brasil, suscitando inserido somente em escolas islâmicas ou nos institutos
questionamentos sobre “como podemos realizar a privados muçulmanos.
Missão, a partir de nossas Igrejas particulares”.
Foram 120 participantes de 16 países da América Fontes: CNBB, Fides, POM.
8 Setembro 2007 -
INTENÇÃO MISSIONÁRIA
A fim de que, aderindo com alegria a Cristo,
todos os missionários e missionárias saibam
ultrapassar as dificuldades que encontram
na vida de cada dia.
de Vitor Hugo Gerhard
E
m 1824 chegaram os primeiros grupos de imigrantes
alemães no Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul.
Vieram de navio a vapor, numa longa viagem de cinco
semanas, atravessando os mares, passando pelo porto Pintura de Ernest Zeuner retrata a chegada dos imigrantes alemães em S. Leopoldo, RS.
do Rio Grande, subindo a Lagoa dos Patos e chegando pos de “férias” para rever os parentes. Em sua grande maioria,
finalmente ao Porto dos Casais, antigo nome de Porto Alegre. vinham para viver e para morrer nestas terras de adoção. Vinham
Dali subiam o Rio dos Sinos até chegarem na atual São Leopol- para gastar o resto de seus dias nas terras de missão.
do. 50 anos depois foi a vez dos italianos fazerem um percurso Hoje os tempos são outros e os recursos também. Já não se
semelhante, subindo até a atual cidade de Caxias do Sul e fala em missão com a mesma radicalidade de antes. As propostas
região serrana. Tudo isso sem estradas, sem energia elétrica, e as ofertas são mais promissoras. Já se pode falar instantane-
sem telefone, sem celular, sem internet, sem carros com tração amente com os lugares de origem, mandar fotos, conversar em
nas quatro rodas, enfim, nas condições que os tempos de então tempo real através dos modernos meios eletrônicos e até voltar
ofereciam. E com eles vieram os missionários, para atender às rapidamente em caso de morte, ou mesmo para tratamentos de
comunidades em suas necessidades religiosas, sociais, edu- saúde e dentários. Agora é preciso dizer algo novo, pois o sobre-
cacionais e sanitárias. dito já é velho. E a novidade consiste no fato de, independente
Uma irmã Franciscana da Penitência e Caridade Cristã nos das condições de outrora ou de hoje, a alegria do missionário e
contava que, naqueles tempos, vieram da Europa grupos de da missionária está ligada, de maneira visceral à radicalidade
freiras para trabalhar nos leprosários do sul do Brasil e que, da opção por Cristo, e não necessariamente à dureza da vida
antes de saírem de sua terra, deveriam assinar um termo de ou ao acesso aos meios. O essencial está no configurar-se ao
compromisso que, uma vez estando entre os leprosos, lá per- Senhor da missão e quanto mais formos capazes disso, mais
maneceriam até a morte, para evitar possíveis contaminações seremos capazes também de irradiar esta alegria própria de
na população em geral. quem encontrou um grande amor.
Estes missionários e missionárias vinham para estas terras
sem a menor possibilidade de retornar, ainda que fosse em tem- Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.
P
adre Aquiléo Fiorentini, superior geral dos missionários Senhora de Fátima de Três de Maio, RS, no
Jaime C. Patias
da Consolata, em rápida visita ao Brasil, celebrou seu ano de 1965, passando por Erechim, RS, para
Jubileu de Prata de ordenação sacerdotal. As comemora- completar o curso científico; sucessivamente
ções iniciaram-se no dia 22 de julho com uma missa em cursou Filosofia em São Paulo. Após o ano de
ação de graças na paróquia Nossa Senhora Consolata, Jardim noviciado, em 1978, iniciou o curso de Teologia
São Bento, em São Paulo e um almoço de confraternização. A na Universidade Urbaniana em Roma. No dia
celebração principal ocorreu no dia 29 de julho, na Comunidade 10 de julho de 1982 foi ordenado sacerdote na
São Brás, em Tucunduva, RS, sua terra natal, onde vive a maior Igreja Matriz de Três de Maio. Regressou a Roma
parte de seus familiares. A missa contou com a presença de dom para completar os estudos de especialização
Estanislau Amadeu Kreutz, bispo emérito de Santo Ângelo, RS, em Missiologia e em 1983 partiu para Moçam-
padres, religiosas e grande número de fiéis amigos. Durante a bique, África, onde trabalhou nas Missões de
homilia Padre Aquiléo destacou o dom do sacerdócio como graça Vilankulos, Mapinhane e Maimelane, ao mesmo
de Deus a serviço da Igreja missionária. Na ocasião foi realizado tempo. No ano de 1987 regressou ao Brasil para trabalhar na
um encontro com os amigos, antigos alunos do seminário da formação de novos missionários em Cascavel e Curitiba. Em
Consolata residentes naquela região do Rio Grande do Sul. 1995 voltou a Roma onde se especializou em Psicologia. No X
Vários familiares de missionários e missionárias da Consolata Capítulo Geral, realizado no Quênia em 1999, foi escolhido como
da região participaram dos festejos preparados com carinho pela Conselheiro Geral do Instituto dos Missionários da Consolata.
família Fiorentini e a comunidade. Durante o XI Capítulo Geral, realizado em São Paulo, em 2005,
Padre Aquiléo nasceu em São Brás, município de Tucun- foi eleito Superior Geral, tornando-se o oitavo sucessor do fun-
duva, aos 11 de fevereiro de 1952, décimo filho de Guilherme e dador, o Bem-aventurado José Allamano, primeiro brasileiro a
de Rosália Fiorentini (falecidos). Ingressou no seminário Nossa ocupar este cargo.
- Setembro 2007 9
Os gritos
espiritualidade
de ontem e de hoje
A Bíblia nos relata que Deus
sempre está atento aos
clamores do povo.
S
ete de Setembro é o dia da pátria,
o Dia da Independência é o orgulho
da nação. Porém, talvez nem todos
saibam que, de uns anos para cá,
nesta mesma data comemora-se
o “Grito dos Excluídos”. O que
significa isso? “O Grito é uma grande
manifestação popular para denunciar todas
as situações de exclusão e assinalar as
possíveis saídas e alternativas. Antes de
tudo, é uma dor secular e sufocada que
se levanta do chão. Dor que se transfor-
ma em protesto, cria asas e se lança no
ar”, conforme seus organizadores. Este
ano, o Grito terá como tema: “Isto não
Vale. Queremos participar nos destinos
da nação”. Todos nós estamos certos
que em nossa sociedade ainda existem
muitas situações que continuam gritando,
clamando, pedindo atenção para que todos
se sintam independentes e orgulhosos do
país em que vivemos.
Os clamores na Bíblia
Perante certas situações com que so-
mos confrontados nos vem espontâneo um
grito, um clamor, que pode ser de alegria
ou tristeza (pedido de auxílio). A Sagrada
Escritura não é indiferente a esta expe
riência humana. A linguagem do grito, do
clamor não é uma linguagem estranha na
Bíblia. Pelo contrário, uma rápida leitura nos
mostra como é uma linguagem recorrente
e cheia de significado. Um dos textos mais
impressionantes é o do livro do Êxodo 2,
23: “Aconteceu, depois de muitos dias, Encontro diocesano das CEBs, novembro, 2005, São José dos Campos, SP.
10 Setembro 2007 -
que morrendo o rei do Egito, os filhos de
Israel suspiraram por causa da servidão,
Deus que escute o seu clamor (1Reis 8,
28). Mas é, sobretudo, nos Salmos que
Ser missionário é escutar
e clamaram; e o seu clamor subiu a Deus
por causa de sua servidão”. A opressão a
esta linguagem adquire um significado
todo especial. Sendo orações, algumas
os gritos dos aflitos e estar
que o povo de Israel fora sujeito durante
sua permanência no Egito tornara-se in-
bem pessoais, apresentam os gritos e
os clamores do povo. Como na oração
ao seu lado.
suportável, não dava mais para agüentar da manhã do Salmo 5: “Atende à voz do
aquela situação. Perante este drama, o meu clamor, Rei meu e Deus meu, pois a periência que não é possível suportar
povo de Israel grita e clama a Deus. ti orarei” (Sl 5, 2). São vários os Salmos mais e, portanto, se pede auxílio a Deus
Pedidos de auxílio ao Senhor estão que repetem este pedido para que Deus para que venha remediar essa situação.
presentes em muitos outros textos. Salo- escute o clamor do povo (Sl 17, 1; 18, 6; Confrontado com os gritos do seu povo, a
mão em sua oração reza: “Volve-te, pois, 34, 15, entre outros). Bíblia nos relata que este Deus não per-
para a oração de teu servo, e para a sua Até agora vimos como na Sagrada manece indiferente ao sofrimento humano,
súplica, ó Senhor meu Deus, para ouvi- Escritura encontramos a linguagem do pelo contrário, os gritos e os clamores
res o clamor e a oração que o teu servo grito/clamor presente em vários textos, do povo chegam até Ele e são ouvidos.
hoje faz diante de ti”. Salomão suplica a vimos como este grito vem de uma ex- Novamente o texto do Êxodo demonstra
ser precioso: “Tenho visto atentamente a
aflição do meu povo, que está no Egito,
Jaime C. Patias
e tenho ouvido o seu clamor por causa
dos seus exatores, porque conheci as
suas dores. E agora, eis que o clamor dos
filhos de Israel é vindo a mim, e também
tenho visto como os egípcios os oprimem”
(Ex 3, 7-8). Estamos perante um texto
impressionante. Deus escutou o grito, viu
a aflição. Deus não permanece indiferen-
te! O clamor chegou até Deus, e agora?
Agora é tempo de ação, Deus envia um
libertador ao seu povo para que a situação
seja mudada radicalmente. Também no
primeiro livro de Samuel encontramos a
mesma situação. Deus escuta o clamor
do seu povo oprimido: “... porque o seu
clamor chegou a mim” (1Sam 9, 16).
- Setembro 2007 11
Pronto
testemunho
para tudo
Nossa Senhora Consolata.
Incansável, com sua moto leva
alegria, consolo e ajuda em
todas as direções.
de Ivo Lazzarotto seminário. Lembro-me que fui chorando, me chamou a atenção sua simplicidade
V
mas, contente, porque também meu outro e maneira de se relacionar com o mundo
enho de uma família nume- irmão – Mário – decidiu ir comigo. e o Criador. Gostava de ficar ouvindo a
rosa e de tradição católica. A leitura que papai fazia nas horas do seu
oração em conjunto, a missa Decisão aos nove anos descanso. Aquele aprendizado me man-
dominical e o exemplo dos pais A vida que levavam os freis no semi- tinha ligado e me empolgava. Até que um
e da vizinhança envolveram- nário, o seu exemplo, seu jeito de vestir, dia, com nove anos, disse convencido: eu
me desde a infância, numa a amizade e a atenção deles para com a serei franciscano, e ponto final.
certa espiritualidade que foi alimentando nossa família, foram elementos que tive-
a minha tênue vocação à vida religiosa ram peso na minha decisão. Na verdade, Não fui chamado por ser
e sacerdotal. A isto, soma-se também o desde bem pequeno, eu tinha a idéia de bonzinho
fato de um dos meus irmãos – Alfredo um dia ser padre. Porém, eu queria ser Decisão tomada, lá fui eu para o
– ter entrado no seminário. Sua alegria e padre passionista, porque sabia um pouco seminário Santo Antônio, em Almirante
entusiasmo por estar seguindo o chamado sobre a vida de São Paulo da Cruz, o Tamandaré, no Paraná. Mas, não me
do Mestre Jesus foram calando no meu fundador. Meu pai, assíduo leitor da vida dei bem. Tudo era muito difícil para mim:
coração e aos poucos, fiquei com vontade dos santos, ia semeando em nós ideais de a saudade da família, as dificuldades no
de responder, eu também, a esse chamado. vida. Até que um dia, caiu-lhe nas mãos a estudo, as intrigas com os colegas, as
Eu era muito criança, mas queria ir para o biografia de São Francisco de Assis. Logo desobediências ao regime causaram a
minha expulsão. Isto aconteceu em 1962.
E agora? Terminei o antigo curso primário
Fotos: Arquivo Pessoal
12 Setembro 2007 -
motivação e animação.
A vida e a ação de Je-
sus me impulsionam a
avançar sempre mais
- e nesta nova situação
- pretendo continuar me
dedicando intensamen-
te ao Projeto de Deus,
servindo esse povo, e
em obediência à ordem
do meu provincial que
me diz: “Vá devagar,
frei Ivo”.
A grande
motivação:
Jesus Cristo
O que motiva a
minha vida e o meu
trabalho no zelo apos-
tólico e missionário é o
testemunho do próprio
Jesus, o missionário
do Pai, apresentado
exaustivamente nos
Evangelhos. Jesus
não parava. De manhã
estava numa cidade,
a tarde encontrava-se
numa outra e à noite
Frei Ivo comemorando 20 anos de sacerdócio, 19 de julho de 1998. rezava. Grande homem
esse Jesus! Quase não tinha tempo para
palavras dele vinham na minha direção.
Tive vontade de escapar da igreja, mas
"O contra-testemunho ético, descansar, dedicando-o todo à missão.
Assim impulsiono o meu trabalho, com
agüentei firme até o fim. moral e político torna-se o uma diferença: eu não passo a noite toda
em oração, como ele fazia...
Aquela bendita homilia responsável pela desordem Graças a Deus, a colaboração das
No seu sermão, frei Francisco acentuou lideranças da comunidade ameniza o meu
a grande necessidade de pessoas para social que nos circunda". trabalho. Saber descentralizar e delegar
o anúncio do Evangelho; a necessidade responsabilidades na pastoral é a arte mais
de um maior número de sacerdotes. Que o curso de Teologia, pude cursar Ciên- importante. Ser pároco hoje é estar preso
drama! Voltaram à minha mente todos cias Contábeis. Aos 9 de julho de 1978 a inúmeras exigências, especialmente
aqueles pensamentos sublimes que eu tornei-me sacerdote, iniciando assim um no campo administrativo. Ou a gente se
tinha no coração ao entrar no seminário, novo casamento que perdura até hoje, na organiza, ou tudo vai enfraquecendo.
e me senti um covarde. Voltei para casa fidelidade, na dedicação, com entusiasmo No mundo globalizado em que vivemos,
e procurei minha mãe. Ela estava orde- e alegria. Se hoje eu tivesse que reco- tratar bem as pessoas é fundamental; do
nhando as vacas, no currral. Fui até ela meçar, faria tudo de novo, dispensando, contrário, seremos descartados como se
e disse: "Mãe, eu quero ser padre". Ela porém, o “bofetão” daquela fatídica tarde descarta qualquer mercadoria. O mundo
me olhou seriamente, passou a mão no de domingo. está imbuído desta cultura: descarta-se
meu rosto e disse: “Vá lá, vá lá, palhaço!” o que não dá lucro, o que não agrada, o
Aquele sonoro palhaço me arrasou. Era Vá devagar! que não dá prazer, mesmo em se tratando
mais um fora! Naquele momento, esqueci Foram várias experiências como sa- de religião: Igreja, espiritualidade, sacra-
todas aquelas palavras de incentivo que cerdote: pároco, membro do Conselho mentos... Neste contexto, o contra-teste-
ouvi na igreja e o propósito feito. Tantas de Presbíteros, membro da Equipe do munho ético, moral e político torna-se o
coisas me haviam acontecido, todas de- Conselho Econômico Diocesano, diretor e responsável pela desordem social que nos
pondo contra mim. Mas, o fato está, que presidente da Santa Casa de Misericórdia, circunda e que gera o medo e a violência.
um mês depois, eu estava novamente diretor presidente de uma rádio e também Tudo isso vai prevalecendo contra a Igreja
no seminário. membro da Equipe Missionária dos Freis e contra todos os que querem viver e lutar
Capuchinhos do Paraná e Santa Catarina. pela justiça e serem construtores da paz.
Recomeçar Porém, nada melhor do que viver neste Por isso, sigo em frente, com um renovado
Retomei os estudos. Estava um tanto cantinho do mundo, chamado Rio do Oes- ardor missionário e cheio de confiança,
atrasado. Cursei o antigo ginásio com 17 te. Hoje, com 58 anos, após uma cirurgia pronto para o que der e vier.
anos. Foi bastante difícil me readaptar aos cardíaca, vislumbro um novo renascer.
estudos. Mas, agora eu estava decidido a Agora, será preciso um replanejamento Ivo Lazzarotto é frade Capuchinho, pároco da Paróquia Nossa
enfrentar tudo. Antes mesmo de terminar das atividades; porém, eu sinto a mesma Senhora Consolata em Rio do Oeste, SC.
- Setembro 2007 13
Aplausos
fé e política
U
levou às ruas milhares de pessoas insatisfeitas com o aparente
ma sociedade democrática permite que seus indiví- descaso do governo federal em relação à crise da aviação que
duos, dentro de um determinado conjunto de regras, dura quase um ano. Diante das manifestações, alguns defen-
se posicionem frente a diferentes temas. Manifestos sores do governo bradaram: “são apenas setores da classe
são excelentes termômetros para governos, empresas média, insatisfeitos com o mais popular de todos os presidentes
e sociedades. Testemunhamos, ou participamos em desse país”. Que seja. Mas, em nosso cenário democrático, a
1984, do mais amplo movimento
popular brasileiro: as Diretas Já. A sociedade
Ricardo Stuckert_PR
saiu às ruas e foi derrotada em seu desejo de
retomar a liberdade de escolher o presidente
da República. Ouvia-se nas ruas o grito: um,
dois, três, quatro, cinco mil, queremos eleger o
presidente do Brasil. O direito viria apenas em
1989, mas registramos um basta aos 20 anos
de autoritarismo.
Manifestações
Pois bem, nas últimas décadas a política
brasileira tem motivado manifestações. É certo
que sem o ritmo e a eficácia dos tormentos de
nossos vizinhos argentinos, mas reconheçamos
que com relevância. O evento mais marcante
ocorreu em 1992, quando milhões de estudantes
foram às ruas pedir o impeachment de Fernando
Collor de Mello, que caiu por razões que trans-
cenderam, em muito, ao desejo popular.
Ao longo do período em que fomos go-
vernados por Fernando Henrique Cardoso
assistimos manifestações duras contra uma
série de decisões polêmicas – da privatização
de empresas à ajuda aos bancos falidos. Em O presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos Rio-2007.
São Paulo, assim como em várias cidades do
país, muros amanheciam pintados com o famoso: “FORA FHC”. classe média também pode ter voz. Assim como tinha direito de
Manifestantes de esquerda assumiam publicamente a autoria da se manifestar o sujeito que se sentia afetado pelas decisões de
“arte”. Fernando Henrique terminou seu governo e não conseguiu Fernando Henrique Cardoso.
eleger seu sucessor. José Serra foi ao segundo turno contra Luiz Não existe certo ou errado em um ambiente democrático
Inácio Lula da Silva e terminou derrotado. onde os sujeitos desejam manifestar seus descontentamentos
O mesmo Luiz Inácio que derrotou o PSDB de FHC seria reeleito dentro de certos limites. O atual presidente da República, homem
presidente. E na abertura dos Jogos Pan-Americanos, em julho, que comandou manifestos fundamentais para a retomada da
em pleno estádio do Maracanã, recebeu vaias desconcertantes democracia no país, não pode demonstrar insatisfação e descon-
em cada uma das seis vezes que seu nome foi citado. Parte da trole. Manifestações, como dito no início, são termômetros dos
sociedade se transtornou, acreditando que tal atitude representou sentimentos de parcelas da sociedade. E se grupos vaiam Luiz
falta de respeito. Outros afirmaram que as vaias simbolizaram o Inácio, certamente outros tantos guardam motivos de sobra para
sentimento de parcelas da sociedade pouco contentes com os aplaudi-lo. Foi assim com FHC, é assim com Lula e será assim
rumos da política. Quem está correto? Os dois posicionamentos. com seu sucessor, independentemente de quem seja. E viva a
Setores do Maracanã vaiaram o presidente porque algo lhes liberdade de expressão, que nos faz acreditar em lampejos de
incomoda. E, principalmente, porque nosso país dá mostras de nossa frágil democracia. Participe aplaudindo ou vaiando!
que as pessoas acreditam no espírito democrático e na liberda-
de de sairmos às ruas para manifestarmos alegrias e tristezas, Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universitário São Camilo e coordenador
afeições e desgastes. de Cursos de Formação Política na Região Episcopal Lapa e na Diocese de Osasco, SP.
14 Setembro 2007 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
A Conferência de Aparecida
Discípulos e discípulas
para a Missão
Quais as conseqüências das decisões tomadas na Conferência de
Aparecida para a Igreja na América Latina e Caribe?
de Ramón Cazallas Serrano
C
omeçamos a refletir nestas
páginas sobre os temas do-
minantes na V Conferência
do Episcopado Latino-Ame-
ricano e Caribenho mais co-
nhecida como “Aparecida”.
Assim a chamaremos daqui para frente.
Queremos ajudar os cristãos a entrar
no espírito desta grande Assembléia e
não limitar-nos ao que ficou impresso no
Documento Final. Algumas vezes men-
cionaremos o texto como foi aprovado,
outras o iluminaremos com reflexão
própria ou citações de pessoas que
vivem em diferentes contextos.
O discipulado na história
Na Antiguidade não existiam co-
légios ou universidades, nem profes-
sores e alunos. Para o entendimento
da Filosofia e da Religião, existiam os
mestres e seus discípulos. Pensemos
nas escolas filosóficas do mundo he-
lenista: havia aquelas que dependiam
dos mestres, assim os socráticos e
platônicos dependiam de Sócrates e
Platão. Eles não eram professores,
mas, mestres. Não era só o saber pelo dos que se reuniam ao redor de outras
Jaime C. Patias
- Setembro 2007 15
ma a segui-lo, ou seja, convoca pessoas
Fotos: Jaime C. Patias
Jesus e os discípulos
Os discípulos deviam estar dis-
postos a abandonar pai e mãe, filho e
filha, a tomar a sua cruz e a dar a vida
no seguimento de Jesus (Mt 10, 37ss;
Lc 14, 26ss). Como o seu Mestre, os
discípulos deveriam abandonar suas
casas, ficando sem ter onde repousar a
cabeça. Não deviam permanecer nem
mesmo para cuidar de um velho pai ou
para resolver assuntos domésticos (Mt
8, 19ss; Lc 9, 57ss). Além destas dife-
renças, existem outras, se comparadas
com outros movimentos religiosos:
Dom Erwin Kräutler, bispo da Prelazia de Xingu, PA. não podiam ter esperança de obter
que davam à Lei. Rabi era o mestre, e Jesus encontrou também os simpa- promoção, pois, deviam ser discípulos
os que seguiam sua interpretação eram tizantes. Além dos pobres e, muitas durante toda a vida. Os discípulos de
chamados discípulos. Os rabinos ou vezes entre eles, Jesus tinha amigos, Jesus não se limitavam a transmitir o
doutores da Lei reuniam em torno de si homens e mulheres, pertencentes ao que o Mestre havia dito, palavra por
muitos discípulos, aos quais transmitiam que podemos chamar de classe média palavra, mas, a ser “testemunhas” da
a sua doutrina. Esses discípulos, por da época, que continuavam vivendo vida e dos fatos que Jesus realizou,
seu turno, podiam tornar-se rabinos e nas casas e campos por onde ele anunciar o Reino e fazer com que
continuar a tradição que tinham rece- passava anunciando o Reino e curando esta realidade se tornasse possível.
bido. Os profetas formavam também os doentes. Ao mes-
escolas sem se darem conta, pois mo tempo que tinha
havia pessoas que viviam seus ensina- “amigos das casas”
mentos e interpretavam as escrituras. Jesus tinha discípu-
Lembremos os fariseus, os essênios los ou seguidores,
e outros movimentos contemporâneos que deixavam casas
a Jesus. O último profeta do Antigo e posses para cami-
Testamento foi João Batista. Homem nhar com Ele, anun-
que se retirara ao deserto, também ele ciando e pregando
se torna mestre de muitos discípulos, a chegada do Reino
alguns deles serão, depois, discípulos de Deus. Eram se-
de Jesus. A pregação e o estilo de vida guidores em sentido
de João vão entusiasmar homens e estrito, pessoas que
mulheres do seu tempo. assumiam um tipo de
itinerância messiâni-
Discipulado no Evangelho ca, caminhando pelos
O termo discípulo se repete cerca povoados e aldeias da
de 250 vezes no Novo Testamento. Em Galiléia, proclamando
grande parte, refere-se aos discípulos e acelerando a che-
de Jesus. Ele acolheu no seu “movi- gada do Reino. Jesus
mento” e vinculou no seu Reino todos caminhava assim, ro-
os que quiseram escutá-lo e segui-lo, deado de colaborado-
sem se importar com normas especiais res, homens e mulhe-
de pureza e de conhecimento, como res, que assumiam e
faziam outros grupos do seu tempo, desenvolviam o seu
como os essênios e fariseus. Jesus movimento, numa
logo encontrou pobres que foram os perspectiva de segui-
primeiros destinatários da sua pregação. mento e de entrega
Para eles viveu e por eles quis iniciar total ao Reino. Com
o seu “movimento”. No seu caminhar freqüência Jesus cha- Celebração na Tenda da Vida Consagrada durante a V Conferência.
16 Setembro 2007 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
- Setembro 2007 17
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
18 Setembro 2007 -
Campo Missionário
- Setembro 2007 19
Isto não Vale!
Destaque do mês
Queremos participação
no destino da Nação
de Rosilene Wansetto o debate sobre a efetiva participação nos ocorrido há dez anos, de forma fraudulenta.
destinos da Nação. O Grito tem contribuído Acreditamos que os plebiscitos populares
N
nessa luta desde o seu início, juntamente – 2000 sobre a Dívida Externa e 2002
os dias atuais percebe-se com com outros inúmeros movimentos sociais e sobre a ALCA e Alcântara - têm sido um
mais urgência a necessidade populares, organizações e campanhas que exercício, uma pedagogia, uma alterna-
de aprimorar a democracia assumem essa bandeira da participação tiva de diálogo com o povo sobre temas
representativa e favorecer a e da democracia direta. complexos, mas de extrema importância
democracia participativa, atra- O Grito dos Excluídos está contribuin- para a sociedade. O povo brasileiro tem
vés dos diversos mecanismos do, dando força, articulando em conjunto o direito de participar e decidir os rumos
que a Constituição Brasileira nos fornece, com outras tantas forças sociais mais um da Nação e de suas riquezas.
dentre eles, a participação por meio de
referendos, plebiscitos e conselhos. A O Grito dos Excluídos e o Por que o Plebiscito?
participação popular é uma conquista e A pedagogia do diálogo terá espaço
um patrimônio precioso da sociedade. Plebiscito Popular sobre a neste ano com o Plebiscito Popular sobre
Este é um forte debate alimentado pelo
Grito dos Excluídos. O Grito encontra-se Companhia Vale do Rio Doce a CVRD, com o objetivo de discutir a
privatização da Companhia Vale do Rio
em sua 13ª edição, este ano com o lema:
“Isto não Vale! Queremos participação no
marcam a Semana da Pátria. Doce, leiloada para o capital privado em
1997, pelo então presidente Fernando
destino da Nação”, como parte de toda a Plebiscito Popular, neste ano de 2007 Henrique Cardoso. Por que este Plebis-
sua construção, isto é, privilegiando o pro- sobre a anulação do leilão de privatização cito? Porque se faz necessário discutir
tagonismo dos excluídos, e proporcionando da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), com o povo o leilão imoral praticado pelo
Daniel Mkado
20 Setembro 2007 -
governo. Na época, o patrimônio pessoas podem buscar o comitê
da Vale era estimado em 92 estadual, ou podem ainda orga-
bilhões de reais, sendo que foi nizar comitês locais, realizando
entregue no leilão pelo valor de debates nos mais deferentes locais
R$ 3,3 bilhões. O Brasil é uma das – escolas, sindicatos, paróquias,
maiores potências econômicas comunidades, pastorais, igrejas,
e a Vale do Rio Doce é a maior associações, organizando urnas
produtora de minério de ferro do e coletando votos. O Plebiscito
mundo, com jazidas suficientes ocorrerá na Semana da Pátria,
para 400 anos. Em 1995, a Vale num casamento com o Grito dos Ex
possuía 13 bilhões de toneladas cluídos que vem de vários anos.
de minério de ferro em reservas. O Grito dos Excluídos impul-
Na avaliação realizada na época siona o processo de formação,
para a venda foram declaradas articulação e realização do Ple-
somente três bilhões de tone- biscito entre os dias 1º e 7 de
ladas. Compõem o complexo setembro. O Sete de Setembro
da CVRD duas ferrovias, nove tem um forte simbolismo, quando
portos, empresas de alumínio o povo sai às ruas para gritar por
e celulose espalhadas em 140 mais participação, por respeito aos
cidades, dez estados e 11 países. direitos dos trabalhadores. Nas
Antes de sua privatização, 15 mais de 1500 cidades que reali-
mil funcionários trabalhavam na zaram o Grito no ano de 2006, e
Vale e o faturamento era de seis que sairão às ruas novamente este
bilhões de reais por ano. O Estado ano, o povo grita por dignidade,
brasileiro tinha plenas condições ética, soberania, prioridade para
de gerir essa grande empresa. políticas sociais e o fim do superávit
Foi sob o seu comando que ela primário; por uma auditoria das
tornou-se a maior exportadora de dívidas, por um projeto popular
ferro do mundo, com a maior frota de Brasil que de fato priorize o
granelera. Já era na época uma povo e não mais o capital. Um
empresa extremamente lucrativa, ponto forte nesse processo de
e o lucro permanecia para o construção do Grito tem sido os
Estado. Hoje o lucro vai para o pré-gritos, que acontecem como
capital privado e o Brasil só fica parte do processo de formação,
com o recolhimento dos impostos. povo brasileiro. O território brasileiro não capacitação e preparação.
pode ser privatizado, negociado, vendido, Na Semana da Pátria, com o Grito dos
Irregularidades é uma questão de soberania e defesa Excluídos sairemos todos às ruas para
A avaliação de venda da CVRD foi nacional. gritar que Vale defender uma empresa
feita por um consórcio de empresas do que respeite o meio ambiente, os povos
qual participava o Banco Bradesco, hoje
um dos maiores acionistas da Vale. A Lei O povo brasileiro tem o direito e a riqueza do território, que não deve ser
explorado de modo indiscriminado. Uma
de Licitação no Brasil proíbe que a em-
presa que participa da avaliação, participe
de participar das manifestações empresa que respeite a soberania do povo,
do país e do território. Uma Vale que coloque
também da compra, do arremate. E foi o e decidir os rumos da nação e as riquezas do país a serviço de um projeto
que aconteceu no caso da privatização da para o Brasil, respeite as terras dos povos
CVRD, o Bradesco empresa que avaliou, de suas riquezas. indígenas, tradicionais e quilombolas. Vale
participou também da compra. pensar um novo modelo de gestão das em-
Diante dos fatos, tanto da avaliação O plebiscito popular, como instrumento presas estatais, com políticas que integrem
do patrimônio que foi muito abaixo do que pedagógico de diálogo com o povo, quer a classe trabalhadora, e na apropriação e
a empresa possuía, ou mesmo no caso debater estes e outros tantos elementos distribuição dos resultados. Vale construir
da participação do Bradesco, podemos relacionados a essa privatização, e prin- uma verdadeira democracia através da
deduzir o quão foi fraudulento o ato. Pode- cipalmente conscientizar a população que participação direta do povo nas decisões
mos afirmar que a privatização não valeu! decisões tão relevantes ao país devem dos rumos da Nação. Vale restituir a Vale
Encontra-se sobre julgamento. Existem ser tomadas pelo povo; ele precisa ser ao patrimônio nacional.
107 ações populares que questionam o consultado. E o Plebiscito pode ser um Fica o convite para todos se somarem
edital, a nulidade do leilão, e o preço de instrumento na construção de um projeto a esse grande mutirão em defesa do pa-
venda, dentre outros. Todas estas ações para o Brasil com participação popular. trimônio do povo brasileiro, e gritar pela
ainda estão em julgamento. Em 2005, o nulidade do leilão e pela reestatização da
Supremo Tribunal Federal reconheceu Como participar CVRD. A Vale é do povo brasileiro! Vamos
a nulidade do leilão, isso nos dá fôlego Como participar do Plebiscito Popular? Gritar no Sete de Setembro no Grito dos
para continuarmos lutando em favor e em A Campanha pela Nulidade do leilão da Vale Excluídos - A Vale é nossa!
defesa da soberania de nossas riquezas. (informações: www.avaleenossa.org.br ou
A Vale se identifica com a soberania, tel. (11) 3105.9702) é um processo aberto Rosilene Wansetto é socióloga, mestranda pela PUC/SP, membro
ela não poderia ter sido privatizada e para que as pessoas possam participar, da coordenação do Jubileu Sul/Brasil e da coordenação do Grito
negociada sem uma ampla consulta ao engajar-se e contribuir na realização. As dos Excluídos.
- Setembro 2007 21
Formação Missionária
Atualidade
para seminaristas
“O que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que estejais em comunhão conosco.
Nós vos escrevemos estas coisas para que a nossa alegria seja completa”. (1 Jo 1, 3-4)
de Alessandro Henrique Coelho e Devair Araújo da Fonseca
E
ntres os dias 8 e 14 de julho
22 Setembro 2007 -
nal tendo em vista o ministério presbiteral às realidades da Igreja nacional, conti- Próximos passos
e podermos contemplar em unidade e nental e universal que clamam por vida e Um outro ponto importante foi a propos-
comunhão a realidade urgente da missão dignidade, elementos que só se edificam ta de já estabelecer para o próximo ano a
no Brasil e no mundo, cumprindo assim o através do anúncio e encontro com Jesus data do segundo Curso de formação para
mandato de Cristo e crendo em sua pre- Cristo vivo. Comprometidos com a causa a segunda semana de julho. Também a
sença constante nesta jornada: “Ide, pois, do Evangelho estamos dispostos a apren- parceria OSIB e COMISE, no Sul 1 ficou
fazer discípulos entre todas as nações, e der com a Igreja, querido povo de Deus, bastante solidificada, juntamente com a
batizai-os em nome do Pai, do Filho e do a crescermos no ardor missionário, no colaboração do Centro Cultural Missionário
Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar serviço e na fidelidade, na solidariedade de Brasília. Foi significativo perceber a
tudo o que vos tenho ordenado. Eis que e fraternidade, através da escuta atenta abertura e espírito missionário nos jovens
estou convosco todos os dias até o fim dos da Palavra, celebrando e vivendo o dom seminaristas, sentindo-se interpelados a
tempos” (Mt 28, 20). da Eucaristia, autênticas fontes do nosso assumir com ardor os novos desafios da
Queremos sempre mais “avançar para crescimento. Igreja atual. Vislumbramos neste Curso
águas mais profundas” (Lc 5, 4), tendo os Diante disso propomos a criação em específico para seminaristas a possibili-
olhos fixos na pessoa e atitude de Jesus, o nosso regional do COMISE (Conselho dade de formar padres com consciência,
missionário do Pai, que ao assumir nossa Missionário dos Seminários), fomentando já coração e olhar missionários.
condição humana se fez servo e obediente em nosso processo formativo a dimensão Com este novo ímpeto eclesial, a
até a morte de cruz (cf. Fl 2, 5-8), para missionária da Igreja e, conseqüentemente, abertura dos seminaristas e a grande
que os homens tivessem vida abundante abrindo espaços para dilatarmos nossos convocação da Conferência de Aparecida,
(cf Jo 10, 10). horizontes sobre as urgências da evange- podemos vislumbrar um novo tempo na
A realidade do mundo de hoje faz lização nos diversos territórios. Este seria Igreja, onde assumiremos verdadeira-
com que nos sensibilizemos diante do um organismo que visa compreender em mente o nosso batismo, como discípu-
fato de que muitos de nossos irmãos todos os ambientes formativos uma nova los chamados à missão e à santidade.
e irmãs ainda não ouviram falar de Je- maneira de estímulo aos formandos e Realmente estamos vivendo o tempo da
sus Cristo, estando impossibilitados de também articulação de grupos de ação Missão!
realizar um encontro pessoal com Ele, missionária entre as casas. O desejo
o que nos deixa reflexivos sobre o que brota justamente da contextualização de Alessandro Henrique Coelho é sacerdote, formador do Propedêu-
podemos realizar para contribuir com a realidades como a Amazônia, a situação tico da Diocese de Caraguatatuba e membro da OSIB Sul 1.
ação evangelizadora. Ao mesmo tempo, da Igreja no Nordeste, a falta de evange- Devair Araújo da Fonseca é sacerdote, reitor do Seminário Maior
somos conscientes da importância do lização em países africanos e asiáticos da Diocese de Franca e membro da OSIB Sul 1.
processo formativo que cada um está e a evasão de católicos cada vez mais
realizando nos Seminários Diocesanos, crescente, bem como a realidade de
nos Institutos, Comunidades, Congrega- nossas Igrejas locais, lembrando que Seminaristas da Missão
Meninos cheios de Deus!
ções e Ordens Religiosas, processo este “o motivo dessa atividade missionária
Homens cheios de querer ser...
que contempla as diversas dimensões está na vontade de Deus, que quer que Plenos da vontade primeira:
necessárias para que com protagonismo todos os homens sejam salvos e tenham “Ser tudo para todos”
e verdadeira liberdade possamos ser um o conhecimento da verdade” (cf. AG 7). Pretensos a imitar o irmão mais velho:
dia, pela divina graça, pastores conforme Na unidade da fé lembramos que acolher Jesus Cristo!
o coração de Deus (cf Jr 3, 15). também é evangelizar, grande semente de
Porém sabemos que amando e ser- transformação deste sonho em realidade. Meninos cheios de Esperança!
A serviço da vontade divina.
vindo coerentemente os aspectos con- Agradecemos por muitos de nós já estar-
Corações que tocam o céu,
templados neste período fundamental, mos envolvidos em atividades de âmbito Alma que toca o chão.
devemos abrir nossas mentes e corações missionário nos sub-regionais. (...) Filiação que se percebe ao longe:
São a cara do Pai!
- Setembro 2007 23
Basta de trabalho infantil!
“Tá relampiano, cadê nenêm? Tá
Divulgação
Infância
Missionária
vendendo drops no sinal pra alguém!”
(Lenine/Paulinho Moska)
E
sta canção nos chama a atenção para uma realidade que
infelizmente não tem diminuído em nosso país. Segundo
dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome (MDS) há cerca de 2 milhões e 700 mil crianças
expostas às condições ilegais de trabalho no Brasil, muito
embora a ampliação de políticas sociais de distribuição de
renda tenha a intenção de erradicar esta prática. Há muitos
posicionamentos favoráveis ou não ao trabalho infantil. Não me
refiro aqui à aprendizagem junto aos pais (por exemplo, a ordenha
das criações ou cultivo da horta), mas quando o trabalho da criança
passa a ser visto como complemento de renda da família pelo
aumento da produção, em contato com o grande mercado, como
é o caso das plantações de café na África ou na área de sisal na
Ásia. O trabalho infantil é um problema bastante sério, não só no
Brasil e América Latina, mas também em outros continentes; vale
24 Setembro 2007 -
- Setembro 2007 25
Um bispo chinês
Entrevista
na Amazônia
Um dia também a China abrirá seus portões
para uma liberdade ampla e irrestrita.
de Jaime Carlos Patias
26 Setembro 2007 -
mais de 60.000. Tem uma área de apro-
ximadamente 300.000 km2, (tamanho
da Itália, menos a Sardenha). É maior do
que todo o estado de São Paulo. 97% da
população são povos indígenas. Os 18
padres são salesianos, missionários do
Sagrado Coração (MSC), missionários
xaverianos e diocesanos, entre os quais,
quatro indígenas. Apesar das distâncias
o clero se quer muito bem. Temos ainda
55 Irmãs Salesianas (FMA) e cinco Ir-
mãs Catequistas franciscanas. Aquelas
se dedicam à saúde e promoção social,
estas se dedicam à saúde, catequese e
formação de futuras irmãs.
- Setembro 2007 27
Animados pela fé
amazônia
e certos da vitória
Encontro das Comunidades Eclesiais de Base em Tefé, no Amazonas
reafirma importância deste movimento.
de Francisco Andrade de Lima deste dia, três grupos foram formados para debaterem sobre a
Amazônia – Sustentabilidade ambiental e econômica, a Missão
E
das Comunidades Eclesiais de Base e Dízimo – Auto-susten-
ntre os dias 22 e 25 de julho, realizou-se a II Assem- tação, discussão que ocupou também o dia 24. Na manhã do
bléia das Comunidades Eclesiais de Base da Prelazia dia 25, os grupos elaboraram propostas para os três assuntos,
de Tefé, Amazonas. Este encontro ocorreu depois de que foram apresentadas à tarde do mesmo dia para todos os
19 anos da primeira Assembléia e teve como tema: participantes.
“CEBs - memória e prospectiva” e como lema: “Cami- A Assembléia foi encerrada com uma caminhada e um
nhemos na mesma direção”. 721 representantes das ato em frente à CEAM (Companhia de Energia do Amazonas)
comunidades da Prelazia, vindos de todas as paróquias (São – devido aos problemas com o fornecimento de energia elétrica
Benedito – Itamarati; Nossa Senhora da Imaculada Concei- enfrentados pela cidade de Tefé. Todos sentiram de perto a falta
ção – Carauari; Nossa Senhora de Fátima – Juruá; São José de luz, sendo necessário providenciar geradores para os locais
– Jutaí; Nossa Senhora de Guadalupe – Fonte Boa; Nossa do encontro, evitando que os trabalhos fossem interrompidos
Senhora Aparecida – Japurá; Nossa Senhora da Imaculada ou prejudicados. A caminhada foi encerrada na Praça de Santa
Conceição – Maraã; Divino Espírito Santo – Uarini; São Joa- Teresa - local onde havia sido iniciada a Assembléia - com a
quim – Alvarães; Divino Espírito Santo – Missão; Bom Jesus celebração de envio dos participantes e uma noite cultural com
– Tefé; Santo Antônio – Tefé e Santa Teresa D’Ávila – Tefé) apresentações folclóricas e artísticas. Foi um momento de
compareceram. animação e encontro das comunidades. Estiveram presentes
Na primeira noite, dia 22, houve a celebração de abertura representantes da diocese de São José dos Campos, São
na praça da Catedral de Santa Teresa. No dia seguinte pela Paulo, e houve a assessoria de dom Mauricio Grotto, bispo de
manhã, reflexão sobre a conjuntura atual da sociedade. Na tarde Assis, São Paulo.
Bettine
28 Setembro 2007 -
Carta de intenções vimentos sociais. Com relação às CEBs, reafirmamos como
A carta elaborada no final da Assembléia resumiu o desejo Igreja, o compromisso de continuar o fortalecimento das co-
dos participantes: “Estes quatro dias foram momentos de munidades em sua organização, assim como a capacitação
partilha, de conhecimento mútuo, de fraternidade, de recor- das suas lideranças.
dação da caminhada das comunidades, de fortalecimento das Sobre o Dízimo, somos desafiados a continuar a “caminhar
nossas convicções, de estudo, reflexão e de espiritualidade. com as próprias pernas”. Para tanto se faz necessário conscien-
Também esteve muito presente nessa memória a caminhada tizar as famílias, formar equipes, prestar contas regularmente
da preservação do meio ambiente, da educação popular e e partilhar experiências. “Animados pela fé e bem certos da
da organização social e política das comunidades. A partir vitória”, tomamos a firme decisão de continuar a caminhar na
da memória e da conjuntura, no campo da sustentabilidade, mesma direção. Que Santa Teresa, Padroeira da Prelazia de
assumimos como compromisso a preservação do meio am- Tefé, interceda por nós”.
biente, a educação ambiental, a cobrança das autoridades
constituídas para implementarem políticas públicas, sendo Francisco Andrade de Lima é secretário da Prelazia de Tefé, membro da equipe de Coordenação
que isto, queremos fazer em parceria com instituições e mo- Geral da Assembléia das CEBs.
Mutirão de Comunicação
Compromisso permanente da Igreja
Assessoria de Imprensa da CNBB Helena, referindo-se ao jor-
Roberto Preczevski
nal produzido pela RCR e
O
transmitido em rede por
5º Muticom (Mutirão Brasileiro de Comunicação) cerca de 200 emissoras.
realizou-se de 15 a 20 de julho em Belém, PA, O presidente da Unda/
com seminários, conferências, oficinas, grupos de Brasil, Antônio Celso Pinelli,
trabalho e debates. associou o conteúdo do
No encerramento do evento, dom Orani João Mutirão à bagagem que
Tempesta, arcebispo de Belém, afirmou que o cada participante levou do
Mutirão é um compromisso permanente da Igreja. “Damos por evento. “A bagagem de
concluído o tempo do Mutirão, mas não dos frutos”, concluiu o vocês está pesada não só
arcebispo, anunciando já a realização do 6º Muticom em Porto de brindes e lembranças
Alegre, no ano de 2009. Em seguida, ele fez a entrega do símbolo do Pará, mas de conheci-
do Mutirão a Dorgival Cruz, de Santa Cruz do Sul, RS, que o mentos aqui adquiridos”,
encaminhará para a arquidiocese de Porto Alegre. avaliou.
A cerimônia de encerramento foi transmitida ao vivo pela TV O diretor de comunica-
Nazaré, e começou com um videoclipe, produzido pela própria ção da Fundação Nazaré
emissora apresentando uma síntese do que foi o Mutirão. e responsável pela orga-
Durante o Muticom, Orlanda Rodrigues, secretária-executiva nização do Muticom, João
do Norte 2 da CNBB - Pará e Amapá -, apresentou o projeto Bosco Gomes, iniciou seu Participantes do 5º Muticom.
Cidades Solidárias a ser desenvolvido pela Comissão Regional de discurso de conclusão do Mutirão, agradecendo a Deus pela
Evangelização da Amazônia. O projeto visa aproximar a cultura realização do evento. “Aprendi, no Evangelho de São João,
do povo amazônico com as culturas das demais regiões do país. que sem Deus a gente não pode fazer nada. Entreguei a Deus
“Nosso projeto tem o objetivo de ser instrumento de integração a organização do Mutirão”, explicou Gomes ao descrever os
entre as cidades do Sul, Sudeste, Centro e Nordeste com as desafios e as dificuldades, uma vez que teve pouco menos de
cidades da Amazônia”, explicou a secretária. “Convidamos o quatro meses para preparar o evento. “O 5º Mutirão Brasileiro de
Brasil a pensar a Amazônia a partir da Amazônia”, completou. Comunicação foi mais uma proeza de Deus”, concluiu Gomes,
Francisco Moraes, presidente da União Cristã Brasileira de aplaudido de pé pela assembléia.
Comunicação Social (UCBC), ressaltou que a riqueza do Mutirão Outro ovacionado pelos participantes foi o arcebispo emérito
foi reunir, em Belém, as diferentes culturas vindas de todo o da Arquidiocese de Belém, dom Vicente Zico, ao ser chamado
país manifestadas na presença dos comunicadores presentes para se pronunciar. “Acompanhei com alegria a realização desse
ao evento. “A nossa fé é a razão da nossa ação comunicadora Mutirão e me associo aos que vivem a alegria desse momento”,
e comunicativa”, ressaltou Moraes. afirmou. Para ele, a comunicação da Igreja e a Amazônia são
“O Mutirão circulou pelo Brasil, de maneira silenciosa, atra- as duas riquezas do Mutirão.
vés de nossas rádios aqui presentes”, afirmou a presidente da
Rede Católica de Rádio (RCR), irmã Helena Corazza. “A rede Assessoria de imprensa da CNBB. Publicado no Informativo
de notícias procura trabalhar cristamente a notícia”, explicou Regional Sul 1 da CNBB, n.156, agosto de 2007.
- Setembro 2007 29
Brasília no mercado interno e com uma legislação que permite
Campanha Missionária 2007 a compra ilimitada de terras por empresas nacionais
O material para a Campanha Missionária 2007 prepa- com capital estrangeiro, o território brasileiro tem pas-
rado pelas Pontifícias Obras Missionárias (POM) já está sado para as mãos de investidores de outros países.
sendo enviado a todas as dioceses do De acordo com o Incra, os interesses
Brasil. São 130 mil cartazes; 50 mil cópias são diversificados. Parte deles vislumbra
da Mensagem do Papa Bento XVI para grandes oportunidades com projetos de
o Dia Mundial das Missões; 12 milhões produção do agrocombustível, com desta-
de santinhos com a Oração Missionária que para o megainvestidor estadunidense
2007; 10,6 milhões de panfletos com George Soros. Outra parte se dedica à
Oração dos Fiéis para os domingos de compra de áreas da floresta amazônica,
outubro; 100 mil exemplares do livrinho normalmente feita por empresas que po-
Deus Ama sem Fronteiras: da Amazônia luem seus países, que em contrapartida,
para o Mundo, com cinco Celebrações estariam supostamente preservando a
Missionárias; 12,5 milhões de envelopes maior floresta do mundo. Há ainda os
para contribuição pessoal, a ser coletada especuladores, cujo intuito é adquirir imó-
no Dia Mundial das Missões. Espera-se veis rurais com vistas a sua valorização
que todo este material seja devidamente no médio e longo prazo. O presidente do
distribuído e aproveitado, para que os Incra, Rolf Hackbart, destaca as perigosas
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