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Constituição de 1988
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Elaborado em 12.2003.
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A adoção, na concepção clássica do direito, "é um instituto jurídico que procura imitar a
filiação natural" (1) (Adoptio natura imitatur), ou, nas palavras de Arnoldo Wald, "É um ato
jurídico bilateral que gera laços de paternidade e filiação entre pessoas para as quais tal
relação inexiste naturalmente." (2)
Era ínsita à adoção, segundo J.M. Leoni Lopes de Oliveira, conotação de espécie
diversa da contemporânea, quando servia para atender a interesses religiosos dos
adotantes, passando, em seguida, com os romanos, também a servir de instrumento de
inclusão do adotado em seio familiar estranho, a fim de "[...] assegurar a manutenção do
culto doméstico ao adotante que não possuía descendentes." (3)
A legislação, em regra reflexo do tempo e da cultura vivida pela sociedade em que ela
emergiu, partiu de uma total discriminação quanto à figura dos filhos adotados, para a
elevação dessa mesma categoria à igualdade plena com relação aos filhos biológicos.
Tanto é que atualmente o texto normativo constitucional, mais precisamente o art. 227, §
6º, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CR/1988) revela-nos o
valor da igualdade entre os filhos como um dos princípios vetores do Direito de Família:
"Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à
filiação."
De forma diversa, a discriminação para com os filhos adotados pelo CC/1916 era patente,
dispondo-se no art. 377 do referido diploma que a relação de adoção não envolve a de
sucessão hereditária, e no art. 378 que os direitos e deveres que resultam do parentesco
natural não se extinguem pela adoção, com exceção do pátrio poder, cuja resolução se
operava com a mera transferência do pai natural para o pai adotivo.
Sem esse desvendamento, entendemos que fica impossível uma atuação do julgador, do
advogado, ou do promotor, tendente à finalidade maior da jurisdição – o apaziguamento
social com justiça. Justiça esta que, a propósito, vem sendo admitida como um dos
elementos essenciais do próprio conceito de direito, em contraponto à tradicional visão
tridimensionalista, defendida no Brasil, originariamente, por Miguel Reale. (6)
A ideologia que permeia o direito, no sentido que aqui queremos imputar-lhe, deve ser
considerada, tal como anotou o Desembargador Rui Portanova, enquanto um conjunto de
"[...] influências pré-jurídicas sobre significados, valores e fins humanos, sociais e
econômicos, ocultos (ou não) que vão inspirar a decisão judicial" (7), bem assim,
acrescentamos nós, todo tipo de produção jurídica, seja judicial, conforme já se
mencionou, mas igualmente legislativa ou administrativa.
Notas
1
Cf. OLIVEIRA, J. M. Leoni Lopes de. Guarda, Tutela e Adoção. 3. ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2000, p. 147.
2
WALD, Arnoldo. O Novo Direito de Família. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 217.
3
OLIVEIRA, J.M. Leoni Lopes de. Guarda, Tutela e Adoção, ob.cit., p. 148-149.
4
MONACO, Gustavo Ferraz de Campos. Adoção: esquadrinhando o instituto à luz do
sistema vigente. In: DELGADO, Mário Luiz; ALVES, Jones Figueiredo (Coords.). Novo
Código Civil: questões controvertidas. São Paulo: Método, 2003. p. 331 et seq.
5
"Difusamente, o sentido comum teórico é o conhecimento que se encontra na base de
todos os discursos científicos e epistemológicos do Direito. O sentido comum teórico
institui uma espécie de habitus (Bourdieu), ou seja, predisposições compartidas, no âmbito
do imaginário dos juristas. Isto porque, segundo Bourdieu, há, na verdade, um conjunto de
crenças e práticas que, mascaradas e ocultadas pela communis opinio doctorum,
propiciam que os juristas conheçam de modo confortável e acrítico o significado das
palavras, das categorias e das próprias atividades jurídicas, o que faz do exercício do
operador jurídico um mero habitus, ou seja, um modo rotinizado, banalizado e trivializado
de compreender, julgar e agir com relação aos problemas jurídicos, e converte o seu saber
formal em uma espécie de ‘capital simbólico’, isto é, numa riqueza reprodutiva a partir de
uma intricada combinatória entre conhecimento, prestígio, reputação, autoridade e graus
acadêmicos." (STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica Jurídica e(m) crise: uma exploração
hermenêutica da construção do Direito. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p.
65).
6
SARAIVA, Paulo Lôpo. A tetradimensionalidade do Direito – escorço inicial. Revista de
Informação Legislativa, n. 153, Brasília, jan-mar, 2002, p. 75.
7
PORTANOVA, Rui. Motivações ideológicas da sentença. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2003. p. 17. Esclarece ainda Portanova: "Não há malícia no agir, mas age-se
de forma imperceptível, inconsciente, por meio de mecanismos de controles sociais de
forma a substituir na consciência a realidade concreta por uma ‘realidade’ representada.
De regra, a ideologia está a serviço da classe social no poder em determinado momento
histórico, pois ao mesmo tempo em que mantém, legitima uma dada orientação política,
econômica e social." (id., ibd., p. 17).