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MAMENDES EXPRESS

A FRONTEIRA ENTRE O JORNALISMO E A FICÇÃO

Humor, crítica, crônica, comédia e


sátira sobre o Rio de Janeiro, o Brasil e
o Mundo | Defendendo o humor
inteligente do Capitalismo e do
Aquecimento Global, antes que se torne
brinde de pasta de dentes

O melhor de 2005 a 2007

A Enciclopédia

De um Blog

Marcelo “Mamendes” Mendes


Prefácio..............................................................................................3

Introdução: Crônicas pra ler com calma........................................................4

Uni-duni-tê .........................................................................................5

Vergonha Nacional: Vamos dançar, Quadrilha! ................................................6

King Kong na terra dos Simpsons ................................................................8

Humor, emprego, ócio e gêmeos maus .......................................................11

Causas e Conseqüências.........................................................................15

Mantenha o céu escuro ..........................................................................17

Os sem mais .......................................................................................20

O poder do pensamento positivo ..............................................................24

Faz um barulho aí ................................................................................27

Retrospectiva 2006 ...............................................................................30

Ligaram o f...-se .................................................................................33

Haja paciência! ...................................................................................36

Hay que endurecer ...............................................................................39

Você chama isso de m.?!?! ......................................................................41

E a Gripe veio do Espaço........................................................................44

Responsum Quae Sera Tamen ..................................................................49

Tolerância ampla, geral e irrestrita ...........................................................53

Mensagem de fim de ano .......................................................................56

O contador de ilusões ...........................................................................57

A Teoria do Humor ...............................................................................61

Paradoxalmente correto ........................................................................64

Vote, talvez .......................................................................................67

A nova guerra dos sexos .........................................................................70

Ordem, Progresso y otras cositas más ........................................................74

Um grande pequeno golpe ......................................................................77

Tem 1 real ? .......................................................................................79


PREFÁCIO
INTRODUÇÃO: CRÔNICAS PRA LER COM CALMA
Segunda-feira, 24 de Setembro de 2007

UNI-DUNI-TÊ
Coisa boa de se tornar um ser imerso na Internet é rir de tudo que se diz
absoluto, correto. Você vê a tal campanha do Estadaço. A World Weird Web
brasileira tem 15 milhões de ruivos de aparelhos contando mentiras pra pegar
mulher gostosa. Já os jornais de "respeito" do país têm seus 15 editores-
chefes, totalmente éticos, livres de comprometimento com picuinhas político-
sócio-econômico-pessoais.

Quando eles publicam que os bancos financiaram a campanha do presidente


eleito e esquecem de mencionar que os mesmos bancos também financiaram
a campanha do segundo colocado, eles simplesmente estão otimizando o
espaço jornalístico. Tal omissão não tem nenhum viés de associar lucros
recordes dos bancos com a atual gestão do país.

Quando eles publicam que não se pode confiar em qualquer coisa que você lê,
eles não estão dizendo que você também não pode confiar só no que alguém
escreve. No fundo, você pode mentir omitindo a verdade ou contando apenas
uma parte dela. Esse é o perigo de usar apenas uma fonte para se manter
informado.

Pense bem, em que é melhor confiar: (a) num infinito de pequenas vozes
semicaóticas e independentes ou (b) num seleto grupo de mega-corporações
de mídia voltadas ao lucro e a sustentação de seus donos, acionistas e
empresas afiliadas?

Acho que você já entendeu que a resposta não é imediata.


Vivo num embate com colegas sobre o poder de processos & métodos e o
poder do talento. O que eu nunca entendi foi como a discussão ao longo da
história colocou cada coisa em lados opostos da mesa: processos vs. pessoas.

O que é mais importante num carro? O volante, o acelerador ou o freio? Se


você escolher um dos três, nem me ofereça carona!

PS: O Mamendex de hoje foi assim, pá e bola, rapidinho. Estamos


testando um novo formato mais post, fast, mix, fashion, prime, ...

Gostou? Não gostou? Tanto faz? Comente, ligue, mande um e-mail,


poste um vídeo-resposta, comunique-se!

Cutucada rapidinha

Apesar do esforço da Veja, não é que mais uma crise econômica mundial
passou pelo Brasil que nem marola?
Segunda-feira, 17 de Setembro de 2007

VERGONHA NACIONAL: VAMOS DANÇAR, QUADRILHA!


O Brasil encena sua expressão de indignação enquanto descarrega toda sua
frustração fazendo comentários bem batidos. "isso é uma vergonha (em
maiúsculas, seguida de 231 exclamações, o que me recuso a escrever)". Ou
"tudo isso é culpa do PT e do Lula (idem)". Se bem que nesse caso, nem dá pra
discordar.

A absolvição de Renan foi muito articulada (eu não disse "muito bem", disse
"muito") pelo governo, especialmente o Merdadante, que joga no ventilador o
último resquício de chance de ser eleito presidente, governador ou mesmo
síndico do prédio. Muitos estranharam que ele, depois de tanta luta para
convencer os colegas a absolver o Canalheiros, afirme ter votado em branco
(o que, diga-se de passagem, é racismo).

Ora, quê há de se estranhar nisso? Quem nunca colocou pilha fraca pra cima
dos outros e depois se escondeu pra ver a mercadante que dava?

Surpresa também 40 senadores "confessarem" que votaram pela cassação,


enquanto apenas 35 votos foram realmente computados. Devem se confessar
na mesma igreja que o Renan agradece as graças recebidas. Ou será que foi
algum problema com a urna eletrônica? Bug no sistema de contagem de votos?
Ná, de que importa? Ninguém ficou chateado. Nem ninguém questionou se a
votação secreta ainda faz algum sentido.

Mas porque afinal a O.P. (opinião pública) resolveu pegar no pé do Renan? Só


porque, digamos, a Souza Cruz sustenta uma das suas famílias bastardas não
quer dizer que você não possa por exemplo, votar a favor de uma lei que
proíba o fumo. Tampouco quer dizer que você não possa ir à missa aos
Domingos e ser um bom Católico.

Ora, Renan é gente como a gente. É mais um relator-de-conselho-de-ética-


dos-outros-mas-que-segue-a-sua-própria-ética-duvidosa, como todo o
brasileiro faz. Reclama da vergonha do imposto e sonega, reclama da
vergonha da violência e consome drogas, reclama da vergonha do caos urbano
e avança sinal, suja as ruas, estaciona em qualquer lugar.

Falando em imposto, além do pé do Renan, a OP resolveu pegar no pé da


CPMF. Qualquer trabalhador paga por mês mais IPI e ICMS do que paga de
CPMF por ano. Se bebe e fuma, pior ainda! É só pegar sua conta de luz, gás,
telefone, verificar a carga tributária das suas compras no supermercado, nas
suas bebidas e cigarros, e você vai ficar surpreso. Sem falar em IR de 27,5% !

Mas a CPMF é o imposto que mais incomoda, justamente por seus maiores
benefícios: é transparente, direta, você sabe quando, quanto e porque está
pagando. E o pior: afeta a todos sem exceção, o pobre e o rico. Querem
acabar com o imposto mais moderno, ao invés de acabarem com os mais
caducos, caros, burocratas, injustos.

Por que afinal a campanha contra CPMF é tão bem veiculada em jornais e
revistas, com direito até a horário no Fantáartico? Com o absurdo da taxa
adicional de IR (que também qualquer dia vira "provisória", já que é
"adicional" há milênios) ninguém se preocupa em acabar, já que é
patrioticamente sonegado pela elite do país.

Mas esqueça os problemas e vamos falar de coisas boas: qual será nossa cara
de surpresa quando Cacciola chegar ao Brasil já de habeas-corpus na mão?
(Como assim, só porque fugiu da última vez não pode sair em liberdade
provisória novamente?)

PS: O quê? Você é contra impostos? Manda e-mail pro Garotinho, ele é contra
os juros... Quem sabe vocês não criam uma comunidade no Orkut.

Mais Opinião Pública

Qual será nossa próxima grande Vergonha Nacional:


( ) Uma colisão entre o Trem Bala Rio-SP com um avião da Webjet
( ) Tapetão com direito a CPI no Campeonato Brasileiro e Clube dos 13
( ) Uma CPI sobre as últimas CPIs
( ) Cacciola senador e líder do conselho de ética
( ) Rubinho dando passagem ao campeão da temporada de F1
Tá, essa última é pegadinha...
Quinta-feira, 6 de Setembro de 2007

KING KONG NA TERRA DOS SIMPSONS


Dizem que quem não conhece o passado está condenado a cometer os mesmos
erros repetidas vezes.

Mais estranho é que, mesmo conhecendo bem o passado, existe gente com
essa tendência masoquista de errar tudo de novo e outra vez. Eu mesmo, de
tempos em tempos, cismo que posso fazer determinadas coisas que só me
causam estresse e dor de cabeça, não necessariamente nessa ordem.

E quem foge de cometer os mesmos erros, acaba por conhecer erros novos. O
que, convenhamos, é o que faz a vida valer a pena.

Todo mundo deve ter visto pelo menos uma das versões do filme King Kong
(este, ou este, ou este). De como ele é retirado de sua vida de rei na sua
pequena e remota ilha para ser atirado aos lobos e tubarões da grande e
movimentada Nova Iorque.

O que poucos sabem é que, na verdade, King Kong não foi capturado, por
assim dizer. Conste para o bem da verdade que o gorilão-rei foi convencido a
tentar carreira na Broadway, graças à lábia do capitão do navio e a sua
ambição de ver o mundo e influenciar toda uma geração. O resto da história é
uma catástrofe, seguida de uma tragédia.

Após o hype e seus 15 minutos de fama, o macacão logo caiu no esquecimento


- em parte graças à estréia de O Fantasma da Ópera. Num turbilhão de
depressão, drogas e alcoolismo, Kong seqüestra sua ex-mulher enquanto é
perseguido por metade da NYPD.

Todos choram ao ver o simpático gorila de 10 metros de altura ser alvejado


pelos modernos aviões da US Air Force, mas a parte mais triste pra mim
ocorre pouco antes: o início da subida ao Empire States. Esse é o momento
decisivo. Enquanto estava nas ruas, Kong podia ser imobilizado, acertado com
tranqüilizantes, sei lá. Mas após o 15º andar, não tem mais volta. Ele sabe que
vai morrer.

Muitos se perguntam se ele fez isso para ver um último pôr do sol. Por que ele
não decidiu simplesmente fazer as malas e voltar pra seu pequeno reino
distante, fazer o milésimo gol e encerrar a carreira num time de várzea
qualquer?

O fato é que Kong sabia que estava condenado a cometer os mesmos erros. E
a morte não é opcional.

Lembrei do Big Ape em Big Apple porque lembrei de mim numa terra distante,
perdido numa noite fria.
Era o primeiro dia de neve do inverno, acompanhado da minha primeira noite
de neve na vida. Estava ansioso pra voltar ao apartamento - seria a segunda
vez que cumpriria tal trajeto - mas a cidade era bem sinalizada, então não
tinha erro.

Saí do estacionamento, peguei a esquerda e segui até a rua principal. No


sinal, entrei à direita. "Beleza, é só esperar passar a 18 mile e manter a
esquerda, contornar na primeira que aparecer".

Quando finalmente avistei uma placa, eu congelei. Coberta de neve, o nome


da rua era impossível de enxergar. Todas as placas de trânsito estavam assim,
digamos, em branco.

Lutei muito até me considerar perdido. No primeiro posto de gasolina que


avistei, parei e corri ao telefone.

Ah, meu primeiro contato com uma noite a -11° C...

Fui procurar o telefone do Paul para pedir ajuda. Mas era difícil tirar o papel
do bolso com as luvas cobrindo os dedos e tremendo como uma máquina de
lavar velha. Como as luvas de longe não eram apropriadas praquele frio,
resolvi arrancá-las.

Pronto, telefone na mão, seguiu-se a tarefa de discar os números. Lambia os


dedos entre uma tecla e outra. Errei só duas vezes até finalmente acertar
toda a sequência.

Pontas dos dedos doloridas, é hora de colocar as moedas. "Minha nossa, se


uma cair no chão coberto de neve eu não acho mais e não consigo ligar pra
ninguém". Pensei pela segunda vez que talvez fosse morrer ali... Ensaiei uma
posição mais digna para ser encontrado.

A última moeda encaixa perfeitamente, o telefone chama, ele atende. "Paul,


sou eu. Acho que tô perdido". Um instante doloroso de silêncio, ele responde:
"Humm, já tô em casa, do outro lado da cidade... Faz o seguinte, tenta se
informar por aí, se você continuar perdido me liga de novo".

Pra quê mencionar que minhas moedas tinham acabado, ou que minhas unhas
estavam roxas, ou que minha cabeça já doía (novidade...) de frio?

Entrei na lojinha do posto. Até já tinha esquecido como era bom se sentir
aquecido... O rapaz (com cara de paquistanês), com a ajuda de uma menina
(com cara de americana) começa a me explicar. Dada minha expressão (com
cara de "entendi xongas"), começam a desenhar um mapinha, perguntam se
eu era mexicano - "Não, brasileiro" - me entregam o papel e desejam boa
sorte. "Qualquer problema, volta aqui". Eu não sabia nem se conseguiria
voltar.

A noite cinza e branca avançava enquanto eu entrava no carro.


Eu ainda não sabia, mas a bonita ruela, típica dos subúrbios americanos, com
suas caixas de correio e enfeites de Natal, iria aparecer logo em seguida e me
guiar para o apartamento.

Pensando bem, alguns erros a gente se arrepende é de não poder cometer


mais vezes.
Quinta-feira, 30 de Agosto de 2007

HUMOR, EMPREGO, ÓCIO E GÊMEOS MAUS

Falar de si mesmo nunca é fácil.

Piora um pouco quando o você ao qual você se refere é na verdade um


pseudônimo de seu alter-ego. Um personagem para o qual você dedica seu
potencial e canaliza assim a energia que era desperdiçada no seu dia-a-dia
como você mesmo (quem come quem??).

Essa dedicação ocupa seu tempo, claro, e muitas vezes atrapalha sua
identidade original. Assim, o que era pra ser um hobby acaba estressando
mais do que deveria.

E assim resolvi fazer terapia com uma profissional de verdade.

Eu não soube definir se seria uma terapia ocupacional, grupal, coletiva, já


que éramos dois os envolvidos (eu e eu mesmo). Quando eu soube que só eu
mesmo já era 3: id, ego e superego; fiquei boquiaberto. Cacete, somos 6
sentados aqui nessa cadeira então, doutora?

Comentei com minha terapeuta, ao reclamar do trabalho, que eu não me


sinto realizado com isso.

- O que te deixa realizado então? Com o que você gosta de trabalhar?


- Eu não gosto de trabalhar. Acho que nasci pra outra coisa.

Ela riu. Minha terapeuta riu de mim. Até hoje não sei se uso essa minha
capacidade - de fazer as pessoas rirem de mim - de forma construtiva.

- Tia Terapeuta, e se eu for na verdade meu gêmeo mau?


- Nosso tempo acabou. Que tal terça às 10h?
Resolvi pesquisar a fundo essa história de gêmeo mau pra poder explicar
melhor.

Segundo consta (na Wikipedia), o gêmeo mau (ou maligno) reflete a dicotomia
entre o bem e o mal que existe dentro de nós. Seu gêmeo mau é a cópia exata
de você, exceto por ser moralmente antagônico e possuir cavanhaque. Ou
seja, ele é na verdade o que você gostaria de ser: uma pessoa livre dos tabus
e regras sociais, disposto a fazer de tudo pra conseguir seus objetivos, e que
ainda por cima tem menos trabalho pra fazer a barba.

A origem do gêmeo mau está na própria origem do conceito bem x mal: a


religião. Consta que o primeiro gêmeo mau foi Cain. Embora não fosse
exatamente gêmeo de Abel, era mau o suficiente pra se encaixar na
definição...
Vida de gêmeo mau é difícil, pois tudo que ele faz perturbar o gêmeo bom. E
o destino do gêmeo mau é ser destruído, ou receber prisão perpétua. O final
alternativo é quando o gêmeo mau tira o cavanhaque e faz com que o gêmeo
bom seja morto em seu lugar. A moral é que no mundo da ficção não há lugar
para gêmeos...

Na literatura, Beowulf é considerado como abordagem do tema, pois apesar


de o monstro não ter nenhuma aparência física com o herói, é na verdade a
inversão das ações dele.

Em Jornada nas Estrelas, outro exemplo intrigante, enquanto o gêmeo mau de


Spock usava adequadamente o cavanhaque, o gêmeo mau de Kirk tinha a cara
limpa...

Vários exemplos de gêmeos maus: O Homem da Máscara de Ferro, High School


Musical, Futurama, Os Simpsons (nos dois últimos, assim como em South Park,
o personagem principal é que era no final das contas, o gêmeo mau). Até em
jogos, como Metroid Prime e Zelda. A influência é tamanha que em Lost
chegaram a dizer (numa cena deletada) que "só é novela quando o gêmeo mau
aparece". Uma pista sobre futuras temporadas?

Com o tempo, o conceito de gemeo-malignidade foi se expandindo, menos


preso aos clichês. Surgiu a idéia de universo espelho, composto de gêmeos
maus dos habitantes do universo original. Num episódio de South Park que
aborda o tema, o gêmeo mau de Cartman (devidamente cavanhaquezado) era,
na verdade, muito gentil.

O Bizarro por exemplo, gêmeo mau do Super-homem, casou com uma gêmea
má da Lois Lane e gerou todo um Mundo Bizarro, onde a chuva cai pra cima,
as zebras caçam as leoas e o Governo paga imposto aos habitantes.

A gêmea má da Lois Lane não tem cavanhaque. A bem da verdade, as gêmeas


más não costumam se diferenciar no pelo facial, mas sim pela cor ou tamanho
dos cabelos, ou mais recentemente, pelo sotaque. Truque oriundo das novelas
de rádio, onde obviamente, as diferenças entre os gêmeos não são físicas,
mas sim no timbre da voz.

Ainda no caso do Super-Homem, ele tem um gêmeo mau - Bizarro - um alter-


ego - Clark Kent. A diferença entre os dois últimos, bizarrices à parte, estaria
em ter a mesma índole (alter-ego) ou a índole inversa (gêmeo mau) do
personagem.

Então não sou meu gêmeo mau. Sou só um simples alter-ego mesmo. Menos
mal :)

Confesso, tem sido cansativo administrar essa micro-empresa. Domínio, DNS,


Blogger, Google Apps, Adsense... Mas nada disso se compara a outra opção:
me dedicar ao meu emprego!
Brincadeiras à parte, meu emprego tem exigido muito de mim e me sinto
frustrado em não conseguir responder à altura. Mais frustrado do que quando
tenho que ouvir quieto as piadas do tipo "é isso aí, funcionário público tem
muito tempo livre pra ficar escrevendo blog...".

Palavras fortes, venenosas... doem bastante.

Mas se uma geração de grandes escritores brasileiros surgiu dos servidores do


Governo, então eu sou só a continuação dessa história. Afinal, quem foi que
disse que Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade não eram
servidores altamente dedicados?

Na segunda-feira, observando a lua (que por sinal estava um cartão postal),


eu pensei que talvez minha vocação fosse exatamente essa: não fazer nada e
contemplar tudo. Talvez eu seja um Vinicius de Moraes, ou um Tom Jobim, ou
um Pablo Neruda, só que sem nenhum talento.

Se pra ser um grande poeta ou um grande brasileiro é necessário algum


talento, então eu precisava de uma segunda opção. Talvez eu pudesse ser um
monge budista.

Consegui alguns livros, estudei bastante. Mas acho que não levo jeito. Eu não
poderia mais fazer churrasco, andar a cavalo, fazer sexo, roubar, etc. E ainda
ia querer rediscutir várias das regras milenares. Como é que é essa história da
Flor de Lótus aí?

Não gosto de reconhecer, já que admiro tanto o trabalho árduo, mas minha
vontade mesmo é a de ser vagabundo. Pensando bem, talvez isso seja por si só
um talento.

Um ponto positivo foi ter nascido no Brasil. Nosso país é o único no mundo que
garante o direito universal à vagabundagem. Em especial no Rio de Janeiro,
terra da praia às segundas-feiras.

Por exemplo, em que outro país você poderia colocar uma cadeira e ficar
sentado na porta de um banco o dia inteiro, simplesmente observando o vai e
vêm do gerente, funcionários e clientes? Enquanto você não sacar a arma e
anunciar o assalto, ninguém pode te tirar dali.

Muito calor dentro de casa? Pegue o colchão e durma na rua, na marquise de


qualquer prédio. Ou fique só deitado ali, com sua cervejinha, observando o
cair da tarde de domingo. Ou de terça. Mais uma vez, ninguém pode te
obrigar a sair dali. E se a marquise cair, você ainda ganha uma boa
indenização...

Dizem que é proibido tomar banho no chafariz, mas eu nunca vi ninguém ser
reprimido por isso... nem por lavar a roupa. Na dúvida, não passe xampú, pra
caso tenha que sair correndo não ficar com o cabelo todo seboso.

E a grande dica: mantenha uma caixinha no chão por perto porque sempre
tem uma velhinha distribuindo trocados para quem mantém viva a autêntica
malandragem carioca...

Serviço

Mais sobre gêmeos maus na Wikipedia em inglês ou português.


Onde comprar os livros, filmes, séries, quadrinhos e jogos citados: Vinicius,
Jobim, Superman, Jornada nas Estrelas, South Park, Futurama, Os Simpsons,
Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Pablo Neruda.
Quinta-feira, 23 de Agosto de 2007

CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS
Continuando o papo sobre causas, vamos falar hoje sobre o movimento em
defesa dos direitos humanos, da criança e do adolescente, dos animais, o
movimento liberal e o movimento do software livre. É, estou tão animado
quanto você.

Fiz o dever de casa e fui buscar informações sobre estas instituições. O


movimento dos direitos humanos, por exemplo, defende garantias mínimas de
vida, saúde e acesso a mecanismos legais e governamentais a todas as pessoas
do mundo. Geralmente ele entra em conflito com a galera do movimento
liberal, que pede que o governo interfira menos no dia a dia da população, e
deixe os mecanismos de mercado (trabalho, remuneração e lucro) regularem
as engrenagens sociais. O que geralmente é mal visto pela população
brasileira, já que o brasileiro médio acha que trabalho é castigo, dinheiro cai
do céu, as empresas são o Diabo, e o governo é Deus na Terra para os homens
de bem. Vinde a nós.

Bem lembrado. Geralmente a defesa de uma causa se mistura com a Religião.


O movimento pelos direitos dos animais, por exemplo, defende que tudo que
se move e não faz fotossíntese têm quase os mesmos direitos que os seres
humanos. Ainda não existe um movimento pelos direitos dos vegetais, ou dos
minerais, ou dos fungos, ou do reino protista, ou monera. Mas imagino que
algum direito eles tenham, pô!

Afinal você gostaria de ser arrancado de seu habitat natural e enfeitado com
mil luzes pra servir de adorno na ceia de Natal? Ou ficar preso a um vaso
minúsculo inibindo seu crescimento e ser constantemente mutilado para o
exercício de paciência de um japa? Ou ser afogado no seu próprio excremento
até morrer intoxicado de álcool ou oxigênio?

Todos os seres vivos estão sujeitos ao abate para alimentação ou vestimentas,


ao uso para carga, e ainda, à exploração para simples adorno. Afinal de
contas, existe realização maior para um cachorro descendente dos grandes
lobos, ou um gato herdeiro legítimo dos tigres, do que andar pelo Rio Design
no colo das madames? É ou não é a vida que eles pediram à Fauna?

Inclusive, é mais ou menos esse o objetivo da OAB para com os advogados (e


seus melhores clientes).

Pra mim crueldade mesmo é eliminar a capacidade analítica e o caráter de


um ser vivo. Transformá-los em zumbis passivos e consumistas. No momento
que alguém convence uma pessoa inteligente que é engraçado ver um rapaz
de dentadura falsa fazendo uma imitação barata de mais de 20 anos de
antiguidade, ou uma mulher de peruca com voz estridente gritando histérica e
desafinada, pode-se dizer que você roubou parte da essência dessa pessoa.
Mais ou menos aquilo que os índios temiam quando alegavam que a fotografia
lhes roubaria a alma.

Não é a toa que os blogs e sites diversos se multiplicam, na tentativa de


resgatar um pouco da autenticidade que se perdeu com a comunicação em
massa. Talvez a situação hoje seja parecida com um novo Renascentismo,
onde ver as mesmas notícias, ler as mesmas coisas, ter os mesmos interesses
que todo o mundo não faz mais o menor sentido. Estamos todos antenados,
mas cada um na sua :)

Saímos da Idade Média dos mega-portais e do jornalismo de viés político, dos


infomerciais religiosos, das piadas enlatadas prontas pra aquecer no
microondas, das pegadinhas e cassetadas orientais, e caímos de frente na
multiplicação explosiva de pílulas de informação, próximas e afastadas da
origem, ilhas de opinião, discussão e comentários, e especialmente, num
vasto material humorístico espalhado pelos 4 cantos.

Óbvio que a maioria absoluta desse material está abaixo da linha de consumo.
Fora que temos mais spammers, todo dia alguém posta uma mensagenzinha
ridícula no seu scrapbook, blogueiros travam batalhas e atropelam o bom-
senso por um punhado de audiência... Mas o mecanismo de acesso
democrático da Internet mostra sua força; da quantidade podemos tirar a
qualidade, e por que não o dizer: tem gosto pra tudo!

Mais que blogers e video-makers, muitos vêm se erguendo na defesa da


inteligência do humor, e lutam para trazer de volta a dignidade para a
Comédia. É o caso dos movimentos como o Comédia em Pé, o Sindicato da
Comédia e o Clube da Comédia. Não se engane com a pouca criatividade na
hora de batizar os grupos, esse pessoal tem muito a oferecer. Não se deixe
levar pelas caras feias tampouco, pois esse pessoal seria engraçado mesmo se
houvesse a remota possibilidade de serem bonitos.

Você, amigo, faça sua parte, junte-se a nós, produzindo e consumindo o


humor refinado, a comédia sagrada e sátira inteligente, que tanto fazia falta
em nossa geração.

Deixe de ficar assistindo a filmes ridículos com humor de banheiro. Esqueça os


programas que apresentam semana atrás de semana as mesmas piadas sem
graça. Tape os ouvidos para os bordões repetidos infinitamente na tentativa
desesperada de fazer alguém rir.

Ajude a preservar o humor inteligente da extinção para que as próximas


gerações possam conhecê-lo.

Comédia em Pé
Apresentação do Henrique 'Ai cacete' da semana passada:

http://br.youtube.com/watch?v=JKMnArzmq9g
Quinta-feira, 16 de Agosto de 2007

MANTENHA O CÉU ESCURO

Vocês já devem ter percebido que há por aí uma grande campanha sendo
montada, tendo como objetivo acabar com a Internet como conhecemos. Tal
campanha é patrocinada especialmente por aqueles que não aprenderam
ainda como lucrar e expandir seus monopólios para o cyber-território
democrático que conseguimos defender até hoje.

Esses dias Elton John afirmou que a Internet é prejudicial a ele, ou melhor, à
Música, e sugeriu o fechamento da mesma por cinco anos. Mas não foi nada de
mais, seu geriatra já receitou nova medicação.

O que ninguém sabia, e eu revelo agora em primeira mão, é que foi detectado
nos servidores da Cia que a declaração de Elton John pode (deve) ter relação
com uma campanha da AGMC (Associação das Gravadoras Musicais Caducas) de
utilizar artistas atuais (Elton John, Bob Dylan, Nat Cole, Bruce Springsteen,
Michael Jackson) para minar a opinião pública sobre a Internet. O próximo
alvo: a máquina de xerox.

Afinal de contas, a humanidade era muito mais feliz quando não se podia
saber o que acontece do outro lado do mundo em instantes. Quando não se
tinha webcams para conversar com pessoas ou simplesmente ver as ruas de
Times Square, ou o pôr-do-sol em Tóquio.

Como era bom escrever uma carta e esperar 2 meses pela resposta daquele
familiar em outro continente. Esperar chegar em casa para saber as notícias
do dia. Ter que procurar jornal para saber a previsão do tempo.

Quer infelicidade que sentimos, não só de saber, mas de "sentir" que a Terra é
redonda, e ver fotos via satélite de Foz do Iguaçú, os vulcões do Chile e os
cassinos de Las Vegas...

Como é triste popularizar os blogs e a linguagem escrita. Unir pessoas que não
se viam há tanto tempo. Compartilhar interesses. Assistir um vídeo do último
congresso mundial de fãs de Star Wars.

Não me surpreenderia se um grupo desses resolvesse lutar contra a Lei da


Gravidade, tão maléfica e responsável por tantas quedas mundo afora (que
adiantaria alguém tentar explicar que sem a gravidade seríamos arremessados
ao Espaço)...

Sinceramente, se essas pessoas querem abraçar uma causa, eu tenho várias


sugestões.

Passando rapidamente pelas mais simples, que tal defender a natureza, o


meio-ambiente, o desenvolvimento sustentável, a ciência e cultura, as
crianças, combater o aquecimento global, a poluição sonora (sabiam que não
existe uma ONG sequer dedicada a isso??) ou tantas outras iniciativas, maiores
ou menores, mais globais ou mais locais, que seriam praticamente inviáveis se
não fosse a comunicação rápida, barata e independente que a Internet
oferece?

Pretendo passar nas próximas semanas por algumas das iniciativas que me
interessam em particular. Começamos hoje por uma bem singela.

Quantas vezes neste ano que passa você se sentou para olhar o céu noturno?
Mesmo quem tem a vida noturna agitada, gasta suas horas dentro de
shoppings, carros, boates, restaurantes... nunca tem o céu como teto e
objeto de contemplação.

Lembro de, alguns meses atrás, ter acordado de madrugada e ido à cozinha
beber água. Olhando para área de serviço vi um clarão
azulado. Corri até a janela para ver o que era e, para
minha surpresa, era "apenas" a Lua cheia de uma noite
quente, jorrando luminosidade sobre os tetos e ruas da
Tijuca. (Alguém assistiu ao Feitiço da Lua [Moonstruck,
87]? Pois bem, era aquela Lua do Cosmo, me despertando
à noite). Acordei minha esposa pra ver também, ela ficou
meio enjuriada no início mas entendeu perfeitamente
quando deu de cara com aquela cascata azulada brotando
do céu.

O problema é que nas cidades, mesmo a maioria não


tendo percebido, nosso céu noturno está desaparecendo. As estrelas,
planetas, a própria Lua. Graças à "poluição luminosa" gerada pelos hábitos
modernos e pela violência, as cidades cada vez mais avançam sua iluminação.
Ruas, praças, praias, aeroportos. Por economia, grandes prédios são mantidos
acesos por toda a noite, inclusive nos fins de semana. Inventaram até aqueles
holofotes ridículos, apontados pras nuvens, que qualquer baile funk tem.

Obviamente, um dia (ou uma noite!) vamos sentir falta de ver as estrelas. Elas
nos inspiraram a todos, de poetas a cientistas. Foi olhando para o céu que
surgiram as religiões. Graças à observação dos astros, a navegação foi
possível. Olhando para fora da Terra, descobrimos que toda nossa beleza e
complexidade é apenas um grão de areia no céu infinito. Nos tornamos
melhores, com certeza, ao descobrir que não somos o centro do Universo --
afinal, era muita responsabilidade (e que esperança teria o universo?).

E é na esperança de conciliar o desenvolvimento urbano com a manutenção da


beleza do céu escuro que surgiu a organização International Dark-Sky
Association. Se você procura uma causa pra abraçar, ou simplesmente é um
romântico apreciador das estrelas, não deixe de se manter informado.

Keep watching the skies...


Comédia em Pé
Apresentação do Henrique da semana passada, com legendas, disponível em:
http://video.google.com/videoplay?docid=8850793527841613888
Quinta-feira, 9 de Agosto de 2007

OS SEM MAIS

Esses dias no metrô, um estudante na faixa dos 16 anos, levantou para um


senhor sentar. Antes que alguém pudesse elogiar ou aplaudir o gesto, seus
colegas ensaiaram uma zoação, do tipo, "perdeu o lugar, mané". Ele
prontamente se defendeu:

- Levantei porque quis. Outro dia um senhor reclamou pra eu dar o


lugar. Ele ficou reclamando e eu fiquei pensando "é, legal, fica aí em
pé mermo, é...". O assento é preferencial, eu levanto se eu quiser.

Rapaz, várias coisas vieram à cabeça ao mesmo tempo, demorei a separá-las:


• um estudante de ginásio, saudável e dedicado exclusivamente aos
estudos não consegue interpretar uma regra escrita simples,

• um adolescente sociável não acha que tem obrigação de respeitar e


ser gentil com os demais, idosos ou não (e ainda acha normal que as
regras não o obriguem a isso),

• um jovem racional, usuário de transporte público, acha que os


assentos preferenciais são para ser cedidos somente se a pessoa
optar por isso (e nos demais? o ocupante é terminantemente
proibido de levantar seja para quem for??).

Imagina que tipo de cidadãos estamos formando. Se juízes e políticos já têm


dificuldade em interpretar as leis, imagine o caos que uma distribuição
gratuita da Constituição brasileira a todos os cidadãos pode causar, graças às
mais esdrúxulas interpretações possíveis.

Lembrei de uma reportagem com uma mulher que colava anúncios em


orelhões e respondeu, quando interpelada pela repórter:

- Ué, a rua não é pública? Posso colar o que eu quiser aqui...

De onde está surgindo todo esse utilitarismo e esse individualismo? Quando foi
que de repente nós tornamos, cada um de nós, as pessoas mais importantes
do mundo? Se eu não conheço, não é importante. Se não serve pra mim, é
inútil. Se posso usar, posso abusar e nem preciso agradecer!

Será que sempre fomos assim? Dentro de nós, no cerne de nossos desejos,
sempre quisemos ser o alvo de todas as atenções e favores, donos de todos os
recursos ao nosso redor? Ou será que algo tem nos guiado nessa direção?
Talvez livros com títulos como "Você é a pessoa mais importante do mundo",
ou programas de televisão onde quem passa todo mundo pra trás ganha o
prêmio? Ou partidas esportivas com resultados manipulados em prol do mais
forte?

Fui ao shopping no intuito de investigar essas possibilidades. As capas de


revista, os filmes em cartaz, os anúncios de liqüidação, as estampas de
camisa, talvez os materiais dos sapatos e bolsas da moda, os novos sabores de
sorvete -- algo tinha que servir de base para qualquer afirmação. E no pior dos
casos eu procuraria a Constituição na livraria para colar alguns trechos legais.

Mas passeando pela livraria tive uma boa surpresa em ver o novo As 100
melhores crônicas brasileiras. Comprei na hora e fui correndo pra casa,
ansioso pra ler, e esqueci completamente do objetivo do post de hoje. Foi
então que tive uma decepção: nenhuma das minhas crônicas havia sido
selecionada !

Alguém poderia dizer que eu já devia esperar por isso, pois se esse fosse o
caso eu haveria de ter sido contatado antes da publicação, a respeito dos
direitos autorais. Mas, honestamente, tinha esperança que houvesse talvez
uma homenagem secreta a minha pessoa ali pelas últimas páginas do livro...

Estranho também que, dado o elevado número de crônicas (cem) e a baixa


idade de nosso país (arredondemos para 500 anos), conclui-se que a cada
cinco anos surge no Brasil uma obra melhor que qualquer crônica minha.

É dureza ter que me conformar, mas faço isso aproveitando ótimos textos dos
grandes nomes selecionados. Afinal, não há vergonha nenhuma em perder uma
competição de crônicas para Machado de Assis, Rubem Braga, Veríssimo,
Sabino ou Tutty Vasquez...

Nesse clima de conformismo, lanço o projeto de uma nova compilação. Após


Os cem melhores poemas brasileiros do século(Objetiva, 2001), Os cem
melhores contos brasileiros do século(Objetiva, 2001), do Blog de
Papel(Gênese, 2005), e As cem melhores crônicas brasileiras(Objetiva, 2007),
estou selecionando candidatos para Os 100 melhores posts e e-mails
brasileiros !

A primeira coisa a fazer é conseguir algum do Governo pra financiar o projeto.


Afinal, a iniciativa privada de nosso país não faz nada sem antes garantir um
incentivo qualquer. E de mais a mais, se a gravação de um DVD de remix-ao-
vivo (!) de O melhor de Vanessa da Mata (sic) merece quase um milhão em
incentivos fiscais, será que meu livrinho não ganha uma esmola?

Na tentativa desesperada de atingir um público maior (como o adolescente e


a moça dos primeiros parágrafos), vamos manter o livro sempre em bullets,
com parágrafos pequenos, fontes grandes e ícones. O chamado formato
Powerpoint, o único ainda aceito pêlo púbico, digo, pelo público jovem. Para
conquistar o público norte-americano, cada texto deverá começar com o
diálogo entre um suposto grupo de executivos e um monge de renome, num
templo em algum lugar ermo, que soaria mais ou menos assim:
Monge: - Esse próximo e-mail ensinou muita gente a aceitar a vida e ser
feliz com o que se tem.

Executivo 1: - Ah, eu lembro que um amigo comentou sobre esse e-mail, e


disse ter mudado sua vida

Executivo 2: - É verdade, minha irmã leu esse e-mail e passou a ser mais
feliz

Executiva: - Que ótimo, vamos ler tal e-mail e ser felizes também.

Por último, precisamos de exatamente cem posts/e-mails, para não


comprometer o título. Afinal, quem compraria um livro cujo título não reflete
seu conteúdo? Provavelmente daria em processo do Procon, ou Inmetro. E não
adianta mudar o título, pois qual o apelo de venda de um título com números
quebrados, tipo Os 73 melhores ? Pior ainda os números ímpares, primos... vai
ter gente queimando um livro desses! Finalmente, quem compraria um livro
com os 50 melhores, se do lado há um com os 100 melhores e pelo mesmo
preço?

Infelizmente, apesar da blogosfera brazuca ter ganho muito em maturidade e


personalidade ultimamente, a maioria dos blogs brasileiros (inclusive alguns
dos grandes) ainda se resumem a clipping de notícias. Nenhum post deste tipo
entrará nesta lista de 100 melhores, mas do resto vale tudo. O fato é que essa
pode ser uma grande oportunidade para muitos.

Bom, vamos aos candidatos:

1° - aquele e-mail sobre o cara assaltado e estuprado por duas mulheres


maravilhosas nos últimos 4 dias da semana, perguntando se alguém sabe por
onde elas andam.

2° - e-mail que cita a pessoa que, após uma noite de bebedeira, acorda numa
banheira de gelo com um bilhete avisando que teve seu órgão retirado por
uma quadrilha internacional de venda de ânus zerados.

3° - Wellington Grey . net - post: A Tabela Periódica da Internet (Periodic


Table Of the Internet). (como assim não pode participar porque não é
brasileiro?)

4° - Dahmer / Malvados - post: Grande Mapa Dahmer da Blogosfera Brasileira


5° - bic azul / Absurdos & Abstratos - post: O Atraso
6° - Kemp / Lactobacilo Morto - post: (diversos sem título)
7° - biz azul / Absurdos & Abstratos - post(s): No Metro I e II
8° - Ricky / blog0news - post: Semântica
9° - Dahmer / Malvados - post: ano 3 número 597
10° - Alexandre Inagaki / paralelos - post: Literatura na rede: a transição dos
bytes para as bibliotecas
11° - Dahmer / Malvados - post: ano 2 número 493
12° - Alexandre Inagaki / pensar enlouquece, pense nisso - post: Bons Amigos
13° - e-mail com aquele Powerpoint das fotos do século (aquele do fogo com
rosto de gente é maneiríssimo!)
14° ao 82° - (vagas dedicadas ao júri popular)
83° - Mamendex - post: O poder do pensamento positivo
84° - Mamendex - post: Faz um barulho aí
85° - Mamendex - post: Retrospectiva 2006
86° - Mamendex - post: Ligaram o foda-se
87° - Mamendex - post: Haja paciência!
88° - Mamendex - post: Hay que endurecer
89° - Mamendex - post: Você chama isso de m.?!?!
90° - Mamendex - post: E a gripe veio do espaço
91° - Mamendex - post: Responsum Quae Sera Tamen
92° - Mamendex - post: Tolerância ampla, geral e irrestrita
93° - Mamendex - post: O contador de ilusões
94° - Mamendex - post: A Teoria do Humor
95° - Mamendex - post: Paradoxalmente correto
96° - Mamendex - post: Vote, talvez
97° - Mamendex - post: A nova guerra dos sexos
98° - Mamendex - post: Ordem, Progresso y otras cositas más
99° - Mamendex - post: Um grande pequeno golpe
100° - Mamendex - post: Tem 1 real ?

Mandem seus candidatos. Vale votar em si mesmo. Daqui a um mês ou dois


posts (o que vier por último!) eu publico a lista dos vencedores. Desde já
aceitamos reservas também para os interessados em comprar o fabuloso Os
100 melhores posts e e-mails brasileiros*.

* Pagamento adiantado e frete por conta do comprador. Para valores de frete entrar em
contato. A reserva não garante o recebimento do produto. Entregas para o exterior sujeitas à
tributação exclusiva.

Ah, e se você ficou interessado no As Cem Melhores Crônicas Brasileiras


(Joaquim Ferreira dos Santos, Objetiva), basta procurar nas melhores
livrarias, virtuais ou de tijolo. Ou aguardar até que alguém resolva anunciar
por aqui...
Sexta-feira, 3 de Agosto de 2007 [INCLUIR]

O PODER DO PENSAMENTO POSITIVO

Nesse momento em que passo por um período melancólico, como disse


anteriormente, observo do alto a crise aérea que nosso país vem enfrentando
e lembro com saudade da época que a pista de Congonhas era duas vezes
maior, em São Paulo quase não chovia, e nenhum vôo atrasava.

Lembro também da época que só Galvão Bueno e o povo brasileiro -- mas não
os políticos -- eram especialistas em qualquer assunto imaginável.

Falando em políticos, havia alguns com boa oratória, personalidade e sangue


quente, que dava até gosto ouvir, mesmo que discordasse de sua opinião.
Estes, ao contrário de pai-adolescente, sumiram após assumir.

A única coisa que não mudou nestas últimas décadas, é FHC dando pitacos de
algum lugar longe do Brasil.

Habituado que sou a freqüentar a nata brasileira, e de participar de


memoráveis saraus com as melhores personalidades e maiores intelectos de
nossa nação, olho ao redor e me vejo sozinho. Será que foram todos embora?
Ou finalmente me tornei o maior intelecto vivo em terra brasillis?

Na falta de coisa melhor, venho passando o tempo lendo os comentários nos


sites de notícia. É interessante tentar enxergar o ponto de vista de
determinadas pessoas. O primeiro ponto que chama a atenção está na editoria
de Ciência. Toda vez que um estudo é divulgado, por exemplo, Sonda
descobre sinais de vapor de água em lua de Saturno, os comentários se
resumem a sugerir que o dinheiro gasto nestas pesquisas seja usado pra
acabar com a fome no mundo, ou o quanto é ridículo procurar sinais de vida
se a Bíblia diz claramente(!) que só existe vida na Terra. Imagino que essas
pessoas são contra vacinas e microondas também, ou pensam que esse tipo de
coisa dá em árvore, sei lá.

Olhando uma notícia na editoria correlata, Astrologia e Celebridades, vejo


que Astrólogos prevêem que Sol em Áries favorece nova ida de Paris Hilton à
prisão. Ora, alguém por favor sugira o que fazer então com o tempo e
dinheiro do pessoal envolvido nesta notícia.

Na editoria de Livros de Auto-Ajuda Coletiva da Moda, vejo uma matéria de 15


páginas sobre o livro O Segredo [REFERENCIA], uma entrevista de 22 páginas
com a autora do mesmo, e o link pra matérias de revista sobre Os Segredos de
O Segredo. Lendo os dois primeiros parágrafos de um destes links descubro
que o livro faz parte do Clube de Oprah e revela "dentre outras coisas" como o
pensamento positivo pode atrair coisas positivas para sua vida.

Mentalizei desejando não perder tempo nem gastar 30 reais num livro vazio e
sem sentido, e meu desejo se realizou na hora!

Lembrei da minha crítica a 'Damn' Brown, o autor de O Código da Vinci


[REFERENCIA], quando ele diz no prefácio que muitos dos rituais secretos que
ele descreve são verídicos. Ora, se um ritual secreto é de conhecimento
público, ele não deveria deixar de ser secreto? E qual o sentido de manter um
ritual secreto, uma vez que ele não é mais segredo pra ninguém?

Estendo a pergunta à autora deste novo livro: compartilhar um segredo com


15 milhões de pessoas não o faz, no mínimo, menos secreto? "Venha ler o
Segredo que todo mundo já sabe!". "Leia o livro antes que mude de nome".
Imperdível.

O prezado leitor deve se perguntar porque eu critico tanto esta categoria de


livros, Auto-Ajuda Coletiva, e aquela editoria de notícias, Astrologia das
Celebridades. Antes de tudo, são duas implicâncias completamente
diferentes.

No primeiro caso, critico aqueles que procuram respostas, sem nem saber a
pergunta. Essas pessoas que começam o filme perguntando: "ele morre no
final?". Para estas pessoas, sugiro pensar a respeito do porquê se saber o
sentido da vida antes do fim dela. Após descobrir o sentido da vida, faria
sentido continuar vivo? Recomendo o ótimo Guia do Mochileiro das Galáxias
[REFERENCIA] para refletir a respeito do quão prejudicial pode ser saber a
resposta antes de descobrir a pergunta.

No segundo caso, lamento pelas pessoas que se interessam mais em saber


sobre os outros antes de saber sobre si mesmo. Todos nós precisamos
compartilhar cultura, notícias, comportamento entre membros da família,
sociedade e cada vez mais, toda a comunidade global. É saudável ter heróis e
crenças. O que um escritor é, por exemplo, senão os livros que lê? Mas nunca
se engane, você é bombardeado o tempo todo para tirar o foco de sua vida e
colocá-lo na vida dos outros. Afinal de contas, cuidar de sua própria vida não
dá dinheiro pra quem vive de coluna de fofocas...

Como por exemplo uma empresa convence alguém a comprar seus produtos?
Exaltando suas qualidades? Ha! Não, não. É preciso alguém famoso pra criar o
"canal" de comunicação com o consumidor final, o cidadão comum, ou, como
o Bonner diz, o Homer Simpson, que assinará o cheque. E ter alguém famoso
anunciando seus produtos custa caro, portanto é necessário fazer alguém ficar
famoso, de forma prática e indolor, pra poder ser utilizado para aquela
campanha publicitária (e descartado em seguida).

Agora você entende como o poder do pensamento positivo (PPP para os


íntimos) pode influenciar a vida de muitos? Por exemplo, você deseja ser
famosa pra ser igual aquela menina-que-esqueci-o-nome que vai casar com o
ex-BBB. Você deseja e bang! consegue ingresso praquela festa. Uma mini-saia
e duas doses de uísque depois e bang! você aparece na revista do lado
daquele ator de Malhação. Uma reportagem insinuando algo e bang! você é a
nova possível ex-namorada dele, que está com o coração em pedaços. Uma
ponta na televisão, uma nova festa e quem sabe, bang!, você não está
anunciando o DDD mais barato do Brasil? Mais PPP e mais bang e você é capa
de revista (de fofoca), convidada em programa (de fofoca), o céu é o limite!
Vai até escrever livro de Auto-Ajuda Coletiva, quem sabe...

É o Pan aí ó!

Se contar ninguém acredita, mas não é que o Pan do Rio foi um sucesso? A
cerimônia de abertura foi um espetáculo, os locais de competição estavam
bonitos, o trânsito tranqüilo, o Brasil trouxe ouro pra casa (quer dizer,
manteve o ouro em casa)... Nem a inveja da tucanada conseguiu atrapalhar o
evento.

A classe média carioca se vestiu de branco (sua roupa típica de protesto) e


após tomar chopp no calçadão, pegou o ingresso de 250 reais e vaiou o
presidente da República, mostrando até onde vai sua capacidade político-
reacionária. O que ninguém soube explicar é: quem aplaudiu o Caesar Maia??
As fitas de segurança do estádio não deixam claro, pesquisadores atribuem o
feito ao Fantasma do Maracanã, famoso na época do maqueiro Sombra.

Mas voltando a falar de esporte, os destaques da competição foram muitos: o


Tiago do Judô - que tem pressa de ganhar, o Thiago da Natação - pra quem
qualquer estilo é nado livre, a Fabiana do salto com vara - que mais um pouco
bate recorde, e o Bernardinho do vôlei - o careca estourado, que cortou o
titular e convocou o filho. O técnico perdeu finalmente sua blindagem (sem
perder o apoio da TV), mas por uma boa causa: levantar o cachê da família...

Mais uma sacanagem do Pan das Surubas.


Quinta-feira, 31 de Maio de 2007 [INCLUIR]

FAZ UM BARULHO AÍ

O tempo passou e atendendo a pedidos a coluna está de volta !

Fui orientado pelo meu gurú espiritual a afastar-me das tarefas "blogais" por
conta de um furacão que se formava no sudoeste do meu mapa astral, perto
da região que ele apelidou de "Triângulo das Bermudas", em homenagem a
uma antiga confecção de moda surfe. Nessa tal região do mapa havia um
desequilíbrio no continuum espaço-tempo, causado em parte pelo
desaparecimento de Plutão, que fazia com que toda energia que ali passava
se convertesse em matéria. Você pode imaginar o problema que é passar
matéria por onde só deve passar energia? Dói muito!

Mandei meu mapa para o Stephen Hawking, pouco antes de ele ir pro vôo de
gravidade zero. Ele me retornou agradecendo pela contribuição à Física com
esse fenômeno inverso aos Buracos Negros (ou afro-descendentes), chamado
temporariamente e de forma não-criativa e sem alguma graça, de "Calombo
Branco (ou euro-descendente)".

Pois bem, graças ao Calombo Branco minha vida chegou a uma encruzilhada.
Logo em seguida, a encruzilhada tornou-se um abismo. Foi quando o chão
começou a ceder, e tudo começou a girar em direção ao fundo, como a
descarga de uma privada. Ainda estou passando pelos encanamentos em
direção a sabe-se lá onde, mas cheguei num ponto em que já consigo encostar
e apreciar a viagem...

Mas chega de fatos e vamos às metáforas.

Ano novo, vida nova. Quando finalmente consegui o apartamento que tanto
queria, perdi o emprego (que não queria muito mesmo). Foi nesse momento
que fiquei sabendo que ia ser pai. Quanta felicidade eu senti. Embora
também tenha me sentido um pouco ansioso, um pouco tenso, um pouco
confuso, feliz novamente, alegre e ansioso mais um pouco, tive medo duas ou
três vezes, e finalmente fiquei ansioso, tenso, feliz e medroso. Foi quando
entrei em pânico. Depois me acalmei, e fiquei feliz novamente. E tenso e
ansioso.

Fui correndo avisar a meus amigos. Descobri que muitos haviam subitamente
se mudado. Resolvi pegar um filme na locadora, pra relaxar. A locadora havia
mudado. Achei que fosse pirar.

Ou quase. Quanta melancolia, quanto apego ao passado. Acho que tenho


vivido de forma leviana, contrária a minhas crenças. Ou não. Precisava pensar
em como controlar meus pensamentos. Tive medo de perder o controle.

Mas então meu filho nasceu. E tudo ficou bem. Ou quase.


Já não me reconheço mais. Não sei mais quem eu sou. Não tenho mais nada
ver com o que eu era 3 meses atrás; por não achar esse vínculo, não consigo
me situar. Um paulista me falou no Ceará, com um inacreditável sotaque
interiorano (pra quem estava longe de casa há 20 anos): "árvore que perde a
raiz, seca e morre".

Precisava portanto me reencontrar comigo mesmo, com meus vários eus


anteriores, colocar todo mundo numa sala pra conversar abertamente,
restabelecer os vínculos, colocar o papo em dia, etc, para então poder
continuar com meu presente.

Mas perder minha casa foi algo difícil de lidar.

Sempre fui muito caseiro, sempre gostei muito de ficar em casa, apesar de
qualquer problema ou reclamação que tivesse. Ao me mudar, não consegui
fazer a transferência, me perdi por não ter mais um lugar para me sentir em
paz, calmo.

Contei na manhã de quinta-feira, 8 horas. Eu não consegui passar de 45


segundos sem que uma sinaleta de garagem tocasse. Cada sinaleta toca por
entre 30 e 60 segundos. Fazendo uma aproximação esdrúxula, podemos dizer
que das 7:30 às 9:30, as sinaletas tocam 50% do tempo, ou seja, o silêncio é
quase uma exceção.

Sem contar o barulho do trânsito. Sem contar o barulho da academia e da


casa de festas. Sem contar o barulho do restaurante argentino. Este é tão
argentino que quando fecha ainda programa o alarme pra despertar 3 vezes
por madrugada...

A vontade que tive na primeira noite que passei no novo apartamento foi ligar
urgentemente pra imobiliária e o antigo proprietário e desfazer o negócio. A
primeira semana foi um sofrimento inacabável. Não conseguia ficar parado em
nenhum cômodo, passei noites em claro, evitava estar em casa, pegava o
carro só pra sair dali.

Sempre tive medo de morar num lugar barulhento. Preciso agora aprender a
conviver com isso. Sempre tive raiva quando via alguém jogar lixo no chão,
preciso aprender a conviver com isso também. Motoristas avançando sinal,
motos buzinando, cachorros sujando a rua... nada disso vai acabar. Nunca.

Eu lembro de uns anúncios de empresas de segurança e armamento que vi nos


EUA, algo tipo "as guerras não estão indo a lugar nenhum e portanto nós
também não". Acho que a idéia é mais ou menos essa. As pessoas irritantes
deste mundo não estão com os dias contados. A violência não está prestes a
acabar. Nem a injustiça. Nem a corrupção no Brasil. O Mundo não vai ser um
dia, um lugar perfeito, sem medos, sem raivas, utópico. E eu, nos meus 30
anos, já devia ter aprendido isso.

Vivendo e aprendendo.
Eta nóis!

O Brasil não descobriu o Etanol, mas dominou o assunto, agora o mundo


descobre o etanol brasileiro. Contudo, muitas dúvidas surgem ao longo desse
caminho.

Como evitar que o plantio de cana acabe com a Amazônia?


Muito fácil, a própria incompetência brasileira. Afinal, nós mal conseguimos
escoar a produção do litoral, que dirá a produção no meio da selva. A não ser
que alguém nos venda um "canaoduto".

Como acabar com o trabalho escravo nas lavouras?


Com mais empresas plantando, com a melhora das vendas, a tendência é uma
maior concorrência pela mão de obra. Alguns sugerem a substituição dos bóia-
frias pelo trabalho forçado dos detentos, especialmente os presos por
corrupção. Há quem sugira ainda que qualquer político que renuncie deva
terminar seu mandato cortando cana.

Como evitar que o Brasil seja ameaçado por conta do "novo petróleo"?
É fácil, olhe nossa imensidão territorial e nossa população. Basta ninguém
oferecer melhor futebol, melhor bebida e melhores mulheres. Pensando bem,
um consórcio entre Itália, Escócia e Suécia poderia desestabilizar nossa
nação!!
Terça-feira, 3 de Outubro de 2006

RETROSPECTIVA 2006
Confirmando o pioneirismo desta coluna, e aproveitando que é pouco provável
que um novo número seja publicado até o fim do ano, estamos publicando
hoje o especial Retrospectiva 2006.
Dois mil e seis. Ano de Aquário. Ano do Cachorro. Ano Internacional da
Desertificação. Como ficará conhecido esse ano no rol da História dos Anos da
Humanidade? Quem se destacou, quem desapareceu? Quem ganhou, quem
perdeu? Enfim, chega de lenga-lenga e vamos para os fatos:

Janeiro - A NASA lança uma sonda a Plutão, planeta que mais tarde seria alvo
dos paparazzi de plutão. Digo, plantão. Erro Morales, digo Erva Morales,
assume o governo boliviano. O Rio de Janeiro fica debaixo de um dos maiores
temporais que se tem registro. Aliás, também não há registros desse, foram
todos levados pela enxurrada. No Oriente-Médio, Olmert é novo primeiro-
ministro de Israel, após derrame de Sharon. Vários muçulmanos protestam.

Fevereiro - Stones no Brasil. Quer dizer, no Rio. Milhões de pessoas na praia


assistem ao show pelos telões instalados para a galera não-vip-vip-vip. No
Oriente-Médio, vários muçulmanos protestam. U2 no Brasil. Quer dizer, em
São Paulo. Milhões de pessoas na fila tentam comprar os poucos ingressos
disponibilizados aos não-vip-vip-vip. Nadam, nadam e morrem na praia.
A Apple vende a bilionésima música pelo iTunes. No Oriente-Médio, vários
protestam.

Março - Slobodan Milosevic morre misteriosamente de ataque cardíaco em sua


cela, possívelmente devido ao enorme esforço de amarrar suas mãos nas
costas. O ETA anuncia o fim da luta armada e o início da luta política,
deixando a população espanhola ainda mais aterrorisada. A Rádio Cidade do
Rio acaba e no seu lugar entra mais um produto medíocre campeão de
reclamações da francesa Telemer. Após anos de dedicação e esforço, o Brasil
finalmente vai pro espaço! O acontecimento, inocente à primeira vista, vai
acarretar sérias transformações no sistema solar... No Oriente-Médio, vários
protestam.

Abril - O presidente do Irã confirma ter um punhado de Urânio enriquecido


em suas mãos e bolsos. A Itália se livra de Berlusconi. Antonio Garotinho
começa greve de fome, que não iria durar muito... No Oriente-Médio, vários
protestam.

Maio - Em pleno dia mundial do trabalho, o presidente boliviano Erva Morales


se dá ao trabalho de nacionalizar o gás boliviano e tomar as instalações petro-
gasíferas do país. O Brasil protesta, a Argentina comemora e aproveita a
situação pra zoar da cara do Brasil. Mais tarde no ano, o presidente boliviano
iria entregar parte das reservas evo-moralenses à estatal hugo-chaviana. Nas
paradas, Marcollah e o Primeiro Comando agitam São Paulo. Na guerra entre
gangues, trocentos mortos na gangue do PCC, outrocentos na gangue da PM, e
muitocentos na gangue do PF - Povo Fudido. No Oriente-Médio, vários
protestam.

Junho - A Copa do Mundo da Alemanha começa e tudo o mais pára.


Comerciais de material esportivo tomam o noticiário. O time da casa supera
as expectativas e chega a final, perdendo porém para o futebol tosco-italiano.
Brasil e Argentina dão finalmente as mãos e saem como o mico da copa. O
Escândalo do Meião, como ficou conhecida a falha do sistema defensivo
brasileiro, custou o emprego do técnico Parrêra e as medalhas dos figurões da
seleção verde-amarelona. Zidane é o nome da Copa e se aposenta sem o título
mas como o resposável pelo melhor lance da competição: a linda cabeçada no
cabeça-de-bagre italiano Matarazzo. Em Brasília, um dia de fúria: um grupo
do MSLT (Movimento do Software Livre na Terra) invade a Câmara e faz o que
todo brasileiro quer fazer há muito tempo! (Ah, uma dessas por ano... e quem
sabe os políticos não entram nos eixos?) No Oriente-Médio, vários protestam.

Julho - Adolescentes morrem em acidente de carro e o presidente do Detran


cria a lei que proíbe a capotagem de carros. Começam as eleições no México,
que não iriam terminar tão cedo... Dunga e os Seis Anões assumem a seleção
Canastrinha. Em Cuba, Fidel entra de licença médica. Israel invade o Líbano
após ser atingida por mísseis lançados pelo grupo terrorista e banda de axé-
music Rezbolla. Vários muçulmanos protestam.

Agosto - Mais uma nova denúncia de mais um novo escândalo surge


novamente outra vez, envolvendo governo, oposição, deputados, senadores,
assessores, gabinetes, candidatos, direita, esquerda, centro, centro-esquerda
e zaga-central. Eu não entendi bem os detalhes, mas no ano que vem ninguém
vai lembrar mesmo... Plutão é rebaixado a planeta-anão. Anões e astrólogos
protestam.

Setembro - O Papa Benedito XVI lê, durante um discurso, texto medieval


atribuído a Bizantino, que diz que "os seguidores de Maomé são intolerantes e
violentos". Em resposta, vários muçulmanos vão às ruas, protestar, queimar
bandeiras e assassinar freiras somali de 65 anos. A Al-Qaeda diz que o mundo
cristão irá tombar e que a jihad vai continuar até que todos sejam mortos ou
convertidos ao islã, e exigem que o Papa "cruzado adorador da cruz" peça
desculpas. O Papa pede desculpas. Os muçulmanos então, protestam,
queimam bandeiras e exigem mais desculpas. Um mini-golpe-relâmpago
ocorre na Tailândia e o reflexo atinge as bolsas ao redor do mundo. O vôo Gol
1907 cai nas proximidades da base militar da Serra do Cachimbo após colidir
em pleno ar com jato Legacy americano, que aterrissa quase intacto. O FBI
designa Fox Mulder para o caso.

Outubro - As eleições correm como sempre, alguns presidentes de seção são


presos por atraso ou embriaguez como sempre, reportagens sobre a entrega
de urnas eletrônicas para as comunidades ribeirinhas do Amazonas vão ao ar
como sempre e a apuração ocorre em novo recorde, como sempre. Políticos
corruptos de sempre são eleitos. Como sempre. Geraldo Chuchú desiste da
candidatura, anuncia greve de fome e aceita apoio de Antonio Garotinho.
Alguns muçulmanos protestam contra a publicação da retrospectiva 2006 em
pleno Outubro.

Novembro - Como a retrospectiva já foi ao ar, a partir daqui é tudo previsão


desta coluna. O povo interrompe o churrasco e volta às urnas para decidir
quem afinal vai comandar as falcatruas nos próximos 4 anos, renováveis por
mais 4. No Oriente-Médio, vários protestam.

Dezembro - O Natal bate recorde de vendas, bem como o número de cheques


sem fundos. A economia parece que vai reaquecer agora que o presidente foi
escolhido. A previsão do crescimento do PIB para 2007 é de 3,1415%.
Matemáticos apresentam a equação do fenômeno: πB, que aliás, tende a
zero. No Oriente-Médio, vários protestam.

O que esperar de 2007:


- Mais atentados no Iraque,
- Mais atentados no Afeganistão,
- Mais terremotos na Oceania,
- Mais um presidente sem maioria no Congresso,
- Mais denúncias e escândalos no Brasil,
- Mais uma gravidez de Britney Spears,
- Algumas colunas novas no Mamendex...
- E no Oriente-Médio, mais protestos.

Queremos aproveitar o momento para sermos os primeiros a desejar a todos:

Um feliz Natal e próspero 2007 !


Sexta-feira, 8 de Setembro de 2006 [INCLUIR]

LIGARAM O F...-SE

Nas últimas semanas recebi milhares de e-mails, ligações e até -- acreditem --


cartas, daquelas enviadas via Correios. Muitos queriam saber por onde
andava, o que estava acontecendo. Mas a maioria só queria mesmo dinheiro
emprestado, ou me emprestar dinheiro a juros módicos!

Respondendo a dúvida do primeiro grupo, tive que me ausentar em prol de um


projeto muito importante, que exigiu toda minha dedicação e talento.
Infelizmente à conclusão dos fatos, saio sem glórias, com a viola no saco, a
experiência adquirida, as histórias pra contar, e uma pequena fortuna em
material de escritório roubado.

Fui encarregado este ano da defesa do (ex-)planeta Plutão. Fui líder de uma
equipe que reunia várias pessoas e muitos advogados. Fizemos um bom
trabalho, contamos boas piadas, criamos um excelente material; porém,
venceu o lado mais forte, que contava com a mídia -- que há muito queria
alguma novidade na seção de Astronomia e Astrologia (sim, são uma editoria
só) -- e o poder econômico -- que leva assim os processos de downsizing e
reengenharia, tão fora de moda no nosso século, para novas fronteiras, onde o
homem jamais esteve.

Embora estivesse confiante na vitória, não posso dizer que foi uma perda
total. A companheira de Plutão, Caronte, foi reconhecida como legítima e
agora tem direito ao plano de saúde. Meu cliente já foi sondado para ter sua
história narrada em vários filmes e livros, participar de vários programas de
auditório e dar palestras a empresários milionários.

Só que a falta de visão de quem sobe os degraus da escada gerencial do


mundo corporativo é tão inexorável quanto a gravitação universal. Às vezes eu
imagino que uma nebulosa vai se tornando mais densa no trajeto à gerência.
Assim, após a representação deste grande caso, fui transferido para o setor de
contabilidade de caixa 2 para candidatos a deputado federal, conhecido como
a carne de pescoço das atuariais.

Assim, estou num imenso dilema ético, face a um abismo profissional:


comunico à alta gerência da corporação a minha discordância quanto a
alocação, enquanto procuro por novas encheções-de-saco e problemas (quer
dizer, novas oportunidades e desafios); ou, se procuro por novas encheções-
de-saco e problemas enquanto comunico à alta gerência da corporação a
minha discordância quanto a alocação.

Jerry (como foi batizado o rato aqui do escritório) tem me aconselhado muito.
Ele acredita que a ética profissional não é uma coisa universal. Um dos
autores do clássico Quem Mexeu no Meu Queijo, ele afirma que cada
civilização tem suas próprias crenças e axiomas, geralmente derrubados pela
geração seguinte. Por exemplo, um escravo da construção das pirâmides
acharia engraçado se alguém insinuasse que um dia seria obrigatório por lei,
pausa para almoço, banheiro, água e café no ambiente de trabalho. Da
mesma forma que eu acharia engraçado se o técnico virasse para o ponta-
esquerda instantes antes do apito inicial e dissesse que, após profunda
meditação tântrica, acha melhor ele jogar no gol.

Indignações à parte, Jerry insiste que, num processo relacional como o


emprego, face aos limites da dialética entre o trabalho e a gerência (isto é,
entre o esforço e o esporro), vale a regra de ouro: os incomodados que se
mudem.

Era o empurrão que eu precisava.

Fiquei sabendo de uma vaga e enviei meu currículo para o grande amigo Caixa
D'Ágüa, conhecido como "Caxágua". Grande homem, grande brasileiro. Me
faltam adjetivos. Ele veio a falecer no dia seguinte, pouco antes de
anunciarem a contratação do Dunga, que já botou 4 dos 6 anões pra dentro
(no mau sentido), quebrando outra regra de ouro: funcionário indica 1,
gerente indica 2 e diretor indica 3 no máximo.

Confesso que a notícia me deixou muito triste (a do Dunga, não a do


Caxágua). Estava animado com a possibilidade de ser mais um técnico de
seleção brasileira que não sabe nada de futebol.

Foi então que surgiu, no meio da minha pilha de correspondência não lida
(leitores, um dia eu ponho em dia!) uma carta em japonês com a firma de
uma empresa muito conhecida. Não precisei de tradução para reconhecer o
gordo cheque e a passagem de ida e volta para Tóquio, anexados à carta. Mas
também não é essa a oportunidade que eu procuro... Mil perdões, meu amigo
Kutaragi, mas porta-voz do projeto Playstation 3 ©, a essas alturas?!?! Meu
japonês não dá pro gasto. Mas até o PS4 eu chego lá!

Outras possibilidades apareceram, seja por carta, e-mail ou nos Classificados.


Mas todas caíam num outro problema clássico: eu teria muito a contribuir.
Não se enganem, leitores, nunca aceitem um desafio ao qual você tem muito
a agregar. Lembre do caso daquele funcionário que foi demitido logo após a
contratação na fábrica de automóveis que inventou o limpador de pára-brisas,
por insistir que estes deveriam ser posicionados do lado de fora. Terceira
regra de ouro do dia: em terra de cego, quem tem um olho tá errado (ou
vale metade, como interpreta minha ex-tia).

O desespero bateu. Confesso que já vejo os balanços desbalanceados e as


duplicatas duplicadas se acumulando na minha mesa, aguardando o carimbo,
a rubrica, a xerox autenticada das 5 vias... Não, não vou desistir!

O importante é que consegui priorizar minhas pendências e abastecer meus 4


leitores com notícias do front. Rumo agora para os Estados Unidos, negociar a
creche da filha de Tom Cruise e Katie Holmes. O lance inicial é US$10 mil...
Até a coluna que vem, com a Retrospectiva 2006!

Eleições 2006 - participe... mas não seja cúmplice!

Face a vários e-mails que circulam, vale esclarecer que de acordo com o
presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, não
existe (infelizmente) qualquer possibilidade de uma eleição ser anulada pelo
número excessivo de votos brancos ou nulos que, para fins eleitorais, são
iguais e medidos apenas para estatística. Assim, uma eleição só seria anulada
se todos os votos fossem brancos ou nulos (ou seja, se nem os próprios
candidatos votassem neles mesmos). Não vou colocar o link aqui, mas existe
um bom site no Terra a respeito deste assunto.

Contribuindo ainda mais para a grade festa da Democracia brasileira, está


disponível abaixo um simulador de urna eletrônica, para que você não tenha
dúvidas na cabine e possa ir mais cedo à praia:

Para Deputado Federal voto para:

9901 - Um estuprador trabalhista


9902 - Um estuprador democrata-cristão
9903 - Um estuprador social-democrata
9904 - Um estuprador ecologista
Branco-Todos os anteriores

Digite o número do seu candidato e puxe a cordinha para enviar seu voto!
Sexta-feira, 12 de Maio de 2006 [INCLUIR]

HAJA PACIÊNCIA!
Chego em casa, pego a correspondência e puxo assunto com o porteiro:

- E aí, Zé, terminaram de demolir o prédio?


- Como assim?
- Acordei hoje 8 e meia e o prédio parecia estar sendo demolido comigo
dentro. Corri logo pro corredor.
- É, tá em obra a coluna 1, no sexto e no quinto.
- É, mais uma. Essas obras não acabam nunca?
- Ah, tá acabando já...

Pego o elevador, que esqueceu e pulou o meu andar, indo até o décimo-
sétimo. Desço traqüilamente, sem revolta. O papel de parede dos corredores
está todo arrancado e rabiscado pelas crianças do prédio. O pessoal do andar
desistiu de reclamar ou pagar pela manutenção (que o condomínio não se
responsabiliza).

Prendo a respiração. A inhaca no corredor está demais. Meu vizinho cria 4


cachorros: um labrador, um pastor alemão, um poodle e um morto, que fede
24 horas por dia, 7 dias por semana. Quando aquela porta abre é um Deus nos
acuda. Não tem Bom-Ar ou desinfetante que dê jeito naquele corredor. Tô pra
deixar umas máscaras de emergência penduradas. Ainda bem que não é
vizinho de porta, ou janela, a outra vizinha reclama de carrapato na varanda
dela, que nem cachorro tem...

Com uma pausa rápida pra respirar ar puro de dentro da Lixeira, entro em
casa e bebo água, enquanto leio a correspondência. "De acordo com
Assembléia e em virtude da alta conta da Cedae e da impossibilidade de
acordo judicial para cobrança de atrasos de unidade, o condomíno está sendo
reajustado para 400 reais".

Puta que pariu! O amigo leitor me desculpe. Mas PUTA QUE O PARIU! [Aliás,
por que alguma pessoas tem a mania de falar "PUTA" alto e "que pariu" baixo?
O palavrão é "puta", "que pariu" (versão curta) ou "que-o-pariu" (versão
detalhada) não constituem palavrão em nenhum caso]

Voltando ao assunto, puta que o pariu! Vejo a prestação de contas do


condomínio, pelo menos 3 unidades estão pagando multa (de 10 reais!) por
atraso, pelo menos 5 unidades simplesmente não estão pagando multa nem
atraso, e ainda há uma unidade isenta de condomínio (sabe lá Roberto
Jefferson por quê).

Outro trecho me chama a atenção: "Abril/2006 - Obras em andamento: 11".


Cacete! 11 obras em andamento num mesmo prédio! Haja vazamento, haja
conserto e haja conta de água. Quanto mais consertam vazamento, mais a
conta de água aumenta. O presidente da Cedae deve morar no meu prédio. 11
obras e um segredo.

Toca o interfone:
- É o Zé, é pra avisar que vai cortar a água dos dois banheiros em 10 minutos.
- Ué, mas por quanto tempo?
- Ih, até amanhã. De repente o fim de semana todo. Tá com um vazamento
feio no 1o. andar...
- Mas são 18:30! Vou ficar sem banheiro até amanhã??
- Ah, se correr dá tempo ainda...

Abro a janela pra respirar um pouco. O cachorro chato da vizinha está latindo
pra chuva. Ou pros carros, vai saber. O lance é latir o tempo todo. Uma vez eu
cronometrei: foram 40 minutos de latido ininterruptos. Seria um recorde?
Anotação mental: pesquisar sobre os cachorros mais chatos do mundo.

Um som de bateria entra junto do latido: crassh!, tum-tum!, crasssh!! Acho


que vem daquela casa estranha da rua da frente, acho que tem um curso de
música lá. Mas peraí!! Tô ouvindo som de bateria da rua de trás também! Era
o que faltava, tem uma banda nova no bairro, ensaiando na rua que dá nos
fundos do prédio. Quase não dá pra ouvir nada, exceto a bateria, que por
sinal é bem limitada. O prato de 19" não deve ser novo, o cara chega a dar
uma pausa antes de arrebentar a baqueta nele. É só o que se ouve da banda:
crasssh!

O som das crianças no play não incomodaria tanto, se não fosse pela música
que eles têm que ouvir nas alturas. Geralmente as mesmas cinco músicas,
repetidas horas a fio. Pelo menos é desligado as 22:30, diferente de algum
lugar misterioso de onde se ouve um som grave e irritante a madrugada
inteira, geralmente nos fins de semana.

Acordar ao som de marteladas, dormir ao som de baterias, pagar 400 pratas


por mês pra viver num prédio de caloteiros com um elevador caduco, um
corredor fedorento e latidos intermináveis, e ainda por cima sem poder usar o
banheiro.

E tem gente que reclama de bala perdida...

PS: Às bandas do bairro, toda a sorte do mundo! Que façam sucesso e se


lancem, de preferência, em carreira internacional (bem longe de casa!).

Rio em cena

Acabou a greve de fome do Garotinho. O regime fez muito bem, pagou parte
dos pecados, ficou bem melhor aparentado, mais saudável. A Rosinha é que tá
desesperada agora, vai ter que perder uns 10 kg pra segurar o marido...
Projeto de Projeto de Lei

A Assembléia Legislativa vai ao programa do Faustão pra iniciar a pesquisa:


Depois do vagão feminino, qual deve ser o próximo vagão especial nos trens e
metrôs?

- Vagão GLS
- Vagão de quem canta, assovia ou ouve música alta
- Vagão de quem tá com mais pressa
- Vagão de quem não tomou banho
- Vagão sem bancos para idosos: afinal o que eles estão fazendo num trem na
hora do rush??

Ajuda

Isso é sério. Quem trabalhar ou tiver contatos na Vivo ou Anatel por favor
entrar em contato pelo email mamendes@bol.com.br. Minha esposa tem
recebido contas (na faixa de 900 reais) de um celular que ela cancelou em
2001. Algum pilantra reativou a linha (no nome dela) e está fazendo ligações
astronômicas... E a Vivo, que está 'investigando' há uns 4 meses ainda nem
sequer bloqueou a linha !!!!
Quinta-feira, 4 de Maio de 2006 [INCLUIR]

HAY QUE ENDURECER

Rio de Janeiro, Bar Luis, noite de quarta.

- Garçon, trás um conhaque.

Pego a caneta e o caderno e começo a fazer as anotações. Acendo o charuto,


recosto na cadeira e visualizo a outra meia dúzia de clientes do bar.

Foi uma semana agitada, e eu não tive tempo de escrever. Garotinho fazendo
greve de fome, a Bolívia tomando a Petrobrás, o caseiro pedindo uma
aposentadoria milionária de indenização, deputados gastando Iraques de
petróleo em cotas de gasolina, as obras do Pan que vão ficar prontas na
semana de abertura do evento, o país adquirindo a auto-insuficiência e,
finalmente, o Chico confessando que fuma e brocha.

Infelizmente todas as boas piadas já foram usadas. Só me resta lamentar os


ocorridos. E talvez um plágio ou outro.

- Garçon, me vê aquela porção de milanesa e salada de batata.

Garotinho, esse grande gênio da política, religião e rádio-difusão, o grande


mentor da grande Rosinha, essa futura Senadora, futuros santos-beatos já em
processo de canonização. O aprendiz que roubou o apelido do mestre. Esse
mesmo. Face à complexidade do mundo e a pouca fé da Humanidade, esse
grande homem público, lembrando ídolos como Gandhi, resolveu de forma
nobre entrar em greve de fome e doar as suas 3 refeições diárias aos
famintos, enquanto não acabarem as guerras no mundo, a poluição do meio-
ambiente e enquanto a TV brasileira não reprisar a série Chips.

Tão bombástico quanto o regime do Garotinho ou o cancelamento do show do


Zeca na festa de comemoração da auto-suficiência em petróleo do país, foi a
ocupação, uma semana depois, das instalações da Petrobrás pelas tropas de
elite do presidente-índio-cocaleiro Erva Morales. Erva tomou a decisão após
reunir-se com seu gabinete e tomar um chazinho para abrir as idéias. Em
seguida, acionou 100 soldados (metade do contingente do país), munidos de
tacapes, pedras e aquelas flautas de bambu -- armas típicas dos índios
bolivianos. Cercaram as instalações brasileiras e ficaram tocando na porta até
que alguém comprasse um CD -- ou cedesse o controle dos prédios.

Desde a ocupação, vários especialistas surgiram explicando quando e como


nosso país errou ao importar a matéria-prima do nosso vizinho gasoso. "Foi
mexer com gás deu nisso". Outros afirmam que foi-se a época em que era fácil
passar a perna em índio. "Não existem mais bobos no futebol, e nem no setor
energético", afirma um técnico da área.
Mas os problemas não acabam por aí. O determinado Erva pretende, a médio
prazo, acabar com todas as reservas de gás do país (acendendo um fósforo nas
minas) e plantar coca em tudo o que sobrar. Os gasodutos seriam aproveitados
e convertidos em cocadutos, distribuindo de forma rápida e barata a
especiaria boliviana.

Diplomatas brasileiros trabalham num acordo que possa garantir resultados


para ambos os lados. Alguns estudam a possibilidade de devolver o Acre à
Bolívia, em troca das minas de gás. Outros países estão oferencedo acesso ao
Pacífico, ao Atlântico e até ao Índico aos bolivianos. Movimento no Orkut
exige a anexação do país vizinho, antes que a coisa piore. Pela política
externa do nosso governo até agora, porém, o mais provável é exatamente o
contrário...

Portanto vá caprichando no seu espanhol, compre o CD ali na São José, e


acostume-se ao prazer de um bom chá direto dos Andes.

- Garçon, o café e a conta.

Polêmica

Trecho divulgado do Evangelho Segundo Judas:

"Vesti uma roupa bem quente e, debaixo do Sol escaldante, repeti tudo que
ouvistes à exaustão. Espalhai-vos e gritai aos brados, em toda praça ou
esquina, a assim chamada palavra do senhor. Gesticulai em excesso, enchei o
saco dos transeuntes, xingai as outras religiões e mencionai o nome dos
Santos e do Capeta em alto e bom som."

Cena carioca

No matagal que ocupa o espaço onde será o Velódromo do Pan, várias


autoridades da Cidade, Estado, União e inclusive internacionais,
acompanhadas de perto pela Imprensa, todos munidos de capacete,
declararam-se satisfeitas com o andamento das obras (!).

A pergunta que não quer calar é: pra que servia o capacete? Não havia
nenhuma estrutura de pé no local!
Quinta-feira, 13 de Abril de 2006 [INCLUIR]

VOCÊ CHAMA ISSO DE M.?!?!

Um amigo me pára na hora do almoço e pergunta: "Você sabe o que é m.? M. é


quando o sistema dá pau por causa de alguém (viado e fdp) e você (corno) é o
cara que tem que descobrir e contar pro cliente que nem sequer o backup
pode ser restaurado".

Após o almoço, de volta ao escritório, ainda ria da cara dele quando os


auditores chegaram e fizeram um sorteio pra ver quem seria o Cristo daquela
semana: eu. "Você chama isso de m.?" - gritei pro meu amigo, que se dobrava
de rir com o agora pequeno problema de backup.

Todo mundo já recebeu aquele e-mail com as frases que tipicamente


antecedem à m., tipo, "Isso nunca deu errado antes", "Confie em mim", "Meu
marido só volta à noite", "Faz se tu é homem", ou "Vou votar nesse porque ele
rouba mas faz". Mas nunca ninguém fez um estudo aprofundado.

Resolvi me aprofundar no tema. Como a definição de m. tem evoluído ao


longo da história? Uma m. nos anos 70 era pior ou melhor do que uma m. do
século 21? Como será a m. do futuro? Tudo isso essa quinta no M. Repórter -
reprise sábado no M. News e domingo no M. Espetacular.

Primeiro vamos a um pequeno glossário para colocarmos todos na mesma


página:

M. - acontecimento que afeta uma ou mais pessoas de forma negativa.


Chefe - nunca é responsável pela m., embora cause várias por dia
Viado ou fdp - cidadão causador da m.
Corno - consertador de m. ou afetado por ela.
Hiena - aquele que gosta de m. e lucra com ela. Vide consultor, auditor,
advogado.
Meia-vida - o tempo que a m. leva para perder metade do seu efeito.

A primeira m. da história da humanidade foi, sem dúvida, Adão comer a maçã


da árvore do pecado. Sim, Adão, porque Eva com certeza só levou a culpa por
que chegou por último no Paraíso.

Mas ainda antes disso algum dinossauro fez m. e acabou com toda uma era.
Talvez ele também tenha comido algo que não devia.

Ao longo dos tempos, as m. vêm ganhando maiores proporções. Você pode se


perguntar o que seria maior que destruir quase toda a vida na Terra, porém se
os dinossauros não podiam raciocinar, também não podiam apreciar a m. do
mundo acabando ao se redor.

A m. seguinte foi o rapto de Helena de Tróia, digo, para Tróia. Essa m. não só
destruiu a cidade, como foi responsável por várias m. na seqüência, como a
fundação de Roma, o filme horroroso estrelado pelo traseiro de Brad Pitt.

Roma, responsável por várias m., iria inventar a burocracia e o serviço civil,
iria destruir a biblioteca de Alexandria, antes de ruir pelo peso de sua
corrupção e eleger o Berluscollini.

Várias m. na idade média: Cruzadas, invenção do divórcio (e por


conseqüência, da ex-mulher), a Inquisição e a caça às bruxas.

Na Idade Moderna, um assassinato de um príncipe qualquer causou uma


grande m., digo, guerra, que causou outra, e que não melhorou em nada a m.
fria. O homem vai para o Espaço, pisa na Lua e cria assim a m. espacial. O
mundo se globaliza e as m. se intensificam. O Terrorismo e o Antiterrorismo
surgem e desde então é m. atrás de m.

No Brasil, a m. evolui ao longo do tempo em ordem exponencial:

M. na década de 70 - a Ditadura e a Censura, que proibiam o uso da expressão


"m."
M. na década de 80 - o Brasil perder a Copa de 82
M. na década de 90 - Collor e o confisco e da poupança; FHC e a alta dos juros
M. no ano 2000 - As contas erradas das empresas de telefonia celular; Lula e o
Mensalão; Seu filho menor de idade usar seu micro para crimes digitais;

Graças ao processo privatizatório das telecomunicações, grandes empresas


surgem: Telemerda, Merdofônica, Brasil Merdacom. Vários novos serviços de
m. surgem no país. TV a cabo, celular, conexão banda larga e tantos outros
serviços caros e que raramente funcionam. Nos bastidores, vários
"funcionários" sem vínculo empregatício e recém saídos da faculdade
processam as faturas e as cobranças destas empresas, de domingo a domingo,
horas e horas a fio, num processo que mais faz lembrar a indústria de tear
inglesa ou as usinas de carvão russas do início do século (passado).

O Marketing também evolui, de foco no produto para foco no cliente e, mais


recentemente, de foco no cliente para foco na m. O Call Center evolui e você
agora recebe ligações no domingo à noite oferecendo outro cartão de crédito
de m.

Nos escritórios as m. estão de vento em popa. Chefes de m., funcionários de


m., produtos de m., consultores de m., todos juntos oferecendo a seus
clientes o supra-sumo e o estado da arte da m. Estagiário então é igual ao
Edmundo: tá esperando pra fazer m! Na área de informática, m. é uma
filosofia de vida, onde um software de m. vale milhões, muda uma empresa
inteira, mesmo sendo uma m. e sem nunca cumprir o que promete.

Mas a vida segue, o ano de 2006 nem chegou à metade, e só nos resta torcer
por m. melhores e observar de perto a programação de m. das TVs abertas.
Ah, e claro, fazer nossas apostas no Romário ou no Pelé para ver quem chega
primeiro ao milésimo filho ou à milésima m...

O Evangelho segundo Suzzane

Não só a mídia, a sociedade, os formadores de opinião, os profissionais


liberais, os políticos e os criminosos, mas também o povo brasileiro ficou
impressionado com a entrevista do Mário, advogado de Suzzane Rich,
interpretada pela própria, ao Fantáástico. Apesar do choro sem lágrimas e o
balbuciar repetitivo e inaudível, a patricida garantiu sua vaga na novela
juvenil Malhação 2007 - que mudará seu cenário para o presídio feminino do
Carandirú.

O advogado porém, ficou indignado com a falta de respeito à sua privacidade


com sua cliente gostosinha. "Chora, neném, chora! Isso berra! Faz careta
agora!" - Frase dita pelo advogado ao pé do ouvido de sua cliente, porém
cortada da edição da entrevista. Que injustiça!

Mário teria arranjado a entrevista para mostrar o dia-a-dia de Suzzane, seus


hábitos, seus livros e discos, os passarinhos que cria, e outras atividades que
pratica enquanto não está fazendo sexo grupal com bandidos ou matando os
pais.

A Globo disse que ao perceber a farsa não lhe restou alternativa a não ser
denunciá-la. Foi uma questão de ética jornalística. Resta então saber qual é a
alternativa ética para até hoje não se mostrar os bastidores da ligação entre o
futebol carioca e o tráfico...
Quinta-feira, 16 de Março de 2006 [INCLUIR]

E A GRIPE VEIO DO ESPAÇO


Zomir era um funcionário exemplar do Laboratório de Pesquisa e Exploração
Exterior, lotado no setor de Vida Primata e Inteligente. Chegava pontualmente
na Segunda, saía pontualmente na Sétima e acessava os emails na Oitava,
Sábado e até Domingo às vezes. Sua especialidade era Nano-Computação
Viral, o que pagava muito bem especialmente para quem topava trabalhar em
campo.

A vida de pesquisador embarcado não era das mais fáceis. Comer cereal
colorido em caixinha, tomar um descafé sintético horroroso e beber água re-
oxigenizada não eram exatamente refeições ideais pra alguém com tamanho
apetite e apreciação culinária.

Ele tentava esquecer isso ouvindo seu iPod enquanto se concentrava no seu
projeto. Era, ou melhor, seria tarde da noite se estivessem em casa, quando
Thuir6 se aproximou puxando assunto.

- Estamos passando por Centauri Distante nesse momento. Espero que você
não tenha comido muito no jantar... - disse, reticente.

- Por quê? A plataforma vai sacudir?

- Vento solar de Nêmesis. Na posição que estamos ele é terrível. Tempestades


em toda seção esférica. O estagiário no ano passado vomitou o cubículo todo.
Ninguém aguentou o cheiro e a gente teve que abrir as janelas.

- Só agradeço por não estarmos indo pro Sistema Solar, dizem que aquela
porcaria do Helius causa câncer... Comentou Xiaut, que chegara momento
antes.

- Ah, mas têm suas vantagens... céu azul, praia, mulheres bronzeadas...

- Você já esteve lá ?!?! - Zomir arregalou os olhos.

- Sim, pô, foi naquela auditoria do YbRT22, aqueles merdas do governo


encheram nosso saco as 89 horas do dia e... - Nesse momento a plataforma
começa a balançar - Ih, pronto, começou. Vou aproveitar pra deitar, não
consigo falar com esse sacolejo todo. Me dá dor de ouvido.

- É, acho que vou fazer o mesmo. Até mais - despediu-se Zomir.

Mas ele não planejava dormir. Tinha muito interesse pela Via Láctea,
especialmente o Sistema Solar. Durante toda a sua infância ele ouviu as
histórias da guerra entre Helius e Nêmesis e cresceu aficionado pelo assunto.

Impressionava a idéia de como a vida se persistia no Sistema Solar, mesmo


com os ataques sistemáticos de Nêmesis. A grande Evasão Marciana de 1.234,
as Grandes Destruições Terrenas, a Grande Mancha Vermelha de Júpiter, tudo
era tão diferente do que conhecia. Lembrava das histórias do avô, que dirigia
uma plataforma-tanque que, ao se chocar com um asteróide vazou 3 trilhões
de litros de óleo na Terra. Por sorte a maior parte caiu no deserto, onde
poucos Dinossauros se arriscavam. Ah, os Dinossauros... Tinha tanta vontade
em conhecê-los. Eles eram famosos pela inteligência, por seu pacifismo e sua
habilidade diplomática. Foram os Dinossauros por exemplo que negociaram a
atual órbita do Haley, de forma a democratizar a distribuição de água pelos
planetas do 4o. Universo.

Se ao menos houvesse alguma chance de visitar a Terra e conhecer seus


ídolos... Mas como? Teria que haver uma maneira...

Adormeceu em meio a tantos pensamentos.

- Zomir, acorda! Acorda criatura! Levanta imprestável!

- Ah, o quê? Pô, Xiaut, parece até minha esposa mais nova...

- Vamos rapaz, não tá ouvindo o alarme de incêndio? Anda!

Zomir vestiu-se e seguiu Xiaut em silêncio, tenso com a situação de


emergência e surpreso com a serenidade do companheiro. Xiaut, o mais velho
a bordo, era Engenheiro Espaçonáutico, seu registro profissional lhe permitia
construir naves, plataformas, consertar televisão e projetar casas de até 18
andares. Dentro do projeto era responsável pela Segurança de Navegação.

Chegaram à sala de emergência e se juntaram a Thuir6. O alarme continuava.

- E pensar que eu troquei a bolsa de pesquisa em Andrômedra 9 por isso. Lá eu


não fazia nada e ainda estava a menos de 10 anos-luz de casa... Choramingou
Xiaut, logo após sentar-se.

- Tá querendo se aposentar já, velho? - Provocou Thuir6. Se na iniciativa


privada tá puxado assim imagina só no emprego público...

- Vocês querem me explicar o que está acontecendo? - Zomir perguntou,


quase que aos gritos.

- O sistema detectou um foco de incêndio e tá tentando resolver o problema.


A gente tem que permanecer aqui até o sinal de que tudo está ok novamente.

- Mas onde foi esse incêndio?

- Eu sei lá, o computador que se resolva. Eu só saio daqui quando essa droga
parar de apitar...

Assim que Thuir6 completou a frase o alarme foi interrompido por um anúncio
do sistema:
"Mensagem 87742: sistema de propulsão precisa de reparo. Mensagem 87749:
sistema de controle de incêndio precisa de reparo. Mensagem 44332: Rumo
ajustado para unidade de assistência técnica S22X332B. Sistemas em modo de
segurança. Todos os postos de trabalho devem ser retomados. A Kronne
Engenharia agradece a preferência, tenha um bom dia".

- Cacete, agora a gente vai praquele fim de mundo! - Xiaut levou as quatro
mãos à cabeça.

- Que fim de mundo? Onde fica S22X332B? - Zomir interrogava, perdido.

- Enceladus, lua de Saturno, Sistema Solar Helius - Thuir6 respondeu enquanto


abria a porta da sala de emergência.

- Como é possível? Não tem uma oficina mais próxima? - Xiaut não se
conformava.
- A gente acabou de passar por uma em Centauri Distante, mas eles não
aceitam nosso vale-reparo nem o ticket-combustível, velho.

- Porra, ninguém é sócio do Space Club? Merda, pra quê eu fui sair de
Andrômedra 9...

Zomir sentiu um frio na barriga. O destino o colocava cada vez mais próximo
ao Sistema Solar Helius e os Dinossauros da Terra. Enquanto a plataforma
estivesse em reparo ele poderia pegar um táxi até lá. Talvez até encontrasse
alguém que tivesse conhecido seu avô.

Retornou ao seu cubículo, impaciente, e tentava retornar ao trabalho quando


foi novamente interrompido:

- Zomir - gritou Thuir6 - preciso que você prepare um email pra S22X332B.
Avisa a nossa situação e anexa o arquivo de log do sistema. Vou pegar um
pouco do lubrificante da plataforma e você manda junto também, o Xiaut
falou que a máquina tá rangendo e que o óleo de estar baixo, a gente
aproveita a parada e troca.

- Certo. É pra usar o logo da empresa? Eu vou ter que baixar de novo do site
porque eu apaguei ontem por acidente...

- Porra, como você apagou um arquivo por acidente?

- É essa merda de sistema operacional! Eu tava jogando Paciência e me


distraí... Fui fazer backup e ao invés de copiar eu movi o arquivo.

- Não tem como restaurar do backup então?

- Restaurar do backup?? Eu não sei fazer isso, só sei copiar para o backup...

- Tá, pode baixar então. Vou desligar o firewall, mas me avisa assim que
acabar porque não quero nenhum adolescente invadindo o servidor... ainda
mais nesses confins do Universo.
- Pode deixar.

Zomir via claramente agora a sua chance de conhecer os Dinossauros. Com o


firewall desligado ele poderia enviar um email para a Terra também,
reservando o táxi e o hotel. Como Zomir não sabia qual o protocolo era usado
na Terra, ele usou um bem antigo - criou um nano-spam, um robozinho feito
de hemaglutinina e neuraminidase que espalha ondas magnéticas ao redor,
copiando-se ao receber uma mensagem de "ok" e se auto-destruindo ao
receber uma mensagem de "páre" ou "kill".

Baixado a logo, umas fotos de mulher pelada e alguns mp13's, Zomir mandou o
email para oficina e para a Terra. Chamou Thuir6 pelo rádio:

- Prontinho, pode subir o firewall.


- Beleza, fica apertando F5 aí até chegar a confirmação dos caras.

Agora era esperar pela resposta. Já podia se imaginar na Terra... Praia, lava
vulcânica, broto de bambú...

Algum espaço-tempo depois, a mensagem de Zomir -- que tinha como subject


“H5N1” (Hospedagem de 5 Noites para 1) -- rompe a atmosfera e chega à
Terra do século XXI. Caiu no sudeste asiático, bem em cima de um grão de
milho. A estrutura molecular não fornecia nenhuma resposta compreensível e
o nano-spam resolveu então continuar emitindo suas mensagens. Até que, no
pulmão de uma galinha, finalmente, os íons de carbono e oxigênio deram o
sinal de “ok” e o email começou a se propagar.

Zomir não sabia, mas ele foi responsável por uma das pragas mais
devastadoras da história da Terra, ficando atrás apenas da Gripe Espanhola -
que surgiu quando um outro pesquisador desastrado recebeu um vírus através
de um email que prometia fotos da Greta Garbo. Mas isso é outra história...

Fracasso dá lucro

A Oi comprou o dial da Rádio Cidade do Rio (102.9 FM) para lançar a Oi FM -


uma rádio medíocre de música chata e com a programação mais irritante dos
últimos tempos.
Muita gente anda se perguntando qual seria o motivo de se comprar uma rádio
com um grande conjunto de ouvintes fiéis de determinado estilo (musical e de
programação) e colocar no seu lugar algo completamente diferente, acabando
assim com a audiência e tendo que compor uma nova. Afinal, se era pra
formar uma audiência diferente, não seria o caso de comprar outra rádio de
menor expressão, ou quem sabe um dial FM disponível?

A resposta é muito simples, meus caros, mas só quem fez MBA e tem alguma
experiência consegue visualizar.

Foi-se o tempo em que vender um produto com uma margem razoável,


agradar o consumidor e desenvolver os funcionários era a estratégia para que
as empresas ganhassem dinheiro. Hoje -- aliás, já faz algum tempo -- o
segredo é criar um grande 'case' de fracasso, prejuízo, escândalo, etc. e
ganhar dinheiro vendendo livros e fazendo palestras sobre o assunto. Vide
Enron, MCI, a bolha da Internet, o Tablet PC, etc.

É uma enorme vantagem tributária para empresas também ter um


investimento que traga prejuízo. Caso contrário, que empresa iria patrocinar
qualquer clube de futebol brasileiro?

Portanto, ao se deparar com uma empresa que presta um serviço horrível, que
está se lixando para seus clientes e funcionários, ou que enfia goela abaixo
um produto que não faz o menor sentido, prepare-se: anote numa agenda e
lembre de nunca comprar qualquer livro sobre o 'case'.
Quarta-feira, 8 de Fevereiro de 2006 [INCLUIR]

RESPONSUM QUAE SERA TAMEN


(Responsabilidade ainda que tardia)

Vários muçulmanos exigem a retratação do governo dos países em que jornais


publicaram charges de um homem barbudo de turbante, o qual foi
imediatamente associado a Maomé -- não poderia ser o Bin Laden ou qualquer
outro? Enfim, o fato é que o governo não pode/deve se desculpar pelo
conteúdo editorial de um jornal. E o jornal não quer se desculpar por fazer
uso da liberdade de expressão.

Imagina o governo brasileiro pedindo desculpas toda vez que a Veja publicar
uma asneira?

Pois bem, o body count já está em 7 no Afeganistão. Sete muçulmanos


morreram em protesto contra as charges -- a maioria deles nunca as viu, pois
nem têm acesso a jornais ou televisão, ficaram sabendo pelo vizinho do
cunhado da tia do Muhamed, e resolveram morrer por tão boa causa.

Uma das charges mostrava Maomé gritando lá de cima: "Chega! Chega!


Acabaram-se as virgens!!". Mal sabia o autor que havia criado uma profecia
auto-realizável prestes a explodir -- literalmente. Nunca um cartunista fez
tanto sucesso, ao ponto de desbancar o W.C. Bush do noticiário!! O Dahmer do
Malvados deve estar possesso, como ninguém pensou nisso antes? No
Ziniguistão tudo seria mais fácil...

É difícil compreender pessoas diferentes. Para alguém nascido no Brasil, por


exemplo, fica difícil imaginar um paraíso com 40 virgens. O paraíso de um
brasileiro teria mais ou menos 3 cariocas, 2 gaúchas, 2 baianas, 1 paulista, 1
mineira e 1 sueca. Nenhuma delas virgens, ao contrário, 10 profissionais da
área.

Essa falta de compreensão ajuda a incendiar a coisa. As relações comerciais


entre Dinamarca e Irã foram suspensas. O único artigo dinamarquês que tem
vendido bem por lá são as bandeiras (aliás, dica pra quem quer abrir um
negócio próprio: vender bandeiras de países ocidentais no Oriente-médio -- a
cada 3 bandeiras a caixa de fósforo é grátis!). Já ilustrava o amigo André, esse
povo tem a mesma disposição para seguir protestos-e-queimações-públicas-
de-bandeiras -de-países-judaico-cristãos-ocidentais que os baianos têm para
trios-elétricos.

A burguesia dinamarquesa precisa rebolar agora pra conseguir um caviar ou


tapete iraniano. Já estes em contrapartida precisam recorrer ao mercado
negro para comprar bacalhau dinamarquês ou um livro infantil do Hans
Christian Andersen.
E a retaliação não pára por aí. Um aluno turco atirou contra seu professor --
que era padre -- e garante que não foi por causa da reprovação em
matemática. Vários bandidos no Egito estão assaltando turistas em nome da
vingança contra os cartoons. Um cofre de banco foi arrombado e esvaziado na
Jordânia em protesto.

A mais nova retaliação é o concurso de charges sobre o Holocausto que o


jornal iraniano Hamshahri está promovendo. O desenhista que fizer a melhor
representação gráfica deste "mito" leva pra casa uma lata de gás sarin.

O fato é que, apesar dos Talibãs, o mundo seguiu adiante. Seguiu para o
caminho da liberdade de expressão e liberdade religiosa. De vez em quando
um irlandês-católico atira uma pedra num irlandês-protestante, mas
geralmente os dois guardam as pedras pra atirar num inglês-viado. E tá tudo
bem. O problema é que nesse momento as liberdades estão em choque direto.
E já dizia Sartre, a liberdade é o limite ao qual o homem está condenado.
Confesso que só agora entendi.

Um jornalista está condenado a defender sua liberdade de expressão. O jornal


está condenado a lutar pela liberdade de imprensa. O governo não pode dar
pitaco nem sobre o jornalista nem sobre o jornal e está condenado à
liberdade de ações de sua autonomia. Os muçulmanos estão condenados a
lutar pela sua liberdade religiosa e pelo teor de sua religião -- que condena
profundamente sátiras contra seus profetas. É o que se chama uma sinuca de
bico, a liberdade das bolas vermelhas contra a liberdade das bolas azuis, e
você só tem uma tacada pra dar.

Como resolver um impasse desses? Uns vão dizer que o melhor a se fazer é
evitar se chegar a um impasse desses.

Não se pode esquecer a relação entre liberdade, limite e responsabilidade.


Uma pessoa livre tem responsabilidade sobre seus atos. Além disso, somos
responsáveis por zelar pelas nossas liberdades -- tanto as individuais quanto as
coletivas. Queimar a bandeira de alguém ou zoar o profeta de outrém são
exemplos de liberdade de expressão -- e de irresponsabilidade de ação.

Abusar da liberdade é agir contra ela. Lembra quando você combinava com
seus pais de chegar em casa antes das 23h e quando dava 1h da manhã você
entrava na ponta dos pés, de mansinho, pra não acordar ninguém? E quando
era pego(a) passava um mês de castigo, sem poder sair. Tudo que você queria
era ser independente pra não ter que dar satisfação a ninguém. Você cresceu
e agora tem que dar satisfação pro chefe, pro gerente do banco, pro SPC, pra
polícia, pra bandido, até pra pedinte no sinal.

A liberdade é uma conquista que herdamos daqueles que lutaram por ela. É
muito fácil esquecer o valor daquilo pelo qual não precisamos lutar. Ivan Lessa
escreveu no ano retrasado sobre a "mania americana de liberdade" -- para a
qual têm duas palavras até, "freedom" e "liberty" -- e lembra que, se o preço
da liberdade é a eterna vigilância, ela custa muito, muito caro. Dinheiro que,
claro, sai do bolso do contribuinte. Portanto, não a arrisque a toa.
Ode a uma cidade-cadente

O Rio de Janeiro é uma cidade decadente. Não, não é obra pura e simples da
política decadente. Nossos governantes refletem a qualidade da nossa política
e a nossa capacidade em elegê-los. Não é por conta da nossa indústria
decadente, tampouco, que é mais uma conseqüência do que uma causa. Nem
seria tal causa a decadência do nosso ensino e educação, que sofre por falta
de verbas. Ainda.

A noite carioca é decadente, desde os melhores botecos (sendo vendidos a


paulistas) até as piores boates, restringida pela violência. Nossos parques,
praças e jardins são decadentes, abandonados, vazios. A música carioca é
decadente, temos que ouvir (sem reclamar!) os sotaques paulistas e mineiros
nas rádios.

Nosso futebol é decadente. Mas esse assunto é melhor nem começar... Por
causa deste futebol decadente o U2 não vai nem passar por aqui...
Até nossos criminosos são decadentes. Que saudade dos bons tempos, das
fugas cinematográficas de helicópteros. Dos assaltos charmosos, dos roubos de
taças do mundo.

O Rio é uma cidade decadente. Foi uma estrela primorosa, da bossa, do


samba, do cinema, dos cassinos. Uma estrela cadente que chega à beira do
horizonte, difícil até de ser enxergada. E não adianta se vestir de branco e
andar no calçadão, faixa na mão, pedindo sabe-lá-o-que mais.

Adeus grandes empresas, adeus orçamento da União.


Adeus empregos, refinaria, adeus parques-de-diversão.
Adeus lazer, adeus esportes, adeus segurança.
A gente se vê em São Paulo, BH, Curitiba.
Adeus consulados, museus, adeus esperança.
Adeus qualidade de vida, passeios na Sernambetiba.
Adeus Arpoador, paineiras, Vista Chinesa.
A gente se vê em Brasília, POA, Fortaleza.

Bem vindo o Pan. Que traga esperança.

Coluna social

Hoje (dia 08.02) é meu aniversário! Mande os parabéns, que ainda é de graça.
Quem quiser e puder, chopp Rota 66 na Cobal do Humaitá. A partir das 19:30.
Seguido de show da Danny Carvalho.
EDITADO em 09.02: Galera, valeu mesmo pela presença, e ainda mais pela
surpresa. Danny parabéns pelo show, aturar uma mesa de bêbados e bêbadas
bem do lado não deve ter sido fácil. Espero que a ressaca esteja valendo a
pena pra vocês também.
Sexta-feira, 13 de Janeiro de 2006 [INCLUIR]

TOLERÂNCIA AMPLA, GERAL E IRRESTRITA

...
- Alô.
- Alô, Valdecir se encontra?
- Quem deseja?
- É Valdecir.
- Ô, Valdecir, tudo bem? Aqui é Valdecir. Deixa eu chamar Valdecir.
- Valeu, Valdecir.
Instantes depois:
- Alô, Valdecir?
- E aí, Valdecir, quanto tempo. Tudo bem por aí?
- Tudo bem e por aí?
- Tudo bem também. Tô ligando pra perguntar sobre aquela situação no
escritório, como ficou?
- Ah, eu falei com Valdecir e os outros ontem cedo e eles concordam com a
gente.
- Então tá tudo encaminhado. Vamos aproveitar então pra ver o jogo?
- Claro, todo mundo adora o jogo.
- É verdade, e qual vai ser o resultado?
- Ah, com um time só jogando, uma bola pra cada jogador e a torcida toda a
favor, acho que é vitória certa.
- Concordo. Eu gosto de ganhar.
- Eu também. Falar nisso, você viu aquele filme que estreou?
- Vi sim. Muito bom.
- Também achei. O final é bem interessante.
- Exatamente.
- E o carro, parou de dar problema?
- Parou sim, foi só trocar o óleo. O carro é muito bom.
- Também acho, por isso tenho um igual.
- Tá bom então Valdecir, deixa eu ir lá que vou levar as crianças no parque.
- Ah, eu também, a gente se vê lá.
...

Somos 7 bilhões de habitantes no planeta. Temos todos menos de 3 metros de


altura, menos de 7 litros de sangue vermelho correndo pelo corpo. Somos
todos mamíferos, racionais, homo sapiens, Humanidade. Mas não há duas
pessoas idênticas nesse mundo, nem quando nascem da divisão do mesmo par
de células.

E ainda assim, por algum motivo, poucos de nós sabemos aceitar e


compreender as diferenças, sejam raciais, religiosas, ou simplesmente
diferenças de gosto e opinião. Alguns chegam ao limite de desrespeitar e até
agredir pessoas diferentes.

Coloque na mesma sala um flamenguista e um tricolor, um judeu e um


muçulmano, um chinês e um japonês, um empresário e um sindicalista, um
dono de cachorro e um dono de gato, um policial civil e um militar, um
pagodeiro e um funkeiro, um hetero e um homo, um motorista de ônibus e um
motorista de van, um petista e um pessedebista, um dermatologista e um
cardiologista, um cientista e um surfista, um periodontista e um ortodontista,
um especialista em história medieval européia e um especialista em história
da arte pré-renascentista, um inteligente e um ignorante, um advogado e
outro advogado. O resultado será sempre uma discussão inflamada. Em
algumas horas uma briga, talvez um tiroteio. Dois entram, um sai !

Por outro lado, coloque em uma mesma casa algumas pessoas bonitas e sem
muita coisa na cabeça e você tem um reality-show de baixo custo e vasta
audiência. Não é irônico? O voyeurismo da intolerância alheia é atração
pública !

Talvez a tendência de famílias menores esteja contribuindo para a tolerância


cada vez menor entre as pessoas. Numa família grande é quase impossível
chegar a um consenso. Seus pais gostam de camarão, seu irmão odeia e você é
alérgico. É aniversário da sua avó, formatura do seu primo, seu irmão caçula
vai sair com a nova namorada e você está sofrendo uma crise alérgica. Seus
irmãos querem um cachorro de estimação, seus pais não, e você pra variar é
alérgico. Como decidir nesses casos? Maioria de votos? Cada um por si?

Intolerância é um passo para preconceito. Ou ao contrário, preconceito é um


passo pra intolerância. Não sei. Mas o que eu sei é que algumas frases são
gatilhos para inflamar uma conversa. Tipo no desenho animado, quando o
coiote entra num lugar escuro, acende um fósforo e percebe que está numa
casinha cheia de pólvora e explosivos?

Exemplos típicos destas frases: "quem não gosta de bicho boa gente não é...",
ou em resposta, "quem trata bicho igual gente trata gente igual bicho".
Outras: "quem não gosta de samba boa gente não é", "mostre sua educação e
mostrarei a minha", "macho que é macho não faz isso", "homem não chora",
"isso é coisa de boiola", "isso é coisa de piranha", "se fuma, dá", etc. Existem
umas tão pesadas (e imbecis) que eu acho melhor nem comentar... Mas você
lembrou, né? Pois é, pode parecer engraçado, mas é triste. Como ser gordo.
Antigamente o excesso de peso era uma coisa engraçada, simpática, mas cada
dia que passa o assunto fica mais sério.

A tolerância é um exercício que como os demais tem que ser praticado


diariamente, por uma hora, sob supervisão profissional. Você pode inclusive
aproveitar seu tempo na ginástica pra economizar. Não julgue o rapaz de
camiseta cavada fazendo pose e se olhando no espelho... Nem a loira
turbinada, com personal trainer, malhando 4 horas por dia... Cada um no seu
cada um, e quem quiser, no cada um dos outros.

O que é difícil mesmo é determinar o limite do que deve ser tolerado e o que
precisa ser negociado. Por exemplo, existem pessoas organizadas e pessoas
bagunçadas, e um tem que tolerar o outro. Mas se essas duas pessoas são
casadas... como fica? Se uma pessoa é barulhenta e a outra ama o silêncio, e
elas são vizinhas, como fica? Um educado e um mal-educado trabalhando
juntos todo dia, como fica??

Uma teoria de uma amiga minha fala sobre uma nova Seleção Natural, onde,
por exemplo, uma pessoa mal-educada, barulhenta e bagunceira acabariam
casando com outra pessoa mal-educada, barulhenta e bagunceira e assim
constituindo uma família mal-educada, barulhenta e bagunceira.

E pela lei de Muphy essa família acabaria morando do meu lado.

Agora que minha nova família é pequena, esse é o meu exercício de tolerância
diário. Pra quem quiser ingressar nas atividades e sair do sedentarismo, é bom
começar repetindo esse mantra 5 vezes seguidas, sempre que necessário:

"Senhor, dá-me paciência, que se me deres forças eu quebro um!"


Segunda-feira, 26 de Dezembro de 2005

MENSAGEM DE FIM DE ANO

Você está acostumado a todo fim de ano receber uma mensagem minha de
Natal e Ano-novo, sempre criativa, com o mínimo de plágio, numa linguagem
formal e cativante. Desta vez, para não deixar em branco -- embora esta seja
a cor do fim de ano -- resolvi utilizar deste fenômeno de audiência que é o
Mamendex.

O ano de 2005 passou voando (pediu até um segundo a mais de desconto) e


ainda assim já vai tarde. Espero que para alguém ele tenha valido a pena.
Assim sendo, desejo que 2006 seja um ano melhor -- o que definitivamente
não é pedir muito.

Peço que ele traga desafios mas, diferente de 2005, que apresente
alternativas. Peço que o ano-novo traga alegrias mas que, ao contrário do
ano-velho, desatreladas a sentimentos de culpa. Desejo que ele traga
crescimento e sabedoria, ao invés de andar para os lados ou mesmo para trás.
E já que é ano de copa, peço que traga comemorações -- mas que sejam
sinceras, e não de praxe.

Finalmente, que eu possa repousar a cabeça num domingo bonito, tranqüilo,


silencioso, com uma brisa leve soprando ou umas gotas finas de chuva caindo.
Que eu possa olhar esse domingo e pensar que tudo que eu tenho feito é justo
e tudo que eu tenho é merecido. Que eu possa curtir minha casa e minhas
coisas, meus amigos e minha família, e principalmente a mim mesmo.

Desculpem uma mensagem de ano-novo tão egocêntrica mas, olhando agora,


vejo que no ano que passou esqueci de mim mesmo.

Não cometam o mesmo erro.

Cresçam, aprimorem-se, cuidem-se, curtam-se, agradem-se, amem-se como


ao próximo.

Feliz 2006.
Quinta-feira, 8 de Dezembro de 2005

O CONTADOR DE ILUSÕES

Uma coisa que eu odeio em certos filmes e séries americanas é como é fácil
advinhar que o mocinho/mocinha vai conseguir aquele emprego, ou
conquistar aquela mulher gostosa, descobrir a cura daquela doença, encontrar
aquele tesouro, etc, como se na vida real, ao fazer tudo certo, você teria uma
recompensa esperando por você.

Não precisa viver muito pra saber que não é sempre assim. Seu irmão fazia a
merda e você apanhava junto. Se tentava defender seu irmão, apanha por
encobrir a travessura. Se dedurasse ele, apanhava pra aprender a não ser X9.
Se desconhecesse por completo o assunto apanhava pra ser mais esperto. Ou
por mentir. Ou sei lá o que, sei que você apanhava e tinha a impressão de
apanhar mais ainda que seu irmão.

Foi Schopenhauer ou Kant, não lembro, quem disse que a recompensa por
fazer o mal era imediata, óbvia. E a recompensa por fazer o bem era
misteriosa, inexplicável, consistia no bem-estar e na paz de consciência. Nada
além disso. Ele dizia que a prova da existência do Bem -- e portanto, de Deus
-- era que tudo no mundo apontava que ser Mal era a coisa mais vantajosa a
ser feita mas ainda assim a maior parte das pessoas insistiam, sem razão
concreta aparente, em praticar o Bem.

Traduzindo, a lição final é que você deve fazer o bem se você se sente bem
com isso, e fazer o mal se consegue conviver com isso, e ponto final. Olha que
pra um padre dizer isso é sinal de alguma coisa...

Lembrei disso ao assistir a uma entrevista do Woody Allen em que ele diz
exatamente isso, e o quanto ele percorreu assuntos desta natureza usando da
linguagem universal do humor em seus filmes. Pensando bem, nos filmes dele,
o baixinho fracassado pode até pegar a Julia Roberts mas no final não fica
com ela. Uma exceção à regra da previsibilidade que condeno (desde o
primeiro parágrafo).

Outra coisa irritante são as histórias infantis de Hollywood. Se você acha


difícil conversar com crianças sobre a morte, coloque um desenho americano
qualquer. Todos eles têm uma morte, se não uma carnificina. A mãe do Bambi
leva um tiro nos cornos. A família do Nemo é toda dizimada. O Irmão Urso?
Morre. O Espanta Tubarão? Mata. O Rei Leão morre, o irmão dele também. A
Era do Gelo? Porra, os dinossauros foram extintos. No O Planeta do Tesouro a
Terra inteira explode. E ainda assim, o final é feliz, como pode?

Assim, à luz da metafísica e passando longe da fórmula mágica da TV e


cinema, resolvi criar novas histórias clássicas para Holywood. Seguem alguns
resumos, em primeira mão:
-------

Bambi andava tranqüilo pela floresta, brincando com as borboletas e os


pássaros. De repente... BANG! Mamãe... Mamãe...

A mãe de Bambi foi alvejada por um apresentador de programa de caça do


Outdoors Channel. Ele usou uma Winchester 1885 Low Wall 17HMR. Se fosse
durante o programa seguinte ela provavelmente teria levado uma flechada de
um Buckmaster BTR Bow.

O fato é que Bambi está órfão, assim como vários outros de sua vizinhança.
Ele poderia ter desperdiçado sua juventude se voltando para às drogas ou
furtos mas ao invés disso ele se manteve focado nos estudos e entrou para a
associação pelo desarmamento civil de sua cidade.

Bambi hoje trabalha como operário numa fábrica de enlatados de Connecticut


e tem 3 filhos. O primeiro neto deve nascer ainda esse ano.

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O Rei Mufasa e seu filho Simba, herdeiro do trono, viviam felizes na Selva (que
era como eles chamavam a savana). Porém, as opressões de um regime
totalitário e ditatorial eram a única razão da aparente paz -- a paz que não se
quer -- que reinava naquele local, há vários ciclos da vida.

Várias espécies -- como as hienas -- lutavam por eleições diretas e tinham no


irmão do Rei, Scar, um aliado. Além desses democratas, havia também outros
grupos de insatisfeitos, porém menos pacíficos. Veados e gazelas, cansados de
serem comidos e nunca receberem um telefonema no dia seguinte, criaram o
grupo extremistas Guerreiros Ligeiros que era responsável por vários
atentados na capital.

Foi quando aconteceu a tragédia. Durante um passeio com Simba, o rei


Mufasa foi atropelado por um estouro de gnus. Nunca se soube
verdadeiramente o que aconteceu nesse dia. Existem várias teorias. Algumas
culpam os Guerreiros Ligeiros, outros imaginam uma conspiração envolvendo
todo o governo. Outras dizem que J. Lee Oswald, um tigre frustrado (repita
isso 3 vezes bem rápido) considerado louco por muitos, teria conseguido
disparar 3 manadas de gnus, separadas pela distância de 15 milhas, num
intervalo de 1.3 minutos. Essa teoria ficou conhecida como a teoria do Tigre-
Bala Mágico.

Mas a história culpou Scar -- que assumiu o governo provisório -- e algumas


hienas que seriam seus comparsas. E quando Simba retornou para assumir o
poder, o sonho da democracia nas savanas desmoronou, junto com sua
economia.

-------

Fullana Sillva é a personagem principal desta sitcom. Ela é bonita,


inteligente, engraçada e tem um gênio danado. Ela quer trabalhar numa
agência de propaganda. Um dia ela vê o anúnico de uma vaga para gerente de
criação -- não pensa duas vezes e envia o currículo.

Havia várias outras pessoas, é claro, na fila pra entrevista. Beltrano, Cicrana,
Fulano. Nenhuma delas tinha sobrenome, porém. Ficou fácil adivinhar de
quem era vaga.

Porém, nem tudo são flores. Fullana foi a pior gerente de criação que a tal
empresa tinha visto. Perdeu vários clientes importantes e o rombo financeiro
causado levou a agência a fechar as portas.

Beltrano realmente tinha o talento para a vaga. Nunca conseguiu ser o


personagem principal de uma série, porém, e por isso nunca conseguiu
trabalhar na área. Morreu de infarto, durante o trabalho, num escritório de
contabilidade.

Cicrana conseguiu um emprego na agência concorrente e foi diretamente


responsável pelo seu sucesso. A empresa cresceu e lucrou muito com ela a
bordo. Ela nunca teve, porém, seu talento reconhecido e se aposentou como
assistente de criação, com um salário bem abaixo do mercado.

Fulano tinha 4 filhos pra sustentar e estava há mais de 1 ano desempregado.


Ele realmente precisava daquele emprego. Esta última rejeição foi a gota
d'água. Pegou um dinheiro emprestado com o cunhado, entrou para um curso
preparatório e conseguiu passar no concurso para técnico do tesouro. Se
suicidou porém, com pouco mais de 5 anos no cargo.

Cicrano, que a série nem mostrou, também estava na fila. Seu currículo foi
descartado porque ele tinha um processo trabalhista contra o antigo
empregador -- que lhe demitiu devendo 4 meses de salário. Nunca mais
conseguiu nenhum emprego. Chegou a trabalhar uns meses como camelô mas
foi preso e liberado em seguida por vender mercadoria contrabandeada.
Morreu de fome ou frio numa madrugada do Junho seguinte.

-------

Habitantes do planeta Zioxx apresentam um ultimato aos líderes da Terra: que


convoquem eleições globais para-diretas*, que entreguem suas armas de
destruição em massa e apresentem os culpados pelo genocídos dos
Dinossauros.

Temendo o pior, todos os países do planeta resolvem atender as exigências dos


alienígenas -- exceto um. Assim, Zioxx destrói a Terra. A humanidade agora se
restringe a várias pequenas colônias espalhadas pelo universo.

Acontece que essas colônias começaram a causar distúrbios em várias


localidades, como por exemplo pequenos furtos, invasão de terrenos privados,
etc, portanto a Federação de Zioxx achou melhor realizar a ocupação militar
nestas colônias, enquanto elabora uma constituição para as mesmas e
organiza eleições para-diretas*.

* Zioxx é uma para-democracia e considera apropriado que todos os planetas


do Universo assim sejam. Na para-democracia o governante é eleito através
do voto direto da população e o voto para-direto do Deus Supremo, que é
revelado através de uma junta de para-normais, estabelecida pelo próprio
governo. Essa mesma voz divina influi também nas decisões governamentais.

PS: Ainda não consegui enxergar um fim para essa história. Vamos aguardar
mais um ou dois anos para ver se surge uma idéia. A propósito, um ano
zioxxiano leva um booom tempo pra passar...
Sábado, 26 de Novembro de 2005

A TEORIA DO HUMOR
Se você reparar os cursos mais procurados nos vestibulares deste ano (no
caso, do ano que vem), poderá perceber uma certa tendência de maior
procura aos cursos relacionados com marketing e jornalismo. É fácil deduzir
que, no meio de tanto marketeiro político se dando bem, e com a Veja
prestes a se sufocar com o próprio veneno, vagas nesta área existem. E
mesmo que não existissem, concorrência nunca é demais.

Quem nunca sonhou em ter um filho craque de futebol? Ou top model


internacional? Ou ator/atriz, cantor de pagode, apresentador de programa de
auditório, ex-big brother, namorada/namorado de celebridade, pegador de
atrizes globais, etc.

Imagina a procura que teria um curso de faculdade para namorada de jogador


de futebol? A ementa seria mais ou menos:

Módulo básico:
- Futebol avançado I (lei do impedimento) e II (táticas e estratégias)
- Educação Física avançada I, II e III
- Química e Corte
- Finesse e etiqueta
- Relações públicas e privadas
- Educação sexual e Biologia da concepção
- Espanhol, Italiano, Francês e Inglês práticos para flerte

Tópicos especiais:
- Sexo no primeiro encontro
- Engravidando na primeira transa
- Transando no vestiário
- Casamento na Ilha de Caras

Óbvio que nem todo mundo pode viver de vento ou de fofoca. Nem do filho
dos outros. Pra ganhar o pão de cada dia alguns têm que encarar muita
ralação e passar muita gente pra trás... no bom sentido, claro.

Mas o fato é que em qualquer profissão a teoria, não apenas a prática, é


importante. A teoria é a forma de obtermos preparação, confiança e evitar
alguns erros óbvios no nosso dia a dia. Daí a importância de cursos,
treinamentos, palestras, livros, fóruns e tantas outras maneiras de se obter
conhecimento teórico.

E é daí também que surgem as figurinhas hilárias dos teóricos-filósofos,


aqueles caras que vivem se cumprimentando às frases adjetivas, pelos
corredores do escritório, rindo e divulgando pelos quatro ventos o quanto são
bons, o quanto são bem preparados, o quanto são importantes, o quanto
conhecem, ou seja, qualquer coisa vale pra não ter que pegar no batente e
meter a mão na massa.

As frases típicas de um teórico-filósofo começam com "Estive em meio aos


meus pensamentos: e se...". Pronto. Ouviu isso, sai de perto, porque o cara
não vai te ajudar e ainda vai gastar seu tempo.

Aos poucos, o teórico-filósofo vai galgando camadas sociais dentro da empresa


(embora não necessariamente cargos) e começa até a esquecer qual o
objetivo daquilo tudo. "E se fizéssemos um seminário para divulgar os
conhecimentos e obter novas propostas de..." Ô Fulano se tá maluco? Tem que
entregar isso amanhã cedo!

Coitado do chefe do teórico-filósofo. O ambiente nunca é o ideal para


merecer o suor dele. Além disso, vive se queixando que os outros funcionários
cismam em ignorá-lo, trabalhando sem seu crivo tecno-teórico-filósofo. Logo
ele que tem a solução para os problemas de digitalização dos arquivos da
empresa, a técnica para dessalinizar o Mar Morto, além é claro da proposta de
paz prontinha para acalmar os conflitos na Nicarágua.

Porém o mais chocante foi descobrir um teórico-filósofo do humor. É. O cara


se acha o papa do humor, fã do Monty Pyton, sabe tudo do Millôr Fernandes e
do Ariano Suassuna, leu tudo de Shakespeare, conhece aquele roteirista da TV
Pirata. Mas nunca contou uma piada. Repassou algumas, mas beeem
fraquinhas... Daquelas que circulam a cada 6 meses pela Internet. “Ih, rapá,
tá chegando Abril, já já é hora de chegar aquele e-mail do roubo do fígado”;
“Já tamo em Novembro, tá bom de repassar aquele do 'lembra dos anos 80?'
né” (esse gerou até moda, depois de circular por 3 anos seguidos).

Esse aristocrata do humor me fez pesquisar mais sobre a Teoria da Comédia, e


confesso que valeu muito a ajuda. Afinal, você já tinha parado pra pensar, por
exemplo, em quando o humor foi inventado? Quem foi o primeiro primata a
jogar uma casca de banana e cair na gargalhada ao ver um companheiro
escorregar?

Todos os indícios apontam pra Mesopotâmia (seja isso onde for) uma ossada
batizada de Homo Humoriuos que seria o primo inconveniente do Homo
Sapiens. Essa ossada mostra claramente um esqueleto colocando os dedos em
forma de chifre no esqueleto à sua frente. Ela se encontra hoje no Museu da
Comédia Natural de Londres.

Cientistas afirmam que há vários indícios de cultos religiosos na pré-história


“invertidos”, em que as celebrações eram ironias contra aos deuses, tratando-
os com desdém, burla e blasfêmia. O que ninguém consegue provar é quantos
sacerdotes agiam por pura malícia e criavam rituais humilhantes só pra ver
neguinho pagar mico (eu tenho um amigo 'pseudo-místico' que faz isso).

O fato é que, desde a pré-história, a humanidade depende cada vez mais do


humor e, por isso, consegue níveis cada vez mais elevados. Muito embora a
maioria das pessoas se contente em ver “pegadinhas” e babacas caindo no
chão. Digo e repito: NÃO, cosquinha não é humor!

Existem vários tipos de humor, ironia (é um tipo bem básico), surpresa (ex:
susto), inusitabilidade (bom para piadas de salão), ridículo (as TVs
ultimamente só fazem isso), paradoxo (um tipo bem inteligente), e claro,
sátira (tem grande importância social).

E existem vários técnicas para fazer humor: transferência (uma situação é


normal em um ambiente, mas não em outro), silogismo (se A é engraçado pra
B, e B é engraçado pra C, então A é engraçado pra C), exagero, comparação,
aproximação contextual (por exemplo, os legumes de duplo sentido),
metáfora (essa é fácil), aliteração (rima ou aproximação sonora).

Portanto, você, jovem, que tem o sangue da comédia em sua veia cômica, não
deixe para depois: aliste-se, enfie a cara nos livros e seja mais um humorista
do exército brasileiro. Afinal, o país precisa de todos os cômicos que possa
formar... no bom sentido, claro!
Quinta-feira, 20 de Outubro de 2005

PARADOXALMENTE CORRETO

A gente assiste os comerciais na TV e fica lembrando dos bons tempos da


propaganda brasileira. Demitiram o cara da Bombril porque ele era muito
sóbrio, tranqüilo, não tinha o menor sex-appeal, não era fashion, pop, mix,
não servia pra vender produtos gold, premium, plus, só o Bombril. Aliás, hoje
ningué anuncia palha de aço, hoje é Steel Straw Advanced. Tabajara. Com
bebês black power. "Pegue um deles e esfregue sua panela". Esfregar o
bebê???? Não, pô, o produto.

Mas essa perseguição com comerciais e programas de TV ganhou níveis de


caça às bruxas, intolerantes. Se a montadora quer anunciar um carro potente
e mostra alguém correndo em duas rodas pelo centro da cidade, pronto, lá
estão os defensores das leis de trânsito.

É só um anúncio de cerveja mostrar dúzias de gatas de biquíni apaixonadas


pelo gordinho de bigode tomando um chopp no boteco, ou jovens
completamente em forma se beijarem aos montes para aproveitar o gostinho
do refrigerante, que lá vem a patrulha da incoerência.

Pô, já não se pode fazer um comercial de loteria em que toda a cidade fica
milionária, só porque a chance de alguém ganhar é de uma em 1 milhão?? Pra
mostrar que um baton deixa a mulher mais bonita eu não posso colocar uma
tribufú com uma plaquinha escrita "antes" e a Gisele Bündchen seminua
tatuada "depois"???

É por essas e por outras, que a TV aberta só anuncia empréstimos pessoais a


aposentados e funcionários públicos, através de atores não-aposentados e
não-funcionários-públicos. "Passa confiança, já que o ator é uma pessoa que
nunca fingiria ser algo que não é por dinheiro", me explica um conhecido do
ramo.

Os anunciantes estão cercados. Se anunciam pra pobre, são populistas,


apelativos. Se anunciam pra rico são elitistas, segregadores. Não podem
mostrar um carro correndo, não podem mostrar mulher de biquíni, não podem
insinuar sexo ou nudez... A patrulha das boas normas nos comerciais talvez
devesse tomar uma cerveja antes de assistir TV, ou dar uma volta de carro pra
desestressar.

De quê precisa um comercial para que ninguém reclame, e ainda assim ele
ajude a vender seu produto? Precisa ser honesto, isso é fácil. Ajuda um pouco
o bom humor. Evitar estereótipos ou então exagerá-los para que fiquem
óbvios, isso também. "Nada disso. Basta o comercial ser politicamente
correto", afirma um patrulhista, se revelando.

Lembra da tal cartilha do politicamente correto? Não se pode chamar obesos


de baleias, garotas sexualmente desinibidas de piranhas, intelectualmente
desfavorecidos de burros, nem aqueles de higiene pessoal duvidosa de porcos.
Os animais é que saíram ganhando com isso (para mais piadas sobre a tal
cartilha consulte episódio do Casseta & Planeta).

Alguém consegue imaginar algo mais inimaginável que o significado da


expressão "politicamente correto"? "Subir pra baixo", se você pensar bem,
pode fazer sentido, tudo é relativo. Mas "político" e "correto" são termos
absolutos, e que não se misturam. Como água e óleo. O que pode ser ao
mesmo tempo, político e correto ?

Por exemplo, delatar seus amigos pra CPI, confessando os crimes de todos e se
fazendo passar por bonzinho... É uma atitude política com certeza, mas é
uma atitude correta? E falar das falcatruas da sua (ex-) esposa ou do seu (ex-)
marido? É político? Talvez... É correto? Quem sabe... Mas de alguma maneira,
forçando a barra, é politicamente correto???

Não de jeito nenhum. Nada é politicamente correto. Assim como nada é


Flictz*. Ou melhor, a Lua é flictz. Seria a Lua politicamente correta? Lá de
cima... Na calada da noite... Entre as nuvens, branca, pálida... Ou na
beirinha do horizonte, grande e amarelada... Mexendo com as marés,
causando calores nas donzelas, assanhamento nos rapazes, revelando
lobisomens. É só ela aparecer e começam as libertinagens. Se ela se esconder,
e a noite ficar ainda mais escura então, aí é que ninguém é de ninguém...

Não, a Lua não é politicamente correta.

Se a Lua não é, o Sol que é seu oposto, seria? Grande, brilhante, e que tudo
revela... Enviando energia infinita... E concorrendo com o Petróleo. Causando
câncer de pele, aquecendo a Terra além da conta, derrubando aviões com
suas tempestades solares, pronto para engolir todo o sistema solar...

Não, tampouco o Sol é politicamente correto.

Bom, não vai ser no céu que vamos achar algo politicamente correto. Muito
menos em Brasília. Talvez no Vaticano. Não, o Papa não pode ser
politicamente correto, até porque não pode ser muito político, precisa
defender a doutrina de sua fé. Excluímos também, portanto, padres, bispos,
pastores, rabinos, coroinhas e qualquer outra pessoa ligada à qualquer
religião.

O politicamente correto não tem religião. Nem time, ou partido. Nem cor ou
raça. Nem sexo, quer algo mais politicamente incorreto do que simplesmente
tocar no assunto sexo? Sexo cada um tem o seu, vamos procurar em outro
lugar.

Na natureza. O leão é politicamente correto? Comendo zebras e leoas, várias


por dia... Dormindo a maior parte do tempo. Não, sem chance. Nenhum
carnívoro, nem herbívoro; afinal, as plantas também têm direito à vida.
Peraí... Seria politicamente correto afirmar que algo não é politicamente
correto? Estaria eu sendo politicamente incorreto durante todo o texto até
agora? Estaria este escritor blogueiro no auge do distúrbio de seus sistemas
vestibulares? Tô doido?

A busca pelo politicamente correto poderia se transformar, muito bem, numa


nova área da filosofia. O politicamente correto não pertence à estética, nem
à lógica, nem à metafísica, talvez uma mistura da ética com a política. Talvez
seja uma espécie de Santo Graal moderno, que dará poderes plenos de
negociação e marketing a quem encontrá-lo. Isso pode ser bem útil, num
mundo em que até parabenizar um casal pelo herdeiro que chega é, ético-
politicamente falando, parabenizar alguém por ter feito sexo sem proteção 9
meses atrás...

Ao chegar ao pé deste texto, reflito se a quantidade exagerada de perguntas e


a completa ausência de um "ponto" ou conclusões não o tornam vazio e inútil,
tal qual a busca em questão. Mas lembro, satisfazendo-me, frase minha
própria, e a cito, reconfortado: afinal, nenhum livro deveria ter mais
respostas que perguntas... .

---
* Ler Ziraldo; não só Flictz, mas todos dele!!

Segura Fenômeno!

Essa me contaram, pode ser verdade ou não. Mas reza a lenda que seguiam
num vôo comercial qualquer vindo de Belém, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho,
Cafú, Roberto Carlos e outros titulares poupados contra o Chile. Os outros
passageiros do vôo custaram a acreditar na cena, tão improvável, e
simplesmente olhavam, pasmos. Até que uma senhora se aproxima do
Fenômeno:

- Desculpa, você é aquele jogador de futebol, não é? O Ronaldo?


- Sô, sim senhora.
- Você podia me dar um autógrafo?
- Claro.

E o careca assina o papelzinho e devolve à fã, que de forma simpática, aponta


pro sonolento Roberto Carlos e pergunta baixinho:

- Aquele ali também é jogador, não é?

No que Ronaldo, de bate-pronto:

- É sim senhora. É o Dunga.


- Ah, bem que eu estava reconhecendo...
Segunda-feira, 17 de Outubro de 2005

VOTE, TALVEZ
Edição Especial: Plebiscito do Desarmamento

Atenção: está é uma matéria comprada que não necessariamente está


alinhada com a nossa opinião editorial. Os únicos responsáveis por ela são os
patrocinadores, cujas identidades serão mantidas em sigilo por puro clichê
mercadológico.

Não aguento mais receber spam sobre como eu devo votar NÃO. Assim, em
MAIÚSCULAS. Como seu eu fosse SURDO. Ou BURRO.

"Vote NÃO pela sua segurança". "Vote NÃO e ninguém se machuca". "Vote NÃO
e os bandidos vão cagar de medo".

Eu fico imaginando que a situação corrente é o não, certo? Hoje em dia


qualquer advogado, juiz, despachante ou funcionário público tem uma arma,
certo? Basta entender da burocracia da Colônia de Santa Cruz das Províncias
do Sul. Qualquer coronel, sinhozinho, benfeitor, bandeirante, qualquer um
destes tem uma arma. Sólida, rígida, limpa, cromada, brilhante, fálica, cheia
de balas, pronta para cumprir seu dever, seja de expulsar os que ofendam à
propriedade a família a honra, seja pra expulsar comunistas comedores de
criancinhas. Se a situação está assim como está, não foi por falta de armas...

Citam que Hitler desarmou a população "antes de exterminá-la". Que eu me


lembre bem (sim, eu nasci há 10 mil anos atrás), Hitler tentou um golpe de
estado, fracassou, e então conseguiu ser eleito. Daí ele aproveitou toda a
frustração alemã, de ainda pagar pelos danos causados na 1a. Guerra para
encontrar um culpado: os estrangeiros (ele mesmo era austríaco!), em
especial os judeus, que "sugavam a riqueza do povo", tão sofrido. E então,
enquanto ele unia todos os arianos da Europa, canalizou todo o ódio retido e o
usou para cadastrar, confiscar, separar, escravizar e então, finalmente,
exterminar o povo semita. Portanto, relaxe, o presidente ainda vai criar
guetos, campos de trabalho e só então vai exterminar o SEU PRÓPRIO povo,
desarmado. Pra quê eu não sei, mas se você não votar NÃO ele vai, claro que
vai, é lógico que vai.

Afirmam que ter arma em casa é seguro, basta não deixar à vista ou
engatilhada. Que os filhos nunca sabem onde o pai guarda a arma. Dizem
também que suas filhas de 17 anos são virgens... E que seus filhos não usam
drogas. Não, com toda certeza eles nunca, num acesso de abstinência de
heroína, pegariam a arma dos pais pra fazer besteira.

Falam como se estar armados evitasse assaltos, na rua ou em casa. Quantos


policiais morrem em assalto, por causa dessa simples regra: se você está
armado tem que sacar; se você sacar, tem que atirar; se você atirar, tem que
matar. O que era um assalto, vira uma tragédia. E você, está preparado pra
matar ou morrer pelo seu celular? O bandido está.

Alertam que sabendo que ninguém tem armas os bandidos vão fazer a festa...
E o que eles estão fazendo agora? A cidade do Rio é mais violenta que a Bagdá
de hoje, a Bogotá de ontem e a Chicago dos anos 30. Juntas. Alguém precisa
alertar urgente aos bandidos, então, de que hoje existe gente armada !

Dizem também que é preciso ter arma para estar seguro. Eu nunca tive arma,
conheço poucas pessoas que têm, mas ninguém nunca sentiu tanta falta delas
pra ficar seguro, até tocarem no assunto. Mas aí se chega ao cúmulo desta
campanha do des-desarmamento: "Você não precisa estar armado, basta que
ALGUÉM esteja". Ótimo, vou andar pelas ruas muito mais seguro sabendo que
algumas pessoas estão armadas. Vou relaxar na praia. Vou descer do carro pra
discutir o prejuízo muito mais tranquilo. Vou jogar uma partida aguerrida de
futebol com toda a serenidade. Vou pular o muro e dar uns pegas na filha do
vizinho em paz. Vou saber que meu irmão mais novo está num show no Olimpo
ou na Apoteose e vou dormir sereno. Vou ao Maracanã tirar sarro do time
perdedor, crente no espírito esportivo do adversário.

Por outro lado...

Do alto do meu prédio com portaria 24 h, portão eletrônico, rua patrulhada


pela PM, câmeras de segurança, vizinhos por perto, não me sinto bem
pensando em quem tem uma pequena propriedade no interior do Mato Grosso,
do Amapá, do sertão (ser tão longe). Principalmente quando penso que uma
facção criminosa menor, frustrada, expulsa do Comando Vermelho, pode
resolver se alojar no interior brasileiro, pra ter uma vida mais tranqüila, longe
do corre-corre das capitais.

Não me sinto bem quando penso que na cidadezinha de Conceiçãozinha Caiu


do Leste, o prefeito e o delegado são amigos de infância, e donos das maiores
propriedades do local. Ai de quem passar no caminho deles.

Não consigo deixar de pensar no exemplo da comunidade carioca (não vou


citá-la) que consegue manter o tráfico longe, às custas de muito esforço e
coragem. Sem o comércio de armas talvez ela seria mais uma comunidade
escravizada pelo poder dos traficantes.

Também não consigo acreditar que as dezenas de fuzis americanos, russos,


israelenses, austríacos, os lança-foguetes, as bazucas, etc. que estão nas
mãos de nossos traficantes sejam fabricadas no Brasil. Porque se forem, nós
poderíamos estar ganhando um bom dinheiro vendendo equipamento pro
exército americano.

Não gosto, tampouco, da idéia de fechar toda a atividade relacionada a armas


do país (fábricas, lojas, clubes, etc); emprego é emprego, e o povo precisa de
cada um deles...
Portanto...

Vou manter minha política e votar em quem sempre voto. Nunca falhou e
nunca me arrependi. Tenho certeza que, quando mais pessoas votarem como
eu, nossa situação vai melhorar.

Só não posso dizer em quem pois não quero fazer apologia ao voto nulo...

Moral da história:

1) Não me mande e-mails sobre como eu devo votar. Já não me basta o tempo
na TV.
2) Não me mande e-mails ameaçadores, eu não sou burro
3) Não me mande e-mails com maiúsculas, eu não sou cego nem surdo
4) Não finja saber do que você não sabe, deixe essa parte comigo....
5) Quer ser um super-herói e salvar sua família? Mantenha os jovens longe das
drogas e perto do estudo e das camisinhas.
Quinta-feira, 6 de Outubro de 2005

A NOVA GUERRA DOS SEXOS

Chato de ir ao médico é esperar mais de 1 hora por uma consulta de no


máximo 20 minutos. Vai entender. Eles marcam a consulta de 15 em 15
minutos. Às vezes de 10 em 10. Como se nunca fossem ao banheiro ao longo
do dia. E como nunca atendem nesse tempo, quem marca pro fim do dia sofre
com atrasos enormes.

Mas o pior da espera é assistir à novela das 6. Antes era Kubalançando. O que
era aquele cara-sem-camisa interpretando 4 papéis? Agora é Alma Gêma. O
que é o sotaque do Edu Moscovita e daquela índia italiana?

Molhação ainda dá pra aturar. São duas dúzias de adolescentes começando sua
carreira artística, e trocando beijos de língua 3 vezes por quadro. Os diálogos
se resumem basicamente a planos satânicos para retirar a azeitona de todas
as empadas da cantina, ou para explicar porque novamente a cantora vai ter
que faltar 2 meses de aula, em turnê com o namorado.

Chega a beirar o saudável. Exceto é claro, se o expectador é um adolescente


gordinho, ou sem namorada. Aí é um problema que sobra pro psicólogo.

Faltam ainda uns casais homossexuais, desses de televisão que são perfeitos:
não brigam, não traem, não se desentendem, tudo é felicidade exceto a
caretice de quem os cerca.

Isso não falta à novela das 8 (aquela que começa às 9h): tem tudo. Homem,
menino, mulher, católico, espírita, americano, brasileiro, mexicano,
paraguaio, político, policial, bandido, tarado, clepto, papa-anjo,
homossexual, bi, tri, boi, vaca, piranha, jacaré, cobra, salsa, pagode,
sertanejo, samba, tem até fantasma. Só falta ET. Os ufólogos estão
possessos !!!

Assistir televisão sempre me faz sentir careta. Eu acho a homossexualidade


normal, não tenho nenhum preconceito sobre o que dois adultos saudáveis
fazem entre 4 paredes. Só que isso já virou ser careta.

A guerra dos sexos deste século deixa qualquer um louco. São os gays contra
os bis, as drags contra os trans, os heteros contra os homos, os carecas contra
os pittys, os mix contra os fashion, os metro contra os retro... não há local
seguro contra os atos terroristas das inúmeras sub-facções armadas.

Como os outros homens, nunca tive problemas, por exemplo, em minha


mulher ter amigos gays - isso nunca foi ameaça. Até chegar o século XXI:

Festa da empresa. Todo mundo muito jovem, moderno. Uma das gatas
do escritório tá lá, solta na pista, se acabando de dançar. E os
guerreiros mirando o alvo, trocando planos e definindo quem poderia
atacar e quando.

Quando novamente se olha pra pista, a menina tá lá se acabando, mas


dessa vez se esfregando com um viadinho do marketing. "Ah, é só
dança, gente, o cara é boiola". Duas músicas depois os dois estão
rolando na parede, aos beijos de língua e mãos nas bundas...

- Ué, mas Cycranno (chique ele) não é viado?

- É, ué. E daí, viado não pode pegar mulher?

As mulheres também não podem mais estar seguras, existem exemplos


assustadores:

A mulher namora com o cara, sarado, bonito, barba sempre impecável,


gentil, compreensivo, inteligente, amante das artes, carinhoso. Sabe
tudo de vinho, cozinha, faz as unhas. Sabe dançar muito bem. Aliás,
freqüenta festas rave. "Meu namorado é metrosexual" - diz ela.

Alguns dias depois sua amiga resolve fazer uma festa louca numa boate
gay. "Não tem homem puxando seu cabelo, todo mundo é muito
divertido, é uma maravilha, vamos lá". Então tá. Advinha quem estava
lá, no meio da pista, sem camisa? "Menina, metrosexual demais seu
namorado...".

Será que eu devia ser moderno? Eu sentia que podia estar perdendo o bonde
da modernidade... Talvez eu devesse tentar. Pra ser moderno hoje em dia, no
mínimo, no mínimo, você tem que praticar uma troca de casais, um swing, de
quando em vez. Mas lembre-se que isso tem conseqüências...

Fulano costumava ir a casas de swing, levando sempre uma


acompanhante "profissional". E uma vez lá dentro se deleitava com as
acompanhantes dos outros. Fossem amigas, prostitutas, namoradas,
esposas, etc, o que importava era fuder com algo que fosse de outra
pessoa. Ah, sim, ele era advogado.

O fato é que aquilo ultimamente era a única coisa que o deixava


excitado (ameaçar processar pessoas inocentes no trânsito e pequenos
comerciantes já não gerava aquela sensação de poder), ao ponto de
comparecer religiosamente toda semana.

Até a última vez... No escurinho do salão, começou uns amassos com a


mulher que estava de costas. O encaixe era perfeito, o corpo era
maravilhoso, quis conferir o beijo, virou lhe a cabeça e... "Fullannah???"
(sim, Fullannah era muito chique). "Fulano???".
Encontrar a esposa na Só Suíngue de Jacarepaguá pode ser
traumatizante para qualquer um.

Bom, então pra ser moderno eu poderia fazer sexo grupal. Mas o mais perto
que cheguei de uma suruba foi um metrô lotado. Tinha um daqueles casais
que não se desgrudam um segundo do meu lado, a mulher era bem bonita até,
alta, cabelos escuros, e estava completamente pressionada contra mim. Eu
estava um pouco tímido, não soube como agir, se abraçava ela por trás,
enquanto beijava suavemente sua nuca, ou se agarrava seus cabelos e a
puxava para um beijo de língua. O fato é que no instante seguinte, antes que
pudesse decidir, fui jogado para a plataforma da estação Central, e não
encontrava minhas chaves.

Quem não gostou dessa idéia foi a patroa. Careta. Então estava decidido: eu
ia partir pra suruba solo. Peguei minha lata de Guaraná Kwat e fui pro bar
mais legal da Gávea. Passou 1 hora e nenhuma mulher me agarrou. 2 horas e
nada. Nem mesmo a garçonete. Pensei: tem algo errado, no comercial é
imediato ! Mandei e-mail pro SAC mas nunca tive resposta.

Po, quem poderia dizer que é tão difícil ser sexualmente moderno? Com
Internet por aí, orkut, os adolescentes se comendo mutuamente após as aulas
(e até durante), por que eu não conseguiria? Se bem que internet é perigoso,
quem não soube da história do GarotaoCarioca19 que marcou encontro no
shopping com a CoroaQuente40, e terminou esbarrando com sua avó, com
uma rosa entre os dentes (40 era o ano de nascimento, não a idade)...

Três ou quatro tentativas frustradas depois, desisti e resolvi pedir ajuda pra
escrever a coluna. Afinal, a idéia de escrever sobre um macho do século
passado querendo se tornar sexualmente moderno sem ter que encostar em
outro homem se mostrou vazia.

Aparentemente, a pressão em escrever sobre esse assunto, as tensões do dia a


dia, a má situação financeira e o excesso de álcool no sangue fizeram este
modesto escritor ter ... Bem... Dificuldades em escrever. Porra, isso nunca me
aconteceu antes...

A mesma dificuldade de chegar ao século XXI da revolução sexual. Acho que


finalmente me tornei uma minoria. O bonde da era de Aquário passou, e eu
fiquei.

É o dilema do homem moderno. Se engorda, é descuidado. Se chega aos 35


sem uma barriguinha de chope já recebe uns olhares de suspeita. Eu sempre
disse pra minha esposa que mais vale um gordinho macho que um sarado
boiola.

Por enquanto permaneço no século XX, talvez até volte ao XIX.


Diálogo Carioca:

Dois cidadãos pacatos conversam:

- Po, essa cidade tá violenta demais, soube que atropelaram meu irmão
ontem? Atravessando o sinal na faixa de pedestres... Não era nem 11 da noite!

- Ué, eu soube que foi você quem atropelou ele...

- Sim, foi. É que eu não sou maluco de parar em sinal depois das 22 h.... Tá
violenta demais essa cidade.
Quinta-feira, 22 de Setembro de 2005

ORDEM, PROGRESSO Y OTRAS COSITAS MÁS

Estava assistindo o Fla x Flu na quarta, durante o show de uma amiga. É difícil
se concentrar nas duas coisas ao mesmo tempo, mas quando o Pet bateu a
falta e balançou a rede, o grito não foi em coro com a música. O juiz manda
voltar - alívio - e então Tuta, com a mão e impedido, balança a rede
novamente. Antes valesse o primeiro...

Nesse momento de tristeza, lembrei-me do discurso do Severino. Triste, forte,


emocionante. Tive pena dele nesses últimos dias, e não falo brincando, é
sério.

Porra, pena do Severino? É. Por que não?

Lembre que o cara foi colocado ali, presidente da câmara, numa "travessura"
dos deputados, pelo desprezo do governo com relação à casa, principalmente
ao tal "baixo-clero". O tal nariz empinado do Zé Dirceu, que até voltou à
discussão durante a(s) CP(M)I(s).

Sim, uma travessura, daquelas que a criança faz pra chamar a atenção da
mãe. Tipo colocar fogo no cabelo, ou preparar uma armadilha de urso para o
irmão mais novo, ou dar descarga no remédio pra pressão da avó. Inocente
assim.

Mas a gente mais cedo ou mais tarde aprende que fazer uma fogueira com
meio litro de gasolina, e jogar nela um pneu velho amarrado com 5 "cabeções-
de-nego" tem conseqüências... E alguém vai ter que arrumar água pra apagar
o incêndio que já se alastra pela cerca de madeira do vizinho.

Foi assim com Severino. A piada passou, perdeu a graça, virou um leve
constrangimento. Era necessário tirar ele dali. Não antes de humilhá-lo, como
se fosse responsável pela própria eleição, seja pra deputado federal, seja pra
presidente da câmara.

Sim, era necessário to Kill Severino.

Assim foi batizada a operação da polícia federal para eliminar o deputado


federal pernambucano. A primeira tentativa, em conjunto com o FBI e a CIA,
foi mandá-lo para Nova York em pleno 11 de Setembro. Ele passou o dia
inteiro na torre do Empire States. Mas nada.

Então ofereceram ao sr. Cavalcanti e sua esposa um passeio de carro aberto


pelas ruas do Brooklin, Harlem, Soho, Tribeca, com direito a um almoço em
Hell's Kitchen. Severino, esperto, trocou esse circuito por um passeio de
metrô na Z train Queens bound.
Incansável, a inteligência americana mandou que o levassem para Nova
Orleans no dia seguinte, mas mais uma vez o cabra macho percebeu a
manobra: "Se for pra ficar coberto de lama, num turbilhão de reviravoltas, e
ver o teto cair à minha volta, diga ao povo que volto pra Brasília".

E assim foi.

Até que um integrante da delegação americana, o contador e advogado


criminalista Terry Danislov - o mesmo que ajudou a prender Al Capone - teve
uma idéia: "Dizem que no país todo mundo é corrupto, vamos prendê-lo por
corrupção!". A equipe brasileira não conseguiu esconder o constrangimento:
"Po, seu Danislov, não é bem assim... Primeiro que político não se prende, a
gente obriga eles a renunciar. Segundo que se todo corrupto renunciar, o
Brasil vai ser governado por uma junta para-militar de escoteiros-mirins..."

A começar que todo "convidado" à CPI leva sua autorização para o uso da
mentira em defesa própria. "Isso é que é justiça". Até a equipe do FBI gostou.
"É o direito à mentira, está na constituição", acrescenta o delegado brasileiro.
"Igual aquela coisa da 1a. Emenda que vocês têm por lá". O pessoal da CIA
concorda com a cabeça. "Nosso país foi fundado em princípios democráticos
de Ordem, Progresso, Mentira e Delação Premiada. Sem isso, não há
governabilidade. Sem governo não há poder. E sem poder o negócio fica
desinteressante pra maioria...".

Só quem não gostou foi o obstinado contador americano, e já era tarde


demais para tirar essa idéia da cabeça do gringo. Começou então a busca por
provas de corrupção contra Severino. Documentos frios, transferências ao
exterior, cartelas de bingo, qualquer coisa serverina, digo, serveria. Mas nada.
Até que, finalmente, é encontrado um recibo escrito "Mensalinho" e um
cheque com a assinatura:

"Essa era a prova que precisávamos", afirma o contador. O destino de Severino


estava traçado. O último nó que faltava era cobrir os gastos da operação.
Coincidentemente, a operação Navalha na Droga da Carne obteve os fundos
necessários.

"Eu voltarei, o povo me absolverá!", brada, em sua renúncia. Kill Severino 2 ?


Imperdível...

Falando nisso, essa coisa de marketing político tá em alta, depois do esquema


revelado pelo Duda Mendonça e Valério-Duto. Os salários podem chegar a 9
mil reais, sem contar o por-fora (que pode chegar a 90 mil). E tem uns
prospectos importantíssimos pra próxima eleição:

Garotinho. Sim, ele mesmo. Lí na Isto É que um renomado cientista político


afirma que só trouxa não acredita na força do semi-bispo radialista. Já circula
pelo meio alguns dos slogans: "Vote Garotinho e vá para o Céu", ou se a coisa
esquentar, "Quem não vota em Garotinho vai pro Inferno". Depoimentos como:
"Eu votei Garotinho e voltei a andar" também são válidos.

E o Lula provavelmente pode protelar contra esse governo corrupto neo-


liberal e entreguista que aí está, sem mencionar que ele é o governo.

E finalmente, o Serra que, pra resolver sua total ausência de carisma e


charme, pode se inscrever no BBB 5, no Fama, comer uma buchada de bode
com farinha em Caruarú e, o mais importante, nascer de novo!

Quem se desesperou com isso, nada tema. Eu sempre votei nulo e as coisas
nunca foram melhores. Só me pergunto: chegará o dia em que o brasileiro
baterá no peito e dirá: "nunca ouve* um governo tão pouco corrupto como
esse!"?? (*sim, do jeito que andam as escolas, o brasileiro mediano dirá assim,
sem o "h").

Afinal, até o Flamengo acabou empatando o jogo... Quem sabe o Brasil não se
livra do rebaixamento e permanece na terceirona, junto com Bahia e Vitória?

PS: Este foi o terceiro episódio da Quadrilogia da Polêmica: Política. O


primeiro foi Dinheiro, o segundo Religião. Não perca quinzena que vem, Sexo !
Imperdível !

Cena carioca:

Uma campanha vem crescendo pelas ruas, em apoio à comunidade GLS. Se o


motorista do carro à sua frente colocar a mão para fora e desmunhecar,
buzine!
Quinta-feira, 8 de Setembro de 2005

UM GRANDE PEQUENO GOLPE

Vinha conversando com um amigo do trabalho sobre o tema da coluna dessa


semana. "Tem é que arrumar uma maneira de ganhar dinheiro", ele insiste
nisso. Pois é, mas da conversa à ação o caminho é torto...

Comentei que havia um objetivo por trás disso aqui. Que eu queria
seguidores, quase uma religião. Foi então que surgiu esse tema.

Existem algumas novas religiões nos Estados Unidos que vêm ganhando
adeptos. A primeira é a teoria do Projeto Inteligente (Intelligent Design), que
já está inclusive pra ser ensinada nas escolas. Reafirma o Creacionismo e diz
que a ciência até hoje não conseguiu afastar a idéia de um propósito por trás
de tudo que é vivo, e que, portanto, toda a Vida foi planejada por um Ser
inteligente. Serve pra colocar mais lenha na fogueira em que Darwin queima
por aquelas bandas de lá...

A segunda nasceu na Web, propõe um novo Creacionismo através do Monstro


do Espaguete Voador (Flying Spaghetti Monster). Conta como esse simpático
Ser, composto de espaguete e almôndegas, criou e mantém o mundo que
conhecemos.

A minha proposta também é baseada na Internet, mas não traz respostas


fáceis. Em compensação ofereceria várias vantagens. Em primeiro lugar, ao
invés do dízimo, o únimo, "apenasmente" 1%. É a religião mais barata do
mercado. Você ainda ganha descontos em estabelecimentos conveniados,
concorre a prêmios, tudo isso enquanto acumula milhas de viagens.

A capital da nova religião mudaria todo ano, e todos os seguidores ficam


obrigados a passarem por lá no mês sagrado. Viagem paga, é claro, com o
cartão de afinidade da religião e pode usar as milhas acumuladas! O evento
seria patrocinado por empresas de telefonia e transmitido via web.

Wikipedia é a nossa Bíblia. Você ainda pode orar pelo celular e pagar
promessas por e-mails. Novenas via chat. Baixe o podcast do culto e ouça no
seu iPod a caminho do trabalho.

Quer saber as empresas e produtos aprovados e reprovados da nossa seita?


Acesse o website. Acompanhe as atualizações via RSS. Receba diariamente um
SMS de fé e esperança.

Que tal? Mas se nenhuma delas agradar, não se importe. Nove entre dez novas
religiões não sobrevivem ao primeiro ano.
Curtas cariocas

O rapaz distribuindo papelzinho ali perto da 13 de maio, estendia a mão


esquerda e depois a direita:

-- Olha aí, olha aí, vamos lá. Pega dinheiro aqui, faz a festa aqui...

Anunciava na primeira mão empréstimos de uma financeira, na segunda os


préstimos de um strip club. Isso é que é parceria em publicidade.
Quinta-feira, 25 de Agosto de 2005

TEM 1 REAL ?
Na terra onde quem rouba mas não mata já é considerado gente boa, é um
sinal de que as coisas estão melhorando cada vez mais...

A questão agora é conter a onda do "tem 1 real".

Eu juro que no outro dia um cara melhor vestido que eu me pediu um real. Tá
fogo mesmo ! "Que horas tem? Me dá um real ?". Simples e inocente assim.
"São duas e meia. Tenho não."

No metrô já tem uma fila pra quem vai comprar o bilhete e uma fila de quem
vai pedir um real a quem passa.

Uma possível explicação é a perseguição ao fumo. Antigamente as pessoas


pediam um cigarro. "Tem um cigarro ?". Não podiam ver alguém fumando. Era
uma coisa inocente, inofensiva. Apesar de chata. E isso ainda existe qualquer
fumante vai confirmar.

Mas com essa onda de fumo ser politicamente incorreto, ao invés de cigarro,
pedem um real. É politicamente mais correto. Agora que tem menos fumantes
no mundo, cigarro pouca gente tem. Um real a maioria tem. Ou deveria ter.

Já é uma espécie de bico, de hora extra. No caminho de casa pro trabalho e


do trabalho pra casa a pessoa aproveita pra pedir um real a quem passa.
Deixou de ser vergonha. É quase uma moda. Tá complicado mesmo.

Tem gente que ao menos aparenta estar precisando... mas tem cada um
também que você fica besta de ver a cara de pau. Sinceramente, quem
precisa de um real ? Um real dá pra uns três pães... sem café. Mas olha o que
tem de ONG por aí; tem mais ONG que gente carente o Rio. Se for no interior
do estado eu entendo. Em plena Rio de Janeiro, boa coisa a pessoa não vai
comprar...

E como ficam os mendigos com essa onda ? Tem mendigo que já jaz parte da
cidade. Cartão postal. Tem a mulher que chora em frente ao Av. Central, tem
o sujo aqui do Passeio, tem a velhinha da Lapa... Tem uma velhinha também
que todo dia de manhã tá andando perto do Menezes Cortes. Ai de quem
aparecer chorando e pedindo um real no ponto dela ! Se todo mundo pode
agora pedir um real, de que adianta ser mendigo ? Quando passa o pessoal do
Convento oferecendo ajuda, eles viram a cara. Quanto passa um pessoal da
igreja que ajuda aqui também, eles nem ligam.

A prefeitura podia oferecer cadastro pra quem pede um real, igual de camelô.
Uma espécie de camelódromo, um "medaumrealdromo". As ONGs vão ficar ao
redor, e no centro da praça os pedintes em suas barracas, contando suas
histórias. A que você gostar mais, compra ! Pode pagar até no cartão.

Aliás, tem 1 real ?

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