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PARASITOLOGIA CLÍNICA
(TRABALHO)
“SANGUESSUGAS”
ARAÇATUBA
2009
CURSO DE FARMÁCIA E BIOQUÍMICA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Sanguessugas
São animais hermafroditas (possuem os dois sexos), embora somente possam se reproduzir quando
fecundadas por outras sanguessugas, e seus ovos, botados na lama, são protegidos por um casulo
muito duro.
Ao contrário de muitos animais do mesmo gênero, as sanguessugas não possuem cerdas; ao invés
disso possuem ventosas para sua fixação aos corpos dos animais. Além disso, suas mandíbulas são
aguçadas o suficiente para romper a pele e couro de suas vítimas; e sua faringe, similar a uma
bomba de ar, permite que elas suguem sangue em quantidade impressionante.
São representadas por mais de 500 espécies, sendo a grande maioria encontrada em água doce
(embora existam certas espécies marinhas e arborícolas de sanguessugas). A maioria das
sanguessugas é encontrada em zonas tropicais, em lagos, lagoas, lamaçais e rios calmos de águas
quentes.
Hirudo medicinalis
(úncia espécie de sanguessuga com aplicações medicinais)
Cada sanguessuga é formada por 32 segmentos (anéis) em seus corpos e exibem, durante a época
da reprodução, uma estrutura chamada clitelo (no restante do período esta estrutura permanece
oculta).
Seu comprimento varia de 6 a 10 cm, sendo que a maior sanguessuga do mundo é a Haementeria
ghilianii amazônica com 30 cm. As cores mais comuns são o negro, o marrom, o verde-oliva e o
vermelho, embora ainda existam sanguessugas listradas ou pintadas.
Como mencionado acima, as sanguessugas alimentam-se do sangue de suas vítimas. Sendo que
uma única sanguessuga pode ingerir uma quantidade de sangue até 10 vezes superior ao seu
próprio volume. Ao aderirem ao corpo de ser vivo de que se alimentam, as sanguessugas segregam
um poderoso anticoagulante; bem como uma substância com propriedades anestésicas, o que lhes
se alimentar mais facilmente.
CURSO DE FARMÁCIA E BIOQUÍMICA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Por fim, cabe lembrar que nem todas as espécies de sanguessugas são hematófagas; uma vez que
algumas exibem comportamento predador (se alimentando de vermes, caramujos e larvas de
insetos) ou mesmo carniceiro (se alimentando de resídous de matéria orgânica).
Até meados do século XIX, as sanguessugas eram amplamente utilizadas na medicina tradicional
chinesa, na medicina oriental e mesmo na medicina ocidental (nos procedimentos conhecidos como
sangrias, ainda aplicados atualmente); contudo, devido ao desenvolvimento da ciência médica,
especialmente no que tange à terapêutica, ocorrido durante o século XX, seu uso foi praticamente
abandonado.
Assim, as sanguessugas aplicadas nessas situações agem como “válvulas de escape” para o
sangue acumulado nos membros reimplantados, mantendo as células vivas e aumentando as
chances de que o reimplante se torne permanente. E, como o procedimento é indolor, devido ao
efeito anestésico também presente na saliva das sanguessugas, sua aplicação pode ser executada
com muita segurança (desde que observados certos cuidados contra contaminações). O potencial
anestésico da saliva das sanguessugas também abriu a possibilidade de seu uso no tratamento da
osteo-artrite e outros distúrbios inflamotórios doloridos.
A terapia com sanguessugas resume-se a um procedimento razoavelmente simples, que pode ser
definido como a colocação destes animais em contato com a pele limpa do paciente, nas áreas
designadas para o desenvolvimento do efeito terapêutico. Nessa situação, as sanguessugas aderem
ao local pela utilização de suas ventosas e começam a se alimentar, não se movendo nenhum
centímetro do local designado, até que estejam satisfeitas e se desprendam por conta própria e
sejam recolhidas.
Atualmente, poucos países aderiram à volta do uso das sanguessugas, e, mesmo entre aqueles que
o fazem, na grande maioria das vezes a aplicação é restrita aos métodos das ditas “medicinas
alternativas”; não sendo, portanto, considerada parte da medicina tradicional. Contudo, os fatos
demonstram que sua grande utilidade e, sobretudo, taxa de sucesso, pode resultar em uma mudança
desse quadro, conforme demonstrado pela aplicação da terapia com sanguessuga em casos de:
Dada sua natureza recente, bem como sua conotação de medicina alternativa, não existem muitos
protocolos de tratamento ou mesmo livros tratando da utilização das sanguessugas na medicina.
Contudo, o trabalho do médico alemão Dr. Bohenberg, em sua monografia “A Terapia com
Sanguessugas” (escrita em 1935), tem servido de base para o desenvolvimento e aplicação de
rotinas de tratamento utilizando estes animais.
Neste livro, o médico descreve o sucesso extraordinário do tratamento de sanguessugas nos casos
de tromboflebite, hemorróidas, nódulos linfáticos purulentos, inflamações das amídalas, otite média
aguda e angina. Além disso, também descreve o processo de cura de grandes furúnculos, casos de
pericardite, pneumonias, infecções da vesícula, apendicite aguda, reumatismo e artrite; além de
grande melhoria em casos de concussão cerebral, acidentes vasculares cerebrais, esclerose
múltipla, depressão, esquizofrenia e até mesmo catatonia.
A técnica consiste basicamente na obtenção das sanguessugas, que são vendidas nas farmácias
alemãs em pequenos recipientes de gargalo amplo contendo água fresca não clorada, seguido de
sua revitalização (pela troca da água pouco antes de seu uso). A área de aplicação então é limpa
com água e sabão apenas, sendo proibida a desinfecção com álcool, éter ou sabonetes anti-sépticos
(uma vez que as sanguessugas não aderem em áreas tratadas desta forma), e logo em seguida são
aplicadas as sanguessugas em quantidade variável (de acordo com o esquema terapêutico
empregado).
Após a adesão das sanguessugas aos locais determinados, as mesmas são lá deixadas até que
suguem o suficiente para se satisfazerem (geralmente algo entre 5 a 8 gramas de sangue), quando
se soltam e são recolhidas. As sanguessugas utilizadas em um paciente não podem mais ser
reutilizadas depois disso e a terapia leva em conta também o sangue perdido após a queda dos
parasitos, que pode durar de 4 a 12 horas dependendo do tratamento em progresso.
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INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
Desde o início do ano de 2008, o FDA (Food and Drugs Administration, órgão do governo norte-
americano que regulamenta alimentos e remédios) autorizou o uso medicinal da espécie de
sanguessuga Hirudus medicinalis. Esse fato deu margem ao nascimento de um grande mercado,
onde empresas como a Leeches USA (sediada em Long Island, Nova Iorque) e a Ricarimpex
(empresa francesa) se destacam alguns dos maiores criadouros mundiais;
O hospital Continuum Centre for Health and Healing, de Nova Iorque, pouco tempo depois da
liberação pelo FDA, foi o primeiro a aplicar esta terapia inovadora contra a artrite degenerativa.
Seu primeiro paciente foi o antigo jogador de futebol americano Matt Aselton, que pagou cerca de
600 dólares pelo tratamento para o alívio das dores provocadas pela osteo-artrite em um de seus
joelhos, fruto de sua carreira de desportista;
A partir do mês outubro de 2009, um dos centros que compõe o Beth Israel Medical Center, um
dos maiores hospitais da cidade de Nova Iorque, também passou a usar as sanguessugas no
tratamento da osteo-artrite;
No Brasil, o cirurgião Luiz Claudio Candido, da cidade de Santos, também tem utilizado as
sanguessugas. Contudo, devido à inexistência de criadouros nacionais, o médico acaba por
importar os animais (no caso, as sanguessugas são provenientes da Itália). Apesar da iniciativa
inovadora, e ao contrário do que ocorreu nos EUA, o Conselho Federal de Medicina, órgão
brasileiro de funções semelhantes ao FDA, ainda não autorizou a realização de nenhum
tratamento com sanguessugas no país.
Bibliografia
ANÔNIMO. Terapia com sanguessugas. Disponível em: < http://www.taps.org.br/ >. Acessado
em: Setembro de 2009;
PILCHER, H. Stuck on you. Nature. New York: Nature Publishing Group, v. 432, n. 4, novembro
2004.