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Parece notória a estranheza com que a opinião pública vislumbra a relação entre
sustentam a existência do direito penal canônico, propondo uma visão crítica a respeito das
normativo como no plano doutrinal, não se tentando esgotar a temática em soluções pontuais
(ibid., p. 230).
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Resenha do texto O Direito Penal da Igreja: reflexões e propostas, de Francesco Cocoopalmerio
(resenha apresentada como requisito parcial para aprovação da disciplina Tópicos de Direito e
Processo Penal Canônico, ministrada pelo Dr. Francisco Caetano Pereira, no Curso de Especialização
Lato Sensu em Ciências Criminais, da Universidade Católica de Pernambuco – trabalho avaliado com
nota máxima).
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Advogada, pós-graduanda do Curso de Especialização Lato Sensu em Ciências Criminais, da
Universidade Católica de Pernambuco.
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A Igreja apresenta uma dupla face, uma visível, como ente histórico que ostenta
uma estrutura palpável, uma instituição dotada de órgãos hierárquicos, que tem no direito
espirituais, centrada na salvação das almas, representando o próprio Deus na terra (PEREIRA,
2004). É importante salientar que, em uma explanação rápida e geral, as funções penais são
importantes para a Igreja como instituição que é, no sentido de que consubstanciam sua
estrutura, portanto, uma vez presentes, ganham, logicamente, contornos próprios à realidade
ideológica da Igreja, que como ente histórico emite influências ao direito laico. Neste sentido,
bem como, mais especificamente, sua influência no direito processual hodierno (PEREIRA,
2004). Não obstante, esta relevância da normatização penal no âmbito das regras canônicas,
não exclui o estranhamento da opinião pública sobre esta interligação, até porque, admitir a
simplesmente focada em sua face institucional, como ente histórico, considerando-se que a
controle proveniente do poderio normativo, mas, por outro lado, quando a Igreja é
penal, pois, aparentemente não soa tão bem a idéia de que a Igreja, como meio para salvação
das almas, refúgio mesmo da humanidade, venha a impor penalidades, e ainda, venha a impor
penalidades aos que a formam, admitindo a existência de infrações e infratores penais no seu
O direito penal canônico revela-se com uma série de fundamentos próprios, mas
que, a seu modo, denotam semelhanças com os elementos do direito penal estatal.
O direito penal estatal impõe uma penalidade à prática de atos que determinou
ilícitos, alcançando com isto os fins colimados à imposição da pena. Já a intervenção penal
típica da Igreja, inflige uma privação de um bem eclesial, diante da verificação de uma ação
que considerou antieclesial, objetivando com esta intervenção a concretização dos pretensos
eclesial, sendo bem eclesial uma realidade característica da Igreja (ibid., p. 230), ou seja, a
obriga a seus fiéis (ibid., p. 230). Da mesma forma que o direito penal estatal escolhe
condutas e as tipifica como crimes, atribuindo uma punição para quem as infringe, o direito
tecnicamente de delicta, e também especifica uma pena para quem os transgride (ibid., p.
230). A ação antieclesial pressupõe algumas características, como por exemplo: ela deve ser
externa, não necessariamente pública, mas externa na concepção de perceptível aos sentidos,
os comportamentos interiores não constituem delicta; e, ela deve ser gravemente culpável, ou
seja, deve constituir um pecado grave, os comportamentos subjetivamente não culpáveis não
restabelecer a ordem burlada com a infração, e prevenir futuras infrações (ibid., p. 231).
infringida, que seria uma prevenção geral. Pois, como preconiza o próprio autor, o fim
situação subjetivamente dolorosa, é impelido, de maneira coativa, a efetuar uma escolha entre
infrator mesmo que forçosamente, uma vez que, tendo em vista a possibilidade de aplicação
da pena, evitar-se-ia o cometimento de infração (ibid., p. 231). Assim, o fim corretivo seria
mesmo que uma espécie de prevenção especial, objetivando que aquele infrator específico,
que recebeu a punição, não venha a incorrer em novo deslize. Já o fim de restabelecimento da
forma com que a Igreja atua no sentido de demonstrar sua insatisfação com a ação
danosa ao próprio autor, aos fiéis em geral, ou mesmo à Igreja, é o meio pelo qual, do ponto
de vista magisterial, a Igreja demonstra não admitir a prática de ato disforme da ética eclesial,
penalizando quem age de tal modo, dá o exemplo à opinião pública externa e interna,
por outro lado, do ponto de vista pastoral, esta sua resposta à infração denota a preocupação
não só com o infrator, mas também com os fiéis, com toda a Igreja (ibid., p. 231), conclusão,
prevenção geral, intentando com que os fiéis, devidamente exemplificados com a penalização,
não venham a cometer delitos. Ressalte-se que, o fim de prevenção da pena, especial e geral,
também é verificado no direito penal estatal, o qual, segundo algumas teorias legitimadoras do
jus puniendi do Estado, ainda indica como finalidade da pena a retribuição e, em um patamar
concerne à questão da retribuição, nas palavras do autor em análise, a imposição de pena “[...]
não indica de forma alguma uma eventual finalidade de ‘vingança’ por parte da Igreja com
1.2 Reflexões
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praticar novos delitos, diante da possibilidade de lhe ser aplicada uma penalidade (ibid., p.
232).
do infrator, que não mais praticaria delitos em virtude de afligir-lhe a condição de penalidade
pena no âmbito do direito penal estatal. É neste diapasão que submergem as indagações, uma
vez que, uma conversão extraída através da ameaça de imposição de uma pena, utilizando-se
fiel entendidos pela própria Igreja. Admite o autor que a finalidade medicinal da pena é
pode e deve ser perseguida (ibid., p. 234). Argumenta ainda que, o castigo por amor ou para
constatar que o espírito humano, não excluído aquele do fiel, não goza de total facilidade de
autodeterminação e por isso pode ser ajudado nas escolhas fundamentais, também através de
um procedimento de coação [...]” (ibid., p. 232), justificando que o meio penal deve constituir
extrema ratio, só sendo requerido quando esgotadas todas as outras vias da convicção e da
admoestação (ibid., p. 233). Respeitada a opinião do autor, não há como com ela não se
chocar, mesmo que este choque seja o mais humilde, só sobressaltando que, entender a
muita hipocrisia negar que este tipo de procedimento ocorra, tendo em vista que ele ocorre
sempre, mesmo que mascarado, e é decorrente do próprio controle social, além de que, talvez
o ideal de liberdade seja mesmo mais um dentre tantos “[...] idealismos fáceis [...]” (ibid., p.
232), que o homem cria para amenizar os abismos que suas ações geram na sociedade,
todavia, cabe aqui a indagação: a Igreja deseja numerosos fiéis alienados ou uma composição
imposição da pena, só ganhará força, para converter o infrator e coagi-lo a não praticar novo
delito, se a pena, ou a privação a qual ela corresponde, for uma condição essencial, ou seja, a
pena só seria eficaz e desempenharia sua função corretiva quando a aflição psicológica
relacionada a ela fosse subjetivamente percebida, diante da importância dada pelo infrator ao
bem passível de privação (ibid., p. 233). Portanto, talvez aqui a imposição da pena relaxe em
sua validade prática, já no que diz respeito a construções conceituais, o ponto em questão não
sofre qualquer dúvida, pois resta subentendido que ao fiel, a privação de um bem eclesial lhe
suscita problemas quando intenta ser medicinal, contrariando o princípio da liberdade, não
obstante, encontra suas razões na outra finalidade que dispõe, qual seja, a preventiva.
Não carece de discussão a reação da Igreja diante da ação antieclesial, pois não
caso o fizesse decairia em sua tarefa essencial, magisterial e pastoral (ibid., p. 233).
Outrossim, uma vez estabelecida a reação da Igreja, diante da ação antieclesial, como
da pena (ibid., p. 233). Sugere o autor que, tal reação poderia ser igualmente eficaz e alcançar
o mesmo escopo, através de uma declaração pública por parte de uma autoridade eclesial
conflitos insurgentes através de uma declaração pública da ordem lesada, o que exigiria de
seus fiéis uma maior aproximação de sua condição, exaltaria o ideal de liberdade, e
aproximaria ainda mais a Igreja como instituição da Igreja transcendental, no que pese o doce
desejo, dificuldades práticas de sua realização parecem lhe ser veementemente intrínsecas,
conduta uma ação externa, não necessariamente pública, e um pecado grave, subjetivamente
proveniente de ações ocultas não incide enquanto tal na comunidade eclesial (ibid., p. 234).
Também compreende que, as condutas consideradas delito não devem se limitar a pecados
graves, que excluem aqueles comportamentos que, embora contrários à comunidade eclesial,
permanência das penas ou privações na Igreja, está ligada às finalidades da pena abraçadas
pela missão da própria Igreja, no entanto, existem casos onde a privação de bens eclesiais não
deriva da imposição de uma pena ou de suas finalidades, mas do próprio ser da Igreja, estando
essencialmente relacionada com sua estrutura dogmática, sendo uma espécie de intervenção
materializada na imposição da pena, que deriva da prática de um delictum, que por sua vez
(ibid., p. 235).
2.1 O pecado grave e a privação da Eucaristia no can. 856 do Código de Direito Canônico
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2.2 O pecado grave e a perda da plena comunhão eclesial na Constituição Lumen gentium, n.°
14,2
eclesial:
grave, quebra-se o elo que mantém a comunhão eclesial, principalmente porque a condição de
ter o Espírito de Cristo é incompatível com a prática de pecado grave (ibid., p. 236 e 237). Tal
2.3 O pecado grave, a perda da paz com a Igreja e a privação da Eucaristia na estrutura do
Sacramento da Penitência
grave, a perda da plena comunhão eclesial (perda da paz com a Igreja), e a privação da
Tudo que fora relatado sobre a privação da Eucaristia, ante a perda da plena
comunhão eclesial advinda do pecado grave, pode se aplicar a outras realidades eclesiais
(ibid., p. 238).
(eclesialidade e socialidade do pecado grave), na medida do que vem a gerar (ibid., p. 238).
O pecado tem um efeito eclesial-social, uma vez que, não se limita ao âmbito da
relação pecador e Deus, mas, também, ao âmbito da relação pecador e Igreja (ibid., p. 238).
Aliás, a própria Igreja é uma unidade ontológico-interna e ao mesmo tempo visível e social
(ibid., p. 238). Reiterando-se, o efeito do pecado não se limita ao âmbito interno da relação
pecador e Deus, abrange ainda o âmbito eclesial, visível e social da relação pecador e Igreja
(ibid., p. 238 e 239). Pois, na prática, são conseqüências do pecado, a perda da plena
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comunhão eclesial e a privação de certos bens eclesiais, ambas, realidades não meramente
2.5 Natureza da negação, por parte da Igreja, depois de um pecado grave, do direito de
comunhão eclesial, a privação da Eucaristia e de outros bens eclesiais, desta feita, a perda da
plena comunhão eclesial e a privação da Eucaristia e de outros bens eclesiais, são um efeito de
Eucaristia e de outros bens eclesiais, é na verdade uma sanção declarativa, afinal a Igreja
causou, e necessária, pois cabe a Igreja decretar esta privação mesmo que o comportamento
240).
acolher tão somente esta sistemática, e excluir a intervenção penal do bojo da Igreja, até
porque o material com que a Igreja lida é o humano, sempre passível de falhas, para as quais a
Igreja precisa manter-se atenta, e no que tange a sua face institucional, a intervenção penal é
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da condição de fiel e fomentando uma maior união entre a Igreja como instituição e como
transcendência.
2.6 Natureza da pena eclesial com base no conceito de “delictum” enquanto pressupõe um
pecado grave
Tendo em vista que o delictum tem sua definição no pecado grave, considerado
pena, tem natureza complexa, por um lado é uma reação contra um comportamento lesivo à
sociedade, e por outro lado é uma reação declarativa e necessária, de caráter estrutural (ibid.,
p. 240).
2.7 Conseqüências
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indica o autor que, desta premissa emergem conseqüências lógicas (ibid., p. 241). A saber,
dogmática, e, não há como abolir a intervenção penal da Igreja, já que ela promove o
3.1 Dados
“Fori externi et interni optima coordinatio in Codice Iuris Canonici existat opor tet, ut quilibet
conflictus inter utrumque vel dispareat vel ad minimum reducator. Quod in re sacramentali et
in iure poenali peculiariter curandum est.” (ibid., p. 241e 242); e, n. 9: “Mens est ut poenae
generatim sint ferendae sententiae et ia solo foro externo irrogentur et remittantur.” (ibid., p.
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242). Também, “[...] totum ius poenale ad externum tantum forum limitatum est [...]” (ibid.,
p. 242), e: “Quo autem melius externum et internum forum, quantum fieri potest,
(ibid., p. 242), ambas, citações do relatório sobre o trabalho da comissão de consultores para a
Destes dados o autor extrai duas conclusões, a primeira é que, é conveniente que a
Sacramentos, mas não no Sacramento da Penitência (ibid., p. 242). De tal forma, o pecador
excomunhão não impede a participação específica neste Sacramento, mas, apesar disto,
permanece sem a remissão da pena e, portanto, não absolvido no foro externo (ibid., p. 242).
3.2 Reflexões
Sacramento da Penitência, haja vista que a excomunhão não impossibilita tal feito, não
obstante, o pecador permanece excomungado, não obtendo a remissão da pena, não sendo
absolvido no foro externo, uma vez que, o Sacramento da Penitência não viabiliza a remissão
corresponde a obter a paz com Deus e com a Igreja, outrossim, a excomunhão indica a
Penitência, mas permanece excomungado, recebe a paz com Deus, mas não com a Igreja
comprometida, pois subentende a persecução da paz com Deus e com a Igreja, no entanto, a
verificação desta última, parece contrária à proposta de remissão de pena (ibid., p. 242 e 243).
essência, tendo em vista que a paz com Deus não pode deixar de estar interligada à paz com a
Igreja, até mesmo porque a Igreja representa a forma visível da salvação e da graça, por outro
lado, posteriormente, entende que a manutenção da excomunhão não indica, uma vez recebido
coexistência entre a paz com a Igreja e a privação de um bem eclesial (ibid., p. 243), visto que
urgência necessária pelo perdão dos pecados, e conceber-se não concedida a paz com a Igreja,
só permanecendo a excomunhão por motivos diversos, por razões de bem comum (ibid., p.
244).
sistemática acima exposta. Em primeiro lugar, o que parece admissível diante dos princípios
Eucaristia, não indica conformidade com a prática tradicional, segundo a qual conceder a
absolvição é admitir a Eucaristia (ibid., p. 245). Outrossim, mesmo com a justificação de que
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a não admissão à Eucaristia não enseja a negação da paz com a Igreja, em nível de impressão
espontânea, pode-se gerar um falso juízo doutrinal e eclesiológico de que o perdão concedido
no Sacramento da Penitência consista só e tão somente na obtenção da paz com Deus (ibid., p.
245). Além de que, cabe ao direito penal da Igreja, providenciar meios que evidenciem o
aspecto essencial da relação entre a paz com Deus e a paz com a Igreja, intentando a obtenção
de ambas perante a absolvição (ibid., p. 245). No mais, a natureza urgente do perdão dos
pecados não deve colocar em desalinho a própria essência do Sacramento da Penitência (ibid.,
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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SAMPEL, Edson Luiz. Direito Penal Canônico. [S.l. : s.n.], [s.d.]. Disponível em:
http://www.espacovital.com.br. Acesso em: 15.01.2007.