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O Ano Novo Está Aí

O ano novo está aí. Alguns aspectos dele nos parece serem os de sempre.
Em março, mais um aniversário de Rio Preto, e também, novo receio de inundações.
No meio do ano, outro Festival Internacional de Teatro, e nesse curso, campanhas maciças
da Associação Comercial para vender mais no dia das mães, no dia dos namorados e dia
dos pais. Logo chegaremos a outro natal. É difícil, hoje, para o homem médio, devido à
rotina que se instaura anualmente, lembrar-se do aniversário municipal do ano passado.
Costuma-se dizer, no futebol, que juiz bom é aquele que não aparece. Se nada se
falar dele, complementam os comentaristas, é porque tudo correu bem durante a partida, do
contrário, algo foi mal.
Mas, no caso de uma cidade, a analogia seria válida? A personagem equivalente ao
juiz de futebol, em nível municipal, talvez fosse o prefeito, ou o gerente da cidade. Poder-
se-ia dizer, então, que não aparecendo na memória das pessoas, essas personagens
municipais estariam fazendo um bom trabalho?
Provavelmente. Da mesma maneira que não se pode generalizar, no caso de
ninguém dizer nada sobre a atuação do juiz de futebol, também não se deve incorrer na
mesma pressa ao dizer-se que o silêncio da memória coletiva quanto aos dirigentes
municipais seja um indício de boa administração.
De um lado, para delinear melhor a questão, devemos considerar os reais desejos
dos cidadãos. E quais seriam esses desejos? Melhores escolas, mais praças públicas, mais
segurança, mais lazer, mais cultura? Difícil responder. E, respondendo, seria impossível
satisfazer integralmente a todos, pois cada um tem um modelo ideal para a segurança, por
exemplo. De outro lado, o fato de não se conhecer a natureza dos anseios do povo não
autoriza a massa da população não saber e dar a conhecer o que ela própria deseja.
Os historiadores da cidade, os artistas, os estudantes, os professores, os políticos, os
administradores, enfim, são os porta-vozes oficiais de nossa consciência social que deseja
ser ouvida e posta em prática. Cabe, portanto, às pessoas, aos cidadãos, valorizar,
reconhecer e cobrar desses seus representantes, uma atitude mais informativa, didática e
efetiva com relação à responsabilidade social que a todos diz respeito.
Não se pode conceber e aceitar a idéia de um corpo intelectual omisso em São José
do Rio Preto, em face ao expressivo número de professores e alunos universitários na
cidade. Tampouco, deve-se permitir que a classe artística se esconda atrás da beleza de suas
obras. A Semana de Arte Moderna, o Concretismo, a Bossa Nova, o Cinema Novo, o
Tropicalismo foram, além de movimentos artístico-culturais, interventores sócio-políticos.
É claro que as pessoas têm de sobreviver. Mas sempre tiveram e, nessa luta diária,
muitos interesses estão em jogo. Ninguém quer aqui apregoar o anarquismo e a revolta
armada. Pelo contrário. O que se quer dizer, é que não se deve confundir a existência com a
subsistência. Não lembrar do aniversário da cidade significa não ter nada relevante para
recordar. Ou seja, a vida sócio-cultural da cidade está restrita apenas à subsistência.
Existir é atividade ativa, própria do ser político atuante, participativo e crítico.
Subsistir é uma subcondição reservada aos invertebrados, aos irracionais e às plantas.
O preço a pagar pela omissão é a escravidão em relação a interesses particulares, em
detrimento dos coletivos. A escravidão é um estágio entre a lembrança e o esquecimento.
Quem opta por apenas subsistir, acaba ficando parado na história, feito árvore na
paisagem. Um dia, acabará percebendo que sua principal atividade não é a de transformar o
mundo, mas a de concordar com ele e realizar fotossíntese.

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