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6.

PROMOVIDO A VICE

NÃO ERA O QUE EU ESPERAVA ENFIM, EU GRITAVA PELA CASA


com ela – assim eu imaginava estar acontecendo – e tivera
audácia de gritar o nome dela se soubesse. Era um ato de
desafio; sempre que exaustado, não procuramos respostas para
as coisas, simplesmente a criticamos por que elas não caiem do
céu.
Mas quando eu senti a temperatura oscilar, meus pulmões
enfraquecerem e a presença notoriamente plausível dela, eu
queria retornar alguns segundos atrás e deitar em minha cama
rezando para um sono, mesmo que leve, mais que rapidamente
me atingisse.
– Quem é você – ainda sem olhar para trás – e o quer de
mim? – não conseguia entender exatamente o que tomara
minha posse recentemente, as perguntas fluíam tão
naturalmente que eu pudera jurar que tinham se expelido de
outra pessoa. Mas éramos – para minha incerta infelicidade –
somente eu e ela.
Eu ainda não mastigara tudo aquilo que havia acontecido.
Eu ainda sentia seu pequeno pulso de cristal tocando–me pelo
ombro, e de seu rosto – uma súbita lembrança amarga – de que
eu não deveria ter medo dela. Mas como? Todas as historias
sobre fantasmas que tentavam fazer contato, haviam travado
algum delito, ou brutalidade em que deixasse a pessoa
querendo consertar o que havia acontecido – contar o seu feito
para que pudessem resolver por certo o caso. Eu então tremia
desvairadamente agora, pensando no que pudesse ter

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acontecido aqui nessa casa; em o que tivera deixado aquela
garota pairando aqui, de um lado para o outro da casa.
“O corredor” pensei. Esse ao qual franzia minha vértebra a
cada passagem minha por ele – antes mesmo que eu começasse
a vê–la. “O que tivera acontecido, houve aqui, logo em frente a
minha porta, e ela não teve escapatória alguma”.
A temperatura parecia se deitar sobre mim, cada vez mais e
mais, congelou rápida e pesadoramente todo o ambiente. E eu
ainda estava de costas a garota – que eu estranhamente ainda
sentia ali – fitando as imagens que se desenrolava em minha
mente; por hora parecia que se redesenhavam a parede, uma a
uma com que eu tentava não pensar.
Olhei de sombreio ao pequeno pedaço de espelho que
estava ao lado de meu relógio, e notei que eu não podia vela.
Eu via ali toda a parede do quarto pelas fresas da janela, que se
deitavam em fendas, uma encimando a outra, e ainda emitiam
luz no quarto – não o suficiente para me incomodar durante o
sono, se é que algo tão simplório pudesse me aturdir mais que
ela – mas o que bastava para iluminar uma parte do quarto,
desenhando mexas horizontais que vinha da enorme lua cheia
que jazia daquela noite de sábado.
Mas eu continuava a vasculhar os fragmentos de luz, atrás
de qualquer detalhe que pudesse me indicar ela. Mas nada.
Tentei tomar o controle do meu corpo, e me virar – o que agora
parecia quase impossível – meus olhos agiam naturalmente e
sondavam todo o local, mas o restante não.
– Você ainda esta ai? – ela não reagira a nada por todo esse
tempo exceto pelo chamado de hoje – ainda assim sem uma só
palavra – por que ela iria responder a uma pergunta tão fútil eu
não sabia, mas esperava friamente que pudesse ter sorte hoje.
Um suave estalido no chão as minhas costas e uma pontada
de gelo que senti encravar em minha espinha dorsal pareciam
ter respondido a minha pergunta. Ela acabara de se aproximar
um pouco mais de mim. Esperei em choque que não sentisse
suas mãos venosas novamente em meu corpo – uma sensação
que não podia comparar a nada que não fossem caravelas
portuguesas enlaçando seus tentáculos lisos e gélidos em mim,
soltando uma descarga de seu mais poderoso soro, de uma só
vez, em toda a carne.

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E eu decididamente não estava preparado para outro ataque
inesperado desse.
Eu me virei singelamente, passo a passo, em uma
velocidade extremamente imbatível. Mas conforme eu meu ato
ocorria bravamente, meus olhos pareciam ter mudado de idéia,
eu tinha medo de abri–los, medo do que viesse a encontrar.
Franzi a testa involuntariamente espremendo–os, cerrei os
pulsos colados cada vez mais forte na cintura e comecei a
forçá–los a abrir. Mas eu não precisei de tanto esforço ao vê–la
parada a minha frente. Um surto repentino, um choque – que
atravessara meu corpo como um raio – clareou tudo a minha
frente, e meus olhos instantaneamente se abriram.
Ela estava ali, diante de mim, muito mais próxima que eu
pudera imaginar, dava para tocá–la se minhas pernas
resolvessem fragilizar agora. Eu podia senti–la como se já
estivesse tocando–a, era como se sua respiração estivesse
apalpando meu rosto – embora ela nitidamente parecesse não
estar respirando – eu podia sentir vida fluindo de seu corpo –
que claramente não havia – e seu sorriso tomara conta de todo
seu estonteante rosto límpido e perfeito.
Mas não foi a minha súbita surpresa com sua imagem, nem
fora sua drástica mudança desde minha ultima lembrança dela
– em meu pesadelo – que me fez paralisar em frente a ela, ela
me deixava misteriosamente calmo, sua beleza e seu sorriso
contagiante, seus olhos brincalhões, tudo me fazia sentir bem,
do mesmo modo como me senti com uma única pessoa. E esse
era o exato problema, o ponto x da minha perplexidade. Tudo o
que eu via a minha frente era uma replica perfeita e bem
esculpida em cristal, uma copia inteligível de Ana. E seu
sorriso torto e inigualável a que eu tanto adorava – que
dançava com toda suavidade nos cantos de seus lábios – não
poderia ter sido mais bem desenhado em gelo, se não o que ela
sorria agora.
– Ana? – soltei ligeiramente.
Seu sorriso perfeito derreteu no mesmo instante e ela
assentiu negativamente a minha pergunta, sem ainda falar
nada.
– Quem é você? – perguntei sorrateiramente apavorado;
fora pela recente descoberta de que o clone gélido de Ana não

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era parte dela, ou fora pela sua face que dançou um lado ao
outro, respondendo a minha pergunta. A situação havia
mudado, ela estava cada vez mais real mais próxima de mim, e
isso me intimidava drasticamente. Mas ela mais nada
respondeu.
Ela se esticava a ponta do pé, era ligeiramente mais baixa
que eu, assim como Ana. Seu corpo, seu olhos... Seu sorriso. O
que mais havia de parecer com ela?
– Diz alguma coisa – meu segundo eu em ação novamente –
quem é você, qual seu nome? – fitava seus lábios a fim de
notar qualquer que fosse o movimente, na esperança de uma
palavra.
Mas ela simplesmente me olhava, encarava meus olhos, e
sorria agora, com mais vontade que antes. E por um leve
descuido precipitei minha mão – uma reação automática – a
seu rosto, queria tocá–la, ela o tinha feito, eu tinha esse direito
também. Mas ela reagiu a minha ação e deu um passo atrás –
seu rosto transparecia inexplicavelmente medo. De que ela
haveria de ter medo. O único que tinha carma para isso estava
mais calmo que nunca. Como se sua presença atuasse como
uma morfina, entorpecendo todo o meu corpo.
– Não, espere. – meu segundo eu mais ágil a cada passo,
estava começando a me acostumar com ele compactuando.
Ela parou a um metro e meio de distancia. Seus olhos
cerrados espelhavam duvidas, e estranhamente pasmo agiam
contrariamente aos meus, mas ela não se moveu, e continuou
pregada em meus olhos.
– Me diz seu nome – comecei, sem se quer saber onde
queria chegar – fala alguma coisa.
Ela sorriu para mim, se ajeitou, deu um passo em minha
direção – enquanto eu suspirava profundamente com a
adrenalina esfaqueando pontos estratégicos de meu corpo – e
lentamente levantou o a mão direita. Com uma reação
automática eu levantei minha mão esquerda, respirei fundo –
sabendo que demoraria alguns minutos para que eu pudesse
respirar outra vez – e segurei sua mão.

Como eu esperava. Seu toque fez–me sentir novamente


entrelaçado por seus tentáculos venosos, apertando o meu

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corpo com uma força que impulsionava meu corpo todo para
dentro de mim mesmo. Mas não era exatamente como devia
ser. Não doía. Eu só não podia me mover enquanto minha
mente se distanciava de meu corpo. Então começaram a
aparecer imagens a minha frente, piscando com o efeito de
uma viajem na velocidade da luz, até o outro lado.
Então o chão começou a se desenhar debaixo a meus pés, as
paredes lilás defronte, e os moveis carinhosamente ajeitados
em um cômodo pequeno e confortável – decididamente esse
era um quarto feminino, o aroma das flores que se espalhavam
pelo quarto e o colorido de tudo ali, se encaixavam
perfeitamente – o quarto estava bem iluminado. A janela dava
para um jardim de tulipas, espreitavam–se pelos cantos da
veneziana as casas que ponteavam a paisagem.
Tudo ali era muito familiar. Rondei os olhos pelo cômodo, a
cama de lençóis vermelhos desarrumada, ao canto da janela,
uma prateleira composta de livros do outro lado da parede; ao
meu lado havia um pequeno assento espumado e macio, alguns
ursos de pelúcia gigantescos espalhados do meu lado esquerdo,
um violão preto, e pôsteres de bandas que encobriam um boa
parte da parede lilás oposta ao da estante fixa.
Eu não entendi muito bem o que fazia ali, e por que estava
sozinho. Então pensei em vasculhar atrás de algo, quando no
primeiro passo senti um objeto se apertar debaixo do meu pé.
Um pequeno caderno rosa, esgotado de adesivos,
aparentemente um diário. Mas me hesitei em abri–lo. Vistoriei
primeiro toda sua capa, e me deparei com nome do lado de traz
do caderno.
– Natália – li em voz alta. Era um nome, um quarto e tudo
mais que podia ser ligado a ela. Então me precipitei a repetir
seu nome.
– Natália – era uma descoberta para mim, eu tinha um
nome. Mas ninguém havia respondido e eu ainda estava dentro
do quarto.
Olhei para trás e me deparei com o fim do quarto, uma
porta. A chave na fechadura e um bilhete pendurado – que
obviamente deveria estar do lado de fora – dizendo: “Não
entre, proibido intrusos!”. Claramente havia alguém com que
ela rejeitasse ali seu passaporte.

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Mas a maçaneta da porta de repente se movimentou a porta
escancarou–se em minha frente, e uma garota se postou de
costas
– Some da minha frente! – gritou a garota, com os punhos
serrados ainda segurando a maçaneta; seus longos cabelos
pertos balançavam acima da cintura, e ela esbravejava
intensamente com alguém que não passou de um vulto quando
ela fechou a porta, e depositou seu corpo leve de costas a porta
como se pudesse dessa maneira, impedir que a voz viesse a
entrar.
– Já falei para sumir daqui – gritava ela com a cabeça
postada na porta, seus punhos ainda rígidos e cerrados. Eu não
conseguia ver seu rosto ainda, as franjas de seus longos cabelos
lisos e negros, encimavam sua face, escondendo–a.
– Natalia... – ouvi auto e claro, a voz era de um homem, que
tinha o tom de idade mediana, podia muito bem ser seu pai.
– Me deixa em paz! – gritou ela então, mais alto ainda,
extravasando o limite da sua voz, que chegou a falhar na
ultima palavra, agora que ela soluçava um choro amargo e
doloroso. Então seus olhos encontram os meus; molhados de
choro e tristes, incompreendidos. Ela apertava o peito
fortemente enquanto seu rosto se fechava em lagrimas – que
apesar da sua tristeza estampada, sua expressão fugia do acaso,
ilegível, estranhamente pensativa, e não pude desvendar.
Eu ainda ouvia ao fundo a voz masculina gritando
freneticamente, “Natália” e batia fortemente na larga e branca
porta de madeira maciça, “Estou avisando Natália...” –
enquanto ela se encolhia mais e mais, próxima a porta. Eu não
sabia se tentava acudi–la ali rebaixada ao desespero ou se
assistia a cena com medo perder algum detalhe importante.
Mas eu não conseguia motivos o suficiente para optar pela
primeira alternativa, embora seus olhos me fitassem
profundamente, não era para mim que ela olhava – ou para
qualquer objeto daquele quarto – seus olhos estavam vazios,
longínquos.
Ela provavelmente entrara em si mesma, atrás de um
caminho que lhe tirasse daquela situação. Mas eu continha
minhas duvidas quanto aos seus pensamentos que, ao mesmo

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que eram vazios dentro de si, se tornavam obscuros a cada
lagrima que fugia deles.
– Abre essa porta Natália! – gritou a voz por trás da porta
mais uma vez, em alto e bom som. Então ela se levantou,
cerrou os olhos agora aparentemente decididos, secou seu rosto
com a manga de seu longo vestido branco e encorpado, cerrou
os punhos e os deitou a altura de seus quadris avantajados e
saltou da porta ao meio do quarto, em um impulso tão rápido
que eu esperei por um enorme estampido ao nos chocar, um
contra o outro.
Mas isso não aconteceu. Ela começou a transparecer no
instante em que passou por mim – e eu senti como se tivesse
ganhado algo, e repentinamente no instante seguinte, o
perdido, tão rápido quanto sua passagem – e assim como ela,
os moveis começaram a voar e se desmanchar no alto, as
paredes perdiam a cor, como se houvesse um buraco negro
sugando tudo o que havia dentro do quarto, dando espaço para
um negrume indesejável – até que todo o cenário se esvaeceu
num campo negro. O chão novamente se redesenhou, as
paredes se ergueram simultaneamente, e percebi então que
estava em meu quarto. E sozinho.
Com o corpo pesado, fora pela viagem, ou fora pelo torpor
que finalmente tomava seu lugar de direito, eu queria voltar a
dormir. Então deitei, rondei um ultimo olhar pelo quarto, para
ter certeza de que finalmente acabara por aquela noite e fechei
os olhos.

Abri os olhos na manha seguinte, fitei o quarto ainda escuro


e corri os olhos para o relógio na mesinha ao meu lado. Os
números indicavam seis e vinte da manhã. Voltei o olhar para a
janela estranhando o sol não ter iluminado o quarto a essa hora
da manhã, o quarto que agora estava escuro, continha marcas
de Jullior espalhados, ele não estava no quarto como de
costume, sua cama desarrumada como ele deixava ao ir para a
escola.
Levantei com meu velho salto da cama, passando a mão em
meus curtos cabelos negros e bagunçados – como passara uma
boa parte da minha vida; percorri o trajeto da cama até o
interruptor sem problemas, já estava decorando o caminho que

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evitava as minas terrestres de brinquedos do meu irmão. Mas a
luz não acendeu. Tudo o que eu precisava para deixar meu dia
pior era ter um dia de trabalho péssimo.
Então fui tomar o café sem me pressionar com o restante do
dia, mas não dei outro passo se quer quando vi a porta do
quarto estremecer em minha visão. E repentinamente todo o
quarto ia e vinha em meu encontro, os objetos dançavam a
minha frente; tudo começou a erguer e me arrebatou com o
maior dos impactos que um cômodo poderia causar desabando
em cima de uma pessoa.
E tudo ficou escuro.
Eu. Somente eu, e mais nada. E eu que pensava que só um
dia de trabalho péssimo poderia pesar minha vida, mas eu me
esquecera que eu estava dormindo. Pensava que tinha
acordado. Mas isso tudo fazia parte; meus medos, meus
desejos, as dores, rancores, tristezas e tudo o que um
subconsciente pode oferecer a um ser que deseja manuseá–lo
não poderia se tornar mais perigoso, não mais que isso.
Eu estava lá, sozinho, no escuro e com frio. O que mais
pode atingir qualquer tipo de pessoa? Quem não temeria seus
piores pensamentos reunidos no escuro? Ainda mais quando
eles eram de não viver no escuro. Então uma luz ofuscou meus
olhos a alguns metros de distancia, levei a mão a rosto e olhei
por sob os dedos, era mais forte que de costume. Mais
começou a se aproximar, e juntamente foi ficando mais fraca.
Até que por fim pude tirar a mão do rosto. Mas não tinha mais
nada. A luz se apagara, me deixando no escuro.
Levei as mãos aos braços notando que a temperatura ali
caíra drasticamente após a luz partir; como um sol que se
apagar deixando de existir, levando com ele todo o calor que
vida precisa. E o frio começou a oscilar sorrateiro, ate que não
sentia mais tato em minhas mãos, e fitando–as elas começaram
a desaparecer, e vi que meus pés já haviam partido também,
depois as pernas e os braços, meu pulmão se comprimindo
dentro do meu peito, tudo aquilo apesar de não transparecer, de
parecer não mais existir me causava dor. Eu não tinha mais ar,
e por um instante até procurei meus pulmões, pensando não
estarem mais lá, mas minha dor maior era que eles estavam
mais sua falta de oxigênio me causara mais dor ainda.

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E os ombros já estavam quase negros aos olhos, a visão
falhando aos poucos – dor – tudo desaparecendo de mim –
mais dor – por fim quando a visão finalmente desaparecera por
completo, a única coisa que eu ainda sentira era minha
garganta. Que de qualquer maneira não parecia ajudar muito,
toda a dor que eu sentia em meu peito – agora desaparecido –
viera da pressão causada por ela, que impedia o ar de inflar
para dentro de meus pulmões.
– Thom! – ora, agora meus ouvidos ainda funcionavam
também. A voz que me chamava não era estranha.
– Thom? Responda alguma coisa Thom – mas eu ainda não
conseguia distinguir a voz em meus ouvidos e minha garganta
parecia não emitir som algum. Por mais que eu me esforçasse
para falar, tudo o que eu conseguia era aumentar a dor que me
atingira tão lentamente.
Após alguns instantes, por fim, a dor começou a cessar e a
voz passou a ficar distante, “oomm” – eu não ouvira mais as
palavras por completo – nem as de meus pensamentos. E voz
se distanciava cada vez mais e mais, até que a dor sumira por
completo, eu não sentira mais parte alguma de meu corpo, e
um breve e ultimo suspiro revelou–se, como um ultimo ato, e
senti novamente minha garganta, por um curto e breve
momento.
A reação automática causada pelo instinto – que foi o que
restou naquele momento – foi totalmente instantânea, dando–
me tempo de soltar o que pareceu um urro quando a voz falhou
seguida pela única palavra que qualquer ser diria num
momento como esse. “nãaaoooo...”

– Thom – ouvi Esthephy – que esta acontecendo?


– Eu, ela... Eu estava... – respirei fundo – sem ar – assim
como o ar que estava fraco, a ultima palavra quase falhou.
– Você esta bem? Quer dizer, foi só um pesadelo certo?
Por um momento desejei que eu estivesse fazendo essa
pergunta, mas eu já sabia a resposta dela.
– Foi claro. Um pesadelo muito estranho. – mais do que eu
conseguiria explicar, isso eu sabia.
– Quer falar sobre isso? – sugeriu Esthephy.
– Não. Tudo bem. Por enquanto não.

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– Tudo bem. – não estava nada bem.
Eu não conseguia entender o porquê a garota que me
chamava tanto à atenção, me causava tanto aflito durante as
noites que se passavam. Mais de dois meses passaram e Ana
ainda não havia aparecido. Eu já pensara o pior quando Selly
chegou ao bar, na manhã de sábado, com o rosto tempestuoso,
falando sobre uma pequena reunião de amigos que ela
pretendia fazer na casa de uma prima sua.
– Oi – suspirou ela com os olhos fitando o balcão, não me
encarava – tudo bem?
– Bom – respondi automaticamente – na verdade eu acho
que sou eu quem precisa fazer essa pergunta. Aconteceu
alguma coisa?
Ela ainda na me encarara.
– Na verdade – começou ela – aconteceu algo, mas eu
queria falar sobre isso somente hoje à noite, se não tiver nada
para fazer. Vamos nos reunir lá as oito – continuava, com sua
língua de ferro de volta à ativa, mas ainda com o rosto fechado
– e penso que depois dos dias que eu aluguei seu ouvido na
ausência da Ana – a expressão dela pareceu mudar ao tocar no
nome dela – e decidi que você merece uma promoção do seu
cargo de amigo, entrando como vip nessa reunião.
– Ok – caçoei – preciso levar meus relatórios dos dessa
semana, ou será um balanço geral, porque eu não tive tempo de
preparar o desse mês?
Então pude flagrar um pequeno sorriso querendo brincar de
um canto ao outro em seus lábios, enquanto ela tentava
esconde–lo.
– Bobo – devolveu Selly – vai ser um balanço anual –
tentou entrar na brincadeira.
– E qual seria o assunto desse encontro? – essa fora a pior
pergunta que eu havia feito. Ainda porque, estranhamente, eu
praticamente já a sabia, ou pensava que sabia da resposta dela.
– Nada demais – cantarolou ela – amigos se juntam para
conversar não é verdade? – enfatizou – ou assim penso que
seja o certo.
– Verdade, para ser sincero eu não gosto muito dos
telefones.

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– Mas se você não quiser ir eu vou entender – sua face
agora estava totalmente controversa a que adentrou o bar com
ela – só imaginei que gostaria de conversar – continuou – eu
gosto.
– Eu sei disso – brinquei novamente – pode ter certeza.
E realmente sabia. Ela não parara de falar no ultimo mês, na
ausência de Ana, que estranhamente sumiu do mundo. Na
ultima quarta–feira quando estava passando defronte a sua
casa, resolvi tentar. Porque não, sua mãe estava sempre em
casa, depois que Ana havia me contado que acabara ganhar
Julia, sua irmã mais nova.
Sofia – mãe de Ana – era muito reservada, mal falava
comigo para comprar ou para pedir a conta quando passava por
aqui, vez ou outra ao sair do jornal local onde trabalhara.
Parava em frente ao balcão, fazia seu pedido, com os olhos
pouco abaixo do meu queixo, pagava e saia. Uma única vez
seu olhar tropeçou ao meu, e tive a repentina sensação que suas
têmporas coravam enquanto ela abria a lata de refrigerante com
a cabeça cabisbaixa.
Fechei o bar e corria até minha casa, me atrapalhando no
portão – o que era comum até quando eu não tinha pressa –
meu molho de chaves continha da chave do meu quarto, até a
do caixa do bar.
Abri a porta da cozinha ao chegar, minha mãe colocando as
panelas de vidro – as coisas que ela mais adorava dentro de
casa – sobre a mesa. Sentados apostos estavam Esthephy e
Jullior.
– Oi mano – disse Jullior afastando a cadeira com palmadas
no estofado – senta aqui.
– Olá querido, chegou na hora certa – disse minha mãe – o
jantar acabou de sair.
– E eu também – logo interrompi para não desistir do ato –
desculpe. Mas na verdade também não estou com fome agora.
– e isso era verdade. Mas por mais que estivesse sem fome, e
eu sabia o porquê; eu não resistiria a sua comida que, não por
ser de mãe, mas era a melhor que eu já tivera até agora.
– Olha só quem resolveu aparecer – insinuou ela.
– A namorada do Thom voltou de viagem, o Thom vai
namora de novo – cantarolou Jullior.

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