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Conceição Gomes
Coordenadora
Equipa de Investigação:
Paula Fernando
Diana Fernandes
José Reis
Carla Soares
Hugo Rascão
Lara Dias
Catarina Trincão
Pedro Abreu
Observatório Permanente
da Justiça Portuguesa
31 de Janeiro de 2008
http://opj.ces.uc.pt
Relatório síntese relativo à monitorização da reforma dos Códigos Penal
e de Processo Penal em realização do contrato de prestação de serviços
celebrado entre o Centro de Estudos Sociais, no âmbito do Observatório
Permanente da Justiça Portuguesa, e a Direcção Geral da Política de
Justiça.
Observatório Permanente
da Justiça Portuguesa
31 de Janeiro de 2008
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Índice
Índice................................................................................................................... i
1. Introdução ...................................................................................................... 1
O contexto do programa de monitorização ................................................. 1
Os diagnósticos dos problemas da justiça .................................................. 2
As principais linhas e objectivos do programa de monitorização ................ 3
O relatório ................................................................................................... 6
2. O Programa do XVII Governo Constitucional ................................................. 9
3. A Unidade de Missão para a Reforma Penal ............................................... 11
4. O Acordo Político Parlamentar para a Reforma da Justiça .......................... 14
5. A revisão do Código Penal ........................................................................... 17
A discussão na Assembleia da República................................................. 29
6. O Projecto de revisão do Código de Processo Penal................................... 32
A discussão na Assembleia da República................................................. 47
7. Os pareceres das diferentes instituições...................................................... 62
7.1 Conselho Superior da Magistratura ........................................................ 62
Código Penal............................................................................................. 63
Código de Processo Penal........................................................................ 68
7.2. Procuradoria-Geral da República .......................................................... 77
Código Penal............................................................................................. 77
Código de Processo Penal........................................................................ 82
7.3. Ordem dos Advogados .......................................................................... 99
Código Penal............................................................................................. 99
Código de Processo Penal...................................................................... 101
7.4 Conselho dos Oficiais de Justiça .......................................................... 102
7.5. Associação Sindical dos Juízes Portugueses...................................... 103
Código Penal........................................................................................... 103
Código de Processo Penal...................................................................... 106
7.6. Sindicato dos Magistrados do Ministério Público................................. 113
Código Penal........................................................................................... 113
7.7. Pareceres de outras Instituições.......................................................... 120
Instituto de Medicina Legal...................................................................... 120
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
1. Introdução
O contexto do programa de monitorização
O trabalho de monitorização das alterações aos Códigos Penal e de
Processo Penal, cujo programa, de forma abreviada, adiante se apresenta, não
pode perder de vista o contexto social e político do desempenho funcional do
sistema judicial globalmente considerado e, consequentemente, da aplicação
da nova reforma.
Um dos aspectos mais relevantes deste contexto é o crescente
protagonismo social e político que o sistema judicial tem vindo a adquirir desde
finais da década de 80 do século passado. O efeito mais visível é a frequência
com que a justiça está no centro da agenda mediática. Tal como acontece em
muitos outros países, é crescente o interesse dos meios de comunicação social
sobre os temas e os protagonistas do mundo judiciário, colocando-os, com
frequência, nas primeiras páginas dos jornais. São múltiplas as razões para
este protagonismo, que não cabe aqui analisar. Mas, desde logo, no seu lastro
está a ideia de que o direito e o sistema judicial constituem factores decisivos
do desenvolvimento económico e social e da vida colectiva democrática. Em
consequência, o sistema judicial passou a sentir a forte pressão social sobre si
exercida para dar resposta às necessidades de eficácia e eficiência do mundo
dos negócios; à insegurança dos cidadãos, seja a insegurança decorrente da
precarização dos direitos económicos e sociais (no trabalho, na saúde, na
segurança social), do aumento dos riscos públicos ou da pequena e média
criminalidade que todos os dias afecta os bens e a integridade física de muitos
cidadãos; mas, também, para responder à grande criminalidade, com particular
destaque para o tráfico de pessoas e de bens e para a corrupção. É cada vez
mais forte a pressão da opinião pública sobre o sistema judicial para agir contra
o que considera a “tradicional” impunidade dos poderosos. Para além das
funções instrumentais de resolução de litígios e de controlo social, aos tribunais
passou, assim, a ser atribuído um importante papel político e simbólico, que
acaba por transformá-los num elemento importante de sustentação da
legitimidade do poder do Estado.
Mas, este contexto obriga os tribunais, não só a lidar com novas
situações de tensão institucional entre os diferentes poderes, mas também a
ter que enfrentar os limites operativos que dificultam o exercício das suas
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Contudo, queremos, desde já, deixar aqui uma nota a dar conta da
pronta colaboração de todas as instituições solicitadas e do nosso grato
reconhecimento.
Esta monitorização, que teve o seu início no passado mês de Novembro
irá decorrer até finais de Maio de 2009 e os seus resultados constam de
relatórios-síntese trimestrais de ponto da situação, de dois relatórios semestrais
de progresso, a apresentar em 30 de Maio e 28 de Novembro de 2008 e de um
relatório final em 29 de Maio de 2009. A informação e análises integradas em
cada relatório dizem respeito a um segmento do programa de monitorização,
constituindo informação base para a fase seguinte do programa.
O relatório
O relatório que agora se apresenta é o primeiro relatório trimestral. Este
relatório tem dois objectivos centrais. O primeiro, é dar a conhecer, de forma
sistematizada, o processo de preparação da reforma, incluindo as posições
tomadas sobre as soluções apresentadas por diferentes entidades. O segundo
é analisar o debate público sobre a reforma, quer o veiculado pela imprensa
escrita, quer pelas entidades e pessoas que promovem o debate especializado.
Damos, assim, conta dos processos de revisão dos Códigos Penal e de
Processo Penal, desde a apresentação do Programa do XVII Governo
Constitucional, passando pelo Acordo Político-Parlamentar para a Reforma da
Justiça, constituição da Unidade de Missão para a Reforma Penal, propostas
de lei do Governo, seus objectivos (de que forma a prática se irá afastar dos
objectivos pretendidos é uma das questões centrais em avaliação), até à leis
que foram publicadas em Diário da República.
Procuramos, ainda, com recurso aos elementos que nos foi possível
obter, dar a conhecer, não só, as diferentes posições dos partidos políticos, em
especial, relativamente aos institutos da prisão preventiva, escutas telefónicas,
localização celular e segredo justiça, mas também, das instituições que, ao
longo do processo, foram chamadas a pronunciarem-se, quer no que respeita à
Proposta de Lei do Governo, quer no âmbito da Assembleia da República.
Sabemos que esta análise não é exaustiva. Há elementos, designadamente as
actas da Unidade de Missão, que não foi possível conhecer em tempo de
serem analisados neste relatório, mas cuja análise será feita no próximo a
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Refira-se que a própria Resolução determinava que a “participação na UMRP dos elementos
do conselho se insere no âmbito das funções que exercem, não auferindo remuneração
adicional”.
2
Discurso de tomada de posse do Coordenador da Unidade de Missão da Reforma Penal, Rui
Carlos Pereira, Lisboa 11 de Agosto de 2005.
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Segue-se, de perto, o texto da exposição de motivos.
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Também aqui se segue de perto o texto da exposição de motivos.
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prova sempre que, neste último caso, a revelação não puser gravemente em
causa a investigação, a descoberta da verdade ou direitos fundamentais.
O período nocturno, durante o qual o arguido só pode ser interrogado na
sequência de detenção e se ele próprio o solicitar ou estiverem em causa
crimes especialmente graves, passa a situar-se entre as 0 e as 7 horas – e não
entre as 0 e as 6 horas – harmonizando-se este último limite com o que é
acolhido para efeitos de buscas domiciliárias. De modo inovador e para evitar o
arrastamento ilimitado do interrogatório, prescreve-se que este tenha uma
duração máxima de 4 horas, findas as quais só poderá ser retomado por um
novo período máximo idêntico, durante o mesmo dia, após um intervalo mínimo
de 60 minutos.
Alarga-se a assistência obrigatória do defensor aos casos de
interrogatório sempre que o arguido é cego ou está detido ou preso. Quando
for estrangeiro o arguido tem o direito de escolher intérprete para traduzir as
conversações com o seu defensor.
O prazo para constituição de assistente nos crimes particulares é
alargado de 8 para 10 dias, atendendo à sua exiguidade. Para reforçar a
posição do assistente, prevê-se expressamente que ele se pode fazer
acompanhar de advogado em todas as diligências em que intervier.
Consagra-se com maior amplitude o princípio da publicidade. Assim, no
decurso do inquérito, o Ministério Público pode determinar a publicidade
“externa”, mediante requerimento ou com a concordância do arguido, se a
cessação do segredo não prejudicar a investigação e os direitos de sujeitos e
vítimas. No entanto, se o arguido requerer a publicidade e o Ministério Público
a não conceder, cabe ao juiz decidir, por despacho irrecorrível, sobre a
continuação ou a cessação do segredo.
Durante a instrução, apenas o arguido se pode opor à publicidade. Mas,
também, o “segredo interno” é restringido. No âmbito do inquérito é facultado o
acesso aos autos ao arguido, ao assistente e ao ofendido, ressalvadas as
hipóteses de prejuízo para a investigação ou para os direitos dos participantes
ou das vítimas. Também nesta hipótese, cabe ao juiz de instrução criminal a
última palavra no caso de o Ministério Público não facultar o acesso aos autos.
Findos os prazos do inquérito, o arguido, o assistente e o ofendido podem
consultar todos os elementos do processo, a não ser que o juiz de instrução
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prazo. Para evitar que a prisão preventiva se possa perpetuar, estipula-se que
os prazos previstos para essa medida não podem ser ultrapassados quando
existir pluralidade de processos.
Tendo ainda em conta a excepcionalidade da prisão preventiva,
restringe-se a sua aplicação a casos de crimes dolosos puníveis com prisão
superior a 5 anos. Porém, dada a circunstância de alguns fenómenos criminais
especialmente graves serem puníveis com pena de limite máximo inferior,
alarga-se o catálogo de crimes, segundo um critério qualitativo que abarca
crimes dolosos de terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada,
puníveis com prisão superior a 3 anos. Também se prevê a aplicação de prisão
preventiva em casos de violação grave da obrigação de permanência na
habitação, mesmo que ao crime corresponda pena de prisão de máximo igual
ou inferior a 5 anos (e superior a 3).
Esclarece-se que não existe relação de litispendência ou caso julgado
entre o recurso e a providência de habeas corpus. Determina-se, ainda, que é
irrecorrível a decisão que indeferir a aplicação, revogar ou declarar extintas as
medidas de coacção.
Tomando em linha de conta a jurisprudência do Tribunal Constitucional,
prescreve-se que a decisão que mantiver a prisão preventiva ou a obrigação de
permanência na habitação não determina a inutilidade superveniente de
recurso interposto de decisão prévia que haja aplicado ou mantido essa mesma
medida.
Para além dos casos já contemplados, atribui-se o direito de ser
indemnizado a quem tiver sofrido detenção, prisão preventiva ou obrigação de
permanência na habitação e não for condenado por não ter sido o agente do
crime ou por ter actuado justificadamente. Apesar de a medida de privação da
liberdade ter sido correctamente aplicada, considera-se justo que o Estado de
direito assuma a responsabilidade pelos danos sofridos por arguidos inocentes.
Prescreve-se, ainda, que o tribunal informe o ofendido da data em que a
libertação do arguido terá lugar, quando esta possa criar perigo, regime que é
extensível aos casos de fuga e libertação de presos.
Continua a prever-se que os órgãos de polícia criminal transmitem a
notícia do crime ao Ministério Público no mais curto prazo, mas acrescenta-se
que esse prazo não pode exceder dez dias. Determina-se que a denúncia
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existirem alguns fenómenos criminais graves que são puníveis com pena de
limite máximo inferior a 5 anos, alargou-se o catálogo de crimes, abrangendo
os crimes dolosos de terrorismo, criminalidade violenta ou altamente
organizada, puníveis com prisão superior a 3 anos. Acresce que também se
propôs a aplicação da prisão preventiva em casos de violação grave da
obrigação de permanência na habitação, mesmo que ao crime corresponda
pena de prisão de máximo igual ou inferior a 5 anos e superior a 3 (artigo
202º).
Neste domínio, é de notar a importante alteração na definição dos
requisitos gerais de aplicação das medidas de coacção, em que se passou a
exigir que a perturbação da ordem e da tranquilidade públicas fossem
imputáveis ao arguido (artigo 204.º).
Relativamente, ao reexame dos pressupostos da prisão preventiva
prevê-se que haja lugar à avaliação destes quer, de 3 em 3 meses, quer
quando no processo forem proferidos despacho de acusação ou de pronúncia
ou decisão que conheça do objecto do processo e não implique a extinção da
própria medida (artigo 213.º).
Em relação à extinção das medidas de coacção, sublinha-se a proposta
governamental no sentido de que as medidas de prisão preventiva e de
obrigação de permanência na habitação também se extinguem quando for
proferida sentença condenatória, ainda que dela tenha sido interposto recurso,
se a pena aplicada não for superior à prisão ou à obrigação de permanência já
sofridas (artigo 214.º).
Os prazos de duração máxima da prisão preventiva também foram
alterados. De forma geral os prazos são reduzidos. O Governo justifica esta
medida para acentuar o carácter excepcional da prisão preventiva. No entanto,
se o arguido já tiver sido condenado em duas instâncias sucessivas, o prazo
máximo eleva-se para metade da pena que tiver sido fixada (artigo 215.º).
Os partidos, salvo algumas excepções, votaram a favor das alterações
propostas. O PS, PSD e o CDS-PP votaram a favor dos requisitos de
aplicabilidade do regime da prisão preventiva previstos para o artigo 202.º. O
BE absteve-se, não obstante também prever no seu Projecto de Lei 369/X a
aplicabilidade deste regime quando houver fortes indícios de prática de crime
doloso punível com pena de prisão de máximo superior a cinco anos, a título
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crimes de coacção sexual e violação previstos nos artigos 163.º, n.2 e 164.º,
n.º4 do Código Penal, e de abuso sexual de menores dependentes (artigos
173.º, n.2 e 3) não estarem abrangidos pela possibilidade de utilização de
escutas telefónicas, em virtude de se tratarem de crimes com moldura penal
abstracta ou com pena inferior a 3 anos. Por sua vez, o PSD em sede de
plenário alegou, em resposta, que existem vários crimes sexuais abrangidos
pelas escutas telefónicas, com moldura penal superior a 3 anos, indicando os
crimes de coacção sexual, violação, abuso sexual de pessoa incapaz de
resistência, abuso sexual de pessoa internada, lenocínio, abuso sexual de
crianças, abuso sexual de menores dependentes, lenocínio de menores,
pornografia de menores.
O corpo do n.º2 do artigo 187.º que define as entidades competentes a
quem se deve solicitar a autorização para as escutas telefónicas em
determinados crimes, corresponde praticamente na íntegra à redacção anterior,
apenas se tendo retirado o inciso “a ordem”. O PS, PSD e o CDS-PP votaram a
favor, e o PCP e o BE abstiveram-se. O PCP e o BE propunham, através dos
respectivos Projectos de Lei, a manutenção da redacção anterior.
Ao elenco dos crimes previstos no artigo 187.º, n.º2, acrescentam-se os
crimes de sequestro, rapto e tomada de reféns (alínea b) e os crimes contra a
identidade cultural e integridade pessoal, previstos no Título III do Livro II do
Código Penal, e previstos na Lei Penal relativa às Violações do Direito
Internacional Humanitário (alínea c). O PS, PSD e CDS-PP votaram a favor das
alíneas b) e c), e o PCP e o BE abstiveram-se. Estes dois partidos não
propuseram nos respectivos Projectos de Lei alterações a este artigo.
Define-se em relação aos casos previstos no n.º2 que a autorização é
levada, no prazo máximo de 72 horas, ao conhecimento do juiz do processo, a
quem cabe praticar os actos jurisdicionais subsequentes (n.º3 do artigo 187.º).
O PS, PSD e CDS-PP votaram a favor desta proposta, o BE votou contra e o
PCP absteve-se.
As escutas passam a ser limitadas a suspeitos, arguidos, intermediários
e vítimas, neste caso, mediante o consentimento efectivo ou presumido (n.º4
do artigo 187.º). O PS, o PSD e o CDS-PP votaram a favor desta medida e o
PCP e o BE abstiveram-se. O Projecto de Lei 370/X (PCP) circunscrevia as
escutas a suspeitos, arguidos ou pessoas em relação às quais seja possível
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medida foi aprovada com os votos a favor do PS, PSD e CDS-PP, e os votos
contra do PCP e BE.
Outra alteração da proposta de substituição subscrita pelo PS e pelo
PSD à proposta do Governo é a exigência de fundamentação pela autoridade
judiciária quando ordenar ou permitir que seja dado conhecimento a
determinadas pessoas do conteúdo de acto ou de documento em segredo de
justiça (n.º 13 do artigo 86.º). Esta proposta e o restante articulado foram
aprovados com os votos a favor do PS, PSD e CDS-PP e a abstenção do PCP
e BE.
Neste campo, sublinha-se o facto de o PCP ter apresentado uma
proposta de alteração ao artigo 86.º, em sede de plenário no dia da votação
final global. As alterações, entre outras, incluíam a previsão de reclamação
hierárquica ou recurso da decisão prevista no n.º 5 do artigo 86.º e que o
segredo de justiça não prejudicava a prestação de esclarecimentos aos
assistentes e aos queixosos sobre o andamento das investigações. O PCP em
sede de plenário manifestou a sua discordância às alterações efectuadas ao
instituto do segredo de justiça, criticando o alargamento do princípio da
publicidade a todas as fases do processo e o facto de o segredo de justiça não
ser admitido, sequer como excepção, na fase de instrução, atenta a
possibilidade de realização de investigações nesta fase. Por outro lado,
defendeu que o papel do MP é subvertido, em virtude de a sua decisão de
submeter o processo a segredo de justiça ser sujeita à validação pelo juiz de
instrução, que decide por despacho irrecorrível. No entender do PCP esta
medida não corresponde à concepção do MP como autoridade judiciária que
dirige o inquérito, transformando o MP em parte processual. Este partido
criticou ainda o facto de se incluir uma norma que, no entender do PCP,
esconde a violação do segredo de justiça, que responsabiliza os jornalistas que
divulgam a informação, mas não pune quem efectivamente violou o segredo de
justiça.
O PSD defendeu que a regra em segredo se justiça, passou a ser,
efectivamente, a da publicidade do processo e que o juiz de instrução só
quebra esta regra se considerar que a publicidade prejudica os direitos do
arguido, do assistente e do ofendido. Por outro lado, o PSD alegou que o
segredo de justiça vincula todos os sujeitos e participantes processuais, bem
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Esta proposta foi aprovada com os votos a favor do PS, PSD, CDS-PP, e
contra do PCP e BE.
Foi feita uma proposta de substituição, subscrita pelo PS e pelo PSD,
dos n.ºs 4 e 6 do artigo 89.º, que foram discutidos e votados na reunião
plenária da comissão do dia 18 de Julho. Quando o processo se tornar público,
nos termos dos n.ºs 1, 4 e 5, o arguido, o assistente, o ofendido, o lesado e o
responsável civil podem requerer à autoridade judiciária competente o exame
gratuito dos autos fora da secretaria (n.º 4 do artigo 89.º). Esta proposta foi
aprovada com os votos a favor do PS, PSD, CDS-PP e a abstenção do PCP e
BE.
Quando decorrerem os prazos máximos de inquérito, o arguido, o
assistente e o ofendido podem consultar todos os elementos do processo que
se encontre em segredo de justiça. No entanto, o juiz de instrução pode
determinar, a pedido do MP, que o acesso aos autos seja adiado pelo período
máximo 3 meses. Enquanto que a proposta governamental definia que este
prazo era improrrogável, a proposta subscrita pelo PS e PSD que foi aprovada
prevê que este prazo pode ser prorrogado, por uma só vez, nos casos de
terrorismo, criminalidade violenta, criminalidade especialmente violenta e
criminalidade altamente organizada, por um prazo objectivamente
indispensável à conclusão da investigação (n.º 6 do artigo 89.º do CPP). Esta
proposta foi aprovada com os votos a favor do PS e do PSD, e a abstenção do
PCP, CDS-PP e BE.
O processo de reforma culminou com a publicação da Lei n.º 48/2007
de 29 de Agosto, no Diário da República, I Série, n.º 166, que procedeu à 15ª
alteração ao Código de Processo Penal cuja entrada em vigor foi estabelecida,
conforme o artigo 7.º, para 15 de Setembro de 2007.
Posteriormente, a Lei foi objecto de duas rectificações, através das
Declarações de Rectificação n.º 100-A/2007, de 26 de Novembro, e 105/2007,
de 9 de Novembro.
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Referimos os documentos a que tivemos acesso. Não foi possível, neste período, verificar
junto de todas as entidades se existem ou não outros documentos. Caso tal se venha a
verificar, essa informação será complementada no próximo relatório.
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Código Penal
Em termos gerais, o CSM considera que a revisão do Código Penal se
justificava pela necessidade de adaptação do Código a uma nova realidade
social. Contudo, as soluções que constavam da proposta de lei em análise não
eram passíveis de se considerarem estruturantes de um novo direito penal.
Salientava apenas duas excepções: as normas que consagram a
responsabilidade penal das pessoas colectivas e a previsão da possibilidade do
cumprimento de penas privativas da liberdade em regime de permanência na
habitação.
Concluía pelo que podemos designar de alguma tensão na filosofia do
novo regime: por um lado, algum endurecimento do sistema penal substantivo,
designadamente com a neocriminalização e agravamento da responsabilidade
penal de algumas condutas; por outro, a suavização do sistema em
determinados aspectos, como o regime da concessão da liberdade condicional
em caso de crimes contra pessoas ou de crimes de perigo comum ou a
ampliação da medida de pena de prisão passível de suspensão na sua
execução.
Assim, numa análise geral, o CSM considerou não poder deixar de
manifestar um sinal claro de aprovação às propostas de alteração, ainda que
pontualmente merecessem alguns reparos ou críticas, que, em síntese, se
enunciam:
Parte Geral
• Artigo 2.º, n.º 4 – A possibilidade de aplicação de lei mais favorável posterior ao
trânsito em julgado da sentença coaduna-se com o espírito da lei constitucional,
nomeadamente com o artigo 29.º, n.º4 da CRP. Todavia, potencia situações de
difícil tratamento jurídico, uma vez que afecta a segurança e estabilidade das
decisões judiciais. O preceito legal deve clarificar se a aplicação da lei mais
favorável só se verifica relativamente a casos em que se determine a cessação da
pena, em virtude de parte da pena já cumprida atingir o máximo da pena prevista
no regime mais favorável, ou se se estende a todos os casos em que a lei for mais
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• Artigo 43.º - Concorda-se com o aumento da pena de prisão que deverá ser
substituída por multa ou pena não privativa da liberdade, no entanto, chama-se à
atenção para a possibilidade de um incremento das penas curtas de prisão, por
força do aumento do quantitativo da pena de multa. Apesar da melhoria introduzida
na redacção do n.º 3, combatendo algumas críticas de favorecimento a certas
categorias de políticos, defende-se a transformação do poder-dever do juiz aí
previsto, numa sua mera faculdade. O n.º 7 suscita dúvidas na sua formulação,
podendo originar situações em que, cometido um crime pelo condenado, durante a
execução da pena de substituição, revogada esta, a pena de prisão substituída não
seria cumprida, se o tempo de execução da pena de substituição consumir o a
pena substituída.
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• Artigo 47.º, n.º 2 – O aumento do limite mínimo do valor diário da multa poderá
conduzir a um aumento das penas de curta duração, que devem ser consideradas
como um mal a evitar.
• Artigo 80.º - A solução vai ser de difícil tratamento por não ter sido estabelecida
qualquer limitação, para além das dificuldades práticas de comunicação entre os
processos. A solução deve ser revista.
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• Artigo 116.º, n.º 4 – Este preceito é questionável pois ninguém garante que aos 16
anos o jovem já tenha maturidade para desistir da queixa, quando não a tinha 2
meses antes, bem como é questionável o direito à desistência se o arguido for pai
ou mãe do menor.
Parte Especial
• Artigo 152.º - A sua sistemática é deficiente pois abrange pessoas que não
coabitam com o agente do crime. O n.º 2 não tem sentido quando a vitima é o
menor que coabita com o agente, pois não há nenhum elemento novo no tipo que
justifique a agravação. O n.º 5 é uma boa solução, mas peca por não enunciar os
pressupostos da sua aplicação. A aplicação desta medida, face aos meios de
controlo existentes, pode gerar um resultado inverso ao pretendido, possibilitando
ao agressor aproximar-se da vitima, sem ser detectado.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 260.º - A precisão das pessoas a quem se aplica esta norma deve ser
concretizada no texto normativo.
• Artigo 274.º - Correspondia ao tipo de crime energia nuclear (actual artigo 273.º),
cuja redacção era criticada pelo CSM, considerando-a equívoca.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 290.º - Parece haver discrepâncias nas penas previstas nos n.ºs 2 e 3
quanto aos respectivos limites mínimos. Não se compreende que no n.º 3 o limite
mínimo seja de 2 anos, enquanto que no n.º 2 seja de 1 ano. Deverá corrigir-se
esta contradição.
• Artigo 291.º, n.º 2 – É de aplaudir este preceito que sanciona as práticas de street
racing.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 61.º - Justifica-se a consagração do direito do arguido ser informado dos factos
que lhe são imputados antes de prestar declarações perante qualquer entidade, face a
procedimentos diferentes que possam ocorrer num concreto processo judicial.
• Artigo 64.º - A solução é coerente com a provável inutilidade total do resultado desse
acto em sede de julgamento. Todavia, outra solução, noutro modelo de contraditório,
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
poderia tornar aproveitáveis esses actos. O novo n.º 4 não serve quaisquer finalidades
do processo penal, apenas encoraja à opção por advogado constituído.
• Artigo 92.º - Aceita-se a norma constante do n.º 3 que visa a protecção e a realização
dos direitos de defesa do arguido, mas de pouca utilidade prática e com custos
desnecessários.
• Artigo 141.º - O n.º 1 é visto como garante da defesa dos direitos do arguido. Mas,
analisado em confronto com o previsto no artigo 194.º, verifica-se que se consagram
regimes que não são inteiramente coincidentes: no primeiro interrogatório judicial, o juiz
só pode omitir a comunicação dos indícios existentes no processo quando tal puser em
causa a investigação; enquanto no despacho de aplicação da medida de coacção só
fica dispensado de enunciar esses indícios quando isso puser gravemente em causa a
investigação. Importa clarificar esta situação através de uma uniformização de
soluções.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 194.º - Entende-se que o JIC deve poder aplicar a medida de coacção
legalmente oportuna e tida por adequada, independentemente da proposta pelo MP, já
que a pode sustentar em interesses que transcendem os fins da investigação.
Concorda-se que num processo penal subordinado ao princípio do acusatório, o JIC
não possa recorrer a factos diferentes daqueles que são oferecidos pelo MP para
fundar a aplicação da medida de coacção. Mas a valoração jurídico-penal desses
factos deveria caber ao JIC, não devendo estar condicionada pela apreciação do
acusador.
• Artigo 200.º - Considera-se que o preceito não contém qualquer contradição na sua
formulação.
• Artigo 246.º - Os novos n.ºs 5, 6 e 7 evitam que toda e qualquer denúncia sob
anonimato dê origem a um inquérito. É uma norma de utilidade inequívoca na prática
judiciária, pois o MP, perante denúncias anónimas de crimes, mesmo sem suporte
factual ou de credibilidade, não estava dispensado de abrir inquérito, sabendo à partida
da sua total falta de justificação.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 289.º - A solução faculta a participação dos sujeitos processuais nas diligências
instrutórias, proporcionando um conteúdo mais útil a uma fase que, pela sua natureza,
é contraditória.
• Artigo 310.º - A norma reforça a natureza intercalar desta fase processual, nos casos
de pronúncia, como uma fase de pura transposição das questões para julgamento.
• Artigo 328.º - Concorda-se com a alteração proposta para o n.º 4, que veio eliminar o
segmento normativo, segundo o qual seria necessário, em casos de reinicio da
audiência, após interrupção há mais de 8 dias, que o tribunal decidisse, de imediato, se
deveriam ser repetidos alguns actos.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 400.º - O n.º 3 da proposta consagra solução contrária à fixada pelo Assento
1/2002, que estabeleceu que não cabe recurso final para a Relação, relativo à
indemnização cível, se for irrecorrível a correspondente decisão penal.
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• Artigo 414.º - O n.º 7 tem a vantagem de tornar claro que o reexame dos pressupostos
da prisão preventiva não é feito no tribunal de recurso.
• Artigo 419.º - Apesar de se prever no n.º 3, alínea a), que o recurso é julgado em
conferência quando tenha sido apresentada reclamação da decisão sumária prevista
no n.º 6 do artigo 417.º, o CSM defende que não será necessariamente assim.
• Artigo 424.º - A norma proposta para o n.º 3, na parte em que se refere à alteração da
qualificação jurídica, é de grande utilidade, pois são frequentes os casos em que o
tribunal de recurso discorda da qualificação operada na decisão recorrida
• Artigo 446.º - Não se vê razão para que este recurso não tenha o mesmo tratamento
dos recursos ordinários, salvo a obrigatoriedade para o MP de o interpor.
Código Penal
Relativamente à revisão do Código Penal, a Procuradoria-Geral da
República elaborou dois documentos de maior relevo: um intitulado Proposta
de Lei de revisão do Código Penal, aprovada em Conselho de Ministros –
Comentários do Gabinete; e um outro remetido à Assembleia da República,
relativa à Proposta de Lei de revisão do Código Penal, entrada na Assembleia
da República em 12 de Outubro de 2006.
No primeiro documento identificado, que se pode subdividir
genericamente em quatro secções: uma relativa às disposições gerais; uma
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 2.º, n.º 4 – Esta alteração vai de encontro àquilo que parte da doutrina vinha
defendendo relativamente a um aumento do alcance do princípio da aplicação
retroactiva da lei mais favorável ao arguido. Todavia, a proposta não mantém, de forma
explícita, a ressalva dos efeitos produzidos pelo trânsito em julgado. Assim, seria
conveniente, para evitar futuras discussões, que esta redacção fosse clarificada neste
sentido. Esta proposta de alteração, em termos substanciais, não se enquadra no
princípio da aplicabilidade em bloco do regime mais favorável, o que poderá vir a
provocar dúvidas de interpretação e de aplicação. Outra questão suscitada por esta
nova redacção prende-se com o inciso “os seus efeitos penais” que pode ser tomado
numa acepção que não reflecte o pretendido no âmbito da proposta, isto é, poderá vir a
considerar-se a cessação de todos e quaisquer efeitos de índole penal que tenham
sido produzidos pela condenação em execução, incluindo as menções inscritas no
registo criminal, quando a intenção do legislador era apenas referir-se ao quantum da
pena aplicada. Pelo que, também aqui conviria alterar a redacção desta proposta de
alteração de modo a evitar possíveis interpretações indesejáveis.
• Artigo 5.º, n.º 1 – As alterações propostas para este dispositivo são algo extensas e de
intencionalidade político-criminal diversificada, sendo que a inovação que mais críticas
merece consta da nova alínea g), do n.º 1. Esta inovação teve por base a projectada
revisão da responsabilização criminal das pessoas colectivas e estaria aqui
aparentemente em causa o princípio da personalidade activa. Este princípio justificar-
se-ia no caso das pessoas colectivas dada a inviabilidade da sua extradição. Mas,
apesar de, à primeira vista, esta inovação parecer lógica, poderá questionar-se até que
ponto se justificará a ilimitada extensão da responsabilização extraterritorial das
pessoas colectivas face àquilo que é previsto para as pessoas singulares nos mesmos
casos, sendo criado, desta forma, uma manifesta desigualdade material entre estas
duas categorias de pessoas. Assim, seria aconselhável que fosse expressamente
previsto que a lei penal portuguesa apenas se aplicasse extraterritorialmente aos
crimes praticados por pessoas colectivas, nas mesmas circunstâncias em que seria
aplicável a pessoas singulares, com as necessárias adaptações. No que respeita ao
aos crimes cometidos contra pessoa colectiva (outro segmento da alínea g)), as críticas
são ainda mais prementes, desde logo porque a justificação para a consagração
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
irrestrita deste princípio quanto às pessoas colectivas não tem por base os
instrumentos de direito internacional. A aplicação extraterritorial da lei penal portuguesa
aos crimes cometidos contra pessoas colectivas não deveria ir além daquilo que é
previsto para os casos em que as vítimas dos crimes sejam pessoas singulares, sob
pena de se estar a violar o princípio da igualdade. Note-se que, nestes casos, as
pessoas colectivas já gozam de protecção penal pela aplicação das várias alíneas do
n.º 1, pelo que dever-se-á ponderar a eliminação do segmento que, na nova alínea g),
se refere aos crimes cometidos contra pessoas colectivas.
• Artigo 11.º - Questiona-se a não inclusão no elenco da proposta de Lei, por exemplo
do crime de burla, p.p. pelo artigo 271.º, do CP, quando a prática judiciária tem
demonstrado existirem inúmeros casos de empresas que se dedicam a este tipo de
infracção, ou no âmbito do qual os seus agentes os praticam, bem como de tipos de
ilícitos criminais de natureza patrimonial ou com repercussão ou cariz económico de
que resultem benefícios para a pessoa colectiva. Consagra-se uma responsabilidade
demasiado ampla ao não se exigir que a responsabilização dependa da circunstância
de a infracção ter sido praticada no interesse da pessoa colectiva. Dever-se-ia
proceder à alteração da redacção de forma a tornar inequívoco que a
responsabilização prevista na alínea b) dependa da circunstância da infracção ter sido
praticada no interesse da pessoa colectiva. Critica-se a exclusão da responsabilização
das pessoas colectivas de direito público e as entidades concessionárias de serviços
públicos, questionando-se a sua conformidade com o princípio da igualdade. É
imprescindível que se crie um registo criminal das pessoas colectivas, para se aferir da
reiteração da prática dos crimes previstos no n.º 2, do artigo 11.º, que é um dos
pressupostos de aplicação da pena de dissolução.
• Artigo 43.º - As alterações previstas para este artigo vão muito além da regra da
substituição por multa ou por outra medida, o que, até à data, era o escopo deste
normativo. Trata-se agora de uma espécie de híbrido entre um caso de suspensão da
execução da pena de prisão e a aplicação de algo similar a uma pena acessória.
Poder-se-á dizer que o regime proposto é útil, na medida em que permite a aplicação,
em casos de pena de prisão inferior a 3 anos, duma medida equivalente a uma pena
acessória de proibição de exercício de funções. O que não se compreende é o alcance
da regra contida no n.º 7, que apenas faria sentido em casos de verdadeira
substituição da pena de pisão por uma outra pena, de equivalente relevo e danosidade.
A aplicação do desconto aí previsto pode vir a conduzir a situações de desigualdade
entre alguém a quem seja aplicado este novo regime e alguém que, não tendo
cometido o crime “em exercício de profissão, função ou actividade pública ou privada”,
visse a pena de prisão que lhe foi aplicada, em idêntica medida, ser suspensa na sua
execução, nos termos do artigo 50.º e seguintes deste Código. Não se vislumbrando
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
qual a razão para esta diferença de regime, conclui-se pela incoerência da solução
proposta, afigurando-se mais consentâneo com o sistema punitivo global e com os
objectivos que terão estado na origem desta revisão legislativa que seja afastada a
aplicabilidade do n.º 7 deste artigo.
• Artigo 61.º - No que respeita a este normativo, as críticas prendem-se com os efeitos
decorrentes da revogação do n.º 4, que vem tornar idêntico o regime da concessão da
liberdade condicional quanto a quaisquer crimes, seja qual for a respectiva gravidade,
atendendo, especialmente, a questões relacionadas com a prevenção geral. Critica-se
ainda a inexistência de diferenciação, consoante os tipos de crime, do regime relativo à
libertação aos dois terços da pena.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
integridade física grave para a vítima ou perigo para a vida ou mesmo a morte da
vítima. Entende-se ser diferente o tráfico de pessoas para a prostituição ou para a
exploração do trabalho e o tráfico com vista a que lhes seja extraído órgãos. A punição
desta última conduta deve espelhar essa diferença, punindo-se mais gravemente o
agente. Chama-se a atenção para o facto de existir um vazio legislativo sobre a
punição autónoma do tráfico/comercialização de órgãos colhidos em vida.
• Artigo 206.º - Critica-se a possibilidade de extinção criminal introduzido pelo novo n.º
1. Está-se perante a implementação de uma justiça restaurativa fundada ou pensada
em termos estritamente civilistas, de indemnização exclusivamente patrimonial, que
põe em causa o princípio da igualdade dos cidadãos. Alerta-se para a incongruência da
previsão e/ou exclusão de tal extinção relativamente a determinados tipos de crime.
Ainda face ao 206.º, n.º 1, o legislador restringiu o âmbito de aplicação da extinção da
responsabilidade criminal, por via da reparação integral ou restituição da coisa
ilegitimamente apropriada, aos crimes de furto qualificado, abuso de confiança
qualificado, dano qualificado e burla qualificada. Deixou de fora a aplicação aos
regimes dos crimes base – de natureza semi-pública.
• Artigo 240.º - Face ao n.º 2, não resulta claro o âmbito da incriminação quando os
actos são praticados através de “sistema informático”, podendo a expressão “ou
através…de meio informático”, por si só, sem intervenção de qualquer elemento que
permita apreender a ideia de difusão, convocar a ideia de que estão abrangidos na
incriminação sistemas informáticos individuais, apenas destinados a uso privado, para
armazenamento de informação, sem qualquer objectivo de divulgação, difusão ou
propagação. Defende-se a alteração da redacção daquele preceito de modo a clarificar
a exigência de difusão, divulgação e propagação.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 11.º, n.º 2, alínea b) – O fim visado por esta norma deveria ser clarificado pela
repartição em duas divisões distintas: uma visando a intercepção e gravação das
conversações/comunicações em que os visados sejam os referidos representantes do
Estado; e outra dispondo sobre as conversações/comunicações em que os mesmos
intervenham, ainda que não sejam os visados. A expressão “intervenham” suscita
dúvidas sobre a violação do princípio do juiz natural.
• Artigo 36.º, n.º 2 – Esta opção parece não contender com a Jurisprudência do Tribunal
Constitucional. Importaria consagrar a obrigação de a parte que suscita o conflito
prestar informação nos autos, ou de notificação do acto aos sujeitos processuais, no
caso do conflito ser suscitado oficiosamente pelo tribunal, de forma a evitar que o
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
mesmo conflito possa ser suscitado simultaneamente pelo tribunal e por quaisquer dos
sujeitos processuais.
• Artigo 58.º - A alínea a), do n.º 1, é uma solução equilibrada. Já o número 2 afigura-se
uma norma perturbadora do processamento normal da investigação, ao remeter para o
MP os autos, sempre que se proceda a uma constituição de arguido, com a
consequente perda de tempo e atrasos na investigação. No n.º 5 introduz-se uma
alteração relevante cuja razão de ser não se descortina.
• Artigo 61.º - Esta norma não acrescenta nada de novo ao que já resultava do disposto
na actual alínea c) e do artigo 14.º, n.º 4, mas o direito do arguido resulta clarificado
nesta norma.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 92.º - Esta medida afectará os encargos financeiros a suportar pelo Estado com
o processo. A proibição do n.º 5 apenas pode reportar-se a eventual prova obtida com
violação do segredo de justiça por parte do intérprete. Não se vê qualquer efeito útil na
remissão para o n.º 3.
• Artigo 103.º - A inclusão no n.º 2 dos processos abreviados conjuga-se com o novo
regime de tramitação estabelecido para esta forma de processo especial. Todo este
regime tem um efeito perverso: os tribunais são chamados a conferir prioridade aos
processos relacionados com a pequena criminalidade, esperando-se que o efeito da
mediação penal neste tipo de crimes seja positivo e afaste dos tribunais e deste regime
uma parte significativa do que é aí enquadrável.
• Artigo 131.º - A alteração proposta dos 16 para os 18 anos parece pouco compatível
com o critério usado para fixar a maioridade penal, já que nos termos do artigo 19.º do
Código Penal, “os menores de 16 anos são inimputáveis”. Atendendo ao disposto no
artigo 91 do CPP, parece estarmos perante um abuso de lei e a introduzir no sistema
uma desarmonia incompreensível.
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• Artigo 132.º - Quanto ao n.º 3, existe uma incongruência com o disposto na alínea a),
do n.º 1 do artigo 20.º da Lei n.º 93/99, de 14 de Julho e correspondente artigo 7.º do
DL n.º 190/2003, de 22 de Agosto. Quanto aos n.ºs 4 e 5 não deixa de ser uma opção
que assenta os seus fundamentos numa ideia, que julgamos perversa, segundo a qual,
na relação entre o Estado e o cidadão, cabe ao estado atacar e ao cidadão defender-
se.
• Artigo 134.º - Nada a opor à alteração proposta para alínea b) do n.º 1, mas anota-se o
desfasamento verificado entre a epígrafe e a norma epigrafada.
• Artigo 147.º - Quanto à proposta para o n.º 5, cremos ser de boa técnica legislativa
evitar, pelo menos na economia de cada preceito legal, a repetição de regimes. Ao
fazer-se remissão apenas para o n.º 2, parece pretender impedir-se a aplicação,
também, do n.º 3. Quanto à redacção do n.º 3 o acrescento revela-se absolutamente
redundante e desnecessário.
• Artigo 156.º - Sugere-se a supressão do n.º 5. Quanto ao n.º 6, nesta norma acaba-se
por conferir tratamento idêntico a questões muito diferenciadas. Cremos que só será
possível permitir a destruição das “amostras” logo que, efectuado o exame, elas se
tornem desnecessárias.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 172.º - Quanto à remissão para o n.º 2 do artigo 154.º, há uma desconformidade
que passa a existir entre o n.º 1 e o n.º 2 deste artigo.
• Artigo 177.º - Existe uma patente desarticulação neste preceito, a reclamar uma
reformulação cuidada, que abranja as buscas domiciliárias diurnas e nocturnas,
estabelecendo um regime inequívoco compatível com a CRP (artigo 34.º, n.ºs 2 e 3).
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 189.º - Quanto à localização celular esta é menos eficaz e muito menos
intrusiva do que a vigilância policial de pessoas. O ordenamento jurídico passará a
conferir, a uma diligência menos intrusiva, uma disciplina mais restritiva, e a uma
diligência bem mais intrusiva, uma disciplina sem restrições. Relativamente aos dados
de tráfego não parece ser necessário fazer intervir o juiz de instrução na obtenção
destes dados no decurso do inquérito, uma vez que a sua obtenção e o seu
conhecimento, pela investigação, não violam qualquer direito fundamental.
• Artigo 194.º - Quanto ao novo n.º 2, julgamos ser de aplaudir a sua consagração
contra uma interpretação jurisprudencial em contrário que violaria os princípios básicos
de acusatoriedade do processo penal. O que poderá causar alguma perplexidade será
a cominação de “nulidade” quanto a um acto que geralmente será meramente
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 204.º - A alínea c), torna claro, segundo a exposição de Motivos, que o perigo
de perturbação de ordem e tranquilidade públicas terá que ser imputável ao próprio
arguido. Exige-se também que haja perigo de que o arguido perturbe “gravemente” tais
ordem e tranquilidade públicas. Poderá haver prementes questões de manutenção da
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 214.º - A redacção proposta para o n.º 1, alínea a), poderá vir a suscitar
problemas, por estar em causa uma “extinção” da medida, que não a sua eventual
revogação – o que parece implicar a inaplicabilidade de uma disposição como a
contida no n º 2 do artigo 212.º do Código, em matéria de revogação de medidas.
Deveria ser aqui expressamente prevista a possibilidade de reaplicação, sendo esse o
caso, de medidas de coacção extintas, em tempos similares aos do actual n.º 3 e do
referido n.º 2 do artigo 212.º. Alerta-se para a necessidade, face a estas novas
modalidades de extinção de medidas, de que seja prevista uma norma similar à do n.º
3 deste artigo, em termos que possibilite a reaplicação de medidas extintas, nos novos
termos destas alíneas. Será necessário estender a estes casos, com as necessárias
adaptações, a doutrina do actual n.º 3, que foi pensada, para o caso da alínea d), do
n.º 1, tendo em conta o facto de se não exigir o trânsito da sentença absolutória. A
equiparação da obrigação de permanência na habitação com a prisão preventiva está
em coerência com o artigo 80.º, do CP, no que se refere ao desconto, na pena de
prisão, da obrigação de permanência sofrida pelo arguido.
• Artigo 215.º - Nos n.ºs 1, 2 e 3, ressalta que a redução dos prazos máximos de prisão
preventiva, para diversas situações, não foi efectuada de uma forma aritmeticamente
proporcional àquela que resulta duma comparação entre aqueles prazos. Não foi
respeitada a proporção entre os diversos prazos que são concedidos para a duração
da prisão preventiva nas diferentes fases processuais. Por razões não explicitadas, nos
casos de “excepcional complexidade”, a que se refere o n.º 3, os prazos de duração
máxima de prisão preventiva, no inquérito e na instrução, serão afinal mantidos, ao
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
contrário do que sucede quanto a todos os restantes prazos. Quanto aos vários tipos
de crime que são previstos nas alíneas do n.º 2, como justificativos duma elevação dos
prazos normais de prisão preventiva, essa medida deixará de ser aplicável por força da
nova redacção da alínea a), do n.º 1, do artigo 202.º. Quanto ao novo n.º 4 (declaração
de excepcional complexidade), deverá assinalar-se que o MP deverá sempre ser
ouvido, quando não for ele a requerer a prolação da decisão a proferir. Não se
compreende, no entanto, porque será necessária a audição do assistente. Quanto ao
n.º 7 do artigo 215.º, assinala-se, que ao contrário do que actualmente sucede,
parecerá mais curial que se considere que um arguido estará preso preventivamente,
em simultâneo (e não sucessivamente), “à ordem” de todos os processos nos quais lhe
tenha sido aplicada tal medida – passando assim todos esses processos a ser
tramitados com a necessária urgência, até que venha a ser proferida condenação
definitiva num ou mais deles.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 246.º - O actual CPP entendeu não ser de admitir denúncias anónimas. Das
soluções propostas, conclui-se que o Governo não terá a perspectiva mais correcta a
respeito da natureza das chamadas denúncias anónimas, num sistema como o nosso,
no qual aquelas podem ser um precioso auxiliar das funções de prevenção criminal,
relativas aos mais variados tipos de crime, se poderem ser tratadas como mera
informação criminal, em moldes flexíveis e desburocratizados – ao contrário do que
parece ser imposto pelo Governo. Não se justificará que se promova obrigatoriamente
a possibilidade de que o eventual ofendido conheça e avalie todas as denúncias que
possam ser formuladas contra o mesmo.
• Artigo 247.º - Está-se perante aquilo que parece ser uma política deliberada de
promoção da intervenção, no âmbito do inquérito, dos ofendidos ou de outros eventuais
interessados na promoção do procedimento criminal. Por muito louvável que seja tal
objectivo, o certo é que, na maioria dos casos uma norma com este teor será
estritamente redundante. Quando não seja esse o caso, a existência de uma norma
expressa, como esta, poderá ser bastante problemática, gerando eventuais
invalidades.
• Artigo 248.º - A Proposta introduz no n.º 2 uma inovação – cujo alcance não é fácil de
determinar. Está em causa um errado entendimento a respeito daquilo que sejam a
natureza e o valor das chamadas denúncias anónimas, em termos que deveriam levar
a que se considerasse de todo inútil e redundante a alteração proposta.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
doutrina fixada no mesmo apenas será aplicável às autoridades judiciárias, que não às
policiais. Quanto às detenções efectuadas pela PJ, aplica-se o artigo 11.º, d) da Lei n.º
275 – A/2000, de 9/11. A manter-se a redacção desse artigo 11.º - A, poderíamos
chegar à situação incongruente de as próprias autoridades judiciárias terem que
fundamentar a detenção por si ordenada na existência dum concreto perigo de fuga –
quando tal não seria exigido às “autoridades de policia criminal” da PJ.
• Artigo 271.º - Quanto ao n.º 3 a alteração parece ser de aplaudir, face à natureza
deste acto e ao carácter plenamente contraditório de que o mesmo se deve revestir.
Quanto ao n.º 5, a Proposta aproxima a tomada de declarações dos procedimentos a
seguir em julgamento, permitindo a inquirição directa, pelos sujeitos processuais, de
quem prestar declarações para memória futura. Talvez, por lapso, não foi prevista uma
excepção quanto à inquirição de menores, vítimas de crimes sexuais. A proposta
também introduz um novo n.º 8, tal como o Projecto do PSD, com conteúdo inovador.
Todavia, esta última cláusula é difícil de interpretar e aplicar com um mínimo de
segurança, em termos práticos.
• Artigo 272.º - A proposta de lei altera o n.º 1 num sentido que merece aplauso –
esclarecendo que a obrigatoriedade de interrogatório do arguido, no decurso do
inquérito, apenas existirá quando este ocorra contra pessoa determinada “que seja
suspeita da prática de crime”.
• Artigo 276.º - Na previsão do novo n.º 4, parece ser manifesto que, uma tal norma, por
muito bem intencionada que seja, apenas poderá vir burocratizar mais, de forma
inevitável e contraproducente, o trabalho do MP, na direcção dos inquéritos e na
apreciação dos respectivos resultados. Por outro lado, quanto a inquéritos complexos,
não se afigura útil a promoção de uma intervenção tão formalizada e burocrática da
hierarquia. Não se vê igualmente utilidade na previsão do novo n.º 5, da mera
possibilidade de avocação do inquérito, por parte do imediato superior hierárquico. A
única consequência desta nova disposição será a atribuição aos magistrados com
funções de coordenação de novas responsabilidades. Afigura-se injustificada a
obrigatoriedade, ainda mais burocrática e inútil, de comunicação oficiosa aos sujeitos
processuais dos atrasos existentes e das intenções do MP a respeito do inquérito. Não
há razão para a comunicação obrigatória e oficiosa de quaisquer atrasos ao
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 281.º - No n.º 1 prevê-se que a suspensão possa ser decidida a requerimento
do arguido ou do assistente e deve ser decretada sempre que se verificarem os
pressupostos contidos nas alíneas desse mesmo n.º 1. Estas alterações não parecem
ter grande sentido útil, a não ser como meros indicadores da indubitável relevância que
deverá ter, para o MP, esta possibilidade alternativa de enquadramento do inquérito,
sem dar origem às inúteis controvérsias que uma redacção como a agora proposta
poderá suscitar. Concorda-se com a previsão de que os antecedentes criminais que
deverão impedir a aplicação da medida serão apenas os relativos a “crime da mesma
natureza”, bem como que deixe de se exigir um dificilmente indiciável “carácter
diminuto” da culpa. Mais problemático se afigura o requisito introduzido na nova
redacção da alínea c) (ausência de aplicação anterior de suspensão provisória do
processo por crime da mesma natureza). Não só se condiciona assim a liberdade de
apreciação do MP, como será sempre difícil saber até que ponto tal condição se
verificará, a nível nacional. A imposição da obrigação de “residir em determinado lugar”
poderá levantar alguns problemas de constitucionalidade, face à restrição,
aparentemente excessiva, que daí decorrerá para vários direitos fundamentais do
arguido.
• Artigo 282.º - Quanto ao n.º 4, parece pouco realista esperar que, no decurso do prazo
de suspensão provisória, um arguido possa vir a ser acusado, julgado e condenado
pela prática dum crime eventualmente praticado no decurso desse mesmo prazo.
Sendo assim, e querendo tornar-se aplicável um regime similar ao da execução da
suspensão da execução da pena de prisão, seria mais adequado importar ao CP a
totalidade desse regime (pelo menos no que se refere ao artigo 57.º, n.º 2).
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
contornos que poderiam justificar uma tal especificidade, que nos parece ser posta em
causa.
• Artigo 303.º - A redacção proposta, apesar de mais clarificadora, não resolve todas as
questões nesta matéria.
Julgamento
As alterações efectuadas não descaracterizam o sistema vigente. A
introdução de algumas alterações, total ou parcialmente, poderão desequilibrar
o sistema quanto ao escopo do processo penal.
• Artigo 345.º - A opção do legislador é compreensível à luz dos direitos de defesa do
arguido e da impossibilidade de, nas situações previstas no n.º 4, se exercer o
contraditório. A formulação do preceito não é clara, podendo permitir interpretação
diversa quanto a saber quem é o “declarante” que se recusa a responder às perguntas
formuladas nos termos dos n.ºs 1 e 2. É nosso entendimento que “declarante” é o co-
arguido cujas declarações não podem ser valoradas. O preceito poderá permitir
interpretação contrária que desvirtuará a intenção do legislador e potenciará aplicações
díspares e indesejáveis. Melhor seria clarificar a redacção, de modo a tornar
inequívoco o segmento referido.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Processo Sumário
Esta forma de processo passa a ser obrigatória nos casos que
preencham os pressupostos do artigo 381.º. Esta opção do legislador não
merece críticas. Há, porem, que colocar algumas questões, dado que as
alterações podem gerar obstáculos aos objectivos pretendidos pelo legislador,
subvertendo-os ou dificultando-os.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Processo abreviado
As alterações acentuam a vinculação ao seu uso por parte do MP, não
deixando de vincular os juízes na realização da audiência em prazos que não
frustrem a natureza desta forma de processo e as finalidades de celeridade e
eficácia na administração da justiça que a mesma pretende alcançar.
• Artigo 391.º-A – Não se consagrou, contrariamente ao artigo 381.º, de forma expressa,
a possibilidade de utilização de processo abreviado “mesmo em caso de concurso de
infracções”. Não se vê impedimento para que assim se proceda. Melhor seria, porém,
que a letra da lei fosse expressa nesse sentido.
Processo Sumaríssimo
As alterações efectuadas visam ampliar o recurso a esta forma de
processo, pela sua extensão a ilícitos criminais puníveis com pena de prisão
não superior a 5 anos.
• Artigo 392.º - Alargou-se a pena abstracta para 5 anos, mas não se determinou, de
forma expressa, a possibilidade de usar esta forma de processo em caso de concurso
de infracções. Ainda que o entendimento seja no sentido de tal ser possível, nada
obsta a que tal menção fique expressa, nos termos em que foi feito para o n.º 1 do
artigo 381.º.
• Artigo 392.º, n.º 1 - Não se alcança qual o objectivo da audição do arguido e da sua
necessidade. Está em causa uma intervenção preliminar do MP para auscultação da
posição do arguido perante a possibilidade de requerer a aplicação da sanção em
processo sumaríssimo. Esta diligência visa expor ao arguido essa possibilidade,
explicar-lhe o mecanismo daquele processo, de forma a aferir da possibilidade de se vir
a opor. Afigura-se desnecessária, em nada contribuindo para a celeridade do processo,
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
pois não há qualquer vinculação do arguido à não oposição que manifeste, nada o
impedindo de posteriormente se opor.
• Artigo 400.º - A redacção proposta para o n.º 3 deste artigo vem tomar posição inversa
à jurisprudência fixada pelo STJ, segundo a qual à luz deste regime, não cabe recurso
ordinário da decisão final do Tribunal da Relação, relativa à indemnização civil, se for
irrecorrível a correspondente decisão penal, podendo gerar situações de desigualdade.
É que, a permanecer a referida possibilidade, casos surgirão em que só quando haja
indemnização civil é que pode haver recurso, em detrimento dos outros em que tal não
se verifica.
• Artigo 402.º - É introduzido um n.º 3 que dispõe que o recurso interposto apenas
contra um dos arguidos, em caso de comparticipação, não prejudica os restantes.
Trata-se de um reforço da reformatio in pejus, mas a redacção apresenta-se pouco
precisa. Pensamos que seria de aproveitar a oportunidade e tomar agora uma posição
mais alargada sobre a questão que se poderia apelidar de consequências processuais
do princípio da reformatio in pejus.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 426.º - Foi aditado um novo n.º 2, que vem resolver a questão de saber para
onde é feito o reenvio do processo para novo julgamento ordenado pelo STJ no âmbito
de recurso interposto, em 2ª Instância.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 30.º- Não se vislumbra qual o sentido útil da alteração proposta, nem mesmo
que seja necessário fazer qualquer alteração a esta matéria uma vez que se trata de
matéria doutrinal e jurisprudencialmente solidificada.
• Artigo 43.º, n.º 3 - Salienta a “curiosidade da solução” e defende que com a previsão
aí contida facilmente se percebe o alcance da norma que não mais é do que evitar a
aplicação de penas de prisão a crimes cometidos por titulares de cargos políticos no
exercício das funções. Pelo que defende-se que não deve esta solução ser vista como
uma imposição, mas antes como uma faculdade colocada à disposição do julgador.
• Artigo 44.º- Concorda-se com a alteração, mas considera que seria mais adequado
que a prisão domiciliária fosse consagrada como uma verdadeira pena alternativa e
não como uma medida de execução da pena de prisão.
• Artigo 50.º, n.º 5 – Refere-se que não é fácil descortinar a razão da necessária
coincidência entre o período de suspensão e a medida concreta da pena uma vez que
as razões que podem levar à suspensão da execução da pena não esgotam as razões
que concorrem para a determinação da medida dela.
• Artigo 61.º e ss – Considera-se que a solução prevista no artigo 61.º, n.º 4 é uma
solução demasiado benevolente num modelo penal que já o é bastante. Segundo
opinião da ASJP, nesta solução desconsidera-se em demasia as expectativas da
comunidade em relação à administração da justiça penal, em detrimento de um único
objectivo: esvaziar os estabelecimentos prisionais.
• Artigo 80.º- Esta medida é susceptível de criar mais confusão numa norma que que
não era susceptível de o ser antes da nova redacção para ela proposta.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 116.º - Defende-se que o respeito pela autonomia do menor impõe que a
remissão do n.º 4 se restrinja às hipóteses em que o menor não possua discernimento
para entender o alcance e o significado do exercício da queixa.
• Artigo 132.º - Defende que a qualificativa que se pretende introduzir não tem em
consideração a realidade criminológica subjacente ao crime entre cônjuges.
• Artigo 164.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2 alínea b); artigo 165.º; 166.º; 167.º; 171.º, n.º 2.
173.º, n.º 2 - Relativamente à introdução do tipo “introdução vaginal ou anal de partes
do corpo ou objectos”, equiparando-a a actos sexuais de relevo, alerta para o facto de
se tratar de uma solução dogmaticamente discutível uma vez que se equiparam estas
novas situações a situações que põem em causa de uma forma inequívoca a liberdade
sexual.
• Artigo 170.º - Questiona-se se este novo crime não colide com o princípio que deve
presidir à criminalização de condutas – isto é, o princípio da ultima ratio de intervenção
do direito penal na sociedade. Pode tratar-se de uma solução que comporta um
alargamento excessivo de uma criminalização que, como estava, já assegurava e
protegia a tutela do bem jurídico liberdade sexual.
• Artigo 173.º - Considera que a orientação desta norma é reveladora de que se está a
enveredar por uma perspectiva neocriminalizadora já com algum significado, quer do
ponto de vista criminológico, quer do ponto de vista sociológico.
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• Artigo 190.º,n.º 2 - Tem dúvidas sobre o facto de saber se é adequado, sem mais,
equiparar, na mesma descrição típica, a conduta daquele que com intenção telefona
para a habitação, com a daquele que telefona para o telemóvel. Assim, é de opinião
que, tal comportamento, a ser criminalizado, devia ser autonomizado, pois o que
estava em causa nesta norma era a protecção da privacidade, a paz e o sossego
dentro do espaço habitacional.
• Artigo 206.º - Considera que a possibilidade agora consagrada na proposta não é mais
que algo que a prática judiciária há muito conhece para crimes semi-públicos e
particulares.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 19.º - Não se compreender qual a ratio subjacente à alteração da regra geral da
competência territorial para o julgamento dos crimes que “compreendam como
elemento do tipo a morte de uma pessoa”.
• Artigo 40.º - Aplaude a alteração proposta, mas entende que a mesma acaba por
pecar por defeito uma vez que o princípio que subjaz à alteração proposta seria melhor
garantido se se alargassem as situações de impedimento a outras intervenções não
menos profundas do juiz na fase anterior ao inquérito, designadamente aos casos de
interrogatório judicial de arguido.
• Artigo 86.º e 89.º - Concorda com a preocupação em diminuir o âmbito da fase secreta
do processo, mas alerta para a ambiguidade decorrente daquilo que parece ser o
caminho delineado ao ter sido atribuída dimensão constitucional à protecção do
segredo de justiça, introduzida pela Lei Constitucional n.º 1/97 (artigo 20.º, n.º 3 da
CRP). Ainda nesta matéria salienta as consequências penais do regime de vinculação
ao segredo (artigo n.º 86.º, n.º 11) e o facto de todos aqueles que tenham
conhecimento de elementos pertencentes ao processo também passarem a ficar
vinculados ao regime do segredo; e, ainda, alerta para o facto de o artigo 89.º, n.º 6 vir
fixar limites temporários à duração do inquérito sem que se conheça qualquer reflexão
tendente a responder às possíveis consequências de uma tal inovação.
• Artigo 141.º, n.º 4 (com referência ao artigo 194.º, n.º 4, alínea b) – Não se
compreende a razão da diferença de grau introduzida na apreciação do risco para a
investigação, exigindo-se, no primeiro interrogatório, para negar ao arguido a
informação sobre os meios de prova em que assentam os factos que lhe são
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 188.º - Entre as várias dúvidas que se lhe suscitam nesta matéria, dá especial
relevo à alteração do paradigma judicial no controlo das intercepções. Considera-se
que não seria absolutamente criticável que o MP passasse a ter uma palavra a dizer na
selecção das escutas, uma vez que tal alteração poderia responsabilizar o titular do
inquérito pela evolução da compilação da prova, isto sem prejuízo de ao juiz caber o
poder de autorizar e prorrogar as escutas, bem como ter a última palavra sobre a
adequação e proporcionalidade na selecção sugerida pelos investigadores para a
transcrição. Duvida-se da possibilidade efectiva de o juiz proceder ao controlo previsto
no artigo 188.º, n.º 6 porque tal controlo exige a audição integral de todas as conversas
captadas o que é praticamente impossível. Ainda assim, nesta matéria e segundo a
ASJP, a matéria mais controversa decorre de, em termos práticos, em função das
alterações propostas, nada parecer ir mudar na parte mais sensível das escutas, isto é,
a sua sujeição a apertados critérios que configurem a necessidade da sua utilização.
Por outro lado, a alteração sugerida para esta norma não tem, na opinião da ASJP, a
virtualidade de poder limitar a audição das conversas apenas mantidas pelos
suspeitos, arguidos ou vítimas. Quanto à definição do prazo para o exercício da
supervisão judicial, embora se reconheça que tem o mérito de poder fazer diminuir o
número de anulações de escutas, considera-se, ainda assim, que se esbate o poder de
controlo do juiz.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 215.º, n.º 8; artigo 214.º, n.º 2; artigo 193.º, n.º 2 e artigo 225.º - Questiona o
regime processual legal idêntico consagrado em relação à prisão preventiva e à
permanência na habitação, afirmando não poder comparar-se a restrição aos direitos
fundamentais decorrentes de uma medida de coação tão gravosa como a prisão
preventiva, com a restrição, ainda que grave mas incomparavelmente diferente, da
prisão que subjaz à medida de obrigação de permanência na habitação.
• Artigo 217.º, n.º 3 - Considera que se trata de uma medida “piedosa” que,
juridicamente, não faz qualquer sentido.
• Artigo 225.º - Apesar de saudar o alargamento da previsão, entende que esta proposta
de alteração não respeita o princípio da presunção de inocência, ao limitar a
indemnização à inocência comprovada. Por outro lado, salienta que ficaram por rever
todos aqueles casos em que o arguido, apesar de ter sido detido e sujeito a prisão
preventiva, nem sequer é julgado por o MP optar pelo arquivamento.
• Artigo 246.º, n.º 5 e 6 - Juridicamente, não faz qualquer sentido, esquecendo-se que
existem procedimentos legais que têm muitas vezes na origem denúncia anónimas e
nem por isso deixam de ser objecto de tratamento e controlo por parte do MP.
• Artigo 257.º - Alerta para o facto de não se ter acautelado a conjugação desta norma
com o disposto nos artigos 142.º e 254.º, dos quais continuam a decorrer como
requisito para a realização do interrogatório do arguido por um juiz o facto deste se
encontrar detido; nem tão pouco com o disposto no artigo 204.º. Esta alteração suscita
muitas questões, pelo que se impõe a clarificação da vontade do legislador porque,
caso contrário, se corre o sério risco de, no futuro, sempre que a polícia pretenda
passar à fase de detenções, se escudar na inovação automatizada da verificação de
perigo de fuga.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 345.º, n.º 4 - Considera que esta é uma solução absolutamente discutível e que
irá trazer ainda mais dificuldades à descoberta da verdade material, sem que se
consiga vislumbrar quais os direitos que se pretendem salvaguardar.
• Artigo 400.º, n.º 1, alínea c) - Não se entende o sentido útil desta alteração, podendo
a mesma vir a provocar alguma confusão, isto para além de remeter com alguma
imprecisão para o artigo 97.º, n.º 1.
• Artigo 400.º, n.º 3 - Considera que esta alteração corresponde a uma inflexão e a um
retrocesso relativamente à jurisprudência uniforme estabelecida pelo Ac. n.º 1/2002 do
STJ.
• Artigo 411.º, n.º 3 e 4 - Não vê razões para, à partida, se distinguir e conceder prazos
diferentes consoante se trate de recursos exclusivos sobre matéria de direito ou
matéria de facto, suscitando a alteração proposta inclusive alguma confusão
relativamente às situações em que simultaneamente se recorre de facto e de direito.
• Artigo 412.º, n.º 3, alínea a) e b) - Não percebe a razão de ser para passar a constar
expressamente esta “concretização” dos pontos de facto impugnados e das provas que
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
impõem uma decisão diversa, uma vez que cabe sempre ao recorrente concretizar os
mesmos.
• Artigo 412.º, n.º 6 - Entende que a alteração proposta se limita a transcrever o que
consta no artigo 690.º A, n.º 5 do CPC, esquecendo-se, todavia, que em processo
penal o julgamento do recurso pode ser precedido de audiência pública.
• Artigo 413.º, n.º 1 e 2 - Vale o que foi dito relativamente ao artigo 411.º, n.º 3 e 4.
• Artigo 413.º, n.º 3 - Considera que não se deveria manter a redacção primitiva, mas
antes acompanhar a referência de que a notificação ao recorrente deverá realizar-se
oficiosamente e aquando da notificação do despacho previsto no artigo 414.º.
• Artigo 414.º, n.º 7 - Entende que talvez o lugar próprio para esta alteração fosse no
artigo 213.º:
• Artigo 415.º, n.º 2 - Concorda com a alteração porque torna muito mais célere um
simples despacho de homologação de uma desistência de recurso.
• Artigo 417.º, n.º 6; artigo 425.º, n.º 5 - Não se prevê, sem qualquer justificação
plausível, a possibilidade de se remeter os fundamentos da decisão de recurso para a
decisão recorrida.
• Artigo 417.º, n.º 9; artigo 425.º, n.º 3 - Não compreende que se estabeleça o mesmo
prazo para a prolação de acórdão em conferência ou em audiência.
• Artigo 424.º, n.º 3 - Considera positiva a alteração porque se evita que o processo
baixe ao tribunal recorrido para uma mera comunicação.
• Artigo 426.º A - Felicita esta alteração porque elimina um dos expedientes que, na
prática, tem suscitado algumas dificuldades de aplicação.
• Artigo 432.º, n.º 2, alínea c) - Não entende porque razão se insiste em tornar o STJ
numa instância de recurso frequente, impondo o recurso obrigatório da 1.ª instância
para o mais alto tribunal. Mas sendo esta a opção dever-se-ia harmonizá-la com a
alteração proposta para o artigo 400.º, n.º 1, alínea f).
• Artigo 437.º - Apesar de concordar com a alteração proposta, salienta que, para
abraçar devidamente este bom caminho, seria necessário voltar a introduzir o carácter
obrigatório da jurisprudência fixada pelo STJ.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
• Artigo 449.º - Esta alteração pode potenciar a eternização dos processos já que o
conceito de “provas proibidas” pressupõe sempre uma nova apreciação, isto é, um
novo julgamento.
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• Artigo 11.º, n.º 4 - Esclarece que a posição de liderança é exercida não pelo órgão
mas sim pelos seus titulares individualmente considerados.
• Artigo 30.º - Considera-se positivo que se esclareça que os crimes praticados contra
bens jurídicos de matriz essencialmente pessoal não possam ser objecto de unificação
pelo instituto do crime continuado. Alerta, no entanto, para o facto da ressalva contida
no n.º 3 poder vir a tornar-se a regra e não a pretendida excepção o que fará com que
esta alteração seja quase inócua. Nos casos de proximidade entre o agente do crime e
a vítima, melhor teria sido se se retomasse a excepção criada para ao n.º 2, uma vez
que a solução adoptada na proposta parece afrontar uma das preocupações
enformadoras das alterações às leis penais: a protecção da vítima de crime.
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• Artigo 47.º - Esta norma revela que por trás da reforma estão também interesses
economicistas. Com a reforma visa-se diminuir o tempo de prisão efectiva a cumprir
pelos condenados e, por outro lado, aumenta-se em 500% o valor do quantitativo
mínimo diário da pena de multa (de 1 euro passa para 5 euros), conseguindo-se, desta
forma, diminuir a despesa e aumentar a receita.
• Artigo 59.º - Defende-se que a revisão legislativa em curso deveria criar um critério
quantitativo de conversão das penas de multa em pena de trabalho a favor da
comunidade.
• Artigo 80.º: O SMMP considera que a possibilidade conferida pelo n.º 1 desta norma
levanta dois problemas: por um lado, o sistema judiciário não está preparado para
aplicar a norma, uma vez que não existe modo eficaz de controlar em quantos
processos o desconto já foi realizado; por outro, a falta de um limite temporal para o
desconto vai fazer surgir no condenado a ideia de que possui um autêntico “crédito” de
pena sob o Estado.
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• Artigo 58.º, n.º 3 - o regime que se pretende criar para a validação da constituição de
arguido por parte do MP quando a mesma ocorrer por decisão do OPC “é caro,
burocrático e vai aumentar consideravelmente o trabalho dos órgão de polícia criminal
e, em consequência, atrasar a decisão final do inquérito”. Defende-se que, para evitar
os inconvenientes e assegurar as garantias que esta nova norma visa, “bastaria criar
um incidente em que o próprio arguido requeresse ao magistrado titular o controlo e
validação da sua constituição como arguido”.
• Artigo 89.º, n.º 6 - Findo o prazo normal de inquérito passa a ser possível a qualquer
sujeito processual consultar os autos. Acontece que os crimes mais graves são, por
regra, os mais morosos e de difícil investigação o que faz com que os prazos de
inquérito relativos a este tipo de processos sejam absolutamente irreais e impossíveis
de cumprir. Esta medida vai acabar por “criar a situação oposta ao que se pretende”. A
ratio desta proposta de alteração é criar a possibilidade dos sujeitos processuais
conhecerem o processo e poderem controlar o seu curso. Contudo, nos crimes que
legitimam a existência de pré-inquérito, a solução proposta levará ao resultado
contrário dado que a reacção dos OPCs será a de iniciarem todos os processos com
meios de investigação informal de forma a disporem de mais tempo. Pelo que, com
esta proposta de alteração, o que vai acontecer é que a investigação continuará fora do
conhecimento dos sujeitos processuais e com a agravante de também estar fora da
direcção e controlo judicial do MP e JIC.
• Artigo 132.º, n.º 4 - O SMMP nada tem a opor a esta norma em concreto, mas
considera que se deveria ter acautelado uma questão paralela de elevada importância
processual. Não se compreende que o advogado da testemunha, ou outro advogado
com que aquele mantenha relação de proximidade profissional, possa intervir no
mesmo processo como defensor de um arguido dado que estaria sempre numa
posição privilegiada por conhecer a prova já produzida. Daí que sugira que a lei, em
consonância com uma alteração ao Estatuto da Ordem dos Advogados, devesse
prever um regime de verdadeiras incompatibilidades para esta situação. Face a esta
solução, deixa de ser compreensível que as inquirições realizadas em sede de
inquérito, uma vez garantidas pelo defensor do depoente, não possam ser utilizadas
para confrontar a própria testemunha com as incongruências do depoimento que
prestar em julgamento.
• Artigo 133.º, n.º 2 - Esta solução dificulta a produção de prova sem que daí advenha
qualquer ganho nos direitos de defesa da testemunha uma vez que a proibição de
auto-incriminação se encontra devidamente salvaguardada.
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• Artigo 174.º, n.º 5 - Não se esclarece o conteúdo de “quando for seguido” pelo que a
redacção desta norma nos termos propostos, vai criar os mesmos problemas que têm
sido levantados sobre a redacção do artigo 188.º a respeito das escutas telefónicas. A
referida expressão pode ser interpretada como sendo o momento contínuo e pode ser
interpretada como sendo o momento seguinte à investigação.
• Artigo 186.º, n.º 3 e 4 - A proposta de alteração para esta norma encerra uma
incongruência interna que não se entende e que apenas tem o efeito de atrasar o
processo. Se o legislador entende que o prazo máximo para se proceder ao
levantamento dos objectos aprendidos é de 90 dias (n.º 1), qual a razão para que os
objectos apenas se considerem prescritos para o Estado decorrido que seja um ano?
Esta norma será a génese de dois problemas: o aumento de objectos depositados nos
tribunais que já não têm espaço para guardar os que se encontram à sua ordem e o
incremento do número de execuções pendentes nos tribunais.
• Artigo 219.º, n.º 1 e 3 – Discorda-se com a opção de apenas ser permitido ao arguido,
ou ao MP a seu favor, recorrer da decisão que aplica, mantém ou substitui as medidas
de coacção, desde logo porque tal medida fere o princípio da igualdade de tratamento
entre os sujeitos processuais, mas também porque é frontalmente contrária a uma das
opções fundamentais da reforma do processo penal: a protecção e salvaguarda dos
direitos da vítima. A norma é “discricionária e que deixa completamente desprotegida e
sociedade e a vítima de crime, em detrimento do seu agente”.
• Artigo 217.º, n.º 3 - Apesar das críticas doutrinais a esta proposta de alteração,
entende que há que prever a possibilidade de o prazo de prisão preventiva se esgotar
e, ainda assim, continuarem a existir as razões cautelares que lhe estão subjacentes.
Tendo em conta estas situações, podendo estar em causa a integridade do ofendido,
considera que a proposta de alteração é compreensível.
• Artigo 246.º, n.º 5, alínea a) - Considera que a proposta de redacção deste preceito é
contraditória nos seus próprios termos na medida em que os “indícios” nunca resultam
da denúncia, mas sim da prova recolhida durante a investigação. Pelo que, não
compreendem o que poderá compreender-se por “uma denúncia reveladora de
indícios”. Por esta razão, defendem que a norma irá dar origem a posições
interpretativas contrárias. Por outro lado, alertam ainda para o facto de a norma
desrespeitar o princípio da legalidade e da oficialidade que impõem ao MP a obrigação
de iniciar o procedimento criminal sempre que tiver notícia da eventual prática de um
crime.
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• Artigo 276.º, n.º 4 a 6 - O regime previsto para os casos em que o prazo de inquérito
seja ultrapassado “é inútil porque nada traz de novo e vai importar um enorme atraso
na tramitação dos processos”. A hierarquia do MP conhece todos os processos em que
são ultrapassados os prazos de inquérito uma vez que, mensalmente, é elaborado um
relatório estatístico onde também consta essa informação.
• Artigo 281.º, n.º 1, alínea c) – A solução aqui consagrada é positiva, mas de difícil,
senão impossível, aplicação concreta uma vez que não existe actualmente qualquer
meio de saber se determinado arguido já beneficiou, ou não, de anterior aplicação de
suspensão provisória do processo. Assim, a verificação deste pressuposto implica que
as suspensões provisórias do processo passem a ficar averbadas ao registo criminal
ou que se crie uma base de dados nacional sobre a sua aplicação.
• Artigo 354.º, n.º 4 - A solução proposta vai originar situações “caricatas e de difícil
compreensão pela sociedade”, levando a um acrescido descrédito e deslegitimação
social do sistema judicial. Não se entende porque razão as declarações de co-arguido
não ficam, nos termos gerais, sujeitas ao princípio da livre apreciação.
• Artigo 382.º, n.º 2 - Não existe qualquer razão para, em processo sumário, se impor ao
MP a realização de um interrogatório prévio à apresentação do arguido ao juiz para
julgamento. Esta medida apenas contribui para atrasar a realização da audiência e a
ocupar o tempo dos agentes policiais, funcionários e magistrados, para além de
aumentar os custos do processo.
120
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
121
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
122
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Eurojust
Através do seu Membro Nacional, a Eurojust remeteu à Assembleia da
República um parecer relativo ao projecto de revisão do Código de Processo
Penal que focava três questões essenciais: o regime da publicidade do
processo (artigo 89.º, n.º 5); a omissão de referência às declarações tomadas
por carta rogatória no artigo 356.º, n.º 2; e o regime de notificações e
julgamento na ausência e a sua incompatibilidade com o regime jurídico do
Mandado de Detenção Europeu.
No que respeita à primeira questão, defende que a permissão de
consulta de todos os elementos do processo pelo arguido, ofendido e
assistente, após o decurso do prazo de inquérito, com possibilidade de
adiamento por três meses, “não encontra justificação no plano dos princípios e
123
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
124
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
6
Seria interessante compará-la neste aspecto com as reformas penais anteriores, exercício
para além do âmbito deste estudo, mas a ausência de tal contextualização histórica não esbate
a impressão inicial.
125
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Correio da Manhã 66
Jornal de Notícias 52
Diário de Notícias 50
Público 37
O Primeiro de Janeiro 14
Diário Económico 12
Justiça e Cidadania 10
Sol 6
Visão 5
Expresso 3
Sábado 2
Jornal de Negócios 2
Focus 2
Semanário 1
O Diabo 1
0 10 20 30 40 50 60 70
126
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Curso do debate
127
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
60
55
50
40
30
23
18 18 19
20
16 16
12 11
10
10 7 7 8 7 7 6 5
3 3 3 3 4
2
0
Até 1 2 de 9 de 16 de 23 de 30 de 7 de 14 de 21 de 28 de 4 de 11 de 18 de 25 de 2 de 9 de 16 de 23 de 30 de 1 de 6 de 13 de 20 de
de SET a SET a SET a SET a SET a OUT OUT OUT OUT NOV NOV NOV NOV DEZ a DEZ a DEZ a DEZ a DEZ a JAN a JAN a JAN a JAN a
SET 8 de 15 de 22 de 29 de 6 de a 13 a 20 a 27 a 3 a 10 a 17 a 24 a 1 8 de 15 de 22 de 29 de 31 de 5 de 12 de 19 de 26 de
SET SET SET SET OUT de de de de de de de de DEZ DEZ DEZ DEZ DEZ JAN JAN JAN JAN
OUT OUT OUT NOV NOV NOV NOV DEZ
2007 2008
7
Respectivamente, Correio da Manhã de 13 de Setembro, Jornal de Notícias e Expresso de
15 de Setembro.
128
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
8
Respectivamente, Jornal de Notícias de 14 de Setembro, Público e Diário de Notícias de 15
de Setembro.
9
Respectivamente, Diário de Notícias e Jornal de Notícias de 16 de Setembro, Diário
Económico e Correio da Manhã de 17 de Setembro.
129
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
10
A posição surge a 17 de Setembro de 2007, na abertura do ano lectivo no CEJ.
130
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
131
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
12
Apenas um artigo no jornal Público se debruça especificamente sobre o tema. Nele, figuras
da magistratura, polícia e universidade referem que as novas regras dificultam o combate à
grande criminalidade, mas não são um factor decisivo. Ver “Crimes complexos agora mais
difíceis de investigar”, Público, 12/12/2007.
13
“Qualquer pessoa que contacte um suspeito fica sujeita a escuta”, DN, 12/12/2007.
132
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Ministério Público 97
Poder Político 51
Juízes 44
Juristase Advogados 43
Professores 37
Partidos 30
Jornalistas 24
0 20 40 60 80 100 120
14
Isto significa que as mesmas declarações são contabilizadas tantas vezes quantos os artigos
em que surgem.
133
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
DeclaraçõesGerais 140
OutrosTemas 97
Prisão Preventiva 77
Escutas 67
Segredo de Justiça 62
Vacatio Legis 49
Inquérito 46
Criminalidade Complexa 45
Crime Continuado 19
Reabertura de Audiência 17
Interrogatório Judicial 12
CrimesSexuais 11
Recursos 10
Prova - Outros 9
PessoasColectivas 9
OutrasMedidasde Coacção 6
Localização Celular 6
HabeasCorpus 6
Sanções 3
Liberdade Condicional 3
Instrução 3
Pronúncia 1
134
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
135
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
136
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
137
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
15
Responsabilidade Penal das Pessoas Colectivas - alterações ao Código Penal introduzidas
pela Lei n.º59/2007, de 4 de Setembro.
16
O regime sancionatório das pessoas colectivas na revisão do Código Penal. Formação
Permanente do CEJ “Jornadas sobre a Revisão do Código Penal”.
17
“A pessoa colectiva como sujeito processual”. Formação Permanente do CEJ “Jornadas
sobre a Revisão do Código Penal”.
138
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
139
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Crime continuado
Sobre as alterações introduzidas ao regime do crime continuado,
destacamos a posição da Associação de Juízes pela Cidadania (AJPC) e de
Jorge Baptista Gonçalves18.
18
“A revisão do Código Penal: Alterações ao sistema sancionatório relativo às pessoas
singulares”. Formação Permanente do CEJ. Jornadas sobre a Revisão do Código Penal.
Setembro de 2007.
140
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
19
A redacção dos n.ºs 2 e 3, do artigo 30.º, é a seguinte “2 - Constitui um só crime continuado
a realização plúrima do mesmo tipo de crime ou de vários tipos de crime que
fundamentalmente protejam o mesmo bem jurídico, executada por forma essencialmente
homogénea e no quadro da solicitação de uma mesma situação exterior que diminua
consideravelmente a culpa do agente.
3 - O disposto no número anterior não abrange os crimes praticados contra bens
eminentemente pessoais, salvo tratando-se da mesma vítima.
141
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
20
“Alterações ao sistema sancionatório”. Formação Permanente do CEJ. Jornadas sobre a
Revisão do Código Penal. Setembro de 2007.
21
“A revisão do Código Penal: Alterações ao sistema sancionatório relativo às pessoas
singulares”. Formação Permanente do CEJ. Jornadas sobre a Revisão do Código Penal.
Setembro de 2007.
142
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Jorge Baptista Gonçalves começa por referir que a Lei n.º 59/2007, de
4 de Setembro, que constituiu a vigésima terceira alteração ao Código Penal de
1892, se manteve fiel à matriz do diploma legal, na redacção de 1995, “no que
concerne ao sistema sancionatório relativo às pessoas singulares (...)
aumentando o leque das penas de substituição e ampliando o âmbito de
143
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
144
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Liberdade Condicional
Esta matéria foi objecto de reflexão por parte de Artur Vargues22, no
âmbito do programa de Formação Permanente do CEJ. Segundo o autor,
apesar de a fase de execução das penas privativas da liberdade ter vindo a ser
tratada como um “parente pobre dentro do acervo de abundantes estudos e
decisões dos tribunais que incidem sobre outras áreas do direito penal e
processual penal”, as alterações ao Código Penal e ao Código de Processo
Penal “vieram confirmar a importância desta área do Direito Penal pela
dimensão e profundidade dessas alterações”, considerando, contudo, que “só a
22
Alterações ao regime da liberdade condicional. Formação Permanente do CEJ. “Jornadas
sobre a Revisão do Código Penal”. Setembro de 2007.
145
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
146
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Violência Doméstica
O tratamento da problemática da violência doméstica no âmbito da nova
reforma, matéria sobre a qual se têm vindo a levantar algumas questões que
estão a ter especial acompanhamento no âmbito da monitorização em curso,
foi objecto de uma conferência de Teresa Pizarro Beleza, no âmbito das
Jornadas sobre a Revisão do Código Penal, realizadas no CEJ23. A autora, no
que respeita ao tratamento dado ao fenómeno da violência doméstica na
reforma de 2007 do Código Penal, considera que, no cômputo geral, a
intervenção do legislador foi positiva.
Considera que o legislador está a “levar a sério” a incriminação da
violência doméstica ou entre pessoas próximas. Apesar de algumas
dificuldades, a redacção actual apresenta uma maior especificação em
comparação com a anterior. Desde logo, destaca a separação operada entre
os crimes de violência doméstica (artigo 152.º), maus-tratos (artigo 152.º-A) e
violação de regras de segurança (artigo 152.º-B), a qual entende ser
“plenamente justificada” atenta a anterior redacção, na qual se misturavam
preceitos e bens jurídicos protegidos, num texto que apoda de
“acentuadamente confuso e obscuro”.
Não obstante, é da opinião de que o legislador poderia ter ido ainda mais
longe na sua intervenção, “separando os casos em que a relação próxima,
presente ou passada, parece ser o fundamento da autonomização do crime de
maus-tratos agora denominado de “violência doméstica” dos casos em que
essa autonomização se funda numa especial vulnerabilidade da vítima que
coabita com o agressor”. Destaca na nova descrição do facto típico do crime de
violência doméstica, a desnecessidade de reiteração e a inclusão expressa dos
actos designados por castigos corporais, privações de liberdade e ofensas
sexuais.
23
Violência doméstica”. Formação Permanente do CEJ “Jornadas sobre a Revisão do Código
Penal”. Setembro de 2007.
147
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Tráfico de Pessoas
No debate de especialistas, relativamente às inovações no crime de
tráfico de pessoas, emerge uma particular apreensão no que diz respeito à
interpretação deste tipo legal. Evidenciam-se os dois textos que a seguir se
analisam, um de Paulo de Sousa Mendes24 e outro de Pedro Vaz Patto25,
ambos discutidos no âmbito das Jornadas sobre a Revisão do Código Penal,
que tiveram lugar no CEJ, nos dias 27 e 28 de Setembro de 2007.
24
Mendes, Paulo de Sousa (2007) “Tráfico de Pessoas”, Jornadas sobre a Revisão do Código
Penal – 27 e 28 de Setembro de 2007, CEJ
25
Patto, Pedro Vaz (2007) “O crime de tráfico de pessoas no Código Penal revisto. Análise de
algumas questões”, Jornadas sobre a Revisão do Código Penal – 27 e 28 de Setembro de
2007, CEJ
148
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
factos”. O autor dá um exemplo para clarificar o seu ponto de vista: “quem aloja
uma mulher fomentando o exercício por parte dela de prostituição, ao mesmo
tempo que lhe faz ameaças graves, comete crime tráfico de pessoas, que –
repare-se – não exige a entrada ilegal no país, nem sequer implica que a vítima
seja imigrante (art. 160.º, n.º 1,alínea a), CP revisto), ou comete lenocínio,
ademais qualificado pela ameaça grave (art. 169.º, n. 2, alínea a), CP revisto)?”
(Sousa Mendes, 2007). Segundo a sua opinião, não se consegue propor neste
caso específico uma qualificação jurídica adequada e definitiva.
Mas, para o autor, poderá vir a assumir particular complexidade a
distinção entre o crime de tráfico de pessoas e o crime de auxílio à imigração
ilegal (Lei n.º 23/2007, de 4 de Julho). Se, à primeira vista, os pressupostos
teóricos e conceptuais de ambos os crimes parecem claros – justificando a
moldura penal desigual –, estes implicam, na prática, uma linha contínua a unir,
nos seus extremos, o tráfico e a imigração ilegal. Na sua opinião, a lei não
consegue esclarecer esse continuum. Nas suas palavras, “vimos que a
dicotomia entre tráfico e auxílio à imigração ilegal está essencialmente ligada
ao contexto de exploração que se verifica no primeiro caso. Só que, na lei, não
existe uma definição clara dos termos desta exploração, apenas se usando
conceitos indeterminados, tais como “exploração sexual” ou “exploração do
trabalho” (…). Ora, o preenchimento desses conceitos indeterminados na
prática é decisivo para uma distinção correcta entre tráfico e auxílio à imigração
ilegal“.
A revisão do crime de tráfico de pessoas comporta, pois, para o autor,
um perigo: o de que este tipo legal “se transforme, na prática, numa
incriminação simbólica, como se fosse uma nobre bandeira dos direitos
humanos que se desfralda na lei para efeitos de pura propaganda, ao mesmo
tempo que o tipo legal de auxílio à imigração clandestina, cujos elementos são
de prova menos exigente, acabaria cobrindo todas as situações descobertas de
exploração sexual ou de exploração laboral de imigrantes. E esse perigo não é
coisa de somenos, como se fosse apenas uma questão de punir pela pena do
crime menos grave, em vez de pela pena do mais grave, mas também muito
mais difícil de provar…”. Não considera esse perigo resolúvel pela sugestão de
alguns especialistas, como Pedro Vaz Patto, que afirmam que se não for
possível obter prova num determinado tipo de crime, obtém-se relativamente a
149
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
150
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
151
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
abranja a actuação com dolo eventual. Esta traduz igualmente de modo mais
exacto a intenção do legislador em combater o tráfico através da procura.
Contudo, se em termos de política criminal não tem dúvidas quanto a
esta interpretação, o magistrado apresenta hesitações quanto à interpretação
do direito vigente. E, neste plano, é necessário, segundo a sua opinião, tecer
duas considerações. Em primeiro lugar, quem actua com dolo eventual actua
com conhecimento, porém não um conhecimento “certo”, mas “incerto” ou
“eventual”. Em segundo lugar, a intenção do legislador, ao fazer referência à
existência deste conhecimento, terá sido, no seu entender, “a de restringir o
alcance que sempre decorreria das regras gerais da relevância do dolo, as
quais, obviamente, impediriam sempre uma responsabilização objectiva do
utilizador (…) ou uma sua responsabilização por simples negligência” (Patto,
2007). Ou seja, é sua opinião que o legislador ao referir-se a “conhecimento”
pressupôs “conhecimento certo”. Esta é, no entanto, uma matéria complexa e
indefinida que poderá divergir consoante se opte pelo plano de interpretação da
política criminal ou pelo plano de interpretação do direito vigente.
26
Crimes contra a liberdade e a autodeterminação sexual de menores”. Formação Permanente
do CEJ “Jornadas sobre a Revisão do Código Penal”. Setembro de 2007.
27
Repercussões da Lei n.º 59/2007, de 4/9 nos “crimes contra a liberdade sexual”. Formação
Permanente do CEJ “Jornadas sobre a Revisão do Código Penal
28
Os crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual e a reforma do Código Penal.
Universidade Autónoma de Lisboa.
152
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
comunidade ou do Estado, mas antes como crimes que atentam contra o bem
jurídico individual da liberdade e da autodeterminação sexual”. De outro, a
tendência, que tem vindo a ser acolhida nos diplomas de direito europeu e
internacional, respeitantes à exploração sexual de crianças e à exploração
infantil, de tutelar para além do bem jurídico individual da liberdade e da
autodeterminação sexual no que diz respeito a tais situações.
Para esta autora, esta última tendência, patente agora em algumas
incriminações, em particular, nas que passam a abranger menores até aos 18
anos de idade, “faz mesmo recear o retorno a um direito penal sexual tutelar da
moral e dos costumes (dos bons costumes)”.
153
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
normativo continua a ser “um crime sem vítima”, devendo ser descriminalizada.
Defende, aliás, que esta posição se encontra hoje reforçada, atendendo à nova
configuração do tipo legal de tráfico de pessoas (artigo 160.º, n.º1, do Código
Penal).
154
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Crime de receptação
Sobre esta matéria, destaca-se a posição de André Mouzinho29, que
considera ter-se perdido “uma boa oportunidade de discussão relativamente à
29
A reforma no Código Penal e o Crime de Receptação previsto no artigo 231.º, n.º 2, do
Código Penal. Verbo Jurídico. Novembro de 2007.
155
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
passagem deste crime, no tipo de ilícito previsto no n.º 2, para o regime contra-
ordenacional”, atendendo à gravidade da conduta em questão. O autor defende
que “o Princípio da Subsidiariedade do Direito Penal como ultima ratio não está
a ser respeitado para este tipo de conduta (…). Existem acções mais graves
quer a nível dos bens jurídicos que são protegidos, quer a nível de ilicitude e de
culpa”.
Invoca, ainda, razões de ordem pragmática para defender a passagem
deste tipo de crime a contra-ordenação, como a poupança do erário público
evitando julgamentos; a atenuação da complexidade dos processos, que se
passariam a centrar apenas naqueles sujeitos que “estariam em nítido conluio
(…) com os agentes que cometeram os crimes patrimoniais precedentes”; e
possibilidade de arrecadação de receitas com o produto das coimas, que
poderiam ser utilizadas em acções de prevenção.
Crimes ambientais
Damos conta, sobre esta matéria, de algumas reflexões constantes de
dois textos: um de José Souto de Moura30 e Maria Paula Ribeiro de Faria31.
30
Crimes ambientais. Formação Permanente do CEJ. Jornadas sobre a Revisão do Código
Penal. Setembro de 2007.
31
Do Direito Penal do Ambiente e da sua reforma. Formação Permanente do CEJ. Jornadas
sobre a Revisão do Código Penal. Setembro de 2007.
156
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
157
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
esta sistematização foi a utilizada por se querer articular o artigo 280.º com o
artigo 279.º.
158
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
32
O regime do segredo de justiça no Código de Processo Penal revisto. Formação Permanente
do CEJ. Jornadas sobre a Revisão do Código de Processo Penal. Novembro de 2007.
159
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
160
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Prova
No âmbito desta matéria analisam-se as comunicações de Pedro
Verdelho sobre exames, perícias e prova digital33, Damião da Cunha34 e
Maria de Fátima Mata-Mouros35 sobre o regime legal das escutas telefónicas.
161
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
162
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Escutas telefónicas
Sobre esta matéria, Damião da Cunha, no seu texto, começa por tecer
duas considerações gerais sobre o tema. Uma relativa à revisão do código,
referindo que “independentemente das críticas que possam ser feitas às
concretas soluções agora consagradas, não se pode deixar de atribuir créditos
a esta Revisão, por versar uma matéria que tantas dificuldades suscitou,
procurando criar uma regulamentação – que, até agora, não tinha sido
seriamente ensaiada – que se pretende adequada a uma realidade da
investigação criminal, mas sem deixar de dar o relevo e a ponderação devidos
às garantias, institucionais ou subjectivas, que com as escutas entram em
conflito” (2007: 2). A segunda, de âmbito mais genérico, promovendo a
necessidade de uma reflexão mais profunda que abrangesse, quer os
163
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
164
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
167
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
A autora conclui que “aquilo que não vai mudar com a nova lei” é “a
persistente indefinição legislativa. Apesar dos inúmeros esclarecimentos
introduzidos na lei processual penal pela reforma em discussão, a verdade é
que naquilo que realmente interessava disciplinar continuam a proliferar os
conceitos vagos e imprecisos” (2007: 19). Aponta como expoente máximo
desta indefinição a ausência de parâmetros legais para a autorização de uma
escuta, defendendo que a nova redacção do artigo 187.º, n.º 1, do Código de
Processo Penal, tendo ido “espreitar as legislações estrangeiras”, ignorou,
“todavia, os defeitos de há muito identificados na observação das mesmas. Na
prática, continuará a confundir-se a previsão legal do catálogo de crimes que
admitem prova por via de intercepções telefónicas com a legalidade das
mesmas” (2007: 20).
A autora deixa uma última nota relativa à localização celular, enquanto
medida cautelar e de polícia, prevista no artigo 252.º-A, do Código de Processo
Penal, afirmando que o sistema disponível na Polícia Judiciária não permite a
localização celular sem que pressuponha a activação de uma intercepção
telefónica. “ou seja, para accionar uma localização celular a polícia continua a
ter de pedir ao juiz a realização de uma intercepção (leia-se escuta) telefónica.
Mas a lei já fala em dispensa de pedido prévio ao juiz. Em matérias que
pressupõem alguma sofisticação tecnológica a bondade da lei não pode andar
desligada dos instrumentos que a concretizam” (2007: 23).
36
“Escutas telefónicas”. Jornadas de Revisão do CPP, organizadas pelo CEJ. Aula Magra da
Reitoria da Universidade de Lisboa. 15 e 16 de Novembro de 2007
168
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Medidas de Coacção
Sobre esta temática analisamos as reflexões de Vítor Sequinho dos
Santos e de Nuno Brandão, ambas feitas no âmbito das já referidas Jornadas
sobre a Revisão do Código de Processo Penal.
169
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
37
Medidas de coacção. Formação Permanente do CEJ. Jornadas sobre a Revisão do Código
de Processo Penal. Novembro de 2007.
170
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
171
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
38
Medidas de coacção: o procedimento de aplicação na revisão do Código de Processo Penal.
Formação Permanente do CEJ. Jornadas sobre a Revisão do Código de Processo Penal.
Novembro de 2007
172
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
173
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Prisão Preventiva
A respeito das alterações introduzidas no regime da prisão preventiva,
Vítor Sequinho dos Santos39 considera que se trata de “um dos domínios
onde o ímpeto reformista se fez sentir com maior intensidade” (2007:19).
Salienta, sobre esta matéria, os seguintes aspectos.
Considera que o agravamento do requisito de aplicação desta medida de
coacção, introduzido pela redacção do artigo 202.º n.1, alínea a), pode vir a
deixar de fora do seu âmbito de aplicação “segmentos da criminalidade com
acentuada gravidade e que causam justificados sentimentos de insegurança na
população, sobretudo quando se trate de condutas reiteradas do mesmo
agente” (2007:20).
Quanto à aliena b) do mesmo normativo, entende que o seu âmbito de
aplicação é restrito em relação ao esperado e que a redacção está desfasada
39
Formação Permanente do CEJ “Jornadas sobre a Revisão do Código de Processo Penal”.
Novembro de 2007.
174
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
175
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
restantes normas deste artigo, com uma redacção enganadora e com omissões
incompreensíveis” (2007: 29). Prevê, assim, problemas interpretativos a
respeito da pena a ter em conta para cálculo do limite máximo da prisão
preventiva. Nos termos desse normativo, o prazo máximo de prisão preventiva
eleva-se para metade da pena que tiver sido fixada, quando o arguido seja
condenado em pena de prisão em 1.ª instância e a condenação tenha sido
confirmada em sede de recurso ordinário. Desde logo, Pedro Verdelho afirma
que o termo “confirmada” não é feliz. Entende que o âmbito de aplicação do
normativo não se limita às hipóteses de confirmação da sentença de 1.ª
instância pelo tribunal superior. Assim, interpreta o termo “confirmada” no
sentido de a decisão do tribunal superior também condenar numa pena de
prisão efectiva, mesmo quando esteja a julgar total ou parcialmente procedente
o recurso interposto pelo arguido ou pelo Ministério Público no interesse deste.
Por outro lado, levanta-se, também, a questão de saber de que tribunal (a quo
ou ad quem) será a sentença a ter em conta, entendendo que, nesses casos,
será a tendida a de duração mais curta. O autor entende que se suscitam
problemas no caso de concurso de crimes, pois poderá ser tida em conta ou a
pena unitária ou uma das penas parcelares. E, destas, qual será atendida.
Considerando que se deverá ter em conta uma das penas parcelares, esta
deverá ser respeitante a um crime que admita prisão preventiva. Havendo mais
de uma, entende Pedro Verdelho, deverá ser considerada a pena mais
elevada. Não obstante, o autor admite que esta posição poderá não ser
consensual. Considera, por isso, que “o legislador deveria ter previsto e
regulado estas situações, em vez de (…) abrir a porta a indefinições e a
consequentes divergências nas decisões judiciais, com todas as injustiças que
daí decorrem, para mais tratando-se de matéria que contende tão
intensamente com a liberdade das pessoas” (2007: 32).
40
“Processos especiais: os processos sumário e abreviado no Código de Processo Penal
(após a revisão operada pela Lei 48/2007, de 29 de Agosto)”. Formação Permanente do CEJ.
Jornadas sobre a Revisão do Código Penal. Julho de 2007
176
Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
41
“O processo sumaríssimo na revisão do Código de Processo Penal”. Formação Permanente
do CEJ. Jornadas sobre a Revisão do Código Penal. Novembro de 2007.
42
“Suspensão provisória do processo. no Código de Processo Penal revisto – alterações e
clarificações”. Formação Permanente do CEJ. Jornadas sobre a Revisão do Código de
Processo Penal. Novembro de 2007.
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“não vemos razão para que ela não possa ser aplicada em processo
sumaríssimo”.
Quanto à admoestação, como constitui uma pena não privativa da
liberdade, a autora entende que a mesma poderá ser aplicada em processo
sumaríssimo.
Considera de “aplaudir” a redacção do artigo 392.º, n.º 1, uma vez que
nos casos em que o arguido não tenha tomado a iniciativa de propor ao
Ministério Público que requeira ao tribunal a aplicação da sanção em processo
sumaríssimo, o Ministério Público apenas poderá requerer o processo
sumaríssimo após ter ouvido o arguido. Para Sónia Fidalgo, com a audição
prévia do arguido “fica-se com a certeza de ser conhecido no processo o
paradeiro do arguido, podendo evitar-se a perda de tempo e de meios nas
situações em que, a final, por não se conhecer o paradeiro do arguido, não é
possível notificá-lo da proposta do Ministério Público, devendo o caso ser
julgado noutra forma processual”, além de, ouvido, o arguido poder recusar a
aplicação da sanção em processo sumaríssimo logo nesta fase inicial e este
contacto preliminar como o arguido poder ser encarado como “uma forma de
preparação deste para a aceitação da sanção proposta pelo Ministério Público
e, deste modo, contribuir para a concretização de uma maior eficácia do
processo sumaríssimo”.
Uma das novidades introduzidas com a reforma de 2007 é a reparação
arbitrada em processo sumaríssimo (artigo 82.º-A do Código de Processo
Penal), a qual se traduz numa “indemnização civil, de arbitramento oficioso, em
caso de condenação”. A autora interroga-se sobre se a inclusão da reparação
no requerimento do Ministério Público “não pode conduzir a uma maior
oposição do arguido à aplicação da sanção em processo sumaríssimo”.
Sobre o crime de violação de imposições determinadas a título de pena
aplicada em processo sumaríssimo (artigo 353.º do Código Penal), concorda
com o facto de ter sido colmatada a ausência de previsão legal quanto ao
procedimento, nos casos em que o condenado em processo sumaríssimo em
sanção diferente da pena de multa principal não cumprisse essa sanção.
Manifesta, porém, algumas dúvidas “quanto à adequação da solução
encontrada”. Avança que, provavelmente, teria sido possível uma solução
inspirada no antigo regime de prova “de modo a que se o arguido não
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Recursos
Nesta matéria analisam-se aqui os textos de Ana Maria Barata de
Brito43 e de Simas Santos e Leal-Henriques44.
43
“Recursos em processo penal: a interposição do recurso; o recurso da matéria de facto”
Formação Permanente do CEJ. Jornadas sobre a Revisão do Código de Processo Penal.
Novembro de 2007
44
Recursos em Processo Penal (De acordo com o Código do Processo Penal revisto). 6.ª
edição. Lisboa. Editora Rei dos Livros. 2007.
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Bibliografia
Associação de Juízes pela Cidadania. Petição pela revisão dos Códigos Penal
e do Processo Penal.
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Cunha, José Manuel Damião da. O regime legal das escutas telefónicas.
Algumas breves reflexões. Jornadas sobre a Revisão do Código de Processo
Penal. CEJ. Novembro de 2007. Disponível em http://www.cej.mj.pt/cej/.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Faria, Maria Paula Ribeiro de. Do direito penal do ambiente e da sua reforma.
Jornadas sobre a Revisão do Código Penal. CEJ. Setembro de 2007.
Disponível em http://www.cej.mj.pt/cej/.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Mota, José Luís Lopes da. Membro Nacional da Eurojust. Notas sobre a
Proposta de Lei de Revisão do Código de Processo Penal. 09/03/2007.
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Monitorização da Reforma Penal: o processo de preparação e o debate público da reforma
Verdelho, Pedro. Prova técnica no novo CPP: exames, perícias e prova digital.
Jornadas sobre a Revisão do Código de Processo Penal. CEJ. Novembro de
2007. Disponível em http://www.cej.mj.pt/cej/.
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