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2009
Esta constatação nos leva a ressaltar a existência de dois tipos de cidade: a cidade formal,
legalizada e planejada, e a cidade informal, irregular ou clandestina, na qual reside a grande
maioria dos habitantes dos municípios. E aí predominam a ausência de acesso à
infraestrutura urbana essencial e à moradia com condições de habitabilidade e respeito à
dignidade humana.
Este é o quadro que marca o processo de pós modernidade e globalização. E ele exige, para
ser superado, a efetivação de políticas públicas de regularização fundiária na grande maioria
das áreas pobres que integram o território do município. Para que se possam formar cidades
eqüitativamente justas, com o acesso pela maioria das camadas pobres aos serviços
públicos essenciais. Cidades geridas por governos democráticos, que garantam a efetiva
participação dos munícipes na definição das políticas públicas. Cidades com a definição de
suas áreas de execução. E, sobretudo, cidades com a instituição de orçamentos
participativos, que representam, por excelência, a efetividade da democracia. Cidades cujo
objetivo maior seja reduzir ao mínimo as desigualdades sociais. Cidades que tenham por
fundamento a soberania, a cidadania e a dignidade da pessoa humana na construção de
uma sociedade livre, justa e solidária.
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XIV Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Salvador de Bahia, Brasil, 27 - 30 oct. 2009
Embora o pensamento constitucional ainda não se tenha realizado em sua plenitude, novo
marco histórico da regulação da propriedade urbana e novos instrumentos legais urbanístico
foram instituídos, com a edição do Estatuto da Cidade, no ano de 2001.
Destacamos que diversos obstáculos ainda se impõem para a realização desses objetivos.
Seja a necessária mudança de paradigmas, atitude dos profissionais técnicos que deveriam
realizar essas atribuições, seja através de outros Poderes da República, a exemplo do Poder
Judiciário local em sua reconhecida ausência de agilização nos procedimentos jurisdicionais,
especialmente no que diz respeito ao reconhecimento do domínio e da propriedade de áreas
urbanas através do instrumento do usucapião urbano para fins de moradia, individual ou
coletivo. O que também ocorre nas funções delegadas aos serviços cartoriais, fundamentais
partícipes no processo de regularização fundiária, em face da imprescindível necessidade de
registros dos títulos concedidos de propriedade ou posse regular da terra urbana da cidade
formal.
Através de decisão política de gestão governamental, a partir do ano 2001 até a atualidade, o
Município do Recife busca realizar estes objetivos como instrumentos de programas
prioritários a serem realizados, além de prever em seu Plano Diretor a obrigatoriedade da
regularização fundiária em áreas pobres da cidade com a imprescindível participação de
seus moradores e a realização de parcerias com outros entes, sejam públicos ou privados,
para a dotação de infraestrutura e acesso aos serviços públicos essenciais, a exemplo das
operações urbanas e as parcerias público privadas.
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Assim, a regularização fundiária, nos dias atuais no Município do Recife, não se revela
apenas intenção de realizar a vontade política do administrador público, mas, passou a se
constituir como direito subjetivo de todos os cidadãos habitantes e obrigação governamental.
Destacamos, contundo, que a moradia representa um dos custos mais caros para sua
efetivação, nos países capitalistas. Ademais, o valor da terra urbana, hoje escassa nos
municípios brasileiros, especificamente no município que administramos, tem-se apresentado
como de valor mais caro em nosso país. O que decorre da prática, em muitas décadas, do
“lote vazio” para fins de especulação imobiliária, agregada a isto a mais valia urbana em
decorrência dos investimentos públicos na infraestrutura das cidades, que ao final se
revertem em benefício de poucos. Trata-se de desafio que nos empenhamos em superar, a
partir da inversão de prioridades dos investimentos, através de discussão ampla na
elaboração do orçamento público participativo.
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Citamos Nelson Saule Jr. (1999), jurista especializado em Direito Urbanístico, que aponta
para a necessária mudança no papel do Estado, como já frisamos anteriormente:
“justamente para atender os anseios e necessidades de novo homem é que o Estado foi
obrigado a abandonar o seu posicionamento passivo e assumir um papel mais ativo,
notadamente após a Primeira Guerra Mundial. Surgiu, assim, o estado intervencionista,
planejador, o Estado prestador de serviços, entidade que alguns chamam, como foi visto, de
Estado Social de Direito, em oposição ao Estado Liberal de Direito, eminentemente
abstencionista. Nas sociedades industriais mais avançadas fala-se inclusive, no Welfare
State, no Estado ativamente voltado ao bem estar de seus cidadãos. O novo papel desse
Estado consiste, basicamente, em promover os direitos econômicos e sociais, isto é, de
colocar em prática uma vasta gama de prestações positivas em benefício da coletividade”
O direito à moradia - atualmente considerado uma “face da mesma moeda” dos instrumentos
da regularização fundiária - é reconhecido como direito humano em diversas declarações e
em tratados internacionais dos quais o Estado Brasileiro (União) é parte, tais como:
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Assim, a execução do Programa exige uma articulação permanente entre os diversos atores
sociais, órgãos públicos e sociedade, buscando maior agilidade e rapidez para a resolução
dos processos, bem como, a maior economia na aplicação dos recursos, especialmente, com
custas processuais e taxas cartoriais.
O Programa Minha Terra, em execução desde o ano de 2005, busca garantir a permanência
das famílias nas suas localidades de origem e lhes assegurar a titularidade definitiva do lote,
com o registro no cartório competente.
Para tanto, o Município do Recife realiza as seguintes etapas para execução do Programa
Minha Terra, conforme especificado abaixo:
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E ainda explicitamos que, para a inclusão do Programa nas áreas objeto de execução da
regularização fundiária, é necessário que elas sejam assim caracterizadas:
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Outro instrumento jurídico que merece destaque, em face da sua importância e dos objetivos
alcançados, é a Concessão de Direito Real de Uso (CDRU), o mais utilizado pelo município
para regularização das áreas sob o seu domínio e titularidade. Este Instrumento foi instituído
pelo Decreto-Lei nº 271, de 28 de fevereiro de 1967, época da ditadura militar, que
estranhamente permitiu ao Poder Público legalizar espaços públicos utilizados para fins
residenciais e industriais, talvez este último, o real objetivo da edição do decreto.
No Município do Recife, a outorga deste instrumento é efetivada de forma gratuita, para fins
de utilização de interesse social, com transferência apenas do domínio útil em favor do
beneficiário, ou seja, sem a titularidade dominial plena, podendo, todavia, ser adquirido e
transferido entre vivos ou por meio de sucessão originada por morte, em favor dos
ascendentes ou descendentes.
No uso desse instrumento, em que pese originar direito real, através de contrato quando de
sua titulação, são estabelecidas cláusulas que o tornam resolúvel e garantem o cumprimento
da finalidade de sua instituição, em havendo alteraçoes relativas ao uso da concessão, o que
acarretará automaticamente a extinção deste direito.
Em que pese toda a legislação que no presente se coloca à disposição dos operadores e
gestores governamentais, verificam-se também grandes dificuldades para a obtenção da
gratuidade do registro imobiliário e a agilização desses processos como prioritários, perante
tais órgãos, uma vez que a lógica tradicional é privatista e individual.
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Tais desafios, para nós, só serão superados, dependendo de quanto maior for a gestão
democrática e participativa das cidades, permitindo-se a todos e em especial, à grande
maioria, a eleição das políticas públicas a serem executadas, garantindo-se a real mudança
no contexto ainda existente, marcado por exclusão, segregação, privatização e deterioração
dos grandes centros urbanos. Só assim poderemos ter uma única cidade para todos.
QUADROS E TABELAS
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11 ações para 62
Três Carneiros 1757 *** ***
autores
Brasília Teimosa *** *** *** ***
Coelhos *** 3 *** ***
Rosa Selvagem *** 6 *** ***
11 ações para 11
Vila Felicidade *** 100 ***
autores
132 ações para
Caçote *** *** ***
132 autores
154 ações para
TOTAL 3685 109 ***
205 autores
2008
CADASTRO TÍTULOS TÍTULOS AÇÕES DE
COMUNIDADE S FÍSICO E EMITIDO REGISTRADOS USUCAPIÃO
SOCIAL S E ENTREGUES AJUIZADAS
Vila São Miguel *** 100 *** ***
Brasília Teimosa *** *** *** ***
Vila Vintém *** *** 48 ***
Entra Apulso *** *** 23 ***
Greve Geral *** *** 15 ***
Coelhos *** *** 45 ***
Vila Felicidade *** 67 *** ***
30 ações para
Três Carneiros
*** *** *** 239 autores
30 ações para
TOTAL 496 167 131
239 autores
2009
CADASTRO TÍTULOS TÍTULOS AÇÕES DE
COMUNIDADE S FÍSICO E EMITIDO REGISTRADOS USUCAPIÃO
SOCIAL S E ENTREGUES AJUIZADAS
Brasília Teimosa 12.000 150 *** ***
Vila São Miguel *** 200 *** ***
TOTAL 1100 350 *** ***
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DECRETO-LEI n. º 271/1967
ESTATUTO DA CIDADE – Lei Federal n. º 10.257/2001.
LEI DO PREZEIS – Lei Municipal nº 16113/1995.
LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DO RECIFE. 1990.
MEDIDA PROVISÓRIA nº 2.220/2001
PLANO DIRETOR DO RECIFE - Lei Municipal n. º 17.511/2008.
BIOGRAFIA
João da Costa Bezerra Filho nasceu em Angelim, no Agreste pernambucano, começou a
trabalhar logo cedo e chegou ao Recife, na década de 70, para estudar. Cursou agronomia
na UFRPE e administração de empresas na UFPE. Nessa época teve início sua militância
estudantil nos diretórios das universidades. Foi diretor do DCE da Federal, presidente do
DCE da Rural, coordenador geral da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil e
diretor da UNE.
Ingressou no Partido dos Trabalhadores (PT) em 1988. No mesmo ano, com a eleição de
João Paulo como primeiro vereador do PT no Recife, foi designado para ser o interlocutor
entre o mandato popular e o Partido. Todas as campanhas seguintes de João Paulo – para
deputado estadual, prefeito de Jaboatão dos Guararapes e prefeito do Recife – foram
coordenadas por ele. São 20 anos de amizade, respeito e muito trabalho pelo povo do
Recife.
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