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Santana Castilho
Em linguagem corrente, diz-se global tudo o que pode ser considerado em globo,
isto é, em conjunto. Mas o termo globalização colhe a sua justificação num modismo
dos muitos com que a Economia nos brindou, enquanto actividade e arte de “prever e
planear, organizar, dirigir, coordenar e controlar”.
Os primeiros indícios de uma nova moda em Economia aparecem sempre através de uma
poderosa máquina comunicacional montada por gurus milionários. Essa máquina global
encarrega-se de invadir os “media” com notícias e artigos evidenciadores das
melhorias que a teoria moderna introduz na actividade das organizações. À sua
sombra, e servindo-a na secular lógica parasitária, despontam de imediato legiões
de consultores que lhes ampliam os ecos em sucessivas ondas de êxitos anunciados.
E quando o processo claudica face à linguagem incontestável dos resultados, já
outra moda domina, na voracidade efémera do consumo. Eis o berço da Avaliação do
Desempenho!
Por globalização entende-se a tendência cada vez mais acentuada para as empresas
mudarem o seu teatro de operações para zonas geográficas e culturais mais vastas,
procurando beneficiar de uma série evidente de economias de escala. Entre outras
causas, os estonteantes progressos das tecnologias de comunicação foram
determinantes para a abertura de fronteiras e a instalação da lógica da livre
circulação de produtos, serviços, capitais e recursos humanos. Mas um olhar atento
para o fenómeno descrito revela-nos que as suas consequências imediatas, isto é, o
incremento da comodidade de vida e da riqueza dos mais industrializados, deixa de
fora dois terços da população do mundo, para cuja superação de dificuldades nada
disto se orienta. No que toca à medição de riscos de impacte social e ambiental,
que a longo prazo semelhante desequilíbrio provoca, não diviso preocupações
actuantes. E, no entanto, o mundo mostra-se desnorteado e as economias de papel
ficaram atarantadas com os recentes escândalos financeiros.
A perplexidade que assim manifesto é ainda maior ante o antagonismo dos actuais
dinamismos sociais: se por um lado o mundo se torna cada vez mais ao alcance de
todos, globalizando-se, por outro são cada vez mais acentuadas as tendências para
o segmentar e dividir. Atente-se, a este propósito, à pujança de diferentes
fundamentalismos, enquanto nos tradicionais partidos políticos ocidentais se
esbatem e igualizam as ideologias e se assiste à dissolução da família e dos
nossos seculares valores de referência. Tenha-se presente, a título de mero
exemplo, que na América do Sul são mais de uma centena os grupos linguísticos
perfeitamente diferenciáveis, que na pequena e conturbada Guiné-Bissau se falam
cerca de 50 crioulos e que, em África, o número de idiomas supera o de qualquer
outro continente. Não percamos de vista a desagregação política da ex-União
Soviética, marcada pela presença de 104 etnias diferentes. E recordemos, ainda, o
recente drama da desaparecida Jugoslávia e os horrores da Irlanda, do País Basco,
do Uganda, do Sudão e do Iraque. Numa palavra, o corolário infindável de uma
realidade que nenhuma globalização resolveu: apenas 10 por cento das nações são
etnicamente consistentes.
Aqui, como em muitas outras áreas fulcrais da vida, temos tido tendências,
assumidas ou dissimuladas, para enquistarmos em modelos. Os teóricos têm uma
propensão monstruosa para nos resumirem a modelos e tudo gerir com a sua
aplicação. Talvez que a Escola do terceiro milénio se deva preocupar com a
implosão dos modelos que espartilham o Homem. Aliás, e naquilo de que estamos a
falar, o novo modelo, o da globalização, pode conduzir-nos ao caos. Números
disponíveis são indiciadores da orientação da economia para objectivos ambiental e
socialmente insustentáveis. O “Relatório do Desenvolvimento Humano” que a este
propósito compulsei, deixa-nos perplexos. Lá se constata que mais de 1.000 milhões
de pessoas não têm possibilidade de satisfazerem as suas necessidades básicas; que
85 por cento da riqueza mundial é detida por 23 por cento da população e que a
barreira entre os ricos e os pobres duplicou nas últimas 3 décadas; que 1 bilião
de pessoas não tem água potável, 2 biliões vivem sem saneamento básico, 2 milhões
morrem de sida todos os anos, 940 milhões de adultos são iletrados e 175 milhões
estão emigrados.
Aqui têm a singela avaliação do desempenho dos senhores do mundo, sem necessidade
de outro descritor que não seja a miséria humana.
Como sabemos, não é verdade que, durante 30 anos, não tenha havido avaliação do
desempenho dos professores, ou que os professores não queiram ser avaliados. A
questão reside na substituição de um modelo ineficaz, o que existia, por outro,
escabroso, o que se propõe, que, se se consumar, trará mais caos ao caótico
sistema de ensino. Nenhuma organização séria, seja pública ou privada, propõe
mudar seja o que for, neste quadro, sem permitir (e mais que isso, fomentar e
promover) o envolvimento dos visados na construção do processo. A avaliação do
desempenho só vale a pena se for concebida como instrumento de gestão do
desempenho. Quer isto dizer que o seu fim primeiro é identificar obstáculos ao
desenvolvimento das organizações, removendo-os e não castigar pessoas. Aliás, sem
com isso pretender diminuir a importância da avaliação do desempenho, sempre
recordarei a abundância de estudos e reflexões teóricas que sublinham as
perversidades que a avaliação do desempenho introduz nos processos, circunstância
que tem deslocado a ênfase para a cultura organizacional. Dito doutro modo, as
instituições maduras preocupam-se hoje mais com a apropriação por parte dos
colaboradores dos valores que intrinsecamente geram o sucesso e melhoram o
desempenho, que com os instrumentos que, extrinsecamente, o promovem.
No meio de tudo isto, a avaliação do desempenho está longe de ter o impacto que
muitos lhe atribuem. Mas vamos a ela e falemos dos erros que subjazem ao decreto
que a regulamenta, sob a forma de perguntas que endereço aos que apoiam a ministra
da Educação e denigrem os professores:
Não é certo que o sucesso dos alunos é muito mais provável numas disciplinas que
noutras? Não é verdade que a avaliação externa não se aplica a todas as
disciplinas? Como aceitar que a inteligência diferente dos alunos, a sua aplicação
e interesse, as deficiências transitadas de anos anteriores, por exemplo, possam
rotular o trabalho dos professores, ao menos sem um acurado mecanismo ponderador?
Como indexar, assim, parte da classificação dos docentes a critérios tão
vulneráveis? Como negar que a curta história do diploma em apreço seja a macabra
história de comportamentos continuados de desrespeito da própria lei por parte dos
seus autores, como a insensatez das datas, a não regulamentação do essencial e a
trapalhice continuada para salvar a face suja?
As perguntas que ficam não são mera retórica. São a evidência de um sinistro
disparate. E como a epígrafe da minha intervenção nos remete para o sacro e vai
longa, permitam-me que termine a alusão à segunda vertente que vos anunciei com
recurso a uma daquelas muitas mensagens que nos chegam pela internet, sem anúncio
nem parcimónia de entrada. Esta vinha sem autoria identificada, que por isso não
cito, mas constitui uma bela rábula à Avaliação do Desempenho que a indigência
intelectual quer impor às escolas e aos professores. Reza assim:
Naquele tempo, Jesus subiu ao monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma
grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem. Depois,
tomando a palavra, ensinou-os dizendo: em verdade vos digo, bem-aventurados os
pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm
fome e sede de justiça, porque serão saciados; bem-aventurados os misericordiosos,
porque deles...
Um dos fariseus presentes, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem
ensinado coisa alguma, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo: