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O documento trata de um recurso especial interposto por uma empresa de leasing e um cliente após decisão judicial sobre protesto indevido de título. O STJ analisa se houve divergência jurisprudencial sobre a caracterização da culpa da empresa e o valor da indenização. A Corte aplica o princípio da boa-fé e entende que não houve ofensa a este, negando provimento aos recursos.
O documento trata de um recurso especial interposto por uma empresa de leasing e um cliente após decisão judicial sobre protesto indevido de título. O STJ analisa se houve divergência jurisprudencial sobre a caracterização da culpa da empresa e o valor da indenização. A Corte aplica o princípio da boa-fé e entende que não houve ofensa a este, negando provimento aos recursos.
O documento trata de um recurso especial interposto por uma empresa de leasing e um cliente após decisão judicial sobre protesto indevido de título. O STJ analisa se houve divergência jurisprudencial sobre a caracterização da culpa da empresa e o valor da indenização. A Corte aplica o princípio da boa-fé e entende que não houve ofensa a este, negando provimento aos recursos.
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE : DIOMEDES TADEU PEREIRA BATISTA ADVOGADO : JLIO CSAR PEREIRA FURTADO RECORRENTE : VOLKSWAGEN LEASING S/A ARRENDAMENTO MERCANTIL ADVOGADO : OKSANDRO GONALVES E OUTROS RECORRIDO : OS MESMOS EMENTA Recurso especial. Civil. Indenizao. Aplicao do princpio da boa-f contratual.Deveres anexos ao contrato. - O princpio da boa-f se aplica s relaes contratuais regidas pelo CDC, impondo, por conseguinte, a obedincia aos deveres anexos ao contrato, que so decorrncia lgica deste princpio. - O dever anexo de cooperao pressupe aes recprocas de lealdade dentro da relao contratual. - A violao a qualquer dos deveres anexos implica em inadimplemento contratual de quem lhe tenha dado causa. - A alterao dos valores arbitrados a ttulo de reparao de danos extrapatrimoniais somente possvel, em sede de Recurso Especial, nos casos em que o quantum determinado revela-se irrisrio ou exagerado. Recursos no providos. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer dos recursos especiais e negar-lhes provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Castro Filho, Antnio de Pdua Ribeiro e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros. Braslia (DF), 8 de junho de 2004(data do julgamento). MINISTRA NANCY ANDRIGHI, Relatora Documento: 480725 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 02/08/2004 Pgina 1 de 9
Superior Tribunal de Justia RECURSO ESPECIAL N 595.631 - SC (2003/0165732-7)
RECORRENTE : DIOMEDES TADEU PEREIRA BATISTA ADVOGADO : JLIO CSAR PEREIRA FURTADO RECORRENTE : VOLKSWAGEN LEASING S/A ARRENDAMENTO MERCANTIL ADVOGADO : OKSANDRO GONALVES E OUTROS RECORRIDO : OS MESMOS RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI RELATRIO Recursos especiais interpostos por DIOMEDES TADEU PEREIRA BATISTA e VOLKSWAGEN LEASING S/A ARRENDAMENTO MERCANTIL, ambos com fundamento na alnea "c" do permissivo constitucional. Ao: de indenizao por danos morais decorrentes de protesto de ttulo j pago. Sentena: improcedente o pedido. Acrdo: deu provimento ao apelo majorando o valor da indenizao para duzentos salrios mnimos, em acrdo que ficou assim ementado: "APELAO CVEL. INDENIZATRIA. TTULO QUITADO. PROTESTO LAVRADO POSTERIORMENTE. DANO MORAL CARACTERIZADO. INDENIZAO DEVIDA. RECURSO NO PROVIDO. Configura dano moral, o protesto de ttulo devidamente pago, quando a dvida j tiver sido quitada, independentemente de comprovao do prejuzo material sofrido pelo lesado, ou da prova objetiva do abalo sua honra e sua reputao, porquanto so presumidas as conseqncias danosas resultantes desse fato. QUANTUM INDENIZATRIO. CIRCUNSTNCIAS DO CASO CONCRETO. EFETIVO ABALO DE CRDITO SOFRIDO PELA VTIMA. SITUAO ECONMICA FAVORVEL DA OFENSORA. CARTER PENALIZANTE DA VERBA. RECURSO DO AUTOR PROVIDO PARA MAJORAR A VERBA INDENIZATRIA PARA O EQUIVALENTE A DUZENTOS SALRIOS MNIMOS. A dor moral no pode ser medida por tcnica ou meio de prova do sofrimento e, portanto, dispensa comprovao. A demonstrao do resultado lesivo, qual seja, o protesto indevido, e do nexo causal, s por si, bastam ao direito de indenizao correspondente, sendo mister da empresa manter aparato acautelatrio a fim de evitar tal equvoco." Documento: 480725 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 02/08/2004 Pgina 2 de 9
Superior Tribunal de Justia Recurso especial: alega VOLKSWAGEN LEASING S/A ARRENDAMENTO MERCANTIL ocorrer divergncia jurisprudencial em relao culpa da recorrente quanto ao protesto indevido e em relao ao valor da indenizao. DIOMEDES TADEU PEREIRA BATISTA tambm aponta divergncia jurisprudencial em relao ao valor do dano moral, buscando sua elevao. o relatrio.
Documento: 480725 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 02/08/2004 Pgina 3 de 9
Superior Tribunal de Justia RECURSO ESPECIAL N 595.631 - SC (2003/0165732-7)
RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI VOTO Da Divergncia em relao caracterizao da culpa da empresa-recorrente A primeira divergncia apontada relaciona-se ao grau de responsabilidade de instituio financeira que determina o registro em cadastro de inadimplentes de devedor que efetuou o pagamento por meio diverso daquele estipulado em contrato, pelo que se junta acrdo do TJPR, onde se pugna que "...o pagamento foi efetuado de forma diversa do contratado, sendo escusvel o desconhecimento, pela r, do depsito feito pelo autor com vistas a saldar sua obrigao, como mencionado" (fl. 182). Para melhor delimitao da discusso, importa, como prvio esclarecimento, declinar que o pagamento da prestao tida por no paga, e por isso protestada, foi realizado por meio de depsito em conta corrente do banco-recorrente, que no tinha especificao quanto ao contrato ou parcela que estava sendo quitada, dando-se o pagamento desta forma, pela inviabilidade de ser realizado com a utilizao do boleto bancrio apropriado. Sobreleva, tambm, o fato de que o recorrido, para a realizao do pagamento, utilizou-se de conta-corrente da empresa-recorrente fornecida pelo intermedirio do financiamento originrio Lages S/A Veculos - concessionria da VW. Como consabido, a excessiva rigidez orientadora dos contratos tem sido paulatinamente substituda por novos paradigmas voltados para a construo de relao contratual mais justa, mesmo que isso importe em flexibilizao dos parmetros contratuais at ento adotados. Assim, parmios como o popular quem paga mal paga duas vezes cede, no raro, lugar a um debate calcado em novos lindes do contrato e de seus princpios orientadores. Documento: 480725 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 02/08/2004 Pgina 4 de 9
Superior Tribunal de Justia Nesse diapaso, o ordenamento jurdico ptrio tem erigido como um dos pilares de qualquer relao contratual, o princpio da boa-f, de que so exemplos a Lei n 8.078/90, em seus arts. 4, III e 51, IV e, mais recentemente, o Cdigo Civil arts. 113, 422. Cludia Lima Marques, discorrendo sobre o tema, define o instituto da boa-f como sendo: "..uma atuao 'refletida', uma atuao refletindo, pensando no outro, no parceiro contratual, respeitando-o, respeitando seus interesses legtimos, suas expectativas razoveis, seus direitos, agindo com lealdade, sem abuso, sem obstruo, sem causar leso ou desvantagem excessiva, cooperando para atingir o bom fim das obrigaes: o cumprimento do objetivo contratual e a realizao dos interesses das partes" (Marques, Cludia Lima in: Contratos no Cdigo de Defesa do Consumidor, 4 ed.; Revista dos Tribunais: So Paulo; 2002; pgs. 181/182). Importante para o deslinde da questo, ainda esmiuando o princpio da boa-f aplicado aos contratos, anotar que a adoo deste preceito implica, para ambas as partes, no surgimento de deveres anexos ao contrato e que devem ser aplicados durante toda a relao contratual, e at mesmo aps o trmino desta. Exemplo de dever anexo aplicvel espcie, o dever de cooperao traduz-se em obrigao das partes contratantes, que devem agir sempre no sentido de no impedir o efetivo cumprimento das obrigaes contratuais. A assuno de que o princpio da boa-f paira sobre as relaes contratuais vigentes impe a sua imperatividade, dando, conseqentemente, em caso de inadimplemento, azo reparao dos danos decorrentes, por configurar a inadimplncia ilicitude originria do descumprimento dos deveres anexos. Nesse sentido, embora calcado em dispositivo do Cdigo Civil, o Enunciado n 24 da I Jornada de Direito Civil do STJ: Em virtude do princpio da boa-f, positivado no art. 422 do novo Cdigo Civil, a violao dos deveres anexos constitui espcie de inadimplemento, independentemente de culpa. (http://www.cjf.gov.br/revista/outras_publicacoes/jornada_dire ito_civil/00_sumario.pdf). Documento: 480725 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 02/08/2004 Pgina 5 de 9
Superior Tribunal de Justia Circunscrevendo a aplicabilidade do princpio da boa-f e seus desdobramentos ao presente debate, importa analisar se a ao do banco-recorrente, conquanto calcada em uma realidade contratual, ofendeu a este princpio. Sob este prisma, merecem relevo alguns aspectos atinentes questo debatida. Por primeiro, o fato de que o mecanismo de pagamento originalmente contratado boleto bancrio tinha limitao temporal para pagamentos em atraso: proibio de ser utilizado para pagamento aps dez dias de vencimento do dbito; Por segundo, a demonstrao cabal de que a utilizao de conta corrente da empresa-recorrente para pagamento das parcelas em atraso constitua, se no prtica facultada, atitude ao menos tolerada liberalidade. Isto porque, alm de constar dos autos que o nmero da conta corrente fora outorgado ao recorrido pela empresa que intermediou o negcio Lages S/A Veculos observa-se que o procedimento era usual, o que se infere das prprias razes do recurso especial, leia-se: ... no sendo sensato impor a instituio financeira, que possui milhares de contratos em todo o pas, identifique, ou melhor, adivinhe, numa conta movimentada nacionalmente...(sem grifos no original) (fl. 184). Por terceiro: no haver oposio da empresa recorrente quanto forma de pagamento adotada, tanto assim, que espontaneamente determinou a baixa do protesto, o que importa, obviamente, em aceitao tcita do pagamento. Como corolrio da subsuno da moldura ftica apresentada aos comandos informativos das relaes contratuais, mormente o princpio da boa-f declinado no art. 4, III, do CDC, impe-se a concluso de que a empresa-recorrente, quando determinou a realizao do protesto em comento, vulnerou o princpio da boa-f contratual consubstanciado, na hiptese, no dever anexo de cooperao, tambm chamado de obrigao de lealdade. Decorre isto do fato de: i) ter limitado o lapso temporal para o pagamento da prestao em atraso, Documento: 480725 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 02/08/2004 Pgina 6 de 9
Superior Tribunal de Justia por meio de boleto bancrio, aos dez dias posteriores ao vencimento; ii) ter facultado ou, ao menos, liberalmente permitido que o recorrido realizasse depsito em sua conta-corrente com o objetivo de quitar o dbito, sem, contudo, munir-se de mecanismos que lhe permitissem efetivo controle dos valores pagos e do ttulo a que se referia e; iii) ter, no obstante a fragilidade ou inexistncia desse controle, apontado o ttulo para protesto, atitude temerria e negligente, que deu ensejo inscrio do nome do recorrido em cadastro de inadimplentes, com inegveis repercusses, tanto em sua esfera ntima quanto no grupo social em que vive. No subsiste, assim, a tese defendida pelo recorrente, de que seria escusvel sua atitude, ante a impossibilidade de se controlar os depsitos no especificados realizados em todo o pas em sua conta corrente. Se facultou, ou ainda, consentiu que o pagamento fosse realizado por depsito bancrio no especificado, era sua obrigao contratual anexa produzir os mecanismos necessrios a aferio e respectiva quitao dos pagamento realizados. Dessa forma, no merece prosperar o recurso quanto ao ponto. Da divergncia em relao ao valor da indenizao Neste particular, houve recurso de ambas as partes. A despeito de restarem devidamente configuradas ou no as alegadas divergncias jurisprudenciais, entende-se que o valor da indenizao por dano moral sujeita-se ao controle do Superior Tribunal de Justia, sendo certo que, na fixao da indenizao a esse ttulo, recomendvel que o arbitramento seja feito com moderao, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nvel scio-econmico do autor e, ainda, ao porte econmico do ru, orientando-se o juiz pelos critrios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudncia, com razoabilidade, valendo-se de sua experincia e do bom senso, atento realidade da vida e s peculiaridades de cada caso. Documento: 480725 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 02/08/2004 Pgina 7 de 9
Superior Tribunal de Justia Assim, este STJ tem conhecido os recursos, afastando o bice da Smula 7 do STJ somente quando o valor fixado revela-se irrisrio ou exagerado, o que no se revela no caso concreto. Forte em tais razes, NEGO PROVIMENTO aos recursos especiais.
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Superior Tribunal de Justia CERTIDO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA
Nmero Registro: 2003/0165732-7 RESP 595631 / SC Nmero Origem: 20000219525 PAUTA: 01/06/2004 JULGADO: 08/06/2004 Relatora Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sesso Exmo. Sr. Ministro ANTNIO DE PDUA RIBEIRO Subprocurador-Geral da Repblica Exmo. Sr. Dr. PEDRO HENRIQUE TVORA NIESS Secretria Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO AUTUAO RECORRENTE : DIOMEDES TADEU PEREIRA BATISTA ADVOGADO : JLIO CSAR PEREIRA FURTADO RECORRENTE : VOLKSWAGEN LEASING S/A ARRENDAMENTO MERCANTIL ADVOGADO : OKSANDRO GONALVES E OUTROS RECORRIDO : OS MESMOS ASSUNTO: Civil - Contratos - Arrendamento - Mercantil / Leasing CERTIDO Certifico que a egrgia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso: "A Turma, por unanimidade, conheceu dos recursos especiais e negou-lhes provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora." Os Srs. Ministros Castro Filho, Antnio de Pdua Ribeiro e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros. O referido verdade. Dou f. Braslia, 08 de junho de 2004 SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO Secretria Documento: 480725 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJ: 02/08/2004 Pgina 9 de 9