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ESCOLA SECUNDÁRIA COM 3º CEB GIL EANES

Ano Lectivo 2008/2009


Professora Antónia Mancha
__________________________________________________________

APONTAMENTOS DE APOIO AO TESTE DE LITERATURA PORTUGUESA

CONTEÚDOS:

O Romantismo:
1- Conceito de Romantismo;
2- Contextualização;
3- Características gerais;
4- O Romantismo em Portugal.
Poesia de Garrett:
1- A estética romântica em Almeida Garrett;
Garrett dramático:
1- Um Auto de Gil Vicente

1 - O conceito de Romantismo:

Começou a usar-se se o vocábulo Romantismo para significar a escola literária que surgiu em
meados do séc. XVIII,, abjurando a estética clássica e revestindo
revestindo-se
se de características afins
daquelas que ornam as narrativas criadas pela imaginação p popular
opular e mostrando particular
simpatia pela evocação do viver medieval.

2– Contextualização:
a) Antecedentes Mundiais

Assistimos no século XVIII a uma democratização


quase total da arte literária nos autores e nos temas.
Com o correr dos tempos, essa mesma arte foi foi-se
democratizando também, pouco a pouco, no público
que lia. Não foi estranho a este fenómeno o
progresso das classes mais baixas e o seu quase
nivelamento social com a nobreza e o clero,
conseguido na passagem do século XVIII para o século
XIX. Paralelamente, o avanço da técnica industrial
tornou possível um considerável aperfeiçoamento da
arte de imprimir, o que contribuiu em larga escala para a vulgarização do livro.

Ou fosse porque o grande público não entendia a estética clássica, por ser demasiado académica
e intelectiva, ou fosse porque o género tinha atingido a saturação, os escritores começaram a
tentar novos temas e um novo modo de os comunicar.

Foi na Inglaterra e na Alemanha que, em meados do século XVIII, alguns poetas voltaram as costas
aos modelos do Classicismo, inspirando-se na Natureza tal qual a viam e não tal qual Horácio e
outros antigos lha mandavam ver.

Deixam-se arrastar — isso sim — pela evocação do popular, do medievo, do exótico, pela
exaltação da liberdade, pelo «eu», medida do Universo, pela fascinação do abissal, da morte, do
nada. Desta maneira se foi gerando uma nova escola, que depressa alastrou pela Alemanha, Itália,
França, Portugal, por toda a Europa, a qual passaria à história com o nome de Romantismo.

b)Romantismo na Inglaterra

Foi na Inglaterra que primeiro se notou a efervescência romântica.

1. Thomson (1700-1747), nos poemas Estações, O Castelo da Indolência, A Cidade da Horrível


Noite e outros, deu o grito de partida para uma interpretação subjectiva da Natureza.

2. Eduardo Young (1681-1765) transplantou as infelicidades da sua vida para os célebres poemas
conhecidos mundialmente por Noites de Young. O sentimentalismo e a melancolia dos seus
versos haviam de tocar a sensibilidade de muitos corações.

3. Olivério Goldsmith (1728-1774) trilhou novos caminhos de beleza no famoso romance idílico
Vigário de Wackfield e no sentimental poema Aldeia Abandonada.

4. Roberto Southey (1774-1843) fundou a chamada escola laquista (dos escritores da região dos
lagos), na qual se imortalizou Guilherme Wordsworth (1770-1850) e Samuel Coleridge (1772-
1834). Colaboraram estes dois escritores nas Lyrical Ballads (1789), com as quais se costuma
marcar o início do Romantismo inglês propriamente dito. Um e outro se recreiam em evocar a
Idade Média e em encontrarem na poesia popular uma riquíssima fonte de inspiração lírica.

5. Walter Scott (1771-1832), movimentando em seus romances históricos o feudalismo medieval;


Lord Byron (1788-1824) e Shelley (1792-1822), pretendendo revolucionar o mundo com a
emancipação do indivíduo e da sociedade; Ana Radcliffe (1764-1823), explorando terríficos
ambientes negros, consolidaram de vez a nova escola, na qual todo o mundo estava ansioso por
aprender.

c) Romantismo na Alemanha,

Poucas nações estavam tão bem trabalhadas e preparadas para fazer germinar e crescer o
Romantismo como a Alemanha.

Flagelada por guerras religiosas e civis, que a retalharam em vários estados, não teve, durante o
Classicismo, condições propícias para criar uma literatura com continuidade. De resto, a época
dos grandes impérios europeus foi para os Alemães uma era que precisavam de esquecer. E
esqueceram-na com gosto, saltando por cima dela e indo procurar inspiração às tradições
medievais ou locais, que, para maior consolação, idealizavam a seu gosto.

1. Gessner (1730-1789), em meados do século XVIII, mostra-se já romântico no poema descritivo


A Noite e no idílio pastoril Morte de Abel.

2. Wieland (1733-1813), escarninho e independente como Voltaire, impressionou o mundo com o


Oberon.

3. Goëthe (1749-1832), que Augusto Schlegel converteu ou tentou converter de vez ao


Romantismo, apaixonou toda a gente com o Werter.

4. Em 1789, aparece a revista Athenaeum, órgão do Romantismo alemão, dirigida pelos irmãos
Schlegel. Costuma datar-se daqui o princípio oficial do Romantismo germânico. Através desta
revista e de outras publicações, Augusto Schlegel (1767-1845) e Frederico Schlegel (1772-1829)
foram os incansáveis teorizadores da nova escola.

5. Novalis (Frederico de Hardenber, 1772-1801) fez uma carreira poética já romântica até à
medula. Basta ver como explorou a ideia filosófica do «nada» e da «morte» sobretudo nos
conhecidos Hinos à Noite.

6. Henrique de Kleis (1776-1811), o autor da célebre Ladainha da Morte, surge fascinado pela
vertigem de tudo o que é abissal.

7. Hoffman (1776-1822) atraiu as atenções do mundo com as suas típicas narrativas, nas quais
mostrava preferentemente o lado nocturno da alma.

8. Henrique Heine (1786-1837), poeta e prosador, crítico às vezes a transbordar de sarcasmo,


fartou-se de misturar lágrimas e risos, paixão e ironia, numa obra literária por vários títulos
notável. Temos de concluir que o Romantismo na Alemanha começou e vingou muito cedo.

d) Romantismo na França

Ao contrário da Inglaterra e da Alemanha, a Franca conservou até muito tarde a literatura de


Corte, porque até muito tarde também se fez nesse país uma autêntica vida de Corte. O
Neoclassicismo mostrava-se pujante. A França, que o tinha imposto ao mundo, não tinha vontade
nenhuma de o destruir.

No entanto, também ali entrou e vingou a estética romântica.

1. Madame de Staël (1766-1817), contaminada pela convivência com os Germânicos, é


considerada a introdutora do Romantismo em França com a obra Da Alemanha. Célebres ficaram
igualmente os romances Delfina e Corina (em forma epistolar).

2. Chateaubriand (1768-1847) não tem menor mérito que Madame de Staël na propagação do
movimento. O Génio do Cristianismo, livro de apologética visceralmente romântico, mostra como
a religião cristã satisfaz não só a inteligência dos crentes mas até as suas faculdades afectivas, o
seu sentimentalismo. Atola, onde pinta com mestria os ambientes exóticos da América, Os
Mártires e tantos outros livros que escreveu, tornaram-no corifeu da nova estética, quase num
plano mundial.
3. Afonso Lamartine (1790-1869) publicou em 1820 as suas Meditações. Embora com vestígios de
classicismo, esta obra lançou o poeta nos caminhos da estética romântica donde não mais
arredaria pé.

4. Quando em 1822 Stendhal (1783-1842) criava o Racine-Shakespeare, marcava-se o início do


Romantismo em França, cuja doutrina, no entanto, só viria a ficar consagrada no prefácio do
Cromwel de Vítor Hugo, cinco anos mais tarde, e debatida com paixão na estreia tempestuosa do
Hernâni em 1830.

Se o autor de A Cartuxa de Parma, com seus heróis amorais, só tardiamente foi apreciado, o
criador de Nossa Senhora de Paris, com o seu historicismo pleno de mistério, ultrapassou
depressa as fronteiras da França, contaminando de romantismo o mundo inteiro.

5. Alfredo de Musset (1810-1857), poeta e dramaturgo, Teófilo Gautier (1811-1872), amante do


exótico e do pitoresco, Gerardo de Nerval (1808-1855), com suas visões alucinadas de paisagens
bárbaras e com um tom poético quase tão musical como o dos simbolistas, são escritores que, ao
lado dos mencionados acima, fizeram brilhar definitivamente no céu da França o sol radioso do
Romantismo.

3 – Características gerais

O Romantismo caracterizava-se por opor-se aos modelos da antiguidade clássica. Essa


oposição tem um carácter ideológico muito importante, pois, ao opor-se aos clássicos, o artista
Romântico estava abolir todo tipo de padrão pré-estabelecido e opondo-se também aos nobres,
que, até então, financiavam toda a produção artística. Graças a essa oposição, a arte perdeu o
carácter erudito e nobre, passando a assumir um outro, mais popular.
Com isso, o trabalho do artista sofreu transformações: antes, com as obras de
encomenda, ele sabia exactamente para quem estava compondo e seguia a forma e os temas
tradicionais. Agora, com o Romantismo, o seu público é amplo e anónimo e isso faz com que ele
desenvolva uma nova linguagem, baseada na imaginação e nos sentimentos, resultando numa
interpretação subjectiva da realidade. A forma estética dos poemas talvez seja a maior expressão
dessa ruptura entre o Romantismo e o Classicismo. O verso livre, sem métrica e o verso branco,
sem rima, passam a ser usados em larga escala e transformaram-se na maior representação da
liberdade idealizada pelos autores Românticos.
Quanto ao conteúdo, o período Romântico é caracterizado por uma evasão no tempo que
remete à Idade Média. Essa exaltação ao passado histórico, além de tentar criar um herói
nacional, não contaminado pela civilização, também serve para negar o paganismo pregado no
período Clássico e afirmar o Cristianismo. Além disso, também há o culto à natureza. No período
Árcade, a natureza era apenas um "pano de fundo", mas agora, com o Romantismo, ela é
actuante, tem vários significados, chegando a fazer parte do poeta e de seu estado emocional.
O amor, outra característica fundamental do Romantismo, é visto como a coisa mais importante
na vida. A realização do amor traz consequências extremas como o suicídio. Já a mulher, objecto
do amor Romântico, é idealizada, ou seja, a mulher é um ser perfeito, assemelhando-se muitas
vezes a uma deusa.
A característica que talvez seja a mais marcante de todo o período Romântico é o
subjectivismo, ou seja, a sobrevalorização das emoções pessoais, uma espécie de busca do "eu"
interior ou o verdadeiro "eu". À medida que essa busca se aprofunda, a concepção de beleza
torna-se relativa e o poeta Romântico perde a consciência do colectivo, surgindo assim o
egocentrismo (aquele que refere tudo ao próprio eu, tomado como centro de todo o interesse;
personalista). Essa sobrevalorização do "eu" choca violentamente com o objectivismo do período
Clássico, que era baseado na verosimilhança e na harmonia das formas.
O Egocentrismo choca também com a realidade do mundo exterior. Mundo esse que os
Românticos ajudaram a construir, mas que não se parece nem um pouco com aquele que eles
idealizavam. A derrota do ego é inevitável. Surgem então a melancolia, a angústia, a busca da
solidão, a frustração e o tédio, que são seguidos das evasões românticas, ou seja, as fugas da
realidade: o álcool; o ópio; as saudades da infância; as idealizações do amor, da sociedade e da
mulher. Todas essas evasões, nas quais a emoção sempre supera a razão, têm ida e volta, porém,
essa inadaptação à vida leva o Romântico à maior de todas as evasões: a morte.

Para entenderes melhor as características do Romantismo, é importante contrastar a estética


Clássica com a Romântica:

Classicismo Romantismo

Classe dominante: nobreza Classe dominante: burguesia

Razão Emoção
Formas poéticas fixas Formas livres
Antiguidade Clássica Idade Média
Geral, universal Particular, individual
Impessoal, objectivo Pessoal, subjectivo
Paganismo Cristianismo
Apelo à inteligência Apelo à imaginação
Disciplina Liberdade de criação
Culto ao real Culto ao fantástico
O amor e a mulher são idealizados O amor e a mulher são idealizados
racionalmente subjectivamente

4 – O Romantismo em Portugal
- a) Contextualização

Em Portugal o Romantismo durou cerca de 40 anos (1825 a 1865). Vale lembrar que as
datas usada para delimitar os períodos literários representam o início e o fim de um momento em
que a literatura teve o predomínio de algumas determinadas características. Isso significa que é
possível encontrar essas características antes e depois do período delimitado. Um bom exemplo é
a figura de Bocage que, para a maioria dos estudiosos, está inserida no período do Arcadismo,
porém, sua obra denúncia valores do Romantismo.
O Romantismo em Portugal teve como marco inicial a publicação do poema "Camões", de
Almeida Garrett, em 1825, e terminou por volta de 1865 com a "Questão Coimbrã" ou "Questão
do Bom Senso e do Bom Gosto", liderada por Antero de Quental e que se desenvolveu num clima
político muito conturbado.
Durante o governo de D. João VI, de 1816 a 1826, além de espalhar ideais liberais em toda
a Europa, a influência da Revolução Francesa fez com que a corte portuguesa fugisse para o Brasil,
por causa das invasões francesas. Em 1820 explode na cidade do Porto uma revolução militar e
civil que tinha o objectivo de proclamar uma constituição em harmonia com os ideais correntes na
Europa. Em 1821 D. João VI retorna a Portugal para governar como rei constitucional e deixa a
regência do Brasil nas mãos de seu filho D. Pedro.

Em 1826, com a morte de D. João VI, D. Pedro vê-se diante de um dilema: ficar no Brasil
como imperador e deixar seu irmão, D. Miguel, apossar-se do trono e instaurar um governo
absolutista. Ou voltar para Portugal e governar o país, como queriam os liberais. No início, tenta
conciliar essa situação da seguinte maneira: fica no Brasil, D. Miguel casa-se com D. Maria, filha de
D. Pedro, e sentam-se ambos no trono, porém, quem governaria seria ela.

D. Miguel jura aceitar essas condições, mas assim que desembarca em Portugal envolve-se
em manifestações populares que o aclamam rei absoluto. D Miguel, apoiado pela mãe, esquece
as promessas feitas a D. Pedro e governa o país durante oito anos como rei absolutista. Essa
atitude faz D. Pedro abdicar do trono brasileiro e voltar a Portugal com tropas militares para lutar
e vencer os exércitos de D. Miguel em uma violenta guerra civil, que ficou conhecida como
"Revolução Liberal".

Depois da morte de D. Pedro em 1834 inicia-se o reinado de D. Maria II, que é marcado
por grande instabilidade social e política, mas que deixa como herança a consolidação do regime
constitucional. Após a morte de D. Maria II, em 1853, seu filho, D. Pedro V, sobe ao trono e
governa até 1861. Durante o seu reinado foi inaugurado o primeiro telégrafo eléctrico de Portugal
e o caminho de ferro que liga Lisboa ao Carregado.

Nessa época o país foi assolado por duas epidemias, uma de cólera e outra de febre
amarela, porém, o rei não se refugiou para fugir delas. Ele percorreu os hospitais para ver a
situação dos doentes e isso lhe trouxe muita popularidade. D. Pedro V morreu em 1861 sem
deixar herdeiros. Isso fez com que D. Luís assumisse o trono e governasse até 1889.

- b) A Literatura Romântica Portuguesa

O Romantismo português teve início em 1825 quando Almeida Garrett publicou o poema
"Camões". O seu término ocorreu por volta de 1865 com a Questão Coimbrã ou Questão do Bom
Senso e do Bom Gosto, liderada por Antero de Quental. Como pode ser visto no Panorama
Histórico de Portugal, o Romantismo desenvolveu-se sob um clima político muito conturbado.
Apesar disso, os autores românticos foram aos poucos fazendo reformas literárias significativas,
que se alimentaram dessa revolução social e política, e acabaram modificando o padrão estético
neoclássico que até então vigorava em Portugal.

O período Romântico português é geralmente dividido em três fases ou melhor, três


gerações distintas:

A primeira geração (ou 1º Romantismo), fase que se desenvolveu aproximadamente entre os


anos de 1825 a 1840 e é caracterizada pela guerra civil, pelo liberalismo e ainda está presa a
alguns valores neoclássicos. Os primeiros Românticos, Almeida Garrett e Alexandre Herculano,
por defenderem os ideais liberais, foram exilados, porém participaram activamente da Revolução
Liberal e, vitoriosos em 1834, retornaram ao país para implantar a Literatura Romântica. Nessa
primeira fase ainda teve destaque o escritor António Feliciano de Castilho.

A segunda geração (ou 2º Romantismo) é a fase do Romantismo português que vai de,
aproximadamente, 1840 a 1860 e é conhecida também como ultra-romântica por caracterizar-se,
sobretudo, pelo sentimentalismo melodramático e um erotismo melancólico que chega ao
desespero. Se na primeira fase do Romantismo ainda existiam alguns resíduos do Neoclassicismo,
nessa segunda fase eles desaparecem por causa dos excessos cometidos por seus adeptos. Dentre
eles destacam-se Camilo Castelo Branco, na prosa, e Soares Passos, na poesia.

A terceira geração (ou 3º Romantismo) vai de 1860 a 1870 e é considerada um período de


transição para o Realismo por ser uma fase mais equilibrada. Os principais autores dessa época
foram: Júlio Dinis e João de Deus.

Poesia de Garrett
A estética romântica em Almeida Garrett

Almeida Garrett brindou-nos, já depois de entrar na casa


dos quarenta, com duas obras de grande mérito: Flores
sem Fruto e Folhas Caídas.

Ao publicar a primeira, em Novembro de 1845,


queixava-se de que já não era poeta, de que a sua
imaginação era então um terreno sáfaro. E, por isso, iria
plantar o seu «horto» de luzernas e beterrabas. Antes,
porém, que ia arrancar as flores sem fruto que lá
estavam a murchar e enfeixá-las numa triste e última
capela para deixar dependurada na cruz do seu túmulo.
Flores sem Fruto apareceram então.

Ainda bem que as luzernas e beterrabas não pegaram no


seu jardim. Nele continuaram as flores a medrar. E que
flores!

Em Janeiro de 1853, ao publicar Folhas Caídas, escrevia:

«A outros versos chamei eu já as últimas recordações da minha vida poética. Enganei o público...
Eu pouco mais tinha de vinte anos, quando publiquei certo poema, e jurei que eram os últimos
versos que fazia. Que juramentos!»

Pois foi ao quebrar antigos juramentos que Garrett se mostrou autêntico poeta romântico.

Principais características da poesia de Garrett:

• a mulher-anjo e mulher-demónio; o céu e o inferno; a salvação e a perdição; a vida e a morte; a


alma e o corpo; a plenitude e o vazio; a ventura e a tristeza; a vida e a razão; o fascínio e a
destruição; o anuir e o querer; visíveis em poemas como ’Este inferno de amar’; ‘Anjo és’; ‘Não te
amo’; ‘Cozo e dor’ ou ‘ Os cinco sentidos’.

• Os efeitos contraditórios do amor, por exemplo em ‘Este inferno de amar’ e ‘Gozo e dor’.
• O poeta idealista; o anseio do amor puro e ideal, por exemplo em ‘Ignoto deo’.

• O amor intenso, real e autêntico; o amor-paixão; o amor sem convenções e sem limites; o amor
vivido, partilhado a dois, ‘ Gozo e dor’; ‘Estes sítios’ ou ‘Anjo és’.

• A sensualidade e o erotismo (a erotização, o delírio dos sentidos, o êxtase carnal), em ‘Os cinco
sentidos’.

• A paixão absorvente e total, a dependência do EU ao TU. a intensidade do amor-paixão, em ‘Os


cinco sentidos’; ‘Anjo és’; ‘Destino’; ‘Gozo e dor’ ou ‘Este inferno de amar’.

• O destino, a fatalidade (o sujeito cumpre o que está superiormente definido), em ‘Destino’ ou


‘Seus olhos’.

• O jogo da sedução; a atracção fatal que conduz o homem à perdição, em ‘Barca bela’ ou ‘ Anjo
és’.

• O drama do herói romântico que reconhece a inferioridade do seu comportamento (mas não
consegue resolver o conflito entre o amor puro, espiritual, ideal, platónico e o amor pagão,
materialista, fruto do desejo carnal), em ‘Não te amo’.

• O poeta que reconhece os seus defeitos e os revela, por exemplo em ‘Não te amo’ ou ‘ Adeus’.

• A rejeição do conhecimento racional e a apologia do conhecimento pelos sentidos (o sentir


submerge o saber; o coração predomina sobre a razão) , em ‘Os cinco sentidos’.

• O tom coloquial, natural e corrente (atitude romântica, em oposição clara ao rigor dos
clássicos), o tom confessional, ora monologado, ora dialogado, ora interrogativo retórico, ora
dramatizado (para-teatralidade), em ‘Este inferno de amar’; ‘Anjo és’ ; ‘Adeus’; ‘Destino’ ou ‘ Não
te amo’.

• O abandono das convenções clássicas: do rigor métrico e rítmico, do verso branco preconizado
pelos árcades;

• A linguagem simples, fluente, sem grandes efeitos estilísticos, mas colocando alguns recursos
estéticos (aliterações, sinestesias, metáforas, rima encadeada, pontuação variada e expressiva,
frases interrogativas, exclamativas e reticentes...) ao serviço da transmissão dos estados de alma,
do lirismo subjectivo e profundo...
GARRETT DRAMATURGO

I – Diferenças entre o teatro clássico e o teatro romântico:

Teoria do drama romântico

A estética ao drama romântico, tal qual a concebeu Garrett, põe em confronto as normas
clássicas e as românticas:

Teatro clássico:

1. Absoluta separação do trágico e do cómico.

2. Linguagem selecta e majestosa, sobretudo na tragédia.

3. As personagens são figuras de psicologia geral e abstracta.

4. Exigem-se as unidades de acção, tempo e lugar.

Teatro romântico:

1.Inclusão do sublime e do grotesco na mesma obra.

2.Frases conformes à índole dos protagonistas, alheias a preconceitos e a preocupações de


sublimidade.

3.As personagens devem ser tipos individualizados, revivendo nas cenas a verdade dramática da
vida comum.

4.A mesma acção desenvolvida num só dia e num mesmo lugar não convém à agitação passional
que fermenta no Romantismo. Só a unidade de acção se admitirá no teatro romântico.

5.Não esqueçamos que o drama «é a luta entre personagens, ou luta dentro da mesma
personagem — luta cujo desfecho incerto traz suspensa a curiosidade e a simpatia do
espectador».

Na tragédia «não há tanto a luta como a expectativa terrífica de um desfecho que se aproxima a
passos fatais, e contra o qual não vale astúcia humana, como diria Camões.

(A. J. Saraiva, Para a História da Cultura em Portugal, II, Lisboa, 1961, pág. 35).
ROTEIRO DE LEITURA DE UM AUTO DE GIL VICENTE

Contexto histórico-cultural
Obra com o objectivo de criar ou restaurar um teatro nacional, reatando a
tradição vicentina, assenta no auto de Gil Vicente Cortes de Júpiter
aparecendo assim uma peça dentro de outra peça.

Acção/intriga
Constrói-se à volta da representação das Cortes de Júpiter comemorativa
do casamento da Infanta D. Beatriz com Carlos de Sabóia. A partir dessa
tragicomédia - Cortes de Júpiter -, Garrett dá corpo ao conflito sentimental
de Bernardim Ribeiro e da princesa e ao amor silencioso, mas não
correspondido, de Paula Vicente pelo poeta.

Personagens
Além das personagens antes referidas, destacam-se, de entre as muitas outras, Garcia de
Resende, Gil Vicente e o rei D. Manuel que aparecem para evocar um passado de grandezas,
embora a peça deva considerar-se pouco movimentada. Além disso, as personagens e os seus
problemas não constituem mais do que motivos decorativos de um espectáculo exterior.
Na existência de algumas personagens, mistura-se o cómico e o grotesco (Bernardim no papel de
Joana Taco e Pêro Sáfio) e o trágico e o sublime (Bernardim e D. Beatriz).

Estrutura
A obra divide-se em três actos e cada acto em cenas. Tem, como fio condutor, um assunto
nacional de uma época grandiosa reforçado com a apresentação de personagens
verdadeiramente relevantes.

Enquadramento estético-literário
Definem Um Auto de Gil Vicente como um drama romântico:
- a falta de unidade de tempo e de lugar;
- um historicismo pretensamente espectacular;
- o sentido crítico pessoal na fala de Paula a propósito do pai e de D. Beatriz;
- D. Beatriz casa com o pensamento noutro homem, como acontece no Frei Luís de Sousa;
- Bernardim, no ousado encontro do galeão, reflecte a psicologia do Carlos das Viagens na Minha
Terra: ‘- Oh Beatriz, eu sou um monstro, eu não te mereço.',
- o subjectivismo disseminado pelas várias cenas;
- o sentimentalismo de muitas personagens.

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