Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
OS DESERTORES
Tradução de F. IMMERGUT
EDIÇÕES DE OURO
HISTÓRIA ou ESTÓRIA?
As Edições de Ouro e o Coquetel grafam a palavra história e não estória por julgar a primeira
forma mais correta, conforme dicionários mais categorizados, que julgam a segunda forma
imitação do inglês story, sem correspondente com raízes em nossa I íngua.
1
LUNA Secunda...
O satélite morto de um planeta estéril, desprovido de atmosfera,
jazia no cubo espacial Três/Leste 109 e representava um desses
incríveis caprichos da insondável natureza cósmica. Dentro de uma
esfera espacial de 900 parsec de diâmetro, em cujo centro estava o
sistema solar com o planeta Terra, havia duas luas perfeitamente
idênticas. A lua da Terra e Luna Secunda, a segunda lua. Uma era a
cópia fiel da outra, até os mínimos detalhes.
Cada cratera, cada campo de meteoritos, a topografia, as distâncias
da órbita ao planeta, a velocidade de rotação, a força gravitacional e
todos os outros dados eram idênticos. Luna Secunda era totalmente
desprovida de vida, desabitada... e era considerada zona militar.
Apenas alguns aparelhos de comunicação totalmente automatizados
estavam ancorados no solo lunar.
Cliff Allistair McLane era um cosmonauta experimentado e
calejado, mas um quadro desses sempre o fascinava de novo. Havia
algo de fantasmagórico em reparar como, de repente, um contorno
foiciforme se destacava da escuridão cósmica, permeada de estrelas. E
quando a nave se aproximou, este contorno transformou-se numa
esfera que uma linha divisória separava em dois hemisférios de luz e
de sombra. Crateras apareceram. Crateras de todos os tamanhos,
profundidades e diâmetros. Um mundo silencioso apresentava-se
sobre a grande tela circular, diante da qual McLane estava sentado.
Um contorno nítido surgiu no campo de visão: era o pólo sul da
segunda lua. A Orion VIII prosseguia no seu vôo de aproximação,
descrevendo um gigantesco arco a novecentos quilômetros de
distância da superfície do satélite. A reprodução fiel das conhecidas
crateras do quadrante nordeste da lua tornou-se visível; lá estavam os
bem delineados taludes anulares das crateras de Copérnico, Platão,
Aristilo e Arquimedes. A gigantesca superfície do Mare Imbrium, o
Mar das Chuvas, estendia-se na tela banhada na ofuscante luz solar.
Apenas um detalhe distinguia as duas luas: Luna Secunda refletia uma
luz fria e azulada.
O sol que emitia esta luz era uma estrela azul, que ficava a uma
distância de pouco mais de uma unidade astronômica. E esta luz
brilhante transformava a desolada lua numa paisagem fantástica, cheia
de fendas e fossas, mares poeirentos e cordilheiras escarpadas. A voz
gravada do piloto automático ressoou pela cabine.
— Objeto enquadrado. Alvo reconhecido.
McLane desprendeu a vista daquele quadro colorido e olhou para o
rosto magro de Silvan Rott a seu lado. Rott era um oficial
especializado em armas e voava há três dias com McLane.
— Nosso alvo é a cratera Harpalus — sussurrou Rott. Ele e o
comandante iam testar uma nova arma. E não havia campo de provas
melhor do que esta lua, na qual nada mais seria destruído além de
formações rochosas.
— Eu sei — respondeu McLane, no mesmo tom de voz. — O
nosso curso foi programado para isso — Rott acenou em silêncio.
— Harpalus! — disse Mario de Monti e apontou para uma folha
no grosso manual. — É uma cratera de cinco mil e trezentos metros de
profundidade. Não possui a elevação central característica. Um pouco
ao sul fica o Sinus Iridum. E a cratera tem um diâmetro de trinta e
cinco quilômetros. McLane soltou um assobio.
— Considerável! — comentou. Acionou uma chave. Uma malha
reticulada estendeu-se sobre a tela. No centro havia um dispositivo de
mira que encobria um setor daquela esfera azulada. Rott e McLane
entreolharam-se.
— Tudo pronto? — perguntou Rott.
— Podemos começar! — respondeu McLane, em tom sério. — O
que espera disso?
O rosto estreito, quase ascético, de Rott não mudou de expressão.
— Espero poder demonstrar a eficácia de uma arma nova — disse
ele. — E que, faço votos, não vamos precisar empregar jamais!
— Se não é para empregá-la — perguntou Hasso calmamente —
então por que se esforçaram tanto para desenvolvê-la?
— A fim de tornar impossível que se repitam aquelas horas
pavorosas, durante as quais um planeta em chamas se aproximou do
sistema para destruí-lo. Se os estranhos insistirem em atacar a Terra,
temos com que nos defender.
Cliff fez a Orion VIII descrever uma curva apertada e afastou-se
novamente da região do alvo.
— Transferi o comando para os controles do Overkill.
Ouviu-se o leve estalo de uma série de chaves e o computador
digital começou a trabalhar por trás das grossas paredes protetoras.
— O vôo agora é completamente automático — explicou Rott,
baixinho. — A mil quilômetros de distância, o controle da arma vai
assumir a aproximação final, e a quinhentos quilômetros, o Overkill
entra em ação.
A mão de McLane fechou-se sobre a bola reluzente na
extremidade da haste do acelerador. Empurrou a alavanca para a frente
até o último encaixe. A Orion começou a acelerar com a força total
das suas máquinas novas.
— Distância: mil e quinhentos quilômetros — anunciou o
astronavegador Atan Shubashi.
O elegante disco lançou-se em direção à cratera Harpalus,
seguindo uma reta matematicamente perfeita. A bordo, só se ouviam
os silvos dos propulsores.
Os contornos da imagem começaram a ficar difusos. Somente a
abertura da cratera permaneceu imóvel no centro da tela, debaixo da
divisão fina daquela malha reticulada e dos círculos autoluminosos
dos dispositivos de mira. A Orion havia sido provida de um controle
adicional, comandado pelo computador, e que calculava um curso
optimal. O emprego desta arma, capaz de transformar praticamente
qualquer tipo de matéria em gás, exigia extrema precisão e rapidez.
— Do comandante para o livro de bordo: operação Overkill
iniciada!
A imagem da cratera aumentava a cada segundo e a estruturação
das rochas e das zonas de matéria lunar pulverizada tornaram-se mais
nítidas.
— Novecentos quilômetros... — avisou Atan.
Rott estava de pé ao lado de McLane e apoiava as mãos sobre a
mesa de comando. Parecia prender a respiração. O quadro a sua frente
transmitia uma sensação de perigo iminente. Tinha-se a impressão de
que, dentro de segundos, a Orion se espatifaria contra o talude que
circundava a abertura da cratera.
— Oitocentos quilômetros.
A voz de Atan soava tranqüila. Confiava plenamente no curso
programado por Mário e sabia que a precisão do computador digital
era tal que a nave podia passar a milímetros daquela borda rochosa.
— Seiscentos quilômetros.
Na parte inferior da Orion, uma chapa, feita de uma liga de aço e
berílio, recolheu-se numa fenda do casco externo tornando visíveis os
elementos luminescentes de uma máquina de aspecto complicado. Ao
lado de uma peça tubular, havia um dispositivo cuja ocular estava
dirigida para o plano do Harpalus.
— Quatrocentos quilômetros.
Com velocidade alucinante, a Orion projetava-se em direção
àquela cratera, cuja imagem ocupava agora quase a metade da tela.
Mais alguns segundos se passaram e, então, aconteceu. Cinco apitos
ressoaram pela cabine e enquanto os dispositivos de mira mantinham
o alvo firmemente enquadrado, a nave lançou-se vertiginosamente
para o alto. Um segundo atrás, ainda se distinguia o plano com a
abertura da cratera. Agora, um fino véu de poeira turvava a visão.
— Caramba!... — exclamou McLane.
A cratera tinha desaparecido. Havia se transformado num
prolongamento do declive interno daquela cordilheira anular. No lugar
da planície, coberta de poeira e salpicada de minúsculos meteoritos,
havia um cone oco, invertido, cujas paredes pareciam ter sido sulcadas
por uma escavadeira gigantesca.
— Faça as leituras, Atan! — pediu McLane.
Atan utilizou-se de um telêmetro para curtas distâncias, a fim de
obter resultados mais precisos.
— O diâmetro continua inalterado em trinta e cinco quilômetros
— disse ele — a profundidade aumentou para cinqüenta quilômetros.
Clique! A alavanca do acelerador manual pulou do encaixe e
voltou à posição normal: o computador digital devolveu o controle da
nave ao comandante. O vôo de aproximação da Orion tinha sido
sustado a uma distância de quinhentos quilômetros. A nave continuou
a se projetar para o alto, afastando-se cada vez mais da segunda lua.
Os instrumentos automáticos registraram o tremor provocado pelo
súbito rompimento do equilíbrio estático daquelas massas rochosas,
nas quais, de uma hora para outra, havia surgido uma abertura cônica.
Durante um minuto, houve silêncio na cabine, enquanto o disco
prosseguia em seu vôo não dirigido, mas nem por isso descontrolado.
A imagem da segunda lua apareceu na tela. Luna Secunda apresentava
uma profunda ferida.
Finalmente McLane virou-se para Silvan Rott:
— Esta arma silenciosa é simplesmente pavorosa! Veja esta
cratera; a sua profundidade é agora cinqüenta vezes maior do que
antes!
— Distância: três mil quilômetros — disse Atan — iniciamos o
retorno à Terra?
— Sim, Atan — disse McLane — peça as coordenadas a Mario.
Rott acenou lentamente com a cabeça.
— Talvez algum dia — disse com a voz ainda abalada pela
emoção — vamos ter que nos empenhar numa luta decisiva com os
extraterranos. No último encontro, constatamos que os seus anteparos
são praticamente imunes às nossas armas energéticas.
Continuava recostado na mesa de comando e observava, pensativo,
as suas unhas amadas.
— Quer dizer, com isto, que os teóricos consideram obsoletos os
nossos lançadores energéticos e canhões laser?
A disposição de McLane não era das melhores; não se sentia
inteiramente à vontade com uma arma tão pavorosa a bordo.
— Ainda não são obsoletos — respondeu Silvan Rott. — Mas,
com o Overkill, estamos em condições de destruir naves inimigas a
partir de uma distância de cerca de mil quilômetros, apesar de
anteparos pesados e possantes. Dez naves equipadas com Overkill
poderiam devastar um planeta de tal maneira que não escaparia um
único ser vivo.
Cliff observou Rott com uma expressão meditativa.
— Isso não passa de mera teoria, Silvan — disse ele — mas as
coisas estão evoluindo de uma maneira que eu, decididamente, não
gosto. Seria uma afirmação idiota dizer que eu sou um pacifista
praticante, mas para que vamos pegar dez naves e destruir um planeta?
Fala como se tivéssemos um excesso de planetas no nosso domínio!
Rott exibiu um sorriso gélido e respondeu:
— Acho que ao senhor, comandante, não preciso lembrar os
perigos que a Terra correu nestes últimos tempos e que,
provavelmente, ainda vai correr. Ninguém tenciona empregar esta
arma uma única vez sequer, se não for preciso.
— Com exceção de você, Rott, que há três dias não fala em outra
coisa a não ser ângulos de aproximação, retardamentos e matéria
gaseificada.
Surpreso, o engenheiro da Orion virou a cabeça branca e observou
Cliff e Silvan. Rott retrucou:
— O senhor simplesmente realizou mais uma missão, comandante,
mais nada.
Prontamente, McLane replicou:
— Uma missão que só serviu para a destruição!
— Não arrancamos um fio de cabelo a quem quer que seja. Mas,
em compensação, vamos voltar à Base .104, dentro de três dias, com
um resultado que vai causar satisfação e alívio.
— Que resultado? — perguntou Cliff, laconicamente.
— A certeza de que possuímos uma arma com a qual podemos
proteger a vida na Terra e nas colônias se a situação assim o exigir.
Isto não o tranqüiliza também, comandante?
— Ainda não sabemos nada a respeito dos estranhos — respondeu
Cliff. — Talvez eles possuam uma arma superior ao Overkill.
— Talvez! — disse Silvan Rott.
O nome desta nova arma havia sido encontrado nos arquivos.
Tempos atrás, alguém tinha designado por Overkill a possibilidade de
infligir danos ao adversário que eram maiores do que os que ele
mesmo podia causar. E este nome tinha sido desencavado.
— O que sabemos dos extraterranos — observou Rott —
realmente não é muito, tenho que admitir isto. Ainda estamos tentando
desvendar os mistérios da tecnologia deles, representada por aquelas
naves que os seus homens descobriram em MZ-4. Mas, mesmo o
pouco que aprendemos desde então, já foi o suficiente para nos alertar
contra o que der e vier. Lembre-se apenas daquele planeta em chamas!
Cliff engoliu em seco. Ainda suava frio quando se lembrava
daquelas horas de tentativas frustradas e daquela enervante
permanência no hiperespaço.
— O senhor tem uma facilidade estupenda — disse ele com um
sorriso meio irônico — para me tranqüilizar e a minha tripulação;
parece que a vida na frota perdeu algo do seu encanto desde que eu fui
rebaixado.
Impassível, Rott encolheu os ombros estreitos.
— Helga? — disse Cliff e apontou para as lâmpadas do aparelho
radiofônico. — Dirija uma mensagem hiperespacial à Terra. Para
F.R.E.T. e S.C.E.
— E o teor da mensagem? — perguntou Helga.
— Bem lacônico: experiência Overkill concluída com sucesso!
***
A segunda lua situava-se no cubo espacial Três/Leste 109.
Isto significava que a constelação solitária, constituída por um sol
azul, um planeta gélido e sem vida, e seu satélite silencioso, pairava
no espaço interestelar a três zonas de distância da Terra, ou seja, a
aproximadamente cento e trinta parsec. A grosso modo, os
comandantes estimavam em vinte e quatro horas a duração do vôo
entre duas linhas de distância consecutivas e isto era válido, com boa
aproximação, para vôos normais, realizados com naves e propulsores
dos tipos mais comuns. Nessas condições, uma nave que partisse da
Terra levaria pouco menos de dez dias para atingir as regiões
limítrofes daquela esfera espacial, que constituía o domínio terrano. E,
para vencer cada zona de distância, era necessário efetuar um salto no
hiperespaço.
A nave era acelerada até que atingisse uma velocidade um pouco
inferior à da luz, ou seja, em torno dos 286.750 quilômetros por
segundo. Depois, os geradores eram ativados e a nave desaparecia no
hiperespaço, no qual percorria quarenta e cinco parsec. Vinte e quatro
horas mais tarde, retornava ao espaço normal.
Da mesma maneira, e sofrendo apenas um insignificante
retardamento, propagavam-se as ondas radiofônicas. A mensagem da
Orion VIII estava nas mãos da Suprema Comissão Espacial duas horas
após a destruição da cratera Harpalus naquele curioso gêmeo da lua
terrana.
O deslocamento ascensional da Orion foi contido e os impulsos de
comando da unidade de saída do computador digital assumiram o
controle dos propulsores. A nave foi acelerada e seguiu um curso
rumo à Terra. Após trinta minutos, a Orion estava se deslocando com
velocidade pouco inferior à da luz e mergulhou no hiperespaço. Cliff
virou a pequena alavanca e imediatamente o painel luminoso se
acendeu. As letras da inscrição destacavam-se nitidamente do fundo
luminescente e chamavam a atenção de qualquer parte da cabine:
Piloto automático. McLane levantou-se.
— Queridos amigos — disse, calmamente — durante as próximas
vinte horas não temos nada a fazer. Portanto, decreto folga geral. De
minha parte, vou me recolher ao camarote.
O olhar de Cliff vagueou de Rott para Hasso, de Atan para Mario e
depois para Helga. Um rosto não estava ali e ele sentia falta dele; se
bem que a ausência deste rosto melhorasse sensivelmente o estado de
ânimo na cabine de comando, como Cliff costumava afirmar
insistentemente.' Era o rosto de Tamara Jagellovsk!
— Vou ficar aqui mesmo — afirmou Mario e apontou para um
jogo de desenhos, empilhados na sua mesa.
— Vai montar guarda voluntariamente? — quis saber Atan, com
ironia — desde quando você é tão zeloso com os seus deveres?
Mario de Monti, o subcomandante, riu para Atan.
— Escute, pequenino — disse — controle esta sua língua ferina.
Eu vou estudar estas plantas para mais tarde poder lhe contar como
funciona o Overkill.
McLane fechou a porta semicircular do elevador e desceu ao
convés, no qual se encontravam os camarotes. Foi à cozinha, apanhou
um enorme copo de suco de frutas da geladeira e recolheu-se ao
camarote. Leu um pouco, ouviu um trecho de uma fita gravada e
acabou adormecendo.
Helga estabeleceu uma ligação entre o receptor de gravações e os
alto-falantes de sua cabine e retirou-se.
Rott, Atan e Hasso também se retiraram. Mario estava sozinho.
Estendeu as plantas sobre a mesa e enfronhou-se naquela confusão
de desenhos e símbolos. Durante uma hora havia acompanhado
atentamente os trabalhos de Rott e seus técnicos quando estes
instalaram o projetor Overkill a bordo da Orion; por isso conseguia
entender mais rapidamente o significado daquele emaranhado de
detalhes. Depois que compreendeu o princípio do funcionamento da
nova arma, foi fácil estudar o resto das plantas. Constatou que o
aparelho era capaz de romper as ligações atômicas de qualquer
matéria. O melhor efeito era obtido a uma distância máxima de mil
quilômetros e os contornos da área a ser atingida podiam ser
modificados à vontade. Não era, porém, conveniente chegar a menos
de duzentos quilômetros do local da destruição.
Overkill... uma arma mortífera!
Mario arrepiou-se quando se conscientizou que carga mortal a
Orion estava levando no bojo. Dobrou as plantas e recolheu-se ao
camarote.
Dormiu um sono agitado.
Nas proximidades da Terra, a Estação Avançada IV assumiu o
controle da nave.
Trocaram mensagens radiofônicas e a Orion iniciou a manobra de
pouso. Em posição horizontal, baixou entre as paredes verdes do
enorme cilindro de aço, iluminadas pelos holofotes, e pousou sobre os
raios antigravitacionais. O elevador telescópio baixou. A tripulação
desembarcou, acompanhada de Silvan Rott. Na pasta fechada, levava
as plantas do Overkill. Despediram-se na eclusa.
— Obrigado, comandante! — disse Silvan Rott e trocou um aperto
de mão com McLane.
— Obrigado por quê, Silvan? Rott deu um sorriso meio contido.
— Obrigado — respondeu, lentamente — por me ter dado a
oportunidade de testar esta arma sob o seu comando. Estou certo que
ambos prestamos um serviço à Terra!
— Só faço votos que não precisemos empregar o Overkill. —
disse Cliff — ao menos eu não o desejo!
Semanas mais tarde, Cliff iria se lembrar destas palavras. Trariam
um significado fatal para ele. Subiu à superfície e pouco depois estava
no seu bangalô, em Groote Eylandt.
2
***
Nove dias mais tarde:
A Orion emergiu do ambiente cinzento do hiperespaço retornando
ao espaço normal. O firmamento estava cheio de estrelas; constelações
familiares apareciam nas telas. À frente, em algum lugar, devia
encontrar-se a estação Destroy II. Atan vasculhou as imediações com
os radares e finalmente captou um minúsculo impulso.
— Objeto enquadrado! — disse ele. — Está exatamente sobre a
trajetória!
Cliff corrigiu o curso de alguns traços dos instrumentos e
prosseguiu em direção àquele minúsculo ponto luminoso que se
destacava sobre o monitor acima do painel de comando.
— Do comandante para livro de bordo: estamos nos aproximando
de um objeto. Ainda não podemos afirmar que seja Destroy II.
Distância?
— Nove minutos-luz.
A nave deslocava-se com, mais ou menos, a metade da velocidade
da luz. Isto significava que, dentro de uns vinte minutos, o objeto seria
alcançado.
— Do comandante para o telegrafista: emitir sinal de teste!
— Do telegrafista para o comandante: entendido! — respondeu
Helga e procurou o sinal correspondente no manual.
A Orion correria perigo caso se aproximasse daquele satélite sem
emitir o impulso de identificação. Helga irradiou o impulso e ficou
aguardando. Em seguida veio a contrachamada automática.
— Do telegrafista para o comandante: fomos identificados!
— Está bem!
Cada palavra e cada movimento da nave eram registrados pelo
livro eletrônico de bordo. Dessa maneira tinha sido possível descobrir,
posteriormente, as manobras de Alonzo Pietro.
Mas um comandante experiente como McLane conhecia uma
porção de truques para ludibriar o livro de bordo; e Pietro também os
conhecia. Por isso, Cliff não acreditava que Alonzo quisesse desertar
voluntariamente. A nave, agora manobrada com os controles manuais,
reduziu a velocidade e aproximou-se da estação.
— Vou transferir uma ampliação para a mesa de comando — disse
Atan.
A imagem do asteróide apareceu na tela central. Sua massa
encobria um trecho circular do céu; fora isso, não se via nada. Uma
excelente camuflagem: preto sobre preto.
— Distância: três segundos-luz! — avisou Cliff em voz alta.
Com exceção de Hasso, toda a tripulação, inclusive Sherkoff,
encontrava-se na sala de comando. Hasso continuava a cuidar das suas
preciosas máquinas. Ao longo da sua carreira, ele já tinha conhecido
oito séries de construção de naves do tipo da Orion. McLane
comandava a sua oitava nave. As sete outras tinham sido destruídas
das maneiras mais diversas.
Lentamente, a Orion aproximou-se do satélite, com as máquinas
desligadas.
— Cento e cinqüenta mil quilômetros. Começavam a reconhecer
os detalhes. As rochas mais altas destacavam-se das demais, brilhando
fracamente na luz das estrelas distantes. Na curvatura da cúpula e ao
longo dos compridos tubos das antenas, cintilavam pequenas luzes;
eram visíveis também em torno da entrada circular da rede de
cavernas da estação.
— O que me comove é a incrível variedade da iluminação — disse
Cliff, admirado. — Nem mesmo luzes de posição infravermelhas!
Está tudo muito bem oculto.
McLane acendeu um jogo de faróis de pouso.
Uma zona foiciforme de rocha negra foi arrancada da escuridão.
Cada vez mais rochas e superfícies pétreas apareceram. O aparelho
radiofônico, que Helga tinha ajustado para o canal da estação,
silenciava. Todos sabiam que, por baixo daquelas rochas
ilusoriamente maciças, havia escotilhas de aço. Se fossem abertas,
transformariam aquele corpo rochoso num ouriço cujos espinhos eram
raios laser. E destruiriam, com indiferença mecânica, tudo o que o
computador digital classificasse de inimigo.
— Do comandante para telegrafista: estabeleça uma comunicação
com os robôs de guarda!
Helga ajustou o aparelho transmissor e depois apertou um botão.
Se McLane falasse agora no microfone, podia comunicar-se
diretamente com as máquinas na estação.
— De telegrafista para comandante — disse Helga. — Contato
estabelecido, pode falar!
Aparentemente, o professor Sherkoff não estava pela primeira vez
na vida a bordo de uma nave cuja tripulação evidenciava um
entrosamento tão perfeito. Parecia não se impressionar com a rapidez
e precisão das operações que se sucediam.
— Orion VIII chamando Destroy II! — disse McLane com voz
incisiva.
A nave estava apenas a trezentos metros daquela bola rochosa. A
tela central circular já era insuficiente para mostrar a estação toda. A
imagem consistia de uma linha fortemente curvada, por cima da qual
luminesciam as estrelas. O outro lado mostrava o reflexo da luz dos
faróis de pouso da nave.
— É curioso! — disse Mario que tinha se postado atrás de Cliff.
— Orion VIII chamando estação Destroy II! — repetiu McLane.
— Dentro de um minuto vamos acostar a lua. Abram o poço de acesso
à estação e liguem o abastecimento de oxigênio!
Nenhuma resposta.
— Comandante para telegrafista: sua caixinha eletrônica está com
defeito, Helga? — perguntou McLane, impassível.
— De telegrafista para comandante: de forma alguma. Está
funcionando perfeitamente bem!
— É misterioso! Sherkoff riu baixinho.
— Parece que o comitê de recepção é constituído todinho por
surdos-mudos! — comentou.
— Pior do que isso! É constituído por robôs! — disse Cliff. —
Não faz idéia como eu adoro esses homenzinhos de lata!
Cliff raciocinou febrilmente. Parecia impossível que nestas
condições ambientais os robôs tivessem entrado em colapso. Aqui não
precisavam realizar duros trabalhos de mineração, nem estavam
sujeitos às incessantes vibrações de enormes máquinas. Locomoviam-
se em recintos temperados, executando tarefas bem mais leves.
Ligavam e desligavam outras máquinas, tratavam da manutenção e,
além disso, não estavam ali há muito tempo. Eram, por assim dizer,
novinhos em folha.
— O que vamos fazer, Cliff? — perguntou Mario, aborrecido.
— Vamos tentar novamente!
Mais uma vez Cliff agarrou o microfone e disse:
— Estação Destroy II! A nave Orion solicita resposta imediata!
Confirmação do chamado! O que está acontecendo aí?
Apenas o fraco ruído da estática emanava dos alto-falantes. Fora
isso, nada. Nenhum estalo, nenhum impulso, nenhum sinal, nenhuma
voz gravada.
— Repito: respondam à nave Orion! É urgente!
— Alguém já ouviu falar em robôs dorminhocos? — perguntou
Tamara, que tinha voltado ao seu lugar cativo junto da escora.
— Tão pouco como de agentes inatentos do SSG! — respondeu
Cliff, num animado tom de conversação. — Eu não sei que
perturbação está ocorrendo lá!
— Proponho acostar logo. É claro que podemos entrar sem auxílio
dos robôs! — disse Hasso, que tinha ouvido as palavras do
comandante através do intercomunicador de bordo.
— Está bem, vou pousar a nave!
Cliff aproximou o disco e virou-o de tal maneira que o elevador
telescópico tocaria o solo horizontalmente, bem perto da entrada.
Apagou todos os faróis de pouso, com exceção de um único, que
continuou a iluminar a pequena praça.
A nave já não possuía mais qualquer impulso cinético próprio e
Cliff ativou possantes raios magnéticos, que ancoraram a Orion num
pedaço de rocha.
Manobras desse tipo tinham que ser realizadas com extrema
cautela porque a nave poderia alterar a trajetória do asteróide.
— Preparem os trajes espaciais! — ordenou Cliff.
— Entendido!
Depois Cliff tentou estabelecer novo contato com a Destroy II.
Desta vez, parecia ter mais sorte.
5