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Índice

Apresentação .......................................................3
Balanço do congresso da Conlutas........................5
Caso MTL (Movimento Terra e Liberdade)
Um choque para a Conlutas/PSTU .....................17
Motivos da cisão, segundo o MTL ..........................19
1. Rompimento do funcionamento da Conlutas
baseado em acordos. .............................................19
2. Divergências ditas estratégicas ..........................21
Resposta do PSTU ao MTL .....................................22
A essência da crise às portas do 1º Congresso ......25
Congresso da Conlutas .......................................28
Ao 1º Congresso da Conlutas
Conlutas – uma nova Central? ............................31
Que obstáculos enfrenta o movimento dos
trabalhadores e que tarefa temos pela frente ...........34
Manifesto ao Conat
Combater a burocracia sindical, sem romper
com a CUT .........................................................38
Luta pela independência e democracia sindicais ....40
Superar a crise de direção ......................................42

1
Partido Operário Revolucionário

Combater o eleitoral-sindicalismo...........................43
Tarefas do Conat ....................................................44
Base programática da frente classista e
antiburocrática .......................................................44
Publicado no Massas 319
Congresso da CUT e da Conlutas .......................46
CECUT de São Paulo - uma caixa eleitoral do PT Luta
pela independência da CUT ....................................47
Enfrentamento com a burocracia lulista..................48
CONAT - a responsabilidade da divisão ...................49
Publicado no Massas 320
ENE e Conat demonstraram burocratismo e
inconseqüência das cisões da UNE e da CUT ......52
Principais colocações do CONAT .......................55
Objetivos do CONAT ................................................56
O programa da “nova entidade” ...............................57
Nada de concreto com a frente eleitoral ...................57
CONAT não elegeu a direção para a Conlutas .........58
Sobre o Plano de Lutas............................................59
As posições do POR no Conat ..................................60

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Apresentação

O Partido Operário Revolucionário se manifestou, desde


o início, contra a cisão da CUT, realizada pelo PSTU. Carac-
terizou e caracteriza a direção da CUT como uma burocra-
cia traidora e estatizante. Defendeu a necessidade de
constituir as frações revolucionárias para intervir nos sin-
dicatos e na Central, assentadas no programa da classe
operária e no método da luta de classe. Interveio com essa
política no I Conat (2006), que aprovou a convocação do I
Congresso (2008), para constituir a direção e aprovar os es-
tatutos da Conlutas. Mas a cisão constituía uma decisão
política do partido morenista.
Depois de dois anos, o I Congresso não pôde dar um
passo à frente – eleger sua direção e aprovar seu estatuto.
Antecedeu o Congresso o chamado de unificação à Inter-
sindical, que não respondeu positivamente, e o rompimen-
to de agrupamentos internos, como o MTL, MES e MAS. A
política do PSTU determinou as diretrizes da Conlutas para
o próximo período.
O objetivo do POR, nesse folheto, é dar continuidade às
discussões e apresentar nossas posições frente aos princi-
pais pontos aprovados no I Congresso. Para melhor com-

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Partido Operário Revolucionário

preensão, publicamos também o balanço que fizemos do I


Conat e o manifesto.
Nossas divergências com o PSTU e com as correntes que
se colocaram de acordo com a cisão da CUT e constituição
da Conlutas não impediram que o POR participasse de todo
o processo. Não somos críticos alheios aos acontecimentos
que envolveram a formação da Conlutas. Há outras corren-
tes que se reivindicam do trotsquismo contrárias à cisão.
No entanto, ou tiveram a conduta de não intervir e atacar à
distância, ou se aliaram à burocracia cutista. O POR tem
feito uma luta no campo dos princípios e do programa da
classe operária.
Esse segundo folheto, acreditamos, não só completa
nossas formulações iniciais como confirma nossas teses
contrárias à cisão e formação de uma nova central.

Julho de 2008

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Balanço do congresso da Conlutas

Massas 361
1. O I Congresso da Conlutas, realizado no início de ju-
lho, contou com 2805 delegados, sendo 175 sindicatos e
cerca de 500 representações de oposições, movimentos po-
pulares e estudantis. Esteve reunida, portanto, uma im-
portante vanguarda militante. No entanto, a pequena
expressão da classe operária indicou o curso do congresso
e o conteúdo das resoluções aprovadas. A forte presença
festiva de estudantes contribuiu para a dispersão, nos mol-
des de congressos da burocracia cutista. O funcionalismo
público (servidores federais, estaduais e municipais) con-
tou com boa parte dos delegados. A composição social pe-
queno burguesa (classe média arruinada) e a hegemonia
partidária do PSTU marcaram o Congresso. O I Congresso
demonstrou o não-avanço da construção da Conlutas no
seio da classe operária. Reafirmou-se como um aparato
sindical e estudantil do PSTU. Os setores que fizeram opo-
sição eram minoritários e superestruturais. Entre eles des-
tacaram-se: FOS, Conspiração Socialista, parte do PSOL,

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Partido Operário Revolucionário

LBI e Estratégia. A FOS e a Conspiração Socialista compu-


seram um bloco com parte do PSOL, identificada com “Uni-
dos pra Lutar”. Os oposicionistas se mostraram
completamente heterogêneos. Mas em grandes traços osci-
laram entre o sectarismo delirante e o oportunismo sindi-
calista. Assim, essa fração não foi capaz de combater as
teses do centrismo, encarnado pelo PSTU,quanto ao cará-
ter da Central, da caracterização dos governos lati-
no-americanos etc. O PSTU, que no Conat de 2006
cantarolava que estava “nascendo uma nova alternativa
para os trabalhadores”, agora, repetia incessantemente
que o “I Congresso foi uma grande vitória”. O exitismo do
centrismo mal disfarçava a crise aberta com o rompimento
do MTL, MES e MAS. Esse balanço tem o objetivo analisar
as resoluções aprovadas e os rumos da Conlutas.

2. O Congresso repetiu o burocratismo do Conat: não


elegeu sua direção. Foi aprovada a resolução da Federação
Metalúrgica de MG, defendida pelo PSTU, sobre o funcio-
namento da Conlutas. Manteve a forma de Coordenação de
entidades e movimentos e instituiu uma Secretaria Execu-
tiva da Coordenação, composta de 21 membros, escolhidos
por aqueles que compõem a Coordenação e com mandato
de 2 anos. Integrou na Coordenação as entidades estudan-
tis (DCEs, CAs e grêmios estudantis). O PSTU ao criar esse
sistema de direção, embora timidamente tivesse colocado
na resolução que essas propostas “não devem ser tomadas
como modelo de direção”, foi obrigado a se contrapor a um
dos princípios elementares da democracia operária, que é a
eleição direta e composição proporcional da direção de
uma Central. A presença, com direito a voto, de entidades
estudantis na direção da Conlutas, revelou o quanto está
distorcida e o quanto o PSTU necessita dos estudantes
para fazer valer suas propostas. Não por acaso, mais de
25% dos delegados eram estudantes. A posição contrária,
que reivindicava eleição direta, não teve força política e so-
cial para questionar as manobras que garantiam a hege-
monia do PSTU na condução da Conlutas. Manteve-se o

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Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

caráter de uma direção federativa de entidades, sob o con-


trole do PSTU. Se no Conat não se constituiu uma Central,
com estatuto e direção eleita, no I Congresso, em que se es-
perava um avanço nesse sentido, tudo permaneceu na
mesma, com o agravante de reforçar o federalismo com a
presença de organizações estudantis. De forma indireta e
controlada, será formada a Secretaria Executiva da Coor-
denação, que de fato responderá pela Conlutas.

3. Reafirmou-se o caráter sindical, popular e estudantil


da Conlutas, rejeitou o peso majoritário (mais de 60%) da re-
presentação da “classe trabalhadora” e materializou em
10% a presença dos estudantes nos organismos diretivos. A
resolução votada: “As representações de cada um dos seto-
res, nas instâncias da Conlutas (congresso, coordenação
nacional, estadual e regional) devem ter peso diferenciados.
A representação dos estudantes não poderá exceder 10% do
total de delegados ao congresso ou representantes com dire-
ito a voto nas reuniões da coordenação”. Por meio dessa re-
solução, o PSTU rejeitou o caráter proletário da Conlutas,
onde o peso do proletariado teria de ser maioria. As corren-
tes que se opuseram se limitaram a diluir o proletariado em
nome da “classe trabalhadora”, que envolve os assalariados
em geral, com presença marcante do funcionalismo. Nesse
ponto, ficou demonstrado que havia um acordo prévio do
PSTU com agrupamentos que faziam oposição de que os es-
tudantes não teriam peso superior a 5%, conforme constava
do documento divulgado no dia do congresso pela Federa-
ção Sindical dos Metalúrgicos de MG, que dizia “ A represen-
tação dos estudantes não poderá exceder a 5% do total de
delegados ao Congresso...”. A pressão dos estudantes por
maior participação fez com que o PSTU rompesse o acordo e
aceitasse os 10%. Uma Central Sindical como expressão da
luta revolucionária tem de necessariamente estar dirigida
pela classe que encarna a luta contra o capitalismo, que é o
proletariado. A rejeição da proposta, embora limitada, das
correntes oposicionistas traçou o caráter e o conteúdo de
classe da Conlutas. A posição do PSTU de reforçar a partici-

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Partido Operário Revolucionário

pação estudantil e a da oposição de que mais de 60% deveri-


am ser de representantes da classe trabalhadora
expuseram a principal contradição e deformação da Conlu-
tas. A presença de delegados do proletariado fabril era ul-
tra-minoritária. Um plenário constituído por maioria
pequeno-burguesa não tinha como discutir seriamente o
problema do caráter proletário da Central.

4. Com o discurso contrário ao imposto sindical e ao re-


conhecimento nos moldes determinados pela reforma sin-
dical de Lula, o Congresso votou pela legalização da
Conlutas. A resolução diz assim: “A Conlutas lutará pela
sua legalização e vai reivindicar do Estado seu pleno reco-
nhecimento e legalização como Central Sindical e Popular.
Obviamente, a Conlutas deve fazer isso sem admitir que
este reconhecimento e legalização imponham qualquer tipo
de restrição à sua independência e autonomia frente ao
Estado e aos patrões... A Conlutas mantém sua posição
contrária ao imposto sindical e à decisão de não receber o
que caberia pela lei aprovada no Congresso Nacional”. O
PSTU procurou combater todos aqueles que denunciavam
a legalização da Conlutas como Central sindical, discur-
sando que isso não significava aceitar as imposições do go-
verno, como fez a CUT. Dizia que a legalização permitia
negociar e assinar acordos para os sindicatos que com-
põem sua base. Está aí o problema. Mesmo que não venha
a abocanhar a fatia que lhe cabe do imposto sindical, a le-
galização determinada pelo Estado permite à Conlutas fa-
zer o mesmo que as burocracias da centrais legalizadas
pretendem, ou seja, negociar por cima das decisões das as-
sembléias de base. A legalização de uma Central deve ser
uma imposição da luta dos trabalhadores e não uma dádi-
va do Estado para fortalecer as burocracias sindicais. O re-
conhecimento do Estado e da burguesia de uma Central
sindical é uma conquista da luta de classes. Na realidade, a
Conlutas não é uma Central nascida de um levante dos tra-
balhadores, mas o resultado de uma ação política do PSTU.

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Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

5.O debate da relação da Conlutas com os partidos mos-


trou a debilidade de correntes que faziam oposição e permi-
tiu desvelar a demagogia do PSTU. A resolução aprovada
diz: “Os sindicatos e a própria Conlutas, para poderem cum-
prir seu papel, necessitam ter capacidade de unir na luta to-
dos os trabalhadores e explorados, independentemente de
sua posição ideológica ou opção partidária...esta definição
não significa rechaço aos partidos políticos do campo da
classe trabalhadora”. Uma ala da oposição manifestou-se
contrária à resolução com o argumento da independência
da Conlutas em relação a todos os partidos. Enfatizou que é
tarefa combater a partidarização da Conlutas. Tratava-se de
um clara denúncia da partidarização da Conlutas pelo
PSTU e das alianças eleitorais desse partido com o reformis-
mo do PSOL. Ao denunciar o PSTU, o delegado dessa ala
acabou assumindo uma posição reacionária diante da colo-
cação expressa na resolução de “não rechaçar os partidos
políticos do campo da classe trabalhadora”. Uma outra ala
oposicionista estava de acordo com a resolução, mas votou
contra denunciando que a prática do PSTU não correspon-
dia ao conteúdo da resolução. A confusão é total: não se vota
contra uma resolução correta porque os proponentes não
têm uma prática condizente. Por que a relação entre a Con-
lutas e os partidos políticos foi colocada em discussão e vo-
tação? Ocorre que a Conlutas se constituiu como um
aparato sindical em torno da política do PSTU. Aqueles que
se opuseram à resolução e apresentaram uma outra resolu-
ção são exatamente os que foram arrastados pela aventura
divisionista da CUT, em nome de uma nova Central. Agora,
querem pôr limites burocráticos à hegemonia do PSTU. Para
isso, apóiam-se numa resolução anti-partidária. E igualam
os partidos burgueses com os partidos de esquerda, que se
reivindicam da luta contra o capitalismo. O marxismo há
muito formulou a posição de não comprometer o caráter de
frente única dos sindicatos submetendo-os à organização
partidária. Somente nesse sentido se pode falar em autono-
mia das organizações operárias frente aos partidos da classe
operária. O partido da revolução proletária tem o dever de

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Partido Operário Revolucionário

lutar pela direção dos sindicatos e expressar em seu interi-


or, segundo os organismos da democracia proletária, o seu
programa. Uma das tarefas é convencer o proletariado a ex-
pulsar de suas organizações os partidos burgueses e reduzir
o máximo possível a influência da política peque-
no-burguesa expressa por correntes de esquerda. As forças
que combatem essa tarefa em nome da autonomia e da não
partidarização acabam se submetendo à política burguesa e
se tornando parte da burocracia.

6. A discussão sobre a fusão com a Intersindical não


pôde avançar, embora fosse pretensão do PSTU. A Intersin-
dical divulgou sua posição, aprovada no II Encontro Nacio-
nal, contrária à unificação imediata com a Conlutas: “a)
construir uma plataforma unitária de lutas e impulsionar
através de organismos a exemplo do Fórum Nacional de Mo-
bilizações [...] ; b) para fazer avançar a unidade [...] é neces-
sária a construção de uma Central Sindical, ampla, plural,
classista [...] independente e autônoma frente aos patrões,
ao Estado e aos partidos políticos; c) organizar o debate com
outras organizações, como a Conlutas [...]”. Na realidade,
essa colocação resultou do acordo estabelecido no II Encon-
tro devido à divisão da Intersindical, onde setores de sindi-
calistas eram contra a fusão com a Conlutas e parte do
PSOL a favor. Mesmo assim, o I Congresso votou / a “refe-
rendar a proposta de discussão apresentada pela Coorde-
nação Nacional da Conlutas aos companheiros da
Intersindical visando construir as condições para a unifica-
ção das duas organizações. Buscar, no prazo de tempo mais
curto possível, um calendário de discussões para que o de-
bate da unificação possa fluir [...] na perspectiva de realiza-
ção de um Congresso de unificação em 2009”. Houve uma
posição contrária à unificação com a Intersindical, caracte-
rizando como reformista e burocrática. Mais uma confusão.
A unificação de organizações sindicais se deve à necessida-
de de preservar a unidade organizativa do proletariado. As
direções reformistas e burocráticas são divisionistas. Para
se chegar à unificação, é preciso que a política divisionista

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Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

seja derrotada. Por isso, os marxistas lutam pela unidade


das organizações operárias. No caso da Conlutas e Intersin-
dical, verificamos que ambas estão se constituindo como
instrumentos da política do PSTU, do PSOL e de setores sin-
dicalistas. Não há uma diferença de essência para se dizer
que a Intersindical é reformista e burocrática e a Conlutas
não. Sem dúvida, não devemos desconsiderar as diferenças
de grau e de política, mas não é por meio dessas diferenças
que se deve rechaçar a unificação Conlutas e Intersindical.
Tendo isso claro, podemos entender o significado de tal uni-
ficação. Alimentaria a ilusão de que a unificação possibilita-
ria constituir a almejada Central Sindical e Popular ou a
Central Sindical, ampla, plural classista e independente, ca-
paz de quebrar o poder da burocracia da CUT. Não se cons-
titui uma Central proletária por meio de junção de aparatos.

7. No ponto sobre conjuntura nacional, o debate sobre as


eleições contou com três posições. O PSTU apresentou a re-
solução assinada pelo Sindicato Metalúrgico de São José
dos Campos que dizia: “Não votar neste congresso um posi-
cionamento de entidade em defesa da Frente de Esquerda...,
mas indicar que os trabalhadores nas eleições façam uma
opção de classe e votem nos candidatos dos Partidos da
classe que sejam oposição ao governo”. Entre os opositores
manifestaram as seguintes posições: 1) que a Conlutas fi-
zesse um chamado à construção de “uma alternativa prole-
tária de uma Conferência Nacional de Esquerda
Revolucionária para discutir um programa e o lançamento
de anticandidaturas revolucionárias nos municípios. Usar a
tribuna eleitoral para impulsionar uma “Frente Operária
Revolucionária” que defenda a “preparação da greve geral”;
2) abertura de um debate sobre as eleições e que a Conlutas
não indicasse candidatos para não ser confundida pelos
partidos (PSTU/PSOL). A inconseqüência dos opositores
saltou às vistas. No primeiro caso, as “anticandidaturas”
compareceram como uma aberração e futilidade para com-
bater a política eleitoral do PSTU, que é legalizado e atua

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Partido Operário Revolucionário

com candidaturas nas eleições. A aberração se tornou mais


grotesca ao se vincular as “anticandidaturas” à preparação
de uma greve geral, independente se existe ou não uma ten-
dência para a greve geral. No segundo, o agrupamento de
oposição queria tapar o sol com a peneira, porque o PSTU já
está na frente de esquerda e a Conlutas é um instrumento
do PSTU. A resolução aprovada – a do PSTU – é demagógica,
haja vista os acordos eleitorais entre o PSTU e os reformistas
do PSOL. As discussões e as votações não expressaram a tá-
tica revolucionária de atuação nas eleições.

8. O conteúdo de classe do governo Lula e a bandeira


que o expressa evidenciou o eleitoralismo do PSTU e seus
seguidores. A resolução aprovada foi a do Sindicato Meta-
lúrgico de SJC, com o apoio do bloco interno à Conlutas
chamado “Unidos pra a Lutar”. A essência era a de “reafir-
mar que a Conlutas faz oposição de esquerda ao governo
federal, aos governos estaduais e municipais e busca orga-
nizar a luta para derrotar o projeto comum que os une”.
Conclui levantando também a bandeira de “governo socia-
lista dos trabalhadores”. Estão aí as duas consignas do
PSTU: oposição de esquerda ao governo e governo dos tra-
balhadores, que sofreu o acréscimo, certamente em função
dos acordos prévios, da palavra socialista. Ambas são ban-
deiras adaptadas à tática eleitoral do reformismo. Os pro-
ponentes das anticandidaturas se opuseram com a
abstração de “construção de uma alternativa revolucioná-
ria e genuinamente socialista”. Adaptaram-se ao vocabulá-
rio dos eleitoralistas (construção de uma alternativa...).
Para eles, “construir uma alternativa” seria lançar as “anti-
candidaturas” e “preparar a greve geral”. Outro agrupa-
mento denunciou a conduta da Conlutas de se abster de
um combate mais geral contra o governo Lula, que caracte-
rizava corretamente de burguês e pró-imperialista. A criti-
ca é procedente. No entanto, ao ficar no meio do caminho,
torna-se inconseqüente. A formulação de “oposição de es-
querda” ao governo Lula é tipicamente eleitoral. Não se tra-
ta de uma oposição revolucionária, que exige a defesa de

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Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

um programa de transição da revolução socialista. O PSTU


é uma corrente centrista que, de um lado, assume posições
sindicalistas e, de outro, desenvolve posições políti-
co-eleitorais democratizantes. Está aí por que tende a se
adaptar aos aparatos sindicais e às frentes eleitorais de es-
querda, a ponto de se sujeitar ao PSOL.

9. O congresso não tomou posição em relação aos gover-


nos da América Latina e Venezuela. O PSTU e o bloco “Uni-
dos pra Lutar” defenderam a seguinte resolução: “não votar
um posicionamento enquanto entidade a favor ou contra
os governos Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolí-
via) e Rafael Correa (Equador), na medida em que há dife-
renças sobre esse tema e ainda não há amadurecimento
suficiente desse debate na Conlutas”. A Conlutas se abste-
ve de caracterizar Chávez como nacionalista/burguês e
seus aliados como Evo e Correa. Essa manobra do PSTU se
deu em função de que no interior da Conlutas há posições
favoráveis ao apoio a tais governos. Os oposicionistas à for-
mulação da maioria defendiam a importância de a Conlu-
tas se colocar diante desses governos. Às portas do I
Congresso, o Movimento Terra, Trabalho e Liberdade
(MTL), Movimento Esquerda Socialista (MES) e Movimento
de Ação Sindical (MAS) romperam com a Conlutas sob o ar-
gumento de que o PSTU pretendia impor suas posições
contrárias a Chávez, Evo e Correa. Para conservar os de-
fensores desses governos, a Coordenação Nacional fez a
concessão de que o Encontro Latino Americano e Caribe-
nho (ELAC) se absteria a ter uma caracterização de tais go-
vernos. No I Congresso, o PSTU usa a artimanha de que
não havia “amadurecimento” para se decidir sobre o cará-
ter de classe desses governos e a posição frente a eles. Até
parece que esses governos acabaram de chegar ao poder e
os “revolucionários” não tiveram tempo para decidir o que
são e para onde vão. Mas a realidade é outra. Todos esses
governos já se mostraram fiéis à grande propriedade dos
meios de produção e incapazes de mover um dedo contra
as multinacionais e o capital financeiro. O seu nacionalis-

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Partido Operário Revolucionário

mo não vai além de se tornarem sócios do grande capital


estrangeiro em certos ramos, como o do petróleo. Nos re-
centes acontecimentos da Colômbia, a posição de Chávez
em favor da libertação dos reféns das FARCs esteve a servi-
ço da atuação do imperialismo francês. A longa experiência
com esses governos demonstra que não irão além da dema-
gogia nacionalista e do palavreado anti-americano. Estão
justamente na fase de recuo na própria demagogia. Um
Congresso de uma Central que se diz “alternativa dos tra-
balhadores”, “classista e independente” e “socialista” que
se abstém diante de governos burgueses demonstra adap-
tação ao capitalismo e incapacidade de se contrapor às
pressões do nacionalismo burguês. PSTU e o bloco Unidos
pra Lutar tiveram uma posição oportunista.

10. O PSTU impôs à Conlutas o apoio à política de cotas


às mulheres e aos negros. A resolução aprovada é a de re-
servar uma parte dos cargos de direção das entidades dos
trabalhadores para as mulheres. E a defesa de cotas para
os negros terem acesso à universidade. Nesse ponto, não
há diferença entre a política do reformismo petista e a do
PSTU. A posição contrária às cotas partiu do reconheci-
mento da “profunda desigualdade” existente no país e da
presença da “ideologia machista” na sociedade, mas consi-
derou um erro a Conlutas defender cotas de mulheres em
suas entidades e estrutura diretiva. Em relação aos negros,
usou o argumento de que é preciso exigir “aumento imedia-
to de verbas à educação pública (15%) e o fim do vestibular
e vagas para todos no ensino superior”. Não há novidade
nessa colocação. O PSTU, desde os primeiros momentos da
elaboração da política de “reparação histórica” e de “ações
afirmativas” do Estado pelo PT/CUT, se adaptou à essa ori-
entação do reformismo. Passou a expressar os interesses
particulares de uma pequena camada de negros e mulhe-
res da classe média. O reformismo frente a essa questão se
caracteriza justamente por não levantar as reivindicações
do conjunto dos explorados (negros e brancos). Com a co-
tas, faz uma distinção entre os explorados negros (a mino-

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Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

ria que se incluiria nas cotas e a grande maioria excluída).


As cotas não passam de migalhas dos capitalistas a uma
fatia da pequena burguesia negra e servem para acobertar
a opressão de classe e racial. O I Congresso fracassa em
não se contrapor à farsa das cotas e não levantar as bande-
iras das massas proletárias negras e das mulheres.

11.Um dos pontos polêmicos foi o da relação da Conlu-


tas com as organizações militares. Havia duas colocações:
o apoio à greve da polícia e admitir ou não organizações mi-
litares no seio da Conlutas. Sobre o apoio à greve de polici-
ais, embora com divergências de uma seita (LBI), havia
maior concordância. A confusão se deu em relação à incor-
poração de entidades de policiais. O PSTU, corretamente,
disse da importância de dividir a repressão. Chegou a usar
o hino da Internacional Comunista para mostrar que a vi-
tória dos trabalhadores dependerá de ganhar os soldados
para luta revolucionária. A confusão entre a tarefa de fra-
turar o aparato repressivo se confundia com a de admitir a
presença organizada da polícia na Conlutas. Os grupos que
se opunham se apoiavam no fato da polícia constituir o
braço armado do Estado burguês e, por isso, não era possí-
vel sua presença na Central. A aprovação da formulação do
PSTU abre a brecha de organizações militares reivindica-
rem filiação à Conlutas. Como se vê, trata-se de uma ques-
tão sensível. Há necessidade de se atuar sobre os soldados
pobres e destruir o aparato repressivo. O ponto de partida
do problema não poderia ser o de filiação ou não de sindi-
catos de policiais à Conlutas. Teria de ser o da política mili-
tar da Conlutas frente ao Estado e todo o seu aparato
repressivo. Inclusive a necessidade da auto-defesa para
enfrentar a repressão sobre os camponeses foi levantada e
rejeitada pelo PSTU. Aqui está a complicação. O PSTU foi
contra determinar uma política militar para a Conlutas,
mas foi favorável à filiação de entidades militares.

12. O Plano de Ação aprovado foi o apresentado pelos


Sindicatos dos Metalúrgicos de SJC, Químicos de SJC e

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Partido Operário Revolucionário

Federação Nacional dos Gráficos, com os adendos de cam-


panha contra a criminalização dos movimentos sociais,
contra o Reuni e Enade, contra a terceirização nos serviços
públicos, pela liberdade de organização sindical etc. Os de-
fensores enfatizaram a unificação das campanhas salariais
no segundo semestre e um dia nacional de mobilização
pelo salário e pelos direitos. A contraposição a esse plano
foi feita pelo agrupamento que dizia “construir a greve geral
desde as bases sindicais e populares para derrotar o gover-
no Lula e suas reformas anti-operárias”. Mais uma vez,
numa questão fundamental, a Conlutas deixou de cumprir
o objetivo de um organismo de luta. Está evidente que a cri-
se econômica se avoluma e se acelera. O que significa au-
mentar a miséria da maioria. A expropriação dos salários
por meio da inflação e do custo de vida comparece como
um ponto essencial. A taxa de desemprego, que foi contida
nos últimos anos, tende a crescer. O I Congresso teria de
responder a esses três pontos. Que bandeira corresponde à
miséria? Salário mínimo vital de R$2.750,00. Que bandei-
ra corresponde à elevação da inflação e do custo de vida? A
escala móvel de reajuste de salário. Que bandeira corres-
ponde ao desemprego? Escala móvel das horas de traba-
lho. Sem dúvida, há muitos outros pontos da exploração do
trabalho e da opressão de classe que teriam de ser trata-
dos, como o caso da juventude oprimida, dos camponeses
pobres etc. Particularmente sobre a questão da terra, não
houve a discussão, apenas se aprovou o relatório do I Se-
minário Agrário da Conlutas.

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Caso MTL (Movimento Terra e
Liberdade)
Um choque para a Conlutas/PSTU

Massas 360
Assim começa o artigo de Eduardo Almeida: “Às vés-
peras da realização do Congresso da Conlutas, fomos
surpreendidos com a saída da corrente MTL, que, junto
com o MES, tem peso importante na direção do PSOL. O
MAS (grupo petista de Santa Catarina) está também se-
guindo o MTL. Felizmente, vários setores do PSOL se-
guem construindo a Conlutas” (Opinião Socialista, nº
342).
O tom de lamento expõe o estado de espírito de um dos
mais destacados membros da direção nacional do PSTU.
Como poderia emergir inesperadamente uma ruptura tão
importante para o futuro da Conlutas bem na ante-sala
do seu congresso?
O PSTU já havia anunciado antecipadamente o êxito do
1º Congresso da Conlutas. A decisão do MTL esmaece a cor
da vitória tão desejada. Como diz Almeida, a cisão pode in-

17
fluenciar a direção do PSOL, que estava propensa a aderir à
Conlutas.
No Encontro Nacional da Intersindical, em abril, a po-
sição majoritária do PSOL foi de participação no 1º Con-
gresso da Conlutas. Travou dura batalha contra os
opositores, venceu com a resolução de participar, mas
não pôde sustentá-la frente à possível divisão da Inter-
sindical.
O que faria o PSOL no congresso dirigido pelo PSTU
sem a força da Intersindical? Comparecer apenas com
uma fração seria adentrar à Conlutas com a bandeira a
meio pau. Na luta interna, o PSTU poderia arriá-la de vez,
embora venha se mostrando conciliador e unitarista.
Assim, o PSOL, que venceu o Encontro da Intersindical,
teve de recuar.
Mas os partidários de Heloísa Helena e outros grupos do
PSOL haviam decidido comparecer em Betim (MG) por conta
própria, como ato de auto-afirmação política. Os cálculos do
PSTU eram de que a divisão da Intersindical progredisse, de
que não ficasse apenas no âmbito do Encontro e de que pos-
teriormente não se curasse a ferida, em prejuízo da Conlu-
tas.
A atuação do MTL na Conlutas constituía uma força
respeitável e um instrumento para arrastar a Intersindi-
cal, inteira ou despedaçada, unida ou dividida. Tinha-se
em conta que o PSOL fez apenas um recuo tático não cin-
dindo a Intersindical. O MTL era parte dessa manobra.
Com o abandono da Conlutas, o MTL torna as negociatas
do PSTU com o PSOL mais complicadas, por se tratar de
um movimento que organiza a luta no campo e, nesse sen-
tido, é bem diferente da burocracia partidária voltada à
vida eleitoral.
O consolo de Almeida está em que outros setores do
PSOL não seguiram o MTL, como fez o MES e o MAS. Espe-
rança de que estes outros setores – não nomeados por
Almeida – venham a influenciar o PSOL a aderir à Conlu-
tas? Ou apenas um desabafo? Pareceu-nos mais um desa-
bafo, mas só os acontecimentos futuros dirão se havia

18
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

algum fundamento para a esperança. O certo é que a cisão


litigiosa do MTL com o PSTU resulta em duro golpe na
Conlutas.

Motivos da cisão, segundo o MTL


1. Rompimento do funcionamento da Conlutas
baseado em acordos.
Em forma de manifesto – “Em Defesa da Unidade Sin-
dical e Popular” – o MTL dá explicações sobre a ruptura
com a Conlutas. Refere-se às deliberações da reunião de
8 e 9 de junho da Coordenação Nacional da Conlutas,
que tornaram impossível a permanência do MTL e outras
correntes.
Em tom de denúncia, acusa o PSTU de exercer hege-
monia na Coordenação e se valer de uma “política de mai-
oria artificial”. Assim, o MTL se apóia em duas ordens de
causas para deixar a Conlutas: 1. na organização da
Conlutas; 2. nas posições políticas evidenciadas na reu-
nião de 8 e 9. Dá a entender que rompe para não se sujei-
tar a uma “maioria artificial”, constituída pelo PSTU.
Esta é a seqüência dos argumentos do Manifesto. Vamos
segui-la.
O MTL entende que “a Conlutas foi construída a partir
de acordos entre grupos que a compõem, uma estrutura
aberta, transitória, que tem dentro de seus organismos e
também com os setores com os quais discute a Unifica-
ção vários debates de caráter estratégico: o mais impor-
tante deles é o caráter da nova Central que queremos
construir, e consequentemente, qual a base social real
que sustentará esta nova estrutura”.
Esta colocação tem duas idéias fundamentais: a pri-
meira de que a Conlutas dependeu de acordos de organi-
zações para nascer; a segunda refere-se à indefinição
inicial do “caráter da nova Central”, que, portanto, deve-
ria ser resolvido como um problema estratégico. O MTL
estaria deixando a Conlutas justamente porque a forma
de acordos de organizações estava inviabilizada e o PSTU

19
Partido Operário Revolucionário

estava impondo com sua “maioria artificial” um caráter à


nova Central à revelia de outras organizações.
Na reunião da Coordenação Nacional, o PSTU deixou
claro que as propostas divergentes deveriam ir ao plená-
rio do Congresso. Essa posição não foi aceita pelo MTL,
por considerar que o PSTU passou a impor sua “maioria
artificial”. Maioria na Coordenação e também no Con-
gresso, segundo conta na ponta do lápis.
MTL apresenta a composição do Congresso: “26,36%
de sindicatos; 0,91% de Federações, Confederações e
Sindicatos Nacionais; 24,16% de minorias e oposições;
8,83% de setores populares urbanos; 8,57% de movi-
mentos do campo; 5,97% dos cortes de opressão e
25,19% de estudantes”. Conclusão: “Na medida em que
há um debate estratégico aberto, com posições distintas
representativas na realidade da classe e no processo de
reorganização em curso, não legitimaremos o PSTU a es-
tabelecer maioria artificial a partir de um processo de
eleição de delegados sem controle, a representação estu-
dantil, por exemplo, equivale a 25% da delegação do Con-
gresso da Conlutas”.
O MTL afirma que não desconhecia o fato do PSTU “in-
flar a representação de círculos partidários reduzindo a
representação do movimento sindical e particularmente
do mundo do trabalho, utilizando-se da legitimidade do
movimento estudantil”. E se pergunta: “o que mudou”?
Resposta: “A declaração formal do PSTU de que a única
forma de se tratar as diferenças é no bate crachás dentro
do Congresso”. Portanto, esgotou-se o acordo de organi-
zações para formar a Conlutas.
A crise do funcionamento da Conlutas sobre a base de
acordos de organizações tornou visível que se baseava na
política de negociações de cúpula e de consensos entre
correntes, movimentos, organizações sindicais etc. O MTL
acha que a política de acordos deveria continuar e o PSTU
acha que as divergências apresentadas na Coordenação
Nacional deveriam ser votadas no Congresso. Mas o MTL
tem as contas da representação e considera que o PSTU se

20
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

sobrepõe à política de acordo com uma política de maioria


artificial.

2. Divergências ditas estratégicas


Entramos na segunda ordem de argumentos. Diver-
gência quanto à ELAC ( Encontro latino-americano e ca-
ribenho) e quanto à Intersindical. Esses são os dois
pontos alegados.
Na reunião da Coordenação Nacional, o PSTU fez apro-
var uma resolução que reafirma a convocatória da ELAC.
Qual a divergência do MTL? Diz que com a ELAC o PSTU
pretende uma “articulação orgânica com a ultra-esquerda
latino-americana, fechando suas portas à pluralidade de
posições internacionais existentes em seu interior e fora
dela”.
O MTL não indica a que ultra-esquerda se refere e por-
que é ultra-esquerda. Mas a questão está na posição das
correntes frente a governos, como de Hugo Chaves, Evo
Morales e Rafael Correa.
O MTL, de fato, apóia estes governos. Diz que defende
a autonomia da Conlutas frente ao Estado, aos governos
e aos partidos e que não assina qualquer medida de qual-
quer governo contra os trabalhadores. Mas que Chaves,
Morales e Correa “se enfrentam com as oligarquias e com
o imperialismo defendendo na prática os interesses dos
trabalhadores latino-americanos”. Está aí a base política
para o apoio a esses governos. A defesa de autonomia das
organizações das massas frente ao Estado perde todo
sentido.
Para amenizar a divergência com o MTL, o PSTU e
seus aliados na Coordenação Nacional fizeram constar
no ponto 2 da Resolução a seguinte formulação: “Acerca
dos objetivos do Encontro, a Coordenação Nacional rea-
firma que a Conlutas não propõe que sejam tomadas de-
liberações acerca da caracterização dos governos da
América Latina, mais precisamente os governos da Vene-
zuela, Equador e Bolívia”. Está aí a concessão do PSTU
ao MTL e seus aliados. Os delegados poderiam debater as

21
Partido Operário Revolucionário

caracterizações, mas não deliberar sobre elas. De nada


adiantou a conciliação.
Vejamos o atrito em torno da Intersindical. Diz o MTL
que o PSTU mudou de posição frente à Intersindical.
Antes tinha por objetivo a unificação; agora busca “a dis-
puta fracional na base das correntes que compõem a
Intersindical”.
O MTL considera que a tarefa é alcançar a unificação e
não fortalecer a Conlutas em contraposição à Intersindi-
cal. Mas não enfrenta a explicação do porquê da resistên-
cia de uma das alas da Intersindical à unificação,
resistência exposta no seu Encontro Nacional.
Como já foi constatado, o MTL está umbilicalmente
vinculado ao PSOL e o PSOL está umbilicalmente vincu-
lado à Intersindical. O cordão umbilical é tão forte que,
mesmo que a posição majoritária no Encontro Nacional
da Intersindical fosse pelo comparecimento no 1º Con-
gresso da Conlutas, de nada valeu.
Ocorre que o PSTU controla folgadamente a Conlutas,
a presença do PSOL implica disputa de hegemonia. A for-
ça dos aparatos partidários e sindicais pende mais à divi-
são do que à unificação. O MTL teria de se definir de que
lado ficaria. Seu cordão umbilical o puxou para fora da
Conlutas. Se assim não o fizesse, teria de seguir a nova
orientação do PSTU de fracionar a Intersindical.

Resposta do PSTU ao MTL


A Conlutas divulgou, em 13 de junho, uma nota sobre
o afastamento do MTL. Considera a decisão “inexplicá-
vel”. Critica a atitude que “foi tomada à revelia do proces-
so de discussão e eleição dos delegados, que houve na
base em todo o país”. Considera que ainda não tem ele-
mentos para se “posicionar sobre as motivações”. Mas a
nota se refere “às diferenças existentes acerca da realiza-
ção da ELAC”.
A Conlutas diz não entender a ruptura, uma vez que a
resolução da Coordenação Nacional foi “construída em
comum acordo”. Por outro lado, reconhece que o MTL vo-

22
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

tou contra. Essas considerações da nota parecem mais


reclamações. Está evidente que não houve, de fato, ne-
nhum “comum acordo”. O que vale é o voto contrário, o
restante é formalidade.
A suposição de que o MTL poderia ter rompido com a
Conlutas em virtude de pontos do temário do Congresso
(Correções no Sistema de Direção; Natureza Sindical e Po-
pular; Caráter de Classe de Nossa Luta; Fortalecimento da
Conlutas e Unificação) levou a que o PSTU chamasse a
atenção do MTL para o fato de que as discussões “recém se
iniciaram e não há posições definidas sobre os mesmos”.
Em forma de suposição, a nota transparece que o MTL con-
dicionou sua permanência “a que a Conlutas assumisse
suas posições”.
O teor da nota, por si só, mostra que não houve dispo-
sição do PSTU e seus aliados exporem as razões verdade-
iras do rompimento, muito bem sabidas dos membros da
Coordenação.
Quatro dias depois de editada a “Nota da Conlutas so-
bre o afastamento do MTL”, essa organização publicou
suas explicações, acima analisadas por nós. O MTL dei-
xou evidente que a Conlutas deveria continuar a funcio-
nar por acordos e que sua relação com a Intersindical
deveria ser de busca da unidade fraternal.
No “Opinião Socialista” de 19 de junho, Eduardo
Almeida, da direção do PSTU, e José Weil, da Liga Inter-
nacional dos Trabalhadores, publicaram o artigo “Sobre
a Necessidade de Unir os que Lutam”, cujo objetivo é
mostrar para a sua militância e para os aliados na Conlu-
tas que o ELAC é amplo o suficiente para estarem presen-
tes os opositores de Chaves e seus defensores. Nesse
sentido, estaria garantida a frente única tanto na Conlu-
tas quanto no ELAC.
Segundo Almeida e Weil, “para os das direções do
MES-MTL e Coletivo Luiz Carlos Prestes, a ‘única’ posi-
ção correta é estar com Chavez. Quem não apóia seu go-
verno ‘cai do lado oposto’, ou seja, do imperialismo”. Para
demonstrar o ultimatismo do MTL, Almeida e Weil justifi-

23
Partido Operário Revolucionário

cam: “No ELAC estarão centenas de dirigentes sindicais e


populares que estão a favor e contra esses governos. Mas
que estão dispostos a encaminhar juntos planos dos tra-
balhadores”. Mais uma das formalidades do PSTU, que
serve à política de convivência pacífica, sobre a base de
acordos, entre correntes distintas, até que as contradi-
ções se manifestem, como acaba de ocorrer com o aban-
dono do MTL da Conlutas.
Almeida e Weil retomam o sentido conciliador da reso-
lução sobre o ELAC, que objetivou salvar a política de
acordos. Dizem: “Como todos sabem, não era proposta de
nenhuma das organizações convocantes definir no ELAC
uma posição sobre temas polêmicos como a caracteriza-
ção do governo Chavez, mas sim tirar um plano de lutas.
E isso deveria incluir tanto aqueles que apóiam como os
que não apóiam Chavez”.
A abstração política do PSTU foi respondida com rea-
lismo político pelo MTL e prestistas. Para eles, não há
que ter plano de luta algum na Bolívia, Venezuela e
Equador, sem que expressem apoio aos governos “nacio-
nalistas revolucionários”, com assim os definem.
Não há que desconhecer que o MTL e MAS tem raízes
no estalinismo e castrismo. Raízes que obrigam essas or-
ganizações a se submeterem aos governos burgueses do
tipo nacionalista e populista.
Finalmente, Almeida e Weil deixam o pedestal da abs-
tração e concluem que para o MTL “o encontro tem de vo-
tar o apoio a Chávez ou então o evento estará do lado do
imperialismo”. A posição do PSTU de que se discuta, mas
não se decida sobre a caracterização desses governos,
comparece como uma manobra para manter a unidade
formal de aparatos sindical-partidários. Chegou ao seu
limite com o MTL e MAS. A realidade da luta de classe e
do processo político não permite adiar posições frente a
tais governos e nem neutralizar conflitos de posições.
Em nota à parte, na forma de manifesto, com o título
“Um grave erro: A Negação do Caráter de Frente Única da
Conlutas”, o PSTU diz não acreditar que o MTL tenha

24
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

rompido com a Colutas em razão das divergências apre-


sentas sobre o governo Chávez.
Procura também rebater a acusação de “hegemonis-
mo”, com o argumento genérico de que o “PSTU tem peso
entre seus delegados porque desde o início esteve pre-
sente na sua construção”. Evita assim entrar no mérito
da composição social e sindical do 1º Congresso, exposta
numericamente pelo MTL, a partir da qual acusa o PSTU
de contabilizar uma “maioria artificial”.
O PSTU então supõe que a saída do MTL se deve à
possibilidade de ter assumido a posição de uma corrente
sindical do PSOL que “leva à divisão dos trabalhadores
em boa parte do mundo, ‘com a central sindical do PC’, a
‘central do PS’”. Sendo assim, o MTL estaria usando as
divergências e as críticas sobre o hegemonismo do PSTU
para se alinhar com “a concepção de criar centrais sindi-
cais para responder interesses eleitorais dos partidos, e
não a necessidade de unidade para lutar que têm os tra-
balhadores”.
O PSOL estaria caminhando para construir uma “cor-
rente sindical de partido”, que como tal leva à fragmenta-
ção e à negação da “necessidade de uma entidade de
frente única”, no caso, a Conlutas. Tudo indica que o
PSTU esteja se referindo à decisão de uma importante ala
do PSOL, que inclui o MES-MTL, aos quais se juntou o
MAS prestista, de manter a Intersindical como aparato, e
com isso se afastar da Conlutas.
Frente a isso, o PSTU faz a profissão de fé de “unifica-
ção da Conlutas com a Intersindical”. Ao mesmo tempo,
conclama “o restante do PSOL a seguirem o caminho dos
companheiros desse partido que continuam na Conlu-
tas”. Quixotescamente, chama o MTL-MAS que “revejam
sua atitude e retornem à Conlutas”.

A essência da crise às portas do 1º Congresso


O POR, desde o início, se posicionou contra cindir a
CUT e constituir uma nova Central. Nosso principal ar-
gumento: não há um movimento de massa no seio da

25
Partido Operário Revolucionário

classe operária que esteja rompendo com a burocracia


estatizante da CUT e se dirigindo a criar um novo orga-
nismo centralizador da luta de classe. Portanto, a Conlu-
tas, encabeçada pelo PSTU, não passaria de um aparato
de correntes e agrupamentos sindical-populares. Sem
expressar uma ruptura das massas proletárias, não teria
como fazer frente à burocracia da CUT, que continuaria a
comandar boa parte do movimento sindical.
O caráter de frente única dos sindicatos, da Central e de
organismos criados na luta se deve ao seu caráter de massa.
É um erro grave confundir o caráter de frente única desses
organismos com a política de frente única de correntes e
aparatos.
Não por acaso, o MTL acusa o PSTU de mudar a política
de acordos, que serviu de base para a constituição da Con-
lutas.
Não se criará uma nova central sindical com a política
de frente única do PSTU ou de quem quer que seja. A Con-
lutas, como resultado de “frente única de movimentos so-
ciais”, resultante da unificação “de vários setores do
movimento sindical e popular”, não responde ao processo
histórico da luta de classe e constituição de organismos
das massas.
Não é com a soma de “movimentos sociais” que se porá
em pé uma central que cumpra a tarefa de poderosa cen-
tralização da classe operária e dos demais explorados. Os
tais “movimentos sociais” a que se refere o PSTU não su-
peraram seu caráter de aparatos e não deixarão de sê-lo
somados à Conlutas. Basta que se tome o exemplo do
MTL, organização controlada pela política do estalinis-
mo, do castrismo e do nacionalismo pequeno-burguês.
O pequeno peso do proletariado e o grande peso estu-
dantil no Conlutas comprovam que essa organização não
expressa as massas oprimidas e o combate em seu seio
pela independência política e organizativa frente à bur-
guesia e seus agentes. Não será por essa somatória e por
essa “frente única” que a burocracia da CUT, Força Sin-
dical e de outras frações será derrotada.

26
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

O POR trabalha por construir uma fração revolucioná-


ria, programática, no seio do proletariado e, portanto, no
interior dos sindicatos e da CUT pela expulsão da burocra-
cia, pela independência e democracia sindicais. A essência
da crise PSTU/Conlutas e MTL/PSOL/Intersindical está
no caráter de aparato da Conlutas e da Intersindical.

27
Congresso da Conlutas

Massas 358
Nos dias 3 e 6 de julho, a Conlutas realizará seu 1º Con-
gresso. Os organizadores esperam dar mais um passo no
seu fortalecimento.
A Conlutas se originou como movimento de rompimento
com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), por iniciativa
política do PSTU, sob argumento de que se tornara “chapa
branca” com sua integração no governo de Lula. Em 2006,
foi realizada a Conferência Nacional dos Trabalhadores (Co-
nat), que aprovou a cisão e constituição de uma nova orga-
nização sindical e popular (na realidade, não bem definida).
O POR atuou no sentido de não se confirmar a divisão e
de se constituir uma fração revolucionária programática
para combater, no interior dos sindicatos e da própria CUT,
a burocracia e a estatização.
O Conat constituiu uma coordenação, mas não aprovou um
estatuto, necessário para definir seu caráter e funcionamento.
No mesmo processo, houve uma outra ruptura com a
CUT, impulsionada partidariamente pelo PSOL, constitu-
indo a Intersindical. A Conlutas/PSTU trabalha na pers-
pectiva de atrair a Intersindical.

28
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

Assim, é bem provável que não se dê importância aos es-


tatutos da nova organização devido à espera de solução das
divergências na Intersindical em torno da fusão. Tanto é
que, em abril, a Intersindical fez um Encontro Nacional para
decidir sobre a participação no 1º Congresso da Conlutas.
As divergências foram acirradas, ao ponto de não se levar a
bom termo a proposta de fusão. A decisão ficou adiada.
Um dos pontos da discussão foi o do caráter da Conlu-
tas. A quase unanimidade no Encontro Nacional de que era
preciso definir o caráter sindical da nova organização –
contra o caráter sindical, popular e estudantil dado até
agora à Conlutas – só serviu para que o setor contrário à
fusão endurecesse sua posição.
Zé Maria, da Coordenação da Conlutas e destacado mem-
bro do PSTU, diz que é preciso “paciência e generosidade polí-
ticas” para se chegar à fusão. Reconhece que há divergências e
ressalta as convergências. Tudo no abstrato, evidentemente.
O fato é que ainda desta vez se frustrou a tentativa de fun-
dir a Conlutas e Intersindical. O exitismo do 1º Congresso es-
taria garantido antecipadamente se o setor da Intersindical,
ligado ao PSOL, tivesse conseguido aprovar sua proposta de
participação. Entendemos que a paciência e a generosidade
soltas ao vento por Zé Maria, salvo engano, estejam dizendo
que não será ainda desta vez que se consagrará a definição
programática, estatutária e organizativa da Conlutas.
Como a ruptura com a CUT não se deu por um processo
de luta de massa, mas por decisão do comitê central do
PSTU, apoiado em algumas dezenas de sindicatos sob seu
controle, a fusão com a Intersindical virá por meio de nego-
ciatas de cúpula e de aparelhos. A Conlutas necessita de-
sesperadamente de um acordo desse tipo para fortalecer o
aparato sindical e para justificar a decisão de dividir a CUT.
Em forma de um balanço genérico, o jornal “Opinião So-
cialista” avalia que “avança na base a ruptura com a CUT”
e que “importantes entidades sindicais se desfiliam en-
quanto nas categorias cresce o desgaste das direções liga-
das à CUT”. Esta apreciação demonstra bem o erro de
dividir a Central em lugar de constituir a fração revolucio-

29
Partido Operário Revolucionário

nária opositora à burocracia.


Com a política de desfiliação de uma porção de sindicatos
da CUT e de filiação na Conlutas se espera derrocar a buro-
cracia vinculada ao PT. Por esse caminho, a Conlutas só se
fortalecerá constituindo uma nova burocracia, inicialmente
de aparência pseudodemocrática, e, em seguida, autoritária.
Não será com a somatória de sindicatos desfiliados da
CUT que se porá em pé uma organização de massa, indepen-
dente e revolucionária. As massas em luta aberta contra a
classe capitalista expulsarão a burocracia da direção dos sin-
dicatos, derrubarão a cúpula vendida das centrais estatiza-
das e criarão amplas organizações vinculadas à ação direta.
O partido do proletariado tem o dever de expressar e
mesmo antecipar as necessidades organizativas das mas-
sas. Mas não será cindindo a CUT e sindicatos (a burocra-
cia criará novo sindicato onde perder com a desfiliação) e
criando um novo aparato que se expressará o combate con-
tra a burocracia e sua política de conciliação de classe.
É preciso entender o processo de estatização da CUT.
Ela vem com a ascensão do PT/Lula ao poder. Ou seja, com
as ilusões democráticas da classe operária, dos pobres e
oprimidos da cidade e do campo em solucionar seus pro-
blemas por meio de um partido e governo mascarados de
reformistas. Confirmou, por essa via política, a tese de
Trotsky que os sindicatos da época imperialista do capita-
lismo ou estarão em guerra aberta contra a exploração ou
estarão estatizados por uma direção aburguesada. A tarefa
que propõe não é de criar novos sindicatos ou centrais,
mas de combater pela independência e democracia sindi-
cais, para opor a luta dos explorados aos aparatos burocrá-
ticos. Se for necessário criar novas organizações, a luta das
massas indicará o caminho.
O POR expressou essa posição perante o PSTU e os
agrupamentos que a ele se alinharam pela cisão. Em todo
momento nos opusemos às campanhas de desfiliação. Con-
tudo, não deixamos de atuar em frente única contra a buro-
cracia cutista, tanto nas lutas como nas eleições sindicais.

30
Ao 1º Congresso da Conlutas
Conlutas – uma nova Central?

É conhecida a posição do POR contrária à cisão da CUT


e formação de uma nova Central. Também é sabido que em
nenhum momento o POR deixou de atuar nas atividades da
Conlutas. E por quê? Porque entendemos que só a expe-
riência dirá se estamos corretos ou não. E porque a neces-
sidade da unidade organizativa da classe operária
continua vigente.
A estatização da CUT e as divisões criadas pela burocra-
cia, no caso a Força Sindical, CGT etc. inviabilizaram a
centralização nacional do proletariado. É claro que não es-
tamos diante de um fenômeno particular do Brasil. As fra-
ções da burocracia sindical estatizante há muito vêm
fracionando as centrais. Não há país em que não se tenha
mais de uma central.
A social-democracia foi pródiga em romper a unidade
organizativa dos trabalhadores e o estalinismo se juntou a
ela nessa tarefa contra-revolucionária. A frança da década
de 1930 deve servir-nos de referência, embora existam ou-
tros exemplos de igual importância histórica. É um bom
exemplo porque a Oposição de Esquerda trotskista travou

31
Partido Operário Revolucionário

importante combate contra a divisão da CGT, provocada


pela social-democracia e assumida pelo estalinismo. Como
se vê, há precedentes que nos obrigam a encarar a divisão
da CUT – conduzida pelo PSTU e outros agrupamentos –
sob demonstrações e considerações feitas pelo marxismo.
Não é o caso, nesse momento, de rever tudo o que o POR
expôs durante todo o processo de formação da Conlutas.
Apenas sintetizamos o essencial. 1º) Não havia uma tendên-
cia e um movimento de uma importante camada do proletari-
ado de constituir uma nova central, como resposta à
estatização da CUT e às traições da burocracia petista e esta-
linista; 2º) A cisão ocorria em uma situação de reordenação
legal da burocracia, que se confirmou recentemente com a
aprovação de uma legislação e que permitiu aos estalinistas
(PCdoB) saírem da CUT e formarem uma central própria; 3º)
A Conlutas não teria como expressar um setor majoritário da
classe operária, para que fosse uma central operária capaz de
organizar a maioria oprimida, que vai muito além do proleta-
riado; 4º) A grande maioria dos sindicatos ficaria sob o con-
trole da burocracia cutista e não cutista.
Estávamos de acordo com os argumentos de que a esta-
tização da CUT e sua integração no governo Lula passaram
a ser poderosos obstáculos às lutas, à democracia sindical
e à independência organizativa dos trabalhadores. Mas não
estávamos e não estamos de acordo que a saída para a bu-
rocratização e estatização seja a divisão da CUT e formação
de uma nova central. Propusemos e propomos que a Con-
lutas se tornasse uma fração classista e revolucionária,
que funcionasse como frente única para se opor à estatiza-
ção e trabalhar pelo programa de independência da classe
operária.
Mas o fato é que a Conlutas seguiu o caminho da forma-
ção de uma nova organização. O 1º Congresso vem no sen-
tido de consolidar essa posição. É necessário que se faça
uma avaliação precisa das condições da Conlutas se tornar
uma central de massa e proletária.
A crise aberta pelo rompimento do MTL, MES e MAS traz
luz sobre a natureza da Conlutas de frente única de movi-

32
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

mentos sociais e organizações. Não se pode pôr em pé uma


central sindical sobre a base de acordos de direções de mo-
vimentos e organizações.
O MTL deve ser totalmente rechaçado por defender o
apoio dos sindicatos e das massas aos governos burgueses
nacionalistas. No entanto, sua ruptura se deu sob a acusa-
ção de “maioria artificial” do PSTU. Não passaria de simples
acusação se não apresentasse dados da composição social
do 1º Congresso.
Segundo a sua estimativa, a representação de sindica-
tos é minoritária, apenas 26,36%. É preciso que se tenha
claro qual é a força de operários na composição da Conlu-
tas. Ainda segundo o MTL, a representação estudantil che-
ga a 25,19%. Se for assim, somados aos outros setores
(professores etc.), a composição da Conlutas é majoritaria-
mente pequeno-burguesa.
A dificuldade de definir claramente o caráter da Conlu-
tas se deve à sua composição social. Acreditamos que,
mesmo que os dados do MTL não sejam precisos, a presen-
ça do trabalhador de fábrica é minoritária. Pela composi-
ção social começa a caracterização de uma organização de
massa. Isso explica as dificuldades nas discussões entre as
várias posições dentro e fora (Intersindical) da Conlutas so-
bre sua natureza. Central sindical? Organização ampla?
Inicialmente, não faltou a delirante proposta de soviet, por
grupetos inconseqüentes.
O certo é que a ausência de uma definição precisa ex-
pressa o caráter super-estrutural da Conlutas. Que central
será, se em sua base não predominam sindicatos operári-
os? Que organização ampla é essa que não tem a presença
majoritária do operariado? Como se vê, não se determina o
caráter de uma organização pela vontade subjetiva das cor-
rentes e direções de movimentos.
Quatro mil delegados no 1º Congresso reúnem uma van-
guarda importante para a luta contra a burguesia e seu
Estado, caso esta seja vinculada ao movimento das massas.
Mas não é somente pelo número de delegados que se carac-
teriza que organização se está constituindo com a Conlutas.

33
Partido Operário Revolucionário

Caso se decida pela central sindical, o Congresso tem de


ter claro que esta não passará de uma caricatura, pelas ra-
zões acima expostas. Caso se pretenda uma organização am-
pla, então permanecerá a indefinição. Para quê se rompeu
com a CUT? Para quê a campanha de desfiliação dos sindica-
tos da CUT? Só pode ter um propósito: constituir uma nova
central. Para se formar uma Conlutas ampla e de frente de
movimentos, não era preciso cindir a CUT. Atuaria como um
comando unificado dentro e fora da CUT, garantido pela de-
mocracia operária. Seria uma fração classista de combate à
estatização da CUT e dos sindicatos (a CUT foi estatizada por-
que os sindicatos foram estatizados).
Sejamos claros, o impasse na definição da Conlutas
está no fato desta não poder se converter em uma Central
de massa. O plano de ir fortalecendo a Conlutas por meio
da desfiliação dos sindicatos da CUT não tem como se rea-
lizar. A idéia de transformar a Conlutas em uma Central
por meio de somatória de sindicatos desfiliados da CUT e
de movimentos é um grande erro do PSTU. Uma Central
nasce como resultado de profundas tendências do proleta-
riado em confrontar a burguesia e o Estado por meio da
luta de classe.
Não queremos e não devemos fazer nenhuma luta parti-
dária faccional contra a Conlutas. Sabemos distinguir os
adversários da Conlutas: a burocracia, os petistas (entre
eles O Trabalho, que infelizmente se diz trotskista) e PCO,
que não atua no interior da Conlutas, mas que pouca im-
portância tem.
A Conlutas deve corrigir seu erro de origem e constitu-
ir-se como fração classista e revolucionária para atuar den-
tro e fora da CUT e dos sindicatos.

Que obstáculos enfrenta o movimento dos


trabalhadores e que tarefa temos pela frente
A situação econômica vem sofrendo alterações neste
primeiro semestre. Está evidente que a crise imobiliária
nos Estados Unidos reflete uma mudança do quadro eco-
nômico financeiro mundial. Despontam tendências de que-

34
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

da no crescimento da economia. A possibilidade de


recessão global deixa-se transparecer nos EUA, na Europa
e no Japão, que concentram a maior parte da produção e
do comércio. China, Índia, Brasil, Rússia etc. não terão
como resistir a uma depressão nas principais potências.
Não podemos prever o ritmo, mas nos últimos meses há
combinação explosiva de alta inflacionária com desacelera-
ção econômica.
A alta do petróleo e dos alimentos, enfim, da maior parte
das matérias primas configuram um ambiente de crise
mundial.
Já na se pode proclamar que o Brasil está imune ao que
se passa com a economia norte-americana. A propaganda
de Lula sobre os firmes fundamentos macroeconômicos do
Brasil está sendo desmentida pela volta do déficit das con-
tas correntes, pela maior desvalorização do Real, da volta
da inflação, da necessidade de aumentar o superávit pri-
mário etc.
As vantagens com que contou o governo Lula e a buro-
cracia para ludibriarem os explorados estão ficando para
trás. A rápida alta do custo de vida atinge em cheio os assa-
lariados. A marcha do emprego ascendente em alguns se-
tores não tem como ser mantida, uma vez que começa a
haver retração.
O governo Lula ainda procura disfarçar sua política de
proteção ao grande capital fazendo reajuste no Bolsa Famí-
lia. Mas já não tem como fazer demagogia com a bandeira
de recuperação do salário mínimo.
A greve dos professores em São Paulo e a greve nacional
dos Correios podem estar indicando uma tendência mais ge-
ral de luta. No segundo semestre, virão as campanhas salari-
ais dos principais sindicatos operários. A burocracia da CUT
e da Força Sindical há anos que aboliu a luta pelo aumento
dos salários. Agora, sentirá a pressão dos trabalhadores que
têm seus ganhos reduzidos pela alta inflacionária, mais ain-
da no custo de vida.
Os burocratas contiveram por anos as reivindicações
dos trabalhadores. Desorganizaram profundamente a clas-

35
Partido Operário Revolucionário

se operária nos últimos tempos, destruindo conquistas or-


ganizativas, como a CUT pela base, desfigurando a
democracia sindical e assumindo as causas da burguesia.
Não esqueçamos que os reformistas, estalinistas e toda
sorte de direitistas sindicais só puderam agir como trava ao
movimento operário porque controlam a direção dos sindi-
catos. Para combatê-los, temos de estar onde estão os bu-
rocratas. Só assim é possível travar o combate pela direção
das lutas presentes e futuras.
O 1º Congresso da Conlutas tem de aprovar um progra-
ma de defesa integral da vida dos explorados, determinar
as tarefas e ter claro o objetivo estratégico da revolução
proletária. Não se defende a vida das massas sem se lutar
pelo fim da grande propriedade dos meios de produção.
A crise em desenvolvimento mostrará para a classe ope-
rária, os camponeses pobres, a classe média urbana arrui-
nada e a juventude oprimida que, sob o capitalismo, só
pode esperar a fome e toda forma de barbárie.
Alguns pontos do programa de defesa da vida das massas
devem ser imediatamente assumidos e trabalhados junto a
elas.
Frente à grande miséria da maioria e a demagogia
assistencialista de Lula, está colocada a defesa do sa-
lário mínimo vital de R$ 2.750,00; frente ao desempre-
go massivo existente e a retomada das demissões,
escala móvel das horas de trabalho; frente à alta in-
flacionária e do custo de vida, reposição das perdas,
aumento real e escala móvel de reajuste dos salários.
É necessário que se aprovem também as reivindica-
ções da juventude oprimida: nenhum jovem desempre-
gado, nenhum jovem fora da escola, jornada de
trabalho de não mais de 4 horas e o restante do tempo
para se dedicar aos estudos e lazer.
Diante dos camponeses, expropriação dos latifún-
dios e do agronegócio e entrega das terras a comitês
agrários. Fim da repressão ao movimento camponês.
Estas reivindicações devem encabeçar a lista e determi-
nar as tarefas da Conlutas. Certamente, deve-se responder

36
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

com o programa revolucionário ao ataque do imperialismo


às nações e povos oprimidos. Não deixando, porém, de ca-
racterizar de burgueses os governos nacionalistas, de mos-
trar sua incapacidade de enfrentar o grande capital
financeiro e multinacional e combater sua política de sus-
tentação do capitalismo.
O Congresso deve rechaçar, em uma resolução, o
rompimento do MTL com a Conlutas em defesa de Chá-
vez, Evo Morales etc.
A luta pela independência das organizações dos traba-
lhadores é fundamental para combater a burguesia e de-
senvolver suas forças revolucionárias contra a grande
propriedade capitalista, seus governos e seu Estado.

37
Manifesto ao Conat
Combater a burocracia sindical, sem
romper com a CUT

Tratamos imediatamente sobre o tema da ruptura com


a CUT e da constituição de uma nova Central porque esta
será a principal decisão do Conat.
Desde as primeiras reuniões da Conlutas, o POR partici-
pou com a seguinte posição: constituir uma frente única de
luta classista e anti-burocrática, não dividir a CUT, atuar
dentro e fora dela e dos sindicatos. Para se consolidar a
frente classista, levantamos a necessidade de um progra-
ma discutido nas bases e aprovado em uma plenária nacio-
nal de delegados. Os comitês de base frentista
organizariam as atividades segundo um plano e sob a coor-
denação também eleita na plenária.
Como se vê, diferente de outras correntes de esquerda
que se declararam contra o movimento da Conlutas, to-
mando-o como definitiva cisão da CUT, afirmamos a sua
importância como instrumento de organização e mobiliza-
ção contraposto ao bloqueio imposto pela burocracia às
lutas e à independência política do movimento operário.

38
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

Não tivemos dúvidas, no entanto, de que o objetivo traça-


do pelos seus organizadores, sendo a principal força o
PSTU, de desfiliar sindicatos da CUT e constituir uma ou-
tra Central não era o caminho correto para combater e
derrotar a burocracia, grande parte dela formada por pe-
tistas.
Muitos estranharam o fato do POR comparecer nas ple-
nárias da Conlutas para se colocar contra a decisão de
formar uma nova Central e também e tirar delegados ao
Conat, de acordo com esse propósito. Entendemos que as
posições devem se desenvolver de acordo com a experiên-
cia. Constituímos uma posição no interior da Conlutas
por uma frente única de luta - quanto a isso atuamos em
todas as campanhas - e formulamos lealmente a posição
contrária à divisão da CUT - quanto a isso atuamos con-
trários às medidas de desfiliação. Trabalhamos por forta-
lecer a Conlutas como frente única, mas não a
fortalecemos como fração divisionista da CUT. Sem dúvi-
da, estamos diante de uma contradição, mas explicável
pela própria divergência criada entre as organizações do
campo classista com a proposta de desfiliação da CUT.
Achamo-nos no dever revolucionário ir até o fim na de-
fesa da unidade das organizações proletárias. No Brasil, é
recente a experiência de divisão de uma Central envolven-
do uma ala da esquerda que se reivindica do marxismo.
Mas as experiências do movimento sindical internacional
do passado trazem importantes lições. O marxismo sem-
pre combateu as divisões burocráticas ou ul-
tra-esquerdistas.
Temos a convicção de que o movimento de divisão da
CUT liderado pelo PSTU compõe-se de traços burocráticos
e ultraesquerdistas. Parece um contra-senso, mas é o que
refletem setores do sindicalismo que não encontram força
aparelhista para se expressar no interior da CUT ampla-
mente estatizada e aqueles que, de tão mergulhados no
subjetivismo, não vêem que a maior parte dos trabalhado-
res continuarão sob o comando ou a influência da buro-
cracia cutista. Não é por acaso que existem aqueles que

39
Partido Operário Revolucionário

querem um novo aparelho controlado pela cúpula sindical


e aqueles que chegam ao absurdo de proporem uma orga-
nização soviética.
As correntes que estão contra a divisão da CUT e não
lutam no interior da Conlutas em favor de uma frente
classista acabam reforçando os aparatos burocráticos.
Entendemos que o correto é atuar no interior da CUT con-
tra a sua estatização e atuar no movimento da Conlutas
em favor da frente única e contra a divisão da CUT.
A vanguarda que se aglutinou em torno da Conlutas
tem um papel importante na luta pela independência polí-
tica dos explorados, na defesa das reivindicações e na mo-
bilização de massa. Por isso, não pode virar as costas para
a CUT que mantém sob seu controle não só a maioria dos
sindicatos, mas também os mais estratégicos.

Luta pela independência e democracia sindicais


De fato, a CUT chegou a um grau extremo de burocrati-
zação. A particularidade está em que a Central está sob a
direção do PT. Passou a ser parte do governo com a vitória
eleitoral de Lula. O PT no poder do Estado completou o
processo de estatização. Para cumprir a função de correia
de transmissão da política governamental petista, foi ne-
cessário recrudescer a burocratização da CUT: limitou-se
ao extremo seu Congresso, descaracterizou-se a represen-
tação operária, impossibilitou-se a expressão política das
posições minoritárias, impôs-se a paralisia frente aos ata-
ques dos capitalistas e encastelou sua direção.
É preciso ter claro que a burocratização da CUT se deu
concomitantemente ao fortalecimento do reformismo pe-
tista. O PT se apoiou em grande medida nos sindicatos e
na CUT para se construir como aparato eleitoral. O petis-
mo forjou ao longo dos anos uma casta de burocratas, cuj
principal escola foi a do reformismo, e assim aprenderam
manejar a política de conciliação de classe e a controlar
aparelho sindical com mãos de ferro.
As esquerdas que por longo período construíram o PT o
apoiaram eleitoralmente e que em Congressos da CU che-

40
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

garam a propor moção de apoio ao PT têm ou não ree pon-


sabilidade quanto à burocratização da Central? O balanço
da relação do PT com a CUT e das correntes de esquerda
com o PT/CUT deve também ser feito por aquele que tra-
balham pela formação de uma nova organização sindical.
Apresentamos sinteticamente nosso balanço porque
este demonstra que a burocratização é um fenômeno de
direção. A direção burocrática leva fatalmente à estatiza-
ção das organizações operárias, que pode ser mais direta,
como agora, ou mais indireta, como no passado. É com
esse fenômeno que estamos lidando.
É preciso derrotar a política burguesa do PT no seio dos
sindicatos, ou seja, no seio do proletariado e dos trabalha-
dores em geral. O reformismo, cuja principal política é a
de conquistar apoio eleitoral das massas e sustentar as
ilusões democráticas dos oprimidos no Estado burguês,
anula o quanto pode as organizações sindicais, subme-
tendo-as às disputas interburguesas.
Vicentinho avalizou a reforma da Previdência do governo
FHC/PSDB para mostrar à burguesia o lugar do PT no qua-
dro partidário institucional. O presidente da CUT, Marinho,
tornou-se ministro do Trabalho no governo do PT como ca-
pacho bem formado pelo capital. Vicentinho e Marinho sin-
tetizam a total adaptação da burocracia petista ao
capitalismo. A expressão maior da submissão à burguesia é
o próprio Lula, considerado até pouco tempo como “referên-
cia da classe operária” por quase todas as correntes de es-
querda.
A burocracia não é homogênea, divide-se em frações
vinculadas a interesses particulares das frações capitalis-
tas. A direção burocrática leva a divisões no movimento
sindical segundo esses interesses e suas manifestações
na política eleitoral. A divisão entre CUT e Força Sindical é
uma cunha burocrática no seio do movimento operário,
que necessita da unidade para enfrentar com força o po-
der da classe capitalista.
O trabalho revolucionário no seio dos explorados impli-
ca demonstrar o papel divisionista do reformismo petista e

41
Partido Operário Revolucionário

do direitismo forcista. Não será constituindo uma nova or-


ganização minoritária de esquerda, que não expressa uma
poderosa tendência de ruptura das massas com a CUT,
que se derrotará a burocracia. A tarefa é justamente o con-
trário: organizar a luta pela independência da CUT, pela
democracia sindical e pela unidade das organizações ope-
rárias.

Superar a crise de direção


As massas se iludiram com o reformismo do PT. Deslo-
caram-se eleitoralmente dos tradicionais partidos burgue-
ses à procura de saída para a miséria, a fome, o
desemprego, a discriminação etc. A ausência de um pode-
roso partido revolucionário dificulta a ação direta da maio-
ria oprimida.
Os sindicatos carecem de uma direção programática,
voltada inteiramente à destruição do capitalismo pela revo-
lução social. A tarefa de quebrar o poder das direções buro-
cráticas - reformistas e direitistas - liga-se
indissoluvelmente à construção do partido-programa. O
que exige desenvolver uma política oposta ao corporativis-
mo e ao aparelhismo sindical. A burocracia continuará do-
minando enquanto não tiver de se confrontar com posições
do partido marxista-leninista-trotskista.
A exploração e a crise do capitalismo levam os assalari-
ados a se chocarem com a política de colaboração da bu-
rocracia, mas é preciso o partido do proletariado para
varrer a direção pró-capitalista.
Não se trata de disputar corporativamente o aparelho
sindical com a burocracia, mas de constituir uma direção
revolucionária para os sindicatos. Estes devem não ape-
nas defender os interesses económicos dos trabalhadores,
mas servirem sobretudo de auxiliares da revolução prole-
tária.
O enfrentamento às direções burocráticas se dará na
base, no movimento operário, que se expressará no interi-
or dos sindicatos.
A posição de criar uma nova Central minoritária de es-

42
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

querda vem das correntes e sindicalistas que carecem do


programa da revolução e que não podem desenvolver uma
política de superação do reformismo. Evidencia-se a luta
de aparatos, acobertada com a análise de que a CUT é
uma casca vazia. Desconhece-se que o problema está na
burocracia sindical como um todo, que vai da CUT à Força
sindical, e que controla a esmagadora maioria dos sindi-
catos.
Não é por acaso que uns querem que o Conat aprove a
nova Central, outros querem que deixe mais para frente,
ou que o Conlutas continue a ser o que é, e outros ainda
querem um soviet a fórceps. No mesmo sentido, discu-
te-se se o Conat deve parir uma central de sindicatos ou
que também agregue movimentos sociais. Trata-se de
uma confusão criada por um movimento su-
pra-estrutural, desvinculado das amplas massas proletá-
rias. Uma nova central terá de constituir uma nova fração
burocrática para disputar o aparelho, pois não expressará
a constituição de uma direção revolucionária e será um
fator a mais do divisionismo sindical.

Combater o eleitoral-sindicalismo
Nas plenárias da Conlutas, o PSTU apresentou uma
moção em favor de uma frente de esquerda eleitoral, que
certamente será defendida no Conat. A moção correspon-
de à posição do PSTU de aliança com o PSOL e PCB. Decla-
ra-se pela candidatura de Heloísa Helena, sob critério
eleitoral. Está claro que se objetiva colocar o Conat a ser-
viço de tal frente, acordada por cima. O eleito-
ral-sindicalismo deve ser rejeitado.
Não se constituiu ou se constituirá uma frente sob a
base de um programa antiimperialista e anticapitalista. O
PSOL está interessado em se potenciar eleitoralmente e o
PSTU vê nisso uma aliança vantajosa. Os ex-petistas já
desencadearam sua campanha lançando candidaturas a
governador e definindo os principais postos da lista eleito-
ral. Indicaram predisposição em compor regionalmente
com o PDT, PPS etc.Colocar o Conat sob a política da es-

43
Partido Operário Revolucionário

querda reformista pequeno-burguesa significa inviabili-


zar uma frente de luta classista.
Caracterizamos a frente de esquerda proposta pelo
PSTU de eleitoreira, contrária a uma frente revolucionária
de combate ao capitalismo e ao Estado burgués. O critério
de apoiar um caudilho, sendo ele grande ou pequeno, não
se coaduna com a tática marxista de usar as eleições como
tribuna e como auxiliar ao método da ação direta. Os acor-
dos armados por cima entre PSOL,PSTU e PCB não corres-
pondem a um movimento pela intervenção classista nas
eleições contrários à disputa interburguesa entre PT e
PSDB.
O Conat deve rejeitar a frente eleitoreira proposta pelo
PSTU ao PSOL e aprovar que se convoquem plenárias de
base em todo país para se discutir o programa e a linha de
intervenção nas eleições, e que em uma plenária nacional se
decida definitivamente o programa, a frente e as candidatu-
ras.

Tarefas do Conat
1. Afirmar a Conlutas como frente de luta, classista e
antiburocrática;
2. Rejeitar a divisão da CUT;
3. Aprovar um programa proletário antiimperialista e
anticapitalista;
4. Traçar campanhas em torno das reivindicações das
massas e em torno de bandeiras antiimperialistas;
5. Aprovar uma resolução de formação de oposições
classistas, antiburocráticas, programáticas e frentistas
nos sindicatos dirigidos pela burocracia;
6. Aprovar uma moção de convocação de plenárias
para se discutir a formação de uma frente classista para
intervir nas eleições;

Base programática da frente classista e


antiburocrática
1. Defesa da vida das massas: salário mínimo calcula-
do de acordo com as necessidades reais da família traba-

44
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

lhadora; escala móvel das horas de trabalho; escala móvel


dos salários; saúde pública a todos; aposentadoria a todos
mantida pelo Estado aos 30 e 25 anos de trabalho;
2. Defesa da elevação cultural dos explorados: ensino
público e gratuito a todos e em todos os níveis; expropria-
ção sem indenização do ensino privado, sistema único es-
tatal de ensino sob o controle de quem estuda e trabalha;
escola vinculada à produção social; jornada de trabalho
da juventude compatível com os estudos;
3. Combate à opressão imperialista: autodeterminação
dos povos; não pagamento das dívidas interna e externa;
expropriação do grande capital industrial e financeiro; fim
do intervencionismo econômico e militar das potências
sobre os povos oprimidos e as nações semicoloniais;
4. Combate à opressão latifundiária sobre os campone-
ses: expropriação sem indenização dos latifúndios e do
agronegócio; entrega das terras aos camponeses; controle
operário da agroindústria;
5. Combate à repressão capitalista: direito irrestrito de
greve, revogação de toda legislação antigreve; fim da violên-
cia latifundiária contra os camponeses pobres; fim da vio-
lência contra a juventude pobre e de toda discriminação;
6. Combate ao entreguismo da burguesia nacional: fim
das reformas neoliberais; rompimento de todos acordo
com FMI/BIRD/AIA; nacionalização de toda fonte de ri-
queza natural; recuperação das estatais privatizadas;
7. Fim do sistema capitalista: transformação da proprie-
dade privada dos meios de produção em propriedade soci-
al; governo operário e camponês (ditadura do proletariado)

45
Publicado no Massas 319
Congresso da CUT e da Conlutas

No início de maio, ocorreu o Congresso da Conlutas


(Conat) e, em junho, os congressos estaduais da CUT (Ce-
cut). Configurou-se mais uma divisão no movimento sin-
dical. Desta vez, a cisão foi promovida pelas esquerdas
que reivindicam o marxismo - o PSTU, que controla uma
pequena porção de sindicatos, arrastou por trás de si uma
série de agrupamentos, de sindicalistas antipartidários a
seitas ultraesquerdistas.
A principal divisão anterior, ligada à fundação da CUT,
foi a da CGT/Força Sindical. Tratou-se, no momento, de
um racha da direita sindical com a burocracia reformista
ligada ao PT. Essa cisão por si só é grave: inúmeros sindi-
catos operários ficaram sob o comando da Força Sindical.
Depois de um periodo de disputa pelo controle do maior
número possível de sindicatos entre CUT e Força, che-
gou-se a um acordo tácito de cessar a rivalidade, circuns-
crevendo a concorrência a situações particulares e
pontualizadas.
A decisão do Congresso da Conlutas de constituir um
organismo chamado de “mais do que uma Central” efetiva

46
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

uma nova divisão pela esquerda. Sem dúvida, tal decisão


aumenta as dificuldades frente à tarefa de combater a di-
visão da burocracia cutista, forcista e cegetista e de defen-
der a unidade organizativa sindical da classe operária.
Neste Massas publicamos um relato dos Congressos
em que o POR esteve presente e atuou com claras posições
contrárias à burocracia estatizante da CUT e contrárias à
divisão encabeçada pelo PSTU. No entanto, é importante
expor alguns pontos essenciais dos Congressos.

CECUT de São Paulo - uma caixa eleitoral do PT


Luta pela independência da CUT
Evidenciou o que ocorrerá no Congresso nacional da
CUT: aprovação do apoio eleitoral à candidatura de Lula.
A burocracia cutista procurou esconder por algum
tempo a orientação partidária da Central pelo PT. Em
Congressos passados, as esquerdas (PSTU/PCO/Traba-
lho) chegaram a propor moções de apoio da CUT a Lula,
com o argumento de que se tratava de uma candidatura
operária. A corrente Articulação rejeitava que a CUT se
pronunciasse nesse sentido com o argumento da autono-
mia da Central e do suprapartidarismo. Mascarava assim
o controle petista da Central e seu aparelhamento eleito-
ral.
Aquilo que as esquerdas citadas pretendiam, quando
consideravam a candidatura de Lula uma referência para a
classe operária, hoje é praticada descaradamente. A CUT
foi colocada inteiramente a serviço do PT, ou seja, de uma
política governamental, de uma variante da política bur-
guesa. É importante expor essa memória histórica, porque
as esquerdas que foram expulsas do PT defenderam a su-
bordinação da Central à política eleitoral do reformismo e
hoje a burocracia faz exatamente isso, cumpre essa orien-
tação.
O PSTU lidera um movimento de cisão da Central e pro-
põe que a sua nova organização apóie uma frente eleitoral
com os ex-petistas do PSOL, sob a candidatura da sena-
dora Heloisa Helena (mas como fracassou a frente, o PSTU

47
Partido Operário Revolucionário

recuou). O PCO participa no CECUT apenas de corpo pre-


sente, ignora o principal tema do apoio à candidatura de
Lula. Especialmente, o balanço desse CECUT não pode
ser feito sem verificar a adaptação das esquerdas em con-
gressos passados à candidatura de Lula. Fez parte do pro-
cesso de estatização da CUT.
O POR pode defender com a mesma clareza do passado
que o Congresso da CUT deveria votar uma resolução de rup-
tura com o governo Lula, de total independência frente ao
Estado, nenhum apoio a qualquer candidatura burguesa e
um plano de reivindicações dos explorados para a ação dire-
ta.

Enfrentamento com a burocracia lulista


A fuga do PSTU da CUT e a desfiliação de mais de uma
centena de sindicatos enfraqueceram o pólo oposicionista. A
oposição se resumiu à Frente de Esquerda Socialista (FES),
cuja maior força se encontra no sindicato dos sapateiros de
Franca. Trata-se de um agrupamento também ex-petista, in-
fluenciado pelo PSOL, portanto não rompido com o reformis-
mo.
A delegação do “O Trabalho” procurou se colocar no
campo oposicionista em vários pontos da pauta do Con-
gresso, mas no essencial continuou plenamente petista.
Defendeu a candidatura de Lula, apresentando uma carta
de exigências, portanto esteve do lado da Articulação/PT e
PCdoB. A carta de exigência do “O Trabalho” foi ridícula
frente às demonstrações de traição do governo Lula às
massas e a sua política de proteção ao grande capital. Ao
formarem as chapas, negou-se estar com a oposição, e in-
gressou na chapa da Articulação. Procurou assegurar um
postinho no aparelho da CUT e manter o alinhamento pe-
tista. Pode-se dizer, portanto, que “O Trabalho” esteve no
campo da burocracia situacionista, de forma oportunista
se aproximou da oposição em alguns momentos do Con-
gresso.
A Frente de Esquerda Socialista não constituiu uma
oposição revolucionária, embora tenha feito uma oposição

48
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

radical à Articulação /PT. Isso porque não tem o progra-


ma da revolução proletária, expressando posições sindi-
cal-reformistas do PSOL. Mas foi importante o fato de se
opor ao objetivo da Articulação/PCdoB/O Trabalho de co-
locar a CUT e os sindicatos a serviço da reeleição de Lula e
de crescimento de suas bancadas parlamentares e de go-
vernos estaduais.
Nesse sentido, o POR se aliou com a FES, mas se viu na
obrigação de defender em plenário uma resolução própria.
Eis a resolução: “O papel da CUT é manter sua inde-
pendência frente ao Estado e aos partidos burgueses.
Não deve se envolver na disputa interburguesa que se
configura nas eleições de 2006. A tarefa da CUT é a
de impulsionar a luta dos trabalhadores em defesa
das reivindicações elementares, tais como emprego,
salário, direitos trabalhistas e terra aos camponeses
pobres.” Essa resolução foi lida e votada, como posição
minoritária em um plenário repleto de petistas e de buro-
cratas. Está evidente que o combate à burocracia se dá na
batalha pela independência de classe das organizações
dos explorados e da democracia sindical.

CONAT - a responsabilidade da divisão


A votação se o Congresso da Conlutas deveria ou não
romper com a CUT e constituir uma nova central resultou
única e exclusivamente da posição do POR. O isolamento
de nossa posição contrária ao divisionismo era esperado.
A omissão daqueles que achavam que não era hora de fa-
zer a ruptura constituiu um crime político. Mas a esmaga-
dora decisão não modifica o fato do PSTU e seus
seguidores estarem cometendo uma aventura em nome de
combater a burocracia, quando na realidade acabará por
fortalecê-la.
Urna vez aprovada a divisão, decidiu-se pela nova orga-
nização; e mais uma vez voltou o problema de fundo da di-
visão. Duas posições compareceram: constituir uma nova
central, aprovando um estatuto e elegendo uma direção;
ou constituir uma nova organização, com um estatuto,

49
Partido Operário Revolucionário

mas não elegendo sua direção no Congresso, mantendo a


coordenação da Conlutas, que poderá ser acrescida com o
ingresso de novos sindicatos, movimentos etc.
A divergência que parecia ser apenas de forma entre os
proponentes da divisão revelou o essencial da ruptura
com a CUT. O PSTU defendeu que não se elegesse a dire-
ção e caracterizou que a organização nascente seria mais
do que uma central sindical, porque englobaria não só
sindicatos. Evidenciou-se, na realidade, a fraqueza do
CONAT para fundar uma nova central.
Os delegados representavam, na sua grande maioria,
sindicatos de trabalhadores da pequena burguesia. Sem
falar da representação estudantil que teve algum peso na
composição social do Conat.
Ao não se eleger uma direção no Congresso, não se fun-
dou uma nova Central, apenas se adotou um estatuto
para a Conlutas. Uma das razões fundamentais do POR se
contrapor à formação de uma nova central era a de que
não se tratava da ruptura das massas operárias com a
CUT, que levaria a arrancar a maioria dos sindicatos das
mãos da burocracia. O Conat expressou exatamente essa
caracterização do POR, a ponto do PSTU ter manobrado
para que não transparecesse a aventura ul-
tra-esquerdista, tão bem expressa pelas seitas que queri-
am a todo custo aprovar a nova central com característica
soviética (COCEP, etc).
Resultado: o Congresso de maioria pequeno-burguesa
não aprovou a Central e não elegeu uma direção. Mante-
ve-se a Conlutas, acrescida de filiações individuais, como
se fosse um sindicatão. Os ultra-esquerdistas que segui-
ram a virada do centrismo (PSTU e sindicalistas antiparti-
dários) não se conformaram com a democracia do Conat,
regulamentada pelo poder do PSTU.
Como levar a ruptura com a CUT nestas condições? So-
mente a irresponsabilidade e o aventureirismo explica
esse fenômeno.
O POR reconheceu que a Conlutas agregou um importante
setor da vanguarda classista, por isso atuou desde o início

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com a convicção de que era necessário lutar até onde fosse
possível para evitar o grave erro ultra-esquerdista e oportunis-
ta de deixar a burocracia da CUT com as mãos livres para con-
trolar a maioria dos sindicatos operários. A defesa de que a
Conlutas deveria se constituir uma frente revolucionária de
combate à estatização dos sindicatos, pela defesa da indepen-
dência e democracia operárias e por um programa anticapita-
lista e antiimperialista revelou-se correta e mantém sua
vigência.

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Publicado no Massas 320
ENE e Conat demonstraram
burocratismo e inconseqüência das
cisões da UNE e da CUT

No início de Maio, se realizaram em Sumaré os encon-


tros organizados pelas correntes que propõem a cisão da
UNE e da CUT: o ENE - Encontro Nacional dos Estudantes
- e o Conat - Congresso Nacional de Trabalhadores. A Cor-
rente Proletária/POR, que vem atuando nos fóruns da
Conlute e da Conlutas contra a ruptura com a UNE e a
CUT e pela constituição de frentes revolucionárias para
lutar contra a burocracia no interior das entidades, atuou
desde antes dos encontros defendendo a não-ruptura e le-
vou ao Conat delegados com esta posição. Não trabalhou
para a construção desses encontros, já que seu principal
objetivo seria justamente a ruptura, como aconteceu.
O ENE, realizado em apenas um dia (uma quinta-feira), e
sem delegação (aberto a todos os que “quisessem” participar
e pagassem a taxa de inscrição), reuniu cerca de 800 estu-
dantes, de 200 entidades (CAs e DCEs). Realizado também

52
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

neste ano, o Coneb (Conselho de Entidades de Base) da UNE


foi o maior de todos, reuniu cerca de 3500 delegados de CAs,
com mais de 5000 estudantes no total. Essa gritante dife-
rença numérica já demonstra o quanto a aventura puxada
principalmente pelo PSTU abandona a maioria da base es-
tudantil sob influência da burocracia da UJS/PCdoB.
Além disso, o próprio conteúdo das bandeiras aprova-
das no ENE e a forma de organização da Conlute desmen-
tem que ela seja contraposta à burocracia da UNE. O
burocratismo esteve presente não só na organização do
ENE (taxas para inscrição de delegados que impediam a
participação dos mais pobres, sem critério de voto por de-
legação), mas na própria votação da constituição da Con-
lute, que em vez de ter sua coordenação eleita de acordo
com a proporcionalidade das forças que se organizaram
para participar do Encontro se manteve composta pelas
“entidades que já aderiram à Conlute”, continuando su-
bordinada à vontade das diretorias de cada entidade, e
não das decisões políticas coletivas das bases.
Até hoje essa coordenação não divulgou oficialmente as
resoluções do Encontro, mas a principal campanha tirada
para este ano pela Conlute foi “mais verbas para a educa-
ção”, bandeira também aprovada no Coneb. Também há a
bandeira de “verba pública somente para a educação pú-
blica”, mas a resolução sobre estatização do ensino priva-
do se refere apenas às “faculdades em crise”. Dessa forma,
nem um nem outro se colocaram de forma consequente
pelo ensino público para todos, que só pode acontecer
com a estatização sem indenização de toda a rede privada
sob controle dos que estudam e trabalham.
A criação de uma nova entidade ficou de ser discutida
em uma “campanha nacional junto com CAs, DAs, DCEs,
Grêmios, Executivas de Curso (...) que culmine com um
Congresso Nacional de Estudantes no segundo semestre
de 2007". Ainda assim, as resoluções que falam em ”consi-
derar os setores que ainda estão dentro da UNE" não pas-
sam de formalidade, já que na prática a política de cisão da
UNE tem se refletido também em rachas dentro do movi-

53
Partido Operário Revolucionário

mento estudantil em cada universidade e em boicotes à


atuação frentista, como demonstraram a atuação do Lado
B (PSTU) nas eleições do DCE/USP e a convocação de
Assembléias paralelas (com suas resoluções depois cance-
ladas pelos próprios organizadores) à revelia da maioria
dos estudantes na mesma universidade para eleição de de-
legados para o Conat.
No Conat, a única proposta de não ruptura com a CUT
foi a da Corrente Proletária/POR, que propõs que ela se
constituísse como uma fração revolucionária no interior
da entidade. Mesmo a LER, que se diz contrária à ruptura,
se absteve deste debate, colocando apenas depois que já
havia sido aprovada a criação da nova central a proposta
de que ela atuasse dentro da CUT.
Mas, apesar de terem aprovado a constituição da Conlutas
como central e seu estatuto, venceu depois a proposta do
PSTU de que não se elegesse uma direção, argumentando que
a organização nascente seria mais do que uma central sindi-
cal, englobando não só sindicatos. Assim como no caso da
Conlute, se manteve a coordenação composta pelas entidades,
que poderá ser acrescida de novos sindicatos, movimentos,
etc. Uma coordenação indicada pelas diretorias dos sindicatos
é burocrática, pois não se submete à base numa eleição de
congresso, e sim aos interesses das diretorias, que podem mu-
dá-las à sua vontade. Uma entidade que nasce sem estatutos
e direção é uma fraude, não é uma organização democrática.
A Corrente Proletária/POR reconheceu que a Conlutas e
a Conlute agregaram um importante setor da vanguarda
classista, por isso atuou desde o início com a convicção de
que era necessário lutar até onde fosse possível para evitar
o grave erro ultra-esquerdista e oportunista de deixar a bu-
rocracia da CUT com as mãos livres para controlar a maio-
ria dos sindicatos operários. A defesa de que a Conlutas e a
Conlute deveriam se constituir como frentes revolucionárias
de combate à estatização das entidades representativas de
estudantes e trabalhadores, pela defesa da independência e
democracia operárias e por um programa anticapitalista e
antiimperialista revelou-se correta e mantém sua vigência.

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Principais colocações do CONAT

Maio de 2006
Nos dias 05, 06 e 07 de maio, realizou-se em Sumaré-SP
o 1º CONAT (Congresso Nacional de Trabalhadores), pro-
movido pela CONLUTAS (Coordenação Nacional de Lutas).
Estiveram presentes 2.729 delegados (de 3.542 inscritos),
235 observadores e 208 convidados nacionais, num total
de 3550 pessoas. Além disso, havia representantes da LIT
de outros países.
No dia 05/05, houve a aprovação de parte do Regimen-
to Interno e painel sobre “Conjuntura Nacional e Internaci-
onal e Desafios para a Organização dos Trabalhadores” e
grupos de trabalho também sobre o tema “Conjuntura Na-
cional. No dia 06/05, teve a discussão em grupos sobre
“Concepção, princípios e programa estatutos da
CONLUTAS” e plenária geral sobre o regimento e conjuntu-
ra. No dia 07/05, ocorreu a plenária decisiva, que formali-
zou a Conlutas.
Os problemas políticos se manifestaram logo no primei-
ro dia. Não havia acordo com o Regimento de funcionamen-
to do congresso, que tinha o mesmo formato dos
congressos da burocracia sindical cutista. Ou seja, mesas

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Partido Operário Revolucionário

com palestrantes como forma de guia para as discussões


que ocorreriam nos grupos, um caderno de teses onde as
propostas das correntes compareciam retalhadas e recusa
de defesa das teses em plenário. As correntes, que defendi-
am mudanças no regimento, protestavam no plenário, mas
em seguida se ajustavam à diretriz imposta pelo PSTU.

Objetivos do CONAT
A Conlutas foi criada em 2004, por iniciativa de setores
de oposição que atuam no movimento sindical, estudantil,
sem-terra, sem-teto, populares etc., tendo à frente o PSTU.
Desde o início, a vanguarda que buscou construí-la tinha
em vista a formação de uma “nova entidade”, de “uma al-
ternativa de luta para os trabalhadores”, que fosse uma ou-
tra central sindical ou um organismo mais amplo
(aglutinando desempregados, estudantes, movimentos po-
pulares etc.). Usavam de argumentos corretos como o de
burocratização da CUT para justificar a cisão. Como resul-
tado dessa posição, o PSTU e seus aliados iniciaram o pro-
cesso de desfiliação de sindicatos, daqueles que estão sob
seu controle, da CUT.
O Conat tinha a função de criar outra “entidade” que
agrupasse os que já se desfiliaram, aqueles que estão em
processo de retirada e os movimentos estudantil e popular.
Por isso, nesse ponto, havia somente duas posições: a) a de
criação de nova Central, com caráter amplo; b) a de comba-
ter a burocracia da CUT, sem dividir a CUT. A posição de
não cindir a CUT e constituir a fração revolucionária para
intervir dentro e fora da CUT foi defendida POR. Todas as
demais estavam pela divisão. A corrente Estratégia ficou no
meio do caminho.
Duas outras questões acompanhavam essa primeira:
decidir o que seria a Conlutas e aprovar “frente classista”,
que previa a aliança com o PSOL e PCB, encabeçada por
Heloisa Helena. Para isso, foi necessário trazer a candidata
Heloisa Helena para que o PSTU mostrasse sua força ao
PSOL, que reluta compor com o PSTU.

56
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

O programa da “nova entidade”


A Conlutas nasce reivindicando a bandeira do reformis-
mo petista de “governo dos trabalhadores”. Todos discur-
savam sobre o socialismo, mas uma parte das correntes,
que reivindicam a cisão com a CUT, se colocou contra o
partido. Posicionavam pela independência em relação a to-
dos os partidos - burgueses e revolucionários. O PSTU para
acomodar esses agrupamentos aceitou a pressão das cor-
rentes apartidárias.
Chamou atenção as posições sobre a Alca e a divida ex-
terna. Quanto à Alca, além de uma resolução de repúdio,
foi aprovado “exigir do governo Lula a realização de um ple-
biscito oficial”, aproveitando o ano eleitoral. Em relação à
dívida externa, apesar de se colocar pela suspensão do pa-
gamento, aprovou-se a participação na campanha Jubileu
Sul e a realização de uma auditoria de toda a dívida contra-
ída, auditoria que o Jubileu chama de “cidadã”. A audito-
ria da divida e a campanha Jubileu não diferem das
resoluções do congresso da CUT.
Em relação à Reforma da Previdência, aprovou-se a
campanha pela sua anulação por meio de atos e abai-
xo-assinados.
Quanto aos crimes da burguesia – corrupção, assassina-
tos etc -, rechaçou os Tribunais Populares, que coloca nas
mãos do proletariado, camponeses e juventude o julgamen-
to e a punição dos crimes de classe, com o argumento de que
essa bandeira está “acima da capacidade das massas”.
Combateu o salário mínimo vital e a escala móvel das
horas de trabalho. A recusa se apoiou no palavreado de que
“não estão massificados na classe” e que é necessário se
defender o piso do Dieese, “que é histórico”.

Nada de concreto com a frente eleitoral


A “frente classista” com o PSOL e o PCB não ganhou for-
ça no CONAT, nem com a presença de Heloisa Helena. A
candidata Heloisa Helena reafirmou a necessidade de am-
pliar a frente eleitoral com todos aqueles que combatem as
reformas neoliberais e a corrupção que envolveu o governo

57
Partido Operário Revolucionário

Lula. Enfatizou que era preciso ser “humilde” para que ob-
tivesse adesão de “muitos descontentes”.
A frente classista proposta pelo PSTU não foi colocada
em votação. O PSTU preferiu não atritar com seus aliados
que estão pela criação da Conlutas. Alegando que “o atual
estágio de construção da Conlutas e a pouca maturidade
dessa discussão” poderia levar a uma “equivocada... toma-
da de posição no Congresso sobre esse tema”, preferiu não
bater de frente com os opositores.
Em relação à intervenção nas eleições, houve também a
defesa do voto nulo, expresso por um agrupamento intitula-
do Conspiração Socialista, que reúne grupos que compu-
nham a Oposição Alternativa (na Apeoesp) e independentes.
O POR apresentou uma resolução que mostrava não
ser contrário à formação de uma frente, mas esta deveria
ser revolucionária, pautada pelo método da democracia
operária, com a constituição de plenárias de base para a
elaboração do programa e escolha das candidaturas, majo-
ritariamente operárias. A maioria dos delegados votou con-
tra essa frente.

CONAT não elegeu a direção para a Conlutas


Um dos pontos polêmicos do Conat foi o estatuto, que
previa a criação da Conlutas e a não eleição de sua direção.
Foram apresentadas duas propostas: a) que a direção de-
veria ser eleita no Congresso, com base na proporcionali-
dade direta e qualificada; b) que a direção deveria seria
composta por representantes indicados pelas entidades e
movimentos que integram a nova entidade. A primeira, foi
apresentada pelos grupos minoritários e a segunda pelo
PSTU. Como tinha a maioria dos delegados, venceu a se-
gunda proposta.
Conforme o estatuto aprovado, “A cada reunião da Coor-
denação Nacional as entidades, movimentos indicarão
seus representantes para compô-la, podendo, a seu crité-
rio, manter os mesmos representantes para todas as reu-
niões ou substituí-los sempre que julgarem adequado.”
Trata-se de um representante com direito a voz e voto nas

58
Balanço da experiência de cisão da CUT e formação da Conlutas

reuniões de Coordenação.
Ainda mais, caberá à Coordenação Nacional a formação
de grupos de trabalho e a designação de membros para
comporem a Comissão de Finanças, além de membros
para o Conselho Fiscal. Haverá também uma Coordenação
Estadual e Regional e/ou Municipal, com os mesmos pode-
res no âmbito em que atuam.
A maneira como funcionará a coordenação e os critérios
para a escolha de representantes das entidades será defini-
do por um Regimento Interno a ser elaborado pela própria
Coordenação Nacional.
Em relação ao caráter da Conlutas, foram apresentadas
5 propostas: 1) “Constituir a Conlutas como fração revolu-
cionária da CUT”, defendida pela Corrente Estratégia. É
bom lembrar que essa corrente não se colocou contra a ci-
são da CUT, preferiu se abster na polêmica central do Co-
nat. Depois de votada a criação da “nova entidade”, a
Estratégia defendeu que fosse uma fração da CUT; 2)
“Construir a Conlutas como uma central dos trabalhado-
res”, defendida pelo CEDS e FOS; 3) “É hora de construir a
COCEP (Central Operária, Camponesa, estudantil e popu-
lar), pela LBI; 4) “Construir uma central de tipo soviética”,
proposta do POM e FT; 5) “A Conlutas com caráter mais
amplo do que uma central sindical, incorporando outros
setores explorados no seu interior”, defendida pela PSTU.
Com grande maioria, venceu a proposta do PSTU.
Finalmente, o PSTU defendeu que a Conlutas será com-
posta por entidades, movimentos e filiados individuais. De-
fendeu também que as plenárias convocadas para
encaminhar as lutas não deverão ter caráter deliberativo.
Para acomodar todas as forças, o PSTU colocou-se por abrir
uma discussão sobre o estatuto apresentado e que no próxi-
mo congresso (daqui dois anos) fosse votado por inteiro.

Sobre o Plano de Lutas


Na discussão do Plano de Lutas, A Coordenação da Con-
lutas apresentou uma “Plataforma” como “guia para a
ação”, alegou conter a maioria das propostas apresentadas

59
Partido Operário Revolucionário

no “caderno de teses”. A LBI apresentou uma resolução


que tinha como essência construir a greve geral contra o
governo burguês de Lula-FMI e que tinha como conclusão:
“A única maneira de derrotar as reformas capitalistas do
governo burguês de Lula é armar os trabalhadores com um
eixo ofensivo de enfrentamento com o governo do PT, levan-
tando a bandeira do Abaixo o governo Lula-FMI. Este eixo
deve orientar a mobilização permanente dos trabalhadores
rumo à construção da greve geral...”.
As duas propostas foram para votação. Venceu a da Co-
ordenação.

As posições do POR no Conat


O POR interveio no Congresso por meio do documento
“Combater a burocracia sindical, sem romper com a CUT”.
Constava de 6 pontos: a) sobre a constituição de uma nova
central; b) luta pela independência e democracia sindicais;
c) superar a crise de direção; d) combater o eleito-
ral-sindicalismo; e) tarefas do Conat; f) base programática
da frente classista e antiburocrática.

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