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Índice

Apresentação .......................................................3
Avança a crise política na Bolívia ..........................7
Radiografia das condições do país e chegada de Evo à
presidência....................................................................8
Política do governo MAS ..............................................11
Dificuldades de governabilidade.................................12
Explorados lutam por suas reivindicações .................14
Crise mundial ampliará a crise política.......................17
Agudização da crise ....................................................18
Intervencionismo externo.............................................21
A chave da solução se encontra na classe operária ...23
Fontes utilizadas.........................................................25
Artigos do Massas brasileiro sobre a crise na Bolívia
Massas 362
Referendo na Bolívia
Posição do POR boliviano trotskista e das esquerdas
que se dizem trotskistas ......................................28
A CUT/PT arrastou a Corrente O Trabalho .................30
O PSTU e o Referendo .................................................30
PO da Argentina chama a votar em Evo .....................32
Evo saiu vitorioso. E agora? ........................................32

1
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

Massas 363
PSTU e a Bolívia..................................................34
Massas 364
Bolívia:
Intervencionismo externo
Lula pressionou Evo a ceder................................39
Evo recua e a Oposição dita as regras........................41
A solução se encontra na classe operária ...................42
Anexos: artigos do jornal Masas boliviano
Consumada a Descomunal Farsa Cívico-Masista ......44
Os Masistas impostores zombam dos camponeses
fazendo-os marchar por uma Constituição que
consolida o latifúndio. ................................................44
A Marcha do Engano e a Traição às Massas .............45
O acordo entre governadores e governo .....................47
Como dissemos, o sangue não chegou ao rio..............49
O MAS em um impasse sem saída..............................52
Basta de Enganos:
Marchemos Para a Libertação de Nosso Povo.............54
Tanto o Governo como a “Meia-Lua” temem a rebelião
dos explorados ............................................................56
Só a luta revolucionária das massas mandará para a
lata do lixo a luta inter-burguesa ................................58
Expulsão do embaixador ianque .................................59
Anexo:
Resolução sobre a Bolívia
9º Congresso do POR-Argentina ..........................62

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Apresentação

Este folheto foi escrito no momento em que Evo Morales,


por meio do referendo revogatório, de 10 de agosto, obteve
a vitória de 67% contra os setores da direita fascista, co-
mandados pelos departamentos da região da Meia Lua. As
disputas entre o governo do MAS e a oposição se agrava-
ram, resultando no massacre de 18 camponeses em Pando
pela oposição fascista no dia 11 de setembro. Isso obrigou
Evo a convocar o estado de sítio na região e armar a farsa
em torno da prisão do governador, responsável direto pela
chacina. A crise se aguçou. Os presidentes dos países que
compõem a Unasul convocaram Evo para que aceitasse um
acordo com os oposicionistas. Lula teve a função de servir
de comandante para impor a orientação imperialista sobre
a Unasul e sobre o governo da Bolívia. O folheto analisou a
crise boliviana até a capitulação plena de Evo às decisões
da Unasul.
Depois de um mês, Evo materializou o acordo com os
oposicionistas de direita modificando 100 dos 411 artigos
do projeto de Constituição. Entre eles:

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

a)sobre o tamanho dos latifúndios. Por meio de um novo


referendo (outra farsa) a população dirá se as propriedades
terão 5 mil ou 10 mil hectares. Pelo acordo, o governo não
poderá mexer nos latifúndios existentes. Portanto, a medi-
da só vale para impossibilitar juridicamente a formação de
novos. No projeto de Lei, havia uma caracterização (embora
demagógica) de que toda propriedade deveria ter uma fun-
ção social. Isso foi retirado para reafirmar a propriedade
privada e favorecer os investidores estrangeiros e não dar
margem à expropriação.
b)Sobre a reeleição. O texto constitucional mantém o ar-
tigo da reeleição do presidente da república. Porém, pelo
acordo, Evo poderá se candidatar para as eleições anteci-
padas de 2009, mas não terá o direito em 2014. A oposição
pretende em 2014 retomar o poder do Estado, para isso era
preciso limitar por meio de uma lei o tempo de permanên-
cia de Evo.
c)Sobre as autonomias. Evo aceitou a exigência dos opo-
sicionistas de conceder aos Departamentos (estados) maior
autonomia como “espaço de planejamento e gestão”.
d)Sobre a exploração do gás e petróleo. Evo admitiu que
metade da exploração permaneça sob o comando de em-
presas privadas, multinacionais.
e)Sobre a privatização dos serviços públicos. Setores
fundamentais como saúde, educação e previdência estão
fora da lei que proíbe a privatização. Permanecem estatais
somente os setores de água e telefone.

Além das concessões à burguesia nacional e estrangei-


ra, Evo usou o aparelho do Estado e as organizações sindi-
cais, populares e camponesas pró-governo para uma
marcha de milhares de camponeses e população pobre,
exigindo a convocação de um referendo sobre a nova Cons-
tituição. Tudo não passou de uma farsa, pois o acordo com
a direita já estava selado.

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Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

Destacamos, nesta apresentação, as posições do Parti-


do Operário Revolucionário da Bolívia sobre o episódio da
marcha e o acordo:

“Consumada a descomunal farsa cívico-masista”


“Como já havíamos assinalado desde o início o final de tanto
teatro: cívicos e governo acabaram ajustando suas “diferen-
ças” em uma Constituição que não é mais do que um espan-
talho de conteúdo burguês, na qual “todos se sentem
representados” (entendam-se burgueses). Isso explica por-
que o governo reformista do MAS e a oposição de direita são
iguais: expressões políticas burguesas que defendem a or-
dem capitalista e sua base material: a propriedade privada
dos meios de produção”.

“Os masistas (MAS) impostores enganam os camponeses fa-


zendo-os marchar por uma Constituição que consolida o lati-
fúndio”.

“É a marcha do embuste e da traição às massas. O MAS não


pôde ser fiel nem sequer àquilo que aprovaram em sua
Constituinte. O destino político de Evo Morales e do MAS de-
penderá de quanto tempo levarão os camponeses e indíge-
nas do país para descobrir a traição”.

“Derrotaremos a impostura do MAS com a luta revolucioná-


ria dos explorados, sob a bandeira proletária por uma revo-
lução social que acabe com a raiz do poder burguês e da
opressão imperialista: a propriedade privada sobre os mei-
os de produção”.

“O governo operário-camponês, que a revolução instaurará,


estabelecerá a propriedade social, que permitirá satisfazer
as necessidades de conjunto da sociedade oprimida e não o
interesse de uns poucos exploradores”1

1 Extraído do Jornal Massas nº 2104, de 24 de outubro de 2008,


órgão central do Partido Operário Revolucionário da Bolívia

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

Cabe assinalar também que, em meio às negociatas en-


tre governo e oposicionistas, a comissão da Unasul, que
supostamente investigaria o massacre de camponeses de
Pando, concluiu o que já era óbvio: não há provas para in-
criminar os assassinos burgueses. Portanto, os responsá-
veis continuarão sem rosto.
O objetivo do folheto é o de compreender a política bur-
guesa de Evo Morales, das direções sindicais e camponeses
que apóiam o governo em detrimento da luta pelas reivindi-
cações dos explorados, mostrar a capitulação das corren-
tes de esquerda diante do governo do MAS e assinalar as
posições críticas do POR-Bolívia e sua estratégia diante de
um governo em crise.

27 de outubro de 2008

6
Avança a crise política na Bolívia

Escrevíamos este artigo quando a crise política na Bolí-


via atingiu seu ponto mais alto. Fomos obrigados, inclusi-
ve, a acrescentar os fatos mais recentes e avaliá-los.
Notamos que confirmaram ainda mais a linha de nossa
análise. Uma crise de tal magnitude ganha importância
para a classe operária internacional e para a maioria opri-
mida. Está em confronto um processo de lutas sociais que
expressam a revolução e contra-revolução. Ou a classe
operária e os camponeses pobres derrotarão a oligarquia
burguesa, ou esta os esmagará. É no fogo dos aconteci-
mentos mais brutais que verificamos a impossibilidade do
governo Evo encarnar a revolução. As posições aqui ex-
pressas são de nossa responsabilidade, mas procuramos
nos fundamentar na imprensa do Partido Operário Revolu-
cionário da Bolívia (POR), Jornal Massas. Não se pode ter
uma análise consistente e uma crítica sólida sem que se
parta do processo histórico da formação dos partidos polí-
ticos na Bolívia e dos grandes acontecimentos da luta de
classes, do qual o POR boliviano é parte constitutiva. Des-

7
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

de antes da eleição de Evo, o Jornal Massas indicou que o


MAS constituiria um governo incapaz de derrotar a oligar-
quia e o imperialismo, que seria de crise, débil frente à vio-
lência dos bandos fascistas da oligarquia e repressivo
frente ao legítimo movimento das massas oprimidas. Nosso
texto tem a função de não só criticar, mas, sobretudo, de
defender a transformação da grande propriedade capitalis-
ta em propriedade coletiva. É no campo da propriedade e
do poder do Estado que se decidirá a crise atual.

Radiografia das condições do país e chegada de


Evo à presidência
A Bolívia é um país capitalista atrasado, de economia
combinada (capitalista e pré-capitalista) e submetido à or-
dem imperialista. Teve sua história marcada pelo saque co-
lonialista das riquezas minerais, adquiriu uma
independência formal e se conformou num Estado republi-
cano dependente das potências capitalistas e assentado
numa débil democracia, correspondendo às relações eco-
nômicas existentes no país. Não pôde modificar sua condi-
ção na divisão internacional do trabalho de país exportador
de matéria prima. Como reflexo dessa situação, estrutu-
rou-se uma burguesia (quase que inteiramente comercial)
dependente do imperialismo e conformada por interesses
oligárquicos distintos. Sequer a democracia republicana se
estabilizou. Os golpes militares sangrentos (Hugo Bánzer,
Garcia Meza etc) indicaram a fragilidade e a caricatura da
democracia republicana.
Depois de duas décadas de aplicação da política neoli-
beral, as conseqüências foram terríveis para o país e o
povo, já empobrecido. As empresas estatais foram privati-
zadas, os recursos naturais entregues às multinacionais,
as empresas mineradoras (como a Comibol) fechadas e as
parcas conquistas trabalhistas e sociais foram pisoteadas.
Em nome da “estabilidade da economia”, golpeou-se a mai-

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Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

oria explorada por meio do desemprego massivo e do arro-


cho salarial. Mas a resistência dos trabalhadores foi
intensa: greves, bloqueios, ocupações, constituição de ca-
bildos (assembléias populares).
É nesse quadro de miséria e de revolta dos oprimidos
que ganharam força os movimentos camponeses e suas di-
reções, entre elas a de Evo Morales. É preciso reconhecer
que a base fundamental das revoltas foi constituída pelo
campesinato e artesãos urbanos. A classe operária, nesse
processo, não se destacou como a força principal das lutas.
Destacou-se um levante geral no país nos dois anos que
antecederam as eleições de 2005. A Bolívia foi sacudida por
uma revolta popular que depôs o presidente Sanchez de
Lozada – do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário),
que aplicou severamente as medidas neoliberiais. Eleito
em 2002, na disputa com Evo Morales, impôs a decisão dos
Estados Unidos de comprar o gás, que seria exportado pelo
norte do Chile a preços irrisórios. A revolta dos campone-
ses, operários mineiros, professores, estudantes e oprimi-
dos em geral ganhou projeção nacional. O ódio da maioria
da população era a expressão do rechaço à entrega do gás
ao país imperialista. O movimento ganhou força por meio
da bandeira da nacionalização do gás e de derrubada do
governo. A repressão militar foi violenta, com muitos mor-
tos, mas os explorados insurretos tomaram a capital e blo-
quearam as principais rodovias e aeroportos. Não restou
alternativa para Lozada senão desfazer o acordo de venda
de gás aos Estados Unidos e aceitar as decisões da burgue-
sia e da Igreja de renunciar, uma saída pacífica para deter
o movimento dos oprimidos. O acordo de conter a ação das
massas contou com a colaboração dos dirigentes campone-
ses, entre eles Evo Morales.
A negociação que levou o vice-presidente Carlos Mesa à
presidência foi uma tentativa da burguesia de retomar o
controle do Estado, às custas do recuo do levante popular.

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

Para isso, as direções sindicais e camponesas tiveram pa-


pel fundamental no estabelecimento do Acordo Nacional,
uma frente burguesa para ajustar a Lei dos Hidrocarbone-
tos aos limites estabelecidos pelas empresas multinaciona-
is. Mas as condições objetivas de miséria e saque das
riquezas naturais ditaram novo ascenso do movimento de
massa.
Em janeiro de 2005, os protestos ganharam as ruas e os
bloqueios voltaram com toda intensidade. A aprovação da
Lei dos Hidrocarbonetos, que aumentou os impostos sobre
a exploração do petróleo e do gás, provocou descontenta-
mento generalizado, porque não assegurava o controle do
Estado sobre a riqueza mineral, exigência do movimento
social. A reivindicação de nacionalização do petróleo e do
gás impulsionou a luta de classes e obrigou a renúncia de
Mesa e sua substituição por Eduardo Rodríguez, homem
de confiança dos Estados Unidos e indicado pela burguesia
e a Igreja. Esse episódio também contou com o apoio de
Evo Morales e sindicalistas. As promessas – calendário de
eleições, convocação da Constituinte e rediscussão da Lei
dos Hidrocarbonetos – foram usadas para refluir o movi-
mento social. Evo deveria suspender os bloqueios e con-
vencer os camponeses e direções sindicais e populares de
que era preciso dar uma trégua para que Rodríguez pudes-
se cumprir o acordo. Rodriguez, contando com a trégua,
convocou as eleições.
É nesse quadro de refluxo do movimento dos explorados
que Evo foi eleito com 53,7% dos votos, derrotando o candi-
dato da oligarquia Jorge Quiroga Ramírez, do Poder Demo-
crático e Social (Podemos), com o programa de reformas
sociais e de nacionalização dos hidrocarbonetos. A revolta
das massas exploradas que desbancou Lozada e Mesa foi
desviada para o campo da democracia burguesia, eleição,
constituinte e referendo.
O programa do MAS de “uma revolução capitalista andi-

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Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

na-amazônica democrática e pacífica” arrastou direções


sindicais e populares, que se postaram entre a ação direta
e a legalidade burguesa. As reivindicações que as massas
empunhavam passaram a depender as instituições estata-
is e das forças políticas burguesas.

Política do governo MAS


Uma de suas primeiras medidas foi o decreto de maio de
2006, que instituía o controle acionário por parte do Esta-
do sobre as empresas estrangeiras que exploravam o petró-
leo e o gás. Tratava-se de uma pretensa nacionalização sem
tocar na propriedade das multinacionais, que barganha-
ram a permanência no país em troca de alguns benefícios
ao Estado. Logo se verificou que o programa de nacionali-
zação do MAS não passava de constituir uma sociedade en-
tre Estado e multinacionais.
Outra decisão, anunciada em junho do mesmo ano, foi a
da compra de terras e a distribuição entre as comunidades
indígenas e camponeses sem-terra, bem como estabelecer
constitucionalmente delimitação de área das propriedades.
A isso se denominou “revolução agrária”. O governo decla-
rou reconhecer o direito da propriedade capitalista, preten-
dendo apenas fazer uma redistribuição limitada que
incorporasse uma parcela dos camponeses miseráveis.
Com estas medidas que não violam a estrutura de relações
econômicas capitalistas e com a pressão dos explorados,
esperava-se alcançar um acordo com a oligarquia em torno
da reforma constitucional e das novas regulamentações go-
vernamentais. Evidenciou-se, assim, que Evo Morales pro-
curou, desde o início, conciliar os interesses da oposição
burguesa (empresários e fazendeiros das localidades mais
prósperas do país) e das multinacionais.
O compromisso de combater o plantio da coca é uma
exigência dos Estados Unidos, que dá ao governo Evo cerca
de US$ 30 milhões por ano. Na realidade, o imperialismo

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

utiliza a questão do narcotráfico para intervir na semicolô-


nia. O maior consumidor de droga são os Estados Unidos.
No entanto, aí nada é resolvido. O cultivo da coca aumen-
tou (8% em 2006 e 5% em 2007). O direito de plantio de
coca se assenta numa cultura milenar e cabe ao país deci-
dir o que fazer com ela. Ocorre que Evo – ex-plantador de
coca de Chapare -, pisa em corda bamba. Procura conciliar
com os camponeses e com os Estados Unidos.
Nos primeiros passos do governo, as dificuldades de
centralização dos interesses da burguesia nacional e impe-
rialista se manifestaram, embora Evo não ameaçasse a
propriedade privada dos meios de produção e não demons-
trasse intransigência em negociar o alcance das reformas
pretendidas com os adversários. A oposição direitista in-
tensificou o movimento pelas autonomias, por meio dos
Comitês Cívicos, principalmente no pólo mais desenvolvido
– a chamada “Meia Lua”: Santa Cruz, Pando, Tarija e Beni.
O fato é que o MAS, nascido como partido camponês,
propõe-se a executar reformas sem transformar a base do
sistema econômico, que é capitalista. Por isso, o governo
Evo foi moldado para implementar algumas medidas que
amenizassem a pobreza extrema da maioria da população,
que compareciam por meio das bandeiras de pão, trabalho.
Mas as condições objetivas do país demonstram a inviabili-
dade de reformas sociais. A bandeira governista de trans-
formação pacífica e democrática da Bolívia na busca da
unidade de todos os bolivianos e no marco do respeito mú-
tuo traduziu muito bem o caráter de classe do governo do
MAS.

Dificuldades de governabilidade
Os setores identificados como oposição – empresários,
latifundiários etc – travam uma luta intestina contra o go-
verno com o objetivo de golpear Evo. Atuam por meio dos
Comitês Cívicos da Meia Lua, desenvolvendo uma oposição

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Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

radical direitista com características fascistas e racistas.


Se levarmos em conta o caráter de classe do governo do
MAS e as medidas tomadas, parece descabida a existência
de uma oposição tão ferrenha. Ocorre que a oligarquia boli-
viana e o imperialismo não admitem que o governo estabe-
leça qualquer limitação aos seus negócios e à grande
propriedade. A resistência burguesa da Meia Lua, com seu
estatuto autonômico, objetiva desgastar e inviabilizar o go-
verno reformista. A oligarquia de Santa Cruz, pilar da Meia
Lua, aposta na impossibilidade de tais reformas impulsio-
narem o desenvolvimento capitalista e na fraqueza de um
governo submetido às instituições da própria oligarquia,
que é o Estado. As exigências de autonomia de parte do
país expressam a debilidade da burguesia enquanto classe
dominante, incapaz de expandir seu sistema econômico
por todo o país. Da mesma forma, Evo/MAS não tem como
constituir um vigoroso governo burguês que cumpra tare-
fas democráticas pendentes, próprias do país atrasado e
semicolonial.
O desenvolvimento capitalista desigual e combinado
partilhou o país: de um lado, uma ilha de prosperidade
(Meia Lua) e, de outro, um mar de miséria com predomi-
nância de comunidades índias, camponeses sem-terra e
uma massa de desempregados e subempregados. O eixo
econômico se concentrou na região oriental, favorecendo a
agroindústria. Essa fração da burguesia se sente margina-
lizada de seu próprio Estado. O governo Evo/MAS não é
seu representante orgânico e se arvora ser o fundador de
uma nova Bolívia.
As exigências de autonomias e as disputas em torno da
Constituinte acirraram os choques entre o governo e a opo-
sição direitista. Ambos procuram ganhar apoio das massas
empobrecidas, provocando choques entre os miseráveis. O
recente desfecho do referendo revogatório testemunha a
crise política que se instalou no país. De um lado, os parti-

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

dários de Evo que votaram pela sua permanência e, de ou-


tro, os que se aliaram à oposição reacionária. O resultado
do plebiscito, cerca de 70% dos votos pelo SIM, foi a expres-
são de que a maioria não aceita ser governada pelos explo-
radores e que o mal menor era manter Evo. Certamente, o
desfecho do referendo (que atingiu os governadores direi-
tistas Reyes Villa e Paredes), o fracasso das últimas ações
tomadas pelos Comitês Cívicos (bloqueio de estradas) e as
discórdias entre os empresários de Cochabamba e os do
Comitê Cívico do oriente deixaram os oposicionistas mo-
mentaneamente em situação mais difícil para levar a cabo
seus intentos separatistas.
A governabilidade de Evo, embora sob ameaça constan-
te da oposição burguesa, dependerá em muito do avanço
da crise econômica. Uma crise política dessa magnitude
não desestabilizou o governo porque vem contando com os
resultados positivos de sua balança comercial.

Explorados lutam por suas reivindicações


Assim que Evo chegou ao poder do Estado enfrentou um
grave choque entre os mineiros de Huanuni, que travaram
uma batalha cuja conseqüência foi a morte de dezenas de
trabalhadores. De um lado, os cooperativistas, no afã de
explorar as ricas jazidas minerais e, de outro, o proletaria-
do mineiro na luta pelo emprego e pela preservação do pa-
trimônio estatal. O governo procurou conciliar interesses
opostos – propriedade estatal e formas de propriedades in-
dividuais (cooperativas). Ocorre que as cooperativas são
controladas por capitalistas. No entanto, a brutal batalha
compareceu como se fosse simplesmente de mineiros con-
tra mineiros. A posição do governo acabou acobertando a
real disputa e favoreceu a continuidade da exploração pri-
vada. Mostrou-se incapaz de se colocar do lado dos minei-
ros estatais e tomar medidas estatizantes.
As medidas para reativar a Comibol foram insuficien-

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Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

tes. Os recursos técnicos são obsoletos e as promessas de


compra de novas máquinas e melhores condições de traba-
lho aos mineiros não se efetivaram. Ao invés de aproveitar a
atual conjuntura dos preços internacionais para resolver
os problemas estruturais da exploração das riquezas mine-
rais, Evo se submeteu aos interesses das multinacionais,
que atuam de maneira direta (como em São Cristóvão) e
disfarçada (nas pequenas e médias empresas minerado-
ras). A tendência é de acirrar o choque entre governo e os
trabalhadores.
Em janeiro de 2007, os camponeses de Chapare e os tra-
balhadores do campo de Cochabamba iniciaram uma mo-
bilização pela renúncia do governador Reyes Villa.
Tratava-se de uma pressão para afastar a oposição direitis-
ta do controle político local, pela via dos métodos pacíficos.
Mas o movimento se transformou com o apoio de setores
radicalizados que, em poucos dias, caminhou para a toma-
da da sede do governo. A repressão policial sobre a multi-
dão concentrada provocou fissuras no governo de Evo
Morales. O movimento se ampliou e novas bandeiras foram
assumidas, como a de derrotar a direita, acabar com o lati-
fúndio, nacionalizar toda mineração e constituir os cabil-
dos (assembléias populares). A oposição direitista
organizada combateu as massas rebeldes, causando mor-
tes e feridos. Diante dos rumos do movimento, os dirigen-
tes pró-governo atuaram para impedir seu avanço.
Ludibriaram as massas concentradas de que era preciso
pôr fim aos bloqueios de estradas para a chegada de mais
camponeses, que a luta pela derrubada da Reyes deveria
continuar pela via pacífica, que a violência enfraquecia Evo
e ajudava a direita, e outras falácias da mesma natureza.
Apesar da enorme potencialidade da luta social, os campo-
neses não puderam romper com governo, fator essencial
para o avanço da consciência de classe. Mas, por outro
lado, expôs contradições de um governo que carrega o peso

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

do campesinato e é obrigado a usar o aparato estatal para


discipliná-lo.
O movimento do Camiri (2008), que reivindicava uma
verdadeira nacionalização dos hidrocarbonetos e a tomada
de poços controlados por multinacionais, ganhou projeção
e obrigou o governo a contê-lo. É nesses embates que o go-
verno expõe suas debilidades e sua determinação em não
afetar as relações de propriedade capitalista.
No último período, as lutas dos explorados vêm se poten-
ciando em função do aumento da inflação, da elevação dos
preços dos produtos da cesta básica e do anúncio de reajus-
te nos preços das tarifas dos transportes. Esses elementos
da conjuntura recente, resultantes das tendências de crise
mundial, somados aos baixos salários que perderam seu
poder de compra em mais de 80%, levaram a manifestações
e greves. A revolta dos assalariados se avolumou com o de-
creto de Evo que modificou a Lei das Pensões, consolidando
o sistema de capitalização individual.
Esse processo social e político evidencia que na fase im-
perialista não se pode esperar o desenvolvimento capitalis-
ta integral da economia boliviana. O que implicaria
solucionar tarefas democráticas próprias do país semicolo-
nial. A burguesia já não pode cumpri-las sob o regime de
produção dominado pelo capital financeiro e por um pu-
nhado de potências. Certamente, essa condição histórica
não impede que emerjam governos apoiados nas tarefas
democráticas e nas aspirações dos explorados, como é o
caso de Evo. As experiências demonstram que tais gover-
nos se chocam com o grande capital, mostram-se impoten-
tes diante dele, restringem ao máximo as tentativas
reformistas, tornam-se caricaturas de governos populares
e terminam se voltando contra a maioria explorada. Isso
explica por que Evo não pode dar um passo em favor da su-
peração da miséria. As reivindicações de emprego a to-
dos, salário mínimo real, terra aos camponeses e garantia

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Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

de conquistas sociais, entre elas uma Lei de Pensão (apo-


sentadoria) inteiramente sustentada pelos patrões e pelo
Estado têm sido rejeitadas e combatidas pelo governo. A
tendência é aprofundar a crise econômica, que dá seus pri-
meiros passos. Diante dela só há duas saídas: a de descar-
regar a crise sobre os trabalhadores, reduzindo os baixos
salários, aumentando o trabalho precarizado e eliminado
conquistas sociais, ou da luta dos explorados contra a bur-
guesia, as multinacionais e seu governo.

Crise mundial ampliará a crise política


Nesses primeiros dois anos de governo, Evo teve a seu
favor o crescimento econômico mundial, o aumento da re-
ceita com hidrocarbonetos, o que permitiu um superávit
fiscal de 4,6% (2006) e o aumento de reservas de 3,9 bi-
lhões de dólares. Isso lhe permitiu destinar recursos para o
assistencialismo, fundamental para manter sob sua políti-
cas as camadas empobrecidas.
A concessão do bônus Juancito Pinto (2006), que dá 200
bolivianos para cada criança na idade escolar do 1º ao 5º
ano, serviu de instrumento para ludibriar milhares de fa-
mílias no momento em que o governo estabelecia os contra-
tos de exploração do gás e petróleo com as multinacionais.
O bônus destinado aos idosos e o bônus de ajuda às famíli-
as miseráveis da região de El Alto (periferia de La Paz) vie-
ram no mesmo sentido. São medidas paliativas que não
resolverão a pobreza dos milhões de bolivianos.
Dados indicam que a taxa oficial de pessoas abaixo da
linha da pobreza passou de 63% para quase 60%, o que de-
monstra que a pobreza continua imperando. A propaganda
em torno desses índices, voltada a demonstrar que a po-
breza está sendo combatida e que será gradualmente erra-
dicada, não condiz com a realidade social da Bolívia. A
vigência do assistencialismo de Evo dependerá das condi-
ções econômicas, das “negociações” que se estabelecem

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

com as multinacionais e da pressão da oligarquia fascisti-


zante sobre o governo.
Tudo indica que o assistencialismo e as promessas de
reformas terão fôlego curto. As recentes convulsões na eco-
nomia dos Estados Unidos provocaram reações em cadeia
por todo o mundo. A elevação dos preços dos alimentos em
nível internacional foi o suficiente para que encarecessem
os alimentos e a inflação se manifestasse. Seja uma reces-
são (diminuição do PIB) nos Estados Unidos, seja uma de-
pressão econômica (alguns economistas falam em
diminuição da produção em mais de 25%), suas conse-
qüências afetarão a Bolívia, que se empobrecerá ainda
mais.

Agudização da crise
A Bolívia está sob violenta convulsão política e social. Os
bloqueios de estradas, ocupação de repartições públicas,
saques e mortes tomaram conta das regiões da Meia Lua.
De um lado, a Oposição burguesa, sitiada em quatro de-
partamentos (estados), Santa Cruz, Beni, Tarija e Pando; e,
de outro, os partidários do governo. Evo Morales, que ven-
ceu o referendo com cerca de 67% dos votos, está em meio
a um enorme conflito com os setores oposicionistas, que
não aceitam o referendo de 7 de dezembro para legitimar a
nova Constituição.
A oposição, no momento da Constituinte, ativou um
movimento pela autonomia em relação ao governo central.
Promoveu um referendo, em 2007. O “Não”, defendido por
Evo, venceu com 57,5% dos votos. Mas o “Sim” saiu vitorio-
so nos quatro departamentos da chamada “Meia Lua”. O
pleito foi considerado ilegal por Evo. As discussões na
Constituinte acirraram a crise política. A oposição não ace-
itou os critérios impostos pelos governistas, de maioria
simples para aprovação das leis. Evo, por sua vez, legiti-
mou a Carta Constitucional, sob protestos da ala da Meia

18
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

Lua. Após o resultado favorável à sua governabilidade,


consulta de 10 de agosto de 2008 (referendo), anunciou
novo referendo a ser realizado em 7 de dezembro.
O setor oposicionista desfechou um profunda ataque ao
governo, utilizando métodos radicais, como os bloqueios,
saques e destruição de repartições públicas nos departa-
mentos que estão sob o comando dos Comitês Cívicos, em
particular de Santa Cruz. Contesta o projeto de Constitui-
ção do governo, qualificando-o de “ditatorial” pelo fato de
ter sido aprovado em um quartel. Critica a lei que imporá li-
mites ao tamanho do latifúndio (5 mil ou 10 mil hectares).
Reivindica a restituição do imposto sobre os recursos de
petróleo e gás que foram repassados ao governo e denuncia
que Evo irá utilizá-los no pagamento de pensão aos idosos.
E exige maior autonomia a seus departamentos. O estatuto
autonômico dá à região da Meia Lua maior controle sobre
os lucros com as exportações das riquezas minerais. Em
Tarija, concentram-se 85% das reservas de gás do país e há
dois campos operados pela Petrobrás.
Há uma propaganda da ala oposicionista de que a Cons-
tituição legitima o “socialismo indigenista” de Evo e, por
isso, põe em risco a propriedade privada dos meios de pro-
dução e a iniciativa econômica da classe capitalista. Mas a
realidade demonstra o inverso. O projeto de Constituição
do governo não poderia se contrapor aos fundamentos do
Estado, que é capitalista. Por isso, inicia defendendo todas
as formas de propriedade privada – pequena, média e a
grande. Faz considerações sobre a propriedade comunal,
tradição milenar da população índia. Não há nenhuma lei
ou artigo que imponha a expropriação da propriedade pri-
vada e a nacionalização da terra. O que existe é uma limita-
ção ao tamanho da grande propriedade agrícola, que será
submetida ao referendo. Ao impor limites à exploração e
concentração da terra, acabou atingido os interesses dos
fazendeiros da região da Meia Lua, exportadores de soja,

19
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

gado etc. O que ocorre é o choque entre duas políticas: a da


grande propriedade, da Meia Lua; e a de Evo, que procura
manter a pequena propriedade. A consolidação do latifún-
dio depende da destruição das formas menores de proprie-
dade, inclusive a comunal. Fato que vem ocorrendo na
região de Santa Cruz e vizinhanças.
Evo Morales, diante da interferência do embaixador dos
Estados Unidos em favor da Oposição, deu um ultimato
para que deixasse o país. Por sua vez, os Estados Unidos
responderam com a mesma ação ao diplomata da Bolívia.
Evo acusou a Oposição de conspirar contra o Estado, de
ser golpista. O venezuelano Hugo Chavez – aliado de Evo,
tratou de responder com as mesmas armas, expulsando o
embaixador norte-americano de seu país e se colocando
em favor da proteção militar à governabilidade de Evo.
Frente a esses acontecimentos, em um primeiro momento,
o presidente boliviano recusou a interferências de outros
países. Procurou conter a onda de violência, anunciou a
disposição ao diálogo com quatro governadores da Meia
Lua. Chegou a dizer que estava autorizado “pelos movi-
mentos sociais” a modificar o projeto de autonomia previs-
to na Constituição e outros aspectos, a exemplo da
restituição do imposto sobre os hidrocarbonetos.
Evo decretou o estado de sítio em Pando em função da
brutal violência dos bandos contratados pela oposição, que
já mataram 30 índios. As denúncias comprovam a forma-
ção de bandos fascistas pagos com o dinheiro da oligarquia
para executar índios e população pobre. Os acontecimen-
tos de Santa Cruz expõem o ódio racista da oligarquia
branca contra os índios. No artigo Índios se enfrentam em
reduto evista”, o enviado do jornal Folha de São Paulo a
Santa Cruz transcreve a seguinte idéia de Andrés Gómez,
um editor que defende as posições da Meia Lua: “São gente
horrorosa. As collas (índias) fazem cocô nas ruas e se lim-
pam nas próprias saias. O cheiro é horrível. É um povo de

20
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

não-cristãos. Não compartilham conosco os valores ociden-


tais e o amor ao capitalismo”. Continua Carlos Ortiz Cizen-
do, adolescente pobre, de cor escura e que se diz “camba”,
que recebe R$ 40,00 por noite para defender os oligarcas de
Santa Cruz: “Sou católico, uso banheiro, sou limpo e ociden-
tal”. Os bandos racistas e fascistas estão a serviço dos ca-
pitalistas para invadir, atear fogo e eliminar os moradores
das favelas. O Plán 3000 é a maior favela de Santa Cruz e é
vitima diária da ação criminosa desses bandos.
Mesmo que venha a ocorrer a suspensão da ação dos
fascistas da Meia Lua e que Evo se coloque pelas mudan-
ças constitucionais exigidas pela oligarquia, não haverá a
erradicação dos conflitos entre a classe dos poderosos e a
maioria oprimida. A oligarquia não consegue arregimentar
a população pela via do convencimento ideológico e está
obrigada a usar os métodos fascistas. Os bandos armados
e pagos constituídos de jovens e pobres expressam tais mé-
todos. A oligarquia instrumentaliza e financia os bandos
para praticarem a violência reacionária contra a população
indígena e demais miseráveis que apóiam o governo Evo.
Nada tem a ver com a luta de classe, que é a materialização
da violência revolucionária da maioria oprimida contra a
minoria exploradora e tem como essência a tarefa de trans-
formar da propriedade privada dos meios de produção em
propriedade coletiva.

Intervencionismo externo
Frente ao agravamento da crise, armou-se a reunião da
União Sul-Americana (Unasul), organização re-
cém-constituída, para a burguesia sulamericana intervir
como se fosse neutra. Na realidade, pretendeu-se utilizar a
chamada mediação para obrigar Evo Morales a fazer con-
cessões aos governadores da Meia Lua.
Os atos de sabotagem à economia e a violência reacioná-
ria desfechada por bandos acuaram o governo do MAS.

21
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

Dessa forma, a atuação da Unasul foi uma vitória da rea-


ção. Evo participou acatando determinadas condições im-
postas pelos governos que compõem a Unasul, entre eles
estava presente com exigências o presidente da Colômbia,
porta-voz dos Estados Unidos.
O Jornal espanhol El Pais intitulou sua matéria Lula
toma as rédeas da crise boliviana. Relata que “Lula pôs al-
gumas condições para viajar a Santiago e as conseguiu”.
Eis o relato: “Pediu uma trégua prévia entre Morales e a
Oposição, o que ocorreu. Exigiu aceitação expressa de La
Paz para que ele intercedesse na crise, e a obteve. Além dis-
so, os rivais de Morales celebraram a mediação brasileira,
apesar de Lula os ter reprovado por utilizarem a violência
para desafiar o governo. Brasília também pretende que a cú-
pula conclua com uma clara mensagem contra toda ingerên-
cia externa na Bolívia e que não haja comentários acima do
tom contra os Estados Unidos” (16/8/2008)
Está claro que Evo foi arrastado a Unasul por pressão
interna dos opositores e externa da burguesia sulamerica-
na, particularmente a brasileira. Por cima de tudo estão os
Estados Unidos. A única forma de derrotar a oligarquia fas-
cista e racista é a revolução social, que por seu caráter tem
de ser proletária e se assentar na aliança operária e campo-
nesa. Como o governo Evo está comprometido com a pre-
servação da propriedade capitalista, tem de se sujeitar à
via que a burguesia internacional ditar; caso contrário,
terá seus dias contados. O imperialismo e seus lacaios da
Unasul deram um ultimato no sentido de disciplinar o caos
político e social. Ao contrário, poderão potenciar a Oposi-
ção fascista e isolar o governo do MAS.
A exigência de Lula de que não haja “ingerência externa”
e que não se ataque os Estados Unidos está dirigida não só
a Evo, como também a Hugo Chávez. O intervencionismo
dos governos sulamericanos tem por essência evitar que a
crise leve as massas oprimidas a ultrapassarem os limites

22
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

do controle do MAS, assumirem o programa da luta antiim-


perialista e anticapitalista. Tanto a Oposição fascista
quanto o governo reformista de Evo sabem que este é o
grande problema da divisão interburguesa.

A chave da solução se encontra na classe


operária
O governo Evo está mergulhado numa profunda crise
política. Tudo indica que não terá como derrotar a oposição
oligárquica e a ação do imperialismo. O referendo, por si só,
não deu ao governo uma supremacia que liquidasse a ca-
pacidade de combate da oposição. A rejeição a um pacto e a
retomada do movimento de sabotagem alimentam as con-
tradições no seio do Estado.
Que desfecho poderá ter a crise?
Enquanto as massas estiverem sob a direção peque-
no-burguesa do MAS, a crise política se arrastará por mais
ou menos tempo, dependendo do desenvolvimento da crise
econômica, mas seu desfecho fatalmente será a favor da
oligarquia. A divisão interburguesa sofre pressão do impe-
rialismo e de governos como o do Brasil, Venezuela etc. no
sentido de um acordo. Esta saída é a desejada pelo governo
do MAS. Para isso, é preciso um grande recuo de Evo, que
por sua vez se vê amarrado às pressões do campesinato. O
governo não pode se indispor com sua base de apoio. A
oposição direitista tem em conta essa situação e trabalha
pelo esgotamento do governo, de forma que possa derru-
bá-lo pela via golpista ou removê-lo pelo recurso eleitoral. A
probabilidade de Evo abrir uma nova etapa de desenvolvi-
mento econômico e social da Bolívia, que garantiria um
certo período de estabilidade, é nula.
O que está colocado para as massas oprimidas é uma
mudança da política de classe. Há que se constituir uma
aliança operária e camponesa, sob um programa de trans-
formação da grande propriedade dos meios de produção

23
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

em propriedade social e emancipação do país do jugo impe-


rialista. A chave da solução está na classe operária tomar a
frente da luta contra a oposição oligárquica e o capital in-
ternacional, independizar-se do governo do MAS e comba-
ter pela conquista do Estado. Essa possibilidade existe
devido à presença do Partido Operário Revolucionário
(POR), que tem uma longa existência e encarna o programa
da revolução social.
Não só o MAS é um obstáculo para a transformação es-
trutural de que a Bolívia necessita. A direção da Central
Operária Boliviana (COB) tem desviado as reivindicações e
objetivos da classe operária para a sustentação da gover-
nabilidade e da caricatura da democracia burguesa.
Dois fatos testemunham bem a política da direção da
COB. Em 2005, diante da crise instalada, o MAS se colocou
por novas eleições determinadas pelo presidente da Supre-
ma Corte e convocação da Constituinte. A direção da COB,
da mesma forma, sufocou o movimento de massa em nome
das eleições. Era sabido que as eleições e constituinte ser-
viriam para preservar o poder do Estado nas mãos da clas-
se dominante e conter o ódio do povo oprimido.
Em 2008, o MAS impôs a Lei das Pensões, cujo conteú-
do central é a capitalização individual. O país se convulsio-
nou por meio da greve dos mineiros e professores. A
resistência dos trabalhadores e a violenta repressão do go-
verno ocasionaram a morte de 2 mineiros e quase uma cen-
tena de feridos. Quando a luta estava no seu auge de
radicalização, a COB aceitou a trégua em nome do referen-
do de Evo. E como parte do acordo, o dirigente da COB, Pe-
dro Montes, concordou em dar um prazo de 45 dias para
elaborar um nova Lei de Pensões. O objetivo foi claro: des-
montar as mobilizações. É evidente que, da negociação de
cúpula, não saírá nenhuma Lei de Pensão em favor dos in-
teresses dos trabalhadores. Concretamente, o governo Evo
demitiu de seus cargos os professores da região de Cocha-

24
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

bamba, líderes da greve geral e dos bloqueios, decretados


pela COB. No governo Evo, não há direitos elementares
como o de se manifestar pela greve, o que a repressão ao
movimento dos mineiros e professores comprovam. A seve-
ridade do governo contra os grevistas ganha relevo diante
da complacência de Evo em relação aos opositores, que
chega ao ponto de impedi-lo de pisar os pés nos estados
conflagrados. A direção da COB acoberta sua política de
conciliação com o governo repressor e manobra os traba-
lhadores para conter a radicalização.
Reafirmamos que a situação política na Bolívia, durante
o governo Evo, caracterizou-se pela presença dos mineiros,
camponeses, professores, estudantes e demais oprimidos
nas ruas, nas greves e nos bloqueios. O que se choca com o
governo que promete reformas populares e esbarra nos di-
ques montados pelas direções.
A classe operária é extremamente reduzida, concentra-
da no setor mineiro, não pôde ainda comparecer como for-
ça aglutinadora da luta pelas reivindicações e de
resistência às medidas de Evo. A maioria da população é
camponesa. O campesinato, pelo lugar que ocupa nas rela-
ções de produção, não é o dirigente do programa da expro-
priação dos meios de produção e da implantação da
propriedade coletiva. Não há outra via para tirar a Bolívia
do atraso e da submissão imperialista senão pela luta revo-
lucionária. Essa tem sido a tese do Partido Operário Revo-
lucionário da Bolívia.

Fontes utilizadas
• Jornais: O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e El
País – artigos sobre a crise atual na Bolívia
• Jornais Massas, imprensa do Partido Operário Revoluci-
onário da Bolívia, nºs 2084, 2085, 2090, 2092, 2095,
2096, 2097, 2098 e 2099
Folhetos editados pelo Jornal Massas, Brasil

25
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

• As lições da luta revolucionária na Bolívia -2003


• A situação da Bolívia em 2005
• O governo do MAS e a nacionalização dos hidrocarbonetos
Documento: As tarefas do POR na conjuntura atual: ba-
lanço e perspectivas
• LORA, Guilhermo. Obras Completas, ediciones Massas,
La Paz, Bolívia, 2002

26
Artigos do Massas brasileiro sobre a
crise na Bolívia

27
Massas 362
Referendo na Bolívia
Posição do POR boliviano trotskista e
das esquerdas que se dizem trotskistas

O Partido Operário Revolucionário da Bolívia (POR) ca-


racterizou, desde o início, o governo Evo/MAS como bur-
guês e incapaz de enfrentar as multinacionais. Criticou a
farsa das nacionalizações e de sua política de reformas. Di-
zia que o governo do MAS faz todos os esforços para conse-
guir se “associar” com as multinacionais e, com isso,
continua entregando os recursos naturais do país ao capi-
tal imperialista.
Denunciou a conduta de Evo de querer dar a impressão
de que executa um processo de mudança estrutural, quan-
do na verdade não toca no regime de propriedade dos meios
de produção. Levantou a bandeira de rechaço à manobra
eleitoral, aos estatutos separatistas da direita e à Constitu-
ição reformista burguesa do MAS.

28
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

Chamou os explorados a não acreditar na Constituição


ou nos estatutos (leis), porque não mudarão a realidade
econômica e social do país. Dizia assim: “A lei do voto, em
última instância, a “democracia”, que na Bolívia não existe,
nunca solucionou nada e as leis servem unicamente para
as classes dominantes, nunca para os pobres”.
Denunciou o plano conspirativo da burguesia fascista e
racista, que atua por meios dos Comitês Cívicos e dos go-
vernadores da “Meia Lua”, que usam os argumentos das
autonomias, para tentar derrubar o governo.
Mostrou o desespero de Evo para conseguir um acordo
com os governadores, sobre a base do respeito à proprieda-
de privada, à legalidade e à democracia burguesas, che-
gando ao ponto de se dispor a compatibilizar o Projeto de
Constituição aprovado na Constituinte com os Estatutos
Autonômicos feitos pelas oligarquias regionais, vinculadas
aos interesses do imperialismo.
Denunciou que a disposição de Evo ao diálogo com os
governadores direitistas a confirmava a posição porista de
que o governo masista é burguês pela política que desen-
volve, entre ele a oposição direitista não existem discrepân-
cias de fundo, são irmãos de sangue, defensores do sistema
de exploração e opressão capitalistas.
Afirmava, em fevereiro de 2008, que estava aberta a pos-
sibilidade de um acordo entre os aparentemente irreconci-
liáveis inimigos: o governo e a burguesia nativa da região
oriental da Bolívia. E conclamava os explorados a esmagar
a direita fascista e passar por cima dos lacaios reformistas
do MAS, para materializar a revolução social, que acabe
com o poder da burguesia e das multinacionais eliminado a
propriedade privada sobre os meios de produção e instau-
rando a propriedade social.
O POR realizou uma campanha contra o Referendo Re-
vogatório. Ergueu a bandeira: “Com a Revolução Social ga-
nharemos! Com a democracia dos ricos sempre

29
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

perderemos!. Propagandeou de que a política de diálogos e


referendos é a política da incapacidade para esmagar a
burguesia entreguista. Dizia que o caminho da derrota são
os referendos, constituintes, diálogos, enfim tudo o que
significa a “revolução pacífica na democracia”. E que para
liquidar a Meia Lua fascista e toda burguesia entreguista e
expulsar o imperialismo é preciso organizar-se, armar-se
para fazer a revolução social, para impor o governo operá-
rio camponês.
Repetiu, insistentemente, que o reformismo de
Evo/MAS, está condenado ao fracasso, ou será engolido
pela direita, ou ele mesmo terá de se direitizar, para preser-
var a integridade da ordem social burguesa.
Coerente com o programa revolucionário, o POR foi ca-
tegórico ao não apoiar o governo Evo no referendo. Ao con-
trário, ampliar a luta direta pelas reivindicações das
massas exploradas e pelo fim do regime burguês.

A CUT/PT arrastou a Corrente O Trabalho


A burocracia da CUT, em sua 12ª Plenária Nacional,
convidou a cônsul geral da Bolívia, Shirley Orozco, para se
solidarizar com o governo de Evo Morales. A consulesa
enalteceu o assistencialismo de Evo e conclamou a solida-
riedade para “isolar os golpistas e fascistas”. O resultado
foi a realização de um ato, dias antes do referendo.
A Corrente O Trabalho tomou a frente e cravou suas tin-
tas na defesa de Evo/MAS. O Trabalho, que se reivindica
do trotkysmo, vinculada internacionalmente às posições
do falecido Pierre Lambert, causa asco em qualquer mili-
tante classista com sua adesão à burocracia petista, que se
posta em defesa de um governo que autoriza a polícia a ata-
car mineiros, camponeses e professores em luta.

O PSTU e o Referendo
O PSTU, em seu jornal Opinião Socialista, de nº 347,

30
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

criticou organizações (citou a CSUTCB, Fejuve, COR-El


Alto, Federação Bartolinas etc) e partidos de esquerda (ci-
tou o Partido Comunista) que saíram em apoio ao governo
Evo. Dizia assim: “Esta posição nos parece errada, porque
não se propõe a enxergar o que vai ocorrer após 10 de agos-
to, não denuncia a intenção do governo de voltar a negociar
com a direita e não propõe nenhuma exigência ao gover-
no... “.
O leitor poderia concluir que o PSTU era contra o apoio a
Evo no referendo. Mas logo vê que está sendo enganado.
Eis a conclusão: “ Não estamos com o Não a Evo proposto
pela oligarquia. Também não estamos em prol do voto em
branco ... porque significa não se pronunciar nesta batalha
contra a direita, na prática acaba sendo um apoio silencio-
so a ela”. E termina assim: “Chamamos os operários, os
camponeses e a juventude a revogar os prefeitos, porque
não melhoraram as condições de vida dos trabalhadores e
o povo de suas províncias, e dar um voto crítico a Evo”.
Quem não conhece e vive na prática a política centrista
do PSTU, acha que está diante de uma corrente confusa ou
que não sabe o que está falando. Ataca o Evo, diz que volta-
rá a negociar com a direita, critica as correntes que apóia o
Sim sem fazer exigências e acaba se juntando a eles com o
argumento de que é preciso derrotar a direita.
Que exigência se pode fazer a um governo que já se mos-
trou mais do que suficientemente ser incapaz de combater
a direita burguesa, o imperialismo e que, por isso, convoca
os adversários dos camponeses, das nacionalidades índias
e dos operários ao diálogo, à negociação e constituir um
pacto? Qualquer exigência a Evo para justificar apoio a seu
governo não passa de uma grosseira manobra. O argumen-
to mais significativo é o de que votando em Evo se pretende
derrotar a direita. No entanto, também nesse caso estamos
diante de uma falsa formulação. Não se derrotará a direita
pelo referendo; não se derrotará os governadores da Meia

31
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

Lua mantendo um governo disposto ao diálogo; não se der-


rotará os inimigos dos explorados fazendo exigência ao go-
verno Evo e se arrastando atrás de sua política de
referendos.

PO da Argentina chama a votar em Evo


O POR boliviano denunciou o Agrupamento Marxista
Revolucionário, dirigido politicamente pelo Partido Obrero
da Argentina, e as conferências realizadas por Coggiola e
Rath, ligados ao PO, de se enfileirarem por detrás de Evo.
Eis aqui: “Na Bolívia, dizem, as massas não superaram
Evo, então há que se colocar ao nível delas e chamar a votar
em Evo”. Não bastando isso, os seguidores de PO, apresen-
taram uma plataforma pequeno burguesa nacionalista.
Entre os pontos está a defesa de uma “Nova Constituição e
nova Constituinte, convocada pelas organizações operárias
e camponesas”.
Estamos diante de um apoio em que se faz exigências
ao governo Evo. Exigências que o PSTU consideram como
necessárias para se votar no Sim. Certamente, o PSTU po-
deria apresentar outro tipo de exigências e até criticar as
do PO. Ocorre que o apoio ao referendo constitui uma posi-
ção oportunista frente a um governo que se sujeita às con-
dições políticas ditadas pela direita e pelo imperialismo.
Não se derrotará a reação fascista por essa via e sustentan-
do um governo que ataca as greves e os bloqueios com a po-
lícia e o exército.

Evo saiu vitorioso. E agora?


O MAS sabia que a possibilidade de derrota seria míni-
ma. O referendo, que foi um desafio dos governadores da
Meia Lua lançado a Evo, serviu de instrumento para o MAS
mostrar que o melhor caminho para superar a divisão in-
terburguesa era o diálogo. No fundo, para o governo, quem
votou no Sim estava votando pela solução democrática do

32
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

conflito. O que é a solução democrática? É um reordena-


mento das forças burguesas em choque por meio das insti-
tuições do Estado.
As massas foram enganadas com a propaganda de que
estaria votando contra os fascistas e os racistas de Santa
Cruz, Tarija etc. Se se quer derrotar um movimento fascis-
tizante, golpista e divisionista do país, é necessário organi-
zar as massas oprimidas, com seus próprios métodos, e
armá-las contra a violência reacionária da direita. É exem-
plar o fato dos governadores e seus bandos impedirem Evo
de realizar simples discursos eleitorais em seus estados.
Esse ato de força ocorreu justamente no momento em que
Evo estava agarrado nas ilusões do SIM e do NÃO. O gover-
no se mostrou acovardado.
Terminado o pleito com sua vitória, Evo convocou os ini-
migos que o enxotaram de seus estados a compor uma ne-
gociação. Está claro que as massas famintas que
enfrentam os exploradores não votaram pelo SIM para que
o governo dê às mãos àqueles que querem derrubá-lo. As
correntes de esquerda – PO, O Trabalho, PSTU – que se lan-
çaram pelo SIM obscureceram o sentido fundamental do
referendo: reconstituir a unidade burguesa contra a maio-
ria oprimida. Alerta: são essas correntes ditas trotskistas
que difamam o POR boliviano com a pecha de nacionalista.

33
Massas 363
PSTU e a Bolívia

“Opinião Socialista”, edição 349, publicou o artigo “Re-


ferendo Confirmou Evo Morales e os Prefeitos da Meia
Lua”, assinado por Nericilda Rocha, de La Paz, quando os
votos ainda estavam sendo contados. Mas já estava clara a
vitória de Evo e dos prefeitos da Meia Lua de Santa Cruz,
Tarija, Beni e Pando, bem como a derrota dos prefeitos de
La Paz e Cochabamba. Por isso, o artigo de Nericilda é uma
espécie de balanço do significado político.
Refere-se à possibilidade dos mineiros voltarem à luta,
ocorrida em pleno referendo, por suas reivindicações; e a
uma possível frustração dos camponeses que apóiam Evo.
O que virá depois do referendo, além dessa possibilidade?
Diz o artigo: “É que, passado o referendo, novamente
Evo e toda cúpula de seu partido retomam com força a ve-
lha toada da necessidade de um pacto com a direita como
única forma de pacificar o país”.
Não era preciso passar o referendo para se ter essa pre-
visão. O “Sim” e o “Não” foi um jogo bem calculado pelo go-

34
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

verno do MAS, justamente para demonstrar força


institucional e acenar para a direita golpista da Meia Lua
que era preciso um acordo de pacificação. Assim ocorreu
uma reunião entre o governo e a oposição, que fracassou e
mostrou que a votação não modificou o conflito no seio de
Estado burguês.
O pacto pretendido se daria em torno da aprovação da
nova Constituição. A Meia Lula rejeitou um acordo e Evo
convocou um novo referendo para decidir sobre a Carta
Magna, previsto para dezembro.
São acontecimentos recentes que indicam a vontade do
governo massista de alcançar um pacto e a rejeição dos go-
vernadores autonomistas. O referendo não soldou as ra-
chaduras no seio da política burguesa, aspiração
conciliadora que dependia do MAS aceitar as imposições
da oligarquia. Essa possibilidade estava clara há muito
tempo, havendo ou não referendo de confirmação de Evo
no poder.
Em todo instante, o governo procurou aproximação com
os governadores. Não deu certo porque a direita está con-
vencida de que não deve compactuar com um governo que
acredita ser possível, no âmbito do capitalismo, dar auto-
nomia às nacionalidade índias, impor alguma restrição ao
tamanho do latifúndio e transformar o Estado em sócio das
multinacionais do petróleo e gás.
Mesmo deixando completamente claro que a grande
propriedade capitalista está assegurada e que o que se pre-
tende é implantar algumas medidas limitadas que imitem
uma reforma, a fração oligárquica da burguesia boliviana e
o imperialismo não aceitam. Como o governo se mostrou
comprometido com a manutenção do capitalismo e age
como obstáculo à revolução proletária, e como a fração oli-
gárquica não reuniu forças suficientes para se desfazer do
débil governo, sem ter de enfrentar imediatamente um le-
vante revolucionário de operários e camponeses, a oposi-

35
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

ção mantém sua trincheira, desgasta Evo e aguarda as


condições para retomar o poder.
Por que adiantamos essa explicação? Por que “Opinião
Socialista”, com a maior candura, omite que o PSTU cha-
mou o voto em Evo, participou do jogo entre o MAS e a Meia
Lua e, depois de que tudo permaneceu como estava, fez a
luminosa previsão de que Evo iria utilizar o Sim para cha-
mar a direita a um pacto nacional. Nericilda deveria expli-
car o significado do voto do PSTU no governo do MAS.
No “Opinião Socialista” anterior, n. 347, comentado cri-
ticamente por nós no Massas 362, o PSTU fixa a posição:
“Chamamos os operários, os camponeses e a juventude a
revogar os prefeitos (governadores), porque não melhora-
ram as condições de vida dos trabalhadores e o povo de
suas províncias, e dar um voto crítico a Evo”. Não encon-
tramos uma só linha no balanço do PSTU sobre o referendo
que avalie o acerto ou erro desta posição. Nericilda apre-
senta sua previsão como se fosse uma possibilidade a ser
conhecida somente depois do referendo.
Diz o artigo: “Às vésperas do referendo revogatório de 10
de agosto, a Bolívia fervia com a greve dos mineiros que exi-
gia o fim do sistema neoliberal de aposentadoria e uma
nova lei mais justa”. E conclui (...), “mas foram duramente
reprimidos pela polícia de Evo Morales”. Ora, como o PSTU
explica seu voto em Evo, quando os operários estavam sen-
do golpeados pelo governo, cuja repressão acaba por servir
à posição reacionária da Meia Lua?
Ao avaliar as tendências de luta após o referendo, Nere-
cilda afirma:“As direções são decisivas para isso, prin-
cipalmente a COB, que recentemente resolveu voltar a
dar uma trégua de 45 dias ao governo, depois de dois
mineiros mortos pela repressão de Evo”.
Há, na afirmação, uma branda e disfarçada censura à
COB. A redatora está obrigada a se referir à trégua e ao
mesmo tempo limitá-la à simples constatação. Por que não

36
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

se vai ao fundo do significado da trégua?


Ocorre que o PSTU tem trabalhado pela constituição do
Elac (Encontro Latino-Americano de Trabalhadores). A
presença da COB dá-lhe um peso, importante para a políti-
ca de aparatos dos centristas, que encabeçam a divisão da
CUT e se empenham em constituir uma nova central, a
Conlutas.
Eis o que diz Eduardo Almeida, no Opinião Socialista
342, por ocasião da realização do 1º Cogresso da Conlutas
e do Elac: “Só a presença das entidades que convocam o
encontro já indica seu caráter amplo. A COB é, talvez, a
central sindical de maior tradição em toda América Latina”.
Está claro o exitismo do PSTU. Almeida se esquece de
dizer que a “maior tradição” da COB tem sido pisoteada e
manchada com as traições da burocracia sindical, na qual
a presença do estalinismo é marcante. Nem bem a Elac foi
cantada como um encontro que aprovou um plano de luta
para a América Latina, a burocracia da COB decretou uma
trégua ao governo repressor e assassino de operários mine-
iros.
A presença da COB no Elac dá prestígio ao objetivo do
PSTU de formar um aparato próprio com a Conlutas. Por
essa razão, o PSTU não reconhece que a COB está sob o co-
mando de uma burocracia corrompida e colaboracionista.
Burocracia que apóia Evo Morales, que defendeu o Sim,
que fechou os olhos frente à responsabilidade do governo
pela repressão aos mineiros. O PSTU convive com a buro-
cracia traidora da COB e a embeleza no Elac. Não poderia,
portanto, dizer toda a verdade sobre ela, atacá-la e expul-
sá-la imediatamente do Elac.
No momento exato da repressão aos operários, eis o que
diz o Partido Operário Revolucionário da Bolívia: “Repres-
são contra os mineiros de Ksihuasi, para levantar o
bloqueio, deixou um morto e vários feridos. Viva a luta
independente dos trabalhadores! Abaixo o circo demo-

37
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

crático-burguês do referendo revogatório”


Está ai a posição marxista-leninista-trotskista do POR,
completamente antagônica à do PSTU, que esconde o papel
traidor e contra-revolucionário da burocracia da COB.

38
Massas 364
Bolívia:
Intervencionismo externo
Lula pressionou Evo a ceder

Diante do agravamento da crise na Bolívia, a burguesia


sul-americana interveio. Para isso, armou-se a reunião da
União Sul-Americana (Unasul). O objetivo foi o de utilizar a
chamada mediação para obrigar Evo Morales a fazer con-
cessões aos governadores da Meia Lua. O imperialismo e
seus lacaios da Unasul deram um ultimato no sentido de
disciplinar o caos político e social.
Lula coordenou a reunião e conduziu a Unasul a rejeitar
toda e qualquer qualificação do movimento da oposição di-
reitista de “golpe de Estado civil”. Aceitou a exigência de
Evo de criar uma comissão para investigar os “incidentes”
(massacre de 30 camponeses) em Pando. Usou da velha de-
magogia ao se dirigir a Evo: “Você tem de nos dizer, porque
ninguém aqui vai interferir na crise interna da Bolívia”. Em

39
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

seguida, foi categórico: “Cabe ao Estado constituído indu-


zir ao diálogo”.
Os atos de sabotagem à economia e a violência reacioná-
ria desfechada por bandos acuaram o governo do MAS.
Dessa forma, a atuação da Unasul foi uma vitória da rea-
ção. Evo participou acatando determinadas condições im-
postas pelos governos que compõem a Unasul, entre eles
estava presente com exigências o presidente da Colômbia,
porta-voz dos Estados Unidos.
O Jornal espanhol El Pais intitulou sua matéria Lula
toma as rédeas da crise boliviana. Relata que “Lula pôs al-
gumas condições para viajar a Santiago e as conseguiu”.
Eis o relato: “Pediu uma trégua prévia entre Morales e a
Oposição, o que ocorreu. Exigiu aceitação expressa de La
Paz para que ele intercedesse na crise, e a obteve. Além dis-
so, os rivais de Morales celebraram a mediação brasileira,
apesar de Lula os ter reprovado por utilizarem a violência
para desafiar o governo. Brasília também pretende que a cú-
pula conclua com uma clara mensagem contra toda ingerên-
cia externa na Bolívia e que não haja comentários acima do
tom contra os Estados Unidos” (16/8/2008)
Evo foi arrastado a Unasul por pressão interna dos opo-
sitores e externa da burguesia sul-americana, particular-
mente a brasileira. Por cima de tudo estão os Estados
Unidos. A única forma de derrotar a oligarquia fascista e
racista é a revolução social, que por seu caráter tem de ser
proletária e se assentar na aliança operária e camponesa.
Como o governo Evo está comprometido com a preservação
da propriedade capitalista, tem de se sujeitar à via que a
burguesia internacional ditar.
A exigência de Lula de que não haja “ingerência externa”
e que não se ataquem os Estados Unidos estava dirigida
não só a Evo, como também a Hugo Chávez. O intervencio-
nismo dos governos sul-americanos tem por essência evi-
tar que a crise leve as massas oprimidas a ultrapassarem

40
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

os limites do controle do MAS, assumirem o programa da


luta antiimperialista e anticapitalista. Tanto a Oposição
fascista quanto o governo reformista de Evo sabem que
este é o grande problema da divisão interburguesa.

Evo recua e a Oposição dita as regras


A abertura do diálogo significa que o governo terá de fa-
zer concessões à Oposição assassina. Evo nunca foi refra-
tário ao “diálogo” (às concessões) com os oposicionistas.
Quem se manteve intransigente foi a oligarquia, comanda-
da pelos governadores da Meia Lua, que usaram as amea-
ças, as sabotagens, a suspensão de alimentos à região do
altiplano, o desabastecimento de gás de cozinha, as inva-
sões por bandos contratados às sedes das organizações in-
dígenas etc para golpear o governo. Evo acreditou que a
aprovação de seu governo (referendo) por 67,4% da popula-
ção se garantisse poder sobre a Oposição, mas o contrário
se deu. A Oposição desfechou a violência fascista, criando
mais uma das enormes crises pela qual atravessou a Bolí-
via.
A Oposição fez nova gritaria contra Evo, quando da pri-
são do governador de Pando, Leopoldo Fernández, man-
dante do massacre dos camponeses. O Supremo Tribunal
exigiu que Evo coloque fim ao “estado de sítio” em Pando,
em um claro apoio aos governadores de Meia de Lua.
Para a Oposição direitista, um acordo pressupõe incluir
medidas na Constituição que garantam o cumprimento do
Estatuto Autonômico, a devolução da porcentagem do im-
posto sobre os hidrocarbonetos e exigem mais tempo para
encaminhar a convocação do referendo da nova Constitui-
ção, anunciado por Evo para 7 de dezembro.
Na realidade, os conflitos interburgueses (governo e
Oposição) estão longe de serem resolvidos, mesmo que Evo
capitule plenamente diante de seus opositores. O que con-
firma as posições do Partido Operário Revolucionário da

41
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

Bolívia (POR) do fracasso do governo reformista de Evo.

A solução se encontra na classe operária


O governo Evo está mergulhado numa profunda crise
política. Que desfecho poderá ter a crise?
Enquanto as massas estiverem sob a direção peque-
no-burguesa do MAS, a crise política se arrastará por mais
ou menos tempo, dependendo do desenvolvimento da crise
econômica, mas seu desfecho fatalmente será a favor da
oligarquia. A divisão interburguesa sofre pressão do impe-
rialismo e de governos como o do Brasil, Venezuela etc. no
sentido de um acordo. Esta saída é a desejada pelo governo
do MAS. Para isso, é preciso um grande recuo de Evo, que
por sua vez se vê amarrado às pressões do campesinato. A
oposição direitista tem em conta essa situação e trabalha
pelo esgotamento do governo, de forma que possa derru-
bá-lo pela via golpista ou removê-lo pelo recurso eleitoral. A
probabilidade de Evo abrir uma nova etapa de desenvolvi-
mento econômico e social da Bolívia, que garantiria um
certo período de estabilidade, é nula.
O que está colocado para as massas oprimidas é uma
mudança da política de classe. Há que se constituir uma
aliança operária e camponesa, sob um programa de trans-
formação da grande propriedade dos meios de produção
em propriedade social e emancipação do país do jugo impe-
rialista. A solução está na classe operária tomar a frente da
luta contra a oposição oligárquica e o capital internacional,
independizar-se do governo do MAS e combater pela con-
quista do Estado. Essa possibilidade existe devido à pre-
sença do POR, que tem uma longa existência e encarna o
programa da revolução social.
Não só o MAS é um obstáculo para a transformação es-
trutural de que a Bolívia necessita. A direção da Central
Operária Boliviana (COB) tem desviado as reivindicações e
objetivos da classe operária para a sustentação da gover-

42
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

nabilidade e da caricatura da democracia burguesa. Dois


fatos testemunham bem a política da direção da COB. Em
2005, diante da crise instalada, o MAS se colocou por no-
vas eleições determinadas pelo presidente da Suprema
Corte e convocação da Constituinte. A direção da COB, da
mesma forma, sufocou o movimento de massa em nome
das eleições. Era sabido que as eleições e constituinte ser-
viriam para preservar o poder do Estado nas mãos da clas-
se dominante e conter o ódio do povo oprimido. Em 2008, o
MAS impôs a Lei das Pensões, cujo conteúdo central é a ca-
pitalização individual. O país se convulsionou por meio da
greve dos mineiros e professores. A resistência dos traba-
lhadores e a violenta repressão do governo ocasionaram a
morte de 2 mineiros e quase uma centena de feridos. Qu-
ando a luta estava no seu auge de radicalização, a COB
aceitou a trégua em nome do referendo de Evo. E como par-
te do acordo, o dirigente da COB, Pedro Montes, concordou
em dar um prazo de 45 dias para elaborar um nova Lei de
Pensões. O objetivo foi claro: desmontar as mobilizações. A
direção da COB acoberta sua política de conciliação com o
governo repressor e manobra os trabalhadores para conter
a radicalização.
A classe operária é extremamente reduzida, concentra-
da no setor mineiro, não pôde ainda comparecer como for-
ça aglutinadora da luta pelas reivindicações e de
resistência às medidas de Evo. A maioria da população é
camponesa. O campesinato, pelo lugar que ocupa nas rela-
ções de produção, não é o dirigente do programa da expro-
priação dos meios de produção e da implantação da
propriedade coletiva. Não há outra via para tirar a Bolívia
do atraso e da submissão imperialista senão pela luta revo-
lucionária, apoiada no programa da revolução e ditadura
proletárias.

43
Anexos: artigos do jornal Masas
boliviano

Consumada a Descomunal Farsa


Cívico-Masista
Tal como já falávamos desde o início, no final de tanto
teatro, cívicos e governo acabaram resolvendo as suas “di-
ferenças” numa Constituição que não é senão uma comé-
dia de conteúdo burguês em que eles se sentem “todos
representados” (entenda-se, os burgueses). Isso ocorre
porque tanto o governo reformista do MAS como a oposição
direitista são a mesma coisa: manifestações políticas bur-
guesas que defendem a ordem capitalista e sua base mate-
rial: a propriedade privada dos meios de produção.

Os Masistas impostores zombam dos


camponeses fazendo-os marchar por uma
Constituição que consolida o latifúndio.
No momento em que escrevemos, Evo celebrada na Pra-
ça Murillo a promulgação da Lei de Convocatória do Refe-

44
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

rendo Constitucional. Descaradamente, discursa para


uma multidão de iludidos marchistas esfarrapados, peque-
nos produtores minifundiários sedentos de terra, cuspin-
do-lhes na cara, sem nenhuma modéstia, que a sua
Constituição respeita a grande propriedade privada dos ri-
caços exploradores. A Constituição vai definir a extensão
máxima da propriedade agrícola em 5.000 ou 10.000 hec-
tares, mas não é retroativa. Nos latifundiários atuais (como
os de Marincovic e companhia), não se mexe. Além disso,
estarão incluídas as autonomias departamentais “consen-
suadas” na forma como queriam os oligarcas latifundiários
do oriente.
Derrotemos a mentira Masista com a luta revolucio-
nária dos explorados sob a bandeira proletária, por uma
Revolução Social que acabe com a raiz do poder bur-
guês e opressão imperialista: a propriedade privada so-
bre os meios de produção.
O Governo Operário e Camponês que instaurará a re-
volução estabelecerá a propriedade social para satisfa-
zer as necessidades do conjunto da sociedade e não
apenas o interesse de um número reduzido de explora-
dores.
(Extraído do Masas boliviano nº 2104, de 24/10/2008)

A Marcha do Engano e a Traição às Massas


V.M
Evo Morales e o MAS ficarão conhecidos na história
como os responsáveis pela maior enganação às massas, es-
pecialmente as camponesas. Eles levaram os explorados e
oprimidos do país a acreditar que, com a redação de uma
“nova” Constituição Política, o país poderia se transformar
e acabar com a exploração e opressão dos povos indígenas
e dos camponeses, que, a partir da aprovação da “Nova”
Constituição no país, terminaria a discriminação e opres-
são dos índios. A mentira é tamanha que os camponeses

45
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

acabaram eles mesmos se auto-enganando, ao extremo de,


pensando alcançar a futura felicidade, milhares de campo-
neses marcharem de Caracollo em direção à sede do gover-
no para cercar o Parlamento e forçar os parlamentares a
aprovar a convocatória do “referendo constitucional”, mais
um referendo. Em sua enganação, o MAS levou as massas
camponesas a acreditar que, ao marcharem para cercar o
Congresso, estariam fazendo uma ação radical, convicção
alimentada pela gritaria da direita que vê na marcha uma
ação antidemocrática de “hordas assassinas”. Evo Morales
e o MAS subordinaram a ação de massas à decisão do Par-
lamento, ao extremo de que a oposição possa dizer o que
der na telha, certa de que nada vai lhe acontecer. Elas são,
ao lado do MAS, os protagonistas do maior engano do povo,
juntos organizaram o maior show, burlando o sentimento e
o desejo de mudança dos indígenas e camponeses, que fo-
ram uma vez mais tratados como índios.
Foram nas comissões interpartidárias formadas por mi-
litantes do MAS, PODEMOS, UN e MNR o lugar onde “por
tempo e matéria” foi revisto o texto aprovado por uma
Constituinte, que nas palavras do MAS foi aprovada pelos
sem-voz e que o MAS permite que seja revista por aqueles
que sempre tiveram voz e viveram empoleirados no apare-
lho estatal. Na realidade, pouco importa tal revisão porque
não havia nada importante para revisar, algo que até mes-
mo coloque em questão o caráter burguês da “nova” socie-
dade que Evo Morales e o MAS pretendem dar à luz. Como
evidenciado pelo silêncio dos observadores estrangeiros. A
“nova” Constituição foi o texto mais lido por representantes
de outros países, europeus, americanos ou organismos in-
ternacionais, UNASUL, OEA, e assim por diante. E nin-
guém, absolutamente ninguém, encontrou algo que viole
qualquer princípio democrático burguês, confirmando a
observação que fez o Secretário Geral da OEA, Insulza.
Como informaram, tanto os oficialistas como os opositores,

46
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

tudo foi “consensuado”, o que significa que eles apararam


ou eliminaram todas as arestas que foram observadas pela
oposição e pela burguesia, exceto quando convocar as no-
vas eleições.
Para o MAS, aprovada a “nova” Constituição, deve-se a
convocar novas eleições, pois consideram que ganharão de
lavada, o que permitiria obter uma maioria absoluta no
Congresso e mudar a “nova” Constituição como bem enten-
derem. Para a oposição, a eleição deveria ser convocada no
término da gestão de Evo Morales, em seu cálculo está o
desgaste do governo nos próximos dois anos de crise mun-
dial. Em suma, tudo se resume a uma luta pelo controle do
aparelho do Estado, em termos simples, em uma luta pela
reeleição, justificada com o argumento de que “uma gestão
é muito pouco tempo para consolidar as mudanças no
país” ou que “Evo Morales quer perpetuar-se no governo”.
Dessa magnitude é a traição do MAS às massas. Milhares
de camponeses marchando pela convocatória do referendo
constitucional que prometeu transformar o país, mas, na
realidade, tudo se reduz a uma luta politiqueira para ver
quem fica no topo do Estado.
É a Marcha do Engano e da Traição. O MAS não pôde ser
fiel nem sequer ao que aprovaram os seus constituintes. O
destino político de Evo Morales e do MAS dependerá de
quanto tempo levarão os camponeses e indígenas do país
para descobrirem a traição; agora só resta ver com dor a
marcha de centenas de milhares de camponeses, operários
e sindicatos que continuam reivindicando a transformação
do país. Esta será uma obra do POR.
(Extraído do Masas boliviano nº 2104 de 24/10/2008)

O acordo entre governadores e governo


Depois do circo, bolivianos são confrontados com a dura
realidade.
Ao retornarem da Marcha, os iludidos marchistas en-

47
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

contraram em suas casas a pobreza, a fome, e a miséria, já


como efeitos da crise internacional.

Para a classe dominante oriental, o problema funda-


mental é a terra, a preservação da posse do latifúndio, sem
o perigo da persistente ameaça de desmembrar suas pro-
priedades. Nas últimas negociações, em Cochabamba,
atingiram duas conquistas muito importantes para eles: a)
o critério para o tamanho do latifúndio produtivo se aplica-
rá a partir da promulgação da nova Constituição e não re-
troativamente, ou seja, não afeta em nada as atuais
possessões e, b) dentre os atributos da autonomia departa-
mental, se estabelece que estas serão encarregadas de or-
ganizar a utilização territorial dos solos em coordenação –
que seja bem entendido; somente em coordenação – com as
autonomias indígenas.
Assim, os governadores colocaram dois cadeados, um
para proteger o que eles já possuem e o outro para continu-
ar controlando o território no futuro. Além disso, a caracte-
rização do Estado boliviano, a reeleição do presidente, a
delimitação da justiça comunitária etc., passam a ter uma
importância secundária.
A pergunta é: por que não assinar o acordo? Porque
cada uma das partes, governadores e governo, tem atrás de
si setores radicais que estão prontos para cortar a cabeça
do adversário e não toleram qualquer concessão para a ou-
tra parte. Então dão a aparência de que deslocam a discus-
são para o parlamento onde, de maneira curiosa, se dão os
consensos, utilizando de vez em quando a aparente pres-
são social como na marcha de Caracollo a La Paz, ou os
chamados “radicais” (uma fração de PODEMOS) que não
conseguem engolir a reeleição de Evo Morales adiando por
um longo tempo suas ambições partidárias.
Toda esta farsa termina em uma “festa democrática”, onde
todos saem satisfeitos por haverem “salvo a democracia”.

48
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

O que vem depois do circo? Os poucos cooperativistas


mineiros que entraram na marcha, ao regressarem às suas
casas, encontram as minas fechadas, porque já não podem
continuar produzindo com os baixos preços do minério no
mercado mundial; alguns elementos da classe média, que
acreditavam que a nova Constituição teria de mudar estru-
turalmente o país para proporcionar bem-estar ao seu
povo, comprovaram na própria carne que nada mudou e,
por outro lado, aumenta a miséria causada pela crise inter-
nacional; os camponeses vão descobrir que Evo Morales e
sua gangue, às suas costas, fizeram um pacto com a Me-
ia-lua para se preservarem os latifúndios etc. Ao se conclu-
ir o circo, os bolivianos retornarão à dura realidade e os
tormentos da fome e do desemprego irão forçá-los a sair
novamente às ruas e estradas, agora, para acertar as con-
tas com os impostores que fizeram com que eles vivessem
uma ficção.

A nova Constituição não muda nada.


O que nós explorados precisamos é de uma verdadei-
ra revolução social, que acabe com o poder burguês, li-
quidando a propriedade privada dos os meios de
produção e instaurando a propriedade social para aten-
der as necessidades de todos os explorados.
Isto não se consegue nas urnas, conquista-se pela via
insurrecional.
(Extraído do Masas boliviano nº 2104, de 24/10/2008)

Como dissemos, o sangue não chegou ao rio


O conflito governo/oposição desenvolve-se no quadro do
respeito à ordem social estabelecida, ou seja, ao modo de
exploração capitalista. É por isso que tudo acaba em bra-
vata, em alguns momentos tensos e até violentos que fazem
as pessoas que não acompanham de perto exclamar que
esta vindo uma guerra civil ou que está em gestação um

49
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

golpe civil-departamental impulsionado pelos EUA. Que


Evo não é santo de devoção do governo norte-americano é
evidente, que a embaixada ianque incentiva a oposição de
direita, não existem dúvidas, mas, por isso, afirmar que
pode prosperar um golpe de Estado fascista sustentado
pelo imperialismo é uma grande estupidez. Evo continua
sendo para os norte-americanos a melhor carta apesar da
sua postura “anti-imperialista”. Devemos entender que cí-
vicos e governo são irmãos de sangue e que, embora um de-
les se imponha sob pressão sobre o outro, isso não terá
nenhum efeito sobre a continuidade da ordem burguesa.

O levante do cerco à Santa Cruz e a rebelião dos


setores radicais
Dirigentes do MAS fazem esforços para encobrir os ver-
dadeiros objetivo dos explorados do campo.
Já dissemos que a luta dos camponeses contra a “Me-
ia-Lua” é o choque da pequena propriedade de terra contra
os grandes latifúndios, agora nas mãos da classe dominan-
te oriental. Não é um movimento isolado do problema cen-
tral indígena neste país, que está sintetizado no problema
da terra, ainda que teóricos indigenistas façam esforços
para desviá-la para componentes puramente culturais ou
de outros tipos de reivindicações. O atual movimento
camponês está ligado à longa luta dos explorados do cam-
po para liquidar o latifúndio que sobrevive à reforma agrá-
ria “movimentista” e que se tornou a base material que
sustenta a existência de uma classe dirigente despótica
pré-histórica.
Se assim entendermos o problema, é certo que a mili-
tância que sitiava a cidade, embora inicialmente mobiliza-
da e organizada pelos limitados objetivos (que encarnam os
interesses) do governo do MAS, levavam em suas entra-
nhas, como potencial, a sua tradição (sua história é a his-
tória da luta pela ancestral posse da terra). Sobre esta

50
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

premissa se baseia a possibilidade de que o cerco poderia


levar a uma diminuição do controle político do MAS da ala
mais radical do movimento e poderia levar não só à ocupa-
ção da cidade, mas também dos latifúndios e dos grandes
empreendimentos industriais claramente identificados
como posses dos chefes cívicos e políticos da região.
Ocorreu realmente o fenômeno da rebelião das alas
mais radicais, o governo perdeu o controle sobre elas (ape-
sar das pressões exercidas contra eles) e elas continuaram
com as ações até 24 horas depois. Estes setores formados
principalmente pelos colonos exigiram tomar a cidade e
acabar definitivamente com a “Meia-Lua”.
A rebelião não teve força suficiente e esteve ausente
uma liderança capaz de dar uma clara perspectiva política,
acabou diluindo-se pela pressão da grande maioria que já
se desmobilizara e pelas suas necessidades materiais,
como os mantimentos que o governo já não garantia.
É compreensível que os colonizados se tornassem a van-
guarda da rebelião. Este setor está em constante atrito com
os grandes proprietários de terras e, por sua origem oci-
dental, desde o início, foram vítimas da arrogância dos oli-
garcas (que permanentemente dilapidam as suas posses
de terras), além da discriminação racial.
Os caciques camponeses oficialistas têm se esforçado
para encobrir os verdadeiros objetivos dos explorados com
reivindicações que interessavam ao governo para se poten-
ciar nas negociações com a “Meia-Lua”, em Cochabamba.
Aparentemente, os camponeses não foram além da exigên-
cia de respeito ao texto integral da Constituição oficialista,
exigindo a devolução dos bens do Estado, tomados pelas
hordas da “Meia-Lua”, a prisão de Leopoldo Fernadez pelo
massacre de Porvenir, etc.
Os mais recentes informes sobre estes setores radicais
indicam que existe uma sensação de frustração, para mui-
tos o fim do cerco por pressão do oficialismo foi uma trai-

51
Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

ção, embora tentassem disfarçar a manobra como uma


simples “suspensão” até 15 de Outubro.
(Extraído do “Masas” boliviano nº 2101, de 03/10/2008)

O MAS em um impasse sem saída


A limitação da política do MAS reside na sua abordagem
sobre a possibilidade de realizar grandes mudanças no
quadro do capitalismo e sujeito às leis burguesas a isso
chamou “revolução democrática e cultural”. Concebe como
“mudanças estruturais” pequenos ajustes nas atuais for-
mas de propriedade existentes, como a redução do tama-
nho dos latifúndios, sendo esta sua abordagem mais
ousada.
No entanto, consegue que grandes camadas de explora-
dos acreditem que a sua política é revolucionária e que a
Constituição do MAS é o instrumento de sua libertação. É
por isso que as chamadas “Organizações Sociais” realizam
mobilizações contra a direita em diferentes regiões do país.
Além disso, a crise política na Bolívia tem suscitado pre-
ocupação nos países membros da UNASUL, OEA, ONU,
frente à possibilidade de que as posições irredutíveis pode-
riam levar a ações armadas que terminem por desestabili-
zar a região e pôr em perigo o regime burguês. Assim,
enviaram famosos representantes para fazer o papel de “fi-
ador” das negociações que foram instaladas em Cocha-
bamba, sem que formalizasse qualquer acordo. Para estas
organizações internacionais, “a preservação da democra-
cia” significa respeito à ordem burguesa.
Neste cenário, o governo aparece como prisioneiro de
sua própria política burguesa (defesa do legalismo burguês
e da propriedade privada), das organizações sociais (a ação
direta é absolutamente ilegal), da direita que continua so-
brevivendo graças às limitações da política governamental
e da pressão internacional. Cada um destes fatores atua
para se impor no cenário e obrigar o governo a adotar atitu-

52
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

des contraditórias e muitas vezes estúpidas, atitudes que


inevitavelmente o condenam a se chocar com uns ou com
outros.
Ceder à pressão da direita, abrindo um debate sem limi-
tes sobre a Constituição do MAS, implicaria colidir com as
“suas” organizações sociais, cujos setores radicais já ame-
açam fugir da influência governamental; ceder à ação dire-
ta como o cerco ao Parlamento, fatalmente o empurraria a
colidir com a pressão internacional e a oposição de direita.
Temos de concordar que não é nada “democrático” ocupar
um dos braços do Estado. Ceder à direita no que diz respei-
to a limitar os processos dos cívicos ou expandir estes pro-
cessos para agradar os líderes das “organizações sociais”,
que também têm ocupado instituições públicas e causa-
ram mortes como em Cochabamba e Sucre, por exemplo,
significaria voltar contra si um poderoso movimento social
que o próprio governo gerou.
A única solução lógica para este impasse seria que, de
uma vez, definisse uma política coerente: ou joga no lixo as
leis burguesas e assume a ação direta das massas para
transformar radicalmente o país, ou se toma o caminho
oposto, se choca com as organizações sociais e impede
suas ações.
Pela natureza burguesa deste governo, não é difícil re-
solver o dilema colocado. O respeito pela grande proprieda-
de privada dos meios de produção, o submetimento às leis
burguesas e à pressão internacional, o empurram inevita-
velmente a se chocar com as organizações sociais mobiliza-
das. Poderá controlar alguns setores, mas há outros mais
radicais, como aconteceu no cerco de Santa Cruz, que ten-
dem a escapar ao controle do governo. Não está longe a
possibilidade de que o Estado utilize a repressão e rios de
sangue para submeter os descontrolados.
A forma como as negociações terminaram em Cocha-
bamba mostra que a única coisa que fez foi mover o con-

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

fronto para o parlamento. A “Meia-Lua” e a direita como um


todo, entrincheirados em sua “maioria do Senado”, conti-
nuará sobrevivendo e as “organizações sociais” não terão
outro caminho senão ocupar o Legislativo com um custo
político muito elevado para o governo frente à opinião de
seus aliados internacionais. Então continuará a disputa
sobre se a futura convocatória para o referendo resolutivo é
legal, ou ilegal.
Em suma, o governo é uma vítima da sua política incoe-
rente e contraproducente.
(Extraído do Masas Boliviano nº 2102, de 09/10/2008)

Basta de Enganos:
Marchemos Para a Libertação de Nosso Povo
Vamos pôr as coisas em seu lugar: nós revolucionários e
explorados somos contra o capitalismo degenerado que ca-
usa todos os nossos males em nossa casa e no país. O pro-
blema é: como liquidamos o capitalismo em decomposição?
A prática, a experiência histórica e a teoria revolucionária
baseada na ciência social nos ensinaram que, para liquidar
o capitalismo (uma espécie de vampiro que se alimenta do
sangue dos explorados), temos de atacar seu coração, e o
coração desse vampiro é a grande propriedade privada dos
meios de produção.
A diferença fundamental entre os revolucionários e o
MAS - que diz ser antiimperialista e fala da “revolução de-
mocrática” - é que nós revolucionários orientamos toda
nossa luta e a dos explorados na perspectiva de enfiar a es-
taca da revolução no coração desse vampiro e sobre seu ca-
dáver converter a grande propriedade privada das fábricas,
latifúndios, dos bancos etc. (meios de produção hoje nas
mãos da burguesia, fonte de toda a exploração e corrup-
ção), em propriedade social.
Pelo contrário, a estupidez histórica de pretender refor-
mar o capitalismo corrompido, embonecando seus cabelos

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Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

e unhas, fazendo manicure no inimigo, deixando intacto


seu coração (e mais, com o capitalismo andino do impostor
Limeira) é a política do MAS. O pior é que esta política con-
duz as massas exploradas ao matadouro.
Os masistas que dirigem hoje os “movimentos sociais”
(eufemismo com o qual designam os setores populares não
proletários) não são revolucionários, são cabeleireiros e
manicures do capitalismo (pintado de vermelho). Com dis-
cursos de radicalidade sobre unhas e cabelos, mas são os
mais fiéis defensores do coração do chupa-sangue (a gran-
de propriedade privada dos meios de produção), a isso os
falsários chamam de que a “processo de mudanças”.
A verdadeira luta contra o coração do capitalismo será
dada pelos explorados e revolucionários nos campos, nas
ruas, nas estradas: os camponeses, para conquistar toda a
terra cultivável; os desempregados, por trabalho, impondo
a escala móvel das horas de trabalho; os estudantes, por
unir a teoria à prática na produção social; operários e pro-
fessores, pelo salário mínimo vital com escala móvel; e to-
dos para que as minas, o petróleo e o ferro, as
matérias-primas naturais, estejam verdadeiramente nas
mãos de um governo operário e camponês. Esta é a política
revolucionária que deve guiar a luta dos explorados bolivia-
nos.
A falsa guerra entre o governo do MAS e os cívicos fas-
cistas não toca no coração do problema. A burguesia deca-
dente (expressada na “Meia-Lua”), não quer nem que se lhe
cortem as unhas (de ratazanas), nem o cabelo (de degene-
rado). Os masistas, enganando as massas, estão empenha-
dos nesta estúpida tarefa.
Nossa melhor homenagem aos explorados sacrificados
na guerra dos masistas e cívicos: gritar esta verdade aos
quatro ventos
Nem fascismo da Meia-Lua, nem o reformismo de ma-
quiadores, revolução operária e camponesa!

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

Morra a mentira e o engano do governo capitalista. Viva


a revolução proletária!
(Extraído do “Masas” boliviano nº 2099, de 19/09/2008)

Tanto o Governo como a “Meia-Lua” temem


a rebelião dos explorados
A direita reacionária impõe um regime de terror para
manter os famintos disciplinados, utilizando para isso os
bandos armados de facínoras e contratando mercenários.
A tomada das instituições do Estado foi executada por essa
gente, que tem carta branca para assaltar e roubar. Por
exemplo, em Santa Cruz, a população vive aterrorizada
buscando uma forma de salvar a pele da ação dos vândalos
da União Juvenil Cruzenha.
A conspiração direitista (que sem nenhuma dissimula-
ção mostra seu rosto fascista carregado de ódio racista) é
expressão do pânico na mentalidade despótica e primitiva
da burguesia latifundiária da “Meia-Lua” frente ao perigo
latente de que as massas exploradas (passando por cima
do reformismo) assumam elas próprias a luta pela terra.
O massacre dos camponeses em Pando é a prova con-
tundente do conteúdo bárbaro da política das autonomias
que pretendem impor em suas regiões para se erigirem
como déspotas indiscutíveis, donos das terras e das vidas.
Por seu lado, o governo em sua queda de braços com a
“Meia-Lua” utiliza os “movimentos sociais” (mas sem ar-
má-los) somente para ameaçar. Não vai além das posturas
demagógicas, recriminando acremente as massas que
saem em seu apoio ao menor excesso que cometem. O Mi-
nistro do Interior acusou membros do “Comitê Cívico Po-
pular” de El Alto, que ameaçaram alguns repórteres da
imprensa burguesa e arrancaram alguns letreiros das
agências de bancos consideradas da “Meia-Lua”, de serem
uns “provocadores iguais aos da União Juvenil Cruzenha”.
Na Frente de Trabalho Três Mil, os explorados fizeram

56
Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

um esforço para se organizar sem nenhuma ajuda do MAS


e de seu governo. Uma de suas representantes, em um fax
ao Governador de Cochabamba, assinala que se sentem
abandonados pelo governo e que estão lutando por sua so-
brevivência.
Teve que ocorrer o massacre de Porvenir, em Pando,
contra os camponeses, com mais de 30 mortos executados
pelos grupos do poder regional, para que tardiamente o go-
verno covarde decretasse o Estado de Sítio nessa cidade,
procurando controlar a situação.
Os explorados começam a percorrer seu próprio cami-
nho, passando por cima dos controles do governo e da clas-
se dominante oriental. Quando escrevíamos estas linhas,
setores dos cocaleiros e dos colonizadores assumiam atitu-
des radicais, tomando a iniciativa de cercar a cidade de
Santa Cruz e de marchar sobre ela para ajustarem contas
com os fascistas. O governo se encarregará de frear estas
ações em nome do diálogo que já está em marcha para con-
ciliar posições com os fascistas.
Se a situação chegar ao nível das massas passarem por
cima dos diques de contenção do governo, salta imediata-
mente ao primeiro plano o problema de fundo, o enfrenta-
mento da pequena propriedade contra o latifúndio.
Chegado este momento, nem governo, nem cívicos poderão
parar a fúria dos explorados, que podem marchar até a
completa destruição do latifúndio.
No marco da políticagem burguesa, cívicos e governan-
tes estão interessados em defender a grande propriedade
privada e, nesta medida, constitui-se um perigo a rebelião
dos pequenos proprietários e dos despossuídos de toda for-
ma de propriedade contra os interesses dos grupos de po-
der do Oriente. Essa é a causa material do “Por Que ?”
governantes e opositores de direita estão obrigados a preci-
pitar uma saída de acordo e “democrática” ao atual confli-
to. O objetivo central é impedir que os explorados atuem

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

fora do controle da políticagem burguesa em seu conjunto


e terminem fazendo estragos na grande propriedade priva-
da da terra, hoje nas mãos de latifundiários, pecuaristas e
produtores industriais.
(Extraído do “Masas” boliviano nº 2099, de 19/09/2008)

Só a luta revolucionária das massas


mandará para a lata do lixo a luta
inter-burguesa
A luta que se dá na atualidade é pelo controle dos recur-
sos econômicos pelo Estado, a propriedade privada dos
empresários nativos e estrangeiros está absolutamente ga-
rantida. A “Meia-Lua” expressa os interesses de parte do
empresariado nacional boliviano que sempre mamou nos
recursos do Estado. Para não perder totalmente o controle
desses recursos, entrincheirou-se nos governos departa-
mentais. A nova distribuição dos recursos, segundo o índi-
ce do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), sem
dúvida os afeta e não podem deixar que o governo imponha
essa distribuição. Quanto à nova Constituição, o que mais
os preocupa é o regime das Autonomias que atribui ao go-
verno nacional a descentralização dos recursos para as
províncias. Além dessa, existe a questão da terra, cujas
medidas do governo são tímidas, mas o suficiente para
exaltar os latifundiários.

As reformas do MAS em nenhum momento


colocam acabar com propriedade
Dessa forma, os dois bandos se enfrentam a cada ins-
tante, em alguns momentos pela farsa “democrática” dos
referendos e eleições e em outros pela violência. Os cívicos
são os mais atrevidos no uso da força. Nesta luta in-
ter-burguesa, os cívicos têm mais vantagens já que estão
respaldados pelo regime de propriedade.
Os fatos diários constatam que existe uma tendência

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Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

das massas a se tornarem independentes do governo refor-


mista pró-burguês do MAS, não se deslocando para a direi-
ta. Isso é demonstrado nas manifestações dos mineiros e
dos professores urbanos e rurais, estes últimos, até bem
pouco tempo, eram muito próximos do MAS.
O principal obstáculo para a via revolucionária das
massas é o próprio MAS. Pois, quando a direita
pré-histórica ataca o governo, ou golpeia os trabalhadores
mais humildes, faz paralisações etc., acaba na realidade
potenciando o governo.
Quando acabará essa luta? Enquanto o proletariado e
as massas não atacarem o regime da propriedade privada e
porem em perigo o Estado atual (para dar lugar a um Esta-
do Operário), a luta continuará por um motivo ou outro, de
uma forma ou outra. A ameaça da revolução proletária
obrigará os bandos a se unirem, como aconteceu em 1971,
quando a Assembléia Popular obrigou os emenerristras
(militantes do MNR, partido nacionalista burguês) e os fa-
langistas (militantes da Falange Socialista Boliviana, direi-
ta) a fazer um bloco contra-revolucionário, chamado
Frente Popular Nacionalista, na direção da qual foi coloca-
do o gorila Banzer.
A tendência atual é que os setores populares, e entre
eles o proletariado, ganhem paulatinamente as ruas para
exigir suas reivindicações. Se o proletariado politicamente
organizado tomar a direção, então a luta inter-burguesa
será jogada à margem do caminho.
(Extraído do “Masas” boliviano nº 2099, de 19/09/2008)

Expulsão do embaixador ianque


A relação de domínio do imperialismo sobre os países ca-
pitalistas atrasados é uma relação econômica. O capital fi-
nanceiro determinou e determina nossa condição de país
capitalista atrasado, provedor de matérias-primas (minera-
is, gás natural etc.) para o mercado mundial, subordinada

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

aos interesses das nações imperialistas.


O antiimperialismo revolucionário é inseparável da luta
pela revolução social, que sepulte a burguesia nativa e se
projete internacionalmente para sepultar o capitalismo.

Até onde vai o anti-imperialismo do governo?


Quando o conflito com a meia-lua estava mais intenso,
na véspera do massacre de Porvenir (Pando), o governo fez
o anúncio espetacular da expulsão do embaixador ianque
do país, com argumentos de que este diplomata conspirava
contra o governo boliviano junto à oposição de direita, me-
dida que foi acompanhada pela Venezuela e que gerou uma
cadeia de apoios em outros países do continente.
O problema é saber até onde chega o suposto an-
ti-imperialismo do governo. É uma besteira acusar o emba-
ixador de conspirador, como se fosse uma atitude
absolutamente pessoal do diplomata. Não devemos esque-
cer que o gringo é uma peça a mais na imensa maquinaria
diplomática do imperialismo. Se seu representante conspi-
ra contra o governo de Evo Morales, é de se esperar que o
faça no marco da política diplomática oficial de Washing-
ton. Se for assim, porque o governo boliviano não rompe re-
lações diplomáticas com os Estados Unidos. Essa seria
uma política coerentemente antiimperialista; mas o gover-
no, através de Choquehuanca, faz esforços para mostrar
que expulsar o embaixador não significa uma ruptura com
a potência do norte, posição que mostra a política dirigida
pelo governo frente ao imperialismo. Como tudo na política
burguesa reformista do governo, a expulsão de embaixador
Goldberg não passa de uma pose antiimperialista e nada
mais.
Não existe dúvida, a resposta do imperialismo às bestei-
ras do governo boliviano dependerá muito do momento ele-
itoral em que estão vivendo os ianques. Os candidatos de
ambos os setores já responderam sobre o assunto e Oba-

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Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

ma, supostamente o menos duro, assinalou que o que


ocorre na América do Sul é conseqüência da equivocada
política internacional republicana, que tem provocado para
os Estados Unidos a perda da liderança no continente e
que seu governo restabelecerá a autoridade da potência
imperialista entre satélites de seu quintal.
A experiência das birras dos governos nacionalistas de
conteúdo burguês contra o imperialismo se mostra conclu-
siva, que seu famoso antiimperialismo acaba no real aco-
modamento de suas relações políticas e comerciais.
Buscando, no melhor dos casos, conseguir alguma peque-
na vantagem.
Só a política revolucionária do proletariado poderá colo-
car uma verdadeira política antiimperialista, que leve à efe-
tiva expulsão do imperialismo do país, de seus tentáculos
que são as multinacionais e a expropriação de seus investi-
mentos. As bravatas demagógicas de Evo Morales e de seu
governo não chegarão a este ponto.
(Extraído do “Masas” boliviano nº 2099, de 19/09/2008)

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Anexo:
Resolução sobre a Bolívia
9º Congresso do POR-Argentina

1.O Congresso do POR da Argentina reivindica a linha


de intervenção do POR da Bolívia na crise, linha que se ba-
seia na independência política do proletariado.
2.Os referendos, as eleições e as constituintes são ar-
madilhas que preparam o terreno para a conciliação entre
o governo massista e a direita da chamada “Meia Lua”, des-
tinados a conter e derrotar o movimento de massas.
3.Existe uma unidade de princípios entre o governo do
MAS e a direita: a defesa da propriedade privada capitalis-
ta, base do atraso e da miséria.
4.Não é com o estado de sítio, nem com a repressão mili-
tar, nem com a Constituição que se derrotará a direita. Mas
sim ocupando os latifúndios, as minas, as jazidas, expro-
priando-os, atacando sua base material e transforman-
do-os em propriedade social. É armando as massas para
derrotar a direita fascista, racista.

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Partido Operário Revolucionário - Brasil / Bolívia / Argentina

5.A direção da COB tem abandonado todas as reivindi-


cações dos trabalhadores e abandonado toda política inde-
pendente, somando-se ao comando político do Governo. A
burocracia corrupta da COB não deve ser chamada a diri-
gir nenhum processo de rebelião e centralização das lutas,
devem ser expulsos por serem traidores.
6.Os revolucionários se colocam no terreno das resolu-
ções da Federação dos Trabalhadores da Educação Urbana
de La Paz, da COD de Chiquisaca, da COD de Oruro e ou-
tras organizações operárias que repudiam o acordo de cú-
pula da COB com a CONALCAM. A COB deve recuperar
suas teses programáticas principistas, que são tradição do
movimento operário boliviano.
7.Repudiamos o massacre de Pando e todas as atrocida-
des cometidas pela direita e repudiamos também a matan-
ça de dois mineiros de Huanuni pelo governo do MAS,
ocorrida no bloqueio de Kaihuasi em 5 de agosto, dois dias
antes do referendo. Repudiamos a perseguição aos profes-
sores poristas de Cochabamba e as ameaças contínuas aos
militantes trotskistas.
8.A direita, encurralada pela mobilização das bases,
pelo repúdio ao massacre de Pando, isolada internacional-
mente, cercada em Santa Cruz, não foi derrotada pela deci-
são política do governo do MAS, que vem sendo sustentado
por governos burgueses da América Latina. Evo Morales
age sobre o terreno do terreno do diálogo, do consenso e de
novas concessões feitas à direita no âmbito da nova Consti-
tuição.
9.Os movimentos sociais se dirigiam instintivamente
com sua ação direta para esmagar as bases da direita. O
MAS procurou orientar essas ações para a exigência de um
novo referendo, frustrando os setores mais radicais.
10.A política de “defesa da democracia e do governo de
Evo” é contrária à política da classe operária. O governo
Evo é um governo burguês submetido ao imperialismo que

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Avança a crise na Bolívia: Evo se mostra incapaz de enfrentar a direita

defende insistentemente, em todos os terrenos, o regime da


propriedade privada.
11.Chamamos todos os revolucionários a difundir e de-
fender a política dos revolucionários que atuam na Bolívia,
solidarizando-nos efetivamente com eles. Não há que cons-
truir nenhum “instrumento” ou “ferramenta” partidária,
destinada a bloquear o trabalho dos revolucionários embe-
lezando os burocratas de todo tipo que continuam negando
a luta pelas reivindicações sociais.
12. Os auto-proclamamos trotskistas argentinos man-
têm uma atitude miserável diante da luta de classe na Bolí-
via, ocultando ou deformando as posições do POR.
Aliam-se a setores burocráticos, embelezam a direção da
COB, chamam a formar organizações políticas sob estraté-
gia alheia à trotskista, chamam a votar em Evo no referen-
do (PO), apesar da repressão sangrenta do governo contra
os mineiros.
13.A política dos revolucionários é a revolução social
que instaure o governo operário e camponês, varrendo toda
mancha da direita, as multinacionais, pondo fim à proprie-
dade privada dos meios de produção, expressando as ten-
dências mais profundas que se abrigam nas massas, que
há tempo se manifestam em rebelião contra toda forma de
dominação.

Somente a classe operária pode dirigir os camponeses à


vitória, armados sob a estratégia da revolução e ditadura
proletárias, somente defendida pelo POR da Bolívia

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