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O documento discute como a desigualdade de gênero afeta a representação política, participação e construção de políticas inclusivas de três maneiras: 1) reduz a representação feminina nos espaços de decisão política; 2) limita o debate público ao perpetuar a dominação masculina na mídia; 3) dificulta a autonomia das mulheres na formulação de preferências políticas devido à socialização de papéis de gênero.
O documento discute como a desigualdade de gênero afeta a representação política, participação e construção de políticas inclusivas de três maneiras: 1) reduz a representação feminina nos espaços de decisão política; 2) limita o debate público ao perpetuar a dominação masculina na mídia; 3) dificulta a autonomia das mulheres na formulação de preferências políticas devido à socialização de papéis de gênero.
O documento discute como a desigualdade de gênero afeta a representação política, participação e construção de políticas inclusivas de três maneiras: 1) reduz a representação feminina nos espaços de decisão política; 2) limita o debate público ao perpetuar a dominação masculina na mídia; 3) dificulta a autonomia das mulheres na formulação de preferências políticas devido à socialização de papéis de gênero.
Desigualdade de gnero: representao, participao e excluso poltica
Gustavo Henrique Serafim Frana graduando no curso de Cincia Poltica da
Universidade de Braslia - UnB RESUMO: O presente texto visa elucidar o impacto da desigualdade de gnero nas trs esferas de representao poltica, entendidas por Luis Felipe Miguel, na participao e na construo de uma poltica inclusiva. Palavras-chave: desigualdades; gnero; representao;participao. ABSTRACT: The following text intents to elucidate the impact of gender inequality in the three political representation spheres, understood by Luis Felipe Miguel, in the participation and in the construction of an inclusive policy. Keywords: inequalitys; gender; representation; participation. A desigualdade de gnero, ou dominao masculina, opera das mais diversas formas no tecido social. demonstrada historicamente no s pela ausncia formal de uma srie de direitos ao gnero feminino- a exemplo do direito ao sufrgio-, mas tambm pela submisso feminina na esfera domstica e nas relaes interpressoais- na famlia, na poltica, na escola, no trabalho-, essas bem menos explcitas, que implicam na sua excluso esfera pblica (MIGUEL; BIROLI. 2013. p.2-6). Levando-se em conta tais mbitos de dominao masculina, principalmente a da excluso esfera pblica, h algumas consequncias dessa forma de desigualdade sobre a teoria poltica em geral. Uma delas diz respeito s fronteiras da poltica, nas quais o feminismo coloca em cheque uma esfera pblica limitante, caracterstica do iderio liberal, explicitando o carter tambm conflitivo- logo, poltico- da esfera privada (MIGUEL; BIROLI. 2013. p.8-12). Alude, assim, a anlise foucaultiana de que as relaes de poder permeiam todas as esferas, problematizando a diviso arbitrria entre pblico e privado. Com a problematizao desse tipo de esfera pblico-privada, surgem reflexos tambm no entendimento da dinmica poltica, mais especificamente no que tange a representao e participao. Para analisar o tocante a representao poltica de forma a compreender a plenitude desse fenmeno, necessrio que se compreenda as vrias faces abrangidas por ele. Segundo Luis Felipe Miguel(2003), a representao poltica ampliada abarca trs dimenses: o processo decisrio institucional delegado outros, mais conhecido dos trs- primeira dimenso; o debate pblico, determinante da agenda pblica, tambm entendido como agenda-setting, cujos representantes so os meios de comunicao diversos- segunda dimenso; a formulao das preferncias dos grupos envolvidos, que os guiaro- terceira dimenso. E mesmo entendidas separadamente, devem ser vistas de maneira encadeada (MIGUEL. 2003 p. 131-134). Primordialmente, tomando o horizonte analtico da primeira dimenso, passvel de se perceber a reproduo dessa desigualdade na esfera pblica institucional. Para tal, pressupe-se que a representao descritiva- concebida por Hanna Pitkin como aquela que um espelho dos indivduos verificados no microcosmo sobreposto ao macrocosmo de forma proporcional (MIGUEL. 2003. P. 130)- apresenta uma potencialidade maior de que o representante venha a defender os interesses do grupo que representa, pois compartilham de perspectivas sociais semelhantes- conceito formulado por Iris Marion Young, o qual entendido como juzos que emanam de um posio ocupada no processo social. Ou seja, as mulheres esto sujeitas a experincias prprias de vida, das quais homens no comungam, sendo uma dessas a opresso masculina nas diversas esferas da sociedade. , portanto, mais possvel que o gnero feminino venha a defender os interesses do grupo a que pertence, ou ao menos mitigar a subordinao feminina (MIGUEL; BIROLI. 2013. P. 24). Segundo essa concepo surgem as anlises empricas que apresentam a existncia de uma desigualdade de gnero, tal qual a que existe em outras esferas da sociedade, em que a representao feminina nos espaos institucionais decisrios- seguindo a noo descritiva, ou seja, de presena de mulheres nesses ambientes- demasiadamente dspar daquilo que verificado na sociedade. Logo, nas sociedades em que opera a submisso feminina, percebe-se que a atividade poltica profissional delegada de forma dominante ao homem. No Brasil, por exemplo, a situao uma das mais graves: a despeito da legislao de cotas para candidaturas- que estabelece um mnimo de 30% e mximo de 70% para cada sexo-, o pas se encontra em 118 lugar do ranking mundial de representao feminina, tendo apenas 8,6% de mulheres na Cmara dos Deputados Federal e 13% no Senado(IPU; 2013). Dessa forma, essa desigualdade mina a defesa dos interesses femininos nos espaos de deliberao pblica. Atrelada de forma subsequente a essa faceta da representao, h a referente ao agenda-setting. Para compreend-la, necessrio que se retome o entendimento foucaultiano de que as relaes de poder perpassam por todas os espaos da sociedade, e nisto esto incluso os meios de comunicao, representantes do debate pblico. Disso e ciente de que esses meios de produo de informao no so distribudos de forma igualitria entre o pluralismo social, subentende-se que a dominao masculina tambm operar neles, reduzindo a probabilidade de asceno de um pluralismo poltico que a conteste. A ltima face de representao, a formulao de preferncias encadeada a partir, principalmente, do debate pblico. Contudo, a desigualdade de gnero apresenta uma srie de especificidades maneira como se d a construo dessas preferncias, cujas fontes do se na vida cotidiana. Para compreender melhor a formulao de preferncias, Cass Sunstein (2009) prope, a partir da compreenso de que as preferncias so mutveis e endgenas, a valorao da autonomia nesse mbito para que se concretize um regime democrtico, segundo princpios liberais. Dessa forma, esse conceito de autonomia refere-se a: decises alcanadas com uma percepo plena e vvida de oportunidades disponveis, com referncia a toda informao relevante, e sem limitaes ilegtimas ou excessivas no processo de formao de preferncias. Quando essas condies no se do, as decises devem ser descritas como no livres ou no autnomas; por essa razo difcil identificar autonomia com satisfao de preferncias. [...] argumentos baseados na autonomia sublinham o que acontece antes da criao de preferncias, isto , as condies que lhes deram surgimento. (SUNSTEIN. 2009. P. 227). Focar nas condies iniciais injustas, sob as quais se do a cosntruo dessas preferncias, permite clarear o impacto das especificidades da dominao masculina sobre a autonomia das mulheres. Os mecanismos de subordinao feminina aos homens, sendo atualmente mais interpessoais que deliberadamente institucionalizados, acabam por naturalizar-se s mulheres nos mais diversos ambientes de socializao: a posio quase automtica de trabalhadora domstica na diviso sexual do trabalho, as fazem ter uma dupla jornada de trabalho- sendo uma delas no remuneradas-, o que as restringem de ter posse a recursos materiais prprios e de ter tempo para outras atividades que no sejam domsticas- como por exemplo, a poltica. Ou mesmo a situao de sujeita violncia domstica e sexual, que diminui seu reconhecimento social (MIGUEL; BIROLI. 2013. P. 11;28;). Essa internalizao de sua perspectiva socialmente construda enquanto mulher ao seu papel reproduzido incessantemente diminui a capacidade de acesso a recursos, sejam materiais ou simblicos. Portanto, impe limitaes a percepo de toda informao relevante a construo de seus juzos coletivos, constrangendo o potencial autnomo das mulheres. Alm das consequncias dessas espeficidades ao incidirem ao longo da terceira face da representao, h um efeito tambm sobre a participao poltica no momento em que percebida a realidade da dinmica poltica. Albert Hirschman (1993) coloca vrias possibilidades de decepo com a participao nas aes pblicas e consequente afastamento dela, dentre as quais so destacadas a percepo da srie de empecilhos que colocam de forma recorrente os resultados aqum das expectativas iniciais- as quais eram superestimadas- e a subestimao a respeito do tempo necessrio a ao de interesse pblico (HIRSCHMAN. 1993. P. 102-107). Diante desses pontos de decepo com a participao poltica, torna-se claro que um dos fatores cruciais que explicam o por qu de as mulheres no participarem so as dificuldades possveis de serem enfrentadas nesse processo, como as sucessivas dominaes masculinas citadas anteriormente que existem em todos os espaos, e os resultados alcanveis, que constituem um desincentivo a tomar parte na ao coletiva. Dessas dominaes, particularmente a que articula uma dupla jornada de trabalho s mulheres, devido a larga quantidade de tempo demandado, opera impossibilitando a participao delas em aes coletivas- as quais, como dito por Hirschman acima, tambm requerem tempo em demasia. E sabendo que uma boa representao poltica depende de uma participao para que haja um mnimo de accountability- tratado por Hanna Pitkin(MIGUEL. 2003. P. 131)-, o ciclo de precarizao da incluso das mulheres na dinmica poltica se fecha. A desigualdade de gnero, envolvendo as trs faces de representao poltica e a participao, assim como as outras desigualdades sociais- de classe e de raa- fazem-se presentes em todo o continuum entre Sociedade Civil, vista como arena poltica mais cultural, na qual esto presentes os mecanismos de hierarquizao mais interpessoais- logo aspecto importante na construo de hegemonias gramscinianas-, e Estado, lado mais institucional da luta poltica. Assim, tem-se que no campo da construo de hegemonias fora edificada a partir das desigualdades sociais uma cultura de autoritarismo social no Brasil, o qual descamba no no reconhecimento desses indivduos como portadores de direitos no seio de parte da Sociedade Civil, marginalizando-os (DAGNINO. 2000. P.66-72; 82). Esse autoritarismo social retira os grupos subalternos do espao da nova cidadania- entendido como um direito substancial, no simplesmente formal, a ter direitos, bem como a participao na dinmica poltica por parte desses grupos na definio de como ele funciona. As desigualdades sociais operariam, portanto, de modo a fomentar no uma poltica inclusiva, mas uma poltica que exclui grupos sociais dela vtimas (DAGNINO. 2000. P. 82;86-89). Elas impedem, ento, a expresso do pluralismo poltico pleno, pois iviabiliza a presena de grupos que so agentes polticos potencialmente relevantes- contrapondo o pluralismo liberal padro, que afirma que os grupos polticos j esto constitudos de forma atuante-, impedindo a visibilidade de um possvel conflito poltico (MIGUEL. 2003. P. 135). REFERNCIA BIBLIOGRFICA: DAGNINO, Evelina. Cultura, cidadania e democracia: a transformao dos discursos e prticas na esquerda latino-americana. In: ALVAREZ, Sonia; DAGNINO; Evelina; ESCOBAR, Arturo (orgs.). Cultura e poltica nos movimentos sociais latino- americanos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000. HIRSCHMAN, Albert O. De consumidor a cidado: atividades privadas e participao na vida pblica. So Paulo: Brasiliense, 1993. pp. 84-129. INTER-PARLIAMENTARY UNION. Disponvel em: http://www.ipu.org/wmn- e/arc/classif011213.htm . Acesso em 3.fev.2014. MIGUEL, Luis Felipe. Representao Poltica em 3-D: elementos para uma teoria ampliada da representao poltica. Revista Brasileira de Cincias Sociais, vol.18, n 51, 2003. pp. 123-140. MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Flvia. Teoria poltica feminista, hoje (introduo). MIGUEL, Luis Felipe; BIROLI, Flvia (orgs.). Teoria poltica feminista: textos centrais. Vinhedo: Horizonte, 2013. SUNSTEIN, Cass. Preferncias e poltica. Revista Brasileira de Cincia Poltica, n. 1, 2009, pp. 219-254.