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Introdução
Neste estudo, iremos procurar entender a questão que envolve o termo “Livre-
arbítrio”.
Trata-se de um tema que trouxe grande discussão durante alguns períodos da
História. O entendimento diferente acerca deste tema, ou seja a defesa da existência de um
“livre-arbítrio” ou a sua negação, tem divido pessoas até hoje.
Mas, afinal temos ou não temos livre-arbítrio? É isto mesmo que iremos verificar,
não só analisando as posições teológicas acerca do assunto, mas, buscando luz da Bíblia
para clarear nosso entendimento.
Antes de mais nada precisamos definir o que seja esse tal “Livre-arbítrio”:
1. Livre-arbítrio
“Livre-arbítrio”, tem sido definido, como a capacidade dada ao homem, por
ocasião de sua criação, para escolher entre o bem e o mal, entre agradar a Deus ou
desobedecê-Lo. Seria o “livre poder de eleger o bem ou o mal”.2
Héber Carlos de Campos também a define como tendo sido a capacidade que o
homem teve, “de escolher as coisas que combinavam com a sua natureza santa, mas que,
mutavelmente, pudesse escolher aquilo que era contrário à sua natureza santa”.3
Vejam que tais definições, estão de acordo com o que prescreve a nossa
Confissão de Fé:
O homem em seu estado de inocência , tinha a liberdade e o poder de querer e
fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte que
pudesse decair dessa liberdade e poder.4
1
Estudo apresentado na 2ª Igreja Presbiteriana de Juiz de Fora em 29/03/2003.
2
Juan Calvino, Breve Instruccion Cristiana, Felire, Barcelona, pg. 13.
3
Héber Carlos de Campos, Antropologia Bíblica, Apostila, JMC, São Paulo, pg.9.
CFW, IX, II.
4
2
O homem é livre para escolher, sendo que nada externamente pode forçar suas
escolhas. Isto é essencial no homem, faz parte da sua criação a imagem e semelhança de
Deus. “À parte dela, não pode haver qualquer responsabilidade, confiança ou planejamento.
À parte dela, não pode haver educação, religião ou adoração. À parte dela, não pode haver
qualquer arte, ciência ou cultura. A capacidade de escolher é uma condição sine qua non de
toda a vida humana”.8
A definição de Campos sobre este assunto é também esclarecedora:
Livre Agência, por outro lado, poderia ser definida como a capacidade que todos
os seres racionais têm de agir espontaneamente, sem serem coagidos de fora, a
caminharem para qualquer lado, fazendo o que querem e o que lhes agrada,
sendo, contudo, levados a fazer aquilo que combina com a natureza deles.9
Portanto, para que haja responsabilidade, não é necessário que haja o poder de
escolha contrária, mas sim, que haja o poder de auto-determinação, que a ação
seja nascida nas inclinações do ser racional.10
5
Anthony Hoekema , Criados a Imagem de Deus, CEP, São Paulo, 1999, pg. 252.
6
CFW, IX, I.
7
A. A. Hodge, Confissão de Fé de Westminster Comentada, Os Puritanos, 1999, pg. 220.
8
Hoekema, pg. 253.
9
Campos, pg. 10.
10
Idem.
3
Pelo que ficou demonstrado, em qualquer época o homem é livre para agir
conforme sua condição, sua natureza, ou seja, ele sempre faz o que quer conforme a sua
inclinação.
11
Hoekema, pg. 255.
12
Citado por Hoekema, pg. 255.
13
O nome “arminiano”, se aplica aos seguidores de James Arminius (um professor de seminário holandês), que, em 1610
apresentaram um protesto ao “Estado da Holanda”, “um ano após a morte de seu líder. O protesto consistia de ‘cinco
artigos de fé’, baseados nos ensinos de Armínio, e ficou conhecido na história como a ‘Remonstrance’, ou seja, ‘O
Protesto’. O partido arminiano insistia que os símbolos oficiais de doutrina das Igrejas da Holanda (Confissão Belga e
Catecismo de Heidelberg) fossem mudados para se conformar com os pontos de vista doutrinários contidos no Protesto. As
doutrinas às quais os arminianos fizeram objeção eram as relacionadas com a soberania divina, a inabilidade humana, a
eleição incondicional ou predestinação, a redenção particular (ou expiação limitada), a graça irresistível (chamada eficaz) e
a perseverança dos santos. Essas são doutrinas ensinadas nesses símbolos da Igreja Holandesa, e os arminianos queriam
que elas fossem revistas.” Estas informações forma citadas da tradução livre e adaptada do livro The Five Points of
Calvinism - Defined, Defended, Documented, de David N. Steele e Curtis C. Thomas, Partes I e II, [Presbyterian &
Reformed Publishing Co, Phillipsburg, NJ, USA.], feita por João Alves dos Santos.
4
Embora a natureza humana tenha sido seriamente afetada pela queda, o homem
não ficou reduzido a um estado de incapacidade total. Deus, graciosamente,
capacita todo e qualquer pecador a arrepender-se e crer, mas o faz sem interferir
na liberdade do homem. Todo pecador possui uma vontade livre (livre arbítrio), e
seu destino eterno depende do modo como ele usa esse livre arbítrio. A liberdade
do homem consiste em sua habilidade de escolher entre o bem e o mal, em
assuntos espirituais. Sua vontade não está escravizada pela sua natureza
pecaminosa.. O pecador tem o poder de cooperar com o Espírito de Deus e ser
regenerado ou resistir à graça de Deus e perecer. O pecador perdido precisa da
assistência do Espírito, mas não precisa ser regenerado pelo Espírito antes de
poder crer, pois a fé é um ato deliberado do homem e precede o novo
nascimento. A fé é o dom do pecador a Deus, é a contribuição do homem para a
salvação.14
Os calvinistas neste sentido, seguem os ensinos de Agostinho, que por sua vez
combateu os ensinamentos de Pelágio. Agostinho ensinou que quando os seres humanos
“pecaram, embora não perdessem a sua capacidade de fazer escolhas, perderam a sua
capacidade de servir a Deus sem o pecado – em outras palavras, a sua verdadeira
liberdade. O homem tornou-se, então, um escarvo do pecado; ele passou ao estado de ‘não
ser capaz de não pecar’ (non posse non peccare).”17
14
Idem.
15
Louis Berkhof, A História das Doutrinas Cristãs, PES, São Paulo, pg. 120.
16
A formulação de tais idéias, foram apresentadas pelos calvinistas combatendo as idéias arminianas, apresentas no
protesto ao Estado da Holanda. Tais idéias fazem parte do conhecido, “Os Cinco Pontos do Calvinismo”.
17
Hoekema, pg. 255.
5
O homem, após a queda não possui mais o livre-arbítrio, não pode mais escolher
algo que é contrário a sua natureza pecaminosa. Ele está morto, cego, é escravo do pecado.
Esta doutrina defendida pelos calvinistas, pelos reformados, que por sua vez é
negada pelos arminianos, não se trata apenas de uma posição teológica diferente, e sim de
afirmação bíblica. Nega-la é o mesmo que renunciar a Palavra de Deus neste assunto.
São inúmeros os textos que afirmam tal verdade, falando que o homem está
incapacitado totalmente de atender ao convite de salvação, de atender as exigências
divinas. Isto acontece por seu próprio pecado, por sua própria inclinação e desejo. À parte
da graça de Deus o homem, por sua própria iniciativa não pode salvar-se, ou escolher isto.
Vejamos textos que servem de base para a doutrina calvinista:
1. O homem está morto, incapaz de qualquer bem, precisando da intervenção
divina: Jr 13.23; Ef. 2.1-10; Rm 3.9-18, 23; Cl 2.13; Tt 3.3-5.
2. O homem não consegue ir até Jesus, senão com a ajuda somente de Deus: Jo
6.44, 65; Rm 9.16.
3. O homem precisa nascer de novo, contudo, isto só aconteça através da
atuação do Espírito Santo, que age soberanamente: Jo 3.1-15.
4. O homem não pode compreender as coisas espirituais, senão pelo Espírito: I
Co 2.14-16.
5. A Bíblia declara que o homem está cego, é escarvo do pecado. Não pode
fazer outra coisa senão pecar, a não ser que Deus mude seu estado: Ef. 4.18;
Jo 8.31-36; Jo 9.35-41; Rm 6.15-23; 2 Tm 2.26.
6. O homem não pode apresentar um fruto diferente daquilo que ele é: Mt 7.16-
18; Tg 1.16-18.
18
CFW, IX, III.
19
Citação extraída de Paulo Anglada, As Doutrinas da Graça, Puritanos, 2000, pg. 17.
6
Percebam que, afirmar que o homem tem o livre-arbítrio, é o mesmo que ignorar
tais textos da Bíblia.
É importante enfatizar que, o homem mesmo neste estado, continua ser um
agente livre, ou seja, ele exerce “a livre agência”. Isto quer dizer que continua a fazer as
suas escolhas, contudo, não escolhe nada que seja contrário a sua natureza pecaminosa
(Jo 5.40; Tg 1.14; Mt 17.12; At 7.51; Ef 2.3). O homem nunca é forçado a fazer algo que não
deseja. Faz sempre aquilo que lhe traz prazer.
Sobre isto, diz Calvino:
Não pensemos, entretanto, que o homem peca como que impelido por uma
necessidade incontrolável; pois peca com o consentimento de sua própria
vontade continuamente e segundo sua inclinação. Mas, visto que, por causa da
corrupção de seu coração, odeia profundamente a justiça de Deus; e, por outro
lado, atrai para si toda sorte de maldade, por isso afirmamos que não tem o livre
poder de eleger o bem ou o mal – que é o que chamamos livre-arbítrio.20
tal modo que, por causa da corrupção, ainda nele existente, o pecador não faz o
bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau.
Ref. Col.1: 13; João 8:34, 36; Fil. 2:13; Rom. 6:18, 22; Gal.5:17; Rom. 7:15, 21-23;
I João 1:8, 10.22
22
CFW, IX, IV.
23
Citação extraída de Hoekema, pg. 258.
24
CFW, capítulo X; I, II, Da Vocação Eficaz.
8
É o homem que diz sim a Deus, que diz sim ao chamado do Evangelho, depois de
Ter sido habilitado, libertado do pecado. O abrir do olhos, a nova criação, o nascer de novo,
é obra da livre graça de Deus e se não for assim, ninguém poderá crer em Cristo. Se não
recebermos a fé que vem do Senhor, nunca poderemos crer. Maravilhosa graça!
25
Hoekema, pg. 267.
26
CFW, IX; V.
27
Hodge, pg. 227.
9
Conclusão
Os reformados, os calvinistas crêem no livre-arbítrio, como tendo sido uma
habilidade concedida a Adão e perdida na queda. Desde então o homem ficou desprovido
de qualquer habilidade para fazer escolhas santas, agradáveis a Deus. Não lhe resta outro
desejo senão o de pecar, conforme as inclinações de seu próprio coração, sendo assim, um
agente livre e responsável.
Cremos que, nunca mais tal habilidade fará parte da existência humana. O fato de
Deus nos libertar do pecado nos habilitando a fazer escolhas acertadas, não é o mesmo que
dizer que temos o livre-arbítrio. As escolhas sempre estarão de acordo com a nossa
natureza, ou naturezas.
Nem antes, nem depois, voltaremos a ser como era Adão. Na glorificação
estaremos à frente dele, num estado em que o pecado não será possível.
Dizermos que existe um tal de livre-arbítrio, seria o mesmo que dizer que Deus
não é soberano sobre a salvação do pecador, que Ele está sujeito ao querer do homem.
Se não fosse Deus, sua graça o que seria de nós, nunca escolheríamos a Ele.
Que o estudo acerca desse tema, possa-nos motivar a glorificar a Deus por causa
da sua graça que, agindo em nós mudou nos inclinações e vontade, fazendo-nos querer,
desejar, o que não queríamos nem desejávamos.
Sola Gratia!
Soli Deo Gloria!