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Amor de Perdição

Perdição,
de Camilo Castelo Branco

˜™

LITERATURA PORTUGUESA II
11º D/12ºE
Professora Antónia Mancha

Escola Secundária com 3º CEB Gil Eanes


2008/2009
AMOR DE PERDIÇÃO,
de CAMILO CASTELO BRANCO

« Amor de Perdição é o Romeu e Julieta da nossa literatura.»

« Amor de Perdição é assim uma história de constância


amorosa em amores contrariados e uma história de ódio
e violência, contada como uma novela o deve ser: em
ritmo vivo, sem elementos descritivos, sem longas
divagações do autor, falando apenas o essencial em
linguagem sem pretensões de estilo.»

Definição de Novela: é um termo que designa, na generalidade, um relato ficcional, de dimensão


média, entre o conto e o romance. Além da dimensão, outras características são específicas da novela:
uma intriga menos complexa do que o romance; uma estratégia narrativa e discursiva mais directa,
com poucos ou nenhuns episódios dispersivos e autónomos (encaixe); menos estudo psicológico das
personagens, intenção mais explícita do autor

Esquematicamente, podemos apresentar as suas características da seguinte forma:


· A concentração de episódios conducentes à acção principal e consequente ausência de episódios
colaterais;
· A rapidez do ritmo narrativo;
· O número reduzido de personagens;
· A quase inexistência de descrição;
· A frequência do diálogo como expressão dos momentos de tensão dramática;
· A extensão (menor que a do romance).

INTRIGA
A intriga principal

1. A linearidade da intriga
Como sabemos, a intriga é uma sucessão de acontecimentos ligados por uma relação de
causalidade. Sendo a essência da intriga essa relação de causalidade, Amor de Perdição é,
efectivamente, uma verdadeira intriga, dado que a acção se inicia e segue em gradação crescente sem
pausas nem desvios, atinge o ponto máximo, e obriga à ruptura ou ao desenlace. Não tem interesse
demorarmo-nos na análise da intriga secundária pela sua irrelevância. A figura de Manuel Botelho só
se justifica para contrastar com a de Simão.

Na Introdução, o narrador resumiu lapidarmente a intriga principal desta forma: «Amou,


perdeu-se e morreu amando.» Cada oração aponta para os momentos essenciais de uma intriga.
Podemos fazer o levantamento dos momentos de avanço da acção ou das funções nucleares
para verificar a linearidade da intriga, onde não se encontram analepses, nem pausas significativas,
com a única excepção do capítulo VII em que o narrador pára a intriga para se demorar na análise da
vida corrupta do convento de Viseu. E só por esta finalidade realista é que se lhe perdoa este desvio.

2. Os elementos dramáticos da intriga


Os elementos dramáticos mais importantes são o ódio, o fatalismo e a morte. Tais elementos
conferem à intriga um clima de tragédia. Destaquemos algumas passagens da obra onde se revelam
esses elementos:

O ódio
O magistrado e sua família eram odiosos ao pai de Teresa, por motivos de litígios, em que Domingos
Botelho lhes deu sentença contra. Cap. II

Não era sobressalto do coração apaixonado: era a índole arrogante que lhe escaldava o sangue. Ir dali
a Castro Daire, e apunhalar o primo na sua própria casa, foi o primeiro conselho que lhe segredou a
fúria do ódio. Cap. IV

O fatalismo
Não sei o que me adivinha o coração a respeito de vossa senhoria. Alguma desgraça está para lhe
acontecer... Cap. V

Eu não sei o que se passa, mas há coisa misteriosa que eu não posso adivinhar. Cap. VI l

Mas já sabia que vinha para esta desgraça, porque tinha tido um sonho, em que via muito sangue, e eu
estava a chorar porque via uma pessoa muito minha amiga a cair numa cova muito funda... (...) – São
sonhos, são; mas eu nunca sonhei nada que não acontecesse. Cap. VIII

O destino há-de cumprir-se... O meu destino é o convento. Cap. X

... mas o teu fatal destino não quis largar a vítima. Cap. XI

A morte
As alusões ao destino são cada vez mais frequentes conforme avança a intriga.
- E o tiro acertou-lhe? - atalhou Simão.
- Acertou: mas saberá vossa senhoria que me não matou (...). E vou eu, entro em casa, (...) trago uma
clavina e desfecho-lha na tábua do peito. O almocreve caiu como um tordo, e não tugiu nem mugiu.
Cap. V

- Atira ao da esquerda! - disse João da Cruz.


Mataram-me!... Mariana, não te vejo mais!... Cap. XVII

- Sim... No céu deve ela estar. (…)


- Teresa!... Morreu? (…)- Morreu, além, no mirante, donde ela estava acenando. Cap. XX

- Está morto! - disse ele. Conclusão.


Muitas outras citações se poderiam fazer, mas estas são
Hybris – no sentimento de Simão e Teresa
suficientes para evidenciar as três forças dominantes. em contrariarem a vontade das suas
Sabendo-se que o drama é a oposição de caracteres famílias, que proibiam o seu amor.
sem que se verifique a introdução de forças superiores
ao indivíduo e que a tragédia implica exactamente a Anankê – O fatalismo marca a vida de Simão
desde o seu nascimento, veja-se o bilhete
introdução de forças transcendentes ao indivíduo,
que a mãe lhe envia quando este se
vamos salientar o clima de tragédia que paira ao longo encontrava preso:
das páginas desta obra. Se o ódio e o amor brotam dos
corações, o fatalismo é um factor que está ligado a “Desgraçado que estás perdido!
Eu não te posso valer, porque teu pai está
entidades superiores. E se o ódio e o amor foram pontos
inexorável. Às escondidas dele é que te
de partida, o fatalismo comandou a intriga, como mando o almoço, e não sei se poderei
mandavam as leis da tragédia: o destino os uniu ou mandar-te o jantar!
aproximou, o destino os separará e destruirá. Que destino o teu! Oxalá tivesses morrido ao
nascer!
Morto me disseram que tinhas nascido; mas
o teu fatal destino não quis largar a vítima.”
(Cap. XI)
3. Os elementos trágicos da intriga
A novela apresenta uma dimensão trágica, que se traduz Ágon – encontramo-lo na resistência e
na morte das personagens principais, que lutam, até ao desobediência à autoridade paterna por
parte de Simão e Teresa. Veja-se o seguinte
fim, pelo único motivo pelo qual, para elas , vale a pena excerto:
viver. Findas as esperanças na vida terrena procuram na “- E não será mais certo odiá-lo eu sempre?
morte o seu único consolo. Eu agora mesmo o aomino como nunca
A tragédia implica, como já foi afirmado, a intervenção pensei que se pudesse abominar! Meu pai…
- continuou ela, com as mãos erguidas –
de forças que transcendem o indivíduo e que dominam. mate-me; mas não me force a casar com
meu primo. É escusada a violência, porque
eu não caso.” (Cap. IV)

Pathos – O desafio à autoridade paterna


A INTRIGA SECUNDÁRIA provoca de imediato a opressão que causa
sofrimento e faz crescer a mola do ódio
Articula-se por encaixe e é constituída pelos amores de entre as famílias, que impede qualquer
Manuel Botelho e a açoriana. aproximação. As cartas trocadas entre os
amantes são bem exemplo do que se acaba
Justifica- se por duas razões: o carácter memorialista da
de dizer.
obra e o contraste entre Simão e Manuel, salientando o
herói. Anagnórise: Podemos aqui considerar a
morte de Teresa e a percepção que Simão
tem desse acontecimento.
“- Quem, senhor?
- Teresa.
- Teresa!... Morreu?!
- Morreu, além, no mirante (…)
- Acabou-se tudo!... – murmurou Simão. –
Eis-me livre…para a morte.

Catástrofe: A morte quase simultânea dos


protagonistas.
PERSONAGENS:
caracterização

Simão Teresa
Cap. I Nascimento em Lisboa, na freguesia de Ajuda,
em 1784. Génio sanguinário, bravura, rebeldia
—> características hereditárias. Belo, com as
feições da mãe.
Cap. II Inconformado política e socialmente: Indicadores sociais: 15 anos, rica herdeira,
adesão aos ideais da Revolução Francesa. bonita e bem-nascida. Excepcional no
Encarcerado em Coimbra durante 6 meses. amor.
Mudança extraordinária após a visão de Teresa: Nada é referido sobre a personalidade de
abandona a ralé de Viseu, recolhe--se em casa, Teresa. O leitor tem de esperar pela sua
torna-se um bom estudante. Mudança actuação para tirar conclusões. Reage de
superficial: o pólo da rebeldia natural e o pólo da forma violenta à oposição do pai.
bondade adquirida deixam prever reacções Escreve um bilhete a Simão que mostra o
diferentes futuras. A rebeldia volta quando vê seu extremo de amar e é assim que abre
Teresa arrebatada da janela, à força, pelo pai. caminho para a sua perdição.
Cap. III Enfrenta a paixão de Baltasar com o
seu desamor.
Cap. IV Reacção brusca perante a carta de Do diálogo com Baltasar, o narrador retira
Teresa que lhe contava o que o seu pai conclusões: mulher varonil, força de
pretendera fazer. carácter, orgulho fortalecido pelo amor.
Oposição ao pai. Escreve a Simão.
Cap. V Encontro do herói Simão com o anti-herói Escreve uma carta a Simão e conta a
Baltasar. história do baile.
Cap. VI Emboscada preparada por Baltasar.
Encontro de Simão e Teresa que não é narrado,
assim como as cartas não têm sido transcritas. O
narrador não complexifica a obra. A nobreza de
Simão evidencia-se aquando da morte cruel de
um dos criados de Baltasar por João da Cruz.
Simão fica ferido.
Cap. VII Teresa escreve a Simão, contando-lhe o
sucedido e pede-lhe que fuja de Viseu e vá
para Coimbra.
O pai anuncia a decisão de a enclausurar no
convento.
A atitude de Teresa é eminentemente
romântica: Estou mais livre que nunca. A
liberdade do coração é tudo. Teresa,
mulher-anjo, é valorizada em contraste com
a corrupção do convento de Viseu.
Cap. VIII Simão escreve uma carta a Teresa onde lhe
revela a força do seu amor.
Cap. IX O génio rebelde de Simão volta à superfície ao Teresa escreve regularmente a Simão.
saber do espancamento Teresa deseja fugir do convento não por
da mendiga pelo hortelão do convento. Simão causa de Simão mas por causa do ambiente
recebe regularmente cartas de Teresa. corrompido que ali se vive. É sempre
idealizada.
Cap. X Simão transforma-se em poeta. A carta que Teresa é caracterizada por Mariana
escreve a Teresa é prova disso. É o herói como fidalga, rica e linda como nenhuma
romântico. Assassina Baltasar como resposta a outra. Teresa não se opõe à transferência
uma agressão deste. Recusa fugir, quer a convite para o convento de Monchique (Porto).
de João da Cruz, quer a convite do rneirinho Teresa vê Simão e grita o seu nome.
geral.
Cap. XI Nega ao juiz ter matado em legítima
defesa. Corajoso. Não tem medo da
forca. Recebe uma carta da mãe, onde se alude a
um destino fatal e ao seu nascimento em perigo
de vida. Recusa a ajuda monetária da mãe.
Cap. XII Condenado à forca, após sete meses de cadeia.
Mantém-se inalterável e afirma: A forca é a
única festa do povo! Recusa apelar da sentença.
Cap. XIII Transferido para a cadeia do Porto, Nova caracterização como ave do céu,
por intercessão do pai. Escreve cartas a Teresa, alada como ideal querubim dos santos.
onde alude ao seu destino. Sabendo da prisão de Simão, refugia-se no
desejo da morte, única via para o encontro
dos dois.
Cap. O Corregedor do Porto elogia Simão e censura Recebe a visita do pai e anuncia-lhe
XIV Tadeu de Albuquerque. Recebe a visita do pai e que morrerá ali
anuncia-lhe que morrerá ali.
Cap. XV Relê as cartas de Teresa e escreve as Recebe a carta de Simão.
suas meditações. Recebe a visita de João da
Cruz e pede-lhe para levar uma carta a Teresa.
Cap. XVI Novo elogio de Simão feito pelo
desembargador Mourão Mosqueira
que anuncia ao irmão de Simão a decisão de
comutar a pena em 10 anos de degredo.
Cap. XVII Morte de João da Cruz. Mariana, liberta do pai,
aproxima-se de Simão. Este tem de optar entre a
prisão durante 10 anos perto de Teresa ou a
liberdade relativa do degredo com Mariana.
Simão opta pelo desterro, mas não opta por
Mariana.
Cap. XVIII Simão recusa cumprir a prisão em Vila Real.
Cap. XIX Simão não cede aos pedidos de Teresa para que Sabendo que o pai de Simão o livrou da
cumpra em Portugal a pena de 10 anos. Não forca, tenta agarrar Simão, pedindo-lhe para
tolera a cadeia. Em 10 de Março de 1807, recebe que não vá para o degredo. Está cada vez
a ordem de embarcar. mais doente e anuncia a sua morte e o seu
encontro com Simão no Céu.
Cap. XX Em 17 de Março, sai da prisão para o Teresa pede os sacramentos. Relê as cartas
embarque. Não aceita o dinheiro que a mãe lhe de Simão e emaça-as, pedindo a Constança
envia. Vê Teresa no mirante do mosteiro. Simão que as leve a Simão. Teresa morre.
sabe da morte de Teresa.
Conclusão Lê uma carta de Teresa, aquela que
continha os projectos iniciais do amor. Cai
doente. Em 27 de Março, morre. É atirado
ao mar.

Simão Mariana
Nasceu em 1784. Em 1801, quando se apaixona por Teresa Conhecia já Simão, antes da sua entrada em
tem quinze anos e estuda Humanidades em Coimbra. Tem casa do pai: admirava-o como o salvador de
génio sanguinário, rebeldia e coragem, inconformismo seu pai e como homem corajoso e bravo.
político (características psíquicas e físicas herdadas de alguns Faz de enfermeira de Simão, tratando-o
familiares – anúncio do Realismo). É um belo homem, forte com muito carinho. Admira Teresa,
de compleição, com feições de sua mãe e a corpulência dela. servindo de intermediária entre esta e
Quando se apaixona por Teresa, distancia-se da ralé de Viseu, Simão. É dotada de uma grande
torna-se caseiro, estuda e dá longos passeios pelo campo. A sensibilidade e intuição, prevendo o futuro.
sua rebeldia volta a manifestar-se ,quando se vê impedido de Companheira ideal de Simão na
ver Teresa. Neste período, outras características se tornam cadeia, é a encarnação da mulher-anjo.
visíveis : a nobreza de alma, a honra, a dignidade, a veia Tem consciência de que não pode ser
poética. Simão é o herói romântico anti-social. Ele representa amada por Simão, mas o seu coração tem
a oposição a uma sociedade podre , repleta de valores razões que a razão não compreende...
antihumanos. O seu último gesto - o suicídio - mostra a
Morre a 28 de Março de 1807, no beliche do navio força do seu amor.
que o transportava para o degredo e o seu corpo é lançado ao
mar. Esta personagem apresenta evolução psicológica. –
personagem modelada.
TERESA MARIANA
15 anos 24 anos
bonita bonita e bela
linda mais linda do que Teresa
fidalga mulher do povo
rica herdeira inculta
bem-nascida supersticiosa
fortalecida pelo amor enfraquecida pelo amor
amor correspondido amor não correspondido
esperança de felicidade abnegação e sofrimento
crença no amor para além da morte crença no amor para além da morte
amor como única razão de viver amor como única razão de viver
sacralização do amor sacralização do amor
vítima do pai amor paternal
firme na recusa em casar com amor filial
Baltasar, em ser freira, em esquecer firme na recusa em casar com outros
Simão e em sair do convento pretendentes
indiferente para com a sociedade desprendida dos bens terrenos
indiferente para com a sociedade

qualidades convencionais para ser falta de algumas qualidades para ser


heroína de um romance heroína de um romance

João da Cruz
Protótipo do homem português; Tipo “bom bandido”, pois é simultaneamente corajoso , leal, grato, honrado e frio ,
sanguinário, sem escrúpulos, É a personagem mais autêntica, mais verosímil da novela. A sua caracterização está feita nos
capítulos IV, V, VI, VIII, X, XV e XVII. Homem do povo, ferrador de profissão, personagem complexa, misto de bondade,
gratidão, coragem, violência e crueldade. Notável o castiço da sua linguagem.

Os anti-heróis:

Domingos Botelho
Juiz de fora, é ridicularizado desde as primeiras páginas, tendo o narrador o cuidado de o contrastar
com o seu filho Simão.

Tadeu de Albuquerque
É o paradigma do pai tirano, déspota. É fidalgo, mas ao longo da obra, vai-se desfigurando, até cair
na caricatura, servindo assim ao narrador para criticar os falsos valores da aristocracia.

Baltasar
É o anti-herói por excelência. Desprovido de carácter e de qualidades positivas, serve para contrastar com Simão. Tendo
tentado matar Simão de emboscada, teve o fim que merecia. Representa os valores sociais instituídos e fossilizados,
contribuindo para a tragédia final;

Os não-heróis

D. Rita Preciosa
Bela, inteligente mas dotada da prosápia de quem sempre viveu na corte. Figura ambígua, pois umas vezes actua contra
Simão, outras ajuda-o.

Manuel Botelho
A sua presença na obra justifica-se para contrastar com Simão. Representa a mediocridade e uma certa marginalidade.
Covarde, mente e torna-se desertor. O universo das personagens e seu relacionamento
ESPAÇO

Espaço físico – lugares onde decorre a acção.


A narração desenvolve-se em diversos espaços:
Coimbra – Lisboa – Lamego – Viseu ( espaços onde decorrem acontecimentos ligados à vida familiar de Simão)
– Coimbra ( local onde Simão estudava)
– Viseu ( casas dos pais dos jovens e de João da Cruz)
– Porto ( cela da prisão )
– beliche do barco que o leva para o degredo na Índia ( Simão)
– Viseu ( casa dos pais e convento de Viseu)
– Porto ( convento de Monchique) ( Teresa)

«O espaço físico da obra caracteriza-se por um progressivo afunilamento, à medida


que a acção trágica atinge o seu clímax, encaminhando-se para o desenlace
final.Com efeito, de um espaço exterior amplo onde as personagens principais se
movimentam livremente, a cidade, passa-se para um espaço fechado e reduzido, no
qual as personagens se encontram encarcerados.» O local onde Simão e Teresa «se
encontram nos últimos tempos simboliza o facto de estas serem prisioneiras da
própria vida, pois estão enclausurados nas dimensões da sua própria tragédia.»
«(...) o lançamento do cadáver de Simão é como que o retorno aos grandes espaços,
à imensidão sem limites que o amor dele exigia.»

De forma esquemática:

ESPAÇO SOCIAL

De notar que, enquanto o espaço se fecha, aumenta a distância entre as personagens, aumenta a incomunicabilidade, o
que faz do próprio espaço um elemento intensificador de tragédia.

a. Nobreza decadente
A mentalidade dos pais de Simão e Teresa, a sua actuação, o seu vestuário, tudo aponta para a decadência e a ruína. Além
disso, a rivalidade entre as duas famílias é verdadeiramente mesquinha. Camilo terá desejado denunciar os preconceitos
sociais de certas camadas da população.

b. Arbitrariedade da justiça
Vê-se claramente a intenção de denunciar a parcialidade dos julgamentos, de acordo com a classe dos acusados e os
pedidos de pessoas influentes.
d. Vícios do clero
O narrador reservou um capítulo (VII) para criticar os vícios de um convento: o de Viseu. Hipocrisia, intrigas entre freiras,
preocupações materiais, sensualismo, são os principais defeitos levantados. Compreende-se a posição, sobretudo se nos
interessar o contraste entre a inocência e a dignidade de Teresa e o mundo corrupto do convento. Todavia, o narrador
louva a bondade das freiras de Monchique.

O tempo

Os factos encadeiam-se cronologicamente, decorrendo a acção em tempos diferentes e distanciados, mas em


continuidade.

Tempo cronológico: inicialmente decorre muito rápido (40 anos em poucas páginas) e depois muito mais lento (3 anos, o
grosso da novela). A acção decorre entre 1801 – data em que a família Botelho se instala em Viseu, e 1807 – data da partida
de Simão para o degredo.

“Em 1801, achamos Domingos José Correia Botelho de Mesquita corregedor de Viseu.” Cap.I

“São treze dias decorridos do mês de Março de 1805.” Cap. XV

“Era em Março de 1807.” Cap. X

“No dia 10 deste mês, recebeu o condenado… “ Cap. XIX

“A 17 de Março de 1807, saiu dos Cárceres da Relação…” Cap. XX

Tempo psicológico: muito projectado no futuro, a traduzir a constante ansiedade dos amantes e seus sonhos.

“Passou o estudante aquele dia contando as longas horas…” Cap. V

O NARRADOR:
Na obra, quanto à presença, o narrador é claramente NÃO PARTICIPANTE (heterodiegético), de focalização marcadamente
OMNISCIENTE, na medida em que conhece o íntimo das personagens, as suas emoções, sentimentos, pensamentos.

Exemplos:

“ O académico, chegando ao período das ameaças, já não tinha clara luz nos olhos para decifrar o restante da carta. Tremia
sezões e as artérias arfavam-lhe entumecidas. Não era sobressalto do coração apaixonado: era a índole arrogante que lhe escaldava o
sangue. Ir dali a Castro Daire e apunhalar o primo de Teresa na sua própria casa, foi o primeiro conselho que lhe segredou a fúria do ódio.
Neste propósito saiu…” (Cap. III)

“Quando o arrieiro bateu à porta, Simão Botelho já não pensava em matar o homem de Castro Daire; mas resolvera ir a
Viseu…”( Cap. III)

“O velho(Tadeu de Albuquerque) esperava muito daquela noite de festa…” (Cap. IV)

“Passou-lhe (a Simão) na cabeça, sem sombra de vaidade, de que era amado por aquela doce criatura. Entre si dizia que seria
uma crueza mostrar-se conhecedor de tal afeição, quando não tinha alma para lha premiar, nem para lhe mentir.” (Cap.VIII)

“Mariana, durante a veloz caminhada, foi repetindo o recado da fidalga; e , se alguma vez se distraía deste exercício de
memória, era para pensar nas feições da amada do seu hóspede, e dizer, como em segredo, ao seu coração: “Não lhe basta ser fidalga e
rica: é, além de tudo, linda como nunca vi outra!” E o coração da pobre moça, avergando ao que a consciência lhe ia dizendo, chorava.”
(Cap. X)

ELEMENTOS ROMÂNTICOS E REALISTAS


Escrito em 1862, Amor de Perdição é uma novela que apresenta já alguns elementos que se podem considerar realistas,
sendo, por isso, uma obra de transição. Como conclusão, apresentamos, em esquema, os principais aspectos românticos e
realistas.

ELEMENTOS ROMÂNTICOS
· Teresa é a mulher-anjo (aparece vestida de branco).
· Simão é romântico no arrebatamento dos sentimentos.
· Simão é um idealista apaixonado.
· A transformação de Simão é romântica.
· Mariana é também a mulher-anjo.
· A correspondência trocada entre Simão e Teresa é muito
sentimental.
· O fatalismo que recai sobre Simão e Teresa.
· O carácter autobiográfico (as memórias).
· As cenas mais importantes acontecem à noite ou ao raiar
da aurora.
· O triunfo do individualismo sobre as prepotências
sociais.
· A ideia da morte associada ao amor.

ELEMENTOS REALISTAS
· João da Cruz:
- o retrato
- o a crueldade instintiva
- o a linguagem castiça
· A crítica pormenorizada às freiras do convento de Viseu de que nos oferece uma visão
caricatural.

A Dimensão poética da obra

PROSA POÉTICA: AS CARTAS


A distância que sempre separou Simão e Teresa levou à invenção de uma forma de comunicação entre os dois. O narrador
resolveu o problema através das cartas, mas aproveitou esta presença para lhes conferir funções diversas. E aí está como
um registo discursivo pode alcançar relevância funcional. Como poderemos observar, as cartas são de extensão diferente,
não são regulares e o seu discurso não é sempre do mesmo tom. Poderemos dizer que as cartas cumprem as funções
seguintes:
- servir de elo de ligação entre os dois informar o destinatário sobre os acontecimentos;
- comunicar decisões tomadas persuadir o destinatário a adoptar determinadas atitudes;
- acelerar o processo narrativo.
A linguagem das cartas permite expressar a grandiosidade do amor que os dois jovens nutrem um pelo outro. « Elas são o
convite mais directo à compaixão e à revolta do leitor perante a situação em que o par amoroso se encontra, situação
motivada, em grande parte, pelos valores dominantes numa sociedade que ostraciza a pureza de um sentimento sublime.»
À medida que a tragicidade da acção se acentua, as cartas tornam-se cada vez mais poéticas.

Encontramos nelas as seguintes características do género lírico:


- A expressão da interioridade do “eu”;
- A tradução de uma forma de estar no mundo;

Bibliografia:
Conceição Jacinto; Gabriela Lança, Amor de Perdição, Porto Editora
Hilário Pimenta, Dimensão Comunicativa B –12 ano, Porto Editora

ADVERTÊNCIA:

- NÃO decorem estes apontamentos, sirvam-se deles para, a par do que se


trabalhou em aula, os colocarem em prática numa situação de análise. NÃO
me importa saber se conhecem as várias focalizações ou presenças do
narrador, importa-me SIM que as saibam identificar nos textos.
ANEXOS ÚTEIS

Como fazer umcomentário de um texto literário

Ao abordares um texto literário, com vista à sua análise, deverás ter em conta um pressuposto fundamental:
· analisar um texto não é resumi-lo;
· analisar um texto não é parafraseá-lo.
Em primeiro lugar, deverás lembrar-te que uma primeira leitura pode ser insuficiente. Um texto literário é um sistema complexo
de relações entre palavras e ideias. O que, à primeira vista, parece evidente pode não sê-lo. Compreender um texto envolve um
trabalho lento de aproximação e, por vezes, a primeira leitura revela-nos apenas uma impressão geral nem sempre correspondente
à essência do texto. .

É preciso, pois, ler o texto tantas vezes quantas as necessárias para que a mensagem comece a tornar-se explícita. E se o texto é
um tecido composto por malhas que se entrelaçam (as palavras nas suas múltiplas relações) é necessário desfazer a teia (analisar
palavras, frases, conjuntos de frases) para compreender a lógica interna que presidiu à sua construção.

No desfazer dessa teia têm cabimento todas as operações que possam contribuir para uma melhor compreensão do texto:

· procurar saber o significado de todas as palavras, mesmo as mais incomuns;


· procurar interpretar as várias conotações de que as palavras e as expressões se revestem; - agrupar palavras e expressões
em campos semânticos (sobretudo se verificares que no texto se insiste neste ou naquele campo de significação);
· fazer o levantamento de classes de palavras que, por vezes, imprimem uma determinada dimensão ao texto (repara, por
exemplo, no valor expressivo de muitos adjectivos);
· reparar na pontuação utilizada (muitas vezes, um simples ponto de exclamação ou umas reti cênciasvêm dar a uma
expressão um sentido novo);
· ter em conta (sobretudo no texto poético) o valor fónico de algumas palavras, uma vez que a
insistência em determinados sons e as combinações sonoras (a rima, por exemplo) podem ter
um papel importante;
· analisar a organização estrutural do texto.
Enfim, fazer o levantamento dos vários recursos estilísticos que foram usados no texto a nível fónico, morfossintáctico e
semântico.

Depois desse trabalho de análise, ser-te-á fácil tirar algumas conclusões. Terás, com certeza, compreendido qual o tema do texto e
poderás passar, então, a uma 2ª fase do teu trabalho - a elaboração escrita da análise interpretativa. Trata-se, agora, de escrever o
teu texto sobre o texto. A redacção do teu comentário poderá obedecer ao seguinte plano:

A Introdução

Geralmente breve, poderá apresentar informações sobre os seguintes aspectos:


· tipo de texto, género literário a que pertence;
· período literário em que está inserido;
· integração na obra (se for um excerto);
· TEMA.

O Desenvolvimento

A parte mais importante, não apenas pela sua extensão, mas porque deverá corresponder a uma explicitação das várias etapas de
análise e interpretação do texto. Contemplará todos os aspectos referidos anteriormente e que serão ordenados agora consoante o
que te parecer mais eficaz para a desmontagem do texto. Deverás referir todos os elementos que te pareçam pertinentes a nível
estrutural e temático, pois só assim te será possível aproximares-te da mensagem expressa, descodificar as ideias, as emoções, os
sentimentos, tendo sempre presente que, em relação a um texto literário «não basta perceber o que diz mas também como o diz».

Se no pedido de comentário, num teste, forem explicitados os tópicos a desenvolver, deverás fazê-lo articuladamente,
fundamentando sempre as tuas afirmações.

Com todos estes elementos, poderás agora reconstituir o texto, confirmar o que disseste quando enunciaste o tema. É como se
tivesses andado à roda das palavras até concluíres o círculo.

A Conclusão

Nunca muito longa, deverá ser uma espécie de balanço (resumido, claro) do anteriormente exposto.

Poderá também apresentar dois outros aspectos:

· relação (breve) do texto com os outros textos do mesmo autor ou da mesma época;
· opinião pessoal sobre o texto (apenas quando tal te for pedido).

A análise textual é pois um factor formativo e valorativo do indivíduo e implica acima de tudo escrever com correcção.

Meus queridos, se aqui chegaram, é bom sinal.


Bom trabalho. Alguma dúvida, coloquem-na por este mail: toniamancha@gmail.com, responderei assim que
me seja possível.
Encontramo-nos segunda-feira e o que for, há-de ser.

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