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Valeria Comitre
Maristela Simões do Carmo
1. INTRODUÇÃO
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No Estado de São Paulo existem treze distribuidoras de energia elétrica, sendo que quatro delas (Bandeirante, CPFL,
Elektro e Eletropaulo) atendem 541 municípios dos 643 existentes, respondendo por 93% da energia fornecida à
população. As outras concessionárias são: Caiuá - Serviços de Eletricidade S. A. (CSE), Companhia Luz e Força de
Mococa (CLFM), Companhia Luz e Força Santa Cruz (CLFSC), Companhia Nacional de Energia Elétrica (CNEE),
Companhia Paulista de Energia Elétrica (CPEE), Empresa Elétrica Bragantina S. A. (EEB), Empresa de Eletricidade
Vale Paranapanema S. A. (EEVP), Companhia Jaguari de Energia (CJE) e Companhia Sul Paulista de Energia (CSPE).
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evolução da agricultura que ocorreu no passado, feito por incorporação de áreas novas.
Assim, qualquer expansão de área de atividades agrícolas que não ocorra por uso mais
intensivo da terra, será feita por substituição de outras atividades”.
Deste modo haveria o deslocamento de áreas de culturas alimentares de mercado
interno e de produtos de exportação, provocado pelo aumento da área de produção de cana-
de-açúcar. A partir disso, podem ser projetados efeitos na concentração de terras e de renda
no meio rural, e também no aumento da sazonalidade da mão-de-obra.
Não se pode esquecer ainda os impactos no ambiente advindos da perda da
biodiversidade, e da queima na colheita manual, com a expansão da monocultura da cana.
Há que se pensar, portanto, que se a cogeração de energia elétrica pelo bagaço de
cana pode resolver, a curto prazo, os entraves no abastecimento energético, pode também
estar aumentando os custos sociais e ambientais dessa alternativa na matriz energética
estadual. É preciso ter em pauta nesses programas de incentivo quais parâmetros devem ser
estabelecidos no sentido de não acirrar a questão agrária e suas conseqüências, o equilíbrio
e produção entre as culturas alimentares, de exportação e energéticas, além da necessidade
premente de se aplicar a legislação ambiental, para diminuir os impactos no meio natural.
Nesse sentido, pesquisas sobre o emprego de fontes energéticas alternativas, e os
impactos gerados por sua adoção, são de grande relevância, por apontar soluções, a curto
prazo, para subsidiar o planejamento de políticas voltadas ao desenvolvimento econômico.
2. OBJETIVO
3. METODOLOGIA
Este cenário supõe, para o horizonte temporal proposto (2010), que a oferta de
bagaço de cana e de energia elétrica na indústria de alimentos e bebidas seja mantida nos
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mesmos níveis atuais, portanto guardando as características observadas no ano base
(2000), refletindo, assim, os níveis de crescimento historicamente observados. Neste
cenário não se admitem alterações na composição do consumo de energia, seja em função
da melhoria da eficiência dos usos finais, seja da conservação ou da substituição de
energéticos. É portanto, uma projeção tendencial em que não existem alterações nas
políticas para o setor energético.
Logo, vai apresentar, de acordo com as evoluções da economia do período, um
acréscimo em relação ao consumo final de energia do ano base, como conseqüência do
crescimento das variáveis explanatórias utilizadas, como o PIB e a participação do
consumo de energia nos diversos usos finais.
As projeções das demandas dos consumos de energia utilizaram, como referência, a
planilha de cálculo apresentada em JANNUZZI & SWISHER (1997). A projeção do
consumo final requer que se tenha, para o ano base, o conhecimento das seguintes
variáveis:
Intensidade Energética (I) = fluxo de energia por unidade de serviço. No caso da
indústria pode ser definida como a quantidade de energia por tonelada do produto em
kcal/R$.
Produto Interno Bruto (PIB) = o valor da produção, a preços de mercado, realizada
dentro das fronteiras geográficas do País. Segundo UGAYA (1996), para se realizar um
estudo sobre energia em um determinado setor é necessário relacionar o consumo de
energia deste com algumas variáveis sócio-econômicas. A autora cita estudos realizados
por Chateau (1982) e Goldemberg et alli (1988), que demonstram que, no caso do setor
industrial, a demanda por energia está diretamente relacionada com o Produto Interno
Bruto.
Horas-ano de trabalho (M) = número de horas por ano (horas/ano) de
funcionamento do setor, admitindo-se que as indústrias funcionem durante os 365 dias.
Taxa de crescimento (TC) = estimativa de crescimento médio anual projetado para
o setor em função de determinadas variáveis econômicas, em percentagem (%).
A energia total do setor E(X) no ano base é calculada pela equação expressa em
tEP/ano:
E(X) = PIB * I * M
Uma vez que o estudo procura enfocar somente a substituição entre os energéticos,
considerou-se o consumo de todos os usos finais de energia elétrica a serem substituídos
pela cogeração a partir do bagaço de cana, de acordo com a Agência para Aplicação de
Energia - AAE (1990).
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Os cálculos das projeções foram realizados utilizando-se o software Mathematica for Windows (versão 2.2.3) da
Microsoft.
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3.2.2. Cenário Eficiente
No cenário eficiente pode se contemplar tanto a melhoria dos diversos usos finais,
via reduções de consumo e de potência, como a possibilidade de substituição entre
energéticos. Este pode ser construído em função da finalidade que se pretende atingir, em
diversos tipos de cenários, dentre eles, o potencial técnico, o potencial econômico e o
potencial de mercado.
Nesta pesquisa são apresentados os resultados utilizando-se o cenário eficiente,
contemplando o potencial econômico para avaliar a alternativa de cogeração de energia
elétrica a partir do bagaço de cana.
Assim, a redução do consumo da fonte substituída, em contrapartida com a fonte
que deverá substituí-la, pode ser avaliada por meio de algumas variáveis econômicas e
ambientais, como tipo de combustível, poder calorífico, eficiência do sistema de conversão
e de uso-final, emissão de poluentes (CO2) e custos. Essa análise, portanto, avalia, além
dos custos econômicos para a indústria, os efeitos que a implementação da substituição
implicará em termos de custos ambientais e outras externalidades.
Neste cenário compara-se os efeitos da substituição entre energéticos utilizados no
processo produtivo levando-se em conta especificidades como emissões de carbono,
eficiência tecnológica e custos, conforme JANNUZZI & SWISHER (1997):
E = Carga/Ef
TE = E * DEC/DE = (DEC/DE) * Carga/Ef
CA = (Ccap * FRC) + (E * Ccomb), onde
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Fator de recuperação de capital é definido pela relação inversa entre o valor presente líquido e a sua distribuição em
parcelas uniformes ao longo do fluxo de caixa (NORONHA, 1981).
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3.3. Dados do Setor Agrícola no Ano 2000
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Equivalentes homens é uma medida de emprego com o intuito de se obter o número médio de trabalhadores
convertendo também o trabalho de mulheres e crianças em equivalente homem. De acordo com GONÇALVES &
SOUZA (1998), 1000 equivalentes-homem-ano corresponde a 200 dias de trabalho de 8 horas.
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Os impactos sobre a demanda da força de trabalho podem ser calculados, seguindo
a metodologia da fundação SEADE, cuja projeção conservadora se apóia na manutenção
do número de equivalentes-homem-ano por hectare (EHA/ha). O efeito substituição,
provocado pela ampliação da área com cana sobre as áreas de outras culturas foi estimado
com base em pesquisas desenvolvidas por IGREJA & CAMARGO (1992) e CAMARGO
et alii (1995) para o Estado de São Paulo.
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Segundo dados do BEESP (2001) o consumo final de biomassa na matriz está
presente de maneira significativa nos setores energético (22,4%), de transportes rodoviário
(11,3%) e industrial (66,2%), destacando-se, neste último, a indústria de alimentos e
bebidas (62,3%).
Dentre estes energéticos, os produtos da cana-de-açúcar estão representados pelo
álcool (hidratado utilizado como combustível em carros e anidro misturado à gasolina) no
setor de transportes e bagaço nos setores industrial e energético.
O consumo final de energia elétrica, por sua vez, contabiliza 90.098*109 kcal, em
que se destacam os setores industrial com participação de 44,20%, sendo que o ramo de
alimentos e bebidas responde por 13,06% deste consumo, e os setores residencial por
26,85% e o comercial com 15,13%.
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4.1. Cenário Tendencial
A energia total estimada para a matriz energética do Estado de São Paulo, para o
setor industrial e para o ramo de alimentos e bebidas, no ano base (2000), compreendeu a
intensidade energética (I) calculada com dados do ano anterior (1999), admitindo-se que a
mesma relação se mantivesse para a estimativa do total consumido de 2000, e
correspondeu a 1,52 Kcal/R$ (matriz energética), 1,35 Kcal/R$ (setor industrial) e 5,15
Kcal/R$ (alimentos e bebidas), a partir do BEESP (2000).
O Produto Interno Bruto (PIB), correspondente ao ano de 1998, foi obtido com os
dados da SEADE (2001), como sendo R$ 324.012 milhões (Estado de São Paulo), R$
121.346 milhões (setor industrial) e R$ 13.474 milhões (alimentos e bebidas).
As horas/ano (M) de funcionamento das indústrias, 1.095, foi estimada por
UGAYA (1996).
A taxa de crescimento (TC) média anual estimada para o crescimento econômico
foi de 4,5%, baseada em dados do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial,
publicada no relatório Perspectivas da Economia Mundial (WORLD ECONOMIC
OUTLOOK, 2000), de setembro de 2000.
Inicialmente, abordou-se o consumo energético total para o cenário tendencial da
matriz energética considerando-se todos os energéticos que compõem a matriz.
O consumo total de energia da matriz paulista, do setor industrial e do ramo de
alimentos e bebidas, no ano base, bem como as projeções de energia para o cenário
tendencial em 2010 encontram-se na Tabela 5.
No caso das projeções dos consumos de energia elétrica e bagaço de cana para o
setor industrial e para o ramo de alimentos e bebidas utilizaram-se os valores das variáveis
[PIB, M, E(X), TC e I], descritas anteriormente, que resultaram nas projeções da Tabela 6.
Tabela 7. Custos Anuais, Emissões de CO2 e Custos de Energia para o Bagaço de Cana e
Eletricidade no Setor de Alimentos e Bebidas, 2000.
Energético Custos Anuais (103 R$) Emissões Custos de
Anuais de CO2 Energia
Vida Útil – 15 Vida Útil – 30 MtC/ano R$/tEP
anos anos
Bagaço de Cana 1.250.069 1.249.205 0,74 84,21
Energia Elétrica 3.645.387 3.644.523 --- 288,62
Fonte: Dados da pesquisa.
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Informações fornecidas pelo representante de vendas da Ata- Combustão Técnica S.A., ao qual as autoras agradecem.
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os valores das economias de custos anuais foram absolutamente iguais, bem como os
preços da energia economizada7.
O cenário eficiente mostra que as economias de custos anuais, obtidas pela
diferença entre os custos dos energéticos, representaram R$ 2.395.318.133,00 para
substituir a eletricidade pelo bagaço de cana na caldeira.
Levando-se ainda em conta que a eletricidade tem um valor de energia primária
3,4273 vezes superior ao do bagaço ter-se-ía uma economia de energia primária na ordem
de 28.443.521 tEP/ano, calculada como segue:
EP = 3,4273 (12.619.318) – 14.806.667 = 28.443.521 tEP/ano
O custo da energia elétrica economizada seria de R$ 98,80/tEP, obtido pela
relação: [32*106 (0,10) + 14.806.667 (84,21) - 32*106 (0,10)]/ 12.619.318.
Portanto, o custo calculado é inferior ao preço considerado para aquele energético
de R$ 288,62/tEP e, do ponto de vista econômico, o custo da energia elétrica conservada
substituída pelo bagaço de cana-de-açúcar representaria uma alternativa vantajosa.
Já as economias de emissões anuais de CO2 apontam uma vantagem para a
manutenção da energia elétrica. Do ponto de vista ambiental a comparação entre as
emissões de poluentes, especificamente do CO2, um dos gases responsáveis pelo chamado
efeito estufa, mostrou vantagem da eletricidade sobre o bagaço de cana. Ressalte-se,
porém, conforme salientado no Balanço Energético do Estado de São Paulo, que as
emissões produzidas pela combustão da biomassa “não contribuem para o efeito estufa,
desde que sua utilização seja acompanhada da equivalente reposição da matéria-prima
vegetal, pois o processo de fotossíntese retira da atmosfera, a quantidade correspondente
de carbono liberada na combustão. Existe consenso de que o uso da biomassa como
energético em um sistema efetivamente renovável, ou seja, com reposição da biomassa
utilizada, o balanço de CO2 é nulo” (BEESP, 1996). Para que as emissões sejam
compensadas pela fotossíntese é necessário haver uma proximidade entre a indústria e as
áreas “absorvedoras”, visto que a importância está em se obter um equilíbrio entre emissão
e assimilação de CO2, cuja mensuração é difícil de ser realizada.
Considerando que a área plantada com cana de açúcar representou cerca de 15% da
área agrícola paulista, no ano base de 2000, a substituição total da energia elétrica pelo
bagaço de cana na indústria de alimentos e bebidas, necessitaria de uma quantidade de
cana que produzisse 12.459*103 toneladas de bagaço para cogerar energia elétrica. Isto
significa 49.837.320 toneladas obtida pela relação produção de bagaço por tonelada de
cana através da expansão da área em 684.264 hectares.
Neste sentido, o cenário que se vislumbra, em função dos investimentos do setor
energético, produzirá importantes reflexos sobre o setor agrícola paulista. Os impactos
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Os cálculos utilizando-se o tempo de vida útil de 15 anos, por exemplo, foram os seguintes:
Para a caldeira à bagaço de cana:
E = 11.105.000/0,75 = 14.806.667 tEP/ano
TE = 0,74 MtC/ano
CA = 32*106 (0,10) + 14.806.667 (84,21) = R$ 1.250.069.428,00
Para a caldeira à eletricidade:
E = 11.105.000/0,88 = 12.619.318 tEP/ano
TE = 0 MtC/ano
CA = 32*106 (0,10) + 12.619.318 (288,62) = R$ 3.645.387.561,00
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decorrentes da expansão da área de cana-de-açúcar incorrerão, basicamente, em
transformações na agricultura, na redistribuição regional da produção, no aumento da
concentração fundiária, e ocupação da mão-de-obra agrícola, com efeitos no volume de
emprego na agricultura.
Utilizando-se os dados sobre a quantidade de hectares e de equivalentes homens
ano ocupados em 2000, por atividade, calculou-se o deslocamento de área das principais
culturas que tradicionalmente cedem espaço para a cultura da cana, de acordo com
IGREJA & CAMARGO (1992) e CAMARGO et alii (1995), e da respectiva mão-de-obra
empregada para o ano 2010 (Tabela 8).
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que podem ser consideradas alternativas para se atingir metas de crescimento,
identificando as variáveis fundamentais para a concretização destas projeções.
Neste trabalho foram projetados e discutidos dois cenários para o consumo de
energia elétrica na indústria de alimentos e bebidas do Estado de São para o ano 2010,
diante de uma perspectiva de crescimento moderado da economia brasileira. Discutiu-se,
ainda, a viabilidade da substituição da energia elétrica, no processo de produção industrial,
contemplando aspectos sócio-econômicos e ambientais.
Os resultados das projeções do consumo de energia para o setor, em 2010, bem
como da análise do potencial econômico da substituição entre os energéticos, mostraram
que o modelo utilizado é um instrumental importante e consistente para análises
prospectivas.
A análise econômica salientou os benefícios em se promover a substituição da
energia elétrica nas caldeiras, pelo bagaço de cana-de-açúcar, devido à economia nos
custos. O cenário eficiente ou potencial econômico demonstrou que, sob o ponto de vista
dessas economias, existem benefícios em se substituir a energia elétrica pelo bagaço de
cana nas caldeiras da indústria de alimentos e bebidas, seja como medida de conservação
de energia primária ou como vantagem dos custos anuais para a indústria.
Sob o enfoque ambiental, a substituição da energia elétrica pelo bagaço de cana,
mostrou-se desvantajosa em virtude de seu maior impacto na taxa de emissão de CO2 que,
no entanto, pode ser compensada pela maior área fotossintética proveniente dos plantios de
cana adicionais. Apresenta-se também como uma medida de conservação dos recursos
naturais ao promover uma importante economia de energia primária.
Quanto aos impactos no setor agrícola se concluiu que a ampliação territorial das
áreas com cana-de-açúcar devem intensificar o deslocamento das culturas que,
historicamente, já vêem sendo substituídas por outras tão dinâmicas e rentáveis quanto ela.
E, em relação à ocupação da força de trabalho tem-se um horizonte de aumento da
demanda pela mão-de-obra temporária, ou seja, de aumento da oferta de emprego.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AAE – Agência para Aplicação de Energia. Uso Final de Energia nas Indústrias do
Estado de São Paulo- 1986/1989. CESP/CPFL/ELETROPAULO/COMGÁS. SICEN,
1990.
BEESP – Balanço Energético do Estado de São Paulo. Ano Base 1995. Secretaria de
Estado de Energia. CESP. São Paulo. 1996.
BEESP – Balanço Energético do Estado de São Paulo. Ano Base 1999. Secretaria de
Estado de Energia. CESP. São Paulo. 2000.
BEESP – Balanço Energético do Estado de São Paulo. Ano Base 2000. Secretaria de
Estado de Energia. CESP. São Paulo. 2001.
BEN – Balanço Energético Nacional. Ano Base 1999. Ministério das Minas e Energia,
Brasília, 2000, 154p.
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CAMARGO, A M. M. P. de et alii Alteração na Composição da Agropecuária no
Estado de São Paulo, 1983-93. Informações Econômicas. São Paulo, 25(5): 49-81, Maio
de 1995.
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