0 оценок0% нашли этот документ полезным (0 голосов)
88 просмотров16 страниц
O documento resume um caso judicial sobre a validade de um testamento particular assinado por uma pessoa idosa poucos dias antes de falecer. A sentença de primeira instância declarou a nulidade do testamento. O recurso do apelante alega que o testamento deveria ser validado com base no artigo 1879 do Código Civil, que permite a mitigação das formalidades em situações excepcionais. O relator entende que o testamento é válido, pois a superveniência do óbito da testadora configura situação excepcional que justifica a ausência de testem
O documento resume um caso judicial sobre a validade de um testamento particular assinado por uma pessoa idosa poucos dias antes de falecer. A sentença de primeira instância declarou a nulidade do testamento. O recurso do apelante alega que o testamento deveria ser validado com base no artigo 1879 do Código Civil, que permite a mitigação das formalidades em situações excepcionais. O relator entende que o testamento é válido, pois a superveniência do óbito da testadora configura situação excepcional que justifica a ausência de testem
O documento resume um caso judicial sobre a validade de um testamento particular assinado por uma pessoa idosa poucos dias antes de falecer. A sentença de primeira instância declarou a nulidade do testamento. O recurso do apelante alega que o testamento deveria ser validado com base no artigo 1879 do Código Civil, que permite a mitigação das formalidades em situações excepcionais. O relator entende que o testamento é válido, pois a superveniência do óbito da testadora configura situação excepcional que justifica a ausência de testem
Des.(a) Afrnio Vilela Relator: Des.(a) Afrnio Vilela Relator do Acordo: 25/03/2014 Data do Julgamento: 11/04/2014 Data da Publicao: EMENTA: APELAO CVEL - AO DE ANULAO DE TESTAMENTO PARTICULAR - DOCUMENTO FIRMADO POR PESSOA IDOSA E NO PLENO EXERCCIO DE SUA CAPACIDADE CIVIL - SUPERVENINCIA DO BITO - FORMALIDADE - MITIGAO - ARTIGO 1879 DO CCB - EXCEPCIONALIDADE - CONFIGURAO - VALIDADE DO ATO - RECURSO PROVIDO. vlido o ato de disposio de ltima vontade, firmado exclusivamente por pessoa idosa, no pleno exerccio de sua capacidade civil, poucos dias da ocorrncia do seu bito, contexto este que, per si, autoriza a mitigao da formalidade legal ditada para elaborao do testamento particular, ex vi do disposto no artigo 1879 do CCB. APELAO CVEL N 1.0027.04.042692-9/001 - COMARCA DE BETIM - APELANTE(S): CLAUDIMIR DE MELO CASTRO - APELADO(A)(S): MARCOS MELO DE REZENDE, MARILENE TURIBIA DE REZENDE TINANO, MARCILENE CONCEIO MELO RESENDE E VENEROSO, MARCELO GERALDO MELO RESENDE, MARGARETH MELO RESENDE BUTORI E OUTRO(A)(S), HERDEIROS DE MARIA DE MELO REZENDE, MARCI O MELO DE REZENDE, MARLENE MELO DE REZENDE TRINDADE, MRCIA MESSIAS RESENDE BRAGA TRINDADE, GISLENE DE OLIVEIRA MORAIS, IVONE DE OLIVEIRA MELO, JOSE ALVES DE MELO, MARIA DE LOURDES MELO SILVA E OUTRO(A)(S), JLIO CSAR PINTO DE MELO, MARIA D'OLIVEIRA BRITO, ODILIA DE MELO SILVA, CEZARINA DE MELO AMARAL, ANTONIO EUSTAQUIO DE OLIVEIRA MELO, MARILDA MELO REZENDE BANDEIRA 1 Tribunal de Justia de Minas Gerais A C R D O Vistos etc., acorda, em Turma, a 2 CMARA CVEL do Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos em, unanimidade, DAR PROVIMENTO AO RECURSO. DES. AFRNIO VILELA RELATOR. DES. AFRNIO VILELA (RELATOR) V O T O Em exame, apelao cvel aviada por CLAUDIMIR DE MELO CASTRO contra a r. sentena de f. 363/372 que, nos autos da "ao de anulao de testamento c/c remoo de inventariante" ajuizada por MARIA DE LOURDES MELO SILVA e outros, julgou procedente o pedido para declarar nulo o testamento de f. 14/17 e, por conseguinte, remover o requerido do cargo de inventariante, nos autos de n 027.03.003.852-8, nomeando em seu lugar a primeira apelada supra nomeada. Pela deciso de f. 377 foram rejeitados os embargos de declarao aduzidos s f. 374/375. Em suas razes de f. 381/393 o apelante renova a preliminar de inpcia da inicial, por impossibilidade de cumulao de pedidos e alega a nulidade da sentena por ausncia de fundamentao quanto a existncia ou no dos requisitos do artigo 955, que determina ou no a retirada do inventariante. No mrito, sustenta, em sntese, a aplicabilidade do artigo 1879 do CC/2002, o qual admite que o testamento particular feito em si tuaes excepci onai s, sem testemunhas, possa ser confi rmado j udi ci al mente, 2 Tribunal de Justia de Minas Gerais impondo-se a anlise das circunstncias excepcionais que justificam a ausncia de testemunhas. Que a prova pericial confirmou a autenticidade da assinatura da testadora, restando inconteste que pouco depois foi a mesma internada em um CTI, sobrevindo o bito, situao esta que caracteriza a excepcionalidade prevista em lei para validao do testamento por ela firmado. Assevera a preponderncia da vontade do testador diante de uma situao de fora maior que lhe impea de utilizar uma forma ordinria de testamentar ou de doar. Que em Dezembro de 2000, a Sra. Madalena j havia redigido um documento particular de doao, onde transferindo ao ora apelante, esposa e filhos, o imvel no qual residem h mais de 12 anos, pea esta que no foi analisada pelo Exmo. Juiz singular. Que o testamento particular, apesar de simplificado e desprovido de formalidade, comprova de a inteno nica e exclusiva da falecida de doar parte do imvel ao apelante, como manifestao de sua ltima vontade. Assevera que a prova testemunhal atesta o bom estado de sade mental da testadora e a vontade manifesta de promover a doao do imvel ao apelante e sua famlia. Contrarrazes s f. 396/402 e f. 404/414. Desnecessria a remessa dos autos Procuradoria Geral de Justia, ante a ausncia de interesse de menores/incapazes. Atendidos os pressupostos de admissibilidade, conheo do recurso. Cinge-se a controvrsia em aferir se merece censura a r. sentena que declarou a nulidade do testamento particular firmado por Maria Madalena de Melo, em prol do ora apelante. Preambularmente, cumpre analisar as preliminares aduzidas na pea recursal. I - PRELIMINARES 1.1. NULIDADE DO PROCESSO - INPCIA DA INICIAL 3 Tribunal de Justia de Minas Gerais A preliminar foi corretamente refutada pelo Exmo. sentenciante, haja vista que inexiste bice cumulao dos pedidos de nulidade de testamento com remoo de inventariante, quando adotado o rito ordinrio, como na espcie. Nesse sentido, clara a dico do 2 do art. 292 do CPC: " 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, admitir-se- a cumulao, se o autor empregar o procedimento ordinrio." Rejeito a preliminar. DES. MARCELO RODRIGUES (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. RAIMUNDO MESSIAS JNIOR Sustentou o recorrente que no poderia haver a cumulao de pedidos de remoo do inventariante e de anulao do testamento, pelo fato do primeiro correr pelo rito ordinrio e o segundo, na forma do art. 955 do CPC, possuir procedimento especfico. A preliminar no prospera. Consoante o art. 292, 2, do CPC, quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, admitir-se- a cumulao, se o autor empregar o procedimento ordinrio. NELSON NERY JNIOR e ROSA MARIA ANDRADE NERY, comentando o dispositivo enfocado, salientam: Quando houver previso de ritos diferentes para as aes que se pretende cumular, ser admissvel a cumulao desde que o autor opte por imprimir o rito comum ordinrio a todos eles, renunciando sumariedade ou especialidade de um dos pedidos.(CPC e Legislao Extravagante, 11 ed., Ed. RT, pg. 585) 4 Tribunal de Justia de Minas Gerais CSSIO SCARPINELLA BUENO, destacado na obra compendiada por ANTNIO CARLOS MARCATO, deduz: A cumulao pode ser admitida, no entanto, desde que o autor opte, dada a diversidade de procedimentos para cada um dos pedidos, pelo procedimento comum ordinrio(art. 292, 2). Assim, desde que o autor abra mo de um procedimento especial, reclamado, a princpio, pelo tipo de bem da vida que pretendia proteger(objeto mediato) ou pelo tipo de tutela jurisdicional que poderia, sobre ele, pleitear(objeto imediato), no h qualquer inconveniente que ele cumule pedidos. Trata-se, quase, de uma renncia, pelo autor, de um procedimento especial ou comum-sumrio em prol de um interesse pblico maior, a economia processual e a uniformidade de decises, em que se compr omet am os di r ei t os ao cont r adi t r i o e ampl a def esa constitucionalmente assegurados ao ru.(...) (CPC Interpretado, 3 ed. Ed. Atlas, pg. 960) Na hiptese em estudo, tendo o autor optado pelo rito ordi nri o(fl s.02/09 - apenso 2), o Juzo determi nou a ci tao do requerido(fl.47- apenso 2), tendo sido lavrado o mandado de citao para contestao em quinze dias(fl. 48 - apenso 2), prazo observado pela parte contrria(fls. 56/61 - apenso 2). Ademais, a demonstrao de prejuzo essencial alegao de nulidade, visto que o mbito normativo do dogma fundamental da disciplina das nulidades - pas de nullit sans grief - torna sem efeito a argumentao do apelante. Acompanho o eminente Relator para rejeitar a preliminar. DES. AFRNIO VILELA (RELATOR) 1.2- NULIDADE DA SENTENA - AUSNCIA DE FUNDAMENTAO Conforme disposio expressa do art. 165, do Cdigo de Processo Civil e do art. 93, IX, da Constituio Federal de 1988, todas 5 Tribunal de Justia de Minas Gerais as decises judiciais devem ser fundamentadas, sob pena de nulidade, haja vista ser mister a exteriorizao clara das razes de convencimento do julgador para compreenso do desfecho dado lide, no obstante, possa ser concisa. A preliminar no merece acolhida, haja vista que a sentena foi clara ao expor os motivos da excluso do apelante do encargo da inventariana, consoante se infere do trecho a seguir: "Quanto ao pedido de remoo do requerido do cargo de inventariante, pode e deve ser atendido, porquanto, invalidado o testamento pela nulidade aqui declarada, como conseqncia lgica, falece ao demandado legitimidade para continuar no cargo, devendo ser nomeado em seu lugar a primeira requerente. Eis que a me do requerido viva, aqui requerente, portanto, ainda no detm ele a condio legal de herdeiro na linha colateral, excludo por disposio inserta no artigo 1840 do Cdigo Civil". (f. 371). Resta claro que no figurando o apelante como herdeiro da inventariada Maria Madalena de Melo, sua remoo do encargo da inventariana teve amparo na ilegitimidade resultante do acolhimento do pedi do de anul ao do testamento, o que di spensa, por bvi o, a fundamentao vindicada com respaldo nas situaes previstas do artigo 995 do CC/2002. Preliminar rejeitada. 6 Tribunal de Justia de Minas Gerais DES. MARCELO RODRIGUES (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. RAIMUNDO MESSIAS JNIOR Pondera o recorrente que a sentena, ao rejeitar a preliminar de inpcia suscitada em contestao(fls.56/57 - apenso 2), no fundamentou a deciso. De fato, so requisitos essenciais da sentena os fundamentos, em que o Juiz analisar as questes de fato e de direito e o dispositivo, em que resolver as questes que as partes lhe submeterem (art. 458, II e III do CPC). Todos os julgamentos dos rgos do Poder Judicirio so pblicos e fundamentadas as decises, sob pena de nulidade (...) (art. 93, IX, da CF/88). De fato, como decidiu o insigne Relator, o Juzo de origem, tanto fl. 366 como fl. 371 do apenso 2, fundamentou explicitamente a deciso, j que a anulao do testamento conduziria ilegitimidade do recorrente para figurar como inventariante. Acompanho o Relator. DES. AFRNIO VILELA (RELATOR) II - MRITO Incontroverso que o documento trazido f. 14/17, objeto do pedido anulatrio, foi firmado por Maria Madalena de Melo, em 29/03/2003, cumprindo, portanto, aferir se referida pea atende os requisitos inerentes ao testamento particular, conforme prescrito pelos artigos 1.876 a 1.880 do Cdigo Civil, que dispem: 7 Tribunal de Justia de Minas Gerais "Art. 1.876. O testamento particular pode ser escrito de prprio punho ou mediante processo mecnico. 1 Se escrito de prprio punho, so requisitos essenciais sua validade seja lido e assinado por quem o escreveu, na presena de pelo menos 3 (trs) testemunhas, que o devem subscrever. 2 Se elaborado por processo mecnico, no pode conter rasuras ou espaos em branco, devendo ser assinado pelo testador, depois de o ter lido na presena de pelo menos 3 (trs) testemunhas, que o subscrevero." No se olvida que o juiz pode confirmar o testamento particular redigido em situaes excepcionais, declaradas no ttulo, que justifiquem a ausncia de testemunhas, consoante inovao introduzida pelo art. 1879 do referido codex, in verbis: "Art. 1.879. Em circunstncias excepcionais declaradas na cdula, o testamento particular de prprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poder ser confirmado, a critrio do juiz." A confirmao de testamento particular procedimento de jurisdio voluntria regulado pelos artigos 1.130 a 1.133 do CPC, cujo objetivo aferir os requisitos de validade da cdula para dar efeito vontade do testador. Nesse contexto, relevante afirmar, seguindo entendimento doutrinrio e jurisprudencial, que os requisitos formais de validade devem ser mitigados quando existam nos autos elementos que permitam atestar a veracidade do ato praticado. Sobre o tema, o c. Superior de Justia j se manifestou: 8 Tribunal de Justia de Minas Gerais "O rigor formal deve ceder ante a necessidade de se atender finalidade do ato, regularmente praticado pelo testador" (STJ, 3 Turma, Rel. Min. Castro Filho, REsp n. 828.616/MG, j. 5-9-2006, grifou-se). "In casu", o contexto ftico em que a declarao de vontade foi externada autoriza a mitigao quanto aos aspectos formais do testamento, os quais no podem preponderar frente ao real desejo da falecida. Ao que se colhe, o documento encartado f. 14/17, por meio do qual a signatria, Maria Madalena de Melo, manifestou a inteno de fazer "um tipo de testamento" encontra-se datado de 29/03/2003, sobrevindo seu falecimento no dia 03/04/2003, aps internao hospitalar ocorrida no dia 01/04/2003. de se ver que a testadora, ento com quase 83 anos de idade, sentindo o prenncio de sua morte, valeu-se do instrumento sua disposio para dispor do seu patrimnio de forma a resguardar ao sobrinho o direto de continuar morando com a famlia "para sempre, se ele quiser" na parte do imvel residencial por ele ocupado. A preocupao quanto prevalncia do ato de ltima vontade foi devidamente registrada no documento mencionado, consoante se infere do trecho a seguir, ipsis litteris: 9 Tribunal de Justia de Minas Gerais "...Se no der tempo de levar no cartrio e assentar tudo eu peo pelo amor de Deus que vocs 7 asseita este meu pedido at um dia se Deus quizer adeus (...)" (f. 17). Imbuda do sentimento quanto proximidade do momento de sua morte a testadora, no pleno exerccio de sua capacidade mental, firmou o ato de ltima vontade, de forma a assegurar ao sobrinho o direito sobre a parte do imvel em que residia h mais de 17 anos, vejamos a transcrio literal do trecho a seguir: "...na residncia mora 1 sobrinho com espoza e 3 filhos que ocupa 5 comodo da casa tendo direito da terra que esta constroida deve ser uns 200metros mais ou menos agora a entrada da casa dele na metade da sala que tem o porto n101 da av. G. valadares, ele tem direito de morar com a famlia para sempre se ele quizer agora a outra parte da casa no pode alugar para comercio nem para gente estranha porque uma so entrada pela sala n 101 deve dividir a sala no meio dechando as duas entrada esta parte est resolvida para Claudemir e famlia"... (grifo no original). Houve manifestao da vontade inequvoca quanto diviso do i mvel resi denci al , de forma que a parte ocupada pel o apel ante, correspondente a 05 (cinco) cmodos, fosse a ele reservada, nos termos da situao de fato j ostentada. A prova testemunhal produzida (f.278/282 e f. 318/319) deixa inconteste que a Sra. Maria Madalena se encontrava no uso pleno de sua capacidade mental e, ainda, os vnculos de afeto entre ela e o sobrinho Claudemir/apelado e respectivos familiares, principalmente com a filha deste, de nome Bianca. O apelado desde o seu casamento passou a dividir o imvel com Maria Madalena e, em contrapartida, ele e sua esposa, lhe 10 Tribunal de Justia de Minas Gerais prestavam toda assistncia de que necessitava em razo da idade avanada e dos problemas de sade. Assim, totalmente vazia a alegao vertida pelos irmos da falecida, ora apelados, no sentido de que a testadora teria sido induzida por ocasio da elaborao do testamento, mesmo porque, como dito, a prova documental e testemunhal produzida no autoriza qualquer dvida quanto plena capacidade mental da "de cujus". A prova pericial produzida comprova que o documento foi redigido de prprio e assinado pela testadora, cuja vontade inequvoca era no sentido de destinar ao sobrinho e familiares a parte do imvel em que residem. Contrariamente ao pontuado pelos apelados inexiste bice ao reconhecimento do direito do apelante em receber a parte do bem que lhe foi destinada em testamento, de forma a instituir o condomnio com os demais herdeiros, cuja extino pode ser buscada em processo autnomo. Destarte, vlido o ato de disposio de ltima vontade, firmado exclusivamente por pessoa idosa, no pleno exerccio de sua capacidade civil, poucos dias da ocorrncia do seu bito, contexto este que, per si, autoriza a mitigao da formalidade legal ditada para elaborao do testamento particular, ex vi do disposto no artigo 1879 do CCB. Isso posto, REJEITO PRELIMINARES E DOU PROVIMENTO AO RECURSO para reformar a sentena e julgar improcedentes os pedidos 11 Tribunal de Justia de Minas Gerais iniciais, determinando, por conseqncia, o prosseguimento do inventrio de MARIA MADALENA DE MELO. Inverto os nus sucumbenciais e condeno os apelados a arcarem, inclusive, com as custas recursais. DES. MARCELO RODRIGUES (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a). DES. RAIMUNDO MESSIAS JNIOR Debate-se nos autos a validade do testamento particular acostado s fls. 14/17, elaborado por Maria Madalena de Melo, sem quaisquer testemunhas. Registre-se, em primeiro lugar, que produzida prova tcnica por grafodocumentocopista(fls. 193/219), concluiu-se que os manuscritos apostos no referido documento originaram-se do punho escritor da de cujus. Defende o apelante, assim, que foi observado o teor do art. 1.879 do Cdigo Civil, cujo Captulo III, Seo IV estabelece a figura do testamento particular: Art. 1.879. Em circunstncias excepcionais declaradas na cdula, o testamento particular de prprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poder ser confirmado, a critrio do juiz. Examinei o processo detida e minuciosamente e, na verdade, conclui pela validade da declarao de ltima vontade da de cujus. Tenho que o art. 1.879 do Cdigo Civil efetivamente se encaixa no caso concreto. Como asseverou o apelante, o testamento particular foi escrito de prprio punho da testadora, datado e assinado, pelo qual 12 Tribunal de Justia de Minas Gerais revelou sua manifestao de ltima vontade. Faleceu dois dias aps a internao no CTI, contando 83 anos e quadro de insuficincia coronariana e hipertenso arterial. As circunstncias excepcionais, afora a evidente situao emergencial da sade, com a proximidade de sua morte, esto, igualmente, estampadas no documento de fl. 16/V, em que se aps: Se no der tempo de levar no cartrio e assentar tudo eu peo pelo o amor de Deus que vocs 7 asseita(sic) este meu pedido at um dia se Deus quizer(sic) adeus (...) no brigo(sic) mais por cauza(sic) desta coiza(sic) to pouco outra vez(...) - Maria Madalena de Melo (grifei) Ora, tal testamento particular, ato de disposio de ltima vontade, no pode ser invalidado sob a alegao de preterio de formalidade, se no paira dvida sobre o fato de que o documento foi firmado pela testadora de forma consciente e no uso pleno de sua capacidade mental. A propsito, como se infere dos depoimentos testemunhais(fls. 278/282): (...)que era mdica da Maria Madalena; que a depoente acompanhou a Maria Madalena desde 1988 e fez o ltimo atendimento aproximadamente 15 dias antes de seu falecimento; que Maria Madalena tinha problema cardaco, mas no tinha nenhum problema psicolgico; que at o ltimo atendimento a Maria Madalena estava lcida e tinha discernimento; que Maria Madalena era capaz de decidir embora j idosa; (...) que Maria Madalena faleceu com aproximadamente 83 anos (...) que Maria Madalena queixava que os irmos brigavam por questo de dinheiro(...) (Jane Carlo Diniz - fl. 278) (...) que Maria Madalena disse a depoente que tinha vontade de doar para Bianca, filha de Claudimir, o imvel onde eles residem, mas iria dar muita briga;(...) que Maria Madalena disse tais fatos depoente alguns dias antes de falecer, menos de 15 dias, em uma segunda- 13 Tribunal de Justia de Minas Gerais feira; que foi a segunda vez que Maria Madalena comentou para a depoente a vontade de doar o imvel para Bianca(...) que Maria Madalena era uma pessoa lcida, com boa compreenso das coisas e boa sade, at antes de morrer; que Maria Madalena disse a depoente que queria que a famlia de Claudimir permanecesse no imvel pois eles cuidaram dela(...) (Josenita Arajo - fls. 279/280) (...) que o depoente foi mdico de Maria Madalena por muito tempo at seu falecimento; (...) que Maria Madalena no manifestava doena mental; que era lcida at os ltimos momentos em que o depoente a tratou;(...); que Maria Madalena no ltimo atendimento estava lcida pois prestou as informaes necessrias(...) (Expedito Chumbinho - fl. 282) Confira-se, na doutrina, a lio de Zeno Veloso: (...) cada situao concreta precisa ser analisada, avaliada e comprovada, para concluir se, no momento em que fez o testamento, era o outorgante capaz ou no (art. 1.861). (...) No , portanto, qualquer molstia, enfermidade ou doena, por mais danosa e grave que seja, que tem essa consequncia. ntegra vontade, lcido o esprito, claro o raciocnio, no h incapacidade, e vlido, sem dvida, o testamento feito, por mais que seu autor estej a combal i do fi si camente, ai nda que sua mente estej a enfraquecida, mesmo que o seu autor se encontre nos ltimos limites da vida e na iminncia da morte. Mesmo agonizante, balbuciando, h de presumir-se que o testador capaz. O moribundo pode fazer disposies de ltima vontade se conseguir expressar essa vontade, se perseveram as suas faculdades mentais. Esse o ponto nodal da questo (Comentrios ao CC, Vol. 21, Saraiva, pg. 33) Ora, a prova pericial e testemunhal colhida no deixa dvida alguma de que a de cujus efetivamente redigiu e assinou, em momento de plena lucidez, os documentos de fls. 14/17, pelo qual manifestou sua ltima vontade. Alis, em momento algum se questionou a capacidade 14 Tribunal de Justia de Minas Gerais jurdica da testadora e a autenticidade do testamento. Tecendo consideraes sobre o testamento particular, ORLANDO GOMES leciona: Tem ele, sobre os testamentos pblicos, as seguintes virtudes: presteza, comodidade, modicidade do custo. Porque dispensa a interveno do oficial pblico, faz-se com maior rapidez, sem necessidade do deslocamento desse auxiliar da justia ou do prprio testador, e sem pagamento de custas. (Sucesses. Atualizador: Humberto Theodoro Jnior. Rio de Janeiro: Forense, 2001. pg. 119). No se pode olvidar que o STJ, mesmo reconhecido vcio formal - que inexiste na presente hiptese - vem ratificando a vontade do testador. Confira-se: CI VI L. TESTAMENTO PBLI CO. V CI OS FORMAI S QUE NO COMPROMETEM A HIGIDEZ DO ATO OU PEM EM DVIDA A VONTADE DA TESTADORA. NULIDADE AFASTADA. SUMULA N. 7-STJ. I. Inclina-se a jurisprudncia do STJ pelo aproveitamento do testamento quando, no obstante a existncia de certos vcios formais, a essncia do ato se mantm ntegra, reconhecida pelo Tribunal estadual, soberano no exame da prova, a fidelidade da manifestao de vontade da testadora, sua capacidade mental e livre expresso II. "A pretenso de simples reexame de prova no enseja recurso especial" (Smula n. 7/STJ).III. Recurso especial no conhecido. (REsp 600746/PR, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 20/05/2010, DJe 15/06/2010) PROCESSUAL CIVIL. DIREITO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. NULIDADE DE TESTAMENTO. PRETERIO DE FORMALI DADE LEGAL. V CI OS FORMAI S I NCAPAZES DE COMPROMETER A HIGIDEZ DO ATO OU POR EM DVIDA A VONTADE DO TESTADOR. SMULA N. 7/STJ. 1. A anlise da regularidade da disposio de ltima vontade (testamento particular ou pblico) deve considerar a mxima 15 Tribunal de Justia de Minas Gerais preservao do intuito do testador, sendo certo que a constatao de vcio formal, por si s, no deve ensejar a invalidao do ato, mxime se demonstrada a capacidade mental do testador, por ocasio do ato, para livremente dispor de seus bens. Precedentes do STJ.2. O recurso especial no comporta o exame de questes que impliquem revolvimento do contexto ftico-probatrio dos autos, a teor do que dispe a Smula n. 7/STJ. 3. No caso concreto, o Tribunal de origem, com suporte em ampla cognio das provas produzidas nos autos, assentou, de modo incontroverso, que a escritura pblica de testamento reflete as disposies de ltima vontade do testador. 4. Agravo regimental desprovido(AgRg no REsp 1073860/PR, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 21/03/2013, DJe 01/04/2013). Assim, considerando a autorizao legal contida no art. 1.879 do CC, peo venia para acompanhar o Eminente Relator, DAR PROVIMENTO AO RECURSO, e julgar improcedentes os pedidos formulados na ao de anulao de testamento c/c remoo de inventariante(fls.02/09 - apenso 2), com inverso do nus da sucumbncia. como voto. SMULA: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO" 16