Orlandi (2012a) discute que o corpo do sujeito est atado ao corpo social. No se pode pensar o sujeito sem o corpo, nem o corpo sem o sujeito, ou sem um sentido. O corpo tem uma forma histria e material. O corpo do sujeito parte do seu processo de subjetivao, e portanto, quando o indivduo interpelado em sujeito pela ideologia, produzida uma forma sujeito histrica com seu corpo. A ideologia uma prtica, e enquanto prtica de um sujeito, afeta e faz parte do processo de significao do sujeito. Isso implica que, como as palavras, o nosso corpo j vem sendo significado, antes mesmo que ns o tenhamos significado (ORLANDI, 2012a). Mesmo quando o sujeito deixa de proferir discursos verbais, quando se pe em silncio, seu corpo significa seu silncio e se significa nesse silncio (ORLANDI, 2012, p. 86). A autora, ao prefaciar seu livro Discurso e Texto, faz uma correlao entre o corpo do texto e corpo do sujeito que escreve o texto e/ou que nele se significa:
na formulao que a linguagem ganha vida, que a memria se atualiza, que os sentidos se decidem, que o sujeito se mostra (e esconde). Momento de sua definio: corpo e emoes da/na linguagem. (...) Materializao da voz em sentidos, do gesto da mo em escrita, em trao, em signo. Do olhar, do trejeito, da tomada do corpo pela significao. E o inverso: os sentidos tomando corpo. Na formulao pelo equvoco, falha da lngua inscrita na histria corpo e sentidos se atravessam. Formular dar corpo aos sentidos. E, por ser um ser simblico, o homem constituindo-se em sujeito pela e na linguagem, que se inscreve na histria para significar, tem seu corpo atado ao corpo dos sentidos. Sujeito e sentido constituindo-se ao mesmo tempo tem sua corporalidade articulada no encontro da materialidade da lngua com a materialidade da histria. (...) Ora, o corpo do sujeito e o corpo da linguagem no so transparentes. So atravessados de discursividade. (...) No h corpo que no esteja investido de sentidos e que no seja o corpo de um sujeito que se constitui por processos de subjetivao nos quais as instituies e suas prticas so fundamentais, assim como o modo pelo qual, ideologicamente, somos interpelados em sujeitos. Dessa forma, que pensamos que o corpo do sujeito um corpo ligado ao corpo social e isto tambm no lhe transparente. (ORLANDI, 2012b, p. 9 e 10).
Nesse desdobramento de significaes do corpo, que pensamos que as prticas do corpo tambm constroem seus discursos. O homem tambm se significa em sua prxis, pintando, cantando, danando... Assim, o movimento humano produz textualidade (ORLANDI, 2012a). O corpo no fala, ele significa. Partindo de uma mesma inquietao, Courtine (2013), ao se relacionar com o discurso em Foucault, e com o conceito de fato social em Mauss, diz que no fato social
(...) os discursos so imbricados em prticas no verbais, ali o verbo no pode mais ser dissociado do corpo e do gesto, ali a expresso atravs da linguagem se conjuga com a expresso do rosto, de forma a no ser mais possvel separar linguagem e imagem (COURTINE, 2013).
A partir dessa reflexo, Courtine (2013) prope que a anlise de discurso no pode mais se limitar a caracterizar um corpus a diferentes nveis de funcionamento lingustico (verbal e no-verbal), mas precisa pensar e descrever a maneira como que esses diferentes funcionamentos do discurso se articulam, ou seja, como o discurso corporal e imagtico mantm relao dialtica com o discurso verbal (seja no texto ou na oralidade).
Referncias:
COURTINE, Jean-Jacques. Decifrar o corpo: pensar com Foucault. Petrpolis, RJ: Vozes, 2013.
ORLANDI, Eni P. Discurso em anlise: sujeito, sentido e ideologia. 2. ed. Campinas, SP: Pontes, 2012a.
______. Discurso e texto: formulao e circulao de sentidos. 4. ed. Campinas, SP: Pontes, 2012b.
WACHS, Felipe ALMEIDA Ueberson Ribeiro BRANDÃO, Fabiana F. de Freitas (Orgs.) - Educação Física e Saúde Coletiva: Cenários, Experiências e Artefatos Culturais. Porto Alegre: Rede UNIDA, 2016